At the Headquarters
Disclaimer: Harry Potter não me pertence e tudo que vocês reconhecem pertence a J.K. Rowling. Essa história também é inspirada em “A Shattered Prophecy”, do Project Dark Overlord.
Chapter Sixteen – At the Headquarters
James e Harry pousaram com um doloroso baque no chão da sala de estar, a queda deixando ambos sem fôlego. O auror não perdeu um segundo e colocou-se sobre as mãos e joelhos, sua mente focada em apenas uma coisa: Harry.
Ele o viu, deitado de costas, a respiração áspera e cansada. Mesmo assim, o jovem tentava se virar de frente para poder se levantar. O mais velho não lhe deu a chance, agarrou-o pelo colarinho e o puxou grosseiramente para encará-lo.
- O que diabos achou que estava fazendo? – gritou com ele. – Estava tentando voltar? Voltar para ele? – O medo de quase perder o filho pulsou de novo, fazendo-o ficar quase histérico de pânico. – Sabe o que você fez? – continuou, sacudindo o garoto rudemente. – Acabou! Não vão te dar outra chance! Você tentou fugir, acabou! Acabou de assinar sua sentença de morte! – trovejou James, esmorecendo com a noção de que agora não haveria um julgamento. O Ministério não concederia outra chance ao adolescente, não depois que tentou escapar. Iam sentenciá-lo sem um julgamento e só havia uma sentença para Harry: o beijo do dementador.
Ao perceber que o filho agora estava morto, o auror sucumbiu, completamente arrasado. Soltou uma das mãos das vestes do jovem para passá-la pelo cabelo, um hábito que tinha quando estava extremamente aborrecido ou irritado. Quando a levantou, o garoto se encolheu, fechando os olhos e afastando-se dele. Uma de suas mãos subiu em reflexo, protegendo o rosto.
James parou, encarando Harry e sua reação com os olhos arregalados.
“Ele acha que vou batê-lo”, percebeu.
Foi então que o auror parou, notando que seu comportamento com o filho foi tão áspero que não era de admirar que Harry pensou que ele estava prestes a batê-lo. O homem olhou para as mãos e viu que ainda agarrava o colarinho do garoto, tinha acabado de gritar e berrar com ele e até o sacudira violentamente. Encontrou os olhos cheios de dor do filho e viu neles o olhar desconfiado, a expectativa de um golpe vindo em sua direção. O auror afrouxou completamente o aperto e afastou-se. Estava física e emocionalmente drenado, e, no momento, tudo que podia fazer era afastar-se para mostrar que não fez por mal.
Harry caiu no chão, respirando pesadamente. Ele apenas ficou lá, derrotado e claramente sentindo dor. Fechou os olhos, respirando fundo para se acalmar. Uma de suas mãos alcançou bem embaixo das costelas e ele as pressionou, abafando um gemido.
O auror moveu-se na direção dele quando, de repente, membros da Ordem entraram na sala por portais. James parou e ergueu os olhos do chão quando Moody, Kingsley, Tonks e Sturgis apareceram. Alastor encontrou seus olhos sofridos por um breve momento antes de focar-se no garoto. Fez gesto para Kingsley e Sturgis, e os três membros da Ordem foram até Harry. Tonks correu para James, verificando se estava ferido. Mas ele mal a notou, os olhos fixos no filho.
Kingsley e Sturgis agarraram os braços do adolescente com firmeza e o colocaram de pé. Um suspiro sufocado e doloroso lhe escapou ao ser erguido. Olho-Tonto moveu-se para ficar diante dele. O auror cheio de cicatrizes não disse uma palavra, mas começou a revistá-lo, os dedos nodosos cutucando e espetando seu tronco, vasculhando os bolsos das vestes de Ferguson. Puxou a varinha roubada do auror e o que restava das lâminas e armas do jovem.
Harry mal conseguia ficar de pé sem os dois aurores lhe segurando, mas ainda olhou furioso para Moody, as mãos lutando inutilmente no aperto dos aurores, instintivamente tentando impedi-lo de desarmá-lo. O garoto rangeu os dentes quando Alastor revistou seu tronco, procurando por mais armas escondidas. Quando convencido de que não havia mais armas nele, o homem recuou, encarando o rapaz com ódio.
- Levem-no para cima – instruiu ele.
Kingsley e Sturgis o arrastaram para fora da sala e escada acima. Harry não estava em posição de lutar enquanto os aurores o empurravam pela escada escura. Foi forçado para dentro de um quarto e jogado no chão. O jovem arquejou de dor, sua visão nublando enquanto a agonia o percorria. Virou a cabeça, distinguindo apenas a imagem difusa dos dois homens fechando a porta, deixando-o sozinho. Um alto clique lhe disse que a porta agora estava trancada. Não se mexeu, ficou onde estava, deitado de bruços, concentrando-se apenas em respirar.
Lentamente, colocou-se sobre as mãos e joelhos, tentando se sentar. Só conseguira se endireitar, estando ainda de joelhos, quando a dor formigante em sua cicatriz começou a queimar lentamente. Caiu para frente com um grunhido, uma mão na testa, a outra estendida para não cair de cara no chão. A dor aumentou mais rápido que jamais antes. O adolescente lutou para respirar, a dor era de uma intensidade tão excruciante que inalar um único suspiro era uma luta.
Harry contorceu-se no chão em agonia, cerrando os dentes com tanta força que seu queixo doía. Os olhos fechados com força e os dedos enterrados na cicatriz, tentando com todas as forças parar a dor, ou ao menos diminuí-la de alguma forma. Jamais a sentira doer com tamanha ferocidade. Por outro lado, seu pai nunca estivera tão irado antes. Saber que o plano para salvar seu filho fracassara provavelmente o deixaria mais que chateado.
Um forte cheio de cobre inundou suas narinas antes que sentisse uma umidade permear de seu lábio superior até a boca. Sua mente torturada pela dor lhe disse que seu nariz devia estar sangrando. O adolescente forçou os olhos a se abrirem, e, com a mão livre, tocou o lábio e afastou os dedos para vê-los manchados de sangue. Sentiu-se repentinamente apavorado pela visão de seu sangue. Seu nariz nunca tinha sangrado antes.
A cicatriz continuou queimando e, com isso, o nariz começou a sangrar livremente. Ele abafou os gritos de agonia, não queria chamar a atenção de uma casa cheia de inimigos quando estava em seu estado mais vulnerável.
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James ficou de pé enquanto Harry era puxado e arrastado para fora da sala. Não disse nada a Moody e observou o auror colocar todos os itens que tomara do garoto sobre a mesa. Na realidade, não conseguia encontrar as palavras certas. Como é que podia ficar com raiva de Alastor por simplesmente fazer seu trabalho? Eles tinham que desarmá-lo e tinham que mantê-lo trancado em um quarto, por enquanto, em todo caso.
