A fina arte de enganar




  1. A fina arte de enganar



Regulus acordou com dores no corpo todo como se tivesse sido atropelado por um dragão em pleno voo. O corpo doía, mas havia algo muito especial naquela dor, havia uma esperança. E tudo graças à Alice. Antes mesmo de abrir os olhos naquela manhã a imagem de Alice veio à sua mente e ele sorriu: não era um sonho, ele tinha a mais incrível namorada que alguém podia desejar. Ele abriu os olhos e olhou ao redor. Aquela não era sua cama, embora fosse quase tão familiar quanto e não foi exatamente uma surpresa acordar na ala hospitalar da escola. Na cama ao lado Amifidel respirava profundamente e, mais adiante, Severus cochilava em uma confortável poltrona que nunca estivera ali antes.



Ele se sentou na cama.



- Ami! Severus! – ele chamou em voz baixa.



Severus acordou e se espreguiçou.



- Que noite!



Amifidel esfregou os olhos:



- Nem me fale!



- Bom, vejo que os três já acordaram - disse o diretor, vindo do outro lado da sala - creio que devam ter uma boa explicação para o passeio noturno não autorizado.



Amifidel abaixou a cabeça.



- Não tenho, não senhor.



- Eu não sei se a explicação é boa senhor, mas posso lhe contar o que houve. – apressou-se em dizer Regulus, olhando para Severus que entendeu que deveria se manter calado enquanto o amigo improvisava uma mentira. Regulus encarou o diretor e continuou – eu estava deitado em minha cama ontem à noite, quando vi Amifidel levantar-se da cama e trocar de roupas. Eu tentei perguntar a ele o que estava fazendo, mas ele apenas respondeu que estava atrasado para o jogo. Foi então que percebi que ele estava dormindo. Eu não sabia que Ami era sonâmbulo, mas achei aquilo divertido e me troquei também, queria ver o que ele iria fazer. Então Ami saiu do quarto e eu o segui até a sala comunal. Severus estava lá, lendo um livro. Não havia mais ninguém. Eu contei para Severus o que estava havendo e ficamos observando o Ami. Ele mexeu em várias coisas e depois saiu. Ouvi dizer que não se pode acordar um sonâmbulo e então achamos melhor segui-lo. Ele saiu do castelo e caminhou até o vestiário do campo de quadribol, pegou uma vassoura e saiu. Fizemos o mesmo. Não queríamos que ele se machucasse. – por um instante, Regulus sentiu sua mente sendo invadida e a imagem dele seguindo Amifidel num voo sobre o lago sob forte nevasca apareceu involuntariamente em sua mente, ele olhou para a janela para disfarçar e continuou – estava nevando forte e o vento era muito. Severus tinha lançado um feitiço protetor sobre nós, por causa da nevasca. Nós seguimos Ami durante um bom tempo. Entramos em pânico quando Ami começou a voar sobre o Lago Negro, mas achamos que seria ainda mais perigoso se ele acordasse naquele momento. A nevasca parou e Severus retirou o feitiço sobre nós. Então o pior aconteceu. Ami levou começou a tremer de frio e acordou, perdendo o equilíbrio e caindo no lago. Eu mergulhei atrás dele e consegui pegá-lo, graças a ajuda de Severus que iluminou o lago. Então saímos e voltamos para o castelo – mais uma vez a imagem do polvo gigante segurando o garoto submerso veio à sua mente involuntariamente. Regulus sabia o que o diretor estava fazendo - A vassoura de Ami ficou com o polvo gigante, então se o senhor encontrar o polvo voando por aí, já sabe... Desculpa, senhor, não resisti a brincadeira.



Dumbledore ergueu uma sobrancelha e depois sorriu. Os garotos sorriram também, aliviados.



- Bem, acho que depois disso o senhor já sabe o que aconteceu. Eu só posso supor: nós entramos no castelo e o senhor nos encontrou e nos trouxe para cá, não foi?



Dumbledore balançou a cabeça afirmativamente:



- Eu não vejo porque essa não seria uma boa explicação, eu mesmo não teria inventado nada melhor. – Regulus o olhou fingindo indignação – realmente às vezes a verdade é muito mais impressionante do que qualquer ficção. Vocês tiveram muita sorte ontem, poderiam ter morrido se eu não estivesse voltando de um chá com os amigos quando vi uma luz intensa vindo do Lago Negro. Quando cheguei à porta, vocês vi os dois entrando, congelados. Em seguida chegou Severus, assustado demais e quase igualmente molhado. Severus me ajudou a trazê-los aqui e não foi capaz de me explicar o que faziam do lado de fora do castelo sob a nevasca porque tremia muito. Ele só falou “lago”, voando em vassouras” antes de cair no sono. Então resolvi poupá-los com algumas horas de descanso enquanto avaliava a extensão do que acontecera aqui. Senhor Amifidel, quero que o senhor fique aqui para receber o tratamento indicado por Madame Pomfrey para sonambulismo. A nossa escola pode não ser um local muito seguro à noite e o senhor teve muita sorte de contar com a ajuda de seus fiéis amigos aqui. Quanto a vocês dois, podem ir para seus dormitórios se trocar. Creio que nenhum dos dois vá querer perder o jogo desta manhã. Vou conversar com Slughorn sobre o ocorrido. A despeito de suas intenções iniciais serem se divertir às custas do amigo, creio que todo ato de bravura deva ser recompensado. Receberão 20 pontos cada um por salvarem o senhor Amifidel. Da próxima vez que deixarem suas camas sem autorização, serão punidos.



- Obrigado, senhor. – disse Regulus, abaixando a cabeça.



- Muito obrigado, senhor. – disse Severus, fazendo o mesmo.



- Estão dispensados.  – disse o diretor e virou-se para Amifidel – assim que Madame Pomfrey o liberar, pode ir também. Não quero impedi-los de assistir a uma emocionante partida de quadribol.



- Nos vemos mais tarde, Ami! Vou me apressar, você sabe, quero ver Alice antes do café-da-manhã. – disse Regulus, sorrindo.



Regulus e Severus deixaram a ala hospitalar e caminharam em silêncio até a sala comunal. Suspeitavam que poderiam ser ouvidos se comentassem algo e não poderiam correr este risco, não quando o diretor havia sido brilhantemente enganado.



Com a mão na maçaneta para o seu dormitório, Regulus perguntou para Severus:



- Ele não vai encontrar a pilha de tijolos, vai?



- Não, eu cuidei disso antes de guardar as vassouras. Você fez um ótimo trabalho hoje, Black.



- Obrigado.



Dizendo isso, ele entrou no dormitório o mais rápido que pode e se vestiu, olhando os amigos ainda sonolentos em suas camas.



- O que você está fazendo em pé, Reg? Alguma coisa a ver com nosso plano de hoje? Tenho que levantar também? – perguntou Jack, sonolento.



Regulus riu:



- Não, Jack. Está tudo certo com nosso plano. Eu... eu levantei porque quero tomar café da manhã com Alice. Não sei que horas ela vai levantar, então vou esperar desde já...



- Você ficou meio de miolo mole, não? – disse Jack, virando-se na cama, dando as costas para Regulus.



- Bem, prefiro estar com miolo mole e ter alguém para namorar do que dormir até mais tarde... quando você tiver alguém vai descobrir que o dia pode ser aproveitado de outras formas e que diversão vai muito além de partidas de gobstones... – ele respondeu, enquanto checava o cabelo recém penteado no reflexo da janela. O comentário de Jack não o havia aborrecido, mas lhe dava a sensação que estava conversando com crianças.


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