Capítulo Único
– Está tudo bem?
– Claro.
Um suspiro.
– Podia tentar mentir melhor. – uma olhada em sua direção e volto a atenção para meus próprios sapatos. Opa! Um cadarço desamarrado. Tenho que tomar cuidado, vai que caio. – Não seja idiota, já falei que não temos mais nada. E que não sentimos mais nada um pelo outro.
– Não sei do que está falando. – respondi. Por favor, alguém para me salvar. Eu imploro!
Não, não ele. Merlin, não faça isso. Ai droga, não. Ele está vindo em nossa direção. Sorrio? Quá, sei que vai sair forçado, melhor não arriscar. Olho em outra direção? Nã… é o mesmo que dizer que ele mexe comigo.
Espera um pouco, ele sabe que mexe com você. Quem não sabe? Quero dizer, muitas pessoas não sabem. Mas Molly sabe, uma ruiva chamada Gina que está ao meu lado também sabe, Rony definitivamente sabe e… ele sabe.
Será que ele não se cansa de ser lindo? Até esbarrando em um qualquer no meio daquela sala ele continua lindo, e quando se vira para a pessoa pedindo desculpa fica ainda mais lindo. A mão ajeitando os óculos na ponta do nariz de forma tímida faz meu estômago revirar, mas de uma forma boa. Ele para a nossa frente dando um sorriso fraco, tímido.
– Hãn… – para pensativo. Os lábios forçados um contra o outro, torcendo para o lado. Ele olha para o nada acima de nossas cabeças um tempo e volta com os olhos intensos. Brilhantes. Decididos. – Precisamos conversar.
– Ah. – solto pensando rapidamente em uma desculpa. Eu não podia conversar com ele. Se fôssemos ficar ali na sala, com todas aquelas pessoas, tudo bem. Mas eu sabia que ele pediria para sairmos dali, para um lugar menos barulhento e também sabia no que iria resultar eu e ele sozinhos em algum lugar d’A Toca. – Na verdade, agora não posso. – me afastei da parede apontando em qualquer direção. – Molly está me chamando.
Ele abre a boca, mas dou o fora dali antes de qualquer coisa.
Estávamos comemorando o aniversário de Gina e sua admissão no Harpias Holyhead, a carta havia chegado pela manhã. Parei conversando um pouco com Percy.
– Ai não. Nos falamos depois, Hermione. – ele soltou saindo rapidamente. Me virei encontrando Molly olhando furiosamente para o grupo de pessoas onde Percy se enfiara e sumira.
– O que aconteceu, senhora Weasley?
– Nada de mais, querida. – falou carinhosa segurando rapidamente minha mão entre as dela e dando uns tapinhas. – É só que os gnomos estão espalhados pelo jardim, e passei a tarde pedindo a Percy e Jorge que os tirassem de lá e logo vai escurecer…
– Eu faço isso, não se preocupe. – cortei.
– Ah Hermione, obrigada. – e lá fui eu passando entre as pessoas.
A sala d’A Toca já não era lá muito grande, com todas as pessoas que estavam ali, encontrar a porta parecia uma missão impossível.
Ao finalmente sair da casa, percebi como estava abafado lá dentro. O vento soprou contra mim fortemente, fazendo meu cabelo bagunçar ainda mais. Armenguei o cabelo em um nó enquanto caminhava para os fundos da casa.
Mal dou cinco passos e uma mão em meu braço me vira rapidamente e a próxima coisa que sinto são aqueles lábios suaves sobre os meus. Meus olhos se fecharam rapidamente, vendo apenas um par de esmeraldas me olhando desejosos. Minha mão foi parar em sua nuca tão subitamente quanto a sua apertou minha cintura me aproximando ainda mais de seu corpo.
Era tão perfeita a sensação de sua boca contra a minha, que tinha vontade de bater nele toda vez que se afastava.
– Podemos fazer isso todo o tempo, basta você parar de ser teimosa.
Um segundo encarando aqueles olhos acolhedores que me incentivavam a dizer sim a qualquer coisa e me afasto. Ele soltou a respiração, cansado.
Balancei os braços como se pudesse eliminar a tensão de mim e saltei duas vezes sobre o mesmo lugar. Ele riu.
– Hermione...
– Não, Harry. Isso não...
– Por que não daria certo? Você não gosta de mim? – revirei os olhos em resposta àquela questão e ele se aproximou. – Então por que insiste em dizer não?
