Prólogo e gotta be 1




Prólogo

“Prezada Senhorita Rhanna Penalva: 

Temos os prazer de informar que seu requerimento para ingressar na Escola de Artes London College of Communication foi APROVADO.
Favor enviar a documentação necessária para o seguinte endereço: (...)” 


Eu só fiquei parada ali no meio da minha cozinha com as mãos tremendo e olhando pra aquele papel timbrado, meu nome estava ali. MEU NOME! E o melhor de tudo, a palavra APROVADO brilhava e eu esqueci completamente de ver o que estava escrito abaixo. Essa parte de papelada eu posso deixar para meus pais, o importante é que eu consegui ENTRAR NA ESCOLA DE ARTES DE LONDRES! Isso significa que minha bolsa foi aceita, isso significa que meus pais não vão desembolsar com o curso, isso significa que finalmente vou sair dessa cidade de merda eu vou PRA LONDRES! 

Terminei meu terceiro colegial com honra, passei em todas as matérias e fui homenageada na formatura. O único problema é que meus pais queriam que eu fizesse algum vestibular, coisa que eu não queria. Depois de longas noites de briga, discussão e eu me trancando no quarto fazendo greve social, meu pai finalmente me autorizou a ficar um ano ‘de folga’ para eu pensar melhor nas oportunidades que vida iria me trazer. Mas eu não queria ficar de folga, eu sabia muito bem o que queria. Eu sou fanática por fotografia e a Escola de Artes de Londres é a melhor DO MUNDO! Por isso, meio que escondida eu acabei enviando meu formulário para eles em meados de novembro; para minha total surpresa agora no meio de janeiro eu recebo uma carta avisando que eu passei, fui aprovada e posso finalmente começar meu curso. Meus pais sabem que eu mandei o formulário (avisei pra eles duas semanas depois, houve outra crise, mas o que eles iam fazer?), eles não aprovam de jeito nenhum eu ir sozinha pra outro país e ficar lá por mais ou menos um ano e meio (500 dias dá nisso, né?). Vou morar nas acomodidades da escola, sozinha em uma cidade que eu não faço ideia do que me espera! Estudei Inglês toda a minha vida, então não vou ter problemas com a língua – embora os britâncos falem um tipo de Inglês completamente diferente dos Americanos –, não tenho problema com frio porque eu AMO frio, não tenho frescura com comida, não tenho muitos amigos aqui e nem namorado. WHY NOT? 

Subi as escadas de minha casa correndo. É domingo, passa um pouco das oito da manhã, meus pais ainda estão dormindo. Aqui no Brasil em janeiro é absurdamente calor, por isso tenho medo de abrir a porta do quarto dos meus pais e dar de cara com uma cena nada agradável. Abri a porta devagar e, quando vi que ambos estavam usando os usuais pijamas, sorri e pulei em cima deles abanando a carta e gritando ‘PASSEI, PASSEI, PASSEI’. Demorou um pouco para eles se acostumarem com a claridade do quarto e com o fato de que eu estava pulando igual uma macaca em cima deles. Quando meus pais conseguiram me controlar e eu finalmente parei de chorar para dizer que eu fui aprovada na minha requisição, a mistura de felicidade com surpresa tomou conta do quarto e no segundo seguinte eu estava sendo carregada no colo pelo meu pai até a cozinha e ele gritava para todo mundo ouvir que eu era o maior orgulho da vida dele. E era mais ou menos assim que a felicidade tomava conta do meu corpo, todas as minhas extremidades formigavam e eu sentia que ia vomitar e desmaiar ao mesmo tempo. Eu ia pra Londres, PRA LONDRES! 

Capítulo 01

- Mamãe, eu tô bem! – Falei mais uma vez sendo esmagada por uma mãe completamente chorosa. 
- Você verificou se lá tem internet e sinal pro celular? Eu preciso saber se vou conseguir falar com a minha bebê a qualquer hora do dia! 
- Primeiro de tudo, não me chame de ‘bebê’ em públco – eu ri. – Segundo, eu não estou indo pro fim do mundo, eu estou indo pra LONDRES! É óbvio que tem internet, mãe! 
- Não sei, Rhanna, não sei... – ela começou a chorar, e eu acho que ia começar a chorar também... – Filha, você tem certeza de que quer ir? 
- Mãe, não começa – mordi os lábios. – Por favor... 
- Ai, Rhanninha... – e mais um abraço, cacete! – Liga assim que você chegar, se não gostar deles pega o primeiro avião de volta pro Brasil, o primeiro! 
- Prometo – respondi meio abafada. 

