Nurmengard
Disclaimer: Harry Potter não me pertence e tudo que vocês reconhecem pertence a J.K. Rowling. Essa história também é inspirada em “A Shattered Prophecy”, do Project Dark Overlord.
Chapter Ten – Nurmengard
Dumbledore escutou com desapontamento os membros da Ordem explicarem como o plano foi frustrado pela chegada da elite do Esquadrão, que levou o Príncipe Negro.
- É tudo culpa de Moody! – acusou Sirius. – Ele chamou a elite do Esquadrão.
- Eu não chamei o Esquadrão! – argumentou Moody. – Eu mandei um sinal de resgate, que foi pego por eles ao invés dos aurores!
- Você devia ter enviado o sinal para o quartel-general. – disse James, irritado além da conta. – A Ordem teria enviado reforço.
- E se não tivesse ninguém aqui para receber o sinal? – perguntou Moody de volta, sua voz baixa e rouca de raiva. – A sede nem sempre está ocupada. O que eu deveria fazer, então? Eu segui o protocolo! Vi que estávamos em desvantagem e pedi reforço. Eu não fiz nada de errado!
- Nada de errado? – trovejou James. – Você entregou o garoto ao Ministério! Agora não temos nenhum controle sobre o que acontecer. Fudge provavelmente vai matá-lo imediatamente!
Mesmo ao dizer as palavras, o homem sentiu uma dor repentina no coração com o pensamento. Não entendia a razão, mas pensar nos dementadores atacando o garoto era profundamente perturbador. Atribuiu aquilo à ansiedade por uma criança, pelos padrões normais, sendo destruída de uma forma tão cruel.
- Ele não fará isso. – confortou Kingsley. – O Ministro tem que lhe conceder um julgamento antes de sentenciá-lo a qualquer coisa.
- Sim, mas não consigo enxergar o Ministro fazendo isso. – disse Remus. – Ele vai querer informação, qualquer uma sobre Você-Sabe-Quem. Quando tiver o que precisa, ou se o garoto não cooperar, Fudge vai destruí-lo. Vai querer que o mundo mágico saiba que está no controle e que diferença pode fazer como Ministro da Magia. Matar o Príncipe Negro lhe dará mais popularidade do que nunca e fará maravilhas ao seu perfil político.
James sabia que o amigo estava certo. O Ministro faria qualquer coisa para ganhar a simpatia do público, já que tantos tinham pouca fé nele.
- Tem que haver alguma coisa que possamos fazer. – disse James, desesperado. – Dumbledore? – virou-se para o bruxo, esperançoso.
Com um suspiro cansado, o Diretor afastou as mãos entrelaçadas, sobre as quais estivera apoiado, e as deixou cair.
- Eu esperava que a Ordem tivesse sucesso em trazer o Príncipe Negro. – começou, ignorando o movimento desconfortável de Moody na cadeira. – Eu verdadeiramente acreditei que tivéssemos chance de chegar a Voldemort através dele. É lamentável que tenhamos falhado. – o bruxo olhou para James. – Temo que se o Ministério está com o garoto, não há nada que possamos fazer para influenciar a situação. O Ministro não vai se convencer. O medo que sente de Voldemort significa que não estará disposto a atraí-lo para uma armadilha. Ele vai destruir o menino, na esperança de ganhar o apoio popular.
James sentiu o coração afundar com aquilo.
- Ele está morto. – afirmou Sirius, referindo-se ao Príncipe Negro.
- Bom! – resmungou Moody. – Menos um inimigo para nós.
James se levantou da mesa e saiu, incapaz de permanecer sentado. Deixou a pequena sala de jantar e se dirigiu à cozinha. Já que era apenas uma reunião informal que estavam tendo, não sentia que era errado sair.
- James? Pontas, espere! – Sirius o seguiu. – O que há de errado? – ele perguntou, vendo o desespero do amigo.
- Eu não sei! – o homem disse, parecendo furioso. – Eu não sei o que é, mas algo não está certo.
Sirius achou que entendia.
