Gotta be 22 & 23



Capítulo 22 

- Na boa, por que eu preciso de três pessoas me acompanhando pra ir ao médico? 
- MÉDICA! Que caralho, Rhanna, e quer fazer o favor de falar o nome certo? 
- Ginecologista – falei me arrepiando. – Credo, até esse nome me dá medo. 
- Você nunca foi a um ginecologista? 
- Não, Sam, nunca fui! E se não fosse pela insistência idiota da Ana, eu continuaria minha vida inteira sem ir. 
- Ah claro – ela parou na minha frente. – Você vai finalmente perder a porra da virgindade e não quer saber se tá tudo bem nos seus países baixos? 
- ELA VAI OLHAR LÁ EM BAIXO? 
- É óbvio que vai, Rhanna, ou você acha que ela vai descobrir como anda sua periquita pelo poder da mente? 
- Não sabia que ela ia olhar, como que é? 
- Você vai deitar na maca com uma camisola aberta na frente, abrir as pernas LITERALMENTE e ela vai olhar, ué? – Aninha fez careta. – Não é tão agradável quando eu falo em voz alta. 
- NÃO É NADA AGRADÁVEL! – Minha voz estava aguda, alta, nervosa e histérica. 
- Chegamos – Lucas riu. – O consultório é aqui. 
- Exato, Dra. Violeta – Aninha suspirou. – Ela é boa. 
- Já veio nela? – Perguntei agarrando Sam pelo braço, ele se controlava ao extremo para não rir. – Ou você simplesmente abriu a lista telefônica e escolheu a primeira médica que você viu? 
- Hey sua babaca, eu a conheço. Ela que viu minha “flor”, como você adora chamar, pela primeira vez – Aninha sorriu. – E dá pra entrar logo? Ou você tá esperando que um monte de menininha nunca comida apareça aqui e comece a tirar foto? 
- Já até imagino a notícia – Lucas falou. – Namorada de Harry Styles vai ao ginecologista. Gravidez? 
- Vira essa boca pra lá – bati em Lucas enquanto ele ria. – Vamos entrar logo nessa merda! 

Aninha foi na frente, Lucas atrás, eu atrás dele e depois Sam. O consultório era todo branquinho e - pasmem – pintado com alguns detalhes na cor ‘violeta’ (agora o nome dela faz todo sentido pra mim). Era como se fosse uma casa meio antiga, o piso era de madeira, o sofá bem branquinho e aparentemente confortável, uns vasos de flores delicadas enfeitavam o local e davam um ar totalmente feminino. Lucas e Sam sentaram-se no sofá e ficaram ali lendo revistas femininas. Por mais que possa parecer estranho, eu tenho certeza de que eles estavam bem confortáveis lendo sobre maquiagem, tendências da moda e coisas do gênero. Aninha foi comigo até a senhorinha da recepcionista, que vestia um jaleco rosa com flores brancas, tinha o cabelo vermelho acaju e óculos na ponta do nariz, porém seu rosto era amigável. Me aprumei toda e limpei a garganta com um tossido alto e Aninha riu de forma discreta ao meu lado. 

- Bo-bom dia – falei. – Eu marquei uma consulta. 
- Bom dia, meu bem – a tal senhora com cabelo acaju olhou pra mim, tirou seus óculos então pude ver suas pupilas azuis. – Qual o seu nome? 
Rhanna. 
Penalva – Aninha falou. – Penalva, Rhanna – olhei meio em dúvida. – Você não está no Brasil, meu amor, aqui falamos primeiro o sobrenome. 
- Ah sim, claro – bati com a mão na testa, tinha me esquecido desse detalhe. 
Penalva, sua consulta está marcada para agora às dez horas, certo? Com a Doutora Violeta. 
- Exato – suspirei. – Ela demora pra atender? 
- Na verdade você é a primeira paciente dela, não vai esperar mais que dez minutos. 
- Obrigada – merda, eu queria que ela atrasasse, assim teria uma desculpa para sair rápido desse consultório. 
- Fique à vontade, vou informar a doutora que você já chegou – e a senhorinha educada nos dispensou. 
- Sua mão está gelada – Aninha riu segurando minha mão enquanto íamos para o sofá sentar com os meninos. – Tá nervosa? 
- Não está sendo nada agradável essa consulta. Ainda mais porque eu sei o motivo pelo qual você me trouxe pra cá. 
- Você vai ter sexo com seu namorado? – Lucas me olhou com ar de ‘óbvio’ e eu odeio esse olhar. – Qual o problema? Precisa saber se está tudo certo nos países baixos. 
- Quando vocês falam assim é MUITO broxante, só queria deixar isso bem claro. E outra, desde quando minha vida sexual se tornou algo público? – Bufei, cruzando as pernas e os braços. 
- Desde que você começou a namorar um dos caras, se não for o cara, mais famoso do planeta – Sam riu. – E dê graças a Deus que as fãs doidinhas dos meninos não sabem que você é virgem. 
- Parte delas ainda acha que o Styles é virgem – Aninha disse e nós rimos. – Qual é? Tem fã de 12 anos, cara, impossível essa garota saber o que é sexo. 
- Se lê fic restrita, sabe o que é sexo sim – Lucas falou. 
- Fic restrita? 
- Nunca leu não, Rhanninha? – Sam abraçou Lucas pelo ombro e me olhou. – Site de fiction? Fictions? Ficção? Estórias que pessoas desocupadas inventam para expressar seu desejo de ter uma vida melhor porque a vida que levam não basta? Entretenimento virtual? 
- Para de falar grego – eu ri. – O que é isso? 
- Qual das partes você não entendeu? – Aninha me olhou. – Lucas vomitou mil coisas e, honestamente, eu não entendi algumas coisinhas. 
- O que seria uma fiction? 
- Geralmente são baseadas em algum fandom, pode ser tanto livro como banda ou filme, o que mais te agradar. Então, uma pessoa desocupada, como eu já disse, começa a tecer uma estória de acordo com esses personagens já existentes. 
- Porque a pessoa não tem capacidade mental suficiente de inventar novos personagens – Sam riu. 
- E pode ser de caráter romântico, comédia, drama ou, como eu disse, restrito. Ou seja, sexo. 
- Sexo? 
- Sim – Lucas riu. – E não para por aí, tem a categoria ‘slash’, que, traduzindo, homossexual. E pode ser restrita slash, o que torna tudo mais divertido. 
- Eca – eu deixei escapar e os dois me olharam. – Não tô falando que vocês dois é ‘eca’, mas eu não leria nada do gênero.
- Quem é virgem não opina em leitura erótica – Sam rebateu. – Enfim, continuando... Há alguns sites que são voltados exclusivamente para a publicação de fanfics. Então, a pessoa desocupada escreve e manda os capítulos para o site. Geralmente são publicados todo mês, porém há aquele tipo de pessoa mais desocupada AINDA que posta toda semana. Não gosto, prefiro ficar no suspense e esperar mais tempo, meu cérebro se encarrega de acrescentar mais detalhes na trama ao longo dos trinta dias. 
- Ok, pergunta – levantei a mão. – Essas fanfics, qualquer pessoa pode escrever? E ler? 
- Aham, qualquer pessoa – Aninha falou. – Eu já tentei escrever algumas, mas fica tudo uma merda. Gosto mesmo é de fazer sexo, e não escrever sobre sexo. 
- É um dom escrever cenas picantes sem ficar tosco ou rápido demais – Lu falou. 
- E, já que qualquer pessoa pode ler, quer dizer que meninas com doze anos também acabam lendo fictions restritas? 
- Fics – Sam me corrigiu. – Fala assim que é melhor. E, sim, as meninas de doze anos leem esse tipo de ‘literatura pornô virtual’ – ele riu. – E, na verdade, muitas delas já leram com o seu namorado sendo o principal. 
- HEIN? 
- Como já foi dito – Aninha dizia. – Fics são baseadas em fandoms, e há sim muitas meninas que escrevem com os meninos da One Direction. Eu já li várias, algumas são muito boas, mas outras dá para perceber que foram escritas por meninas virgens, BV’s e que nunca saíram de casa pra nada. Lastimável! 
- BV? – E lá vai eu de novo com uma pergunta tosca. 
- Boca Virgem, nunca beijou – Sam respondeu rápido. 
- Ah sim – me fiz de entendida. 
- Mais engraçado é ler slash com One Direction, todo mundo acha que eles são gays e viajam nas idéias – Sam gargalhou. – Chega a ser tosco, eu, como um legítimo gay, sei que aqueles lá não gostam de uma pica de maneira alguma. 
- Diferente do Dougie Poynter, aquele sim – Lucas se abanou e eu gargalhei. 
- Eu quero ler uma fic – falei. – Ai cara, sou muito por fora dessas coisas. 
- Não sei se seria uma boa ideia você ler – Aninha riu. – Sua cabeça é noiada sem ao menos saber direito o que as meninas pensam do seu namorado, se você for ler o que elas imaginam dele entre quatro paredes... 
- O que custa? – Dei de ombros. – Será que eles já viram? 
- Com certeza – Lucas falou. – É óbvio que eles já leram alguma coisa, qualquer pessoa tem curiosidade em ler fics – ele sorriu. – Pergunta pro Styles. 
- Vou perguntar pro Niall – falei baixo. 
Niall? – Aninha me olhou. – Teu namorado trocou de nome e eu não tô sabendo? 
- Quê? 
Niall, Niall HOran – ela continuou. – Na verdade, to querendo falar desse assunto já tem um bom tempo. 
- Que assunto? 
- Perdi alguma coisa? 
- Não estávamos falando de sexo? 
Penalva? – E todo mundo parou de falar. A médica chegou. 
- Sou eu – respondi, nunca pensei que ouvir meu nome fosse ser sinônimo de alívio na minha atual condição. Que porra é essa de ficar falando do Niall? 
- Me acompanhe por favor – a médica sorriu. 
- Nós ainda vamos conversar sobre isso – Aninha bufou. – Ouviu, Rhanna? 
- Não tenho nada pra falar, tá a fim de brigar de novo? – Respondi. 