Olho-Tonto olhou em volta e os dois aurores se entreolharam, mas nenhum deles falou. Em seguida, mais um punhado de membros da Ordem chegou via Chave do Portal. James se virou e viu Remus e Sirius entre eles. Sacudiu a cabeça para os dois, as emoções o derrotando novamente.
- Sinto muito – começou ele. – Sinto muito, eu me apavorei – explicou enquanto os dois amigos corriam até ele. – Eu... eu o vi prestes a se transportar e simplesmente reagi. Eu não podia aparatar com ele por causa dos escudos... eu não sabia o que fazer. Eu só... eu trouxe Harry para cá. Foi a única coisa na qual pude pensar. Voldemort não pode pegá-lo aqui.
- James, está tudo bem – assegurou-lhe Remus.
- Você fez a coisa certa – acrescentou Sirius. – Foi uma atitude inteligente.
- E você está certo – disse Remus. – Voldemort não pode pegá-lo aqui.
- Ninguém achou que ele chegaria ao Ministério também – comentou Tonks estremecendo. – Talvez trazê-lo para cá não tenha sido uma atitude tão inteligente.
James passou a mão pelo cabelo, o coração dando cambalhotas no peito. Ele ignorou a auror.
- Não consigo acredito que ele quase escapou. – James passou a mão pelo rosto. – Ele tinha acabado de pisar no limiar dos escudos anti-portais. Mais alguns segundos e teria ido embora, desaparecido e Voldemort teria garantido que nunca mais nos aproximássemos dele novamente.
- Bem, é ele quem não vai se aproximar de Harry nunca mais – disse Sirius, com um sorriso confiante. – Nós o pegamos de volta e não vamos entregá-lo, a ninguém.
Moody olhou para Sirius, seu olho mágico girando na órbita. O moreno encontrou o olhar do companheiro de trabalho e membro da Ordem. Alastor era o único membro da organização que sentia-se feliz em deixar Harry com o Ministério.
James sacudiu a cabeça com as palavras do amigo.
- Fudge não vai abrir mão dele – disse temeroso. – Vai querer ele de volta e dessa vez, dessa vez não haverá julgamento. Ele vai ordenar o beijo! – Ele voltou o olhar petrificado para os amigos. – Como posso salvar Harry agora? O que eu faço?
- Mantenha-o longe do Ministério.
Todos se viraram para encarar quem havia falado. Dumbledore estava em pé na porta, parecendo ter estado lá o tempo todo. Os demais ficaram imaginando como o bruxo chegara sem eles saberem. Se tivesse se transportado como o restante, teria chegado à sala de estar também. O bruxo entrou na sala, ignorando a maioria deles. Caminhou até James e pôs uma mão em seu ombro.
- Você fez a coisa certa ao trazê-lo para cá. Ele ficará protegido. Ninguém, o Ministério ou Voldemort, pode tirá-lo daqui. Ele estará seguro.
James sentiu o alívio, finalmente, preenchê-lo com as palavras de Dumbledore. Ofertou um sorriso cansado e assentiu.
- O que diremos ao Ministro? – perguntou, a preocupação evidente em sua voz.
- Deixe Cornelius comigo – disse Dumbledore calmamente. Ele tornou a olhar para James, notando a preocupação em seus olhos cor de avelã. – Assim foi melhor para Harry. Não importa o que fizéssemos ou o quanto enfrentássemos o julgamento, havia uma grande chance de ele não sobreviver. Cornelius já decidira sobre o beijo e eventualmente teria conseguido. Agora, no entanto, nós temos Harry, vivo e a salvo. – O diretor sorriu. – Agora o Ministro vai escutar o que temos a dizer.
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Harry tropeçou para dentro do pequeno lavatório, segurando-se na pia para se firmar. Olhou seu reflexo no espelho, captando a horrorosa visão de sangue nos seus lábios e queixo. Abriu a torneira e deixou a água fria escorrer pelas mãos trêmulas. Salpicou água no rosto, limpando as manchas de sangue. Em seguida, respingou água na cicatriz dolorida. A dor diminuíra ao ponto de se tornar suportável, mas ainda ardia. Sabia que levaria várias horas para ela ir embora completamente, se aquilo sequer fosse possível com seu pai tão irado quanto estava. Forçou-se a não pensar no bruxo e em como deveria estar em casa agora com ele, não preso e mantido prisioneiro pela Ordem. Desligou a torneira e tornou a olhar seu reflexo, o rosto molhado, mas limpo.
Respirou fundo, preparando-se para o que estava prestes a fazer. Cuidadosamente e com movimentos lentamente calculados, tirou as vestes e a camisa. Examinou os machucados e o tronco ensanguentado no espelho, fazendo careta para o estrago.
Os machucados que recebera ao cair de dois andares no dia que foi capturado não foram tratados em Nurmengard, então ainda estavam visíveis. Mas as escoriações circulares formando-se depressa em seu peito eram novas, resultado de seja qual for o feitiço que James Potter lançara nele. O encantamento o atingira com tamanha força que o atirou do outro lado da rua, colidindo com a vitrine de uma loja. A queda pela vidraça era a maior razão de estar sentindo tanta dor agora. Olhou para as laterais de seu corpo, passando a mão lentamente pelas costelas. Mordeu o lábio ao sentir os cacos de vidro profundamente cravados em sua carne. Examinou os braços e viu pequenos cortes na parte externa deles. Virando-se de costas para o espelho, olhou para o reflexo e viu vários cortes espalhados nas costas. Um olhar atento e podia quase ver os pedaços brilhantes de vidro em alguns cortes.
Harry virou-se para encarar o espelho e, por um momento, apenas ficou ali, preparando-se. Aquilo ia doer, muito!
Pegou as vestes descartadas e procurou nos bolsos, tirando a pena que apanhara da mesa perto da janela. Foi a única coisa útil que encontrara no quarto no qual estava trancado. Segurou a velha pena na mão e fechou os olhos, tentando relaxar o máximo possível. A pena foi transfigurada em um par de pinças de ponta lisa. Agarrou a toalha pendurada na porta do banheiro e dobrou-a duas vezes, para que ficasse mais grossa e curta.
O adolescente acreditava estar sozinho no meio de inimigos que não iam curá-lo, nem ajudá-lo. Respirou fundo, mordeu a toalha e estendeu as mãos para a lateral do corpo, puxando um pedaço afiado de vidro entalhado bem embaixo de suas costelas. O fragmento saiu facilmente, preso entre as pontas da pinça. Harry derrubou o pedaço de vidro ensanguentado na pia, respirando pesadamente.