Já havia me despedido do meu pai de manhã, ele não era fã de despedidas longas nos aeroportos com todo mundo olhando, minha mãe em contrapartida se pudesse iria pra Londres comigo – coisa que graças a Deus foi proibida pelo meu pai. Não é que eu não estava triste, é óbvio que eu estava! Meu quarto, meus pais e minha cachorra estavam sendo deixados no Brasil, porém eu estava indo viver um sonho que eu tenho desde menina e eu não deixaria ninguém se colocar no meu caminho. O número do meu vôo foi chamado e o frio na barriga apareceu, eu nunca tinha andado de avião e agora eu ia passar catorze horas com a bunda colada numa cadeira a trocentos mil pés de altitude! 

- Me liga? 
- Ligo, mãe, por favor, não fica paranóica! – Eu sorri e dei um beijo em sua bochecha. 
- Te amo, minha menina, estamos muito orgulhosos de você! 
- Eu também amo vocês – sorri. 

Passei pelo portão de embarque, entrei no avião (segunda classe, é óbvio) coloquei meus fones, fechei meus olhos e fingi que aquela lágrima não estava caindo do meu olho. Eu fiz a escolha certa, não fiz? Bom, eu ia descobrir quando dali a catorze horas eu acordasse em Londres. LONDRES! 

Catorze horas depois

Peguei minhas malas e quase corri para a saída do aeroporto já procurando por um táxi. A viagem tinha sido absurdamente longa e agora eu sei bem o que dizem sobre ‘fadiga de viagem’. O fato de eu tomado um Vallium quando saí do Brasil contribuiu para eu dormir o tempo todo, mas agora eu me sinto cansada, enjoada e morrendo de vontade de me jogar na cama que eu nem sei como que é. Os britânicos falam rápido demais, enrolados demais e correm demais! Acho que já fui quase atropleada umas cinco vezes, e quando falo palavrões em português ficam me olhando com cara feia, QUAL O PROBLEMA? Meio emburrada consegui chegar até o táxi; um cara meio gordo, careca, branco demais abriu a porta pra mim (lado OPOSTO do qual estou acostumada no Brasil) e educadamente com um sotaque absurdo perguntou qual o endereço. As horas que gastava diariamente vendo Harry Potter, Nárnia e ouvindo The Police me ajudaram bastante a entender o sotaque britânico – ninguém nesse mundo fala mais enrolado do que Rupert Grint! Dei pra ele um papel com o endereço e ele sorriu dizendo que o local era bem próximo. Houve aquela conversa de ‘você é de onde?’ e mais os detalhes pessoais de sempre, e, quando de por mim, já estava de frente com um prédio absurdamente enorme lotado de adolescentes na frente. 

- Albergue Stanton? – Ele sorriu pra mim apontando para meu lado esquerdo. 
- Acho que é esse mesmo – suspirei. – Quanto fica? 
- Nada não, criança, não vou ser o primeiro a extorquir seu dinheiro – ele riu. – Só tome cuidado com os taxistas, tudo bem? 
- Desculpe senhor – eu disse. – Tem como me dar então o seu telefone? Caso eu precise de alguma coisa... 
- Pensei que nunca ia perguntar – ele sorriu e me entregou seu cartão. – Me chamo Jeff. Esse é o telefone de minha casa, às vezes estou no serviço e não posso usar celular enquanto dirijo, pode falar com minha esposa caso precise de algo. Ela se chama Meg. 
- Obrigada, Jeff – sorri absurdamente aliviada, primeira amizade, yay! – Tenha um bom dia. 
- Bom dia, criança, boa sorte. 

Finalmente saí do táxi com minha mala e bolsa. Caminhei lentamente pela multidão adolescente captando cada objeto, cada folha, flor e pessoa que passava na minha frente. Qualquer detalhe era essêncial, eu queria me lembrar de tudo para contar em detalhes para minha família como foi minha chegada em Londres. Havia pessoas de todos os tipos e roupas e gêneros, estava me sentindo nas nuvens! Fui tão acostumada a estudar com só um tipo de gente que ver tanta variedade no mesmo lugar me deixava um pouco atordoada. Fui andando devagar e notei alguns sorrisos amigáveis no meu caminho, pessoas me olhando de forma curiosa e outras que simplesmente viraram a cara. Deve ser minha calça jeans rasgada, botas, camiseta branca, jaqueta jeans e esse cabelo desgrenhado? Deve ser isso, estou assustando pessoas. 