- Você está falando do Príncipe Negro receber o beijo? –perguntou. – Eu sei, parece estranho já que é apenas um garoto e tudo mais.
James passou a mão pelo cabelo, um hábito nervoso que desenvolvera ao longo dos anos.
- Isso é uma merda! – ele sibilou. – Nós montamos todo o plano, planejamos a armadilha e não conseguimos sequer vê-lo!
Sirius lançou ao amigo um olhar estranho.
- Vê-lo? – ele indagou.
- Sabe, vê-lo. – repetiu James. – Ver como ele é.
- Por que você se importar? – o outro perguntou com um meio sorriso e uma sobrancelha arqueada.
James parou por um momento, olhando para o amigo.
- Você não está curioso para ver como ele é? – ele perguntou. – Como ele é sob a máscara?
Sirius sacudiu os ombros.
- Na verdade, não. – ele respondeu. – Isso não me incomoda. Ele é filho de Voldemort. Vai parecer com ele. – descartou.
James não disse nada, mas desviou o olhar, sua mente ainda se recuperando do fato de que não conseguiu ver o garoto, falar com ele, vê-lo sem aquela máscara.
- Eu queria que nós o tivéssemos prendido. – ele disse com um suspiro profundo.
- Eu sei. – o amigo disse compreensivo. – Só acho que, se tivéssemos, estaríamos interrogando ele agora.
James olhou para Sirius, seu coração saltando dolorosamente no peito de novo. As palavras do amigo lhe fizeram pensar sobre o que o garoto estava enfrentando em Nurmengard.
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Foi o som fraco de metal contra metal que Harry ouviu quando recuperou a consciência. Seus olhos abriram, mas ele não conseguia focá-los, sua visão estava embaçada e nebulosa. Podia ouvir pessoas conversando, vozes baixas e desconhecidas. Levou alguns minutos para acordar completamente, para sua mente sair do estado entorpecido e, quando o fez, quase desmaiou de novo. A dor era quase insuportável. Era tanta que o garoto não sabia de onde partia. Todo seu corpo doía e até mesmo respirar era difícil, já que suas costelas doíam demais para que respirasse adequadamente.
- Voltou a si, não foi? Foi rápido. – disse uma voz com um forte sotaque galês.
Um rosto apareceu sobre Harry, sorrindo para ele. O garoto percebeu, naquele momento, que estava deitado em uma cama. Piscou algumas vezes, tentando fazer sua visão clarear para descobrir onde estava. A ação fez o homem de meia idade sorrir.
- Você está em Nurmengard. – o homem de cabelos castanhos disse, como que lendo a pergunta na mente do jovem. – Eu sou o Bennett, o Curandeiro da prisão. É meu trabalho consertá-lo para que possa aguardar seu julgamento.
Vendo Harry lutar para respirar adequadamente, o homem colocou a mão no estômago do garoto para avaliar a extensão do ferimento, interna e externamente. Por instinto, a mão do adolescente disparou, agarrando-o pelo pulso.
O Curandeiro olhou assustado, mas rapidamente recuperou a compostura.
- Relaxe, eu não vou machucá-lo. – ele disse, liberando-se do aperto do jovem.
Harry riu, mas o som se perdeu em seu gemido de dor quando o homem pressionou seu estômago.
- Foi uma queda feia a que você sofreu. – ele disse, conversando. – Você quebrou a perna em dois lugares e cinco costelas. – ele balançou a cabeça enquanto seus dedos cutucavam as costelas quebradas, fazendo o garoto gemer em agonia. – Você tem sorte de não ter morrido. – Então, olhando para o rapaz, ele acrescentou: - Talvez sorte não seja a palavra certa.
O adolescente fechou os olhos, tentando trabalhar sua mente em meio à dor e entender o que estava acontecendo.
Ele tinha sido pego.
Não conseguia acreditar que foi capturado. Repreendeu-se mentalmente por baixar o escudo, dando aos quatro aurores a chance de acertá-lo. A última coisa que se lembrava era de ter despencado dois andares e batido no chão de concreto. Não era de admirar que estivesse sentindo tanta dor.