Continuou puxando os pedaços de vidro de seu corpo, um por um, dos lados, dos braços e até alguns das costas, a toalha efetivamente abafando seus gritos.
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A lareira em Grimmauld Place, número 12, ficou verde e Lily saiu correndo. Ela avistou o rosto cansado do marido na multidão reunida ao redor da mesa e correu em sua direção. James levantou-se ao avistá-la.
- Ah, graças a Deus você está bem! – disse ela, abraçando-o com força. – Eu estava ficando maluca de preocupação, esperando você chegar em casa.
- Eu sei, me desculpe – respondeu ele. Esquecera completamente que tinha dito à esposa que ia para casa com Harry. – As coisas ficaram muito loucas.
Ele lhe explicou o que aconteceu no Ministério após ela sair. Lily sentou-se à mesa, escutando com espanto o esposo lhe contar em detalhes como o garoto quase se transportou de volta para Voldemort.
- Ah, Merlin! – suspirou ela. – Ele estava lá? – perguntou referindo-se ao Lorde das Trevas. Seus olhos verde-esmeralda corriam em volta da sala freneticamente. – Onde está Harry? Ele está bem? – perguntou.
- Ele está lá em cima – respondeu James. – Kingsley e Sturgis o levaram a um dos quartos. – Os olhos da ruiva dispararam para a porta, mas ele já segurara sua mão, impedindo-a de se levantar. – Não, Lily, apenas... apenas dê a ele um pouco de tempo para... se acalmar – disse com dificuldade. – Ele não vai querer falar com ninguém agora.
A ruiva não disse nada, mas continuou sentada. Estava desesperada para ver o filho, mas sabia que o esposo estava certo. O garoto devia estar muito irritado agora para ver ou falar com alguém, mesmo com ela.
- O que aconteceu agora? – perguntou ao marido. – Com Harry, quero dizer?
James olhou para Dumbledore, sem saber qual seria o futuro do filho. O diretor olhou para Lily, levando um tempo para falar.
- Eu vou falar com Cornelius hoje à noite. No momento ele não sabe que a Ordem está com Harry. Provavelmente acha que ele está de volta com Voldemort – explicou o bruxo. – Estou certo de que ficará muito aliviado ao descobrir que não é o caso. Sua reputação, que lhe é muito cara, teria sido manchada para sempre se Voldemort tivesse conseguido levá-lo embora. – O brilho voltara aos seus olhos azuis. – Acho que o Ministro pode ser facilmente convencido a deixá-lo ficar aqui. Ficará com medo de transferi-lo a uma prisão, caso também seja atacada por Voldemort. Estou confiante que Fudge vai me escutar quando lhe disser que é mais seguro mantê-lo no quartel-general da Ordem. Voldemort não pode atacar a sede, não até que eu seja seu fiel do segredo.
- Não sei, Albus – disse Minerva preocupada. – O Ministro pode não querer arriscar de novo. Pode exigir que você entregue o garoto para que possa destruí-lo.
- Ele não fará isso – assegurou Dumbledore, vendo a expressão apavorada dos dois Potters. – Fudge estará com muito medo de machucá-lo, especialmente quando acabou de ser lembrado que Voldemort pode chegar até ele se quiser. – Dumbledore olhou para James e Lily. – Harry é o escolhido – tornou a frisar. – Sua sobrevivência é prova disso. Voldemort sabe que ele é o destinado a matá-lo e, ainda assim, não matou a criança. Algum de vocês acreditaria se não vissem a prova por si mesmos? – Seu olhar percorreu os membros da Ordem sentados à mesa.
- Eu não entendo – disse Tonks. – Quero dizer, estou feliz que ele não tenha machucado Harry, mas não entendo o porquê. Por que Você-Sabe-Quem o deixou vivo?
- É simples – explicou Remus. – Ele podia ter matado Harry, mas, se o fizesse, estaria aceitando que uma criança de um ano de idade era uma ameaça para ele. O mundo teria feito do garoto um mártir e Voldemort teria sido ridicularizado, um Lorde das Trevas que teve de roubar um bebê no meio da noite e matá-lo porque temia que aquela criança pudesse destruí-lo quando ficasse mais velho. – O lobisomem sacudiu a cabeça. – Não, isso não era aceitável para alguém como ele. Ele acreditava na validade da Profecia, mas usou-a, distorceu-a, para atender aos seus propósitos. Ele fez de Harry, aquele destinado a destruí-lo, seu protetor, seu escudo.
- Posso vê-lo se divertindo com isso – disse Sirius com ferocidade. – O garoto que deveria matá-lo, matando sob suas ordens.
Lily desviou o olhar, o coração despedaçando com o lembrete do que seu filho se tornara: um assassino.
- Fudge vai ter que aceitar o destino de Harry – continuou Dumbledore, – e se não aceitar... – O bruxo suspirou profundamente. – Bem, como eu disse, ninguém vai tirá-lo daqui, nem Voldemort, nem os Comensais da Morte e nem mesmo o Ministro da Magia em pessoa.
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Harry saiu do lavatório com dificuldade. Sua visão embaçou e sentiu-se muito enjoado. Conseguiu chegar à cama e sentou-se, tentando fazer a cabeça parar de girar. Ficou assim por alguns minutos, concentrando-se em respirar, inspirando e expirando profundamente. Era a única coisa que podia fazer para contornar a dor em sua cabeça. Conseguira tirar todos os cacos de vidros das costelas, braços e ombros, mas ainda havia muitos enterrados nas costas. Não podia alcançá-los, então teve que desistir. Rasgara as vestes de Ferguson em tiras e as usara para estancar os piores sangramentos. O corte na lateral de seu corpo era o que mais sangrava, o bastante para preocupá-lo. A maioria dos outros cortes estava bem.
O garoto levantou a cabeça, olhando ao redor, aliviado por sua visão ter clareado. Notou o quarto quase vazio: um guarda-roupas de duas portas ao canto, a cama de colunas na qual estava sentado, uma mesa de cabeceira e uma escrivaninha com uma cadeira em frente à janela, era isso. Encarou a escrivaninha onde achara a velha pena que transfigurara nas pinças. Colocou-se de pé. Caminhou até ela, inclinando-se para olhar pela janela. Viu a rua lá fora, completamente deserta. Nem sequer um cachorro ou um gato à vista. Percebeu que estavam no mundo trouxa pela aparência da rua e os carros estacionados ao longo dela.
Subiu na mesa e empurrou a janela, levantando-a com dificuldade para abrir. Parecia que ninguém a abrira em décadas. O rangido fez muito barulho, mas ele empurrou mesmo assim. Estava no primeiro andar, não achava que o barulho seria ouvido no andar abaixo.