Cheguei ao meu quarto depois de passar por uma boa vistoria. Eu ia ficar no terceiro andar, um quarto só meu com vista para o campus. Assim que eu abria a porta dava de cara com o que parecia ser uma sala enorme, a diferença é que nessa sala estava uma cama de casal gigantesca, uma janela atrás dela (mais gigante ainda), cortinas na cor branca (um pouco amareladas, devo dizer), escrivaninhas do lado esquerdo da cama, um armário do que pegava a lateral da parede toda do lado direito e alguns objetos deixados provavelmente pelo antigo morador. Do meu lado direito estava uma mesa enorme com alguns livros e uma luminária meio antiga, uma poltrona vermelha dava um tom diferenciado no ambiente pálido que eu me encontrava. Na minha esquerda estava a ‘cozinha’ – se é que posso chamar assim. Uma mesa de granito dividia a cozinha da ‘sala’, só havia uma pia tamanho médio, uma geladeira, fogão e, graças a Deus, um microondas. Acima da pia encontravam-se os armários (vazios) e mais pro fundo dessa área estava uma pequena e quase insignificante lavanderia. Quase centímetros longe da minha cama estava uma porta que levava a um banheiro comprido. Havia espelho, box e uma janela de vidraça colorida que lembrava um pouco a casa da minha vó no Brasil. Depois de dar uma boa olhada em tudo eu me joguei na cama – que estava sem lençol – e acabei ficando por lá. O cheiro de mofo era perceptível e meu nariz começou a coçar, mas quem se importa? Eu finalmente estava onde eu queria, onde eu pertencia. Eu estava em Londres! 

Fui acordar só na manhã seguinte com meu despertador berrando, eram seis horas da manhã e eu não estava nada acostumada com o fuso horário! Acordei sentindo minhas costas doerem e depois de dar uma olhada na posição em que me encontrava fui entender o motivo da minha dor, eu estava toda torta. Cocei os olhos e fui na direção do banheiro lavar meu rosto e ver meu estado, eu estava horrível! Era o dia de arrumar o quarto, sair pra fazer compras (comida, claro) e dar minha primeira passeada em Londres. Tirei tudo da mala (roupa, lençol, shampoo, calcinhas), arrumei o quarto e depois de mais ou menos três horas (limpando chão, passando um pano com cheiro agradável nos móveis) meu cômodo estava mais ou menos como eu queria. Coloquei algumas fotos dos meus amigos na parede e dos meus pais perto da minha cama. Tomei um banho rápido e vesti uma roupa confortável e quentinha para sair pela cidade, como ainda não conhecia ninguém podia aproveitar esse tempo só pra mim. Enquanto eu não fizesse amizades eu teria Londres a hora que eu quisesse, eu podia sair a hora que eu quisesse sem dar explicações pra ninguém. E foi exatamente isso o que fiz. 

Peguei minha câmera fotográfica comprada um pouco antes da viagem (claro!), coloquei algumas libras necessárias no bolso da calça e saí. O prédio onde eu estava morando estava completamente silencioso, acho que todos estavam dormindo ainda. Pensei em ligar para o taxista simpático de ontem, mas eu decidi ir caminhando e ver onde que essas ruas tão lindas e cinzas iriam me levar, caso me perdesse eu ligaria pra ele. O primeiro lugar que fui foi uma padaria que estava exalando um cheiro maravilhoso de café com pão quente. Me sentei em uma das mesinhas e pedi um café preto com bagels na chapa – foi o melhor café da manhã da minha vida! Simples, porém delicioso. Enquanto estava ali sentada vi um grupo de adolescentes assim como eu do lado de fora brincando e conversando entre si. Ao fundo London Eye fazia um belo fundo de tela. Eles se vestiam bem, eram bonitos e pareciam ter saído de uma revista estilo BOP, será que seria estranho se eu começasse a fotografá-los? Aquela cena parecia tão perfeita, fim de cena de um filme romântico jovem americano. 

