Voto quebrado.



 -Tem que jurar.



             
Por esta, Bellatrix não esperava. Mas não poderia negar, pois negar proteção ao Draco significaria nunca mais poder proteger Narcissa.

            -Faça o voto perpétuo, Astória. Ou senão nunca mais verá meu filho.
            -Eu... - engoliu seco - Eu juro.
            -Ótimo.

            Bellatrix estendeu sua mão à Narcissa, porém esta a encarou e riu.

            -Não agora. Seu voto de casamento será o voto perpétuo. Assim terá tempo de pensar se é a pessoa certa para meu filho. - Bellatrix assentiu -Não sou maluca, Astória. Só quero que meu filho seja feliz, como eu nunca fui.

            Por um momento, parecia que Bellatrix não havia escutado direito.

            -Madame?
             -Cissa! Me chame de Cissa. - pediu

            Sentaram-se novamente 

            -Meu casamento, Astória, diferente do que todos pensam, só me trouxe infelicidades. Tirando Draco, é claro. Ele foi a maior alegria de minha vida.
             -Mad... Cissa, o que quer dizer com isso?
            -Astória, querida, eu te garanto que Draco é uma pessoa maravilhosa. Não se parece com o pai. - Bellatrix a encarou, confusa -Lucius é... um bruto. Entende? - sorriu tristemente -Não, não entende. E espero que nunca possa entender, querida.
             -Como assim? O que ele fez?
            -Lucius vive no trabalho, como deve imaginar. Nunca foi presente na nossa vida. Mas, quando esta em casa, ele... Bom, seria melhor que continuasse no trabalho. - Narcissa pega a mão de Bellatrix e olha nos olhos dela, chorosa -Eu te juro, Astória, meu filho nunca encostará em você caso não queira. Não será como meu marido fez comigo.

            Bellatrix arregalou os olhos. Estava arrepiada, completamente descrente do que escutou.

            -Ele te... - não consegiu finalizar
            -Sim. Digo, não exatamente. Somos casados, logo, sou propriedade dele e...
            -Ele não tem esse direito, Cissa!
            -Astória, eu...
            -Eu achei que era feliz! Achei que fosse segura! - gritou, levantando-se
            -Astória! - gritou, levantando-se igualmente
            -Narcissa, você sempre pareceu tão feliz. Sua família pareceu tão unida e...
            -O que queria que eu fizesse? - o silêncio reinou -O que você queria que eu fizesse, Astória?

            Não houve resposta.

            -O que eu poderia fazer? - diminuiu o tom de voz gradativamente, até chegar a quase sussuros -Sair chorando e implorar ajuda? Ninguém me ajudaria. E ele me mataria se eu o deixasse, entende? Ele disse isso quando eu o neguei pela primeira vez.

            Os olhos de ambas se encheram de lágrimas, mas seguravam o jogo.

            -Se Draco soubesse... Entende como seria ruim para o crescimento dele? Crescer numa casa com o pai agredindo a mãe, e a mãe infeliz... Que homem ele iria se tornar? Eu não tinha a quem recorrer.
            -E sua irmã? - disse com o resto de forças que lhe restava -Por que não pediu ajuda à Bellatrix? Tenho certeza que ela te ajudaria.
            -Eu sei que ela me ajudaria, sempre soube. Eu todos os dias rogava por pedir ajuda à ela.
            -E por quê não o fez, Cissa? - insistiu
            -Assim como eu sabia que Bella poderia me ajudar, Lucius também sabia. Quando tudo isso começou, Bellatrix ainda não era uma comensal. Não tinha a proteção que passou a ter quando entrou para o exército de... Enfim. Lucius era um comensal, e tinha o apoio do Lord sobre o nosso casamento. Se Bellatrix interferisse, ou se eu pedisse ajuda, ele tinha permissão para nos matar.
            -Mas, ela se tornou comensal.
            -Isso foi depois de eu jurar nunca contar nada para minha irmã.
            -Você não...?