Um minuto de silêncio. Sabia que ele não me deixaria ir, a menos que eu respondesse àquilo. Harry estava mostrando que podia ser irritante, principalmente nos últimos quatro meses.
– Como tudo aconteceu, Harry. Não está certo. Rony ficou sem falar com a gente um bom tempo por causa disso. Não devíamos...
– Hermione, não está errado. Não somos culpados de nada! – ele deu um sorriso de lado me puxando em sua direção mais uma vez. – Nunca premeditamos nada, simplesmente aconteceu e Rony entendeu isso, caso contrário, não estaria falando com a gente, certo? – considerei. Sua mão acariciou meu rosto levemente fazendo-me erguer meus olhos em direção aos seus. – Nunca pensamos que pudesse acontecer, por isso pare com esse drama.
– Não é drama. E… ah droga, eu e Rony ficamos quase três anos juntos, Harry. Três anos! E então… então acontece… a gente… não tenho certeza se deveria fazer isso de novo. Com um amigo…
– Espera, está pensando em ficar com outro antes mesmo de começarmos?
– Quê? – olhei-o sem entender e ele sorriu. Meu rosto esquentou. – QUÊ? Harry Potter, como ousa...
– Foi uma brincadeira. – ele se defendeu rindo. Eu estava suando frio. Apontei meu dedo indicador em sua direção.
– Nunca mais...
– Desculpe, peguei pesado. – ele me interrompeu. Segurou minha mão afastando-a de seu rosto e sua outra mão em minhas costas se movimentou lentamente de um lado para o outro. Eu estava ficando bastante cedente à suas investidas. – Mione, aconteceu apenas o que tinha que acontecer. Eu não entrei na sua vida aquele dia, de uma forma diferente, à toa. As coisas entre vocês já não estavam lá muito bem...
– Não tínhamos problema algum. – balbuciei. Sua expressão mudou para a de tédio.
– Vocês não tinham mais um relacionamento, Hermione. Isso é fato. – acrescentou antes que eu pudesse negar aquilo.
Ele aguardou e por fim eu concordei – Mas ainda assim não é justificativa.
– Sei que não. – pensei um pouco mais. – Mas também não é uma desculpa.
Encarei-o vendo que estava friamente sério.
– Não sei…
– Lembra-se como aconteceu? Foi tão simples, Mione. Em um momento tão nada a ver. E ainda assim não conseguimos impedir.
Um ano e quatro meses atrás
– Não acredito que vai encher uma a uma! – Rony riu enquanto me olhava colocar a terceira bexiga na boca e começar a enchê-la. Ele encheu três com magia em três sopros que eu dei para encher uma minha.
– Uma a uma o quê? – Harry apareceu na sala voltando da loja de brinquedos. Parou vendo o que eu fazia. Terminei de encher a bexiga e a amarrei, jogando-a no ar logo depois. Harry agarrou-a achando graça também.
– Sério, Hermione? Ainda temos que terminar o bolo.
– Vocês gostam de estragar a brincadeira, não? – resmunguei rapidamente colocando todas as bexigas que haviam no saco, para se encher. Em um minuto todas estavam devidamente cheias, amarradas e abarrotadas sobre o chão da sala.
– Falando em bolo, deixa eu ir lá em casa pegar o… como é, modelador? Mamãe tinha mesmo que deixar isso com a gente? – Rony resmungou desaparatando logo depois.
Me virei rindo para Harry. Ele colocava as sacolas em cima do sofá.
– Pronto para fazer o primeiro bolo da sua vida?
– Quem disse que é o primeiro? – ele colocou a mão sob meu pescoço me guiando em direção à cozinha. – Sou um ótimo cozinheiro. – gabou-se.
Afastei sua mão de meu pescoço e subi na bancada de madeira da cozinha para alcançar as vasilhas ideais.
Seria o aniversário de Teddy no dia seguinte e estávamos ajeitando o apartamento de Harry para a festa. A intenção era que Molly fizesse tudo, mas ela apenas disse ser uma boa ideia quando falamos do aniversário, acrescentando que ficaria com Teddy para que pudéssemos preparar tudo.