Abriu os olhos e suspirou mentalmente de alívio quando sua visão clareou. Olhou ao redor do quarto, as paredes cinza e a falta de janelas não o fizeram se sentir melhor. Ouviu o barulho de metal contra metal novamente e virou a cabeça na direção do som. Viu um homem com cabelos loiros e olhos azuis sentado um pouco longe dele. Tinha uma bandeja de metal sobre um carrinho à sua frente. Havia uma pequena pilha de objetos de metal na bandeja e o homem estava brincando com um dos itens, batendo-o contra a bandeja de metal. Harry percebeu que era uma adaga, sua adaga.
A raiva ferveu dentro dele com a visão de suas armas nas mãos de outra pessoa. Estreitou os olhos para o loiro, seus dentes cerrando em fúria.
- Não! – ele rosnou para o homem, incapaz de dizer mais, já que a dor de falar apenas uma palavra o fizera ofegar em agonia.
O desconhecido parou de brincar com a adaga e sorriu de lado para o jovem. O Curandeiro virou a cabeça e viu o que o garoto queria dizer. Viu o homem com a adaga e sacudiu a cabeça.
- Eu lhe disse para não tocar nas coisas dele. – ele falou para o loiro.
O homem riu e se levantou, caminhando até o garoto e o Curandeiro.
- Não são mais dele. É artilharia confiscada. – ele sorriu para Harry de uma forma selvagem. – É um inventário que você tem aqui. – ele disse, falando diretamente com o garoto. – É uma vergonha. Todas essas armas e ainda foi pego. – zombou.
O adolescente olhou furiosamente para ele, incapaz de falar já que sua mandíbula estava apertada firmemente para lidar com a dor do Curandeiro o examinando, irritando suas lesões e fazendo a dor atingir novos níveis.
- Jackson, você se importa? – o Curandeiro disse, soando levemente irritado. – Ele será todo seu em alguns minutos. E então pode zombar dele o quanto quiser. Deixe-me consertá-lo primeiro.
O homem, Jackson, se afastou obedientemente, seus olhos azuis jamais deixando o rapaz.
- Tudo bem, aqui vamos nós. – o Curandeiro disse, pegando a varinha. – Isso vai doer só um pouquinho.
Harry gritou quando o feitiço atingiu suas costelas e as cinco voltaram para o lugar ao mesmo tempo. Foi incrivelmente doloroso, mas rápido. O garoto respirou, aliviado por conseguir respirar corretamente. As costelas ainda doíam, mas a dor era mais suportável.
- Ainda vai doer. – o Curandeiro disse, dando um passo em direção ao pé da cama, para trabalhar na perna do paciente. – Eu sugiro que coopere e não dê trabalho aos guardas enquanto estiver em Nurmengard. – o homem disse, olhando para o loiro sentado ao lado do carrinho novamente. – Será melhor para você. Eles não vão te machucar se não lhes der motivo. – o conselho parecia sincero.
O adolescente olhou para o loiro cheio de ódio. Paul Jackson, guarda de Nurmengard, sorriu para Harry, arqueando uma sobrancelha.
- Tudo bem, prepare-se novamente. – o Curandeiro disse e conjurou o feitiço para consertar os dois ossos quebrados na perna do garoto.
A pontada aguda de dor fez Harry cerrar os dentes. Seu corpo ficou rígido. Respirou ruidosamente pelo nariz, tentando lidar com o solavanco de dor ardente que irrompeu em sua perna. Amenizou, mas continuou a latejar dolorosamente.
- Aí, está feito. – ele disse e olhou para Jackson. – Você descobriu se posso dar alguma poção a ele?
O loiro sacudiu a cabeça.
- Política padrão. – ele disse. – Nenhuma poção para prisioneiros.
O Curandeiro Bennett parecia incerto ao olhar para Harry novamente.
- São circunstâncias especiais. Ele está consideravelmente mais machucado que a maioria dos ingressos e... ele é jovem.
