The Day of the Trial



Disclaimer: Harry Potter não me pertence e tudo que vocês reconhecem pertence a J.K. Rowling. Essa história também é inspirada em “A Shattered Prophecy”, do Project Dark Overlord.


Chapter Fifteen – The Day of the Trial


A notícia se espalhou como fogo pelo mundo mágico: o Príncipe Negro seria levado a julgamento. O julgamento surpreendentemente rápido foi anunciado há apenas um dia, e desde então todos os jornais, revistas, redes de rádios bruxas, todos os meios de comunicação só discutiam um assunto: o destino do Príncipe Negro.


O Profeta Diário ostentava uma série de entrevistas exclusivas com o Ministro da Magia, alegando que ele se comprometera a dar ao filho de Voldemort um julgamento “imparcial e justo”. Afirmava também que o Ministro adiara pessoalmente todas as datas e adiantara o julgamento do Príncipe Negro, para que pudesse ser sentenciado depressa, no quarto dia da captura. Mas a maioria do mundo mágico não estava nem um pouco incomodada que o julgamento fosse justo ou não. Discutiam porque haveria um, na verdade. Tudo que queriam era que o garoto fosse jogado aos dementadores e isso encerraria tudo.


No dia do julgamento, o Ministério da Magia estava zumbindo de excitação. Um número espetacular de pessoa chegou, na esperança de avistar o garoto. Até então, muito pouco fora revelado sobre o filho do Lorde das Trevas, mas hoje ele seria submetido a julgamento perante a Suprema Corte. Jornalistas estavam em meio ao público, tentando chegar o mais próximo possível da entrada do tribunal, para que quando o Príncipe Negro fosse trazido, pudessem tirar uma foto dele.


Mas nem todos no Ministério estavam excitados com o julgamento. Duas pessoas em particular estavam fazendo tudo que podiam impedi-lo. James e Lily Potter estavam no Ministério desde as primeiras horas do dia, após não terem sorte de ver o Ministro no dia anterior. Desde que Dumbledore informou a Fudge, há dois dias, quem o Príncipe Negro realmente era, o homem recusara-se a se encontrar com James ou Lily. É claro que tudo seria negado quando o julgamento fosse encerrado e a sentença executada. Os Potters seriam informados de que era lamentável o Ministro não poder ser contatado, que ele era um homem ocupado e encontros nem sempre eram possíveis.


Mas no dia do julgamento, o casal recusou-se a ser ignorado. Ambos tentaram alcançar um membro da Suprema Corte para que pudessem falar com eles. James finalmente avistou Julian Reid, o subsecretário Sênior do Ministro.


- Reid, eu preciso falar com você – disse o auror, correndo até ele.


- Não posso falar com você agora, Potter – respondeu o homem rapidamente, afastando-se dele.


- Só preciso de um minuto para falar com você ou com o Ministro – implorou James, correndo ao lado do bruxo.


Julian mal olhou para dele enquanto caminhava depressa para o elevador.


- O Ministro está muito ocupado para falar com alguém agora – respondeu ele.


- Estou tentando falar com ele há quase dois dias! – exclamou James. – Ele está me evitando, assim como você.


Julian parou e virou para encarar o auror, um suspiro profundo escapando do loiro.


- Não estou evitando você – assegurou. – Mas sei por que quer falar comigo. O Ministro me contou sobre a conversa com Albus Dumbledore – o homem de olhos castanhos olhou tristemente para James. – Sinto muito, Potter, de verdade – disse ele. – Sei que está tentando proteger seu filho, mas não há nada que possa ser feito. Ele tem que responder por seus crimes.


- Mas é isso que estou tentando te dizer! – falou o auror, tentando desesperadamente fazer o outro entender. – Harry sofreu uma lavagem cerebral! Só Merlin sabe com o que aquele monstro vem enchendo a cabeça dele desde que era um bebê! – disse com ódio. – Não é como se ele tivesse feito nada por conta própria. Tudo que fez foi sob as ordens de Voldemort!


Julian se arrepiou com o nome do Lorde das Trevas e olhou rispidamente para James.


- Maldição, Potter! – sibilou ele. – Quantas vezes tenho que te dizer para não falar o nome dele!


James normalmente reagiria, mas hoje abaixou a cabeça e aceitou a repreensão.


- Tudo bem, não vou dizer de novo – prometeu. – Mas, por favor, me escute – disse ele. – Não siga adiante com um julgamento público. Fale com o Ministro, convença-o a fazer um julgamento fechado em vez disso. A data foi antecipada rápido demais, a defesa não teve tempo de se preparar. Por favor, Reid, nos dê uma chance para explicar as circunstâncias especiais num julgamento fechado.


Mas o subsecretário do Ministro estava sacudindo a cabeça ainda enquanto James falava.


- Sinto muito, mas o Ministro não vai concordar com isso – disse ele, entrando no elevador que agora estava desocupado.


- Reid, me escute! – disse James, sua mão disparou, bloqueando a porta do elevador, impedindo o bruxo de partir. – Por favor, estou te implorando – disse ele em voz baixa. – Se seguir adiante com esse julgamento público, não será justo com Harry! A situação dele precisa ser explicada direito, o que não é possível num julgamento público – ele olhou suplicante para o homem. – Reid, por favor, dê uma chance a ele. Ele só tem 16 anos!


Julian deu um passo adiante, seus olhos castanhos duramente fixos no auror.


- Sim, dezesseis anos, e tem apenas aquele monte de acusações de assassinatos contra ele! – sibilou em resposta.


O auror hesitou, incapaz de olhar nos olhos do outro homem.


- Mas…


- Potter, olhe – interrompeu Julian. – Se eu tivesse alguma influência nisso, eu falaria com o Ministro. Não quero necessariamente ser envolvido num julgamento de alto nível. Mas você mesmo viu o público que nós já temos, e o julgamento ainda é daqui a quatro horas! – ele encontrou o olhar preocupado do auror. – Fudge está amando a publicidade – confessou em voz baixa. – Não vai considerar um julgamento fechado. Prometeu ao povo um julgamento brutal e é exatamente o que fornecerá.


James sabia disso. Era por isso que estava lutando para, de alguma forma, evitar aquilo. Sabia que quando Harry colocasse o pé naquele tribunal, não sairia dele.


- Se eu falar com ele...


- Ele não vai te escutar – disse-lhe Julian. – Ele não escutará ninguém – ele recuou para dentro do elevador, olhando com tristeza para o auror. – Sinto muito, Potter, não posso fazer nada.


James soltou as portas, e elas se fecharam imediatamente, o elevador tomou vida, levando o outro para longe.


xxx


Dumbledore juntou-se a James e Lily no longo corredor deserto do Ministério. Acabara de ver o Ministro que, enquanto evitava os Potters, não conseguia mantê-lo à distância.


- O que ele disse? – perguntou a ruiva depressa, logo que o bruxo de cabelos prateados os alcançou.


- Não está disposto a um julgamento fechado – informou Dumbledore desanimadamente.


Lily fechou os olhos em derrota, sacudindo a cabeça.


- Ah, não! – suspirou ela, entrando em pânico. O diretor fora sua última esperança.


- O Ministro insiste que é justo haver um julgamento público – continuou Dumbledore. – Eu lhe expliquei a sensibilidade do caso, mas Fudge não estava interessado. Ele contestou a ideia de que não podemos apresentar qualquer evidência num julgamento aberto.


- Essa é a questão! – irritou-se James. – Não temos muita evidência! O julgamento só foi anunciado ontem! Não deu tempo de reunir nada para a defesa dele. É por isso que precisamos de um julgamento fechado, que nos dê mais tempo para falar mano a mano! – ele passou a mão pelo cabelo agitadamente. – O que vamos fazer agora? – perguntou, mais para si.


- Agora, fazemos o que temos que fazer para garantir que Harry saia ileso desse julgamento – disse Dumbledore calmamente. – Fudge não acredita na profecia, como muitos outros. Ele não percebe que, destruindo Harry, vai estar efetivamente destruindo qualquer chance que temos de acabar com Voldemort.


Ele afastou a lembrança de como alguns membros da Ordem tinham reagido há duas noites, na reunião que revelou que Harry Potter era o Príncipe Negro. Moody, em particular, ficara bastante magoado, questionando primeiramente o feitiço de identidade utilizado, e em seguida insistindo que o jovem não podia ser o escolhido, já que foi corrompido por ficar com Voldemort todos aqueles anos.


- Então, o que devemos fazer? – perguntou Lily, pronta para fazer qualquer coisa.


Dumbledore levou um momento para responder.


- Sabemos o que Fudge já decidiu para Harry – disse calmamente. – Ele quer o beijo. Todos nós sabemos disso. Mas não pode sentenciá-lo ao beijo se o garoto revelar-se útil ao Ministério.


- Útil? – indagou James. – Como entregar informações secretas sobre Voldemort?


Dumbledore inclinou a cabeça.


- Sim.


- Não acho que ele fará isso – o auror balançou a cabeça. – Ele não cedeu ao interrogatório dos guardas em Nurmengard. Não acho que fará isso aqui.


- Ele não precisa fazê-lo – disse Dumbledore. – Tudo que temos que fazer é insinuar que Harry eventualmente vai ceder informação. Ele não terá que dizer nada hoje – o bruxo sorriu tristemente para os pais. – Posso imaginar quão leal ele é a Voldemort no momento, mas isso pode mudar. Ele é o braço direito de Voldemort, o conhecimento que tem sobre ele e seus Comensais da Morte é inestimável. Precisamos que a Suprema Corte acredite que, se permitido viver, Harry vai, eventualmente, abrir mão dessas informações cruciais.


