Interrogatório



O escritório de Lathe era pequeno e apertado, uma sala que lhe foi dada às pressas para que pudesse dar início às tarefas o mais rápido possível. Com uma mesa plana e extensa, duas cadeiras, quatro aurores vestidos de preto e o próprio Lathe – dando ordens aos outros quatro – o cômodo parecia ainda menor. Pequeno e abafado. Até as paredes exalavam a mesma preocupação e comoção que as pessoas dentro delas, de modo que Lily – sentada na cadeira providenciada para ela – sentiu que devia ser o único item parado no escritório. A jovem esperou calmamente Lathe voltar a atenção para ela e explicar qual era seu papel naquele drama.


Por fim, os outros aurores se retiraram para executar as solicitações de Lathe, e o bruxo sentou em sua extremidade da mesa.


"Lily Evans, certo?" indagou ele, olhando para o pedaço de pergaminho. "Me desculpe a demora em começar seu interrogatório."


"É sobre Carlotta, não é?" questionou Lily.


"Hum, sim," ele folheou alguns papéis. "Você já apresentou sua memória da manhã de 2 de setembro para o exame na penseira, acredito."


"Isso."


"Bem, então eu tenho apenas mais algumas perguntas." Ele colocou os papéis de lado. "Me diga cada detalhe que sabe sobre Carlotta Meloni."


Lily piscou os olhos. "Cada detalhe? Sem ofensas, Sr. Lathe, mas… eu não conheço Carlotta tão bem quanto outras garotas ou... garotos... conhecem. Shelley Mumps..."


"Michelle Mumps já prestou depoimento," disse Lathe. "Infelizmente ela estava histérica. Queria falar com alguém que eu achasse que fosse capaz de conectar as palavras... você é monitora e esteve diretamente envolvida com o incidente; você também divide o quarto com a Senhorita Meloni. Você é a escolha mais lógica."


"Ah."


"Além disso," continuou ele, mantendo o tom de voz sempre sério, mas ainda com um toque de inexplicável ironia, "eu li o relatório da detenção sobre sua briga com um rapaz chamado... Mulciber." Lily desviou o olhar. "Você realmente o socou?"


"Isso é… isso é o que dizem."


"Hum... Bem, eu encontrei Mulciber. Duas vezes, na verdade. Uma sem querer e uma para interrogá-lo. Ele foi testemunha da garota que pulou no lado." Lily esperou o veredito. Numa voz uniforme, branda e sem humor, ele disse: "Eu teria socado ele também."


Lily tentou não sorrir; ainda não estava completamente certa se devia ou não temer Lathe. "Agora," continuou o auror, "eu preciso de detalhes. Qualquer coisa que consiga pensar... qualquer coisa estranha que aconteceu naquela manhã ou na noite anterior... qualquer conversa esquisita com a Senhorita Meloni..."


"Bem," começou a ruiva, "Carlotta não voltou ao dormitório naquela noite... não que pudéssemos saber, de qualquer forma. Ela não estava lá quando as outras foram dormir, e Shelley disse que acordou no meio da noite e a cama de Carlotta ainda estava arrumada. Mas... você provavelmente já sabia disso...?" Lathe assentiu. "E… hum… quanto a Carlotta, ela… ela é legal, eu acho. Não somos grandes amigas, mas sempre nos demos bem. Ela é... meio que... hum… moderna? Sabe… É por isso que não ficamos chocadas quando não voltou ao dormitório naquela noite. Está entendendo o que eu...?"


"Certo, sim."


"E... ela é... ela…" Lily procurou em seu cérebro informações sobre Carlotta, mas apenas coisas triviais pareciam vir à sua mente. "Ela medita todas as manhãs. Gosta de dormir nos finais de semana. Ela… bebe chá verde. Ele é vegetariana. Ela…"


"Vegetariana?" interrompeu Lathe de repente.


"Ela não come carne."


"Estou ciente do significado da palavra," respondeu o outro. "É só que eu conduzi cinco outros interrogatórios sobre a Srta. Meloni, e nenhum dos outros mencionou que ela era vegetariana." Ele escreveu alguma coisa em um pedaço de pergaminho.


"Isso é importante?" indagou a monitora.


"Ah, eu não faço ideia." Ele encolheu os ombros. "Há mais alguma coisa?"


Lily sacudiu a cabeça. "Na verdade não. Eu falei com ela rapidamente no trem aquele dia. Ela estava... bem. Normal. Apenas… Carlotta."


Lathe ficou calado por um tempo, antes de perguntar: "O que pode me dizer sobre Adam McKinnon?"


"Ele é o goleiro do nosso time de quadribol," respondeu a ruiva. "E ele... hum... bem, não consigo pensar em nada relevante."


"Você teria adivinhado que o fato de Carlotta ser vegetariana era relevante?" Lily admitiu que não teria. "Bem, então...?"


"É sobre a garota que ele gosta," elaborou a ruiva. "Eu tenho absoluta certeza de que não é relevante."


Lathe sacudiu a cabeça. "Não, não é relevante," concordou ele. "Nada mais?"


Lily pensou cuidadosamente. "Bem, Adam esteve desaparecido por algumas horas antes... bem, de tentar se jogar da Torre de Astronomia. Eu sei dissoporque minha amiga Marlene disse que ele não apareceu para a aula de Trato de Criaturas Mágicas após o almoço." Lathe escreveu algo em outro pedaço de pergaminho. "Além disso, não consigo pensar em mais nada."


"Tudo bem. Obrigado. Acho que pode se retirar agora… Não vou mais desperdiçar sua noite de sábado." Ele esfregou o queixo com um dedo de forma pensativa, encarando a página à sua frente. "Se pensar em mais alguma coisa, apenas escreva e cole na minha porta."


"Certo, é claro." Lily levantou-se da cadeira.


"E se você pudesse mandar o próximo aluno entrar..." acrescentou ele, com um aceno de cabeça em direção à porta, atrás da qual uma série de pretensas testemunhas esperavam por seus interrogatórios.


"É claro."


Ela saiu do escritório. À frente da pequena fila estava um lufano magrelo de cabelos castanhos acinzentados e olhos grandes, estalando os dedos nervosamente enquanto esperava o que ele parecia acreditar que seria uma cerimônia de sentença.


"Acho que você é o próximo," disse Lily, encorajando-o. "Não se preocupe. Ele é legal."


"Sério?" perguntou o garoto. "Porque eu ouvi Donna Shacklebolt falando sobre ele ontem na biblioteca, e ela disse coisas terríveis."


"Donna Shacklebolt teria coisas terríveis a dizer sobre o Papai Noel," comentou Lily, dando-lhe uma tapinha no ombro. Ele sorriu desanimado. "Entre. Vai ficar tudo bem." Ele obedeceu e a ruiva rumou de volta à sala comunal.

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