Encontros e desencontros: Rach
Azarar Rachel ficou fora de cogitação nos dias que se seguiram. Na verdade, no mês inteiro que se seguiu, pois além de pouco encontra-la, a vigilância por parte dos professores e dos monitores havia recaído sobre os alunos do primeiro ano como a luz do sol do meio-dia: nada se podia fazer que não fosse notado. Regulus, em sua ânsia por mostrar suas aquisições, havia pedido para os companheiros de quarto se algum deles se prontificava a ser azarado, porém ele não demonstrou ter certeza de que saberia desfazer o feitiço, o que desencorajou a todos.
Era quarta-feira, dia 14 de fevereiro. Durante a aula de Herbologia, uma garota do segundo ano que Regulus normalmente via na companhia de Severo Snape, vai até o seu encontro:
- Regulus Black? Uma pessoa pediu que entregasse isso para você, com urgência.
- Ahn? Quem?
- Desculpe, não posso dizer. Faz parte do meu trabalho. – ela disse, apontando para o peito onde havia um crachá vermelho em formato de coração, escrito: “Lily – Cupido”.
Ele olhou o crachá e disse, timidamente:
- Ah, está bem. Obrigado, Lily.
Regulus recebeu um envelope rosado, amarrado com uma fita de cetim vermelha. Dentro do envelope havia o seguinte bilhete:
“Eu adoraria encontra-lo mais tarde na festa do professor Slughorn.” Nada mais. Sem remetente. Ele não reconhecia a letra, mas não conhecia a letra de nenhuma garota, pois nunca havia trocado bilhetes com nenhuma delas. Não era a letra de seus amigos lhe pregando uma peça, nem mesmo a de seu irmão. Ele havia sido convidado para a festa do dia dos namorados que Slughorn estava promovendo. De qualquer forma, iria. Guardou o bilhete no bolso da calça, tomando o cuidado para que ninguém visse, embora a entrada de Lily na estufa número 1 não tivesse passado desapercebida.
- O que a garota do Snape queria? – Perguntou Amifidel, curioso.
- Ahn, acho que ela é só amiga do Snape. Ela queria entregar um convite para a festa do Slughorn de hoje á noite.
- Ué, mas você já não recebeu um na semana passada, do próprio professor, ao final da aula de poções?
- Recebi. Pois é. Acho que o professor esqueceu. – disse Regulus, desconversando.
Após a aula, Regulus caprichou no banho, escovando as mãos escurecidas pelo sumo dos talos de Bico-de-papagaio (Poisenttia) que a professora Sprout havia recebido de um amigo do México, e dado para os alunos partirem durante a tarde inteira, para ser armazenado.
Cuidadosamente, Regulus penteou o cabelo e vestiu-se com elegância, uma camisa preta de seda, um sobretudo de linho forrado com lã, negro como a noite, as calças pretas, levemente mais largas na extremidade, cobriam quase totalmente o sapato de couro, que brilhava como um espelho – obra de Kreacher. Olhou-se no espelho e sorriu, soltando o ar que guardava no peito. Quem seria ela? Pegou sua roupa suja e verificou novamente o bilhete. Então largou-se sobre um banquinho no canto do banheiro: devia ser uma brincadeira. Com certeza Sirius acharia muito divertido ver o irmão procurar por uma garota misteriosa a festa inteira... Mas veria? Sirius fora convidado? Regulus não sabia dizer. Então levantou-se e voltou para seu dormitório, para guardar suas roupas. Os outros garotos ainda não haviam voltado do salão principal, sem pressa, ele guardou seus pertences e saiu. À porta da sala comunal, ouviu um barulho às suas costas. Virou-se. Era Severus Snape, também vestido todo de negro, em sua melhor roupa, o cabelo surpreendentemente sedoso após o banho.
- Você também vai na festa do Slug? – perguntou Regulus.
- Vou.
- Vamos juntos, então?
Severus o examinou da cabeça aos pés e respondeu:
- Vamos, Black.
Os dois seguiram pelos corredores chegando rapidamente à festa do diretor da Sonserina. Antes mesmo de abrirem as portas, já conseguiam ouvir que a música era alegre, bem como as conversas que a permeavam. Severus pegou a maçaneta e entrou, confiante, seguido por Regulus, que ainda estava um pouco receoso por conta do bilhete. Professor Horace logo os avistou e veio recebe-los de braços abertos.
A sala estava muito arrumada em tons de rosa e vermelho, até mesmo um tanto enjoativa, perfumada e parecia ter sido enfeitiçada para ficar maior e abrigar mais pessoas do que normalmente se veria por ali. A festa estava lotada de pessoas que Regulus não conhecia, incluindo algumas celebridades. Severus logo encontrou Lily e sumiu na multidão. Sentindo-se um pouco deslocado, Regulus vagou pela festa. Não havia nem sinal de Sirius ou seus amigos, então talvez não fosse uma brincadeira. Poderia mesmo haver uma garota esperando por ele.
