A Vidente Russa
Gina olhou-se no espelho antes de descer para o café. Sua barriga estava grande, e enquanto acariciava sentia o bebê mexendo. Ela reparou que estava desengonçada, sem cintura, o rosto mais gordo, mas não havia perdido a beleza, pelo contrário, seus olhos revelavam uma luz radiante.
Sentia-se extremamente protegida, os pais vinham toda semana para Hogwarts acompanhar o desenvolvimento do neto, Dumbledore tomara todas as precauções para seu conforto e os amigos não a largavam um só minuto.
Algumas pessoas fingiam que não percebiam nada, já outras encaravam a situação com naturalidade, perguntando se o bebê já mexia, se já sabia o sexo, ou que nome daria. O único a não tecer nenhum comentário era Draco.
Desde aquela conversa desastrosa no teatro, Draco nunca mais se posicionara. Às vezes conversavam brevemente, mas ele sempre saia quando o assunto recaia sobre o bebê ou sobre as responsabilidades. Gina apenas analisava a situação e via como Draco estava perturbado com a situação, ele era infantil, imaturo, sabia que ele a amava, mas a pressão dos pais era mais forte que seus sentimentos.
Assim que entrou no salão principal, foi assediada por Connie Backer, que vinha radiante!
- Gina, teremos visita a Hogsmeade hoje!
- Não sei se irei, e também, papai e mamãe devem chegar a qualquer momento.
- Você precisa vir Gina, soube de uma vidente maravilhosa que está hospedada na casa da Madame Rosmerta. Ela é russa e esta fazendo algumas consultas em uma sala aos fundos do Três Vassouras. E é por pouco tempo, ela sairá da cidade em breve.
- Não sei se poderei ir.
- Poderá ir aonde mocinha? - disse a Sra. Weasley que chegava acompanhada de Arthur.
- Mamãe! - disse Gina a abraçando com carinho - Chegaram cedo!
- É que precisarei ir embora logo querida. Carlinhos ficará em nossa casa esta semana, preciso preparar tudo, e quero estar lá quando ele chegar.
- E o Malfoy, já tomou alguma atitude? - perguntou o Sr. Weasley.
- Papai, porfavor, não quero falar sobre Draco, ele é uma página virada em minha vida.
- Será mesmo? - perguntou a Sra. Weasley a abraçando novamente.
- Bem, já que vocês precisam ir embora logo, talvez dêem permissão para Gina ir até Hogsmeade hoje. É que uma vidente muito boa esta na cidade. - disse Connie.
- E o que ela pode adivinhar Gina? Que você será mãe? - perguntou o Sr. Weasley rindo.
- Não sei, está frio, Gina pode resfriar-se. - disse Molly.
- Cuidarei bem dela, Sra. Weasley e a trarei de volta assim que terminar a consulta.
- Tudo bem, eu deixo! E depois vou querer saber o que essa vidente lhe falou.
- Mandarei uma coruja, pode deixar. - disse Gina que deu um beijo nos pais e subiu para o dormitório para pegar alguns agasalhos.
- Connie querida, aproveitando que Gina não está, gostaríamos de lhe dar uma palavra - disse a Sra. Weasley.
- Claro, porque não nos sentamos?
Eles foram até a mesa da Grifinória que a esta hora já estava vazia, e se sentaram a um canto.
- Queria saber como Gina está reagindo - disse Arthur - Digo, sei que ela tem amigos, e que você está sempre do lado dela, mas me preocupo, afinal ela divide o mesmo ambiente que Malfoy.
- Eu entendo a preocupação de vocês, Gina está sendo muito forte, me orgulho dela. Draco é imaturo, mas ele sofre também, vejo que ele não esta feliz com a situação, que ama Gina, mas seus pais não lhe dão folga, recebe corujas diariamente, uma vez tentou falar com Gina, e o resultado foi que no dia seguinte recebeu um berrador ameaçando-o de todas as formas. Creio que existem espiões por aqui, Draco tem medo.
- Mas e como minha filha tem reagido a tudo isso? - perguntou Molly.
- Como disse, ela tem se mostrado forte, é uma guerreira, toma todo cuidado, pensa somente no filho, ela é super responsável também.