- Mas Harry ainda receberá prisão perpétua em Azkaban pelas Imperdoáveis que executou – disse Lily numa voz derrotada. – Que tipo de vida será atrás das grades em Azkaban com... com dementadores violando-o para que conceda informações sobre Voldemort? – perguntou com lágrimas.


- Eu estive pensando sobre isso desde que decidi defendê-lo nesse julgamento – disse Dumbledore, sua voz diminuindo para um mero sussurro. – Percebi que a única maneira de salvá-lo de uma pena de prisão perpétua é se sugerirmos que os assassinatos são casos de CIMI.


- Crimes Induzidos pela Maldição Imperius? – indagou Lily.


- Exatamente – assentiu Dumbledore. – Harry pode ser perdoado se conseguirmos convencer a Suprema Corte que os crimes que cometeu foram sob a maldição Imperius. Como se sabe, Voldemort é bastante afeiçoado a essa Imperdoável, então pode ser que acreditem em nós.


- E podem não acreditar. Afinal de contas, não há como provar que alguém estava sob a maldição Imperius no momento que cometeu o crime – disse Lily, preocupada.


- Exatamente – Dumbledore sorriu. – Se não podemos provar que Harry estava sob influência da maldição, eles também não podem provar que não estava. A Suprema Corte terá de levar isso em consideração se alegarmos CIMI durante o julgamento. Se nada mais, pode apenas nos dar mais tempo já que a Corte tem que investigar, e então aceitar ou rejeitar a alegação de CIMI e isso pode levar várias audiências.


James se viu relaxando um pouco ao escutar o bruxo planejar a defesa. Sequer o incomodava que estariam potencialmente mentindo para salvar Harry. Desde que o tirassem daquela bagunça, o auror estava disposto a dizer ou fazer qualquer coisa.


Um barulho alto os dispersou e os três se viraram para ver uma porta se abrir do outro lado e um grupo de bruxos aparecer no corredor. Os cinco homens que surgiram de repente os viram, mas não pareciam se importar nem um pouco. O som de correntes, tilintando e chacoalhando, informou a James o que estava acontecendo antes de a visão o acometer.


Harry era conduzido pelo corredor por dois homens, enquanto os outros cinco o cercavam, aparentemente montando guarda ao seu redor. O auror sentiu a respiração engatar no peito com a visão do filho acorrentado, sendo levado com frieza pelos bruxos. Sua visão assimilou as algemas pesadas nos pulsos do garoto, ligadas a uma espessa corrente, que iam até seus pés, onde os tornozelos também estavam algemados. Ouviu Lily suspirar ao seu lado. Fitou-a e viu seu olhar esmeralda fixo no jovem do outro lado do corredor. Ela estava tremendo, suas mãos tremiam ao lado do corpo ao contemplar o rapaz de cabelos negros num silêncio surpreso.


O jovem virou um pouco a cabeça para encará-los, tendo sentido seus olhos sobre ele. Ele parou momentaneamente ao avistar a ruiva. Sua expressão impassível, sem emoção e distante, mas algo brilhou em seus olhos. Seu olhar permaneceu inabalável sobre ela, procurando atentamente por alguma coisa.


Lily sentiu o peso do olhar de seu filho perdido oprimi-la, esmagando seu coração até sangrar. Deu um único passo na direção do adolescente, sua voz reduzida a um mero sussurro ao proferir seu nome.


- Harry.


Foi quando o rapaz desviou o olhar, ignorando ela e os outros dois bruxos completamente. A ruiva sentiu-se incapaz de se mexer ao ver os sete homens conduzirem o garoto de 16 anos para uma sala do outro lado do corredor, afastando-se deles. O jovem foi levado para dentro da sala e os sete bruxos entraram antes que a porta se fechasse com um pequeno baque.


Lily se virou para encarar Dumbledore e James. Não sabia o que dizer, a voz não conseguia ultrapassar o peito dolorido e o nó na garganta. Acabara de ver o filho, o filho que pensou ter perdido há muitos anos atrás, mas, ainda assim, não lhe permitiram ir até ele, segurá-lo ou abraçá-lo, ou mesmo falar com ele. Decidiu não chorar, não derramar mais lágrimas, e abaixou a cabeça quando elas começaram a queimar em seus olhos.


Braços fortes a cercaram e abraçaram, sua cabeça descansado sobre o peito familiar. Lily deixou o marido abraçá-la e confortá-la enquanto chorava silenciosamente, perguntando-se porque o destino tinha que ser tão cruel.


xxx


Sirius observou o átrio cheio de pessoas animadas, que ou tentavam entrar no Ministério para ir a departamentos diferentes ou tentavam sair pelas lareiras ou pela saída dos visitantes. Não importava o dia ou a época do ano, o Ministério da Magia estava sempre cheio de bruxos e bruxas. Mas hoje havia um aumento significativo no número de pessoas. Não era difícil descobrir o porquê. O julgamento teve tanta publicidade que, mesmo no curto prazo de quatro dias desde a captura de Harry, parecia que metade do mundo mágico chegara para testemunhar o momento histórico.


O auror suspirou, fechando os olhos para esfregar a testa. Já estava com dor de cabeça e o julgamento sequer começara. Sentiu-se ansioso e preocupado com o destino do afilhado. Nem tanto pelo bem do garoto, mas de James. Por mais que doesse admitir, não conhecia Harry. O amigo ele conhecia desde os 11 anos de idade. Crescera com ele em Hogwarts e o considerava um irmão. Não queria vê-lo sofrendo e isso era inevitável com o julgamento acontecendo.


- Patético, não é? – disse uma voz rouca ao seu lado.


Sirius virou a cabeça para encarar Moody.


- O quê? – perguntou ele.


- A quantidade de gente que não tem nada melhor a fazer do que ficar aqui por horas só para ver um assassino! – ele sacudiu a cabeça com raiva, seu cabelo medonho balançando. – Estão fazendo dele uma celebridade!


Sirius suspirou, muito cansado para discutir com o colega de trabalho. Moody recusava-se a manter os pensamentos para si quando o assunto era o “Príncipe Negro”.


Em meio à multidão de bruxos e bruxas, o auror de repente avistou Remus vindo em sua direção. Ele parecia profundamente aborrecido.


- O que houve? – perguntou Sirius assim que o amigo os alcançou.


- Acabei de falar com James – sussurrou Remus. – Ele está aqui.


- Já? – perguntou Sirius surpreso – O julgamento é daqui a uma hora.


- Os guardas o trouxeram de Nurmengard um pouco mais cedo que o planejado, por razões de segurança – explicou Remus num tom apressado. – Ninguém deveria saber que ele já está aqui. Os guardas o trouxeram da prisão pela rota normal – continuou ele. – Mas quando estavam levando-o à sala de espera, encontraram James, Lily e Dumbledore no corredor.


Sirius sentiu o coração bater um pouco mais rápido. Harry estava ali esperando julgamento. Mesmo que soubesse que isso aconteceria, não estava completamente preparado. Sentiu pânico, quase como se ele estivesse enfrentando a Suprema Corte, acusado de usar as Imperdoáveis.


- Como James está? – perguntou ele.


Remus suspirou, sacudindo a cabeça.


- Está indo, mas Lily está… inconsolável – murmurou ele. – Não suporto vê-la chorar – disse, parecendo aborrecido. – Ela quer ver Harry, falar com ele, mas não tem permissão. Eu lhe expliquei que só oficiais do Ministério podem ver um acusado antes do julgamento – o homem sacudiu a cabeça. – Mas ela está chateada demais para ouvir.


Sirius sentiu o coração partir pela amiga. Ela era como uma irmã para ele e Remus. Por isso nunca levava suas reclamações e repreensões a sério. Sempre considerara que era o que irmãs diziam aos irmãos.


- Onde ela está? – perguntou ele.


- Dumbledore está tentando acalmá-la. Levou-a ao escritório de James – respondeu Remus. – Quando saí, James ia entrar para ver Harry, para falar com ele antes que o julgamento começasse.


- Parece que Potter não é o único querendo falar com ele – interrompeu Moody de repente.


Remus e Sirius se viraram para encarar o outro sem entender, mas Alastor fez apenas um gesto com a cabeça em direção ao átrio principal. Os dois seguiram o olhar dele e viram um rosto familiar na multidão de pessoas.


O homem alto e loiro estava ocupado conversando com um bruxo, assentindo e sorrindo para ele, mas sua agitação era evidente pelo modo que brincava com a bengala de cabeça de cobra, girando e correndo os dedos sutilmente sobre a extremidade prateada.


- Que diabos? – rosnou Sirius com a visão. – O que esse filho da mãe está fazendo aqui?


- Devíamos ir descobrir – resmungou Remus em voz baixa.


Os dois amigos dirigiram-se a Lucius Malfoy, deixando Moody para trás. O loiro viu os dois vindo em sua direção e educadamente pediu licença ao homem com o qual estava conversando.


Sirius, que disparara à frente do amigo, chegou ao Comensal primeiro.


- O que você está fazendo aqui? – perguntou o auror ameaçadoramente, tinha pouquíssima paciência quando o assunto era Lucius Malfoy.


O loiro sorriu profundamente, levantando a sobrancelha de modo elegante e fingindo surpresa.


- Eu devo estar enganado. Pensei que aqui fosse o Ministério da Magia – disse ele, falando arrastado como de costume. – Eu não preciso de sua permissão ou aprovação para estar aqui.


