Inesquecível
Os irmãos Black passaram três dias muito felizes na companhia das irmãs Leloush. Vovô Black havia trocado os antigos aros do campinho de quadribol por novos aros em tamanho original, enfeitiçados para não só marcar o escore, como também para fazer o som da torcida explodindo em aplausos a cada gol marcado. Ele também havia comprado outra vassoura Nimbus 1000 para Regulus, já que a sua estaria em Hogwarts. As meninas e os garotos jogavam quadribol dia e noite à exaustão. Então entrevam na casa dos Black ou dos Leloush onde jantavam rapidamente e depois jogavam partidas de xadrez de bruxo ou snap explosivo. No quarto dia, as irmãs Leloush chamaram os garotos para ao cinema junto com elas, pois iria passar um filme bastante emocionante chamado “A fantástica Fábrica de Chocolate”. (Willie Wonka & the Chocolate Factory). Sirius sabia que dona Walburga e seus avós não aprovariam, então, logo após o almoço assim que os outros deixaram a mesa, ele pediu para o pai:
- Pai, será que o senhor nos levaria, Reg, as meninas e eu de volta para Londres? Está passando um filme no cinema e parece muito divertido e nunca fomos no cinema antes e... – Sirius fez uma breve pausa, corando – bem, eu queria sair com as garotas, se é que o senhor me entende.
Orion sorriu e respondeu, sussurrando:
- O que sua mãe não vê não a incomoda... Seja discreto. Agora chame seu irmão e vá se arrumar. Vamos sair em meia hora. Vou pedir para o senhor Leloush se ele me empresta o carro, um Triumph Stag azul vibrante, que está na garagem com o teto rebatido. Um carro como aquele não foi feito para tomar pó na garagem... – Orion piscou para o filho.
Em pouquíssimo tempo os três Black estavam mais uma vez afundando os pés na neve que cobria o quintal. Havia uma trilha já bastante funda das pegadas dos meninos, feita nos dias anteriores. O dia estava muito claro e a neblina da manhã já havia se dissipado, porém o céu permanecia completamente coberto. Orion desta vez estava mais tranquilo e não procurava o tal pássaro agoureiro:
- Pai, encontraram o pássaro agoureiro? Eu não o ouvi cantar nenhuma vez desde que chegamos. – perguntou Regulus, examinando o céu.
- Seu avô disse que ele deve ter migrado, do ninho que estava próximo da estrada não se vê mais nem uma gotinha – respondeu o pai, sem olhar para o filho.
Assim que chegaram, as meninas vieram correndo ao seu encontro.
- Papai vai emprestar o carro!! Papai vai emprestar o carro!! – disseram ofegantes as duas, juntas.
O senhor Leloush, um homem ruivo como as filhas de andar desengonçado, vinha ao encontro dos vizinhos, com a chave do carro tilintando em sua mão. Ele não hesitou por um minuto sequer em emprestar o carro para o senhor Black. Na verdade, parecia satisfeito e aliviado em não ter que levar os garotos pessoalmente ao cinema. O senhor Leloush não gostava muito de sair de casa.
- Boa tarde, senhor Black! Que bom que o senhor pode leva-los ao cinema, esta tarde vou receber alguns turistas e as meninas ficaram tão tristes quando disse que não conseguiria leva-las. – ele disse, entregando a chave para Orion para poder abrir a garagem, erguendo a porta basculante de madeira – aqui está.
Os olhos de Orion brilharam ao ver o carro, assim como os de Sirius, que não pensou duas vezes e anunciou:
- Vou na frente com o papai.
Orion sentou-se ao volante e ajustou o assento e os espelhos, enquanto Sirius sentava-se ao seu lado. O senhor Leloush estava parado do lado do carro e disse, enquanto ajudava as filhas entrarem:
- Bem, acho que não deve ser muito diferente do seu carro para dirigir e... Ah, esta alavanca aqui fecha a capota. – ele apontou para uma pequena alavanca prateada no painel.
- Mas nós vamos com ela aberta! – disse Sirius.
- Sirius, vamos precisar andar com a capota fechada, está muito frio. – disse Orion para o filho que se calou. Voltando-se para o vizinho, ele falou – Muito obrigado, Leloush. Todos prontos?
Todos acenaram positivamente com a cabeça e Orion deu marcha ré, depois fechou a capota.
- Nem vem, pai. Eu sei que o senhor é capaz de fazer um feitiço que mantenha o ar em torno de nós numa temperatura agradável.
- Assim que chegarmos na estrada. – ele respondeu, sorrindo, sem tirar os olhos do caminho.
Pouco tempo depois Orion, os garotos e as meninas estavam em Bramshill Road. Orion acenou a varinha e fez um feitiço não verbal para manter o carro aquecido, abriu a capota e continuou andando em alta velocidade nas ruas geladas e estreitas que levavam à Londres. Regulus estava sentado no apertado banco detrás, entre as meninas e Sirius e o pai nos bancos da frente, se deliciando ao ver a paisagem mudar rapidamente.
Não demorou muito para chegarem ao pequeno e escondido cinema na avenida Shaftesbury. Orion os deixou na porta e disse que iria ao St. Mungos resolver alguns assuntos, voltaria no fim da tarde para pegá-los.
