Aventuras sobre o Lago Negro
- 97. Aventuras sobre o Lago Negro
Por conta do vento, os flocos de neve se juntavam antes mesmo de caírem no chão, dando-lhes a impressão de que estavam no meio de uma guerra de bolas de neve. Mas não havia ninguém mais do lado de fora, a não ser eles e o vento.
- O que era aquilo? Por acaso o Pirraça saiu do castelo? – perguntou Amifidel, tirando a neve sobre os ombros assim que entrou no vestiário – Vai ser impossível voar desse jeito!
Regulus olhou para fora.
- Já voei em dias piores. É só ficar contra o vento, aí você não cai. Podemos esperar um pouco, se vocês acham melhor...
- Black, esperamos uns dez minutos, então. O único apanhador aqui é você, nós não fizemos treino para fugir de balaços... – disse Severus – contudo, se não melhorar o tempo, vamos assim mesmo. Nós dissemos que conseguiríamos, não?
Os outros dois ficaram em silêncio, Severus tinha razão. Cada um pegou uma vassoura e se sentou no chão, próximo à porta.
Dois minutos se passaram.
- Vocês acham que é Lord Voldemort que está provocando tudo isso? – perguntou Amifidel.
Regulus esticou a cabeça e olhou para a neve entrando pela porta entreaberta.
- Não, acho que não... Você ouviu a Sprout, naquela época ele queria assustar os outros alunos, era só uma brincadeira... Tipo as coisas que meu irmão faz... – ele ergueu os ombros.
Severus pareceu ligeiramente incomodado com o comentário de Regulus a respeito de Sirius e olhou para a porta empunhando a varinha, como se esperasse que Sirius fosse entrar a qualquer momento.
- Você acha que foi ele? Seu irmão? – perguntou Amifidel.
- Pode ser... Se for ele, provavelmente está na torre da Grifinória admirando seu trabalho, pela janela.
Regulus se levantou, caminhou até a porta e olhou para cima. A única coisa que conseguia ver na escuridão eram as bolas de neve que caíam aos seus pés. Não havia sinal de luz nas torres do castelo. Ele virou-se para os outros.
- Se foi ele, já se cansou de olhar... Não há janelas iluminadas em Hogwarts, não deste lado. Vai ser mesmo difícil voar com toda essa neve...
Regulus se sentou no mesmo lugar que estava minutos antes.
- E se usássemos o Impervius? – perguntou Amifidel.
- Contra aquelas bolas? Não vai ter efeito algum. – respondeu Severus – Tente.
Amifidel levantou-se, lançou o feitiço sobre a própria cabeça e saiu. Ele não permaneceu nem meio minuto do lado de fora.
- Você tinha razão... Não adianta. – disse, coberto de neve, enquanto escorregava as costas na parede dobrando os joelhos até sentar no chão.
- Tem outro feitiço... O Impenetrável... Eu nunca tentei, mas já vi minha avó Melania fazendo. Algo como um floreio rápido em forma de L maiúsculo de letra cursiva...
- E a letra tem que ser legível? – caçoou Amifidel – desculpe, não resisti.
Regulus riu.
- Então, acho que sim... Como minha letra é horrível, acho que não vou conseguir... Tampouco Severus... Agora você é bem capaz de conseguir...
- Vamos tentar. Quem será a cobaia? – perguntou Severus.
- Quem perguntou é um forte candidato ao cargo... – Regulus riu.
- Vocês levaram muita bola de neve na cabeça, estão falando muita bobagem – comentou Severus, rindo, enquanto apontava sua varinha para Regulus, fazendo o floreio indicado – Restrictaditum! Black, veja se minha letra cursiva está a seu contento...
Regulus não achou muita graça em ser o escolhido para sair sob a nevasca, mas sorriu ao ver que o amigo tinha aderido à brincadeira sobre a letra cursiva. Ele levantou e saiu, sem dizer nada.
- Funcionou! Podem vir! – ele chamou do lado de fora e esperou. Mas ninguém apareceu, então voltou ao vestiário. – Vocês desistiram?
- O quê? – respondeu Amifidel, apontando para as orelhas.
_- Finite! – Severus lançou o feitiço sobre Regulus, torcendo o nariz. – Vocês não entenderam? Funcionou!
- Como assim? Foi isso que eu disse: funcionou! – respondeu Regulus.
Severus arregalou os olhos para ele, franzindo as sobrancelhas. Regulus compreendeu.