Sirius olhou com ódio para ele. Remus ficou ao seu lado, calmo e sereno como sempre, mas mesmo sua voz carregava raiva hoje.


- Por que está aqui, Malfoy? – questionou. – Que negócios o trazem ao Ministério, especialmente hoje?


Lucius simplesmente riu debochado para o lobisomem.


- Meus negócios são pessoais – declarou, erguendo-se.


- Sim, muito pessoais – disse Sirius. – Mas pode esquecer. Não vai conseguir vê-lo e se colocar um pé na sala de julgamento, eu vou…!


- Fique com seu blábláblá para você, Black! – interrompeu o Comensal sem pressa. – Eu não vim para o julgamento do Príncipe Negro. Não tenho interesse algum nisso – ele deu de ombros.


- Ah, claro! – começou Sirius com raiva. – Por que você estaria interessado? Afinal de contas, você não é um Comensal da Morte – disse com sarcasmo.


Odiava como Lucius era um Comensal do ciclo interno e se safava disso.


- Agora, Black, pensei que você tivesse superado isso. Se me acusar de ser um Comensal da Morte, posso fazer você perder o distintivo – afirmou o loiro. – Da última vez eu determinei que você fosse rebaixado um nível, mas dessa vez posso simplesmente requerer seu distintivo como um belo troféu.


O auror o encarou com raiva.


- Eu não te chamei de Comensal da Morte. Afirmei que você não é um! – apontou Sirius. Aprendera a jogar aquele jogo. – Mas eu tenho alguns nomes que gostaria de te chamar…!


Remus tocou-lhe o braço, impedindo-o de insultar verbalmente o homem. Encontrou os olhos frios acinzentados do bruxo aristocrata.


- Como oficiais do Ministério, estamos no direito de questionar seu aparecimento no Ministério da Magia – afirmou Remus calmamente.


Lucius se endireitou, erguendo-se ao olhar por cima do nariz para os dois homens.


- Eu tenho uma reunião com Madame Edgecombe. Estou aumentando a Mansão e preciso atualizar minha Rede de Flú para incluir novas lareiras – respondeu ele friamente.


- E simplesmente aconteceu de marcar uma reunião logo hoje? – perguntou Sirius com ironia.


- Na verdade, eu tinha esse encontro agendado desde a última semana – respondeu Lucius. – Pode verificar os registros, como sem dúvida o farão – adicionou com um sorriso desdenhoso. – Bem, devo ver se não estou atrasado para minha reunião – ele se afastou dos dois aurores. – Não gostaria de deixar Madame Edgecombe esperado – ele se afastou antes de parar, virando-se com um sorriso debochado para Sirius. – Ah, e diga ao seu amigo Potter que se divirta no julgamento.


Sirius se arremessou sobre ele, mas Remus segurou firme seu braço, impedindo-o de alcançar a varinha e chegar até Malfoy. Com uma risada, Lucius virou-se e afastou-se, dirigindo-se ao elevador.


- Aquele filho da mãe! – xingou Sirius com raiva. – Eu juro por Deus, poderia simplesmente matá-lo com as minhas próprias mãos!


Remus estava olhando para o Comensal, uma expressão pensativa no rosto.


- Você notou a maneira que ele estava agindo? – perguntou calmamente.


- Sim, como ele sempre age! – vociferou Sirius. – Irritante e cheio de si!


Remus sacudiu a cabeça.


- Não, ele estava diferente hoje – afirmou. Sirius virou-se para encarar o amigo com surpresa. O lobisomem encontrou o olhar confuso do outro. – Você não percebeu? – perguntou. Sirius balançou a cabeça, e Remus tornou a olhar para os elevadores, observando o loiro entrar neles. – Ele está nervoso com alguma coisa – afirmou calmamente.


- Nervoso? – indagou incrédulo Sirius. – Por que acha isso?


- Por tudo que ele fez – respondeu o auror. – Ele estava brincando com a bengala, como se quisesse sacar a varinha. Isso é um claro sinal de nervosismo – explicou. – E o suor na testa, expressão marcada nos olhos e o esforço que fez para agir confortável, tudo sugere que ele estava fazendo teatro – Remus ficou quieto por um momento, os olhos se estreitando enquanto repensava a conversa. – Você achou estranho a forma que ele demorou a explicar por que estava aqui? Até nos incentivou a olhar os registros para ver se ele, de fato, agendou uma reunião com Edgecombe semana passada, e aposto com você que ele agendou. Isso tudo leva a uma coisa: um álibi.


Sirius de repente viu da mesma forma que o outro.


- Um álibi – repetiu lentamente. – O que ele está planejando? – perguntou.


Remus de repente disparou em direção aos elevadores.


- Não é ele quem está planejando – disse ao amigo que o seguia. – Essa parte sempre fica com seu mestre.


xxx


James entrou na sala onde Harry estava sendo mantido. Assim que entrou, os guardas olharam para ele, mas não o impediram ou mesmo o questionaram. O auror notou que os dois guardas que conhecera em Nurmengard, Davis e Jackson, estavam entre os sete que faziam a guarda. Encontrou o olhar deles e os dois homens assentiram em cumprimento.


Fechou a porta e caminhou até onde o garoto estava sentado, ainda acorrentado. O guarda sentando em frente ao adolescente levantou-se quando ele se aproximou, oferecendo-lhe silenciosamente a cadeira e caminhando até um canto do cômodo. James assentiu para o homem em agradecimento ocupando a cadeira oferecida. Pelo canto do olho, viu Jackson gesticulando para os guardas sentados em volta e próximos ao auror se afastarem. Eles se levantaram, dando-lhe um pouco de privacidade.


Só quando sentou olhou direito para Harry. Sentiu a bile subir à garganta com a visão das algemas pesadas fincadas em torno dos pulsos ainda enfaixados do filho. O olhar preocupado subiu até o rosto do jovem e viu que o garoto olhava para baixo, ignorando-o completamente. Percebeu, com alívio, que ele parecia um pouco melhor do que da primeira vez que o vira, há dois dias. Não parecia tão cansado, mas ainda estava muito longe de parecer completamente saudável.


Engolindo pesadamente, o auror falou calmamente com ele.


- Harry?


O rapaz levantou os olhos com seu nome, a expressão fria e sem emoção como da última vez que falara com ele.


- Como tem passado? – perguntou descuidadamente. Olhou para os guardas do outro lado da sala. – Não houve nenhuma outra situação, não é?


Um sorrisinho espalhou-se lentamente pelos lábios do adolescente. Ele inclinou a cabeça para o lado enquanto examinava o auror, que parecia preocupado.


- Não – respondeu com a voz tranquila. – Você vai lamentar ouvir que eles não têm sido mais inventivos quando se trata de técnicas de interrogatório.


- Eles te interrogaram de novo? – James foi rápido em perguntar.


Harry sustentou seu olhar por um momento antes de desviá-lo, remexendo-se.


- Sabiam que não podiam tirar nada de mim, então pararam de tentar.


James soltou um suspiro de alívio. Torcera para que os guardas apenas o deixassem em paz após quase matá-lo, mesmo que não tivessem a intenção.


- Sei que deve estar nervoso com o julgamento – disse James, sua voz pouco mais que um suspiro. – Mas estamos fazendo todo o possível para protegê-lo.


Harry o observava com cuidado, os olhos verdes penetrantes se estreitando com as palavras do auror e a expressão tornando-se séria.


- Isso é muito nobre de sua parte – zombou –, mas eu não preciso de proteção, especialmente sua.


As palavras o atingiram duramente, deixando-o sem fala por um momento. Tentou ignorar a raiva e a rejeição, mas não conseguia.


Antes que pudesse falar, a porta atrás dele se abriu e dois aurores entraram. Eles ignoraram Harry e James, dando-lhe apenas uma olhada. James os reconheceu como Fredrick Jones e Kevin Banks, dois aurores sêniores que normalmente levavam a papelada necessária e os prisioneiros que eram trazidos a julgamento. Os dois caminharam até os guardas de Nurmengard, apresentando-se.


James virou-se para o jovem, mas ele fitava os dois recém-chegados. Ambos, pai e filho, observaram Jones falar com Davis, lendo a prancheta.


- Pode confirmar que toda a papelada necessária está completa, da forma mais precisa e concisa possível? – indagou Fredrick.


- Sim – Davis estendeu o arquivo ao auror, que o pegou, passando para Banks.


- Você está com todos os itens obtidos do prisioneiro, que precisam ser entregues ao Ministério? – questionou Jones.


Davis tirou um saco plástico transparente, oferecendo-o ao auror. James pôde ver que a sacola continha as armas de Harry, várias lâminas e adagas, um amontoado de metal reluzente brilhava por trás do plástico. Ele até avistou a máscara prateada que pertencia ao garoto.


Harry se remexeu na cadeira, quase como se preparando para pular no auror e agarrar seus pertences. James tinha certeza que se ele não estivesse acorrentado, teria tentado pegar suas coisas de volta. Mas o jovem ficou na cadeira, assistindo com os olhos ardentes o auror de cabelos grisalhos passar a sacola para Banks.


- Você está com a varinha do prisioneiro? – perguntou Jones.


- Não, a varinha já foi entregue ao Ministério pelo Esquadrão que o capturou – respondeu Davis. – O formulário principal está incluso no arquivo.


Com a menção da varinha, James olhou para Harry. Viu como estava com a mandíbula apertada de raiva e os olhos esmeralda estavam quase queimado de fúria.


