Suspeito



Com os pés afundando na neve ainda fofa que caíra naquela manhã, os irmãos Black seguiam de perto o pai. Orion olhava constantemente para o alto e ao redor, como se esperasse que a qualquer momento algo fosse acontecer ou alguém fosse chegar. Sirius não se conteve e perguntou:


- Pai, o que o senhor está procurando?


A súbita pergunta pegou pai desprevenido. Ele engoliu em seco e improvisou:


- Seu avô disse que estranhamente havia um agoureiro voando por aqui e nem estava chovendo. Ele até pensou que poderia ser um abutre, mas o canto dele era inconfundível. Vou dar uma volta e ver se o encontro. Não é bom ter agoureiros voando expostos por aí com tantos trouxas circulando pelas montanhas.


A resposta do pai havia sido tão boa que Regulus também começou a olhar para o céu. Será mesmo que havia uma ave desorientada por aqueles lados? Sirius também começou a olhar para o céu, preocupado: o pai, com certeza, não estava procurando aves. A grande porteira de madeira pintada de azul que ficava na entrada da casa dos Leloush estava fechada. Isto era muito incomum, ela costumava ficar aberta para receber possíveis clientes do senhor Leloush, que levava visitantes do condado para passeios pelas trilhas da floresta. Orion olhou para os lados e disse:


- Alohomorra.


Então Regulus se deu conta que o pai empunhava a varinha desde o momento que eles haviam saído de casa. Com certeza ele não estava apenas procurando por pássaros agourentos.


- Monsier Orrion! Que bom que o senhorr veio!


Madame Leloush os aguardava à soleira da porta. A figura esguia da francesa, vestida em um longo vestido azul se mimetizava com as portas da casa de mesmo tom e demorou alguns instantes para que o Sr Black percebesse de onde viera o som de sua voz. Então ela acenou. Regulus e Sirius trocaram olhares significativos: era realmente muito estranho, a mulher estava aguardando seu pai.


- Meninos, como vão? – ela disse, sorrindo, o que era ainda mais estranho, pois Madame Leloush não costumava ser tão amável com os dois – Sophie e Simone estão lá no estábulo com o pai, vocês podem ir lá – ela acrescentou, indicando com a mão o caminho a seguir.


Sirius e Regulus se despediram do pai e mal haviam dado as costas, ouviram a porta se fechar atrás deles. Então Sirius indicou para o irmão vir com ele, gesticulando para que não fizesse barulho. Os dois meninos se postaram abaixo da janela da casa dos Leloush e conseguiram ouvir o seguinte:


- ... Ministério. Eu mesma poderia ter apagado a memória dele, mas não tenho o exato controle para apagar somente o que é preciso, não quero que ele fique sem as boas recordações... Então seu pai disse que o senhor é muito bom com o feitiço da memória, inclusive consegue substituir o que for necessário. O senhor faria isso por mim? Seria bom também apagar esta nossa conversa da minha própria memória, bem como a que tive com o seu pai. Para a proteção de todos, entende?


- Perfeitamente, senhora. Farei isso. Estarão seguros, confie em mim. As meninas não sabem de nada, sabem?


- Não, acho que não.


- De qualquer forma, vou verificar, se a senhora me permitir.  Bem, vamos conversar com seu marido. Vou pedir que ele me acompanhe num passeio pela floresta e farei o necessário lá. Depois cuidarei da sua memória.


- Está certo. Vamos.


Sirius e Regulus entenderam que seu pai e madame Leloush iriam estranhar se eles não estivessem nos estábulos com as meninas, então deram a volta na grande casa branca e correram na direção do estábulo.


- Lá estão elas! – apontou Sirius, com um brilho no olhar.


Sophie e Simone estavam brincando na neve. Sirius e Regulus pararam por alguns instantes para observar. A imagem era realmente hipnotizadora: duas garotas vestidas elegantemente em cores quentes e luvas branquíssimas, corriam e saltavam, ora escondendo ora se mostrando, rindo alto enquanto jogavam bolas de neve uma na outra. Sirius saiu correndo em direção à Simone, derrubando-a na neve fofa quando tentou abraça-la desajeitadamente. A menina de olhos azuis e cabelos ruivos como os da irmã sorria para ele, estendendo a mão para que ele a ajudasse a se levantar. Sirius estendeu o braço, mas ao invés de ajudar Simone a levantar, foi puxado em direção à neve fofa e caiu, rindo alto. Imediatamente Simone ficou muito vermelha. Sirius estava muito próximo dela e eles podiam sentir o calor da respiração um do outro. Os dois ficaram assim por alguns minutos, encarando-se um do lado do outro, sem parar de rir. Sophie e Regulus se aproximaram vindo de lados opostos, ambos franzindo a testa sem entender bem o que estava acontecendo. Então após examinar a expressão tola no rosto de Sirius, ficou claro para o pequeno apanhador: o irmão estava de fato apaixonado. Regulus sorriu e cumprimentou as meninas.


- Olá, garotas! Como tem passado?


Sophie sorriu:


- Estamos bem, chegamos em casa ontem à noite. Mamãe avisou que vocês também viriam para cá passar o natal... Não víamos a hora de vocês chegarem! – ela completou, olhando para a irmã ainda deitada na neve.


- Nós chegamos hoje cedo aqui, passamos a manhã toda jogando com o papai e o vovô. Parece que o vovô fez algumas mudanças no campinho de quadribol...


- Ah, sim! Mamãe comentou. – disse Sophie animada. Então olhou para Sirius e Simone ainda deitados na neve, as mãos se tocando de leve – vocês vão passar a tarde inteira aí deitados?


- Vamos! – respondeu Sirius, jogando um punhado de neve em Sophie.


- É guerra, então? – respondeu a menina, enchendo as mãos de neve, com um sorriso no rosto.


- Sim! – disse a irmã, sentando-se e jogando um punhado de neve em Regulus.


Neste instante chegaram seu pai e madame Leloush. Orion cumprimentou as meninas e entrou no estábulo. Sirius e Regulus acompanharam o pai com o olhar. Na cabeça de ambos se passava a mesma questão: porque o pai dissera que iria andar à cavalo com um tempo daqueles?


A resposta que ele queria chegou mais rápido do que eles haviam imaginado, seu pai sai do estábulo montado em um cavalo das neves, acompanhado por senhor Leloush e seu cavalo. Mas neste momento Sirius e Regulus estavam mais interessado em brincar na neve do que examinar o que o pai estava a fazer.

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