Segui a médica, que era uma cópia um pouco mais rica da senhorinha de cabelo acaju da recepção, porém os cabelos da doutora Violeta eram loiros acinzentados, seu corpo era rechonchudo, mas ela também tinha um sorriso e olhar simpáticos. Assim que entrei em sua sala vi aquele negócio em forma ‘vaginal’ em cima da mesa, sério que eu sou assim por dentro? Fiz careta e senti um arrepio correr por minha espinha. Ela sentou-se e eu me sentei em seguida de frente para ela. Meus pés batucavam o assoalho de madeira e minhas mãos não sabiam se ficavam cruzadas no colo ou tirava a franja dos meus olhos que caíam o tempo todo. Dei uma geral naquela salinha da tortura, tinha uma cortina branca amarelada do meu lado direito, ali deve ser a pior parte, alguma coisa me dizia isso. Por todos os lados havia quadros com certificados e fotos de mulheres nuas, mas não por um lado pejorativo, pareciam mulheres gregas, aquele tipo de sensualidade subliminar. Não que eu estivesse agora me sentindo totalmente confortável, na verdade essas fotos só me lembravam certas coisas que eu queria esquecer: eu ia ficar pelada hoje, aqui e agora, e eu ia ficar pelada com o Styles. PELADA! Ai, Jesus. 

- Bom dia, Rhanna, como você está querida? 
- Nervosa – respondi meio no susto. – Ai, me desculpe. 
- Primeira vez que vem a um ginecologista? 
- Sim – suspirei. – Primeira e dependendo de como for essa experiência, última. 
- Relaxa – ela riu, relaxar é algo que não rola, de jeito algum! – Bom, quantos anos você tem? 
- Dezoito. 
- Toma algum tipo de medicamento? 
- Não. 
- É alérgica a alguma coisa? 
- Salmão – eu acho que eu era, sempre que como, passo mal. 
- Como é o seu ciclo menstrual? – Pronto, começou a putaria. 
- Regular? – Perguntei e a doutora riu. – Vem sempre certinho de vinte e oito em vinte e oito dias, mas eu tenho muita cólica. 
- TPM? 
- Ah sim, sempre. 
- Tem a vida sexual ativa? – Que vergonha. 
- Não – a resposta saiu mais como um sussurro do que qualquer outro som. 
- Tem namorado? 
- Tenho. 
- Ele tem a mesma idade que você? 
- Sim. 
- Já tentaram alguma coisa? 
- Tentar no sentido, uns amassos? 
- Sim. 
- Nunca passamos dos limites dos beijos. Mas – limpei a garganta – algumas vezes nós começamos a “namorar” e eu fiquei... Úmida. 
- Excitada – ela me corrigiu, assim, na lata! 
- Isso, excitada – suspirei. 
- E ele também ficou? 
- Deve ter ficado – falei meio sem pensar, ela me encarou com um sorrisinho maroto nos lábios. Mas... Ah, aahhhh. – Ahhhhhh, nesse sentido? 
- Em que sentido você estava pensando, querida? 
- Sentido nenhum – meu rosto esquentou. – E, sim, ele já ficou, hm, animado. 
- Ok – ela sorriu. – Você pretende perder sua virgindade logo? 
- Logo assim, logo não. Mas pretendo – faz de conta que eu não estou com pressa. 
- Já conhece os métodos contraceptivos? 
- Camisinha? 
- Não apenas a camisinha, mas a pílula também. 
- A pílula não pode atrapalhar meus hormônios? 
- Pelo contrário, ela vai ajudar a regular seus hormônios. E melhor ainda pra você que já tem um ciclo menstrual regular. 
- Ah, claro – suspirei, não entendendo mais nada. 
Rhanna, pode ir atrás da cortina, por favor? Tire toda a sua roupa e coloque a camisola verde virada para frente. 
- Agora? 
- Agora, meu bem – ela riu. 
- Ok?! 

Fui até a cortina e a abri sentindo meu coração vir parar na boca. Eu não fico pelada nem na frente da minha mãe, quanto mais uma senhora que nunca me viu! Assim que vi o ‘lugar’ que tinha atrás da cortina, me senti em Jogos Mortais. Uma cama estranha que era parecida com uma maca ou aquelas cadeiras de dentista, não sei descrever bem ao certo. Era de couro e tinha o apoio das costas inclinado pra frente como se fosse um banco de carro ou, novamente, aquelas cadeiras de dentista. No pé havia duas coisinhas de metal que lembravam aquelas que as manicures usam como apoio, mas eu sabia que ali era onde eu colocaria minhas pernas. E então, pendurada ao lado da cama estava a tão maldita camisola, bem hospitalar. Tirei os sapatos, a calça e a camiseta ficando apenas de calcinha e sutiã, pensei em falar que não me sentia bem em ficar ‘nua na frente de estranhos’, mas ela era médica e devia ver isso o tempo todo. Coisa mais desagradável. Repetindo pra mim mesma um mantra dizendo que tudo ia ficar bem, desci a calcinha até meus pés quase sentindo vontade de chorar, tamanho meu desconforto, e então abri o sutiã e o tirei, novamente com a garganta embargada. Peguei aquela camisola horrorosa e a vesti, deixando a parte aberta que, geralmente fica pra trás, pra frente. Não tinha nenhum espelho por ali, então eu nem podia ao menos saber como que eu estava, sensação de invasão e desconforto tomando conta de todas as minhas células. 

- Posso entrar? 
- Claro – respondi, eu ainda nem tinha me sentado naquela maca-cama-cadeira. 
- Suba na maca, por favor – ok, maca. 

Subi totalmente sem jeito, quando eu levantei a perna pra me arrumar percebi que não tinha nada – NADA – ali pra me cobrir, eu estava totalmente vulnerável. E aquele ar-condicionado não estava cooperando também, eu já estava transpirando frio, agora todas as partes do meu corpo, o que incluía LÁ, estavam geladinhas. A doutora pediu pra eu descer mais meu corpo, e mais um pouco, e quase todo meu tronco, coloquei as pernas cada uma naquele apoio de metal e agora eu entendia claramente o que a ‘posição frango assado’ queria dizer; eu estava parecendo um frango. Assando. Só falta colocar o recheio de farofa no meio. Literalmente NO MEIO! Se antes eu não sabia onde colocar as mãos, agora fodeu mais ainda, eu tava totalmente pelada, qualquer lugar que eu colocasse as mãos ia ser estranho. A camisola escorregou pela lateral do meu corpo, então de frente mal dava pra ver que eu estava na verdade vestindo alguma coisa, mas agora eu não vestia era nada. Suspirei nervosa e mordi meus lábios desejando que eu pudesse sair correndo dali logo, mas antes eu precisava de roupas, MINHAS ROUPAS! Decidi por deixar as mãos pousadas do meu lado e cantarolar qualquer coisa em minha cabeça, qualquer coisa mesmo. Então a doutora Violeta veio até mim e disse que ia “apalpar meus seios” e eu nem pude falar ‘ok’, porque ela já estava ‘apalpando meus seios’. Ela era muito delicada, apertava gentilmente com as pontas dos dedos ao redor dos seios e depois o bico, fazia uma cara de que estava tudo bem e parava. Depois fez a mesma coisa em minha barriga e um pouco abaixo do meu umbigo, ali eu senti uma coisinha incômoda, mas ela disse que estava tudo bem e que, provavelmente era porque eu estava tensa. “Relaxa”, ela disse, mas quem disse que eu conseguia relaxar numa situação como essa? E então, quando eu pensei que não tinha como ficar pior, ela avisou que ia dar uma olhada na minha vagina. VAGINA! A palavra é feia em qualquer língua, em inglês acho que soa um pouco pior, ‘vadjaina’, nojento. Falei que tudo bem, mas óbvio que não estava tudo bem, claro que não! Ela colocou uma máscara que cobria o nariz e a boca, sentou-se bem de frente para a coisinha ali em baixo e colocou uns óculos com lentes de aumento. Ela pediu ‘licença’ e de novo falou ‘se relaxar facilita’, colocou as mãos lá dentro e apalpou da mesma forma que tinha feito antes com a parte superior do meu corpo, mas dessa vez a sensação era bem mais estranha e triplamente desconfortável. Senti ela passar alguma coisa pelas paredes do meu órgão, perguntei o que era e a resposta foi ‘cotonete, estou retirando material para o laboratório’ e, de novo, só falei um quase não sonoro ‘ok’. Eu estava com frio e com vontade de fazer xixi, será que ‘no ato’ eu vou ter vontade de fazer xixi também? De repente eu senti uma dor EXCRUCIANTE! Era como se todas as cólicas estivessem vindo juntas no mesmo segundo, só que eu nem consegui gritar porque, assim como veio rápido foi rápido, mas lá pulsava, e pulsava MUITO! E não era pulsação boa, era de dor; a vontade de fazer xixi só aumentou. 

