(63)






– (63) –


 


 


– VOCÊ O QUÊ?!


 


– Shhh! Fala baixo!


 


– Você está dizendo... Você está realmente me dizendo...


 


– Não, amigo, eu já disse! E, sim, é verdade!


 


– Eu não acredito que você trepou...! Que Você...


 


– Draco, – Astoria fez uma pausa – agora você está jogando no lixo a minha dignidade.


 


– ... com a Weasley.


 


Silêncio. Falando assim em voz alta realmente parecia a coisa mais absurda de todo o universo.


 


– Uau, Tori. Não vou fingir que não estou surpreso, mas... UAU!


 


– Eu sei. – sorriu timidamente como se revivesse os momentos que passou com a ruiva em seu estúdio.


 


– E agora? Vocês estão juntas ou o quê?


 


– Não... na verdade eu não sei.


 


– Como assim não sabe?! As lésbicas se casam no segundo encontro, não é assim que funciona?


 


– Draco... – o olhar mortífero da amiga fez o loiro instantaneamente parar de rir.


 


– Desculpa, eu não resisti. – sorriso. – Quer me explicar isso melhor?


 


– Hoje faz exatamente uma semana que aconteceu e em uma semana ela não falou absolutamente mais nada comigo. Quando a gente se encontra é sempre sobre trabalho ou alguma coisa aleatória. Não falamos disso... se for parar pra pensar, nem parece que aconteceu... na verdade, vai ver eu sonhei que–


 


– Cala a boca, Tori. – Draco interrompeu antes que ela começasse com mais uma dose de autopiedade. Respirou fundo e continuou. – Não é como se Gina Weasley fosse a mais romântica das garotas. Em Hogwarts ela partiu alguns corações, é o que fiquei sabendo...


 


– Você acha que ela me usou? – O tom era de repentina surpresa.


 


– É possível. – Draco deu uma garfada em seu nhoque.


 


Observando a cara de completa apatia da amiga, prosseguiu:


 


 – Não aja como se não tivesse gostado, tampouco.


 


– Você está louco? Eu amei!


 


– Ih... já vi que–


 


– Não, não estou apaixonada. É só muito escroto, sabe? Quem ela pensa que é pra gozar, sei lá, umas 5 vezes e nem sequer falar comigo depois?


 


– Você precisa se distrair mais. Fazer test drive em outras máquinas, sabe?


 


– Draco, você sabe exatamente que eu não sou dessas garotas que se apega fácil. Você sabe disso.


 


– De qualquer forma, não trate o assunto com Gina como se fosse uma prioridade.


 


– Não, não é uma prioridade. Mas, cara... Que sacana!


 


– Você está tensa. Hoje a noite eu vou te levar pra tomar alguma coisa. O que me diz?


 


– Ok, você manda. Estou precisando mesmo de uma boa dose de álcool. – Astoria voltou a comer sua salada.


 


– Chama o Creevey se quiser. E aquela jornalista gostosa, como é mesmo o nome? Stewart?!


 


– Você é um cachorro safado, sabia disso?


 


– Um cachorro safado que te ama.


 


– Um cachorro safado que me ama, mas quer pegar a garota mais gostosa do Profeta Diário.


 


– Um cachorro safado que te ama, mas que tem suas próprias necessidades, já que você não me quer.


 


Astoria sorriu. Sabia da quedinha que Draco tinha por ela.


 


– Se fosse uma mulher, Draco, você seria a minha primeira opção.


 


– Na frente da Weasley?


 


– Na frente de qualquer uma.


 


 


 


 


O resto da sexta passou relativamente rápido. Draco realmente sabia quando e o que dizer para Astoria e a loira agradeceu mentalmente por tê–lo sempre por perto.


 


Sobre Gina, a ruiva não trocou nem mesmo um olhar com Astoria durante, inclusive, a reunião de pauta (mais chata que uma horinha no inferno). Aquilo tudo era muito confuso e embaraçoso e, na cabeça de Astoria, se Gina não a procurou até agora, ou tinha feito uma coisa absurdamente errada ou Gina realmente era uma vadia aproveitadora.


 


À noite, mais precisamente às 10, Draco prontamente esperava Astoria em frente ao prédio onde a loira morava. O programa era conhecer um novo bar numas das esquinas da Piccadilly Circus. Denis Creevey e Mandy Stewart, a última para delírio de Draco, estariam por lá.


 


– Você está...


 


Draco começou assim que visualizou o que Astoria estava vestindo. Uma maquiagem um pouco mais pesada do que estava acostumado, estilo rock star, realçando bem os olhos. Os cabelos estavam soltos, mas havia uma espécie de topete preso com alguma fivela. Havia um corselete preto ali também, sobre a blusa de renda branca (o decote era encantador).  Pra finalizar, calças apertadas, botas de salto alto e um olhar de mulher que sabia o que queria.