- Tudo bem, isso é tudo – disse Jones, finalmente erguendo os olhos da prancheta. – Muito obrigado, senhores. Podemos cuidar das cosias daqui por diante – disse ele, o rosto perfeitamente alinhado permitindo um sorrisinho educado.


Os sete guardas assentiram, apertaram a mão dos dois aurores e começaram a andar até a porta, saindo um por um. Jackson foi o último a sair. Ele olhou para Harry, encontrando seu olhar. Não disse nada, mas olhou para James antes de sair calmamente. A porta fechou atrás deles.


Quase instantaneamente, a porta se abriu de novo, e quatro aurores entraram, assumindo a encargo de fazer a guarda. James observou os quatro homens entrarem e lançarem olhares para o garoto antes de seus queixos caírem de surpresa. Seus olhos corriam do pai para o filho, choque e surpresa evidente em suas expressões.


Harry os ignorou, os olhos ainda fixos na sacola nas mãos de Banks. Observou o auror pegar a bolsa e caminhar para o canto da sala. Ele abriu uma porta de metal, revelando a abertura de uma calha. Deixou o saco cair na rampa e até o garoto podia ouvi-lo deslizar pelo tubo de metal, caindo fundo no labirinto que era o Ministério. O homem fechou a porta e virou-se, seguindo Jones para fora da sala, sem dizer uma palavra a ninguém todo o tempo que esteve ali.


Os olhos do rapaz permaneceram na porta de metal.


- Harry? Harry?


Aborrecido, o adolescente virou-se para encontrar o olhar preocupado de James.


- Não fale no julgamento – instruiu o auror calmamente. – Nos deixe falar. Não importa o quê, não se oponha ou faça qualquer comentário em relação a nada que for dito, o.k.?


O jovem não respondeu e desviou o olhar, agindo como se não tivesse ouvido o que o homem dissera.


- Harry, por favor...! – o auror parou quando a porta se abriu novamente e Moody entrou.


James saiu da cadeira ao ver Alastor Moody. Sabia que o homem não podia ter vindo para ver o garoto, deixara seus sentimentos a respeito de Harry muito claros na reunião da Ordem, quando brandiu que ele era um “assassino sangue frio que merecia algo pior que o beijo!”, James ainda achava difícil não azará-lo.


O olho mágico do auror pousou sobre o rapaz e deu um pequeno salto na cavidade. Como os outros, a reação de Alastor ao ver a impressionante semelhança entre o adolescente e o pai era de espanto e surpresa. Mas o legendário auror foi rápido em recuperar a compostura, gastando não mais que três segundos encarando o garoto antes de gesticular para James se aproximar dele, que foi rápido em agir, correndo até ele.


- O que houve? – perguntou.


- Pensei que devesse saber que Malfoy está aqui – disse Moody com a voz reduzida a um grunhido silencioso.


- Por que ele está aqui? – perguntou James rapidamente.


- Black e Lupin foram falar com ele, mas acho que não tem serventia alguma. Aquele maldito não dirá nada. Achei que você devia ser avisado – ele olhou para o jovem, que estava sentando, encarando-os. – Preste atenção quando estiver levando-o ao tribunal. Você não sabe o que Malfoy pode estar tramando.


James não pôde se impedir de revirar os olhos.


- Moody, você realmente espera que Malfoy tente alguma coisa? No meio do Ministério? Malfoy pode ser um idiota, mas ele não é burro – disse o moreno. – Provavelmente está aqui para espionar. Não vai tentar nada sozinho.


- Quem disse que ele está sozinho, Potter? – disse o outro em seu habitual tom paranoico.


- Quem mais estaria aqui com ele? – indagou James. – Você não está sugerindo que Malfoy vai atacar o Ministério com um grupo de Comensais da Morte? Ele ama muito seu disfarce para destruí-lo.


- Eu não estava pensando nos Comensais – admitiu Moody calmamente.


James ficou em silêncio por um momento, antes perceber que o auror estava falando sério.


- Vamos, Alastor! – sibilou raivosamente. – Você não pode acreditar que Voldemort virá aqui. É o Ministério da Magia! – apontou ele. – Não há como ele colocar o pé aqui!


Harry de repente soltou um gemido de dor, fazendo James se virar. As mãos algemadas do jovem voaram para a testa, um silvo baixo escapando-lhe enquanto os dedos agarravam a cabeça numa imensa dor. Os quatro aurores apontaram as varinhas para ele num piscar de olhos, mas observavam confusos o garoto não fazer nada além de esfregar a testa, ofegando rapidamente. Antes que James pudesse lhe perguntar o que estava acontecendo, o adolescente de repente levantou os olhos para ele. Uma risada baixa lhe escapou enquanto fitava o auror.


- Pense de novo – disse sem fôlego. – Ele está aqui.


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As palavras não foram registradas a princípio, visto que James estivera conversando com Moody em sussurros, não achava que fosse possível Harry tê-los ouvido. Antes que pudesse perguntar o que ele queria dizer, sentiu a esfera de vidro em seu cinto aquecer de repente. Um mero segundo depois, um agudo sinal sonoro começou a tocar na sala. Horrorizado, James baixou os olhos para sua orbe de auror e viu-a brilhando vermelha e emitindo o sinal do alarme. Ergueu os olhos para Alastor e o viu segurando sua orbe, que também brilhava e tocava. Os outros quatro aurores faziam o mesmo. O moreno encarou Olho-Tonto, muito chocado para falar alguma coisa. Só havia uma situação na qual suas orbes podiam brilhar vermelhas e soar o alarme: quando estavam sob ataque.


No segundo seguinte, James estava em completo modo auror, sacando a varinha e vociferando ordens para os outros quatro.


- Griffin! Stevenson! Vão para fora e vigiem a sala! Ninguém entra aqui! – ele apontou para os outros dois aurores. – Ferguson! Smith! Podem ficar com ele – gesticulou para Harry. – Não tirem os olhos dele!


- Sim, senhor! – responderam os quatro.


James olhou uma última vez para o garoto, vendo o sorriso debochado em seu rosto. Saiu da sala com Moody, sem dizer outra palavra.


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Quando James e Moody saíram correndo da sala até o átrio principal do Ministério, quase foram esmagados já que todos que estavam no prédio lutavam para sair. Um pandemônio completo irrompeu quando o som do alarme fez todos entrarem em pânico. Havia uma única força que se atreveria a atacar o Ministério, e todos sabiam qual. Voldemort viera pegar o filho de volta.


Todos só conseguiam pensar em fugir antes de cruzar o caminho do Lorde das Trevas. O problema era que todas as saídas estavam localizadas no átrio principal, onde a ameaça aparentemente estava. Então, bruxos e bruxas estavam se amontoando em qualquer direção, desde que se afastassem do Lorde das Trevas e seus Comensais da Morte.


A maioria dos aurores lutava para ir na direção oposta ao fluxo de pessoas. Tentavam chegar ao átrio, para poder enfrentar a ameaça. Mas aquilo estava se provando quase impossível, já que os bruxos estavam muito apavorados e amedrontados para escutar quaisquer ordens. Eles ignoravam os aurores, que tentavam gritar e lhes dizer por onde ir e o que fazer. No fim, os aurores apenas empurraram e forçaram o caminho. James e Remus estavam entre os que passaram a multidão e corriam na direção do átrio principal.


- Isso é loucura! – gritou Remus para o amigo, sobrepondo-se aos gritos e berros. – Voldemort não pode estar atacando o Ministério! Isso não é possível!


- Eu discordo! – gritou Dawlish gesticulando para o alarme que tocava.


James correu em velocidade máxima, apressando-se para chegar ao átrio e parar quem quer que estivesse atacando. Uma vozinha em sua cabeça concordava com Remus. Era quase suicídio para o Voldemort atacar o Ministério em plena luz do dia, onde todos os aurores estavam presentes. Mas a lembrança do rosto sorridente de Harry ao pronunciar de forma confiante e tranquila “ele está aqui” contradizia seus pensamentos. Forçou as pernas a correrem mais rápido. Impediria Voldemort. Dessa vez, não deixaria que ele levasse seu filho. Nunca mais.


O auror estava entre os primeiro a entrar no saguão, varinha em punho, pronto para a batalha. O que viu, o fez parar abruptamente, sem fôlego. O átrio estava deserto, nenhuma pessoa sequer à vista. Mas flutuando no ar, ocupando quase todo o imenso salão, estava um crânio verde esfumaçado, com uma serpente saindo de sua boca. A Marca Negra flutuava ameaçadoramente no ar, o símbolo horrendo de morte e dor contrastando fortemente com o teto azul-pavão e os símbolos dourados.


- O que diabos está acontecendo? – berrou Dawlish, encarando a Marca Negra.


- Mantenham os escudos! Eles podem estar em qualquer lugar! – instruiu Moody.


Mas James já sabia que Voldemort não estava ali. Havia uma grande chance de seus Comensais da Morte também não estarem. Se estivessem, estariam no átrio, matando tantos quanto pudessem. As pessoas no átrio viram a Marca Negra de repente encher o lugar, há poucos minutos, e foi por isso que se apavoraram e correram, tentando fugir dos Comensais que na verdade não estavam ali. Mas, então, isso levava à pergunta: quem conjurou a Marca Negra, e por que ali?


Em resposta à sua pergunta não formulada, um som repentino ecoou no grande salão. Imediatamente, os doze aurores que conseguiram chegar ali, levantaram as varinhas e conjuraram os escudos. Eles se espalharam, cada um se posicionando num canto ou seção do átrio, tentando ver de onde vinha o som.