Jackson se virou para encarar o Curandeiro.
- Se estiver disposto a assumir a culpa, vá em frente. – ele disse. – Dê-lhe a poção para dor e tudo mais que queira, mas esteja preparado para responder por isso.
O homem parecia em conflito, como se estivesse seriamente considerando dar ao garoto um pouco de poção para dor, mesmo que fosse contra o protocolo.
- Ninguém vai se solidarizar com você. – Jackson ressaltou. – Você vai quebrar as regas, mas, para quem? – seus olhos brilharam com raiva para o adolescente.
O Curandeiro olhou para Harry também, sua compaixão rapidamente evaporando com a lembrança de quem era o pai do garoto.
- Eu acabei aqui. – disse Bennett. – Pode levá-lo.
Jackson sorriu de lado e caminhou até o jovem. Antes que pudesse dizer uma palavra, o adolescente se sentou, sem querer que lhe dissessem o que fazer. Sua atitude só fez o guarda sorrir debochado.
- Nossa pequena celebridade. – ele provocou. – O filho de Você-Sabe-Quem.
Harry não pôde se impedir de sorrir. O homem estava tão terrivelmente assustando que não conseguia falar o nome de seu pai em voz alta. Quão ameaçador ele poderia ser?
Trincando os dentes, o garoto balançou as pernas sobre a borda da cama. Embora os ossos quebrados estivessem todos consertados, a dor ainda está lá, junto com os inchaços e hematomas. Só desapareceria com o tempo e um pouco de poção anti-inflamatória. Um pouco de poção para dor faria maravilhas também.
- Eu não posso acreditar que ele tenha te escondido por tanto tempo. – o guarda continuou. – Você é uma surpresinha desagradável.
O adolescente arqueou uma sobrancelha.
- Não foi isso que seu pai disse à sua mãe quando você nasceu? – sua voz ainda estava áspera e dolorosa, mas ele ainda conseguiu insultar.
Jackson parecia mais divertido do que ofendido.
- Bastardo insolente! – ele riu. – Isso vai ser divertido.
- Mal posso esperar. – Harry acrescentou secamente.
O loiro se virou e apontou para a bandeja cheia das coisas do garoto.
- Como provavelmente percebeu, eu o libertei de suas coisas enquanto ainda estava nocauteado. – apontou para a bandeja. – Você não vai vê-las novamente.
O guarda estalou os dedos e a bandeja cheia de armas do jovem desapareceu com um estalo. O adolescente avistara a máscara prateada entre as adagas, punhais e estrelas ninja. Seu anel preto e prata, que sempre usava, estava em cima da máscara. Tudo aquilo desapareceu, deixando a bandeja vazia. Harry olhou raivosamente para o homem.
- A única coisa que não consegui tirar de você foi isso. – ele apontou para o pingente prateado pendurado em seu pescoço. – Coisinha bonitinha. – comentou. – Me jogou do outro lado da sala quando tentei retirá-lo. – ele encarou o garoto, seus olhos azuis endurecendo. – Retire-o.
O jovem se forçou a levantar, de modo que estava olhando para o guarda no nível dos olhos. Suas pernas tremeram e uma dor incapacitante subiu por uma delas, mas ele se forçou a continuar de pé.
- Me obrigue! – o adolescente sibilou em resposta.
Jackson o encarou por um momento antes de sorrir novamente.
- Você vai tornar os próximos dias muito interessantes! – ele disse, sorrindo largamente.
O loiro deu um passo para trás, afastando-se do garoto, sem fazer mais nenhum barulho sobre o pingente. Harry estendeu a mão e segurou o objeto, colocando-o sob suas vestes. Sentiu a frieza contra seu peito e a sensação o confortou. Ao menos uma parte de seu pai estava com ele naquela confusão.
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Harry andou, independente de quão doloroso fosse, pelos longos corredores sinuosos com um guarda de cada lado. Jackson os estava conduzindo pelo corredor escuro e frio que levava à cela do garoto.
