Ghost Story



Ela podia se lembrar bem, do toque forte  e das mãos longas e finas de Draco sobre sua cintura, do riso baixo e do sarcasmo recorrente em suas palavras. Afinal como ele adorava lembrar era um sonserino e também um Malfoy. Familia poderosa e antiga demais para que passasse despercebida. Mas ele começara a ama-la e ela realmente queria entender o por quê. Foram anos de preconceito construído sobre o coração e a cabeça do garoto loiro da sonserina. Mas a guerra tem disso com as pessoas, as envolve, as traga, as muda para melhor ou para pior e talvez seja por isso que Draco Malfoy havia mudado. Ela quis rir com essa palavra ‘mudado’, era ingênua! Não, ele não havia mudado, embora fosse um ser humano um pouco mais tolerável, ela podia ouvir sua voz rouca afirmando que decididamente não era como o Santo Potter. Mas Hermione tinha suas claras suspeitas que todo o ódio ao testa rachada teria sido pelo fato de que Harry não estendera a mão de volta para ele no primeiro ano quando Malfoy lhe oferecera sua amizade. Mas é claro que ele jamais admitiria isso nem em seus mais tenros sonhos. Hermione sorriu segurando um pouco mais forte a taça de vinho e se acomodando melhor ao sofá da luxuosa sala.


Ela estava ali, na imponente e milenar mansão Malfoy vestindo trajes elegantes demais e dignos de uma bruxa de seu status como Narcisa gostava de dizer quando elas se encontravam. Hermione nunca fora ligada a trajes de moda bruxa. Sempre fora avida demais por conhecimento e sempre estava ocupada com a sombra de Voldemort a rodeando e perseguindo seu melhor amigo. Mas esse tempo era passado e bem ela gostaria de utilizar esse pequeno momento que esperava Draco chegar e a arrastar para algum baile que mostraria a imponência dos Malfoy e a grande riqueza das empresas que sua família carregava há séculos. Afinal as pessoas não se lembravam mais tanto de que os Malfoy eram uma família preconceituosa e seguira Voldemort. Ela estava ali não estava? Em uma casa que agora chamava de sua.


O começo foi intrigante de um modo que Hermione não sabia explicar. Draco Malfoy não era uma pessoa extremamente preocupada com a desgraça alheia e amava demais seu nome e status para deixar que alguém pisasse no seu orgulho e foi isso que pode constatar quando o viu entrando no trem que ia a Hogwarts para ,com certeza, cursar o sétimo ano como ela com a postura altiva e prepotente. Ficou se perguntando o por que de seus olhos se demoraram tanto nele a ponto  dele perceber e a encarar de volta. Ela se lembrava do olhar neutro e opaco como se ele estivesse com tedio demais da vida. É claro que desviou o olhar e tratou de seguir Harry e Rony que alias não era mais que seu bom amigo depois da palhaçada que havia virado seu relacionamento com o garoto ruivo. Mas isso definitivamente era um assunto para se pensar em outro momento.


Eles definitivamente eram monitores chefes, mas não viraram amigos por causa disso. Verdade seja dita! Na monitoria as palavras que trocavam eram somente as necessárias. Na verdade tudo começou de um modo bem sorrateiro e furtivo como se o destino ou mesmo Deus quisesse uni-los e depois rir na cara deles por estarem coexistindo em um relacionamento muito mais que amigável. Ela estava na torre de Astronomia perambulando depois de mais uma noite de insônia a quem ela dava total credito a psicopata da Bellatrix que havia a torturado. Draco chegou furtivo e silencioso como uma cobra se aproximando de sua presa indefesa, não que ela fosse isso para ele! Pelo menos, ela achava que não.


- Perambulando por ai depois do toque de recolher Granger? Não acha que esta abusando do seu poder de monitora chefe?- sarcasmo e mais sarcasmo ela se perguntava se um dia isso sairia dele. Resignou-se a suspirar como se estivesse cansada demais para retrucar algo a altura. Continuou em silencio percebendo que ele sentara ao seu lado longe, claro, mais ainda assim ao seu lado.


-Se for para me infernizar Malfoy é melhor que de meia volta antes que eu te jogue dessa torre- sua voz saiu cansada e nada ameaçadora como ela realmente queria. Talvez o cansaço fosse pelas noites mal dormidas que se prolongava desde que o ano letivo se iniciara. Ele deu os ombros tornando seu sorriso mais escarnecedor do que ela se lembrava. Riu alto antes de soltar:


- Uma grifinoria certinha como você, eu realmente duvido muito Granger! Melhor, eu apostaria toda a minha fortuna que você jamais mataria alguém por mais ‘ malvada’ que essa pessoa fosse.