Gina estava em uma época um pouco crítica, buscando um patrocinador, empresário, algo assim, que a ajudasse na carreira de jogadora. As únicas pessoas que estavam com a agenda mais ou menos livre éramos eu, Rony e Harry. Rony ainda um pouco menos que nós dois. E por isso sabíamos que ele demoraria a voltar. Aproveitaria a brecha para mexer na pilha de papel que ele havia levado para casa.
Eram quase cinco da tarde e a única coisa que tínhamos prontas eram os balões e uma longa fita escrita “Parabéns Teddy”. A vantagem é que seria algo bem família, então se o bolo saísse um desastre, a intenção de fazer a festa já valeria.
– Toma aqui. – estendi para ele uma vasilha redonda. Aquela seria para fazer o bolo. – Você tem alguma bandeja aqui?
– Bandeja? Não sei.
– Ai Harry, tente me ajudar. – ri descendo da bancada e olhando a mesa da sala. – Acho que ela é grande o suficiente, então vamos fazer assim… – voltei para a sala tomando cuidado com os balões e ele me seguiu. – Colocamos o bolo aqui, mais para a ponta e ajeitamos os doces ao redor. Eu vou até a casa de meus pais amanhã pela manhã e tento encontrar algo decente.
Olhei para ele sorrindo. Ele retribuiu apontando para a cozinha.
– Organização é o de menos aqui.
– Grata pela sua educação. – soquei-o em seu peitoral e ele riu apoiando o braço sobre meu ombro e voltamos para a cozinha.
Paramos olhando de um lado para o outro.
– O quê primeiro? – pedi.
– Começamos com os doces, deixamos esfriando e fazemos o bolo. – olhei para ele desconfiada.
– Aulas de culinária? – ele gargalhou pegando os ingredientes.
Depois de prontos, colocamos aquela pasta doce para esfriar e começamos o bolo.
Eu estava pegando o leite para acrescentar à receita, quando vejo Harry fazendo coisas estúpidas. Começando por ignorar a batedeira em cima da pia e colocar dentro do liquidificador os ovos, sem sequer separar a clara da gema. Mas o pior ainda estava por vir, quando ele liga o aparelho sem a tampa.
Tentei me manter séria enquanto ele desligava o eletrodoméstico e me olhava pasmo, como se não compreendesse a razão de seu rosto, cabelo e roupas estarem banhadas na gosma do ovo, mas foi impossível.
Ele também riu após uns segundos e eu me aproximei com um pano de prato. Tirei seus óculos e passei o pano sobre seu rosto rapidamente. Me utilizei de magia para limpar as lentes e devolvi a ele.
– Tolo. – falei baixo.
– Sabe, depois disso, não posso te deixar limpa. – e ele ergueu as costas da mão passando-a em meu rosto. Aproveitou-se enquanto eu estava petrificada em surpresa e me abraçou. Aquele terrível cheiro de ovo invadiu minhas narinas e senti minha cabeça rodar.
– AAAAH! – gritei batendo os pés no chão enquanto ele gargalhava se afastando. – Harry! – briguei.
Foi um segundo engraçado no qual nos olhamos. Apenas isso. Suas esmeraldas primeiramente marotas. E não sei dizer a razão de não ter desviado de seu olhar ou me afastado quando percebi que seu olhar sobre mim não era mais de diversão como antes. E que eu também não o olhava mais de brincadeira. Não sei como mudou, nem quando. Aconteceu.
Foi uma situação estranha, o clima da cozinha mudou quase solitariamente. A pequena distância parecia ser próxima demais, ao mesmo tempo em que não era suficiente. Queria que ele me envolvesse mais uma vez em seus braços, mesmo que estivesse com aquele cheiro terrível. Queria sentir mais uma vez aquela proximidade, mas meus desejos não paravam por ali, então eu também queria parar de pensar naquilo.
Um som alto se espalhou pelo apartamento, mas era extremamente difícil desviar de Harry, de seu rosto, de seus olhos… até que reparei ao que se referia aquele barulho.
Aparatação.
Encontrei o rosto de Rony. Surpreso. Ele estava parado na entrada da cozinha. Me afastei de Harry rapidamente indo em direção a Rony e pegando a sacola que ele trazia.
– Que bom… – minha voz travou um pouco e despejei de forma barulhenta todos os objetos que havia dentro da sacola em cima da bancada. – Que bom que chegou, estávamos prestes a começar o bolo.
– É, você demorou. – a voz de Harry estava tão nervosa quanto a minha.