O adolescente assimilou a prisão, seus olhos percorrendo todos os cantos. As paredes muito pretas pareciam se estender para sempre e o fato de não haver nenhuma janela à vista o desencorajava. Lera sobre Nurmengard durante uma das sessões de estudo com Lucius. Lembrava-se de ter lido sobre o bruxo que construiu o lugar, Gellert Grindelward. Ele construíra a prisão para os inimigos, mas acabou encarcerado nela quando Dumbledore o derrotou, há quase cinquenta anos. Grindelward morrera nessa mesma prisão há alguns anos. Após sua morte, o lugar foi transformado em uma prisão preventiva, sendo usada pela elite do Esquadrão e pelo Ministério para prender os criminosos até seus julgamentos.
Um forte empurrão entre seus ombros quase o fez perder o equilíbrio. Harry se virou para encarar o guarda que o empurrara.
- Vamos logo! – o homem gritou para ele.
As mãos do garoto se fecharam em punhos, mas resistiu à tentação de atacar. Estavam apenas tentando encontrar uma desculpa para machucá-lo, não ia dar isso a eles.
O adolescente apressou o passo, tanto quanto seu corpo golpeado e machucado permitia. A dor aguda em sua perna estava aumentando, fazendo o jovem rezar para que chegassem rápido à sua cela para que pudesse se sentar. Podia ver fileiras e mais fileiras de celas vazias, mas os guardas continuaram passando por elas, levando-o para mais fundo na prisão. Sabia que só estavam fazendo isso para lhe causar sofrimento, para mantê-lo em pé o maior tempo possível.
Finalmente os homens pararam em uma das celas. Jackson a abriu e ficou ao lado da porta gradeada de ferro.
- Seu quarto, Príncipe. – ele zombou.
Harry entrou, ignorando o efeito claustrofóbico da cela escura, pequena e sem janela. Ele se virou, sorrindo para o loiro.
- Eu pedi um quarto com vista.
Jackson arqueou uma sobrancelha e bateu a porta da cela em resposta, trancando-a com um clique alto. Inclinou-se contra as grades, encarando o garoto.
- Descanse o máximo que puder. – ele aconselhou. – Os interrogatórios vão exigir muito de você. – sorriu para ele. – Noite, Príncipe. Durma bem e te vejo amanhã de manhã.
O loiro se afastou, levando os dois homens consigo. Apenas quando os três guardas desapareceram de vista, o adolescente recostou-se na parede, deslizando para descansar no chão. Suas costas estavam contra a parede fria e ele endireitou as pernas, mordendo o lábio para conter a exclamação de dor. Vagamente se perguntou se havia algum sentido em consertar seus ossos quebrados se ia continuar doendo de qualquer forma.
Sua mente vagou pelo dia seguinte e os interrogatórios que teria de enfrentar. Sentiu pânico, e se lhe interrogassem usando Veritaserum? Balançou a cabeça para clareá-la.
- Controle-se, Harry! – ele se repreendeu.
Só ia enfrentar amanhã quando chegasse. Não havia sentindo em se preocupar com isso agora.
O garoto olhou para a porta da cela. Mordendo o lábio, levantou-se, ficando de pé cautelosamente, tentando ao máximo não colocar muito peso na perna machucada. Caminhou até a porta e olhou para ela, passando a mão sobre as grades, antes de pousá-la na placa quadrada que continha o mecanismo de travamento. Era preciso magia para abri-la, não uma chave.
O adolescente fechou os olhos, expirando profundamente e deixando sua magia assumir o controle. Levou trinta segundos para destrancar a porta, o alto clique ecoando pela cela vazia. Abriu os olhos e sorriu. Agradeceu mentalmente ao pai por pressioná-lo a aprender magia sem varinha aos oito anos. Tinha odiado na época, reclamando que era muito difícil, que não conseguia entender, mas Voldemort continuou o treinando, recusando-se a aceitar seus protestos. O resultado era que aos dezesseis anos ele podia fazer quase tantos feitiços sem varinha quanto com ela.