            Narcissa abaixou a cabeça, e pois-se a chorar. Bellatrix aproximou-se, e a abraçou.

            -Por que não reagiu ao Lucius? - disse, após um bom tempo. Mantinha a mão acarriciando as costas da sua 'irmã'. Narcissa riu.
            -Não sou tão forte, querida. Não sou como minha falecida irmã. - separou-se do abraço -Astória, você é uma garota incrível. Sei que estarei entregando meu filho nas mãos de uma mulher maravilhosa. Mas entenda: Meu filho precisa ser feliz em seu casamento. Eu lhe garanto que ao lado dele você será a mulher mais feliz do mundo.

            Bellatrix assentiu. E soube que a conversa tinha acabado.
            Narcissa sorriu, e acariciou o rosto de Bellatrix docemente.

            -Eu acho que não foi uma conversa tranquila, não? Mas foi bastante esclarecedor. Fazia tempo que eu guardava isso para mim, foi bom colocar tudo para fora. - Bellatrix apenas sorriu -Você precisa entender, meu doce, que uma mulher precisa ser forte, seja como for. Porém tem uma hora em que não aguentamos, é normal. Bellatrix dizia que eu era como a flor narciso. Dizia que eu era frágil, que precisava de cuidado. Talvez ela estivesse certa quanto ao cuidado, mas... Quem não precisa dele? Mas não sou fraca, não pense isso de mim.
            -Eu não pensarei, te garanto.
            -Ótimo. - sorriu -Vamos, me dê um abraço. Você é uma menina de ouro, sabia?

            Abraçaram-se. E, por estes segundos, Bellatrix se sentiu em casa. Se sentiu Bellatrix novamente.
            Narcissa acariciava suas costas, docemente e lentamente. Respirava alto e apertava o abraço a cada segundo. Ela 'precisava' tirar aquele peso do coração.
            Mas como Bellatrix nunca percebeu? Como Bellatrix nunca notou a tristeza de sua irmã? Ela sempre pensou que Narcissa estava segura, imaginava seu casamento perfeito, com um marido perfeito. Como pode sua irmã ter sofrido por tanto tempo sem que ela percebesse?
            Estavam abraçadas, aproveitando uma presença. Bellatrix se sentia bem por estar com sua irmã. Já Narcissa, por ter posto tudo para fora. Era um grande peso, afinal.
            Quando, num estalo, Bellatrix escuta Narcissa gemer. Um gemido de dor.
            Narcissa se separa de Bellatrix, e colocou a mão direita sobre as costas da mão esquerda, sob seu anel de casamento.

            -Lucius me espera. - disse, apenas -Eu preciso ir.

            E Bellatrix percebeu. Assim como os comensais tinham a marca negra, amaldiçoada para arder ao chamado do Lorde das Trevas, o anel de casamento de Narcissa queimava sob o chamado de Lucius. Ela estava mesmo precisa.

            -Marcaremos outro dia...
            -Narcissa... - olhou-a, implorando
            -Poderíamos tomar um chá e...
            -Narcissa! - aumentou o tom de voz -Precisa reagir. - voltou a falar normalmente
            -Eu não posso, Astória. Eu não sou tão forte.
            -Mas...
            -Prometa para mim que tudo que eu te contei será esquecido aqui. Me prometa. A sua promessa já basta. Se contar para alguém, minha vida corre perigo. É um grande peso, não?
            -Eu...
            -Prometa.

            Bellatrix a olhou triste. Como Narcissa poderia lhe pedir algo assim? Ela podia ajudar, não podia?

            -Eu prometo.
            -Ótimo. - sorriu, docemente -Eu preciso ir. Mas mandarei cartas, para deixar você e sua mãe atualizadas com o casamento, certo?
            -Claro.

            Narcissa sorriu, e se dirigiu até a porta, aparatando em seguida.
            O que aconteceria com ela, após este chamado? Talvez Bellatrix nunca descobriria.
            Um elfo fechou a porta, mas no mesmo segundo, a campainha tocou.

