Os Melnick



Capítulo dois – Os Melnick


         Já havia amanhecido. Como Dramian e Adam já estavam acordados desceram para a cozinha preparar o café da manhã deles. Dramian não comeu muito. Adam olhava pela a janela a todo o momento, esperando Suloren chegar com a resposta de Dimitri.


            O dia foi se passando e nada da coruja. Felipe e Augusto arrumaram o sótão da casa para Dramian, os dois deixaram o local bem limpo e montaram uma cama para o hóspede que agradeceu por tudo. Dramian mantivera um olhar sinistro e curioso para Adam que o deixou muito inquieto.


            O jantar fora o mais silencioso que Adam tivera em sua vida e se sentia desconfortado com isso. Dramian comeu bem pouco e quando terminou observou o menino de cabelos e olhos castanhos.


            - O que foi? – Adam disse dando um sorriso de lado, encabulado, porém queria saber o fazia aqueles olhos fixarem tanto nele.


            - Não. Não é nada. É que existe uma áurea negra e sombria em torno de você. – Adam arregalou os olhos e seu coração bateu mais forte. Todos à mesa olharam assustados para o menino estranho. – Eu vou para meu quarto. Boa noite.


            Adam havia ficado super nervoso. Não sabia o que poderia ser essa tal de áurea escura em sua volta. Quando terminou de comer, ele fora até o sótão a procura de maiores detalhes do que Dramian havia dito. Seu irmão mais velho chegara perto dele e encostou a mão no ombro do caçula.


            - Ele não deve te atender. Olha, não sei o que ele quis dizer com aquilo, mas pode contar comigo. Tudo bem? – a voz de Augusto era de consolo.


            - Ta bom! Até parece que Augusto Henrique Perone, membro da gangue da escola, me ajudaria com alguma coisa.


            - Ei! Eu sou seu irmão mais velho! Devia me tratar com mais respeito. – falou alto com irmão, mas não queria chatear o caçula num momento delicado como aquele. Então sua voz voltou ser mais calma e singela. – Sei que você está atormentado com isso, mas você é meu irmãozinho, uai! – bagunçou os cabelos de Adam. – Suloren chegou e aqui está sua carta. – Augusto tirou do bolso um envelope com a letra de Dimitri e depois se afastou.


            - Obrigado Augusto! – Adam falou alto para o irmão que já estava entrando em seu quarto. Augusto sorriu e fez um sinal positivo com a cabeça. Adam sentiu-se bem, ele não se lembrava de nenhuma conversa sem briga entre os dois. Caçou alguma lembrança, mas só vieram confrontos de pequena e larga escala.


            Adam foi para seu quarto ainda tentando lembrar-se de qualquer conversa dele com Augusto que não houve discussões. Talvez o “Feliz Natal, aqui está seu presente!” ou “Feliz Aniversário, aqui está seu presente!”, mas nenhuma conversa concreta. O menino abriu o envelope e leu.


 


Adam,


Mesmo sendo cedo, papai concordou que você pode vim. Sexta-feira dia 11 de dezembro de 2009, iremos, eu e meu pai, através do pó de flu para sua lareira. Avisa o pessoal da sua casa e mande melhoras para sua mãe.


Dimitri Melnick


            No dia seguinte Dramian não saiu do seu quarto e Adam arrumou sua mala para levar para casa de Dimitri. Ele pensou em chamar Igor, mas estava muito encima da hora para poder chama-lo.


            No outro dia, sexta-feira dia 11 de dezembro, Adam ficou a espera na sala. Julieta desceu para se despedir do filho e ficou ali, sentada em uma das poltronas. Chamas verde-esmeralda apareceram na lareira e de lá saíram Dimitri e Vladimir. Adam se levantou e deu um beijo na mãe que se mantinha de cabeça baixa. Ele achou estranho o jeito dela, porém não questionou. Cumprimentou Dimitri e os dois amigos entraram na lareira. Vladimir tinha um olhar confuso no rosto, focava seus olhos em algo que os dois amigos não sabiam o que era.


            - Pai, algum problema? – disse Dimitri para Vladimir que estava parado olhando para Julieta. Estava incrédulo. – Vamos?


            - Hã? Ah, vamos sim! – ele se virou entrou na lareira que ficou apertada, jogaram o pó de flu e viajaram.


            A lareira da casa dos Melnick era grande e branca. A sala era espaçosa e luxuosa, com poltronas cor espuma e o carpete negro. Havia uma imersa janela que via-se uma campina com uma floresta ao fundo. Incrível a paisagem. Eles moravam longe da cidade.


            - Vamos deixar sua mala no meu quarto. – Dimitri apontou para a escada e Adam o seguiu. – Além de mim, minha mãe e meu pai moram outras pessoas aqui também. A casa é da minha bisavó Grusha, ela é uma louca, fascinada por chapéus e xales. Também moram aqui meus avós, Ivana e Uldis, são velhinhos bondosos, todavia não são de falar muito. – subiram mais escadas e chegaram ao quarto. O quarto de Dimitri era grande, bem maior que o de Adam, mas era o menor da casa. Havia uma cama de casal com lençol com as cores da Russia. – Mamãe ainda é fascinada por seu país. Fica mandando eu colocar essas colchas estranhas sempre. EU detesto, mas não questiono. Deixaram a mala de Adam e desceram para a varanda.