A lacuna na janela era larga o bastante para Harry subir por ela. Lenta e o mais cuidadosamente possível, empurrou-se pela abertura, mordendo os lábios quando seu corpo machucado e maltratado contestou à ação de deslizar. Harry conseguiu colocar-se no parapeito da janela.
Não estava tão alto, conseguiria pular sem se machucar muito. Avaliou a altura, fechou os olhos e pulou. Seus pés bateram no chão e abriu os olhos apenas para arregalá-los em espanto quando viu que estava no mesmo quarto do qual pulara. Havia um guarda-roupas ao canto, a cama de colunas manchada com seu sangue, a mesa de cabeceira e a escrivaninha com a cadeira próximas à janela aberta. O garoto caminhou até a mesa e olhou para fora. A mesma visão da rua calma e deserta encontrou seus olhos.
Harry se afastou da janela, xingando. Era um feitiço. Estava preso dentro daquele quarto e o único jeito de sair era pela porta trancada. Sabia que podia destrancá-la sem varinha, mas também sabia que após fazer isso, daria de cara com só Deus sabe quantos membros da Ordem. Não podia lutar com todos eles, não no estado que se encontrava, sem a varinha e quase sangrando até a morte.
Conseguiu voltar à cama e desabou sobre ela, deitando de bruços para proteger as costas que ardiam. Antes que pudesse evitar, seus olhos se fecharam e ele desmaiou.
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James bateu uma vez na porta e esperou. Não houve resposta. Percebendo que a porta estava trancada, xingou. “Ele não vai te convidar para entrar se está trancado!”, repreendeu-se mentalmente.
Sacando a varinha, destrancou a porta. Ao lado dele, sua esposa se mexeu, a mão já na maçaneta.
- Lily, espere – começou James, a mão descansando sobre a sua. – Deixe-me entrar primeiro.
Olhos verdes se estreitaram para ele.
- Por quê? – perguntou ela.
- Só quero ter certeza que ele está bem, sabe, que não vai atacar nem nada. – O auror tropeçou nas palavras.
- James, eu sou a mãe dele – respondeu ela. – Posso lidar com isso. Entendo que ele vai ser difícil, provavelmente está confuso, com medo e assustado. – Ela trocou de pé, aborrecida pelo filho estar tão angustiado. – Temos que mostrá-lo que não somos o inimigo, que apesar da situação ele não é um prisioneiro.
O auror franziu o cenho.
- Difícil quando na verdade estamos prendendo ele contra sua vontade.
- Bem, então, vamos ter que mudar a vontade dele para que queira ficar conosco – disse ela.
James assentiu e olhou para a porta novamente.
- Mesmo assim, espere aqui enquanto eu o vejo primeiro, o.k.?
Lily não parecia feliz, mas concordou com a cabeça.
- O.K., vá logo!
James abriu a porta e olhou para dentro. Viu Harry adormecido na cama. Sentiu o coração saltar no peito. “Quão exausto devia estar para cair no sono?”, pensou. Caminhou até o garoto, deixando a esposa na porta. Apesar de sua promessa, a ruiva entrou também, os olhos fixos no filho adormecido.
O auror parou ao lado da cama. Olhou para o adolescente, notando quão pacífico e calmo parecia. Estava deitado de bruços, como costumava fazer quando era um bebê. O homem agachou-se, levantando a mão para acariciar levemente seu cabelo. Era incrível ter o filho de volta após acreditar por quase quinze anos que ele foi brutalmente assassinado. Seus dedos mal tocaram as pontas das mechas escuras do rapaz quando os olhos dele se abriram de repente.
James congelou, percebendo o pânico nos olhos esmeralda o encarando. Num piscar de olhos, Harry rolou para o outro lado da cama e saltou fora dela. O garoto se abaixou, abrigando-se por trás da cama. Ele respirava pesadamente, uma mão agarrada às costelas, mas os olhos fixos no mais velho. A outra mão levantou e o homem viu a cadeira vir voando do outro lado do quarto até ele.
O auror se moveu, empurrando-se para fora do caminho da cadeira convocada sem varinha, que atingiu a parede com um estrondo e caiu no chão, quebrada.
- Whoa! Harry! – gritou James, levantando as mãos. – Está tudo bem. Não vou te machucar.
O adolescente estreitou os olhos para ele com raiva. Sua mão tornou a se erguer e a mesa veio na direção do auror. Dessa vez, ele não conseguiu sair do caminho rápido o bastante e o objeto o atingiu, jogando-o dolorosamente no chão.
Lily gritou com a visão do marido caindo. Sacou a varinha num piscar de olhos, mas hesitou em azarar o filho. Viu a mão do jovem se erguer novamente e, dessa vez, o guarda-roupas flutuou, prestes a ser lançado sobre James.
- Harry! Não! – A ruiva correu pelo quarto, parando diante do auror, que levantara do chão.
Ao escutar o grito, o garoto olhou para ela, hesitando com a mão que ainda levitava o guarda-roupas, suspendendo-o no ar. Ele a encarou, sua expressão ilegível. De repente, sua face nublou de raiva e o jovem moveu a mão para mirar no casal. O guarda-roupas veio para eles, mas ambos saltaram para fora do caminho, e o objeto atingiu a parede com um estrondo.
James e Lily estavam com as varinhas em punho e miraram nele, mas se recusavam a atingir o filho. Podiam ver que Harry estava agindo por estar nervoso e com medo. Tinham que acalmá-lo, não alimentar mais o medo ao atacá-lo.
- Harry, por favor, apenas espere e escute… - tentou a ruiva, mas o adolescente já estava apontando para a cama ao lado.
A cama levantou no ar, pairando a vários centímetros do chão. Mas antes que pudesse lançá-la sobre eles, cambaleou alguns passos para trás, seu rosto empalidecendo de repente. Uma expressão de dor cruzou-lhe o rosto e ele se dobrou, as mãos enterradas nas costelas. A cama caiu com um baque. O jovem caiu no chão, gemendo em agonia.
- Harry? Harry? – Os dois correram para seu lado, apressando-se pelos restos de móveis quebrados.
O adolescente segurava as costelas, a respiração cansada e áspera. James o alcançou primeiro, Lily logo atrás. O homem tentou ver o que estava acontecendo, mas assim que sua mão repousou sobre as costas do jovem, ele se encolheu dolorosamente, como se tivesse sido queimado pelo toque. O garoto se afastou dos pais, o rosto contorcido de raiva e agonia. Ele apoiou-se contra a parede.
- Harry…? – O auror aproximou-se dele novamente, estendendo a mão.