- Ah, entendi. Vocês não podiam me ouvir! É, funcionou. Melhor a gente lançar o feitiço sobre os três ao mesmo tempo, ou não vamos conseguir nos comunicar. Esqueci que o Feitiço Impenetrável evitava o som também. Mas isso não importa agora, não é? Ainda temos muito trabalho pela frente! Vamos!
Os três se juntaram em um pequeno círculo, um de costas para os outros, e Severus ergueu o braço lançando o feitiço sobre os três.
- Vamos ter que voar juntos para o campo não se romper. – ele avisou.
- Isso pode acontecer? – perguntou Regulus, curioso.
- Não sei, mas não quero descobrir dessa forma. – respondeu Severus, montando em uma vassoura.
Quando os três estavam em posição, deixaram o vestiário voando. O vento e a neve não penetrava o pequeno campo em torno deles, mas o frio continuava a castigar, fazendo-os tremer sobre as vassouras.
O Lago Negro estava congelando próximo às margens e havia aqui e ali placas de gelo sobre a superfície. Com algum esforço eles chegaram ao local que Regulus indicou como sendo onde estava a chaminé submersa. Havia um pequeno redemoinho no local, cercado por gelo.
- Como vamos fazer? – perguntou Amifidel para Regulus.
- Accio tijolos!
Uma dúzia de tijolos emergiu e voou para fora do lago em direção a Regulus, que os equilibrou desajeitadamente sobre os braços.
- Entendi. Accio!
- Accio! – disse Severus.
Os tijolos foram saindo e os garotos os equilibravam como podiam nos braços. Assim que tinham os braços lotados, eles voaram para a beira do lago, onde empilharam os tijolos cuidadosamente, então voltaram para a lareira desativada. Eles repetiram o mesmo trajeto, mesmo feitiço sem notar o cansaço. A nevasca abrandou.
- Finite! – Severus desfez o feitiço protetor que estava em torno deles. Neste momento eles perceberam o quanto havia esfriado e começaram a tremer muito. As mãos de Amifidel tremiam tanto que ele mal conseguia segurar a vassoura.
- Será que podemos parar? – perguntou Amifidel, batendo os dentes.
- Acho que sim, disse Regulus, olhando para trás para checar a pilha de tijolos à margem do lago. – Só mais esta. – completou.
Regulus encheu os braços com tijolos molhados e seguiu para a margem, foi quando ouviu o som de algo caindo na água e se virou subitamente, quase derrubando Severus, que voava ao seu lado, da vassoura. Não havia sinal de Amifidel em lugar nenhum. Os dois garotos largaram os tijolos de qualquer jeito e voaram em alta velocidade até o local da lareira.
- Accio, Amifidel! – arriscou Severus, mas a água apenas produziu marolas em um ponto específico.
- Ele deve estar ali. – disse Regulus, mergulhando com vassoura e tudo nas águas escuras.
A água gelada encharcou sua roupa e ele teve que fazer mais esforço do que havia imaginado quando mergulhou para socorrer o amigo. De repente um clarão iluminou a água e Regulus conseguiu ver Amifidel enroscado nos tentáculos do polvo gigante. Empinando a vassoura o mais que pode para frente, se aproximou do amigo em um instante, puxando-o pelos cabelos para fora da água. Severus estava a sua espera na superfície, mantendo a varinha “acesa” e os ajudou a chegar na margem.
Os dois garotos, muito assustados, colocaram Amifidel de lado e o fizeram regurgitar a água que havia engolido. Após uma longa sessão de tosse, Amifidel ergueu a cabeça e murmurou para os dois, batendo os dentes.
- O-O-br-bri-gado.
Regulus e Severus o ajudaram a montar na vassoura com Severus e os três voaram em direção ao castelo.
Os garotos desmontaram. Regulus e Amifidel tremiam muito, sentindo a roupa gelada roubar-lhes o que ainda tinham de calor.
- Melhor vocês irem para o dormitório se trocar ou vão congelar. E depressa! Daqui a poucas horas todo mundo vai estar de pé, precisamos nos apressar – ele disse, olhando para o céu, procurando algum indício dos primeiros raios de sol. – Eu vou guardar as vassouras.
Regulus abriu a porta do castelo com dificuldade ao mesmo tempo que apoiava Amifidel que mal conseguia andar de tanto frio. A sobra de uma pessoa se alongava pelo chão do corredor tocando seus pés. Eles ergueram os olhos, mal haviam reconhecido a figura alta e magra do diretor da escola e no instante seguinte uma luz intensa, multicor, os envolveu, aquecendo seus corpos que caíram no chão, desacordados.
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