Paguei meu café e saí meio de fininho pegando minha câmera da bolsa e focando nas pessoas que estavam ali conversando e brincando. Os meninos usavam sobretudo e as meninas pareciam estar em volta deles como urubus! Eles eram muito bonitos, mas eu nunca os tinha visto na minha vida. Eles paravam, tiravam fotos, sorriam, davam gargalhadas, as meninas quase desmaiavam, eles eram carinhosos, davam beijos, autógrafos... Eram famosos? Deviam ser um grupo de modelos de alguma faculdade ali perto ou uma banda de alguma escola? Não sei. Peguei a câmera e bati algumas fotos que, honestamente falando, ficaram LINDAS! London Eye se perdia no sorriso daqueles adolescentes, eles eram tão fotogênicos, inclusive as meninas que estavam ao redor deles, elas eram lindas! Mais pessoas apareceram e mais fotos eram tiradas com aqueles cinco garotos, e mais vezes eu apertava o botão da minha máquina a fim de registrar todos os momentos. Os sorrisos, as risadas, as brincadeiras, as intimidades, uma foto pode mostrar muita coisa. Um clique muda sua vida para sempre, registra um momento que pode ser histórico, em apenas um segundo você registra um momento pra sempre. Sorri quando olhei para as fotos que já havia batido e vi como elas ficaram boas e como eu era boa nisso, vi que escolhi o curso certo. Me perdi vendo as fotos e quando olhei de volta para eles, o mesmo grupo não estava mais lá. Procurei ao meu redor, mas não os encontrei. Marquei bobeira. 

Comecei a bater fotos de outras pessoas, algumas paravam e sorriam pra mim. Explicava que eu era uma estudante nova de fotografia e elas eram absurdamente educadas (em especial os turistas). Tudo me fascinava, o chão em Londres era o chão mais lindo e limpo que eu já vi na vida – ou era um grande exagero da minha cabeça. Fui caminhando para uma pequena ponta localizada perto do London Eye batendo fotos de crianças que brincavam com alguns balões e comiam algodão doce como se aquela fosse a última refeição de suas vidas. Sorri com uma delas que sorria pra mim com um pedaço de algodão rosa preso entre os dentes, aquela deve ter sido minha foto favorita do dia. Enquanto batia a foto percebi um corpo mais atrás que se mexia cada vez que eu dava um clique. Tirei a câmera dos meus olhos e olhei em volta, mas não vi ninguém. Continuei batendo, e quando eu focava de novo em outro lugar via o mesmo corpo fazendo poses, caras e caretas para a câmera. Finalmente quando foquei nessa pessoa percebi que era um dos meninos que estava a alguns minutos atrás perto do London Eye, um dos adolescentes. Fiz cara de surpresa, pensei que nunca mais os vería de novo (no caso, ‘o veria’ porque ali só tinha um deles). Fingi indiferença e continuei batendo fotos, mas para cada novo foco ele estava ali, uma hora sorrindo, outra fazendo careta, outra hora ameaçando abaixar as calças em público! 

- HEY! – Eu berrei quando ele levantou a calça jeans que ao meu ver estava larga demais. – Você está poluindo minhas fotos. 
- Você sempre costuma bater fotos de pessoas estranhas? – Ele veio até mim com um sorriso brincalhão no rosto, todos os britânicos são simpáticos? 
- Acho que essa é uma pergunta errada para uma estudante de fotografia – respondi meio arrogante. – Que foi? Vai querer me processar por algum tipo de invasão? 
- Você é sempre tão arisca assim? – Ele riu. O vento londrino passava por seus cabelos dando um ar mais bagunçado. 

Agora que ele estava mais perto pude reparar em pequenos detalhes. Sempre via que os britânicos são as pessoas mais simpáticas e bonitas do mundo, sangue europeu É TUDO! E esse ser na minha frente fazia jus a todos os meus sonhos europeus. Devia ter mais de 1,70m, sorriso brincalhão nos lábios, cabelos levemente rebeldes que dançavam com o vento, as mãos com dedos longos jogavam os cabelos pra trás (dedos esses que me lembravam o de Robert Pattinson), um perfume não conhecido exalava dele. Sua pele era clara – mais clara que a minha, já que eu moro abaixo da linha do Equador – e ele parecia estar intrigado comigo. Que foi que eu fiz? 