 


– ...maravilhosa.


 


Astoria sorriu antes de agradecer e abraçar o amigo. Ele abriu a porta do seu BMW preto para que ela entrasse e em seguida deu a partida. Não demorou muito tempo até que o manobrista do Frank’s, o bar que conheceriam, estivesse levando o carro de Draco para estacioná–lo.


 


Eles entraram juntos no que parecia uma taverna medieval, mas ali nada era exatamente antigo. Velho e novo se misturavam no contexto sem lógica que agradava quem ali frequentava. Havia centenas de garrafas em estantes que ocupavam o lugar das paredes. Alguns pôsteres decoravam os poucos espaços onde não se via bebidas. As mesas eram redondas e altas, feitas de madeira propositalmente lascadas. A iluminação era fraca, bem aconchegante e discreta.


 


O lugar estava cheio. Os amigos localizaram Denis e Mandy com alguma dificuldade. Os dois, pelo que parecia, já haviam começado os trabalhos, pois algumas canecas vazias jaziam esquecidas na mesa em que ocupavam.


 


Estava tudo completamente bem. Astoria estava se sentindo atraente, havia garotas bonitas pelo local, teria uma noite divertidíssima ao lado de interessantes amigos que–


 


– Eu não acredito nessa fucking merda! – Astoria sussurrou para Draco.


 


– O que foi, Tori, você está–


 


E foi ai que Draco Malfoy olhou na direção em que Astoria indicava sorrateiramente. O motivo pelo qual queria fazer Astoria relaxar estava ali, de corpo, alma, pele, ossos e incríveis cabelos ruivos. E não estava sozinha. O trio brilhante de Hogwarts também estava com ela. Harry Potter, Hermione Granger e Rony Weasley sorriam e conversavam animadamente entre si.


 


– Ótimo. Escuta, Tori, nós podemos ir embora se você quiser...


 


Astoria encarou o amigo. Bebeu um grande gole da sua cerveja escura antes de dizer:


 


Fuck off. Vamos ignorar.


 


 


E a noite foi passando tranquilamente. Nesta altura eles já estavam apostando quem seria o primeiro a cair bêbado. Mandy se mostrou bem mais simpática do que Astoria imaginava. Draco estava definitivamente com os quatro pneus arriados por ela.


 


– Você ficou sabendo que o Howard Rezz saiu do Semanário dos Bruxos? – Denis falava com Astoria. – Ele me enviou uma coruja perguntando se eu não poderia indicá–lo no Profeta. Tori? Tori? Você está me ignorando de novo?


 


Astoria despertou. Por um longo segundo se deixou observar Gina e seus amigos. Balançou levemente a cabeça, terminou a cerveja e já fez um movimento para o garçom lhe trazer outra.


 


– Isso é muito lésbico, sabia disso? – Denis sorriu.


 


– Não enche, Creevey.


 


– Você manda, Astoria-apaixonada.


 


- Fuck, Creevey. – A loira sorriu contrariada.


 


- Quando você não olha, ela olha.


 


- É?! – questionou surpresa e interessada.


 


- É. – Creevey respondeu sem muito interesse, agora que Astoria prestava total atenção nele.


 


– Preciso ir ao banheiro.


 


– Quer que eu vá com você?


 


– E balançar pra mim você não quer?


 


– Haha, que sapatão mal educado!


 


– Relaxa, não vou demorar. – sorriu.


 


 


Astoria levantou, cambaleou nos primeiros passos e se direcionou ao banheiro feminino. Após usá–lo e lavar 3 vezes a mão esquerda e 3 vezes a mão direita (tinha que perder esse maldito hábito, pensou), ouviu uma descarga atrás de si, a porta de um dos banheiros se abriu e dela saiu a pessoa que evitou a noite inteira.


 


– Gina. – cumprimentou.


 


– Astoria. – recebeu antes que a ruiva começasse a lavar as mãos.


 


– Eu te vi mais cedo, mas não fui falar contigo porque não queria interromper a conversa dos seus amigos. Não que eu fosse demorar muito por lá, mas iria dar um oi e dizer que–


 


 **What the fuck?!**


 


Astoria não terminou o que estava dizendo, ou melhor, tentando dizer. Gina a puxou pela cintura e a beijou ferozmente. Astoria correspondeu, claro. Suas mãos traziam o rosto de Gina ainda mais para perto. Pela eternidade que durou aquele beijo, sem soltar, Astoria se esqueceu de como Gina estava agindo ultimamente. Esqueceu-se de como foi se manter no escuro durante aquela semana. Na verdade, Astoria se esqueceu de tudo que não fosse o beijo de Gina.

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