Kingsley verificou a grande fonte com as estátuas douradas e de repente gritou para os demais. James correu ao seu grito, junto com os outros, e viu quem fizera os alarmes dispararem.


Vagando dentro da piscina, encharcada da cabeça aos pés, estava uma mulher. Ela ainda segurava uma varinha, mas estava frouxa em sua mão ensanguentada. Andava em torno da piscina, batendo os joelhos contra a parede baixa, apenas para divagar em outra direção, deparando-se com a parede de novo. Tinha um olhar perdido no rosto, os olhos azuis perturbadoramente vazios. As contusões ao longo da mandíbula e um olho vermelho e inchado evidenciavam o espancamento que recentemente sofrera.


Kingsley entrou na piscina, andando lentamente até a mulher espancada e ferida. Ele a alcançou e gentilmente a segurou pelos ombros, girando a varinha de seus dedos frouxos.


- Morsmordre – murmurou a bruxa. Ela encarou o auror, mas não conseguiu enxergá-lo. – Morsmordre – repetiu o nome do feitiço repetidamente.


- Ela está sob a Maldição Imperius – murmurou Moody, mais para si. Sacudiu a cabeça diante da visão da bruxa torturada nas mãos de Comensais da Morte. – Covardes malditos! – vociferou.


Kingsley pegou a mulher com aspecto frágil e tirou-a da fonte, Dawlish e Remus correndo para ajudá-lo.


- Isso não faz sentido – sussurrou James para si.


Tornou a olhar para a Marca Negra flutuado sobre suas cabeças. Os Comensais da Morte usaram uma bruxa, torturando-a primeiro, antes de conjurar a Maldição Imperius e mandá-la para dentro do Ministério para conjurar a Marca Negra. Foi isso que fez os alarmes dispararem, já que o feitiço Morsmordre os ativaria, como o fariam qualquer das Imperdoáveis. Mas por que se dariam todo esse trabalho? Apenas para apavorá-los? Não podia ser. Olhou de novo para a caveira verde flutuando. A Marca Negra geralmente era conjugada quando um Comensal da Morte ou Voldemort matara ou causara morte. Olhou em volta do átrio para os demais aurores. Seria um aviso?


Uma súbita explosão sacudiu o saguão e gritos petrificados foram ouvidos à distância. James e os outros aurores viraram-se na direção da qual eles vieram e dispararam de volta, correndo para as escadas e elevadores.


Fumaça e mais gritos os encontraram quando alcançaram o sétimo andar. As chamas rugiram alto e o completo caos irrompeu ao redor deles. Através da espessa fumaça negra, James avistou Sirius, tentando levar os bruxos histéricos e assustados para a segurança.


- O que aconteceu? – perguntou James ao alcançar o amigo, tirando o peso de uma mulher machucada de seus braços.


- Eu não sei! – gritou Sirius, lutando para ajudar outros. – Houve uma explosão repentina e o corredor simplesmente explodiu em chamas.


James percebeu que estava engando. Tinham Comensais da Morte ali. Estavam apenas disfarçados.


- Temos que evacuar o prédio! – disse ele. – Levar todo mundo para o átrio. As lareiras da esquerda estão bloqueadas, ninguém pode entrar no Ministério, mas as da direita estão abertas. Leve o máximo de pessoas que puder até elas e mande-as para fora!


Sirius assentiu e passou o plano de ação para os outros aurores. James começou a levar mais pessoas para o átrio, ajudando os feridos, quando de repente percebeu quem mais estava no Ministério da Magia naquele instante, a pessoa que era mais importante para ele que sua própria vida.


- Ah, Deus! Lily! – sussurrou para si.


De repente, disparou para as escadas, correndo em velocidade máxima para pegar a esposa, rezando para que nada de mal tivesse acontecido a ela.


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Enquanto James se dirigia ao segundo andar, ao seu escritório, percebeu com um crescente horror que o sétimo andar não foi o único a ser incendiado. Todos os andares com os quais se deparou estavam em chamas, ondas de pessoas gritando de medo e terror enquanto lutavam para sair. Os Comensais da Morte evidentemente entraram no Ministério e detonaram simultaneamente as armadilhas de fogo em todos os andares que puderam. Os únicos que não conseguiram alcançar foram o nono e, é claro, o átrio.


Assim como muitos outros, o auror já tentara apagar o incêndio, mas o fogo repelia a magia e, quando muito, aumentava a intensidade. No fim, sabia que o melhor a fazer era evacuar o prédio.


James alcançou o segundo andar e tentou atravessá-lo para chegar ao seu escritório, mas o caminho estava bloqueado pelas chamas, criando uma parede de fogo cintilante.


- Lily! Lily! – gritou ele, apavorado com o pensamento de algo acontecer a ela. Não devia tê-la escutado quando insistiu em vir hoje. Devia tê-la feito ficar em casa, onde estaria segura. – Lily! Lily! – berrou.


- James?


Ao som de sua voz, o homem se virou, os olhos lacrimejando horrivelmente com a fumaça, não conseguia vê-la em lugar algum.


- Lily?


De repente, da multidão caótica, a ruiva veio correndo em sua direção, jogando os braços ao redor dele assim que o alcançou.


- Ah, graças a Deus! – gritou ela ao abraçá-lo, agarrando-se a ele. – Graças a Deus você está bem – soluçou.


- Você está bem? – perguntou James, procurando algum ferimento.


- Estou bem! – respondeu ela.


- Vamos, você tem que sair daqui!


Sem outra palavra, James agarrou a mão dela e conduziu-a, em meio à fumaça espessa, para a saída. O auror ficou disparando faíscas vermelhas no ar em intervalos regulares para ajudar os demais a segui-lo.


Levou a esposa ao oitavo andar, para o átrio principal, e ficou aliviado ao ver um fluxo constante de pessoas usando as lareiras e até mesmo a cabine de visitantes para sair do Ministério. Lily avistou a Marca Negra, ainda flutuando contra o teto.


- Ah, meu Deus! – arfou ela, encarando a imagem medonha.


James puxou sua mão, correndo para a lareira.


- Não olhe para ela – avisou ele.


O auror fez a esposa entrar na fila para usar a lareira para sair dali. Esperou com ela, com medo que ela não conseguisse sair se a deixasse sozinha. Lily estava tremendo horrivelmente e o segurava com força. Ela era a próxima a entrar na lareira quando, de repente, virou-se para ele.


- James, e Harry? – perguntou. – Ele está bem? Você o tirou daqui?


O auror ficou surpreso ao perceber que naqueles curtos dez minutos tentando encontrá-la quase esquecera do garoto, e que ele também estava ali, ainda acorrentado e possivelmente sem poder fugir do incêndio.


- Ah, não, Harry! – sussurrou ele.


Os olhos de Lily se arregalaram com as palavras dele.


- Você ainda não o alcançou? – perguntou temerosa. – James, você tem que ajudá-lo! Tem que tirá-lo daqui!


- Eu vou – prometeu. Ele empurrou Lily na lareira agora vazia. – Eu vou pegá-lo e mantê-lo a salvo. Vá para casa e espere por mim, o.k.?


- Por favor, James, vá depressa até ele! Ele precisa da sua ajuda! Por favor! – a ruiva estava histérica. – Não deixe que nada aconteça com ele, por favor! – ela continuou agarrando as vestes do esposo, implorando-lhe para que ajudasse seu filho.


- Vá para casa, Lily. Vá para casa. Eu vou pegá-lo, eu prometo – disse ele enquanto conseguia afrouxar o aperto em suas vestes.


Ela relutantemente partiu num redemoinho de chamas verdes, ainda pedindo ao marido para encontrar Harry. Assim que ela se foi, James virou-se e disparou de volta para o corredor. Tinha que tirar Harry dali, rapidamente.


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Harry estava sentado na cadeira, ignorando completamente os dois aurores que ficaram para vigiá-lo. A cicatriz doía horrivelmente e sentia-se um pouco enjoado com a dor. Bloqueou o máximo que podia, forçando-se a se concentrar em outras coisas, como escapar.


Foi tirado dos pensamentos com o som de uma terrível explosão fora da sala. Parecia que a terra deslizara embaixo da cadeira e ele foi jogado no chão. Com as mãos acorrentadas como estavam, atingiu o chão com força, batendo a cabeça no piso. O garoto gemeu, já estava com dor de cabeça, não precisava de outra.


Ferguson e Smith colocaram-no de pé imediatamente. O adolescente lutou para achar posição enquanto Smith corria para a porta, abrindo-a. Um jato de fumaça preta encheu o ar e o ar quente que entrou na sala foi suficiente para fazer os três arfarem e tossirem.


- Um incêndio? – perguntou Ferguson incrédulo. – Tá brincando?


- Vamos, temos que sair daqui! – disse Smith.


Ferguson e Smith agarraram os braços de Harry e o arrastaram para o outro lado da sala e para fora. Assim que saíram do cômodo, viram os corpos dos dois aurores no chão, claramente mortos.


Os dois encararam seus colegas em horror antes de se virarem e correrem pelo corredor, tentando chegar às escadas. Harry não conseguia continuar, a corrente entre seus pés algemados só permitia passos curtos. Não podia correr com os pés acorrentados como estavam.


- Vocês têm que tirar isso – disse o jovem a Smith enquanto lutava contra o ritmo acelerado.


- Nem pensar! Essas ficam! – argumentou o auror.


- Não consigo correr com elas! – rebateu Harry.


- É uma pena – respondeu Smith e enterrou os dedos nos braços do rapaz, aumentando a velocidade.