- Só com quem não conheço – respondi agora sorrindo depois de fazer essa análise mental. – Sou Rhanna. 
Harry – ele estendeu a mão pra mim e nos cumprimentamos, se fosse no Brasil eu estaria dando dois bejinhos estalados na bochecha dele. – Harry Styles. 
- Prazer – respondi. – E o que Harry Styles está fazendo posando para as minhas fotos? 
- Chamando sua atenção? – Ele me respondeu com uma pergunta e fazendo cara de dúvida, eu ri. – Pelo menos deu certo. 
- Sim, eu acabei de perder uma criança de no máximo seis anos se lambuzando toda com o algodão doce, é uma cena muito linda e eu queria ter fotografado! 
- Não seja por isso, meu amigo Louis se comporta como uma criança e eu acho que ele ia adorar ser modelo para suas fotos. 
- Obrigada – eu ri. – Seus outros amigos são aqueles que estavam perto do London Eye? 
- Exato – ele respondeu com um estalo na boca. 
- Hm, e as meninas ao redor de vocês seriam o que? Groupies? – Perguntei meio rindo e ele abriu o maior sorriso. – Que foi? 
- Nada – ele mordeu os lábios, senti que estava escondendo algo de mim. – Há quanto tempo está em Londres? 
- É tão óbvio assim que eu não sou daqui? – Perguntei fingindo ofensa. 
- Hm, sua pele é mais corada do que de qualquer pessoa daqui, você tem sotaque e você tirou fotos do chão. Me desculpe, você não é daqui – ele sorriu com os lábios fechados e eu senti que fiquei mais corada ainda. 
- Touché – sorri sem graça. – Sou brasileira, estou aqui há menos de 24 horas e essa é a primeira vez que saio sozinha em Londres. 
- Eu sabia – ele sorriu. – Gosta de cultura londrina? Filmes, música? 
- Acho que só Harry Potter – falei me sentindo culpada. – Gosto de uma banda chamada Mcfly, conhece? 
- Ah, claro! – Ele riu e abriu o maior sorriso. – Eu os conheço... Digo, eles são bons , a música é ótima. - Harry ainda estava sorrindo e coçando a nuca, novamente aquela sensação de que ele estava me escondendo alguma coisa. 
- Bom... – mordi os lábios. – Harry, obrigada pelos cinco minutos de atenção, mas eu pretendo voltar para meus aposentos reais. 
- E onde seriam os seus aposentos reais? 
- Seria... Epa! – Comecei a rir. – Mal te conheço e já vou te falando assim logo de cara onde eu moro? Tá maluco? – Ele pode ser um gatinho, mas psicopatas são gatos. 
- Ok, ok... Me desculpe – ele ergueu as mãos pro alto como quem assume a culpa e começou a rir. – Sinto que vamos nos encontrar mais vezes. 
- Pelo visto você vai me perseguir, devo chamar Sherlock Holmes pra me ajudar? 
- Ah meu Deus! – Ele começou a rir. – Eu acho que você precisa de uma ajuda pra conhecer outras coisas em Londres que não sejam tão clichês – ele riu. 
- E quem vai me ajudar? – Perguntei desconfiada guardando minha câmera na bolsa. 
- Eu, óbvio – ele sorriu. – Nos vemos em breve, Rhanninha. 
- Heey, quem te deu permissão pra me chamar de Rhanninha? – Ele já estava a alguns passos longe de mim, então só deu eu gritando no meio do povo. 

Harry apenas virou para trás e acenou com um sorriso sapeca em seu rosto. Fiquei ali parada com cara de idiota e percebi que algumas pessoas – em especial meninas da minha idade – passavam e ficavam me encarando. Mordi os lábios nervosa e decidi sair de lá antes de alguém conversar comigo, pelo visto muitas pessoas gostavam desse tal de ‘Harry’, acho que ele é o tipo de garoto que conversa com todo mundo; deve ser por isso que aquelas meninas estavam tirando fotos com ele, Harry deve ser o maluco de Londres que fala com estranhos. E eu sou a maluca que tira fotos de estranhos, bela combinação. 

Voltando pra casa achei uma loja de CD’s e DVD’s e decidi entrar, além de fotografia eu sou apaixonada por música, e acho que o ser humano não funciona bem quando não tem uma trilha sonora. Sei lá... Por exemplo, quando estou revoltada gosto de ouvir um rock pesado, quando sofro por algum menino ouço Taylor Swift, quando quero cantar por diversão ouço McFly e por aí vai. Fui dando uma olhada nos CD’s e vi umas meninas quase gritando quando acharam um álbum que eu acho que elas queriam muito. 

Harry é o mais gato da banda! 
- Não, nem pensar, o Niall é o mais gatinho de todos! 
Louis e Zayn, Louis e Zayn! 
Liam, Liam! Olha como ele é sexy, e é o que canta melhor. 
- Mentira, a voz do Harry é muito mais perfeita. 
- A voz do Louis é a mais perfeita... 

Hein? 