- Eu sei que é - disse Arthur.
- E ai, fofocando sobre mim? - disse Gina que abraçava a Sra. Weasley pelas costas.
- Como você adivinhou? - perguntou Arthur.
- Falando em adivinhação, o Sr. Filch já está liberando os alunos para irem a Hogsmeade, então trate de se sentar agora mesmo e tomar seu café! - disse Connie.
- Com uma pessoa como Connie por perto, nem devemos nos preocupar - disse Arthur sorrindo!
- Ela judia de mim, é mais severa do que duas mães juntas!
Connie e Gina saíram para Hogsmeade. O Três Vassouras estava cheio, e uma fila de garotas agitadas bem ao fundo do bar, denunciavam que ali deveria ser o lugar em que a vidente atenderia.
Gina aproximou-se e se sentou. Uma placa estava pendurava a uma porta com o nome “Alexandra Romanov”. Não demorou muito para que a vidente abrisse a porta e chamasse a próxima garota. Gina reparou como era exótica, trajava um vestido roxo berrante com detalhes em dourado, um enorme xale lilás caia pelos seus ombros, os cabelos negros e encaracolados chegavam a cintura, tinha inúmeras pulseiras nos pulsos e um brinco exageradamente grande ofuscava a visão de um olhar indecifrável.
Quando chegou a vez de Gina, um medo súbito tomou conta dela: “E se ela disser que nunca mais serei feliz? Que Draco não me ama e que se casará com Pansy Parkinson? Que os Malfoy tomarão meu filho e o jogarão em um orfanato, onde nunca mais o acharei?”
- Eu não vou! - disse Gina - Vá você Connie!
- Que isso Gina, você precisa ir - disse Connie conciliadora.
- Não posso Connie, estou com medo.
- Irei com você! Pronto, faremos a consulta em dupla.
Gina se sentiu um pouco mais aliviada e concordou, cruzaram a porta e depararam com uma sala pequena que lembrava um pouco a sala de adivinhação da professora Sibila.
- Sentem-se - pediu Alexandra com um sotaque russo - Meu nome é Alexandra Romanov, moro em Kursk, ao sul da Rússia, vim visitar minha amiga Rosmerta e decidi fazer algumas consultas. Atenderei uma de cada vez.
Gina segurou forte a mão de Connie e amiga disse:
- Poderia ser a primeira? - Ela fez isso para que Gina perdesse um pouco do medo que estava. Alexandra concordou e começou a predizer para Connie:
- Sua vida foi marcada pela riqueza, nasceu em uma família nobre, mas se sente infeliz com a atitude de seus pais, vejo que ama e é amada, passará momentos difíceis, seus pais não aceitarão, por isso precisará ser forte! Se agir assim, conseguirá ser feliz com essa pessoa, que tanto te ama.
Connie ouviu outras coisas, mas essas palavras a marcaram, como aquela estranha poderia saber de seu amor por Colin? Um garoto nascido trouxa que com certeza geraria desgosto por parte dos Backer.
Gina se sentiu mais corajosa, seja o que fosse que aquela mulher lhe falasse não iria mudar em nada sua busca pela felicidade, iria ser forte e lutar para que seu filho nascesse bem, e que fosse uma criança muito amada.
- Seu destino é obscuro e confuso. Vejo um rapaz loiro chorando em uma masmorra, um palácio iluminado e você correndo pelo jardim. Um rapaz moreno com lindos olhos verdes sorri para você, ele te ama, mas você está confusa, olha para o lado e tudo o que vê são nuvens escuras, volta o olhar para a direção do rapaz moreno, mas ele não está lá, você chora, procura, e sai sozinha. Vejo o mar, um lindo barco, você e o rapaz loiro estão nele, mas não estão sozinhos, um bebê esta em seus braços, nascerá bela e saudável!
- Bela? - perguntou Gina.
- Será uma menina. - respondeu Alexandra sorrindo. - Também terá muito sucesso profissional e isso não tardará a acontecer, será mais breve do que imagina.