Os dois aurores estavam literalmente arrastando o garoto consigo enquanto corriam para as escadas. A fumaça negra os cegava, não conseguiam ver para aonde estavam indo, mas prosseguiam, as varinhas em uma mão e a outra apoiando o jovem.


Do nada, um jato de luz veio e atingiu as costas de Smith. O homem caiu de cara no chão, e não se mexeu de novo.


- Smith! Smith! Henry! – chamou Ferguson, mas o outro não respondeu.


Sem tempo para verificar se o colega estava morto ou não, o auror avançou, arrastando Harry consigo. Disparou feitiço após feitiço à distância, de onde viera o ataque ao colega, com uma apavorada imprecisão.


Eles ainda não tinham alcançado a porta quando o adolescente tropeçou, quase caindo no chão de novo.


- Droga! – sibilou Harry, sentindo o tornozelo pulsar dolorosamente. – Você tem que tirar isso – rosnou para o auror.


Ferguson sacudiu a cabeça.


- Não!


O homem tentou puxar o garoto, mas dessa vez ele não deixou. Ficou teimosamente onde estava.


- As algemas estão me atrasando! – disse Harry. – Tire-as para que possamos sair daqui! – o outro começou a sacudir a cabeça. – Você não quer ser pego como aquele outro auror, quer? – perguntou.


Ferguson parou, percebendo que talvez ele estivesse certo. Se tirasse as algemas dos tornozelos, poderiam sair mais rápido.


- Tudo bem, mas só as algemas dos tornozelos! – cedeu o auror, ajoelhando-se para tirá-las.


- Tudo bem – concordou Harry.


Ferguson abriu as algemas com um feitiço e tirou-as. As correntes que conectava as de cima com as debaixo pendiam dos pulsos do jovem. O homem se levantou e removeu as corrente também, deixando apenas os pulsos algemados. Não confiava no garoto, que podia usá-las para atacá-lo.


Harry sorriu para ele.


- Obrigado – sorriu ele.


Antes de Ferguson pudesse fazer mais que piscar os olhos, o punho do jovem o atingiu, derrubando-o no chão. Mesmo com os pulsos algemados, foi capaz de atacá-lo sem maiores problemas. O auror lutou para se recuperar do ataque repentino, mas, antes que pudesse se levantar, o rapaz ajoelhara-se ao seu lado e o agarrara pelo cabelo, antes de puxar sua cabeça para trás num forte golpe. A cabeça do homem atingiu o chão com uma pancada ruidosa e seus olhos rolaram para trás ao perder a consciência.


Com o auror nocauteado, Harry tirou a varinha de seus dedos frouxos. Abriu as algemas em seus pulsos, jogando-as ao lado das outras. Removeu as algemas Kelso também, jogando-as no peito de Ferguson antes de se levantar. Olhou em volta do corredor, verificando a presença de outro auror antes de partir para o corredor cheio de fumaça.


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Lucius Malfoy estava apavorado. Estava revistando o mesmo andar há mais de meia hora e não havia sinal do Príncipe Negro. Esperava que o garoto entendesse a deixa e concluísse o que estava acontecendo assim que o incêndio começasse, mas talvez não pudesse fugir. As distrações que armaram com o fogo e a Marca Negra foram para dar a Harry tempo e oportunidade de escapar, mas talvez houvesse muitos aurores o vigiando. O loiro limpou o suor da sobrancelha com um lenço, preocupando-se com a segurança do jovem. Se não o pegassem... estremeceu pensando no que Voldemort faria com eles, com todos eles.


Virou outra esquina, correndo pelo corredor cheio de fumaça. O lenço estava pressionado firmemente sobre o nariz para impedi-lo de inalar a fumaça mortal. Passou apressado pelas salas abertas, buscando ouvir o mais fraco som que pudesse alertá-lo da presença de alguém. Mas o andar inteiro parecia deserto.


Acabara de se virar para voltar por onde veio, quando uma mão disparou, segurando-o pelo ombro. Lucius se virou, a varinha pronta, mas não a sacou quando viu os familiares olhos verdes encarando-o de volta. Soltou um grande suspirou de alívio quando Harry saiu das sombras.


- Você demorou! – reclamou o garoto.


O homem sorriu, era bom ouvir a voz dele novamente.


- Pensamos que fosse precisar de bastante tempo para fugir – explicou.


Harry estreitou os olhos para ele.


- Você tem pouca confiança em mim e nas minhas habilidades – reclamou, mas apenas brincando.


- De forma alguma, Príncipe. Sabemos quão habilidoso é – respondeu Lucius. – Agora, escute com atenção, não temos muito tempo – instruiu. – O Lorde está esperando você do lado de fora do Ministério.


As sobrancelhas do jovem se ergueram em surpresa.


- Ele está aqui mesmo?


- Não sentiu a cicatriz? – indagou Lucius. – Milorde disse que deixaria você saber que estava perto.


- Eu senti – respondeu Harry, tocando a cicatriz formigante. – Mas não acreditei que ele fosse se arriscar. Eu disse aos aurores que meu pai estava aqui, apenas para apavorá-los, mas não achei que ele fosse mesmo vir.


- Milorde queria vir ao Ministério, mas conseguimos convencê-lo de que era mais seguro para vocês dois se ele ficasse do lado de fora – disse Lucius.


- Ele não devia nem estar lá fora! É perigoso demais – inquietou-se o garoto.


- Ele tem uma equipe consigo – reconfortou o loiro. – Você tem que sair do Ministério e chegar até ele. Use a saída dos visitantes para deixar o prédio. Lá fora, vire à esquerda e siga até o final da rua. Atravesse-a e siga para Rua Gibson, passando o pub trouxa. Depois de passar o pub, pegue a rua lateral, que vai te levar para Kelso Place. Ao virar a esquina, passando uma agência postal, verá uma equipe esperando por você com Milorde – o loiro tirou um pequeno item, envolto num pano e entregou ao adolescente. – Isso é uma ajuda, caso não consiga chegar ao Lorde a tempo.


Harry afastou o pano para ver um pequeno relógio de bolso preso a uma fina corrente.


- Chave do portal? – perguntou.


- Sim, vai te levar para casa, assim que houver um problema e você não conseguir chegar ao mestre ou aos Comensais da Morte – explicou Lucius. – Não conseguimos romper os escudos, não havia tempo para trabalhar neles, então você terá de ultrapassar um raio de duas milhas da saída para a chave do portal funcionar. Os escudos anti-aparatação estão instalados num raio de cinco quilômetro, então não adianta.


O jovem pegou o objeto e o enfiou no bolso.


- O.k. – respondeu.


- Agora, anda. Vou te dar cobertura até chegarmos no átrio – disse Lucius, sacando a varinha.


Harry começou a andar com ele, mas parou de repente.


- Espere, eu quase esqueci – ele virou-se sem mais nenhuma palavra e começou a caminhar de volta.


- Onde está indo? – questionou o Comensal.


- Tenho que pegar minhas coisas – explicou o rapaz, disparando pelo corredor.


- Harry! – gritou Lucius exasperado. – Deixe-as ai!


- Só vai levar um segundo – respondeu o garoto.


- Você vai ser pego! – sibilou o loiro.


- Eu vou ficar bem! – respondeu o jovem de volta, desaparecendo ao virar a esquina.


Lucius murmurou algo baixinho antes de disparar atrás dele.


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Harry conseguiu voltar à sala que estivera enquanto aguardava o julgamento. Passou pelos dois corpos na porta e correu para dentro. Caminhou até a porta de metal e abriu-a. A abertura da calha apareceu diante dele, um buraco escuro. Uma brisa fria saiu dela, passando pelo rapaz e fazendo-o tremer.


Tirou a varinha de Ferguson e segura-a, pensando qual feitiço seria mais efetivo. Apontou-a para a abertura e murmurou um simples “Accio”, mas junto com o feitiço, trouxe à tona uma imagem mental da sacola de plástico transparente com seus pertences, que tinha visto. Sua magia sem varinha precipitou-se e junto com o “Accio” desapareceu na calha.


Harry ouviu o som de atrito enquanto a sacola era forçada rampa acima. O saco foi cuspido pela abertura, direto nas mãos do garoto. Com um sorriso, ele o rasgou, derramando o conteúdo sobre a mesa. A primeira coisa que apanhou foi seu anel preto e prata. Colocou-o no dedo antes de apanhar o resto da artilharia. Levou apenas um punhado das adagas e estrelas ninja. Tinha poucos bolsos para escondê-las. Agarrando a máscara prateada, partiu novamente, saindo da sala.


Quase esbarrou em Lucius, que esperava do lado de fora.


- Santo Deus! – repreendeu o loiro. – Não podia viver sem isso? – perguntou ele.


- Não – respondeu Harry. – Estas foram presentes, lembra? – ele levantou a adaga.


- Estou certo de que Milorde as teria substituído – respondeu o Comensal.


O homem virou-se para conduzir o jovem para a saída, sorrindo para si com a infantilidade do garoto. Secretamente achava divertido que Harry estimasse tanto os “presentes” do pai, que correria o risco de ser apanhado apenas para pegá-los de volta.


Acabara de virar a esquina quando alguém investiu contra ele, tentando tomar sua varinha. Lucius foi rápido em bloquear o ataque e jogou o homem no chão com um movimento da varinha. Olhos assustados o encaravam. O loiro reconheceu o auror Liam Ferguson, esparramado no chão diante dele. Era um jovem auror, um sangue puro de família respeitável. O Comensal quase sentiu pena pelo que estava prestes a fazer.