- Procurando algo em especial? – O vendedor de mais ou menos uns 30 anos chegou simpático. – Grande parte dos nossos CD’s está em promoção. 
- Hm, obrigada – agradeci. – Na verdade, estou só dando uma olhada. 
- Se precisar de alguma coisa, pode me chamar. 
- Ok – sorri. – Escuta, não irrita ter meninas desse tipo o tempo todo na loja? – apontei para o grupo de meninas de mais ou menos catorze anos que pegavam os CD’s e abraçavam e beijavam, eu achava meio ridículo. 
- Sempre que aparece uma banda nova as meninas ficam doidas – ele riu. – Esses meninos aí estão fazendo o maior sucesso. 
- Sério? Qual o nome deles? 
- One Direction – ele respondeu. – Já ouviu falar? 
- Hmm... Na verdade não – ri sem graça. – Eles são bons? 
- Gosta de música pop? 
- Na verdade, gosto – não menti, eu gostava mesmo. – Posso dar uma olhada no CD deles? Sabe como é, curiosidade adolescente. 
- Vou pegar um CD pra você – ele saiu sorrindo. 

Entrou no meio das meninas gritantes e pegou um exemplar do CD. Trouxe até mim me explicando que a banda saiu de um reality show chamado Xfactor, que eles são bons, que a Inglaterra estava precisando de uma banda assim e quase a história toda de cinco meninos sortudos. Achei interessante, e se eles saíram de um reality eles devem ser bons, Simon não ia contratar uns carinhas só porque eles são bonitinhos ou algo do tipo. Peguei o CD e fiquei olhando pra capa, eles realmente eram bonitinhos. Mas... Epa! 

- Sim, eu acabei de perder uma criança de no máximo seis anos se lambuzando toda com o algodão doce, é uma cena muito linda e eu queria ter fotografado! 
- Não seja por isso, meu amigo Louis se comporta como uma criança e eu acho que ele ia adorar ser modelo para suas fotos. 
- Obrigada – eu ri. – Seus outros amigos são aqueles que estavam perto do London Eye? 


Não, não é possível! Eu não posso ser tão cagada a esse ponto, eu não consigo ser tão cagada a esse ponto! 

Harry é o mais gato da banda! 
- Não, nem pensar, o Niall é o mais gatinho de todos! 
Louis e Zayn, Louis e Zayn!


Os nomes apareceram na conversa e eu nem percebi! O nome do garoto que eu conheci é Harry! Harry... Qual o sobrenome mesmo? Mas não interessa, foi ele quem eu conheci alguns minutos atrás, era com ele que eu estava conversando casualmente. 

O filho da puta tá numa banda famosa no Reino Unido e ele nem me fala nada!? E o amigo dele, Louis! E tem um Louis na banda, e um Harry! Cacete, ele é do One Direction. Era por isso que ele e os amigos estavam batendo foto com as meninas, era por isso que tinha TANTA menina em volta deles no London Eye, e é por isso que ele é tão gatinho, porque meninos normais não são bonitos daquele jeito. 

Meu coração quase saiu pela boca, eu não conhecia a banda e nem nunca tinha ouvido falar em One Direction (só estou lembrando o nome porque o CD está em minhas mãos, na minha cabeça só consigo pensar em New Directions, mas isso é GLEE!), e eu devo ter parecido uma idiota conversando com ele! ELES JÁ TRABALHARAM COM O MCFLY!? Eu falei do McFly e ele ficou sem graça, era por isso ERA POR ISSO! 

- Garota, você vai levar esse CD? – O vendedor me perguntou. 
- Sim, por favor. 

Dei uma olhada de novo no CD só pra ter certeza de que eu não estava confundindo o menino com o sobretudo com aquele sorridente da capa. E ele ainda me perguntou se eu conhecia música britânica, com certeza estava achando engraçado o fato de eu não saber quem era One Direction. A pergunta que estava martelando na minha cabeça era: por que ele não me falou nada? Era a hora dele subir no palco imaginário e dizer ‘então, eu faço parte de uma banda, sabe?’ AUTO PROMOÇÃO! Não que ele fosse me ganhar, porque não faço o tipo groupie (com exceção de quando o assunto é Tom Fletcher), mas só pra eu não ser feita de idiota. Será que o McFly sabe alguma coisa do One Direction e eu nem prestei atenção? BURRA, BURRA! 

Paguei o CD e saí meio correndo de onde eu estava, parti pra banca de jornal mais próxima. Minhas aulas começavam só semana que vem, então eu tinha uma semana de folga, uma semana pra fazer minha lição de casa, pra não ficar com cara de babaca da próxima vez: estudar, ouvir e aprender um pouco mais sobre One Direction.

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