- Não! – sibilou o rapaz para ele, encarando-o com ódio. – Não toque em mim!
James parou, a mão estendida para o adolescente. Seu olhar moveu-se do rosto do filho e focou-se em suas costelas, no ponto em que ambas as mãos estavam pressionadas. Foi quando viu a mancha escura na camisa preta e o sangue vermelho nas mãos de Harry.
- Você está machucado! – exclamou o auror, o coração saltando de medo.
Lily também viu e se aproximou, estendendo as mãos trêmulas para ele.
- Harry…?
- Eu disse, não toque em mim! – repetiu o garoto, a voz gutural de dor.
- Harry, por favor, você está sangrando – disse a ruiva, aproximando-se mais. – Por favor, deixe a gente te ajudar.
Os olhos cheios de dor do adolescente a encararam, e ela viu a raiva preenchê-los novamente.
- Eu não… preciso de sua… ajuda! – sibilou ele, o rosto perdendo a cor rapidamente.
- Harry! – James aproximou-se novamente, estendendo a mão para ele.
Um estalo antes de uma explosão de magia irromper ao redor deles. James e Lily foram jogados para trás, atingindo o chão com uma forte pancada. Eles se sentaram para olhar para o garoto, ainda pressionado contra a parede, olhando furiosamente para eles. Várias faíscas voaram na direção deles, advertindo-os para ficarem longe.
A porta do quarto abriu e vários membros da Ordem entraram correndo, varinhas em punho e prontos. Sirius estava com Kingsley, Remus e Moody. Seus olhares horrorizados assimilaram o quarto destruído com a mobília destroçada e bagunçada. Viram os três Potters a um canto do quarto e correram na direção deles.
- James! Você está bem? – indagou Sirius. – Ouvimos o estrondo e... nós...! – ele parou de falar quando viu o afilhado, o suor agarrado ao seu rosto, a expressão cheia de dor e as mãos segurando as costelas. – Harry? O que houve? – perguntou ele, o estômago contorcendo ao notar o sangue manchando suas mãos.
- Ele está machucado – disse Remus, ajoelhando-se ao lado de James. Os sentidos de lobisomem capturaram o cheiro de sangue mesmo antes de ver o garoto.
- Vou pegar algo para estancar o sangramento! – disse Sirius, correndo para pegar uma toalha no banheiro.
Harry sentiu-se perigosamente perto de desmaiar e lutou para manter-se consciente, para manter-se alerta enquanto cercado por inimigos.
Remus alcançou as mãos do adolescente, tentando afastá-las para poder ver porque estava sangrando tanto. As faíscas mágicas tomaram vida novamente, quase queimando o lobisomem.
Kingsley e Moody ficaram próximos à porta, seus olharem saltando do garoto ensanguentado para a mobília quebrada e os pais desesperados.
O grito de Sirius soou do banheiro.
- James! James, venha aqui!
O auror apressou-se, correndo para o banheiro.
- Quê? – questionou ele.
Sirius segurava uma toalha na mão, mas os olhos encaravam em choque a pia. James seguiu seu olhar e viu vários cacos de vidro manchados de sangue, sentindo a respiração sufocar no peito com a visão.
- Ah, Deus! – exclamou, aproximando-se da pia. Seu olhar encontrou a pinça repousando em uma pequena prateleira sob o espelho. – Ah, Deus! – gemeu ele, percebendo o que o filho devia ter feito.
- Eu não entendo. – Sirius sacudiu a cabeça. – Como isso aconteceu?
James sentiu-se enjoado e agarrou a pia, fechando os olhos com força.
- Fui eu – admitiu. – Eu o atingi acidentalmente e ele caiu numa vitrine de vidro. – O auror balançou a cabeça, a culpa brotando dentro de si. – Ele está ferido por minha causa.
O pai olhou para o filho. “Não é à toa que ele está jogando as coisas em mim!”, pensou. “Deve estar com medo que eu vá machucá-lo novamente!”, virou-se para encarar o amigo.
- Chame Dumbledore! – disse ele. – Diga a ele que precisamos de um curandeiro! Agora!
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Madame Pomfrey saiu da lareira com Dumbledore, sacudindo depressa a poeira das vestes. Encontrou imediatamente a forma pálida e apavorada de Lily.
- Ah, obrigada! Muito obrigada por vir, Poppy! – disse a ruiva. – Ficarei eternamente grata por sua ajuda – disse, abraçando a enfermeira e colega de trabalho rapidamente.
A mulher sorriu com firmeza. A verdade era que estava com um medo anormal de ir para lá. Dumbledore chegara à sua porta e pedira sua ajuda em um assunto particular. Como ainda estavam nas férias de verão e Hogwarts não estaria aberta nas próximas três semanas, Poppy ficara mais que intrigada com o que o diretor poderia querer com ela. Concordou e apenas no caminho até ali foi que Albus explicou que a estava levando ao quartel-general da Ordem da Fênix, uma sociedade secreta formada para lutar contra Voldemort, e que precisavam que ela checasse e possivelmente curasse o infame Príncipe Negro, que era, na verdade, Harry Potter, o filho mais velho de James e Lily Potter.
A enfermeira fizera muitas e muitas perguntas, às quais Dumbledore deu a mesma resposta, “falaremos em detalhes quando estivermos no quartel-general”.
Ela não tinha certeza se queria ficar perto de um Comensal da Morte, um assassino, mesmo que tivesse apenas dezesseis anos. Mas era uma enfermeira e fizera um juramento de ajudar àqueles que precisassem de um Curandeiro. Seguiu atrás do diretor quando Lily os conduziu às escadas e por um longo corredor escuro, em direção a um quarto com dois homens parados do lado de fora.
Moody assentiu para Poppy quando se aproximaram.
- Auror Alastor Moody – apresentou-se. – Esse é o auror Kingsley Shacklebolt. Não se preocupe, Madame Pomfrey, ficaremos com você o tempo inteiro. Não precisa ter medo.
Poppy sorriu e concordou com a cabeça.
- Tenho certeza que tudo ficará bem – disse ela com dificuldade.
Lily, que tentara ignorar a conversa, abriu a porta e conduziu os quatro para dentro. A enfermeira entrou, ofegando em voz alta com o estado do quarto. Havia madeira quebrada em todo canto. A mobília destruída pelo cômodo. Ela ouviu vozes e viu três homens ajoelhados diante de um jovem garoto, suplicando-lhe, o que o menino estava prontamente ignorando.
Os olhos de Poppy se arregalaram de choque quando olhou com mais atenção para o adolescente. Cambaleou alguns passos para frente, os olhos incrivelmente arregalados.
- Harry? – sussurrou ela.