Ergueu a varinha, a maldição da morte quase saindo de sua boca quando seu pulso foi agarrado por Harry de repente, impedindo-o. O Comensal olhou surpreso para ele. O jovem olhou para o homem aterrorizado no chão, antes de seu olhar encontrar o de Lucius.


- Não o mate – disse o rapaz. – Eu tenho uma ideia melhor.


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James apressou-se pelo corredor coberto de fumaça, correndo o máximo que podia para a sala na qual deixara Harry com os quatro aurores o vigiando. Estava tossindo e cuspindo violentamente. Podia sentir a fumaça na boca. Em seu estado de pânico, nunca lhe ocorreu conjurar um feitiço cabeça de bolha.


Deparara-se com Sirius e Moody no caminho e ambos decidiram vir com ele. Viu a porta do cômodo entreaberta à distância e os corpos de Griffin e Stevenson do lado de fora. Com uma sensação nauseante crescendo dentro dele, o auror entrou correndo na sala e encontrou-a vazia.


- Ah, não! Ah, Deus, não! – seu olhar frenético vasculhou a sala de canto a canto. Harry se fora.


Notou a sacola rasgada no chão e algumas lâminas sobre a mesa. Apanhou uma, examinando-a rapidamente. Colocou-a de volta, correndo da sala. Inicialmente estava preocupado que algo de errado pudesse ter acontecido a Harry, mas agora sentia medo por outra razão completamente diferente. Não apenas o garoto saíra, mas pusera as mãos em suas armas novamente.


Assim que James saiu da sala, ouviu a voz rouca de Moody chamando seu nome. Correu até ele e viu o auror e Sirius ajoelhados ao lado de um corpo no chão. Quanto mais perto chegava, mais se dava conta de quem era. Henry Smith, o terceiro auror deixado na guarda do jovem, estava morto no chão.


- As correntes estão mais à frente no corredor – disse Alastor.


- Ele pegou as armas – viu-se contando aos colegas. – Está armado.


Moody e Sirius ficaram de pé. Olho-Tonto pressionou sua esfera de vidro, mandando mensagem para todos os aurores.


- Fiquem alertas! O Príncipe Negro fugiu! Ele está armado e é perigoso, fiquem vigilantes! Eu repito, o Príncipe Negro fugiu! Ele está armado! Usem força se necessário!


Ergueu os olhos para James, mas não sustentou o olhar. Virou-se e correu até as escadas para começar a procurar pelo prisioneiro que escapou.


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Os aurores estavam em pânico. O Príncipe Negro estava solto em algum lugar no prédio do Ministério e estava armado. Tinham que encontrá-lo e capturá-lo antes que escapasse. James, Moody e Sirius encontraram um grupo de aurores nas escadarias e todos começaram a discutir sobre o que fazer.


- Se os virem, ataquem primeiro, pensem depois! – instruiu Dawlish.


- Não, apenas o desarmem! – opôs-se James. – Não há necessidade de violência!


- Não há necessidade, Potter? Ele matou os quatro aurores que o estavam vigiando! – vociferou Moody.


- Quê? Ele matou? Quem estava vigiando? – perguntou um jovem auror chamado Jenson.


- Você não tem prova que ele os matou! – gritou James em resposta. – Eles podem ter sido atacados por Comensais da Morte andando por ai.


- Eles não mataram mais ninguém! – apontou Olho-Tonto. – As únicas pessoas mortas são as que você deixou encarregadas dele!


- Moody, cale a boca! – gritou Sirius.


- Por que está defendendo ele? – perguntou Dawlish a James em surpresa.


- Ninguém está defendendo ninguém – disse Remus rapidamente. – Tudo que estamos dizendo é...


Um súbito estrondo veio de algum lugar acima deles. Os oito aurores pararam antes de acelerar o passo, correndo para o andar de cima. Atravessaram as portas, varinhas em punho, mas não havia ninguém ali. As chamas estavam quase apagadas agora e a fumaça clareara nesse andar em específico, de modo que podiam ver ao redor.


- Alguém definitivamente está aqui – sussurrou Remus, seus sentidos de lobisomem em alerta máximo.


Os oito aurores se espalharam, tomando diferentes cantos para investigar. James estava lentamente margeando até a curva no corredor, pronto para fazer um ataque repentino e agarrar Harry, se ele estivesse ali.


Uma forma de repente apareceu no canto e esbarrou nele, fazendo-o cair no chão. A pessoa pulou sobre ele e disparou para as portas.


- Ali está ele! – gritou Jenson antes de vários jatos de luz irem até a figura que corria.


James se levantou e avistou o garoto de cabelos negros, com a face coberta pela máscara prateada, saltar pelas portas abertas e desaparecer por elas.


Correu atrás dele, assim como os demais aurores. Feitiço após feitiço era disparado no garoto, mas nenhum acertou o alvo. A figura mascarada levou os oito aurores até o quarto andar, antes de correr pelo longo corredor sinuoso.


- Estupefaça! – gritou Dawlish, dando um tiro certeiro nele.


O feitiço acertou o alvo bem nas costas, e o rapaz tombou para frente, batendo no chão. James e Moody foram os primeiros a alcançá-lo. Apenas quando o moreno se aproximou viu que algo não estava certo. Alastor virou a pessoa inconsciente e parou, aparentemente notando a mesma coisa que o colega notara. A figura mascarada era mais alta e robusta que Harry. Olho-Tonto arrancou a máscara imediatamente e encarou o rosto de um inconsciente Ferguson.


- Ah, maldição! – praguejou Dawlish ao chegar na cena. – Droga!


- Enervate! – Remus trouxe o auror estuporado de volta à consciência.


Ferguson gemeu ao acordar. Olhou em volta para os colegas antes de tentar se sentar. Sua mão disparou para a parte de trás da cabeça e gemeu novamente com a dor.


- Liam, o que aconteceu com você? Onde está o Príncipe Negro? – perguntou Dawlish.


Ferguson piscou algumas vezes, tentando se orientar.


- Eu… Eu não sei. A… a última coisa que lembro, eu estava tentando levá-lo para fora. Houve um... um incêndio e Smith... Smith foi atacado e morto por alguém, um Comensal da Morte, eu suponho. Ele, o Príncipe Negro, me disse para tirar as algemas, porque ele não conseguia correr com elas e... e eu as tirei. Então, ele simplesmente me socou e bateu minha cabeça no chão, me nocauteando. Eu só acordei agora.


Moody sacudiu a cabeça, sabendo que havia mais alguma coisa.


- Ele foi obliviado – disse ele –, e, sem mencionar, colocado sob a maldição Imperius para correr com a máscara.


Ferguson pareceu um pouco verde com as palavras de Moody. Olhou para os outros, silenciosamente perguntando se o outro estava dizendo a verdade. Notou a máscara prateada na mão de Alastor.


James percebeu algo mais de repente.


- Ferguson, onde estão suas vestes de auror?


O homem baixou o olhar para a camisa escura e calças, notando, pela primeira vez, que suas vestes tinham sumido. Ergueu os olhos para James com uma expressão vazia, sacudindo a cabeça.


- Eu... eu não… eu não consigo...


James encontrou os olhares preocupados dos companheiros.


- Merda! – xingou Sirius antes de saltar de pé, junto com o amigo e os demais.


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Harry andou calmamente junto ao fluxo constante de pessoas tentando sair do Ministério. Estava com o capuz das vestes azuis de auror puxado sobre a cabeça e um chumaço de pano pressionado contra o nariz, fingindo estar se protegendo da fumaça e convenientemente escondendo a parte inferior do rosto. O outro braço estava envolto em torno de Lucius, que fazia uma grande performance de estar ferido e “abalado” pelo ataque incendiário. O garoto o ajudou até a lareira para que pudesse sair dali via flu.


O jovem poderia ter usado a rede de flu para fugir com o Comensal, mas decidiu manter o plano original, já que atrairia atenção se usasse o sistema de flu vestido como auror. Não queria prejudicar o disfarce de Lucius, incriminando-o por sua fuga. Dessa forma, ninguém saberia que a pessoa com vestes de auror que ajudou o loiro até o átrio era o Príncipe Negro. Escaparia usando a saída dos visitantes sem ninguém notar.


Quando Harry deixou o outro na fila, sussurrou palavras rápidas e baixas para ele.


- Te vejo em casa.


Lucius encontrou seu olhar e o canto de sua boca ergueu-se num sorriso, apenas por um instante, antes de desviar o olhar. O garoto afastou-se dele, facilmente fundindo-se em meio aos aurores ao redor, que guardavam o átrio caso os Comensais da Morte que incendiaram o Ministério atacassem alguém.


Harry olhou para trás e viu a cabine telefônica, vazia, esperando por ele. Levou-lhe apenas alguns furtivos segundos para chegar até ela. Deslizou para dentro sem que ninguém percebesse. A cabine começou sua lenta subida e o jovem encontrou-se segurando a respiração, desejando que a coisa estúpida andasse mais rápido.


Assim que a cabine desapareceu de vista, Lucius caminhou confiante para a lareira. Seu trabalho estava feito. O garoto estava fora do Ministério. Pouco antes de jogar um punhado de pó de flu, viu James entrar correndo no átrio, seguido por Sirius e Dawlish. Observou o auror examinar o salão freneticamente. O loiro esperou um pouco, parando a meio caminho de falar seu destino. Esperou o olhar do auror encontrar o seu, antes de sorrir para ele. Desapareceu num redemoinho de chamas verdes, deleitando-se com o olhar de desespero nos olhos de Potter.