- Pode se vestir, Rhanna – ela me disse sorrindo. COMO QUE ALGUÉM SORRI DEPOIS DE UMA EXPERIÊNCIA DESSAS? 

Desci meio tremendo da maca, tirei aquela camisola e procurei pela minha roupa que estava toda no cantinho. Calcinha, sutiã, calça, tênis e camiseta. Um frio passou pela minha espinha e eu senti vergonha, não queria nem encarar a doutora, mas vamos lá! Abri a cortina e a vi sentada escrevendo coisas em um pedaço de papel, olhando para minha ficha e fazendo mais anotações. Sentei-me de frente para ela como antes e aguardei em silêncio, queria fazer tantas perguntas, mas ao mesmo tempo morria de vergonha. Se eu tiver alguma dúvida no futuro, eu procuro no Google. 

- Bom, minha querida, aparentemente está tudo bem com você – Dra. Violeta dizia enquanto terminava suas anotações. – Não há sinal de infecção, corrimento normal, sua vagina é bem lubrificada – ai, ai, ai, ai me tirem daqui. – Não há nódulos em seus seios e o corrimento está com cheiro e cor normais. 
- Que bom – foi a única coisa que consegui responder. 
- Você se sentiu desconfortável em algum momento? – Posso responder TODOS? 
- No finalzinho – minha garganta estava seca. – Foi, estranho. 
- Sentiu uma dor? 
- Uma grande dor. 
- Meu bem, quando você pretende perder sua virgindade? – Ela parou de anotar e debruçou um pouco o corpo sobre a mesa, me olhando com quase um olhar materno. 
- Em breve, eu acho. 
- O que você sentiu, querida, foi um pouco da dor que toda mulher sente na primeira vez – ela sorriu. Mas o quê? 
- Dói daquele jeito? – Vontade de chorar. – Mas não é uma coisa boa? 
- Tenta ver sua vagina e o seu ‘canal’ como sendo uma caverninha – odeio metáforas com cavernas. – Ela está fechada esse tempo todo e, de repente, um corpo estranho vai querer entrar dentro dela. É claro que vai doer. 
- Sangra? 
- Sim, não é como um sangue menstrual, mas sangra – ela sorria, que coisa mais horrorosa sorrir enquanto dá essas notícias. – E, sim, o sexo é uma coisa boa. Mas a primeira vez é sempre desconfortável, vai doer. A prática acaba melhorando a dor. 
- Vai doer até quando? 
- Depende de mulher pra mulher, do tamanho do pênis do seu parceiro – e de novo senti meu rosto queimar. – Não há necessidade de ficar com vergonha, isso é muito natural, ainda mais com meninas da sua idade. Na verdade, a fase normal de acontecer esse tipo de coisa é agora. 
- Tá – eu ri. – Como que, como você... Aquela dor... 
- Eu não coloquei nada em seu órgão, apenas introduzi meu dedo um pouco para saber se estava tudo bem, se não tinha nenhuma secreção. 
- Ah, tá – eu ri nervosa. – Doeu pra caralho. 
- Dói mesmo – ela riu. – Eu só vou pedir para você voltar comigo depois da sua primeira relação sexual com seu parceiro. O corpo de uma mulher muda depois da primeira relação. 
- Tudo bem, eu volto – respondi. – E com respeito aos métodos... 
- Vou te dar duas amostras de pílulas, camisinha você pode comprar em qualquer farmácia. Não espere o seu parceiro comprar, tenha sempre alguma com você. 
- Vou carregar camisinhas comigo? 
- Sim, não há problema algum. Se ele não tem no momento, você precisa ter. 
- Aham – ai. 
- Mais uma coisa, você se alimenta direito? – E agora ela colocou os óculos bem na ponta do nariz e me encarou. Sem nem ao menos perceber, já estava abraçando meu próprio corpo e apertando minha barriga. 
- Como assim? Se eu como verdura? 
- Além disso. É necessário se alimentar de três em três horas, e pelo seu peso não acho que você está se alimentando nesse espaço de tempo. Como é o seu dia-a-dia? 
- Eu estudo de manhã e passo muitas vezes a tarde e a noite estudando na escola ou com os amigos. 
- E você tem o costume de tomar café, almoçar, jantar? 
- Nem sempre – funguei. – Às vezes passo o dia só com o café da manhã. 
- Hm... – e mais anotações. – Na idade que você está não é bom ficar tantas horas sem comer, seu corpo ainda está em desenvolvimento. Vou pedir pra você fazer um exame de sangue e receitar algumas vitaminas. Acho que você está um pouco abaixo do seu peso ideal – é agora ela me encarou. – Isso é sério. 
- Não me sinto abaixo do meu peso ideal – rebati. 
Rhanna, o fato de você estar em um relacionamento com uma pessoa famosa não significa que você deva sacrificar seu corpo por isso – arregalei meus olhos, ela sabia com quem eu namorava? 
- A senhora conhece meu namorado? 
- Tenho uma filha de seis anos – ela sorriu. – Não faça loucuras. 
- É... Complicado. Digo, eu não me vejo da maneira que ele me vê, não me acho bonita e sempre tive dificuldade em ficar no peso ideal. 
- Você não está no peso ideal, seu peso está abaixo do ideal – seu olhar era um pouco mais severo. – Como anda seu sono? 
- Não durmo mais que cinco horas por noite. 
- Seu ciclo menstrual está regular, como você me disse, mas com a perda de peso há a possibilidade dele ficar irregular. E você que está para iniciar sua vida sexual, precisa tomar muito cuidado com isso, o peso baixo afeta o sono, pele, cabelo.
- Mas eu não estou doente, estou? Digo, não posso ser qualificada como uma pessoa com distúrbios, eu não paro de comer porque eu quero. Digo, é porque eu quero, mas... Eu tenho controle, se eu quiser comer eu como, não tenho problemas com isso. Nunca tive. 
- Querida – Dra. Violeta suspirou. – Não posso diagnosticar nada até ter o resultado dos seus exames, por isso eu peço que você os faça, tudo bem? E em nenhum momento eu dei algum diagnóstico, foi apenas um alerta. 
- Tá... 
- Estou recomendando uma ótima nutricionista, faça uma visita ao consultório dela, por favor. 
- Eu vou – falei sabendo que eu nunca iria. - Obrigada. 
- Aqui estão as guias para os seus exames, pode marcar lá na frente o seu retorno. 
- Eu retorno depois que os exames ficarem prontos ou depois da minha primeira relação sexual? 
- O que acontecer primeiro – ela sorriu. – Mas eu quero te ver de novo. 
- Eu volto – eu não ia voltar. – Mais uma vez, obrigada. 
- Não há de quê. 

Saí daquela salinha segurando os papéis dos exames em minhas mãos, eu tremia. Fui direto pro banheiro e fechei a porta de forma quase silenciosa, não queria que ninguém ouvisse que eu estava lá, esse ‘ninguém’ era Sam, Lucas e Ana. Peguei os papéis dos exames e os rasguei de forma compulsiva, até ficarem minúsculos. Não ia fazer porra de exame nenhum, não ia pra nenhuma nutricionista! Eu não estou doente, eu não sou uma idiota que para de comer pra fazer graça, tem todo um trabalho por trás disso! E QUE ÓTIMO que estou um pouco abaixo do meu peso ideal, pelo menos não estou gorda e feia e Harry não tem vergonha de ficar ao meu lado, e como ela sabe que estou abaixo do peso sendo que ela nem me pesou? Nem eu sei com quantos quilos eu estou, ou seja, não dá pra acreditar nessa médica. Joguei os papéis no vaso sanitário e dei descarga três vezes, a fim de não sobrar nenhum pedacinho pra contar história. Respirei fundo algumas vezes e joguei um pouco de água no rosto, pulsos e nuca. Passei os dedos delicadamente pelos meus ossos do colo, ou como todo mundo costuma chamar, as ‘saboneteiras’ e vi que estavam um pouco mais saltados do que quando eu me mudei para Londres, meu pescoço também estava mais longo e mais fino e minha camiseta não ficava justa em nenhum lugar do meu corpo. Eu estava mais magra, visivelmente mais magra. E por que ainda não parecia o bastante? Isso não é normal, o que eu estou sentindo não pode ser normal. Bati na minha própria testa querendo afastar esses pensamentos doentios e me convencer de que tudo estava bem, porque na verdade, estava tudo bem. Puxei um pouco a pele da minha bochecha e dei uns tapinhas ali para eu ficar com o aspecto mais “corada” e saí do banheiro, indo novamente para a salinha da recepção. 