            -Preciso falar com Astória, elfo.
            -A chamarei, senhor. Um segundo, senhor.

            O elfo seguiu até a sala, tremendo. E com uma reverência, e sem olhar nos olhos de Bellatrix, disse.

            -Minha senhora, um homem está a porta. Deseja falar com você, minha senhora. Permito-lhe a entrada, madame?
            -Quem ele é?

            O elfo arregalou os olhos, em pânico. Começou a golpear a própria cabeça.

            -Est idiota. Est é um elfo imbecil. Perdão madame. Est esqueceu de perguntar o nome. Est merece ser castigado. Est...
            -Cale a boca, escutou? Eu mesmo cuido disso, imprestável.
            -Perdão, madame.
            -Saia daqui.
            -Sim, minha senhora, perdão, minha senhora.

            Enquanto o elfo se retirava, estapeando-se, Bellatrix caminhou até a porta de entrada.

            -Astória! Parece bem hoje.

            Não podia ser.

            -Josh? O que faz aqui?
            -Lembrar-te que Bellatrix morreu. Sua memória pareceu bem falha enquanto conversava com Narcissa.
            -Escutou minha conversa? Como ousa?
            -Não pode contar nada a ela. As consequências serão graves. Não para você, para ela. Não pode contar para ninguém.
            -Ela precisa de mim.
            -A irmã dela morreu. Entende? Não seja a irmã dela. Só fará mal a ela.
            -Mas eu sou a irmã dela. Eu estou bem aqui. E ela precisa de mim.
            -Ela precisa sentir o luto dela. Se quiser ajudá-la, seja Astória. É só o que pode fazer por ela. A alma dela será prejudicada, caso você abra a boca. Sinto muito, Astória.
            -Bellatrix!
            -Astória. Seu nome é Astória.
            -Então por que eu me sinto Bellatrix? Por que tenho todas as minhas lembranças, mas não sei nada sobre Astória?
            -As memórias ficam na alma, não no corpo, como dizem. Mas algumas informações como aprendizados mágicos, experiências, ficam no corpo.
            -Muito útil. - ironizou
            -Preciso ir, Astória. Sua mãe está vindo. - e aparatou
            -Minha mãe está o que?
            -Astória? Onde está você, doce? - disse sua mãe, aproximando-se

            A pedidos de Katherine, foram lanchar no jardim. Bellatrix não contou nada da conversa, dizia que queria guardar tão 'sábios momentos' em sua própria memória, mas apenas não queria lembrar.


            Com a desculpa de que estava cansada, Bellatrix se retira e vai ao 'seu' quarto.


            Deita-se na cama. De fato estava cansada, a conversa com Narcissa a deixou debilitada.


 


            -Preciso ajudá-la. Mas como? - sussurrou para si mesma -Se eu conseguisse adiar este casamento... Eu poderia ficar mais próxima dela. Draco não vive sem ela... - olhava fixamente para o teto -Draco... Como vai ser isso? Será que ela está certa? Será que não é como o pai? Droga, se eu jurar proteção ao Draco, nunca vou poder me defender caso... - Bellatrix fechou os olhos -Não, Bella. Para de pensar nisso. Draco é um menino incrível. Nunca faria mal a uma mulher.


 


            Respirou fundo e se afundou em seus pensamentos, logo caiu no sono.


            Abriu os olhos, estava dentro de um quarto, diferente do quarto que estava quando foi se deitar.


 


            -Me deixe sozinha!


 


            Escutou uma mulher gritar. De início não reconheceu quem era, mas depois tudo ficou mais claro.


 


            -Cissa? - sussurrou para si mesma


 


            Bellatrix caminhou até a porta do quarto, e aos poucos se reconheceu na mansão Malfoy, no quarto que costumava ficar quando dormia lá.


            Abriu a porta.


 


            -Lucius, eu lhe rogo. Por favor. Eu não estou me sentindo bem.


            -Cale a boca! - Bellatrix pode escutar um estalo, e em seguida, o som de alguém caindo -Eu mando em você!