– Acho que atrapalhei vocês, não? Creio que só precisavam de mais uns minutos a sós. – foi o que ouvi de Rony antes do barulho de aparatação preencher novamente a sala.
E o silêncio se prolongou. Eu encarava a bancada duvidosa de que aquilo estivesse realmente acontecendo.
Harry se pronunciou primeiro: – Eu vou falar com ele.
– E vai falar o quê? – praticamente gritei me virando em sua direção. Ele mantinha os braços cruzados à frente do peito.
– O que… o que aconteceu. – respondeu sério.
– O que aconteceu? O quê que aconteceu? Não aconteceu nada! – repeti aquilo para mim como se assim pudesse se tornar verdade.
– Não? – ironizou. – Pensei que tivesse acontecido, e parece que ele também acha que aconteceu. – não respondi e ele descruzou os braços. – Eu vou…
– Não. Eu vou. – interrompi indo para a sala. Peguei meu casaco e minha bolsa enquanto ele argumentava as minhas costas:
– Eu sou amigo dele.
– Eu sou amiga e namorada. – falei como se aquilo decidisse a questão.
Atualmente
– Poderia tentar ignorar como eu estou fazendo? – eu, ignorando? Só devo estar de brincadeira.
– Eu estou ignorando tanto quanto você. – ele falou sorrindo, como se lesse meus pensamentos, enquanto eu corava. – A não ser que tenha a pretensão de voltar com Rony, não entendo a razão de não seguir em frente.
Seguir em frente…
– Eu…
– Eu não consigo te tirar da cabeça. Eu acordo pensando em você. Durmo pensando em você. É só eu não estar trabalhando, que você vem à minha cabeça. Isso quando não me perco no que estou fazendo ao me lembrar de seu sorriso. De seu beijo. Sua pele. Seu cheiro. – ele aproximava o rosto do meu a cada palavra, até que nos beijamos mais uma vez. Cada beijo dele era especial.
Calafrios me perpassavam. As mãos suavam. Meu estômago parecia estar abrigando uma família de borboletas que não paravam quietas. Sentia como se deixasse meu corpo, de tão leve que me sentia. Não era como se fosse o primeiro, mas era único.
Cinco meses atrás
Enxugava os pratos recém-lavados pela senhora Weasley. Rony acabara de sair junto com Gina e o senhor Weasley. Eu ainda tinha uma hora para chegar ao Ministério. De forma impressionante, eu não queria que aquela hora acabasse. Não estava com vontade de trabalhar, não hoje. Terminei de limpar a cozinha me virando na direção da escada.
– Quanto tempo mais pretende me ignorar? – meus batimentos aceleraram pela surpresa em vê-lo parado ali.
Descruzou os braços quando não respondi e se aproximou, tirando de minhas mãos o pano que usei para enxugá-las.
– O que está fazendo? – pedi meio assustada quando ele retirou o palito que prendia meu cabelo em uma polpa e o jogou em cima da mesa.
– Vamos dar uma volta.
– Eu…
– Sem desculpas. – falou firme segurando minha mão e logo depois estávamos no Beco Diagonal. – Que tal um sorvete?
– Harry… – tentei mais uma vez.
– Já falei: sem desculpas. Vamos, sente-se. – sorriu puxando uma cadeira do lado de fora da sorveteria. Demorei um pouco em pé, buscando uma desculpa boa o suficiente para me fazer sair dali, mas nada vinha. Olhei rapidamente para os lados e ajeitei minha roupa enquanto me sentava. – Eu conversei com Rony. – ele começou cauteloso após nos acomodarmos e o cardápio escorregou de minha mão, fazendo um barulho estranho ao tocar a mesa.
Permaneci com os olhos nas minúsculas letras do cardápio, mas não absorvia nada do que estava escrito. Ele conseguiu conversar com Rony? Tudo o que eu havia conseguido dele naquela longa semana foram cumprimentos inteiramente dados por educação; bom-dia, boa-noite, até. Rony estava claramente me evitando, mas Harry manteve uma conversa com ele?
– Mesmo, sobre o quê? – tentei fingir que o cardápio era bastante interessante, mas estava atenta a qualquer palavra.
– Sobre o tempo. – olhei rapidamente para ele que mantinha uma expressão séria. – O que você acha? – ironizou.