Harry suspirou e trancou a porta de novo, virando-se para sentar novamente. Podia abrir a porta da cela, mas isso não significava que podia fugir. Lembrava-se claramente do que lera sobre Nurmengard. Era uma prisão construída em uma pequena ilha cercada pelo oceano Atlântico. Mesmo que, de alguma forma, passasse pelos guardas em seu atual estado, sem sua varinha e armas, não podia ir a alugar algum. Estava preso na ilha.
Desanimado, o garoto puxou a Horcrux do pai e segurou-a na mão, sentindo-se estranhamente confortado pela joia esmeralda. Eles iam forçá-lo a tirar o pingente. Sabia disso. Foi por isso que o guarda não tentara nada agora. Foi por isso que comentara sobre quão interessante o adolescente ia tornar as coisas. Jackson obviamente gostava de um desafio e sabia que ele seria um.
Harry suspirou, colocando o pingente de volta sob as vestes. Eles iam ter que matá-lo para pegar o pingente. Jamais cederia enquanto estivesse vivo. Pensar na Horcrux levou a refletir sobre Voldemort. O garoto imaginava como seu pai estava lidando. A cicatriz estava doendo, mas não tanto quanto o resto de seu corpo. Estava feliz por isso.
Então, como na Lei de Murphy, o jovem sentiu uma pontada ardente na cicatriz começar a ficar pior.
- Não, não, não! – o adolescente sussurrou, pressionando a mão na cicatriz. – Por favor, pai! Agora não!
A ardência se tornou dor, que rapidamente disparou para agonia. Harry pressionou a mão na cicatriz, os dentes afundando no lábio inferior para se manter calado. A dor só piorou, ao ponto que ele soltou um gemido estrangulado. Ela parecia estar em chamas. O garoto caiu no chão, os dedos arranhando a têmpora. Era como se um ferro quente estivesse sendo pressionando em sua testa.
O adolescente gritou, sua voz ecoando pela cela vazia. Nunca sentira a cicatriz doer com tanta ferocidade antes. Adicionada a isso estava a dor dos ferimentos, que reduzia sua habilidade de suportar a cicatriz doendo.
O queimor continuou pelo que pareceu horas para ele, antes de finalmente começar a diminuir. Harry desmaiou de exaustão antes que pudesse agradecer por isso.
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Voldemort estava em seu escritório, as costas viradas para os Comensais da Morte lá reunidos. Não podia olhar para eles sem perder a calma novamente. Focou-se na janela, distraindo-se, mesmo que por apenas um instante.
Com um firme controle sobre o temperamento, ele se virou para encarar o grupo de bruxos. Seu olhar disparou para a única Comensal da Morte e a raiva voltou quase dez vezes ao ver sua cabeça curvada e expressão angustiada. Ela tinha falhado. Bella falhara em trazer Harry de volta. Ela retornara, enquanto seu filho fora capturado. Foi preciso toda a força do bruxo para não pegar sua varinha e matá-la onde estava.
A mulher olhou para ele, quase como se pudesse sentir o olhar cheio de ódio do bruxo sobre ela. Ela desviou o olhar novamente, fechando os olhos para bloquear o desapontamento que via direcionado a ela. Fazia anos que sentira a maldição Cruciatus da varinha de seu mestre. A dor era merecida, sabia disso. Sentira a raiva através da maldição enquanto a torturava e sabia quão terrivelmente decepcionara seu mestre. Pensou em Harry, desenhando-o em sua mente, vendo seu sorriso divertido e sua risada ecoando. Seu coração acelerou. Ela o desapontara também.
A alguns passos dela estava Lucius Malfoy. O Comensal fora chamado há dez minutos por Lorde Voldemort. Ele não entendera porque seu mestre queria vê-lo com tanta urgência, mas ao chegar descobriu o que acontecera. Sua máscara de indiferença estava firmemente no lugar, mas, por dentro, ele estava em pânico. Harry fora capturado e eles não tinham ideia de onde a Ordem o estava mantendo. Eles sequer sabiam ao certo se a Ordem estava com ele ou se o Esquadrão o levara. Se o a última opção fosse o caso, o garoto podia estar em qualquer lugar.