            A varanda cercava todo o fundo da casa. Sentada numa cadeira de balanço estava uma senhora que olhava para a campina com um olhar tristonho. Adam passou do lado dela e a observou.


            - Garoto! – a senhora agarrou o braço do Adam. Ele arregalou os olhos. – Jovem bonito. Você me lembra eu quando tinha sua idade. – Adam se assustou, mas agradeceu pelo o elogio, mas não gostando de ser comparado com uma velha caduca.


            - Aquela é minha tia-avó Lera. – disse Dimitri quando se afastaram da senhora. – Ela é doida, completamente. Mamãe me disse que ela ficou assim por causa de suas filhas. Uma fugiu de casa quando tinha 17 anos e a outra era muito ruim, ela foi morta na 2ª guerra bruxa junto com seu marido. Desde então ela é assim, maluca. – sentaram num banco. – Agora, pode me dizer a coisa tão importante que queria falar comigo.


            - É mesmo! Sabe a Helldark? – Dimitri afirmou com a cabeça. – Ela... Ela... Se transformou em um menino, um menino muito estranho.


            - Como... Como assim? – Dimitri não acreditava no que ouvia. – Como é possível um objeto se tornar uma pessoa sem mais nem menos?


            - Na verdade não foi “sem mais nem menos”. Eu estava desfazendo meu malão. E encontrei um frasquinho que eu havia achado no banheiro no dia do teste de trancabola de Saulo. É, é, não te contei isso. – Dimitri tentara interromper. – Mas ai Augusto entrou no quarto e acabamos brigando. A bola rolou até o frasco e quando os dois se tocaram houve uma explosão. Não vi nada, tinha muita luz, depois o menino apareceu e eu desmaiei.


            - Muito estranho você ter achado esse frasco, parece que isto já estava combinado para acontecer. – analisou Dimitri.


            - Como que pode? Eu achei o frasco meses antes de sabermos do boato da Helldark. – disse Adam.


            - Mas mesmo assim, parece que alguém já tinha esse plano programado. Esse menino pode ser um perigo, Adam. – concluiu Dimitri.


            - É eu sei! Ele disse para mim que ele é a escuridão. Es-cu-ri-dão! E depois controlou minha sombra, mas o que mais me assustou foi no jantar de quarta, no dia 9, que ele me disse que havia uma áurea negra em minha volta.


            - Isso não deve ser nada bom, Adam. Nada bom!


            Os meninos continuaram ali discutindo. Dimitri pegou as três corujas da casa dele e enviou cartas para Adolfo, Lola e Saulo. Mandou a coruja mais forte e bonita para Lola, Adam pensou que era para impressionar a garota, porem Dimitri explicara que a viaja era mais longa e aquela é que tinha mais condições de completar o caminho sem perder a vida. Mas no fundo Adam sabia que era para impressionar a garota. Vladimir saíra de dentro casa e foi até os dois.


            - Eu vou dar uma volta na floresta recolher alguns ingredientes para meus experimentos, ok? Adam se quiser qualquer coisa peça o Dimi. – virou começou a caminhar, mas volto. – Ah! Só uma coisa. Adam quem é aquela mulher que estava com você na sua casa?


            - É minha mãe. – disse desconfiado. – Por quê?


            - Ela me pareceu muito familiar. E qual é o nome dela? – Adam respondeu “Julieta”. – Ah! Então não é quem eu estou pensando. – Vladimir se virou e foi a caminho da floresta.


            A noite no jantar, a Srª Melnick, mãe de Dimitri era outra pessoa daquela da estação de trem. Muito simpática e divertida, porém não era muito de rir. Ela fez muitas perguntas a Adam, que começou a sentir-se incomodado, depois a mulher de cabelos muito loiros começou a falar sobre a Rússia, dizia que era o melhor lugar para bruxos moraram, era até melhor que a própria Grã-Bretanha.


Os avós de Dimitri eram bem calados mesmo, contudo pareceram felizes com a presença de Adam. Dona Lera, a velha maluca, não deixara de falar que o convidado era parecidíssimo com ela e o elogiava a todo instante. Adam se sentiu envergonhado.


Dona Grusha arrancava risos de Adam. Ela era muito inquieta, a todo momento ela mexia os pés, as mãos, misturava o café, ela é viciada em café, toma até mesmo no jantar, e tentava estalar o pescoço. Os chapeis da senhora será os mais excêntricos, na mesa ela usava um que era negro com penas de cisne branco, estas mudavam de cor de acordo com seu humor.


Para Adam, o Sr Vladimir era o predileto naquela casa, ou melhor mansão. Ele tinha algo, que Adam não sabia o que era, que o deixava como o melhor membro da família, depois de Dimitri, é claro. Dava para perceber isso olhando em seus olhos e amava Dimitri com todas as forças. Como ele fosse a pessoa mais importante de todas no mundo. Talvez seja isto que fizera ela gostar tanto do pai do amigo.


            A semana na casa dos Melnick fora ótima, tão boa que passou como um piscar de olhos. Depois da visita Adam não acreditava que aquela família, um dia, serviu Lord Voldemort.

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