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A cabine telefônica chegou com um estrondo e Harry soltou um suspiro de alívio. Abriu a porta depressa e saiu. Virou à esquerda e correu até o fim, como Lucius lhe instruíra. A rua estava calma, acabada e suja, com pichações nas paredes. Nenhum trouxa estava à vista. Rapidamente cruzou a estrada, correndo pela rua deserta. Olhou para o nome da rua, Rua Gibson, correu, procurando o pub que Lucius mencionara.


Acabara de virar na rua lateral quando James saiu correndo da cabine telefônica, seguido por Sirius e Dawlish. O jovem não estava ciente de que fora seguido, mas caminhou pelo beco escuro e sujo rapidamente, tomando cuidado para não tropeçar nos detritos e sujeitas no chão. Saiu da ruela em Kelso Place. Correu pela rua, notando que essa área parecia deserta também. Achar uma rua em Londres que estivesse deserta era um milagre. Achar duas significava que havia magia envolvida. Imaginou que seu pai tomara as providências necessárias para que ninguém, trouxa ou não, pudesse vê-lo fugindo. O adolescente correu toda a rua, virando na esquina.


À sua esquerda, uma fileira de lojas se alinhava até o final do quarteirão. Na esquina estava a agência postal que Lucius mencionara. Em frente a ela, na rua seguinte, estava um jardim privado, cercado por altas grandes negras de metal, com pontas afiadas, circundando a área.


Harry correu em direção a Bella, puxando o capuz das vestes de auror por fim. Os olhos dela brilharam ao avistá-lo. Sorriu para ele, mas não saiu do lugar. O jovem viu seus lábios se moverem apenas por um instante, algumas palavras murmuradas e, de repente, seu pai apareceu, aparentemente saindo da sombra atrás dela. O garoto não pôde evitar sorrir em alívio ao vê-lo. Temera nunca mais poder vê-lo novamente. Correu pela rua, indo direto para Bella e Voldemort, que ainda estavam parcialmente ocultos pela sombra.


Foi a mudança na expressão de seu pai que o alertou de que algo estava errado. Mesmo antes de sentir o queimor em sua cicatriz. O adolescente seguiu o olhar do bruxo e virou a cabeça, olhando para trás. Foi quando os viu, os aurores, dez deles correndo em sua direção, liderados por Potter.


A mão de Harry desapareceu no bolso e puxou as adagas num piscar de olhos. Duas delas saíram voando de sua mão e atingiram dois aurores, entalhando em seus peitos. Os homens caíram no chão com grunhidos de dor.


O rapaz virou-se e correu o mais rápido que podia na direção de Voldemort. Bella sacou a varinha e mirou acima da cabeça do adolescente.


- Crucio! – gritou ela, mandando a maldição torturante na direção de Dawlish, que acabara de apontar a varinha para o garoto.


Voldemort acabara de sacar a sua quando uma súbita nuvem negra desceu sobre ele, construindo um muro ao redor dele antes de se espalhar na direção de Harry. Comensais da Morte se materializaram da nuvem, ficando ao redor do Lorde das Trevas, protegendo-o.


O jovem continuou correndo, sem desacelerar, mesmo quando sentiu os homens de seu pai aparecerem ao seu redor, oferecendo proteção.  Ele não pararia, não até voltar para o pai.


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James evitou a investida de maldições que eram lançadas pelos Comensais da Morte sobre ele. Foi forçado a correr para a estrada para se salvar do ataque. Escondeu-se atrás de um carro estacionado, recuperando o fôlego. Virou a cabeça na direção dos amigos, aliviado por ver uma nova equipe de aurores, vinte ou mais, espalhados pela rua por todo canto. Gritara para todos os aurores no átrio para segui-lo quando correu do Ministério, indo atrás de Harry pela cabine telefônica.


Os aurores começaram uma furiosa batalha com os Comensais da Morte, feitiços e azarações voavam em todas as direções. O abrigo de James foi explodido por um Comensal, o carro ficou em chamas. O auror conseguiu sair do caminho em cima da hora. Lutou para se defender com a atenção fixa no garoto, que, milagrosamente, não foi atingido por um único feitiço. Ele ainda corria na direção de Voldemort, tentando chegar até ele, mas a batalha repentina o distraía, fazendo-o girar e se mover para sair do caminho dos feitiços mortais. Três vezes o jovem parara para jogar mais lâminas nos aurores, atingindo-os nos braços ou no peito.


O Lorde das Trevas de repente se moveu, girando a varinha no ar. A força esmagadora do vento atingiu os aurores que se aproximavam, fazendo-os bater no chão. O adolescente atravessou o último trecho, saltando sobre o corpo de um Comensal da Morte para chegar até Voldemort.


No momento seguinte, James se viu correndo também, tentando com todas as forças chegar até Harry antes que o jovem alcançasse o bruxo. Mas sabia que não conseguiria. Estava longe demais. O garoto estava quase lá, mergulhando para fora do caminho de outra Imperdoável ao se aproximar de Voldemort.


O auror sabia que ainda estavam nos limites dos escudos, de modo que o adolescente não podia aparatar ou mesmo sair por chave do portal, mas também sabia que assim que chegasse ao bruxo, seria quase impossível alcançá-lo.


Uma maldição da morte quase atingiu Harry, passando zunindo sobre sua cabeça e chamuscando a ponta de seu cabelo. O garoto tropeçou, o quase golpe distraindo-o tanto que ele quase escorregou. Tão rápido quanto um relâmpago, Voldemort estava lá, pegando-o e firmando-o.


James parou subitamente, seu coração quase parou com a visão. Observou o bruxo ficar diante do adolescente, o jato de luz trovejou de sua varinha e atingiu o auror que quase atingira o rapaz.


O Lorde das Trevas se virou, seus olhos rubis em Harry.


- No fim do próximo quarteirão, acaba lá – disse ele.


O garoto hesitou antes que outro olhar de Voldemort o fizesse relutantemente se virar e correr pela rua. Bella e um punhado de Comensais da Morte correram atrás dele, para protegê-lo caso algum auror passasse pelo Lorde das Trevas e os demais Comensais. James não se importava com quantos Comensais estivam ali, correu atrás de Harry, recusando-se a desistir do filho. Não ia perdê-lo novamente. Nunca mais.


Correu ao longo da rua oposta ao adolescente. Abaixou-se atrás dos carros, ficando fora de vista o tanto quanto possível. Entendeu o que o bruxo dissera ao rapaz. “No fim do próximo quarteirão, acaba lá”. Estava falando dos escudos. O fim do quarteirão seguinte marcava o limiar dos escudos anti chaves do portal. Se o garoto passasse daquele ponto, partiria por meio de uma chave do portal.


James correu, ignorando o fato de agora estar numa rua movimentada, com trouxas o encarando em suas estranhas vestes longas e comportamento suspeito. Mas não podia se importar menos. Tudo que importava era seu filho e chegar até ele.


O auror parou, escondendo-se atrás de um carro estacionado quando viu Harry para subitamente. Os Comensais da Morte ao redor dele começaram a disparar maldições em alguém além da linha de visão do moreno. Percebeu que outros aurores deveriam tê-los seguido.


- Harry! Vá!


James escutou o grito de Bella e viu o garoto recuar um ou dois passos antes de se virar e correr, dirigindo-se ao final do quarteirão para usar a chave do portal e sair dali.


Por puro desespero de não querer perder o filho de novo, ele agiu. Saiu correndo de trás do abrigo e disparou na direção do jovem, indo ao seu encontro pelo outro lado da rua. A varinha já estava agarrada na mão e apontada para o adolescente.


- Harry! Não! – gritou James, correndo na direção dele, desejando mentalmente que o rapaz não ultrapassasse o limiar dos escudos antes que conseguisse alcançá-lo.


O adolescente saiu do meio fio, passando o fim do quarteirão, além dos escudos.


James não sabia o que aconteceu, mas com seu grito, um repentino jato de luz saiu trovejando de sua varinha e voou diretamente para Harry, atingindo-o no peito e jogando-o para trás, do outro lado da rua, direto numa vitrine de vidro de uma loja trouxa.


Uma sirene disparou, tocando alto na loja. A vitrine quebrada ativara o alarme de roubo.


James estava horrorizado, nunca quisera conjurar nada no adolescente. Não parou de correr, porém, mesmo com o som do grito cheio de raiva de Bella. O auror atravessou a rua enquanto lançava um poderoso feitiço explosivo nos Comensais que se aproximavam. Pulou sobre o meio fio, direto para a vitrine quebrada, entrando na loja.


Encontrou Harry deitado no chão, cacos de vidro ao seu redor. O jovem parecia confuso e desorientado, mas sua mão já estava enfiada no bolso, puxando um bolo de pano. Antes que James pudesse alcançá-lo, o rapaz puxou o pano e pedaços de vidro e metal quebrados e uma corrente rompida caíram no chão. À primeira vista parecia que fora algum tipo de relógio, mas estava em pedaços agora. O auror percebeu que era a chave do portal, mas sua maldição não intencional que atingira seu bolso a deixara em pedaços.


Antes que nada mais pudesse acontecer, James estendeu a mão e agarrou o adolescente pelo colarinho, colocando a mão no cinto e ativando sua chave do portal. Vislumbrou Bella assim que ela chegou à vitrine, antes que ele e Harry fossem levados para fora da loja trouxa pela chave do portal, direito para a sala de estar de Grimmauld Place, número 12.

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