Todos no quarto pararam, olhando ou para Poppy ou para o jovem extremamente surpreso, que virara a cabeça ao ouvir o fraco som de seu nome e encontrara o olhar da enfermeira.
- Ah, meu Deus… é você! Harry! – A mulher correu até ele.
James, Remus e Sirius afastaram-se imediatamente, dando espaço para que ela o alcançasse. O garoto de cabelos escuros não disse ou fez nada, simplesmente a encarou, surpreso com sua aparição.
- Você o conhece? – perguntou Moody, a voz rouca e cheia de suspeita.
Poppy ignorou a pergunta e estendeu a mão, tocando o rosto de Harry, checando sua temperatura.
- Você está queimando – disse ela. Seus olhos viajaram para as mãos do garoto, que apertavam as costelas. – Deixe-me ver. – Ela gentilmente tocou as mãos do adolescente, afastando-as.
Para o espanto de todos, ele deixou. O adolescente afastou as mãos, fazendo careta de dor e dando rápidos e breves suspiros, mas fez como a enfermeira pediu.
- Tudo bem, Harry. Preciso que você se levante e deite na cama. Não consigo ver o ferimento direito com você curvado dessa forma – disse ela.
James estendeu a mão imediatamente para ajudá-lo a se levantar.
O adolescente se mexeu, movendo o braço para fora do alcance do auror, que tornou a se sentar, aturdido com a rejeição.
- Harry…?
- Vocês todos podem, por favor, sair? Preciso que ele relaxe e ele obviamente não consegue com tantas pessoas aqui – disse Poppy, abrindo sua bolsa médica, tirando diferentes frascos e empilhando-os sobre a mesa de cabeceira.
- Precisamos ficar aqui para a sua proteção – disse Kingsley.
- Não é preciso – disse a enfermeira, virando-se para encarar o auror.
- Como é que você o conhece? – perguntou Moody novamente, recusando-se a sair até obter uma resposta.
Poppy se levantou, virando-se para encará-lo.
- Primeiro, eu preciso curá-lo, ele já perdeu muito sangue. Quando eu terminar, responderei suas perguntas.
Moody não disse nada, mas saiu do quarto, o olho mágico girando, tomando nota de tudo mais uma vez antes de sair. Dumbledore e Kingsley o seguiram. Lily ficou onde estava.
- Vou ficar, você pode precisar de uma mão...
- Está tudo bem, Lily – interrompeu Poppy. – Eu consigo.
A ruiva hesitou, mas Remus pegou seu braço, guiando-a. Sirius fez o mesmo com James. Os pais hesitantes foram levados para fora do quarto pelos amigos.
Quando todos saíram e a porta fechou, Poppy ajudou Harry a se levantar e andar até a cama. O jovem caiu sobre ela, sibilando e gemendo quando suas costas pinicaram com o contato. Ele queria se virar, mas a mulher já estava trabalhando no corte em suas costelas, examinando-o antes de tratá-lo.
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Mais ou menos meia hora depois Poppy desceu as escadas correndo, olhando ao redor da mansão com uma expressão perdida. Dumbledore e os demais estavam sentados na cozinha, a porta aberta, de modo que viram a enfermeira confusa procurando por eles.
- Poppy! – Lily se levantou, chamando a atenção da outra mulher.
A enfermeira correu para ela, sua expressão inquieta e preocupada.
- Lily, eu preciso de algumas coisas – disse ela. – Ele perdeu muito sangue, tenho alguns frascos de Poção Repositora de Sangue, mas temo que não seja o bastante. Você pode arranjar mais alguns?
- É claro – concordou a ruiva. – Vou pegá-los imediatamente. Tenho vários em casa.
- Eu também preciso de um pouco de Pomada Cicatrizante. – Ela sacudiu a cabeça, um olhar de raiva em seu rosto. – Os ferimentos estão horrendos! Ele me disse que o Curandeiro em Nurmengard tinha cuidado dele, mas eu duvido. O tórax está coberta de hematomas!
- E os cortes? – perguntou Lily preocupada. – Como estão? Ele não deixou nenhum de nós nos aproximar o bastante para verificar.
- Ele mesmo tentou tirar os cacos de vidro – disse Poppy, não parecendo nada feliz. – Mas ainda há alguns nas costas, que ele não conseguiu alcançar. – James ergueu os olhos para ela, sentindo-se horrivelmente culpado. – Não estou preocupada com eles, basta um simples Episkey quando eu tirar os cacos que restam – continuou ela. – Vou lhe dar três frascos de poção antisséptica para garantir que não haja infecção. Estou mais preocupada em trazer o nível de sangue ao normal e em tratar os machucados.
- Eu vou pegar a pomada e as poções. Volto em alguns minutos – disse Lily.
Poppy deu meia volta, dirigindo-se às escadas novamente quando James, de repente, a chamou.
- Madame Pomfrey? – A enfermeira parou, virando-se para encará-lo. – Como você conhece Harry? – perguntou ele. Não conseguia entender como era possível que a enfermeira de Hogwarts pudesse conhecer o garoto. Ficou surpreso com o comportamento do jovem com ela também. Ele deixou-a se aproximar enquanto afastava todos os demais.
- Você ainda nos deve uma explicação! – acrescentou Moody.
Poppy olhou para ele com uma expressão aborrecida.
- Eu não devo nada a você, auror Moody – ressaltou ela. – Meus relacionamentos são pessoais e não sou obrigada a discuti-los. – Ela olhou para James antes de se virar e fitar Lily, que ainda não fora. – Mas eu entendo que as circunstâncias pedem uma explicação – admitiu. A enfermeira virou-se para encarar o diretor. – Você se lembra que há seis meses houve um ataque à minha casa?
Dumbledore inclinou a cabeça.
- Eu me lembro – respondeu solenemente.
Poppy percorreu o cômodo com o olhar, contara a Dumbledore e a Lily o que acontecera, mas os demais não sabiam.
- Meu marido, Paul, e eu estávamos no jardim quando Comensais da Morte nos atacaram de repente – começou Poppy. – Eles nos torturaram, nos mantiveram sob a maldição Cruciatus, tentando fazer com que levantássemos os escudos para que pudessem entrar em nossa casa. Quando resistimos, decidiram atear fogo na casa com nossos dois filhos presos lá dentro. Eles nos deixaram assistir impotentes nossa casa queimar e não podíamos fazer nada para salvar nossas aterrorizadas crianças. Ninguém tentou nos ajudar. Até mesmo nossos vizinhos miseráveis tiveram medo de ajudar, por temor aos Comensais da Morte. Mesmo quando os mascarados se foram, ninguém veio ajudar. Então, do nada, um jovem chegou e, sem hesitar um segundo, entrou correndo em nossa casa em chamas. Ele salvou Jenna e David, tirando-os da casa antes de nos soltar. Ele me perguntou o que acontecera e eu lhe contei sobre os Comensais. Ainda me lembro da raiva em seus olhos. Ele me disse para não me preocupar, que os Comensais da Morte nunca mais nos machucariam. Eu o agradeci e perguntei quem era ele, mas ele apenas sorriu para mim e disse que se chamava Harry. Nunca mais o vi, até hoje – concluiu ela.