– Que você avançou mais que eu. – respondi no mesmo tom abaixando o cardápio. Ele soltou fortemente o ar aproximando a mão direita da minha, mas a puxei levemente em minha direção. Abandonando definitivamente o cardápio, deixei minhas mãos em repouso sobre minhas pernas. – Sério, ele mal me dá “oi”.
– Eu sei, não está diferente comigo.
– Eu juro Harry, já tentei mil vezes dizer que nada aconteceu, mas ele sequer me deixa terminar. Diz que não é importante… sabe o quanto dói isso? – ele nada respondeu, mas aquela era uma pergunta recíproca, nem precisava. – Eu queria apenas apagar aquele dia.
Estava de cabeça baixa ao dizer isso, mas o vi se inclinar para trás. Cedi à tentação de olhá-lo naquele momento e meu gatilho de arrependimento foi apertado.
– Vou facilitar pra você então. – ele se levantou exatamente quando uma moça parou ao nosso lado, com um sorriso no rosto e pronta para perguntar o que desejávamos pedir.
– Não, não foi isso… – tentei falar me levantando rapidamente.
– Não, foi exatamente isso que você quis dizer. – agarrei seu braço no momento em que ele aparatava e num segundo estávamos em seu apartamento.
Trocamos olhares e antes que eu pudesse raciocinar sobre aquilo, me inclinei em sua direção cedendo a um desejo íntimo que surgira naquele mesmo apartamento tão rápido quanto é queimada a cabeça de um palito de fósforo. No momento seguinte sua mão estava contra meu corpo, acariciando-o por cima de minha roupa. Era incrível como o beijo que ele deu sobre a maçã do meu rosto em dado momento, tinha uma intenção tão diferente das vezes que foi dado anteriormente.
– Harry…
Esse foi o último apelo que minha mente deu em um momento em que ainda era possível tentar seguir em frente e esquecer que aquilo acontecera.
– Shh… – ele tocou meus lábios com as pontas dos dedos. – Não faz isso. – voltou a me beijar e eu me entreguei, totalmente compelida a não mais importar com o que mais aconteceria.
Atualmente
Ele se afasta sem parar de me olhar.
– Me dê uma chance. – sua mão estava firme sobre a dobra de meu pescoço e ele fez eu me aproximar puxando-me levemente em sua direção. – Nos dê uma chance.
– Você não sente que isso é errado? – pedi após uns segundos. Sua mão perdeu a firmeza, deslizando para meu ombro. – Quero dizer… tudo bem, ficamos juntos. Começamos a namorar, então o tempo passa e… vamos dizer que dure o suficiente para que você me peça em casamento. – ele me olha surpreso. – É uma suposição, Harry. Eu tenho… sabe, acho que não tenho coragem de convidá-lo para o casamento. Bem, era para você ser meu padrinho e então os lugares se invertem? É isso?
Ele absorveu aquilo lentamente.
– Eu ia ser seu padrinho? Vocês já tinham falado… sobre isso? – tento rir como uma forma de amenizar sua expressão que era algo entre assustada e surpresa.
– Uma brincadeira em algum dia… sei lá, começamos a escolher quem seria o quê se nos casássemos. Até brigamos um tempo ao tentar dividir você e… Gina.
– Não, não, não. Não busque outra desculpa pra me dispensar. – reclama segurando meus dois braços quando tento me afastar. Olhei o crepúsculo se formando me voltando logo depois para ele.
– Eu nunca pensei em você de outra forma que não fosse meu amigo que estava sempre precisando de ajuda. Sequer sei quando isso mudou.
– Tem que parar de pensar em como aconteceu ou o que vai acontecer. Ser racional…
– É exatamente o que eu preciso pra não magoar outra pessoa. Vamos parar de falar sobre isso, tá legal? – interrompi me afastando. Ajeito uma mecha atrás da orelha. – Me ajude com os gnomos.
Viro sem esperar resposta.
– Rony vai entender, Hermione. Tem o quê? Um ano? – fala quando estamos quietos por uns minutos, apenas jogando os gnomos para um lado.
– Um ano e quatro meses. – conserto olhando-o e vendo que está sorrindo. Sinto que falei exatamente o que ele queria.
– Eu sei. – demoro alguns segundos para me forçar a desviar o olhar dele.