As duas saíram agitadas da consulta, Connie não parava de falar um minuto:
- Você viu? Ela me falou sobre Colin, falou que nosso amor terá barreiras, que meus pais não permitirão, mas você ouviu, disse que venceremos juntos... Ela acertou tudo.
- Não acertou tudo não, jamais estarei com Draco e o bebê novamente naquele barco! Draco não me ama, essa é a verdade, qualquer um poderia prever.
- Gina! - gritou Rony assim que a viu. - Venha tomar uma cerveja amanteigada com a gente!
Gina olhou para Connie e viu que a amiga havia concordado com a idéia, sentaram-se na mesa, juntamente com Harry e Mione.
- Vocês estavam consultando aquela vidente? - perguntou Mione.
- Sim, você deveria tentar Hermione, ela é fantástica! - disse Connie.
- Não, tenho experiências desagradáveis com videntes - disse Mione se lembrando das aulas de adivinhação.
- E como vai a barriguinha? - perguntou Rony - Meu sobrinho está bem?
- Segundo a vidente, será uma sobrinha. - disse Gina.
- Ah não, mais uma mulher? Pensei que arrumaria um companheiro de quadribol! - Lamentou Rony.
- Como assim, mais uma mulher? Em casa fui a única mulher, em sete filhos! - disse Gina.
- Com licença - disse uma mulher se aproximando da mesa.
- Sra. Macker - exclamou Gina - Por favor, sente-se conosco.
- Se não for incomodar, preciso falhar-lhe um momento.
- Bem, a Sra. Macker é a diretora de redação do Profeta Diário - disse Gina apresentando-a - Esses são Rony meu irmão, Hermione Granger sua namorada, Connie Backer minha amiga, e Harry Potter, um grande amigo da família.
- Ah sim, muito prazer - disse a Sra. Macker - Conheço sua família Connie, seu pai é um grande patrocinador do Profeta Diário!
Connie balançou a cabeça e a Sra. Macker continuou:
- Virgínia, quero lhe dizer que adoramos seu ultimo artigo, e propor-lhe, para assim que terminar o colégio, e claro, dispor de tempo por causa do bebê, venha trabalhar conosco na redação do Profeta Diário.
- O que? - disse ela cuspindo cerveja amanteigada - Trabalhar como efetiva no Profeta Diário?
- É sim, você tem muito talento, nossa equipe ficará satisfeita em tê-la conosco.
- Não sei o que dizer...
- Entraremos em contato com você assim que possível, até lá, gostaria que você continuasse a escrever como free lancer.
- Claro, continuarei sim.
- Até logo - disse a Sra. Macker se despedindo.
- Vocês ouviram isso? - disse Gina - Eles irão me contratar!
- Parabéns Gina, você merece! Eles não seriam loucos de perdê-la, por isso o convite antecipado. - disse Harry.
- Isso merece um brinde - propôs Mione - A mais nova escritora do Profeta Diário!!!
Todos levantaram suas cervejas amanteigadas e beberam, Draco que estava sozinho a uma mesa ao fundo, fez o mesmo movimento e bebeu, em homenagem a sua infelicidade.
- Gina! - disse Connie - Lembra o que Alexandra disse? Sobre o seu sucesso profissional?
- Pelo menos uma coisa boa! - disse Gina.
- O que mais ela disse? - perguntou Harry.
- Foi estranho, ela não disse nada de concreto, apenas visões estranhas, sobre mim, Draco, e... bem, sobre você também.
- Sobre mim? - perguntou Harry surpreso.
- Ela disse que nos viu em um jardim, que eu procurava por você.
- Pode ser o dia do teatro - disse Harry.
- É, quem sabe, não posso dizer nada ao certo, nem sei se acredito.
- Nossa! Eu me esqueci! - disse Mione de repente - Prometi para mamãe que compraria alguns doces da Dedos de Mel, Rony vamos comigo?
- Claro - disse Rony terminando sua cerveja amanteigada.
- Oi gente, como vão? - disse Colin que chegava radiante a mesa - Connie, acabei de revelar algumas fotos, você tem ver, vamos até a pracinha comigo?
- Ah Colin, sinto muito, mas preciso acompanhar Gina de volta ao castelo.