- Isso é ridículo! – começou Moody raivosamente. – Você realmente espera que a gente acredite nisso, aquele garoto salvou duas crianças?
- Não espero que faça nada – respondeu a mulher calmamente. – Estou apenas contando como o conheço.
- Poppy, você viu o rosto dele claramente? – indagou Lily. – Quero dizer, era mesmo Harry? Ele não estava usando uma máscara para cobrir o rosto, estava?
- Não, ele não estava usando máscara – respondeu ela.
- Mas, então por que você não disse que ele parecia com James? – perguntou ela, surpresa.
Poppy olhou para James, estudando seu rosto por um momento.
- Eu não fiz a ligação – disse ela em tom de quem se desculpa. – Eu senti que o vira antes, ele parecia familiar e lembro de tentar descobrir se ele era um ex-aluno de Hogwarts, mas não o liguei a James, ou mesmo a você – disse a Lily. – Admito que há uma semelhança, mas você realmente esperava que eu descobrisse que o estranho que salvou a vida dos meus filhos era seu filho que supostamente estava morto nos últimos quinze anos?
A ruiva não respondeu, mas entendia o que a outra estava tentando dizer. Lembrava-se de Poppy lhe contando, há seis meses sobre o garoto que a ajudara e salvara as vidas dos pequenos David e Jenna. Lembrou-se de pensar quão corajoso e maravilhoso esse jovem deveria ser para fazer algo tão valente. Sabendo agora que o menino era seu filho, fez a mulher sentir-se incrivelmente orgulhosa.
Dumbledore sorriu ao se virar para James.
- Bem, parece que nosso Harry tem mania de salvar as pessoas.
Moody se levantou, batendo a mão na mesa em frustração.
- Ora, vamos, Albus! – gritou ele. – Pense um pouco! É do assassino treinado de Voldemort que está falando! Como ele poderia salvar uma vida inocente? – questionou. – Não conseguem ver o que aquele garoto estava fazendo? Isso foi uma armadilha! – gritou, apontando o dedo para Poppy. – Foi planejado. Ele enviou os Comensais da Morte para machucar a família e então apareceu para salvá-los. Foi uma farsa!
- Cale a boca, Alastor! – gritou Lily, sem aguentar mais. – Apenas cale a boca! Você não sabe o que está falando!
- Eu sei exatamente do que estou falando! – sibilou Moody. – São vocês que não conseguem ver a verdade, laços de sangue e relacionamentos estão cegando vocês. – acusou. – Pense, por que ele salvaria alguém quando seus próprios homens, os Comensais da Morte, foram enviados para destruí-los? Ele não estaria lutando contra o próprio lado, estaria?
- Então, explique porque ele armaria uma farsa? – perguntou Remus. – Por que ter todo esse trabalho? O que ganharia com isso?
Moody encarou o lobisomem.
- Isso! – exclamou ele. – Essa confiança que agora ele ganhou através de Madame Pomfrey!
- Ah, vamos lá! – exclamou Sirius. – Você quer dizer que Harry sabia que seria capturado seis meses depois e que seria Poppy Pomfrey quem viria cuidar dele, então tinha que ganhar sua confiança fingindo salvar ela e sua família? Está mesmo sugerindo isso?
Moody não disse nada de imediato. Ele soltou um gemido de aborrecimento.
- Não há como saber como a mente do inimigo funciona. Parece exagero...
- Porque é exagero – interrompeu Remus.
- Há uma diferença em ser paranoico e em ser completamente insano! – ressaltou Sirius.
- Senhores – interpôs-se Dumbledore antes que Moody pudesse responder. – Não fará bem algum discutir entre nós. O fato é que Harry mostrou grande compaixão para com outrem. Ele arriscou sua vida para salvar as vidas de duas crianças. Isso é motivo suficiente para lutarmos por ele.
Alastor não abriu a boca e afastou-se da mesa, mancando para fora da sala. Sua saída fez os demais se calarem. Lily virou-se, dirigindo-se à lareira e pegando um punhado de pó de flu. Precisava ir pegar as coisas necessárias para curar seu filho.
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Poppy entrou no quarto, carregando os frascos e o tubo de pomada que Lily trouxera de Godric’s Hollow. Viu Harry sentando na cama, encarando a janela aberta.
- Espero que não esteja pensando em pular – comentou ela.
Ele sorriu, baixando a cabeça.
- Não, já tentei isso – respondeu.
Poppy lançou-lhe um olhar severo, um que normalmente dava aos alunos de Hogwarts que se machucavam por causa de uma brincadeira ou desafio bobo. Aproximou-se dele e colocou as poções e a pomada sobre a cama.
- Aqui, tome três dessas. – Ela lhe entregou as poções.
Harry pegou os frascos, mas não os bebeu imediatamente. Abriu um de cada vez, cheirando-os primeiro, antes de permitir que uma gota tocasse sua língua.
- Sabe, se eu fosse te matar, não me importaria em tratar de você – disse Poppy. – Não teria o trabalho de te consertar apenas para envenená-lo.
Harry sorriu travesso para ela.
- Não é de você que estou desconfiado – respondeu ele, bebendo a terceira e última poção.
- Ah. – A enfermeira sorriu, checando os níveis de sangue do garoto com um aceno complicado de varinha. – Entendo, é dos membros da Ordem que você desconfia...
- Surpreendente, eu sei – zombou Harry. – Quem duvidaria das intenções do inimigo?
Poppy arqueou uma sobrancelha para ele. Ela gesticulou para a camisa dele e Harry a desabotoou, tirando-a. A mulher aproximou-se para examinar suas costas.
- Bem, a confiança deve ser recíproca – divagou ela ao correr os dedos pelas costas do adolescente, observando os cortes que ainda continham cacos de vidro. – Fui questionada sobre como te conhecia e lhes disse que você foi o garoto que salvou a vida dos meus filhos. O auror Moody elaborou uma grande teoria sobre porque você fez isso.
- Foi? – indagou Harry.
- Ele parece pensar que você planejou tudo isso, o ataque, os Comensais da Morte, o fogo, tudo para que pudesse desempenhar o papel de “herói” e ganhar minha confiança – explicou Poppy, balançando a cabeça com o simples pensamento.