– Eu não consigo ver naturalmente o dia em que sentaremos eu, você, ele e Gina e nos olharemos rindo de qualquer coisa juntos. Não consigo ver o dia em que vou segurar sua mão na frente dele e não ver problema de novo. – me forço a expor meus pensamentos e ele continuou me olhando. – É como se você fosse irmão dele. E eu me vejo como… não sei, me parece como se não tivesse dado certo com um e eu quisesse entrar para a família de qualquer jeito. – ele ri e eu o acompanho. – Eu não quero isso pra mim. Quando eu estou com você, sinto como se houvesse uma placa sobre minha cabeça piscando com o escrito “Traidora” nele. Mesmo que eu goste de você, ao mesmo tempo em que adoro ficar ao seu lado, me sinto desconfortável. Mesmo que o tempo tenha passado, não consigo me adaptar à ideia.
Ele pareceu ter compreendido minha situação, pois se aproximou de mim após jogar o último gnomo na direção da mata. Me abraça e deposita um beijo demorado no lado de meu rosto.
Observo ele se afastar em direção à casa. Antes de entrar, olha para trás. Para mim.
Dois meses depois
– Oi. – Rony entra em minha pequena sala com um sorriso no rosto. Tirou algumas pastas de cima da cadeira, depositando-as sobre o chão, e se sentou. Retribuí ao sorriso.
– O que te trás ao meu Departamento? – pedi dando um leve tapa em sua mão quando ele pegou um dos arquivos e faz careta vendo a foto de um elfo.
– Han… é que Harry vai fazer um jantar na casa dele as oito e falou para eu te chamar. – um formigamento subiu por meu pescoço. Ele me olhou. – Queria te dizer que eu vou levar Avery para jantar.
– Avery? Avery Prescott? Dos Transportes Mágicos? – ele se inclinou para trás claramente surpreso.
– Sim. Algo contra? – seu tom foi relativamente curioso, mas ao mesmo tempo ele parecia me desafiar a dizer que não concordava com a companheira que ele encontrara.
– Não, ela é ótima. – ele sorriu.
– É sim.
– Oito horas então? – pedi após o silêncio constrangedor que se instalou.
– Isso. – concordou se levantando.
– Ron? – chamei após ele passar pela porta, fazendo-o voltar. – Alguém mais vai? – ele balançou os ombros em resposta e com um sorriso, saiu da sala.
E o mundo pareceu desabar sobre minha cabeça. Que irônico. Um jantar na casa de Harry, com Rony e a nova namorada. Que falta Gina fazia.
Às oito e quinze aparatei em frente a porta do apartamento de Harry. Trocara de roupa centenas de vezes.
Com o vestido preto, pensei que poderia parecer que não estava feliz em ver Rony ali com outra. Depois optei por uma roupa trouxa, calça e uma blusa simples, que pareceu casual demais. Mudei então para um vestido floral, que pareceu feliz demais. O vermelho parecia provocante. Nunca me parecera tão difícil vestir uma roupa como naquela ocasião. Acabei optando por um vestido branco na altura do joelho.
Toquei a campainha e segundos depois Harry abria a porta. Ainda usava a roupa do trabalho, e me olhou curiosamente enquanto eu tentava dar um sorriso.
– Desculpe o atraso. – falei e ele abriu a boca para falar alguma coisa, mas desistiu. Apenas abriu a porta o suficiente para que eu entrasse.
– Eu… desculpe a bagunça, se soubesse… – ele arfou falando rapidamente tirando de cima do sofá vários pergaminhos e mapas. Apontou para que eu me sentasse após jogar tudo no chão atrás do próprio sofá. Após me sentar, observei que Harry não parecia nem um pouco preparado para receber visitas.
Com exceção da sala, os cômodos todos pareciam estar envoltos no breu. Ele próprio aparentava surpresa em me ver ali. E o único indício de um jantar era um prato com um resto de arroz o qual ele colocou rapidamente em cima da bancada da cozinha. Sentou-se ao meu lado e nos encaramos. Seu olhar era ansioso e não tive ideia do que dizer.
– Não havia jantar então. – ri desviando minha atenção dele.
– Desculpe? – relaxei apoiando as costas no encosto do sofá e lhe olhei com um sorriso.
– Rony foi até minha sala hoje e disse que você havia nos convidado para jantar. – ele sorriu. – Até falou que ia trazer Prescott.
– Avery? É, ele falou algo sobre estar saindo com ela, mas eu não marquei jantar nenhum. Podemos pedir alguma coisa… aqui realmente não tem nada em quantidade suficiente que eu possa preparar.