- Então, como foi? – Aninha foi a primeira a ficar de pé quando eu apareci. – Traumatizada pra sempre? 
- Nem tanto – eu ri. – Vamos? 
- Ela não te pediu nenhum exame? – Ela perguntou. – Jura? 
- Um ela vai mandar direto pro laboratório, e ela quer me vez depois que eu perder a virgindade – dei de ombros. 
- Faz sentido – Aninha disse. – Escuta, desculpa por eu... 
- Fala nada não, tá tudo bem. 
- Mesmo? 
- Aham. 
- Ok, vocês duas, vamos parar com esse momento lindo e irmos andando? Quem tem mais de 200 fotos pra editar? 
- Todos nós – Sam falou abraçando Lucas. – A tarde e a noite serão longaaaaaaaas. 
- Preguiça me define nesse momento – bufei. 
- Mas antes poderíamos passar no Burguer King, o que acham? – Aninha disse já dando pulinhos, meu estômago roncou de leve só ao ouvir essas palavras. 
- Eu super topo, meu corpo precisa de alimento. 
- Meu também – Lucas adicionou. – Todos concordam? 
- Sim! – Aninha disse, eu ainda estava quieta. – Eu pago o seu, fiz você passar por uma experiência traumática hoje, é o mínimo que posso fazer. 
- Não precisa – falei sorrindo. – Eu não... 
Rhanna – o olhar de Aninha não era nem severo, era quase um pedido. – Por favor. 
- Tudo bem – concordei sentindo vontade de chorar. – Vou ligar pro Harry primeiro, não falei com ele hoje ainda. 
- Liga no caminho, nós já vamos indo. 
- Ok. 
Quando peguei meu celular tinha pelo menos três novas mensagens de Harry e uma de... DANNY JONES? Desde quando Danny tem meu número? O QUÊ? 

Preparada para uma Saturn V Experience nesse sábado? – Danny Jones O QUÊ? É, eu acabei abrindo primeiro a mensagem do Danny, mas o Harry não precisa saber disso, precisa? E como assim? Danny estava me chamando pra ver AO VIVO ele sendo DJ? SATURN FUCKING V EXPERIENCE? Cara, isso é surreal, no mínimo LOUCO! E ainda tem as mensagens do Harry, eu preciso lê-las. 

Cadê você? Por que não atendeu minhas ligações? Tem gente atrás de você e eu juro que não sou eu! – Harry x

Nem você, nem a Aninha e nem seus dois amigos atendem os celulares, o que me faz pensar que vocês estão juntos. Assim que ver essa mensagem ME LIGA! – Harry x

Ah, que se dane! Danny Jones nos convidou pra esse fim de semana ir com ele e o McFly todo para ir no Ministry of Sound! Saturn V Experience, diz algo pra você? Eu sei que diz, agora quer fazer o favor de me ligar? – Harry x

Apertei o celular em minhas mãos sorrindo como um idiota! Toda a angústia que estava em meu peito antes foi embora da mesma forma que chegou. Olhei pra frente e vi Aninha sendo agarrada por Sam e Lucas, será que eles iam poder ir também? Na verdade, será que eles iam querer ir? Se bem que, se Danny chamou Harry, provavelmente acabou chamando Zayn, o que significa que a Aninha vai também. E se vai o McFly todo será que isso inclui as namoradas? GEORGIA HORSLEY! A miss, miss Inglaterra e miss corpo perfeito e miss ‘eu tenho o namorado mais lindo do mundo’! O que eu tô fazendo? 

- Alô? 
Harry – falei, esqueci de comentar que eu estava ligando pra ele? – Desculpa, não podia falar antes. 
- Onde você estava? 
- Médico, e antes que você faça alguma pergunta, é médico de mulherzinha então não posso te falar porque eu vim aqui – eu ri. 
- Tá bom, não vou perguntar – sua voz era leve. – Então, recebeu as mensagens? 
- Recebi três suas e uma do próprio Danny! DO PRÓPRIO DANNY! - Sei disso, babe, como eu achei que você estivesse me ignorando, eu pedi pra ele te mandar uma mensagem – Harry gargalhou. – E aposto que você leu a mensagem dele primeiro que todas as minhas outras três. 
- Mais ou menos por aí – respondi sem graça. – Então, nós vamos? 
- Claro que sim, eu nem sabia que Danny era DJ. 
- Não é minha parte favorita de Danny Jones, mas o cara tem talento pra isso. Vai ser aqui em Londres mesmo? 
- Eu de verdade não faço ideia – ele riu de novo. – Bom, você tá voltando pro apartamento? 
- Ainda não, vou almoçar com o pessoal e depois voltamos. Tem muita coisa pra fazer hoje, mal sei por onde começar. 
- Passo lá mais tarde pra te ver – ele suspirou. – Nós estamos bem, não estamos? 
- E por que não estaríamos? – Eu ri. – Deixa eu ir, a Aninha vai começar a fazer piadinhas sobre nós dois daqui a pouco. 
- Tudo bem, mais tarde nos vemos. Amo você. 
- Eu também – e, com um longo suspiro, desliguei o telefone. 

Capítulo 23

Aninha ficou quase uma hora só no meu cabelo! Hidratação, escova (muita escova) e chapinha (muita chapinha). Ao final, meus cabelos estavam lisos, longos, sedosos e brilhantes, parecendo cabelo de propaganda. Minha franja estava presa para trás formando um pequeno topete, enquanto o restante caía solto pelos meus ombros e costas, nem eu sabia que tinha como deixá-lo desse jeito. Ela me emprestou um vestido justo e curto cor marfim (tinha um ombro só, pequenos cristais bordados na lateral e em especial no ombro, justo desde meu busto até minhas coxas, não sabia como eu ia andar naquilo) e ela me fez jurar que eu ia de salto alto. Eu usava uma meia-calça preta e uma summerboot salto quinze, algumas pulseiras de couro com pedrinhas, minha bússola da sorte no pescoço e maquiagem bem carregada preta no canto dos olhos e um pouco mais clara do meio até o início. Muito rímel e lápis, bochechas coradas e um batom ligeiramente vermelho claro com gloss. Minhas unhas foram pintadas de vermelho e meu corpo passou por uma sessão esfoliante e massagem relaxante; me sentia outra pessoa. 

Minha amiga não estava tão diferente, tão linda como sempre. Um short preto tão colado quanto meu vestido, blusa soltinha no corpo com a bandeira da Inglaterra estampada nela, um pouco “fumê”, cabelo preso em um alto rabo-de-cavalo, cachos caíam perfeitamente em uma cascata gigante, sua franja mais curta estava desenhada de forma simétrica em cima dos seus olhos delineados em preto, parecia um olhar felino. Ela usava uma bota de cano alto e também de salto, não usava meia calça, porém estava com o triplo de acessórios. Brincos em forma de argolas gigantes, muitos anéis e muitas pulseiras. Sem falar no perfume, o de Aninha puxava para um doce e o meu para um cítrico, e isso porque eu tinha falado pra ela que não queria ir muito chique, já que pretendia pular e dançar a noite toda, mas com esse vestido e com esse salto vai ser meio impossível. A única coisa que ela me pediu foi ‘divirta-se e se esqueça do mundo, pelo menos por hoje’. E, com isso na cabeça, eu a deixei me arrumar. Hoje era tudo sobre diversão, e era nisso que eu iria me concentrar. 

- Quer parar de se olhar no espelho? Já disse que você está linda! 
- Tem certeza que esse vestido não está marcando demais a minha barriga? 
Rhanninha, você nem tem mais barriga – ela riu. – Não que eu aprove essa sua fase de ‘não vou comer’, mas você emagreceu demais e está parecendo um cabide, não que isso seja uma coisa ruim, mas como agora você está bem mais magra, não tem mais barriga, tá lisinha. 
- Estou magra demais? – Passei a mão por cima do vestido em meu corpo. 
- Você está perfeita – ela veio atrás de mim e me abraçou. – Eu juro que se fosse macho te pegava, mas pra isso você tem o Harry. 
- Graças a Deus – eu ri. – Ele vai gostar? 
- Ele te ama, é claro que vai gostar – ela sorriu. – Agora vamos logo, os meninos estão nos esperando lá fora. 

Esqueci de comentar, nós estamos nos arrumando na casa do Zayn. Como ia chamar a atenção demais se eles fossem nos buscar no alojamento, decidimos ir até lá. Eles ficaram loucos porque, eu e Aninha estamos trancadas no quarto há pelo menos três horas, enquanto eles estão prontos a mais ou menos uma hora. Eles juraram que não iam entrar no quarto e nem espiar pelas janelas, mas por via das dúvidas trancamos tudo, e, na verdade, ainda bem que fizemos isso,Niall e Louis tentaram entrar pela janela. Passei mais uma vez a mão pelos cabelos, pelo vestido e pela lateral do meu corpo, então respirei fundo e fui até Aninha, que já estava com a mão na maçaneta me esperando para sairmos. Assim que ela abriu a porta, Niall estava ali e, quando nos viu, eu tenho certeza de que parou de respirar por alguns segundos. Seu olhar passou rápido por Aninha, que pareceu nem notar a presença dele ali, e depois foi direto para mim; desde meu salto, minhas pernas, cintura, busto e rosto; vi que ele ficou um pouco rubro e mordeu os lábios de forma discreta quando passou o olhar por meus olhos e minha boca, até eu fiquei um pouco sem graça e senti um formigamento esquisito no meu estômago. Seu olhar, porém, parou em cima da bússola prata que pendia em minha clavícula e no mesmo instante ele desviou o olhar, coloquei a mão em cima da pequena peça que Harry havia me dado e sorri. 