Harry se afastou dela de repente, virando-se para encará-la.
- Você acha que foi uma farsa? – perguntou em voz baixa, os olhos verdes procurando o rosto da mulher. Ele desviou o olhar, claramente zangado, sacudindo a cabeça. – Quer saber de uma coisa? Pense o que quiser! – disse, pegando a camisa para colocá-la novamente.
Poppy estendeu a mão, detendo-o, afastando a camisa de seu alcance.
- Sabe no que eu acredito? – perguntou ela. – Acredito que você salvou a vida dos meus filhos arriscando a sua. Eu só te disse o que o auror Moody falou para mostrar que ele não confia em você. – Ela olhou fundo em seus olhos. – Mas eu confio. Eu confio em você porque me ajudou quando não tinha de fazê-lo, e por isso eu sempre vou te ajudar.
Harry nada disse, mas sua expressão suavizou. Poppy puxou seu braço, impulsionando-o a se virar para que pudesse terminar de examiná-lo.
- O.K., ainda há alguns cortes com vidros, então vou te dar uma poção anestésica. Isso vai fazer com que seja um pouco mais suportável.
- Não se preocupe – argumentou Harry. – Odeio poções anestésicas. Elas fazem minha boca ficar encrespada por horas. Apenas faça, eu consegui antes, conseguirei agora.
Poppy não parecia muito satisfeita.
- Não me importo com o que faz com sua boca. Você vai tomar a poção anestésica. – Ela empurrou o frasco sob o nariz do garoto. – Não consigo acreditar que se causou tanto sofrimento – disse ela, tirando um par de pinças da bolsa.
Harry sacudiu os ombros, olhando com desgosto para a poção.
- Eu descobri que estava sozinho, melhor eu mesmo fazer alguma coisa com a dor e o desconforto.
Poppy parou, encarando o rapaz.
- Você não está sozinho, Harry – disse ela. – Seus pais estão aqui. Não confie em mais ninguém, mas sempre pode confiar em seus pais para ajudá-lo.
O jovem não disse nada. Encarou o frasco da poção anestésica por mais um instante antes de abri-la e tomá-la em um gole. Olhou de volta para a enfermeira, os olhos já ficando vidrados sob o efeito da poção.
A mulher não falou nada e voltou a atenção para os cacos de vidro entalhados na carne de Harry. Ela segurou um e puxou.
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Poppy puxou o último caco das costas do garoto antes de lançar um “Episkey” para fechar o corte. Pousou a pinça ensanguentada e examinou suas costas novamente, certificando-se de ter fechado todos os cortes corretamente. Deu um tapinha em seu ombro, sorrindo para ele.
- Pronto – disse ela.
Harry se deitou, apoiando as costas na cama e fechando os olhos de alívio quando nenhuma dor aguda o atingiu. Poppy começou o mesmo processo em seu tórax. Ela já tratara os cortes profundos em suas costelas, a razão pela qual estava sangrando tanto, mas deu-lhe outra olhada, apenas para o caso de ter deixado passar alguma coisa.
- Tudo bem, hora da pomada agora – disse ela, abrindo o frasco.
Ela começou a cobrir seu tórax machucado com uma substância espessa e cremosa.
- Deus, isso fede! – reclamou Harry. – Quanto tempo tenho que deixar isso em mim?
- Pelo menos uma hora – respondeu Poppy. – Depois pode tomar um banho.
O jovem tornou a encostar a cabeça no travesseiro, ficando em silêncio.
A enfermeira terminou de aplicar a pomada nas costelas e no peito de Harry. Até os pulsos precisavam de um leve revestimento, já que as algemas de metal que enfrentara em Nurmengard tinham cortado e machucado seriamente sua pele.
Terminado, Poppy recuou, razoavelmente satisfeita com o trabalho. Empilhou inúmeros frascos sobre a mesa de cabeceira, a única peça da mobília, além da cama, que não foi destruída.
- Tem que tomar essas a cada quatro ou seis – instruiu, pegando os frascos de poção para dor. – E tome essas uma vez por dia, nos próximos três dias. Vai evitar que os cortes infeccionem. – Ela pegou a Poção Repositora de Sangue em seguida. – Mais uma hoje e uma amanhã, será suficiente.
Harry a observou, divertindo-se com seu tom severo, mas prestando atenção às palavras. Era uma estranha combinação.
- Posso te pedir mais uma coisa? – perguntou ele.
- É claro – respondeu a enfermeira.
- Será que poderia conseguir algumas roupas limpas? – perguntou Harry. – Estou com essas há quase cinco dias.
Poppy sorriu.
- Eu estava me perguntando que cheiro era esse – provocou ela.
- É a sua pomada – defendeu-se ele.
Poppy riu.
- Vou ver o que posso fazer. – Ela caminhou até a porta, saindo por ela.
Harry ficou de pé, caminhando até o banheiro. Tirou as roupas e entrou no chuveiro, ligando-o no mais quente que conseguia suportar. Deixou a água correr por ele, deslizando sobre a espessa pomada e levando-a para longe de seu corpo. O fluxo de água batia em seus ombros, tirando a tensão de seus músculos doloridos. Por longos minutos, ficou sob o poderoso jato d’água, deixando-a correr por seu corpo.
Caminhou de volta para o quarto, uma toalha enrolada na cintura. Ficou aliviado em ver uma simples camiseta azul e um jeans escuro sobre a cama. Poppy não estava no cômodo. O adolescente pegou as roupas e voltou ao banheiro para se trocar.
Entrou facilmente nelas, escolhendo ignorar a quem poderiam pertencer. Não ia pensar nisso. Passou a mão pelo espelho embaçado e viu o próprio rosto olhando de volta.
Olhou para a pinça ainda sobre a prateleira. Pegou-a, estudando-a com seus intensos olhos verdes. Colocou-a sobre a pia, lavando as manchas de sangue. Segurou-a na mão por um momento, antes de fechar os olhos, um profundo suspiro lhe escapando. A pinça transformou-se de novo na pena antes de assumir uma nova forma. Harry abriu os olhos e encarou a faca afiada em sua palma. Segurou-a pelo cabo, levantando-a para examiná-la. Encarou a arma por um longo momento antes de colocá-la no bolso de trás e sair do banheiro.
N/T: Em breve teremos notícias e participação da turma jovem rs :) Damien, Ginny, Hermione e Ron logo aparecerão ^^Ah, e os gêmeos haha
Comentários (1)
Muito bom o capítulo. Parabéns pela tradução. Espero o próximo capítulo. Torço para não demorar.Boa sorte.
2013-11-14