- Não se preocupe! - disse Harry - Eu levo Gina de volta.
- Eu não sei...
- Pode ir Connie, estarei bem com Harry.
- Se você diz assim, então até logo.
- Você fica muito bem de azul - disse Harry encarando-a.
- Perdão?
- Disse que você fica muito bem de azul - repetiu ele - Foi sua mãe que lhe fez essa blusa?
- Ah... A blusa - disse Gina sorrindo - Sai com tanta pressa que nem reparei na roupa que estava.
- Mas eu reparei.
- Você repara em tudo Harry, todos os detalhes, será um ótimo auror.
- Espero que sim. Mas agora devemos ir, senão ficará tarde e eu não quero ser responsável por uma gripe, ou qualquer outra coisa.
- Tudo bem, do jeito que estou sendo mimada, se Connie ou Rony não te matassem, mamãe ou Dumbledore o faria.
Eles se levantaram e quando chegaram a porta trombaram com Draco:
- Vejo que esta aproveitando a oportunidade não é Potter? - disse Draco.
- Não estou entendendo Malfoy!
- Está aproveitando que eu e Gina estamos enfrentando problemas, para dar em cima dela!
- EU ESTOU ENFRENTANDO PROBLEMAS! - disse Gina - Você não, você está fugindo deles!
- Gina eu...
- Por favor Draco, me esqueça! Venha Harry, eu quero ir para o castelo.
***
Caminharam lentamente pelas ruas e cruzaram os portões da propriedade. Harry a todo instante olhava com carinho para Gina, que conservava o semblante sério e triste.
- Gina - disse Harry segurando-a pelos ombros e fazendo-a parar de andar - Está difícil falar com você a sós, sempre cercada e paparicada por todos os lados.
- Não que seja minha culpa - disse ela erguendo as mãos.
- Quero que conte sempre comigo Gina, para tudo que precisar, sei das suas preocupações e aflições, acompanho passo a passo, suas reações e atitudes, e isso só fazem com que eu te admire ainda mais. Você tem sido forte e demonstrado um caráter firme e digno. Você assumiu tudo sozinha, sua coragem é um exemplo, você é uma legitima grifinória.
- Assim fico sem graça Harry, mas digo que não estou sozinha, sem vocês eu não conseguiria, meus pais me deram o apoio fundamental, e meus amigos, não me desampararam.
- Mas sei que tem sofrido mesmo assim, sofre pelo afastamento de Malfoy, mas acredito que seja involuntário da parte dele, um dia ele irá aprender a respeitar o amor, o tempo, você mesma e o bebê, irão lhe mostrar que tudo que possui é ilusão passageira, o que é o dinheiro a posição, quando não se tem amor? A verdadeira felicidade reside no amor verdadeiro, sem egoísmos e sem preconceitos. Acho que estou te cansando não é?
- Pelo contrário, me admiro ao ver você defendendo Draco. Suas palavras me fizeram bem, sinto-me mais forte em saber que existem pessoas como você no mundo, vejo que minha luta faz sentido, ensinarei meu filho a dar valor a todas essas coisas Harry, eu prometo.
- Gina, eu te amo! - disse Harry.
Gina foi pega de surpresa, desde aquele dia no teatro Harry não havia repetido essas palavras, e ela até chegou a acreditar que tudo havia passado. Gina notou pela primeira vez o quanto Harry era charmoso, os óculos davam-lhe um ar sério e responsável, os olhos verdes pareciam enxergar sua alma, era intrigantemente sedutor.
- Harry, eu não posso dizer que te amo, mas me sinto mais segura em ter você por perto!
Harry abraçou-a com força, e beijou-lhe os lábios com desejo. Gina retribuiu, sentia-se incrivelmente protegida com Harry ao seu lado. Foram tirados do beijo por um barulho de alguma coisa caindo, olharam e viram Draco recolhendo algumas coisas que havia deixado cair, e entrando no castelo logo depois.
- Draco! - Gina levou a mão a boca. - Ele viu.
- E qual o problema dele ter visto? - perguntou Harry.
- É verdade, não há problema algum. Agora vamos entrar, está muito frio aqui!
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