O silencio se instalou na torre de um modo estranho porque bem era a mais pura verdade e ela de algum modo ficou grata por saber que ele tinha certeza disso. Ela o olhou vendo que o garoto fixava o céu de modo meio devaneador. Ele realmente parecia ter saído de um quadro do século passado, com suas feições bem esculpidas e aristocráticas, era bonito. Não estava sendo modesta ele era muito bonito, mas ela nunca fora o tipo de garota que olhava a beleza das pessoas. Geralmente se um cara fosse bonito, mas abrisse a boca para dizer asneiras ela logo se enojava. Perguntou-se como pode gostar de Ronald. Ele era tão idiota a maioria do tempo. Desviou o olhar mais uma vez suspirando. Aquilo estava se tornando chato e recorrente de mais.


- E então Granger o que te trás aqui tão perto do ninho das cobras? – ela o olhou curiosa por ele ter engatado uma conversa, deu os ombros se colocando prontamente a responder de maneira educada e amena esperando que eles não começassem a se alfinetar novamente. Sabia que desde que ele voltara não usava mais o adjetivo sangue-ruim mais não queria dizer que parara de ser o Malfoy sonserino, sarcástico e irritante.


-Não consigo dormir... - ele assentiu como se não tivesse esse privilegio também há muito tempo e estranhamente ela entendeu. Não demorou muito para que se pegasse curiosa sobre Draco Malfoy, o que ele era? Quem representava? Qual era o jogo dele? Balançou a cabeça afastando esses pensamentos, era só o Malfoy. Mas como ela estava imensamente enganada.


-Admito que preciso pedir desculpas!- ele disse de repente como se falasse sobre o tempo, e ela gostaria que ele a olhasse de verdade e dissesse aquilo de novo, mas uma parte menor dela queria rir na cara dele e escarnecer do fato de que o grande e imponente Malfoy estava se humilhando, do jeito mais comedido e orgulhoso que podia, mas estava. É claro que não fora isso que ela fizera. Limitou-se a olha-lo esperando que ele continuasse. Mas nada veio do Malfoy que só olhou-a levantou-se e saiu. Teve raiva porque aquilo era o pior pedido de desculpas que alguém poderia dar a ela, como quis correr atrás dele e gritar esbravejar e tudo mais. Mas acabou indo parar na torre da grifinória novamente para tentar dormir pela milésima vez, não tendo êxito algum.


A conversa estranha e cheia de significados estranhos que tivera com o príncipe da sonserina ficou na cabeça da castanha pelo resto da semana. Nesse meio tempo quase não o vira e quando o fato ocorria se limitavam a cumprimentar com um aceno de cabeça o que para Hermione era muito mais que ela já esperara algum dia. Não que ela houvesse algum dia ponderado sobre o assunto.  Voltou para a torre de Astronomia duas ou três vezes e desde então ele estava lá silencioso e perdido em pensamentos. Não trocavam palavras nenhuma e ficavam naquela de sonâmbulos com seus próprios fantasmas. Não que ela soubesse quais eram os fantasmas de Malfoy ou se ele tinha algum e sinceramente depois daqueles encontros silenciosos na Torre ficou extremamente curiosa para saber quem realmente era Draco Malfoy.


Foi assim que em uma noite qualquer, que ela não se lembrava do dia ou a hora, quebrara o silêncio o perguntando como estava sua mãe. Ela sabia que fora uma pergunta idiota, mas seu super cérebro não conseguiu bolar mais nada de plausível para perguntar a ele. O garoto a olhou estranho e assustado balançando a cabeça e respondendo que ela estava bem na medida do possível e que aquilo não era da conta dela. Hermione não recuou e continuou a soltar perguntas estranhas como: se doera receber a marca negra cravada em seu braço. Mas sinceramente por mais estranha que as coisas pudessem parecer e ela se sentisse idiota por estar ali perguntando, queria arrancar algo dele e estava farta do silencio e mistério que era Draco Malfoy. Afinal porque ele vinha ali naquela torre compartilhar o espaço com uma sangue-ruim?


Ao contrario do que ela esperava, coisas do tipo ele levantar escarnecer dela e ir embora, Malfoy respondeu achando graça das perguntas inéditas e estranhas de Hermione Granger. Receber a Marca doera sim e ele não se lembrava bem do porque havia aceitado estar do lado de Voldemort. Ainda não acreditava que ela perguntara isso. Era o que todos esperavam dele, seguir os passos de seu pai e dar continuidade a luta pela linhagem pura. Ele também não odiava seu pai ele respondeu rápido, quando ela soltou essa pergunta e nem tão pouco fora forçado a nada, embora Voldemort desse muito medo, mas ele não verbalizaria isso, nunca. Achando que Hermione já sabia mais da sua vida que um dia ele sonhava que ela soubesse levantou sem despedidas e se limitou a voltar para sua cama aconchegante e insone.