- Desculpa a demora, foi difícil a Aninha me convencer a usar saltos – apontei para o meio metro de salto e Niall riu. – Não sei se vou aguentar até o final da noite. 
- Você está linda – ele disse suspirando e colocando as mãos dentro do bolso da calça jeans. – Deslumbrante seria a palavra certa. 
Niall, você me ouviu falando dos saltos? – Fiz careta e ele gargalhou. – Sério, eu to morrendo de dor. 
- Qualquer coisa o Harry te leva no colo, ele vive fazendo isso com o Louis – Niall deu de ombros e coçou a nuca. – Ele é um cara de sorte de te ter ao lado, não poderia estar mais feliz por... Ele. 
- Só espero que faça valer a pena – respirei fundo. – Não quero... 
- Hey – ele segurou meu queixo. – Ele te ama – Niall sorriu, parecia tanto uma afirmação para mim e estranhamente para ele também. – Só sorria e aproveite a noite. 
- Ok – soltei o ar dos meus pulmões e tentei sorrir. Olhei de relance para Aninha, que já estava abraçada com Zayn, ela me olhava de uma forma curiosa e parecia fazer uma careta, decidi ignorar essa feição. Sorri pra Niall e fui andando na direção da sala, Harry estava sentado no sofá vendo TV. 

Cheguei a sala e pedi para Zayn e Louis não falarem nada, embora os dois estivessem com queixos caídos ao me verem nessa roupa, mas eu pedi silêncio; queria que Harry me notasse primeiro. Ele delicadamente passou a mão no cabelo deslizando os dedos pela franja e, quando virou o rosto para a esquerda, finalmente me viu. Ele olhou uma vez e depois olhou de novo, esboçando o maior sorriso que eu já tinha visto desde que começamos a namorar. Na mesma hora,Harry levantou-se e veio até mim, com a boca aberta e o tempo todo falando ‘uau, wow, uau’, eu só sabia rir e morder meus lábios a cada cinco segundos. O olhar de Harry passou por todo meu corpo, mas tinha uma certa lascividade, como se pudesse ver por debaixo do vestido que eu usava, muito diferente do tipo de olhar carinhoso que Niall tinha dado segundos atrás. Sem esperar eu falar nada ou nem ao menos agradecer por tamanho lisonjeio de tê-lo me secando dessa maneira, Harry inclinou seu rosto sobre o meu quando estava mais próximo, cheirou a pele do meu pescoço e do meu rosto beijando-se nos lábios de forma leve em seguida. Eu ri igual uma criança, meu corpo inteiro formigando e eu podia jurar que sentia choques por todas as minhas extremidades. Harry colocou a mão em cima da bússola e sorriu com os lábios fechando, encarando-me nos olhos. Seu olhar era tão límpido e espelhado, talvez os olhos mais lindos que eu já vi em minha vida. Diferente da forma clichê de falar, eu não via minha alma em seus olhos, eu via meu futuro. Um futuro ao seu lado, pra sempre. Oh não! 

- Pensei que você não gostasse de nada te direcionando, que você “fizesse o seu próprio caminho” – ele disse entre aspas meio rindo. 
- Eu não gosto, mas eu já sei qual o meu caminho – peguei a bússola e apontei para Harry. – Só há uma direção pra mim agora, eu tenho certeza. 
- Tem certeza? – Harry aproximou-se um pouco mais encostando o nariz no meu. 
- Absoluta – suspirei. – Eu queria muito falar aquelas três palavras que estão coçando na minha garganta há um bom tempo, mas não com todo mundo aqui na sala – eu disse rindo percebendo um alvoroço perto de Harry e eu. – Tá todo mundo olhando. 
- Bando de urubu – ele riu se afastando. – Sério que eu não posso ter um momento carinhoso com minha namorada? 
- Pra isso você tem uma coisa que se chama, como se chama mesmo, ah sim, QUARTO! – Louis, como sempre, falou e nós rimos. – Estamos atrasados. 
- Como sempre – Niall completou. – Culpe cem por cento as meninas que ficaram se “emperiquitando”. 
- Não quero ser uma estraga momento fofo do casal ternurinha, mas a Rhanninha tá mais interessada em ficar gata pro Tom. 
- HEEEY – eu berrei quando Aninha disse isso, os meninos gargalharam. – Ah, vá à merda, Ana. 
- Liga não, eu tenho uma queda pela Georgia – Harry falou e fez um ‘high five’ com Zayn, ele sabe muito bem o quanto eu tenho uma implicância com a miss. 
- GEORGIA? – Olhei brava pra ele. – Sério, Harry, a Georgia? 
- Ela é gata – ele deu de ombros. 
- Cara, me esquece – bufei e fui caminhando em passos firmes até a porta. 
- Ah, vá! Você pode ficar babando ovo no Fletcher e eu não posso hipoteticamente pagar pau pra namorada do Danny? – Ele disse rindo. – Rhanna. Rhanna? EI! 

Harry saiu atrás de mim quando viu que eu não iria escutá-lo, já estava no jardim perto do carro esperando todo mundo, só conseguia ouvir as gargalhadas altas de Zayn e Louis e as piadinhas de Ana e Niall. É claro que eu estava fazendo pirraça, se eu não tenho chance com Thomas, Harry com certeza não tem chances com Georgia. E ai dele se fizer alguma coisa, e ai dela também! E desde quando eu sou ciumenta desse jeito? Odeio, ODEIO estar apaixonada, bela bosta. 

Fomos em dois carros, sendo que Liam não estava no mesmo grupo de nós. Pelo que os meninos falaram, ele e Lary estavam saindo com mais frequência, o que me levava a imaginar que Liam não ia conosco porque ia passar a noite com a produtora. Score. Louis e Niall foram com Zayn e Aninha em um carro, eu fui no outro com Harry. 

- Me explica o que seria esse Saturn V Experience – Harry pediu enquanto virava uma esquina. – Danny Jones também é DJ? 
- Eu pedi pra você dar uma olhada no Google antes, não pedi? – Respondi rindo e vi Harry fazer uma careta ao meu lado. – Mas, sim, Danny também é DJ. 
- Que massa. 
- Hey, posso te perguntar uma coisa – suspirei. – É bestinha. 
- O que quiser – ele sorriu com o canto dos lábios. – Que foi? 
- Eu andei pensando no que, bom, no nosso relacionamento esses dias. Faz tempo que estamos juntos, assim, muito tempo – mordi os lábios, vi ele sorrir. – E tecnicamente falando essa é a primeira vez que estou de verdade em um relacionamento sério. 
Rhanninha – paramos em um sinal vermelho e Harry me encarou. – Não tem um tempo certo pra você dizer que me ama e muito menos um tempo pra você aceitar ir pra cama comigo. 
- Sério que você conseguiu entender o que eu estava falando? – Arregalei os olhos. 
- Te conheço muito bem, você pode ser foda com uma câmera nas mãos, mas no quesito namoro você é péssima em tentar esconder o que sente – ele riu e deu a partida no carro novamente. – E não que isso seja uma crítica, eu acho fofo. 
- Você acha tudo o que eu faço “fofo”. 
- Por que eu te amo? – Ele disse como se fosse algo óbvio. 
- É porque, depois que você me disse essas palavras, eu me sinto todo dia com um peso em minhas costas, como se eu não merecesse você. Na verdade no Twitter o que eu mais leio são as suas fãs falando que eu não te mereço... 
- Hey – Harry parou o carro no farol vermelho e me encarou. – Quem são elas pra saber se você me merece ou não? E outra, eu decidi que te amo e decidi que te quero ao meu lado até dizer chega, e é com isso que você vai ter que conviver. 
- Desculpa – suspirei. – Sei como isso te deixa chateado, quando eu começo com as minhas paranoias. 
- O que você sente por mim, é real? – Ele suspirou e deu a partida no carro. – Eu só preciso saber disso, as três palavras não fazem a mínima diferença pra mim. 

Olhei pela janela vendo os carros passarem rápido ao nosso lado, meu coração se apertava cada vez que tínhamos esse tipo de conversa. Por Deus, como eu amo esse garoto! Só Deus sabe como eu o amo, como eu tenho medo de perder o que temos hoje, como minha pele se arrepia ao ouvir sua voz, ao sentir seus lábios nos meus e em minha pele, como seu sorriso me faz cócegas sendo que nem me toca, como eu fico zonza ao seu lado, como todas esses sintomas patéticos de se estar apaixonado ficam fortes quando estou ao seu lado. Eu te amo, Harry! Eu te amo porque você é oficialmente o meu primeiro amor, a primeira pessoa que eu confio sem confiar, que eu fecho meus olhos e imagino ao meu lado, que eu choro em silêncio quando você não está comigo. Mas eu não consigo dizer isso, não consigo trazer esse sentimento para meu mundo real porque, pra mim, amar nunca foi algo real! Sempre estava em um plano imaginário, amar era para as outras pessoas e não pra mim. Gosto das coisas no plano do subtendido, de saber que sou amada sem ter a cobrança de ter que falar ‘eu te amo’ o tempo todo, porque isso torna tudo tão mecânico e tão exposto. Quando você diz que ama alguém é algo pra sempre, não volta e muda TUDO, talvez seja por isso que eu tenha tanto medo. Amar não é obrigação, amar é consequência de ações e atos que demonstram esse tal amor. 