No centro da sala havia um grande tubo de vidro com uma poção rosa, borbulhante, que exalava um perfume muito curioso na opinião de Regulus, que ele não conseguia decifrar. No topo do tubo, que media bem mais de um metro e meio de altura, pairava uma machadinha, flutuando no ar e, suspensa sob ela, por um cordão dourado, um imenso coração de cartão, que dizia:
“Em caso de desespero extremo, quebre o vidro”. Logo abaixo, via-se uma etiqueta: “Amortentia, preparada por Horace Slughorn em jan/1973”.
Regulus ficou parado, aparentemente hipnotizado pelas bolhas que subiam e desciam dentro do líquido, quando avistou através dele o rosto arredondado e sorridente de Alice. Seu vestido lilás cobria-lhe os pés e balançava suavemente quando ela se aproximou e disse:
- Interessante, não?
- É, muitas bolhas... – respondeu ele, corando.
- Você está gostando da festa?
- Ah, acabei de chegar.
- Estranho, não? Nunca estive numa festa assim antes, acho que meus pais sempre me consideraram criança demais para isso. – ela disse, sorrindo, os olhos desfocados.
- Ah, minha primeira vez também... Você está gostando? – Ele perguntou, sem saber o que dizer ou onde colocar as mãos.
- Legal, um pouco barulhenta. – ela respondeu olhando para os lados e sorrindo novamente.
- O que você quer fazer... Hum... dan... dançar? - ele acabou dizendo, visto que havia acabado de perceber que estavam no meio da pista de dança.
Alice não respondeu de imediato, então ele levantou as sobrancelhas e mordeu os lábios. Estava muito curioso para saber se ela era quem havia mandado o bilhete.
- Dançamos mais tarde, ok? Que tal alguns petiscos? Eu estava olhando eles na mesa, são todos tão bonitos e coloridos que até dá dó de comer! Venha ver!
Alice puxou Regulus pela mão, guiando-o no meio da multidão. Regulus já não sentia o chão por onde passava, parecia estar flutuando. Mas uma voz o trouxe rapidamente para o chão:
- Black!
Alice subitamente parou, Regulus quase caiu sobre ela. Virou-se para olhar, embora não precisasse, pois reconheceria aquela voz em qualquer lugar: Rachel. Ela estava linda em um vestido longo azul marinho, com ombros à mostra e um echarpe caindo pelas costas, parecendo levemente mais velha. Alice rapidamente soltou a mão dele.
- Oi, Rachel. – disse Regulus, desanimado.
- Oi, Black... e você é?
- Alice MacMillan. Nós fazemos aula de Trato de Criaturas Magicas juntas, lembra?
- Ah, é... acho que já vi você lá... – respondeu Rachel, desinteressada. – Onde estão indo, Black?
- Vamos comer alguma coisa...
- Ok, vou com vocês.
Vou com vocês??? Como assim? Quem convidou? Eles chegaram à mesa, belissimamente arrumada, até mesmo os canapés eram em formato de coração. Regulus e as duas meninas comeram um pouco, Rachel sem parar de falar um minuto, chamando a atenção de Alice para os vestidos das outras alunas, quase sempre com um comentário desdenhoso. Regulus apenas ouvia, desejando que Rachel se cansasse logo deles e fosse atormentar outra pessoa com sua conversa desinteressante. Por fim, ela falou:
- Estou com vontade de dançar.
Imediatamente Regulus abaixou a cabeça e fingiu não ouvir. O que não passou desapercebido. Rachel, com o orgulho ferido, falou:
- Você acha que sou louca de querer dançar com você, Black? Tenho dó dos meus pés e meus sapatos novos não suportariam ser pisoteados pelos seus pés desajeitados. Vou dançar com alguém mais interessante... – e dizendo isso, ela escorregou o echarpe dos ombros e sorriu para um garoto do 4º ano que passava. Imediatamente ele a convidou para dançar. Então Regulus voltou-se para a mesa, onde deveria estar Alice, dizendo:
- Finalmente nos livramos dela... Alice? – ele falou, procurando pela garota que também sumira na multidão. Regulus não havia notado, mas assim que Rachel falara em dançar, Alice saiu de fininho, pois achou que estava sobrando.
Regulus a procurou por toda a festa e não a encontrou, então resolveu ir embora. Já estava quase na saída quando avistou Severus conversando animadamente com Lily. Seus olhos brilhavam e ele sorria de uma forma nunca vista antes por Regulus, que suspeitou que o colega tivesse tomando Amortentia, mas em sua mão, apenas um cálice com cerveja amanteigada, ainda cheio. Black sorriu tristemente e acenou ‘tchau’ para Snape, que não viu nada.
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