Leituras Instrutivas
Já haviam se passado duas semanas desde o início das férias de verão. Regulus havia separado alguns livros que achara muito interessantes, seja por suas figuras bizarras, seja pelo conteúdo. Ele os lia com avidez, embora achasse que ninguém um dia poderia reproduzir tal tipo de magia. Eram coisas horrendas e muitas vezes envolviam sacrifícios de criaturas mágicas como unicórnios, centauros e fênix ou até mesmo de humanos. Ele os lia como trouxas assistem a filmes de terror: curiosidade e pela emoção que lhe causava. Por vezes sentia os pelos de sua nuca arrepiarem, ou um calafrio ao ver ingredientes repugnantes para o preparo de poções suspeitas ou rituais que envolviam sacrifício. Ele tinha a impressão que até o livro estremecera um pouco enquanto lia a descrição de alguns rituais.
No quarto ao lado, logo após o almoço, seu irmão andava de um lado para outro, inquieto. Sirius já havia se cansado de perambular pelo bairro, exibindo suas habilidades como subir em árvore, correr de bicicleta ou de skate para os garotos e garotas trouxas da vizinhança. O que, naturalmente, ele fazia sem o consentimento de seus pais, embora o pai costumasse fazer vista grossa para as saídas de Sirius, já que era muito difícil mantê-lo dentro de casa e evitar confusões ao mesmo tempo. a solução que encontrou foi passar algumas horas na companhia do irmão, que estranhamente lia sem parar.
Naquela manhã Sirius, para acompanhar Regulus, pegou na biblioteca todos os livros sobre Transfiguração que encontrara e os dois se divertiram, mostrando um para o outro figuras bizarras ou lendo trechos em voz alta. Ler definitivamente não era o que Sirius mais gostava de fazer. Aquela manhã tinha sido o suficiente, não repetiria a dose à tarde. Ele precisava de ação e passar as férias dentro de um quarto, acompanhado de livros que cheiravam mofo – para se dizer o mínimo – não fazia parte dos seus planos. Decidido, foi ao quarto do irmão. Regulus estava sentado em sua cama, lendo um grande livro chamado “Segredos da mais negra magia”, quando Sirius entrou em seu quarto sem bater:
- Vai passar o verão inteiro aqui, Reg? Vamos lá fora tomar algum ar...
- Já vou... Sir, este livro é a coisa mais inacreditável que já vi... Estou lendo este capítulo em que se ensina a fazer um Inferi! Você acredita nisso?
Sirius riu em resposta. Depois disse:
- Claro que acredito! Onde você acha que nossa mamãezinha encontra inspiração para decorar a casa?
Regulus virou os olhos para cima e bufou:
- Sir, você precisa parar de implicar com a mamãe! E não tem nada parecido com um inferi aqui em casa!
- É você tem razão... Podemos resolver isso: você pode me transformar num Inferi depois que eu morrer, Reg. Mas me prometa que vai me usar para correr atrás de garotas trouxas bem bonitinhas...
- Isso não tem graça, Sir! – disse Regulus, jogando um travesseiro contra o irmão.
Sirius apanhou o travesseiro e disse:
- E aí? Vamos parar de ler essas bobagens e dar umas voltas?
- Só mais um capítulo, só...
- Está bem, te espero lá embaixo. Já terminei meu livro esta manhã e agora tô a fim de fazer outra coisa...
Sirius desceu as escadas e saiu pela porta da frente da casa, onde sentou-se no degrau mais alto e ficou aguardando o irmão, enquanto olhava o movimento dos trouxas que iam e vinham com sacolas, cachorros e carrinhos de bebê.
O livro que Regulus lia era mesmo um show de horrores. Em todos os parágrafos haviam coisas escritas que colocavam os pelos de sua nuca em pé. Mas talvez o mais horrendo era um que falava sobre o ritual de preparação de uma Horcrux, que era um objeto em que um bruxo ou bruxa poderia guardar parte de sua alma para poder voltar a viver depois que seu corpo fosse destruído. Ideia a princípio, tentadora. Mas o ritual consistia em uma longa sequência de atos abomináveis em rituais baseados na dor e no desespero, o que supostamente deixaria a alma do praticante vulnerável. O ritual todo culminava com um assassinato, necessário para que a alma do assassino se rompesse para que a parte rompida fosse armazenada. A sequência dos atos era tão violenta que fez com que Regulus largasse o livro de lado e corresse ao banheiro para vomitar. Nunca havia pensado em algo tão repugnante. Nem a magia para fazer inferis chegava a esse nível de horror.
Após vomitar todo seu almoço, ele voltou para o quarto, pegou o livro cuidadosamente e o levou de volta para a biblioteca, único cômodo do segundo andar da casa. Então guardou todos os livros que ainda havia separado para ler. Não queria repetir essa experiência. Depois saiu da biblioteca, desceu as escadas rapidamente, sem ao menos notar sua mãe que conversava em voz baixa com seu pai na sala de estar no andar de baixo, ou Kreacher, que tirava o pó da louça com o brasão da família Black na sala de jantar. Seus olhos estavam focados na porta no final do corredor mal iluminado: a saída para a rua, a luz que vinha pela fresta debaixo da porta. Ele precisava de luz, desesperadamente. Abriu a porta de sopetão e encontrou o irmão ainda sentado nas escadas:
- O que vamos fazer, Sir?
- Estava pensando em tomar um sorvete, o que você acha?
- Ótima ideia! Vamos!
Qualquer coisa para esquecer o que havia lido, pensou Regulus. E os dois seguiram pela calçada, brincando de empurrar um ao outro, rindo e assobiando para as garotas que cruzavam seu caminho.
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