Harry ainda estava quieto ao meu lado com as mãos firmes ao redor do volante, prestando atenção no trânsito. Cruzei meus dedos no meu colo e suspirei, queria que meu cérebro fosse um pouco mais fácil algumas vezes, cansa isso. Vasculhei em minha mente todas as músicas clichês de amor que eu pude lembrar, mas nenhuma expressava de verdade o que eu queria falar. Será que ninguém nunca escreveu NADA sobre ‘você não precisa dizer que me ama, apenas MOSTRE seu amor’. Epa? 

Saying 'I Love you' – comecei a cantar em um tom baixíssimo, nem eu conhecia essa minha voz, porém More Than Words do Extreme me parecia perfeita para o momento, eu não conseguia encarar Harry, por isso encarei meu colo. - Is not the words I want to hear from you – suspirei. - It's not that I want you not to say but if you only knew...
Rhanna? – Ele me chamou, olhando-me com o canto dos olhos. – O que você... 
- Não estraga o momento – falei rápido. – Sério, esse é o máximo que eu estou conseguindo agora e você não imagina o quão difícil está sendo. 
- Mas... 
- Cala a boca, por favor – eu estava quase chorando, era como se fosse uma dor física admitir o que eu sentia. - How easy, opa... How easy… - eu tinha que cantar, e não declamar a música. - It would be to show me how you feel…
More than words – Harry começou a cantar, causando-me um susto. - Is all you have to do to make it rea,l then you wouldn't have to say that you love me - ele sorriu pra mim, causando aqueles espasmos indiscretos novamente. - 'Cause I'd already know.
- Você conhece a música – respondi quase em um suspiro. – E me deixou pagar esse mico sozinha? 
- Eu conheço a versão Westlife, depois de um tempo eu fui saber da versão do Extreme e me senti muito culpado por isso – ele riu. – Sua voz é linda. 
- É horrível! Nunca mais me deixe cantar ao seu lado, nunca mais – eu ri. 
- Continua a música? – Ele riu. – Qual é? Não é todo dia que a minha namorada canta pra mim, preciso aproveitar. 
- Você é ridículo, sabe que eu perdi todo o momento ‘declaração de amor’ agora, não sabe? 
- Te ajuda se eu cantar? 
- Eu não vou cantar se você cantar comigo – eu ri. 
Rhanninha, por favor! – Ele riu e começou a batucar o ritmo da música no volante. – Vai, eu começo... What would you do...
If my heart was torn in two? More than words to show you feel that your love for me is real…
What would you say if I took those words away?
Then you couldn't make things new just by saying 'I love you' – eu sorri quando terminei de cantar essa parte e vi ouvi ele rir baixo – Harry Styles! 
- Que foi? – Seu sorriso era torto e engraçado, ele não podia me olhar, já que o trânsito em Londres estava caótico, mas se pudesse, seus olhos iriam entregar tudo. – Um namorado não pode sonhar que um dia a namorada fale... 
- TÁ BOM! – Eu ri. – Essas palavras não são tudo em um relacionamento, você sabe disso. 
- Eu sei – ele suspirou. – No fundo eu até gosto de saber que você ainda não falou, outras namoradas acabaram falando isso rápido demais e tudo perdeu a graça. 
- Outras namoradas? Plural? – Argh, era o que faltava. – Harry? 
- Você sabe que eu já tive outras meninas. 
- E essas “outras” seriam “quantas”? 
- Ah Rhanninha, eu não fico te perguntando dos seus ex! 
- Hm, eu nunca tive um ‘ex’, Harry! Você é meu primeiro namorado, pensei que soubesse disso – bufei. – Quantas vezes já falaram ‘eu te amo’ pra você’? 
Rhanna... 
- É sério – bufei. – Realmente, tirando as fãs, de quantas bocas você já ouviu a frase “Eu Te Amo”!? Quantas vezes uma garota disse isso pra você com tamanha facilidade como se fosse dizer que seu cabelo estava bom? Hein? 
- Eu não quero falar disso com você, e pra que começar essa comparação imbecil agora? 
- Por que você já teve namoradas demais? Por que eu não sei com quantas garotas você já foi pra cama? Por que com todas essas garotas já citadas você já ouviu a porra da frase e DE MIM, que tecnicamente sou sua namorada... 
- Tecnicamente? – Ele riu sem humor. – Como assim “tecnicamente”? 
- Eu nunca te falei isso e nunca fui pra cama com você. TECNICAMENTE eu sou sua namorada, mas não fiz tudo o que uma namorada deve fazer. 
- ISSO NÃO É UMA OBRIGAÇÃO, SABIA? – O carro freou de forma brusca, paramos um quarteirão antes de onde deveríamos ir. – O que tá acontecendo? – Harry desligou o carro e virou o corpo todo pra mim. – Eu já disse um zilhão de vezes que eu não me importo de você ser virgem, de você não ter dito que me ama EU NÃO ME IMPORTO! Se isso não é importante pra mim, por que deveria ser pra você? 

Eu não sabia responder. Harry nunca havia levantado a voz pra mim, seus olhos estavam vermelhos e me atrevo a dizer que queriam chorar, mas como está escuro não consigo dizer isso com clareza. Meu corpo parecia grudado no banco do passageiro e meus olhos vidrados em Harry, eu tremia e queria chorar. Por que ele não se importava? Por que eu era TÃO especial pra ele assim? O celular dele começou a tocar uma música irritante e eu sabia que era Louis, até pelo celular ele era chato! 

- Alô? Estamos um quarteirão longe, já estamos indo. Tá tudo bem, cara, fica tranquilo. É claro que ela está aqui, onde você acha que ela ia estar? – Ele me encarou e eu abaixei a cabeça. – Estaremos aí em alguns minutos, o pessoal todo já chegou? Ok. 

Harry desligou o telefone e empurro os cabelos pra trás respirando fundo três vezes. Seu rosto estava um pouco mais pálido do que o habitual ‘pálido londrino’ e dava pra ver suas mãos brilhando de suor. Ele apertou o volante entre os dedos e encarou o movimento na nossa frente. 