– Nunca tem. – acrescentei fazendo-o rir.
– É verdade.
– Não quero incomodar, vou embora.
– Não. – sua mão estava sobre a minha no segundo seguinte. Olhei duvidosa para ele. – Não vamos fazer Rony ter tido esse trabalho à toa, não é?
– Harry…
– Qual é Hermione, apenas um jantar. – demorei meu olhar em seus lábios que estavam esticados em um sorriso quase hipnotizante.
– Não vai ser apenas isso. – sussurrei fazendo-o inclinar o corpo em minha direção. Sua mão tocou meu rosto forçando-me a olhá-lo.
– Não, não vai ser. E essa é a intenção. Você não cede, damos um jeito. – minha respiração acelerou quando seus lábios tocaram a pele livre de meu pescoço. – Esqueça as coisas, Hermione.
Sua boca alcançou a minha em um beijo delicado. Sua mão foi parar em minhas costas puxando-me em sua direção. Ele afastou os lábios do meu e segurou meu rosto entre as próprias mãos. Minha respiração acelerada faz eu me demorar em prestar atenção a sua expressão.
Encaro seus olhos esverdeados dando um sorriso maroto, que foi retribuído.
– Eu te amo. – foi o sussurro mais gostoso que ouvi em toda a minha vida.
– Eu sei. – balancei os ombros como se não fosse importante e ele arqueou as sobrancelhas em um sorriso disfarçado. – Mas provavelmente não tanto quanto eu.
– Provavelmente mais. – mordi meu lábio inferior e ele se inclinou em minha direção, e nos beijamos mais uma vez.
Depois outra.
Depois fomos para o quarto dele.
Depois… bem, muitas coisas aconteceram desse dia em diante.
Dois anos depois
– Ei, não-não. – ri quando Harry pediu mais quatro doses ao barman– que não me ouviu e encheu os quatros copos a nossa frente.
– Granger, deixa ele aproveitar. – Avery o defendeu e eu lhe olhei apontando para Rony.
– Diz isso porque Ron pode beber o quanto quiser e não vai sair daqui tropeçando. – o ruivo riu virando a dose de tequila que havia acabado de chegar. Harry segurou meu rosto me virando em sua direção e me beijando.
– Querida, eu também posso beber o quanto eu quiser.
– Claro, e ficar jogado em qualquer lugar é o resultado. – resmunguei vendo-o virar o copo também. – Se formos para casa agora, – comecei tocando maliciosamente seu ombro. – faço algo especial.
Rony e Avery fizeram juntamente um som de prazer.
– Cara, eu não dispensaria. Sempre que Avery fala algo assim…
– Rony, calado amor. – ela interrompeu envergonhada. Harry riu se levantando animado.
– Estou indo embora. – me puxou pela cintura depois de colocar algum dinheiro na bancada. – A noite vai ler uma loucura.
– Ah se vai. – me virei falando mais baixo para os outros dois. – Ele vai cair no sofá e levantar amanhã com uma baita dor de cabeça. Isso vai ser realmente longo.
Nos despedimos de Avery e Ron que gargalhavam e fomos para um beco ao lado do bar. Aparatamos diretamente em nosso apartamento.
– Mione, quer casar comigo? – ele pediu após sentar na ponta da cama enquanto eu tentava tirar sua roupa.
– Claro Harry.
– Estou falando sério. – falou meio afobado quando a roupa não queria passar por seu pescoço e ele ficou agitado.
– Me peça amanhã, quando estiver sóbrio. – beijei rapidamente seus lábios. Tentei empurrá-lo para se deitar na cama, mas ele segurou firmemente minha cintura. Me olhou seriamente. – Harry, vamos…
Ele se abaixou pegando a roupa que estava ao lado da cama.
– Cadê? – falou procurando alguma coisa nos bolsos. – Aqui. – e para minha surpresa era um anel com um diamante pequeno incrustado nele. – Peguei hoje no cofre… – ele segurou minha mão sem dificuldades puxando-a para ele. Estava pasma demais para falar qualquer coisa. – Hermione, quer casar comigo?
Ri olhando o anel e depois tocando seu rosto.
– Já falei que sim. – ele concordou sério como se aquilo fosse a coisa mais correta e importante.
– Muito bem, muito bem. Eu te amo. – disse apontando o dedo para mim. – Não se esqueça.