 As perguntas invasivas continuaram nas outras noites e ele, estranhamente, não hesitou em responder. Se vendo avido por saber um pouco mais da sabe-tudo Granger como sempre quisera. Não que fosse admitir para alguém além de seu padrinho que morrera com seu segredo. Mas a sangue ruim tinha sido interesse dele por um tempo que ele julgava demais para alguém de sua estirpe. E como não poderia ser? Ela era inteligente, altiva, abria seu próprio caminho e não tinha medo de suas convicções. Porém tudo isso não passava de meros apetrechos em alguém imundo. Era uma nascida trouxa e ele realmente não acreditava que estava usando esse termo.


A guerra fizera com ele coisa que julgava serem estranhas. Viu-se no meio dela desejando que o maldito Voldemort morresse e a sua vida voltasse à normalidade Malfoy de sempre. Viu-se analisando como seu pai era burro por estar do lado de um homem que estava fadado ao fracasso. Status e poder não era o que Voldemort oferecia. Estava mais para algo como uma destruição em massa de pessoas. E depois? Viveriam sozinhos em um mundo diatópico lutando sempre contra grupos rebeldes que surgiriam querendo ou não. Pelo amor de Deus estamos falando do Testa rachada que criara um grupo debaixo do nariz de Dolores Umbridge é claro que ele não deixaria  o ofídico vencer tão facilmente. Claro que Draco nunca iria admitir isso em voz alta. Ele queria sim ser poderoso rico e ter um status além daquilo que o seu pai tinha ou do que a tradicional família Malfoy deixara e duvidava muito que um cara ofídico com tendências psicopatas pudesse trazer isso a ele. Viu-se expondo seu ponto de vista para o pai e só ganhou gritos de que ele era um traidor do Mestre. Mestre dele Draco gostaria de ter constatado. Não odiava seu pai, na verdade tinha certeza que amava sua mãe e nada de certo vinha sobre o que sentia por seu pai era algo estranho e nebuloso. E tudo isso ficara mais claro quando ele não conseguira matar Dumbledore e fora torturado por Voldemort ficando um caco de gente por isso. Ali entendeu algo. Nunca deixaria que ninguém pisasse nele e que a vida pintada por seus pais de mimos e privilégios era uma farsa. Isso se consolidou com a guerra e com o final dela. É claro que seu pai fora preso e condenado, porém ele e sua mãe tiveram penas brandas. E era só.


Contara uma coisa ou outra a Granger, mas fora o suficiente para que construíssem uma amizade noturna estranha. Somente noturna é claro, porque pela escola eram somente os acenos de cabeça e nada mais. Descobriu aos poucos sobre os pais dela e que sua tia psicótica era um dos principais motivos para ela não dormir a noite. Evitava pensar nisso e naquele dia da tortura em sua casa. Era nojento e causava um incomodo grande demais no seu corpo. Detestava ver pessoas sofrendo era estranho. Não se compadecia! Claro que não, embora com Hermione sempre houvesse a sombra de que ele poderia ter feito algo, mas não tinha prazer algum na dor alheia isso era nojento. Bem, com tudo isso pode enfim se resignar e conformar-se de que a sabe tudo, sangue ruim chamava sua atenção até demais. Enquanto ela falava, sempre botava seus olhos na boca carnuda e rosada da garota, às vezes descia até seu colo e logo desviava o olhar. Ela era bonita. Não estava sendo idiota ela era linda, de um jeito aristocrático em demasiado para ter origem trouxa. Ele queria beija-la e sempre quis. Mas era esperto o bastante para nunca dar ensejo a esse tipo de pensamento afinal de contas, a algum tempo ela era a sangue ruim amiga do Potter. E ele era Draco Malfoy futuro comensal. Era bom em oclumência e agradecia ao seu padrinho por Voldemort nunca ter descoberto seu interesse estranho na Granger e nem seu pai. Bendito seja Severo Snape e seus ensinos particulares.


 Com o tempo Ele, Draco Malfoy, foi sentando mais perto e mais perto da grifinória e com movimentos furtivos tomou algumas liberdades como um leve roçar de braços. Até que em uma ronda pelo castelo com ele estando de um mau humor descomunal, pois embora estivesse dormindo melhor, sonhava que beijava a castanha toda bendita noite e sempre acordava frustrado. A coisa tinha piorado quando hoje se encostando a algum lugar, que não se lembrava qual, sonhara de novo que estava a beijando. Hermione tagarelava sobre algo que ele nem prestava atenção porque realmente queria arranjar um jeito de acabar com aquela agonia doentia que o perseguia fazia anos. A garota parou bruscamente em frente a ele perguntando se ele prestava alguma maldita atenção no que ela falava já que não respondia nenhuma de suas perguntas. Ela estava nervosa, pois seu rosto tinha coloração avermelhada e seus olhos estavam nebulosos e cheios de raiva. Sem pensar muito deu um fim no espaço entre eles e a beijou. 

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