- Pedi pro Danny fazer uma setlist especial hoje – ele começou. – Ele nunca tocou ‘Another World’, mas como eu sei que essa é a sua música favorita da banda, ele disse que faria uma exceção. E como eu sei que é difícil pra você ouvir as nossas canções, eu fico feliz de saber que pelo menos uma te agrada. 
- Eu nunca disse que não gostava das suas músicas – falei baixinho. – Só não as conheço direito, mas eu gosto. 
- É muito difícil te agradar, sabia? – Ele riu, novamente, sem humor. – Todo dia, todo santo dia eu fico pensando o que posso fazer pra te surpreender. Você é tão complexa nas ideias e o fato de você não ser nossa fã número um complica um pouco as coisas, geralmente quando eu queria ficar com alguém era só sorrir e falar que eu estava na One Direction, se bem que essa última informação eu não precisava dar. 
- Desculpa ser um peso – e de novo, eu queria chorar. – Não quero que você fique pensando em como me agradar, nunca gostei disso. E eu nem sou tão difícil assim. 
- Jura? – Ele me encarou. – Rhanna, até hoje eu sinto que não sei nada sobre você! NADA! Aquele dia na Rough Trade você pareceu uma nova pessoa pra mim, uma garota com um conhecimento tão absurdo que me fez sentir o garoto mais estúpido da indústria da música. 
- Se suas namoradas não tinham bom gosto musical, a culpa não é minha. 
- Elas gostavam da One Direction, isso não é ter bom gosto musical? 
- Ok, agora ONDE VOCÊ quer chegar com esse discursinho? – Bati as mãos no colo quando na verdade eu queria era bater no Harry. – Pra que porra você tá falando isso? É difícil me ter por perto? É difícil me ter como namorada? 
- Por mais que eu não me importe – ele começou a dizer me encarando – em você ter essas suas nóias, tem coisas que me incomodam. Eu não sei coisas sobre você que eu tenho certeza de que o Niall sabe. 
- O QUÊ? 
- Vai dizer que você não conta tudo pra ele? Já vi vocês dois aos cochichos e rindo, falando coisas que eu tenho certeza de que nunca vão chegar aos meus ouvidos. Aquele dia na rádio... 
- CALA A PORRA DA BOCA! – Berrei, meu corpo inteiro tremia e que se foda a maquiagem, eu já estava chorando. – Quer, pelo amor de Deus, calar a boca? 
- Falei algo que não gostou? Falei algo que te incomoda? 
- Você tem NOÇÃO do quanto é foda pra mim ser a sua porra de namorada? TEM NOÇÃO? Já se colocou no meu lugar alguma vez? Já saiu desse seu trono de ouro e pensou como que é DIFÍCIL estar aqui, no meu lugar? – Minha voz saía embargada e molhada em lágrimas e desgosto. – Você diz que é difícil ser meu namorado porque não dá pra me decifrar, porque não consegue me entender. Ou seja, você é burro demais pra acompanhar meu cérebro. 
- Agora você tá me chamando de burro! – Ele riu, gargalhou pra ser sincera. – Uau. 
- Tô sim, BURRO! Eu nunca exigi nada de você, eu nunca pedi pra você gostar das mesmas coisas que eu, ESSA SOU EU! Eu gosto de estudar, eu gosto de ir além do óbvio, eu odeio as coisas de mão beijada e ODEIO que me deem limites, o céu é meu limite, Styles – funguei. – Eu não ganhei um reality show e as pessoas começaram a beijar meus pés, ou tudo cair do céu pra mim. 
- NÃO FOI BEM ASSIM! 
- FOI ASSIM SIM! OU VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI COM MENOS DE VINTE ANOS COM MUITO SUOR? ECONOMIZANDO CADA CENTAVO, CADA ALMOÇO NA ESCOLA QUE VOCÊ DEIXOU DE PAGAR PORQUE QUERIA REALIZAR UM SONHO? VOCÊ POR ACASO JÁ FOI HUMILHADO PELOS SEUS PRÓPRIOS PAIS PORQUE ELES ACHAVAM O SEU SONHO PATÉTICO? – Os vidros do carro estavam ficando embaçados e eu estava começando a ficar com calor, muito calor. E um calor ruim. – Não vem querer dar uma de superior pra cima de mim, Harry, não AGORA! 
- Eu não estou dando uma de superior pra cima de você, eu nunca fiz isso. 
- AH NÃO? – Eu estava histérica – “Ai Rhanna é muito difícil ser seu namorado, você é complicada demais, você me faz sentir um idiota na música” ENTÃO ESTUDA, PORRA! Então vê se para de ouvir esse lixo musical que você ouve todo dia porque você está no mundo POP e passa a ouvir COISA BOA! Porque você, meu lindo, acima de tudo é um exemplo pra MILHÕES de adolescentes ao redor do mundo. Elas respiram o que você respira, elas comem o que você come, elasouvem o que você ouve!
Rhanna... 
- Tá achando que é difícil me acompanhar? Então tá, vamos ver se você consegue se colocar no meu lugar por UM SEGUNDO! – Supirei fundo e engoli todo o choro. Se ele acha que tá ‘sofrendo’ porque eu sou difícil demais, vou mostrar pra ele o que é DIFÍCIL aqui. – Eu não recebo uma, nem duas, mas mais de cem ameaças todo santo dia no Twitter. Todo dia vem uma fã idiota da sua banda falar que eu sou gorda, feia e não boa o bastante pra você; mas claro eu tenho que sorrir e mandar ela se foder. MAS EU FAÇO ISSO? Não, não faço, caso contrário eu vou aparecer como matéria do dia na SugarScape ‘garota do Styles é mal educada no Twitter’ e isso pode fazer mal pra SUA carreira. Não apenas isso, na escola eu sou empurrada quando as suas fãs, novamente, passam por mim. Grudam coisas nas minhas costas, rabiscam meu caderno, me jogam suco, me jogam comida nos intervalos e já destruíram um filme meu com 340 fotos tiradas em Londres. Mas eu faço alguma coisa? NÃO EU NÃO FAÇO! – Solucei alto, a respiração começava a faltar. – Tem noção de quantas vezes eu já li ‘vadia gorda’ no meu caderno? De quantas páginas eu tive que arrancar? De quantas vezes eu fiquei trancada no banheiro chorando porque não queria sair e encarar ninguém? De quantas vezes eu vomitei meu almoço pra ver se a barriga diminuía um pouco e elas pararem com isso de me acharem gorda! 
- Eu nunca... Eu não... 
- É claro que não – agora quem riu sem humor foi eu, enxuguei meus olhos sentindo toda a maquiagem ir embora. – Você precisa se concentrar na turnê, nos fãs, no CD novo, na entrevista, no grupo, nas músicas. Não precisa se concentrar em uma namorada problemática que, na prática, nem sua namorada é de verdade. 
Rhanninha... 
- Sabe quantas vezes eu deixei de comer por culpa? Por que as fãs que posam ao seu lado são magérrimas e LINDAS, ridiculamente lindas! E cada vez que eu me olho no espelho eu grito, porque não sou daquele jeito. O MUNDO NÃO ME VÊ DESSE JEITO! Como que eu posso falar que te amo sendo que eu não consigo nem me amar? Não me amo nesse corpo, com esse cabelo, com esse ROSTO! A única coisa que eu tenho ainda comigo é a minha experiência como fotógrafa, minha cultura na música, meus livros que eu li e estão em algum lugar do meu cérebro. Isso elas ainda não podem tirar, podem destruir os objetos físicos, mas o conhecimento que eu construí ao longo dos meus anos de vida ninguém me tira – o encarei com raiva, muita raiva. – Então, Harry, não venha me falar que é DIFÍCIL me namorar, quando na verdade, quem passa por uma provação todo santo dia pra permanecer de pé ao seu lado, sou eu! – Abri a porta do carro e, antes de sair, tomei fôlego pra dizer mais uma coisa, o que talvez fosse a que ele queria ouvir. – E sabe por que eu sempre conto tudo pro Niall? Porque meu coração não se quebra em mil pedaços se eu vê-lo chorar, porque ele não vai me olhar com a cara de surpresa e ao mesmo tempo nojo que você está me olhando agora. Eu não tenho medo de decepcionar o Niall porque eu não o amo da mesma forma que eu amo VOCÊ! – E, dizendo isso, saí do carro. 

Tirei a porra do salto que Aninha havia insistido em me fazer usar – não nasci pra ficar mais que sete centímetros acima do chão, e ainda acho muito – e pisei com muita dor no pé no chão úmido e frio de Londres. Nem ao mesmo olhei pra trás pra saber se Harry tinha saído do carro ou não, com base no seu jeito eu acho que ele ia ficar lá engolindo e assimilando cada palavra que eu falei. Era pra hoje ser uma noite inesquecível! Pela primeira vez eu ia ver Danny Jones sendo DJ, ia ter que posar de legal ao lado da Georgia, ia passar uma balada inteira ao lado do McFly! Mas, óbvio, alguma coisa tinha que dar errado. Quer saber? No fundo há males na vida que vem paro bem, se Harry tava esse tempo achando difícil me namorar porque eu sou mais inteligente que ele – porque EU SOU – então vá pra puta que te pariu e coma essas garotinhas sem cérebro. Sentia minha meia calça ficar molhada e começar a desfiar sob meus pés, eu andava tão devagar porque tinha medo de pisar em algum objeto não identificado no chão, qualquer coisa me assustava. Foi então que eu me dei conta de que TUDO estava no carro! Minha carteira, meu celular... Minha dignidade. Primeiro falando da carteira e celular: não ia ter como eu chamar um táxi e não ia ter como eu pagar o táxi, já que todo o meu dinheiro está na carteira e a chave do apartamento está com a Ana. Vou voltar a pé? Cenas dramáticas só funcionam em filmes quando o diretor corta a cena e a próxima já é a mocinha de pijamas na cama, nunca mostra na verdade como ela voltou pra cama. E, falando da dignidade: eu disse que amava ele, eu FINALMENTE disse que o amava! Da forma mais suja, bagunçada e grotesca do mundo eu disse que eu o amava. Ai minha cabeça. 

- Aquela é a namorada do Styles? 
Rhanna? Rhanna Penalva? 
- O que ela tá fazendo descalça? 
- Tira a foto, tira a foto, tira a foto. 
Rhanna, olha pra cá, por favor? 
Rhanna, você brigou com o Harry? 
- Estão separados? 
- Pra onde você está indo? 
- Tá drogada? 
- Cadê seu sapato? 
- Por favor, uma palavrinha aqui, só uma. 
- Você estava chorando? 
- Anota aí, ela e o Harry terminaram. 
- Cadê o Harry? 
- Você está vindo pra festa particular do McFly? 
- OLHA PRA CÁ, GAROTA. 
- SAI DE PERTO DELA! 

Eu só conseguia enxergar pontos luminosos, e flashes. MUITOS flashes. Quando dei por mim, uns sete fotógrafos estavam ao meu redor, vomitando perguntas e batendo fotos com flashes no último grau. Porra, não precisa desse flash todo! Alguns chegavam mais perto rindo e tentavam encostar em mim, outros murmuravam coisas entre si mesmos enquanto apontavam na minha direção e batiam mais fotos. Aos poucos um aglomerado de pessoas começou a juntar e eu estava cercada. Queria me ajoelhar no chão, mas não seria muito apropriado e isso só daria margem para mais fotos e fofocas, tudo o que eu não queria. Fechei meus olhos e tentei passar no meio deles, mas fui barrada no meio do caminho por dois corpos. Zayn me abraçou de um lado e Louis me abraçou do outro, empurrando os fotógrafos pra longe e me guiando entre as pessoas. Vi Louis dar um empurrão em um deles e o cara ainda ter a pachorra de reclamar e ameaçar: ‘VOU PUBLICAR ISSO AMANHÃ, GAROTO’. Por Deus, eu queria sumir logo dali, sumir pra sempre. Os dois correram mais um pouco e eu corri junto com eles, vi uma porta aberta, algo que parecia ser o fundo da boate, e Aninha ali me esperando já quase tendo um infarto. Passamos pela porta e a primeira coisa que fiz foi desabar no chão e chorar, chorar como uma criança de três anos que perdeu a boneca favorita. O chão era sujo e o ambiente escuro, mas eu não estava nem aí pra nada, só queria tirar logo todo o peso do meu coração e afastar as pessoas de perto de mim, porém quanto mais eu chorava, mais eu sentia braços e corpos próximos. E nessa muvuca de pensamentos eu só conseguia pensar nele, só nele. 