– Não vou. – o fiz deitar e me deitei também a sua frente. Ele dormiu com a mão sobre meu rosto e comigo acariciando sua cabeça.
Eu também caí no sono, pensando apenas que ele devia ter pensado em uma forma especial de fazer o pedido, mas a tequila o fizera adiantar o momento. Quando eu levantasse, voltaria a colocar o anel em um dos bolsos de sua veste e aguardaria ele fazer o pedido de uma forma mais adequada. Sei que é o que ele gostaria.
– Aaah, droga. – me forcei a abrir os olhos e encontrei Harry sentado na cama me olhando.
– O que aconteceu? – pedi me espreguiçando.
– Era pra ser especial, eu já tinha pensando na coisa toda Hermione. Que droga, não me deixe mais beber, ok? – o olhei sem entender o que ele queria dizer com aquilo.
Ele agarrou minha mão quando falei que não estava compreendendo e avistei o anel em meu dedo. Sorri voltando a olhá-lo.
– Droga.
– Relaxa Harry. Foi bonitinho. – ele riu para mim sabendo que eu tentava aliviar seu estresse.
– Tenho certeza que foi.
– Mas se quiser voltar atrás…
– Claro que não! – falou meio ansioso.
– Se quiser voltar e fazer o pedido de outro jeito, estou aceitando. – ele riu aliviado. Provavelmente havia pensado que eu estava sugerindo desistência total do pedido. Longo engano.
– Não, já foi feito. – ele praticamente pulou em cima de mim e tentou me beijar.
– Harry, pela’mor! Nem fui no bainheiro ainda.
– Quem liga? – ia responder “eu”, mas ele segurou minhas mãos ao lado de minha cabeça e me beijou. – Já disse que te amo?
– Dormi ouvindo isso. – falei dando um sorriso de lado a lado. – Eu também te amo. – acrescentei.
– Eu sei. Como não me amar? Faço tudo por você e sou tudo pra você.
– Mal que você é convencido.
– E você ainda assim me adora. – balancei os ombros.
– Pior que sim. – ele riu.
E era verdade. Eu amava aquele homem demais, com todas as minhas forças. E poder admitir aquilo para todos, inclusive para Rony, era o melhor.
– Temos uma vida inteira juntos. – ele comentou.
– É… e vou continuar de perturbando até o fim de sua vida. – falei enérgica trocando de lugar e ficando por cima dele.
– Assim espero. – ele sorriu e desviou o olhar para meus lábios. Sorri também fazendo o que eu sabia que ele queria que eu fizesse.
– Rony é meu, nem vem. – falei do nada fazendo-o rir. Deitei ao seu lado apoiando minha cabeça em seu peito.
– Gina é minha então.
– Mas eu quero os dois! – olhei-o fazendo uma carinha pidona.
– Você não pode ter todo mundo. Se não eu vou ficar com quem?
Concordei relutante.
– Você não vai ficar me enrolando não, né? – ele me encarou sem entender. – Tipo, está noivando para me engambelar e só quer casar daqui dez anos ou nem isso!
Ele riu.
– Essa pergunta foi séria? – meu olhar foi desafiador. – Quer casar hoje? Podemos ir agora até o Ministério e tentar uma cerimônia rápida e em cima da hora.
– Está falando sério? – ele agora quem tinha o olhar desafiador. – Tudo bem, acho que podemos esperar alguns meses. – me acomodei novamente em seu peito.
– Foi tão difícil te conseguir… acha mesmo que te perderia só pra não precisar casar?
– Sei lá, cabeça de homem é terra que não se anda.
Ele gargalhou.
– Eu costumo dizer que cabeça de Hermione é terra que não se anda. Você é tão complicada e perfeita ao mesmo tempo… – ele deu um suspiro. – Acho que é por isso que eu te amo tanto.
– Só por isso?
– Preciso descrever tudo o que me faz louco por você? – fiz biquinho para ele, que riu. – O destino te trouxe para mim, Hermione. Isso que importa.
Sim, isso que importava. Eu estava com ele ali e ficaria para sempre. Pouco interessava se havia sido o destino ou a simples vontade de beijá-lo que tivera anos atrás - e que me fizera terminar com Rony. Estávamos juntos e não conseguíamos mais nos separar. Independente de discussões ou de qualquer outra coisa, ele havia sido feito para mim. E eu, para ele.
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