 


            Olhou para o final do corredor, onde se encontrava o quarto de Narcissa e Lucius. A porta estava aberta, e Narcissa jogada no chão.


            Pôde ver Lucius abaixar-se, agarrando no braço de Narcissa fortemente, enquanto esta soluçava em prantos.


 


            -Lucius, por favor!


            -Não!


 


            Ele a levantou. Lucius usava apenas uma calça branca, e Narcissa usava a roupa que a pouco esteve usando em sua visita à mansão Greengrass.


            Bellatrix correu até o quarto, precisava salvar a irmã. Parou junto a porta.


 


            -Solte-a. Agora! - gritou


 


            Lucius continuava segurando Narcissa de forma possessiva, enquanto esta só chorava cada vez mais. A marca da mão de Lucius marcada em seu rosto.


 


            -Solte minha irmã, seu trasgo. - e correu em direção aos dois, esticando seus braços para separá-los e...


 


            Bellatrix os atravessa. Como se nada estivesse em seu caminho. Ela olha para trás, para sua irmã e cunhado.


 


            -O que? O que você fez, trasgo? - gritou, confusa


            -Você acha que pode dizer não para mim, Narcissa? Eu comprei você! Os Blacks te venderam para mim, lembre-se disso. Pouco importa seu luto pela vadia da sua irmã. Você é minha propriedade. Eu mando em você.


 


            Os braços de Narcissa estavam presos pelos de Lucius, mas ela se debatia. Ao ouvir as últimas palavras ditas por Lucius, Narcissa cuspiu no rosto do marido.


 


            -Não fale da minha irmã nunca mais. E tire suas mãos de mim.


 


            Lucius solta Narcissa, mas dá a ela um olhar raivoso.            


            Bellatrix tenta segurar Narcissa em seus braços para protegê-la, mas ela atravessa, novamente. Era como se não estivesse ali. Deu dois passos para trás.


 


            -Eu estou sonhando. - disse para si mesma -É um sonho, Bella. Acorde!


 


 


            Lucius caminhou em passos largos até Narcissa e, algo que Bellatrix ainda não tinha visto estava em sua mão. Lucius segurava uma adaga.


 


            -Você vai me obedecer, Narcissa.


            -Acorde, Bella. - dizia para si mesma


            -Vai me obedecer, ou vai pagar caro por tudo.


            -Acorde, ande! Agora! - passou a gritar


 


            Bellatrix pôde ver Narcissa paralisada, e Lucius a agarrando novamente. Pôde ver, também, o belo vestido que antes Narcissa trajava virar trapos rasgados, e sua irmã ser despida a força, enquanto chorava.


 


            -Bellatrix. Acorde!


 


            Lucius jogou Narcissa sobre a cama, com força.


 


            -Acorde! - fechou os olhos, e gritou


 


            Quando abriu os olhos, estava suada, deitada na cama que antes estivera. No quarto de Astória.


            Forte demais para ser um sonho, era o que pensava.


            Sentia seu coração bater forte, e sentou-se na cama.


            E, ao olhar para o lado, constatou que havia um pergaminho ao seu lado. E o leu.


 


           "Sinto muito, Astória. Recebi uma mensagem dos juizes celestiais a pouco tempo. E sinto-lhe dizer: Não foi um sonho.


            Narcissa usou o voto perpétuo, jurou nunca contar para Bellatrix sobre o que acontecia em sua vida. Jurou nunca contar o que você viu a pouco. Porém, Bellatrix está morta. Mas sua alma está aqui. De acordo com nossas regras, Narcissa não pode ser punida. Mas você pode, por tomar a poção que a fez voltar.


            Se, durante seu sono, Narcissa sofrer os assédios de Lucius, e qualquer coisa que jurou a ele que não contaria a Bellatrix se concretizar, você verá. Sua alma estará lá assistindo, até que você acorde.


            Sinto muito, Astória. Não posso fazer nada sobre isso.


            Mantenha-se segura.


            Josh, seu anjo da guarda."

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