- Cadê o Harry? – Levantei o rosto e me deparei com Liam me encarando. – Liam, cadê ele? 
- Foi pra casa – ele me respondeu. – Uns cinco minutos atrás. 
- Ah... Ai meu Deus – era como se uma faca estivesse me cortando. – Meu Deus, Meu Deus! 
Rhanna, fala comigo – Liam suplicou. – Por favor, fala comigo! O que aconteceu? Por que você está assim? Por que oHarry está do mesmo jeito que você? 
- Eu disse tudo, eu contei tudo – agarrei o braço de Liam e ele me ajudou a levantar, ainda estava meio tonta. – Eu disse que o amo, mas ao mesmo tempo eu disse que, meu Deus, ele me odeia! – Joguei-me nos braços de Liam e ele me apertou firme num abraço quase paterno, enterrei minha cabeça no seu ombro e deixei meus soluços virem de forma espontânea junto com meu choro e quase gritos. – Eu não sou a garota pra ele, eu nunca fui! Eu não sou disso, eu não sou desse mundo, eu não pertenço a esse mundo! 
- Hey, hey... – ele me apertou mais. – Ele disse alguma coisa? Ele insinuou alguma coisa? 
- Como assim? – Solucei alto e afastei meu corpo um pouco a fim de encará-lo. – Do que você tá falando? 
- De mim – Niall disse ao fundo. – Harry acha que você está gostando de mim, ou vice versa. 
- Não – neguei veemente. – Não, nunca! Niall, você... Você sabe que eu eu nunca faria isso com o Harry! E, por favor, eu te vejo como um irmão! 
- Eu sei, Rhanninha – ele suspirou. Ah não porra! 
Niall? – Afastei-me de Liam, agora eu via que todo mundo estava aqui. Todo mundo incluía McFly e namoradas. Nem me atentei a isso, caminhei na direção de Niall, que estava encostado na parede com as mãos nos bolsos sem me encarar ou encarar outra pessoa, eu não estava acreditando. – Niall, você... Você gosta... De mim? 
- Eu não queria, eu JURO! – enfim ele me encarou. – Harry me ouviu falando isso ontem com o Louis e acabou perdendo a cabeça, nós dois brigamos e, ai caramba! 
- Fala, por favor, fala! 
- Você tinha dito uma vez que me amava, tá lembrada? 
- Eu falo que te amo o tempo inteiro – respondi como se fosse a coisa mais óbvia do mundo e então, só depois, me liguei. – PUTA QUE PARIU! 
Harry associou uma coisa com a outra e... 
- MAS EU NUNCA DE MOTIVOS PRA ELE DESCONFIAR! NUNCA! 
- Não precisa dar motivos pro Styles – Zayn disse ao fundo. – Ele morre de ciúme de você, Rhanninha, MORRE! 
- Mas – eu olhava pra todos os lados, nada nessa noite estava fazendo mais sentido, absolutamente nada. – Meu Deus, preciso sentar. 
Rhanninha... – Niall veio até mim, mas eu me afastei. 
- Por favor, agora não, Niall! Você... Você não – eu ia chorar de novo. – Tudo o que ele falou pra mim, tudo o que eu falei pra ele... 
- O que você disse pra ele? – Louis perguntou ao fundo. – Na verdade, o que aconteceu? 
- Começou como uma discussão besta e, no final, se tornou algo mais sério – me apoiei na parede onde Niall estava antes, agora ele encontrava-se perto do McFly. – Ele veio falar do Niall e de como é difícil ser meu namorado porque eu tenho uns gostos diferentes e não gosto de One Direction, o que não é verdade – já acrescentei antes de ouvir alguma merda. – E eu, por fim, falei mais coisas em cima – passei as mãos nos cabelos empurrando pra trás. – Meu Deus! 
Rhanninha – Aninha veio até mim como uma fada, segurou minhas mãos em um gesto cúmplice de carinho. – Tá tudo bem. 
- Eu disse tudo pra ele – meus lábios tremiam assim como todo meu corpo, as lágrimas começaram a rolar de novo em meu rosto. – Tudo, tudo, tudo! De como eu me sinto, das ameaças, da escola, da... Da comida... Ai Aninha... 
- Shhh, eu tô aqui – eu sabia que ela também estava chorando. – Você fez bem em falar, Rhanninha, você tá certa. 
- Eu não fui forte o suficiente, eu nunca sou forte o suficiente! 
- Você é a garota mais forte que eu já conheci na vida – ela me apertou. – Problema do Harry se ele nunca prestou atenção em você e outra pessoa passou a prestar! Nesse caso, o Niall. 
- Mas eu não gosto do Niall – eu disse baixinho. – Claro que eu gosto, mas... 
- O maior erro do homem é ver outro homem fazer sua garota sorrir – Aninha disse com um meio sorriso. – Niall te fez sorrir e isso incomodou Harry. Simples assim. 
- Mas o Harry também me fazia sorrir. 
- O problema foi que ele teve que dividir a sua atenção com outro macho – ela limpou meus olhos. – O ego dele tá tão alto, mas tão alto, que ele não vê seus esforços, sua dor! Ele só te vê como ‘a namorada’, e se você sabe mais que ele em alguma coisa, isso o incomoda, isso se torna um obstáculo. 
- Mas eu o amo – voltei a chorar. – Eu o amo e eu disse isso hoje. 
- Então se você o ama e ele também te ama como diz, as coisas vão se acertar e vocês vão aprender a conviver um com o defeito do outro. Amar é isso, é viver com as qualidades e as falhas. 
- Eu vou atrás dele – Liam disse puxando a chave do carro. – O trânsito tá terrível e eu não sei do que ele seria capaz de fazer. 
- Ele não vai sair por aí e bater o carro no poste, vai? – Aninha perguntou. 
- Não, mas eu tô preocupado mesmo assim – Liam suspirou. – Tem como você ir pra casa, Rhanninha? 
- Acho que sim – olhei pra Aninha e Zayn. – Vou com vocês? 
- Claro – Zayn balançou a cabeça de forma afirmativa. 
- Danny – ai Deus, que vergonha. – Meu Deus, me desculpe! - Pelo quê? – Ele perguntou meio brincalhão. – Faz o seguinte? Vai atrás do seu namorado e depois nos falamos, eu ainda vou fazer muitas outras apresentações nesse mês. 
- Desculpa, desculpa – eu só conseguia repetir isso, mas então ele me abraçou e eu esqueci até o que estava falando. – Oi vocês aí no fundo. 
- Oi, Rhanna – Lara, Georgia, Izzy e Giovanna me responderam, odeio admitir que Georgia parecia uma boneca de marfim. 
- Quer ir embora agora? – Aninha me perguntou baixinho. 
- Sim, por favor – respondi. 

Dei um abraço muito rápido em Tom, Dougie, Judd e de novo em Danny, falei rápido com as meninas e saí logo dali. Era, de longe, a pior noite que eu vivi em Londres! Pensei em ligar para Jeff, meu taxista amigo, mas Zayn e Aninha insistiram que eu deveria ir com eles para a casa deles, não ia passar a noite de hoje sozinha lá na república. Louis foi embora comNiall. Eu mal conseguia encarar HOran, ainda não consegui engolir o fato de que ele gosta de mim, COMO ASSIM? Meus pensamentos estão histéricos! Niall HOran gosta de mim, Niall HOran GOSTA DE MIM! Mas eu não gosto dele, digo... Claro que eu o amo, mas não do jeito que eu amo Harry. E como que na cabeça do Styles eu podia gostar do Niall e ter alguma coisa com ele? Ele é doido ou o quê? 

- Nunca tive tantas perguntas em minha mente ao mesmo tempo, sinto que posso explodir – coloquei as mãos nas têmporas enquanto Aninha me abraçava. – Puta que pariu! 
- Você fez a coisa certa em se abrir – ela passava as mãos nos meus ombros, cabelo, rosto. – Rhanninha, quem sabe assim ele passa a encarar esse relacionamento com mais seriedade. 
- Que relacionamento? – Olhei pra Aninha e funguei. – Amiga, eu nem sei se sobrou algum relacionamento entre nós. Depois de tudo o que eu falei... 
- Quer parar de se culpar? – Ela suspirou. – Rhanninha, Harry está acostumado a ter tudo de mão beijada! Todos os meninos falam isso, ele pode ser um fofo, mas a imagem que ele passa pras fãs não é a mesma que ele passa na vida real. Então, ou você se coloca nesse relacionamento e coloca o Harry na linha, ou ele que vá procurar menininhas babacas que só querem ‘a fama’ dele e não tem nada a acrescentar. Sem falar que vão ser fracas e não vão aguentar um dia de pressão, não aguentam metade do que você aguenta. 
- Eu não aguento a pressão, olha... – mostrei meu pulso, nem eu sabia o quanto estava magra até hoje à noite. – Olha o que eu fiz comigo, olha isso... 
- Vamos dar um jeito – ela me abraçou forte, abafando meu choro que começou a sair sem eu nem ao menos perceber. – Nós vamos dar um jeito nisso. Confia em mim. 

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