Os meninos desceram do carro e acenaram para o pai, olhando o carro distanciar-se. Então voltaram-se para a fachada do cinema. Era pequena, parecia estar espremida entre um café e uma livraria. No lado esquerdo havia um cartaz do filme, com Gene Wilder ao centro segurando a frase: “It's Scrumdidilyumptious”. Regulus achou aquilo muito interesante e ficou pensando se realmente havia sido feito por trouxas… O lugar havia sido indicado pela madame Leloush, como sendo um cinema bastante frequentado por bruxos, uma vez que era relativamente discreto e a sala de exibição ficava no subsolo.
Logo que entraram, Sirius comprou pipocas e refrigerantes para todos, enquanto Regulus comprou os ingressos (o pai já havia dito diversas vezes que nunca se deveria deixar uma garota pagar nada quando estivessem com eles). Então os quatro entraram no cinema e escolheram um lugar para sentar, no fundo da sala. O lugar aos poucos foi enchendo de garotos e garotas animadas, que comiam pipocas e falavam alto. Sirius e Regulus identificaram alguns alunos de Hogwarts no meio da multidão, mas nenhum diretamente ligados a eles.
A luz se apagou e o silêncio se fez. Regulus estava sentado entre as irmãs Leloush, Simone à sua esquerda, com Sirius ao lado dela. Aquilo tudo era muito novo e excitante para Regulus, que assistia ao filme atentamente quando Sophie o cutucou:
- Olhe para o lado discretamente. – ela disse, baixinho.
Ele olhou. A mão de Sirius tateava a escuridão em busca da mão de Simone, que segurava o saco de pipoca. Ele tocava sua mão e depois recuava, pegava uma pipoca. Repetiu esta dança das mãos diversas vezes até que, sentindo-se confiante, repousou sua mão sobre a dela e segurou com cuidado. O coração de Sirius disparou ao sentir a suavidade da pele da garota e seu corpo ficou todo tenso, com medo que ela o mandasse soltar. Então ela, com a mão livre colocou pipocas na boca dele, delicadamente. Regulus notou o corpo de Sirius relaxar, os ombros se soltarem e achou que viu, pelo canto do olho, um leve sorriso no rosto do irmão. Ele comentou com Sophie, sussurrando:
- Interessante, você não acha?
Ela sorriu e respondeu:
- Muito... há tempos tenho observado os dois.... estão diferentes.
- É, eu sei. Também notei.
- SHHHHHHHHHHHH.....
Uma menina sentada à frente deles sinalizou para que ficassem quietos. E eles ficaram.
Sirius sentia seu coração bater forte cada vez que os dedos de Simone acidentalmente tocavam-lhe os lábios – tinha vontade de beijar seus dedos, mas achou que seria muita ousadia. Meia hora depois, o mais velho dos Black já não olhava mais para a tela, mas para o rosto de Simone, que ele acariciava com a ponta dos dedos, enquanto ela sorria e lhe dava pipocas, assistindo o filme sem piscar. Cada movimento que ela fazia, cada suspiro, cada sorriso, cada palavra que ela disse ou havia reprimido, ele se tornou consciente de tudo o que ela fazia, como se só existisse Simone em todo o mundo, nada mais. Ele não podia deixá-la perde-la, ele queria estender esse momento até a eternidade ... Então a pipoca acabou e Simone cruzou os braços. Sirius sentiu que precisava fazer algo com urgência. Foi quando sussurrou em seu ouvido:
- Simone?
A garota virou o rosto para olhar para ele. Sirius olhou no fundo de seus olhos, segurou seu rosto gentilmente com ambas as mãos e aproximou seu rosto do dela. Imediatamente ela fechou os olhos azuis e ele fechou os seus, então a beijou. Simone deixou o momento mágico a contagiar. Para os apaixonados, aquele breve beijo pareceu durar horas e quando abriram os olhos, o que viam era muito mais do que a dança colorida dos Oompa-Loompas, era como se tivessem estrelas chovendo do teto. Eles se olharam e sorriram, e tornaram a olhar para a tela sem realmente ver o que se passava no filme.
Regulus não viu o beijo, mas notou a mudança de comportamento e podia apostar que eles não estavam vendo as cenas, pois demoravam para reagir, rindo muito depois dos outros, como se não entendessem a piada.
Regulus e Sophie continuavam atentos. Ora aos irmãos, ora ao filme, deleitando-se com ambos. Quando o pequeno Charlie Bucket e seu avô subiram no tubo de ar, Sophie segurou forte sua mão, assustada. Mas Regulus sabia que aquilo era apenas um gesto automático, sem segundas intenções. E comentou:
- Tomara que eles saiam dessa!
- Tomara mesmo! – ela respondeu, soltando sua mão. Então Regulus a cutucou:
- Olhe. – disse, indicando a irmão com a cabeça.
Sophie não conseguia acreditar no que via. Sirius estava beijando Simone na boca. Sophie admirou-se e soltou o pacote de pipoca, que se esparramou no chão. Então chamou:
- Simone!
E Simone se recompôs, olhando para a irmã, com o rosto muito vermelho, enquanto Sirius disfarçava olhando para a tela sorrindo levemente.
Regulus estava muito feliz pelo irmão, que havia feito 14 anos há pouco mais de um mês. Então se perdeu em devaneios, pensando qual seria o gosto dos lábios de Alice. Este devaneio não o deixou por um minuto, nem mesmo durante o passeio que fizeram por Picaddilly Circus após o término do filme enquanto aguardavam a chegada de Orion. Após tanto devanear, Regulus podia sentir em sua boca um suave sabor doce.
Comentários (1)
Que fofooooo!
2014-06-15