Lucius olhou para Bella ao ver o olhar de seu mestre cair sobre ela. Sentiu decepção dentro de si ao avistá-la. Como pôde deixar Harry ser capturado? Se ele tivesse sido enviado para ajudar o garoto, jamais teria falhado. Teria despedaçado a Ordem para alcançar o menino.
As portas do escritório de Voldemort se abriram e um Comensal da Morte entrou correndo. O homem se prostrou diante do bruxo.
O Lorde das Trevas deu um passo apressado na direção do homem, seus olhos se estreitando para ele.
- Snape! – sibilou. – O que você descobriu? – perguntou com urgência.
Severus Snape se levantou, sua face escondida por trás da máscara de caveira. Ele a removeu para que Voldemort pudesse olhar em seus olhos, para ver que não estava mentido.
- Milorde, a Ordem não está com ele. – ele respondeu.
O bruxo fechou os olhos, um silvo de raiva e fúria lhe escapando. Os Comensais da Morte deram um passo para trás, com medo do temperamento instável de seu mestre.
- O Ministério está com ele. – Snape continuou, os olhos negros assimilando a reação de Voldemort. – O Ministro enviou uma equipe da elite do Esquadrão atrás dele. Eles pegaram o sinal de resgate enviado pela Ordem e alcançaram o Príncipe Negro antes da Ordem.
O Lorde das Trevas deu um único passo na direção do professor de cabelos gordurosos. Seus olhos vermelhos estavam queimando com uma raiva tão profunda que era aterrorizante. Snape teve que quebrar o contato visual.
- Para onde eles o levaram? – ele perguntou, sua voz perigosamente baixa.
O comensal engoliu pesadamente, afastando o medo com todas as suas forças.
- Eu não sei, Milorde.
Snape tinha certeza que seria torturado. A expressão contorcida no rosto do Lorde das Trevas lhe deu arrepios. Viu o olhar nos olhos vermelhos que prometia uma dor inimaginável.
Ele estava certo.
A maldição cruciatus o atingiu com força total e mandou Snape para o chão em segundos. O feitiço o rasgou por dentro, fazendo-o sentir como se seus ossos estivessem sendo esmagados, os músculos foram torcidos e rasgados e seu sangue ferveu em agonia. A maldição foi suspensa, deixando o Comensal ofegante. Ele fechou os olhos, respirando fundo e se levantando do chão.
Voldemort dera as costas a ele, mas o bruxo ergueu uma mão e as portas atrás deles se abriram.
- Saiam! – sibilou para os Comensais da Morte. – Vão e descubram onde Fudge está mantendo meu filho! Eu quero a informação ao amanhecer. – ele se virou encarar o grupo aterrorizado. – Não se preocupem em voltar a não ser que tenham a localização. – ele advertiu.
Os homens se curvaram e se apressaram em sair da câmara, visivelmente preocupados sobre como cumprir as ordens de seu mestre. Como podiam descobrir tal informação em tão pouco tempo? Todos saíram, exceto Bella e Lucius. Eles sabiam que se Voldemort quisesse que saíssem também, teria dito “saiam todos vocês”. Aquele era o único sinal para que saíssem. Caso contrário, deviam esperar no gabinete. Snape saiu também, apressando-se para fugir do furioso Lorde das Trevas. A porta fechou atrás dele, deixando apenas Lucius e Bella com Lorde Voldemort.
- Milorde. – o Comensal falou hesitante. – Podemos descobrir onde Harry está por nossa fonte no Ministério. – ele disse, oferecendo esperança. – Eles podem fazer com que o julgamento dele seja adiado, isso nos dará tempo para resgatá-lo de onde quer que esteja sendo mantido...
- Ele está machucado.
As palavras foram sussurradas, mas os dois homens as ouviram. Ambos se viraram para encarar Bella. Suas pálpebras pesadas se levantaram para encontrar o olhar deles.
- Não podemos adiar nada. Precisamos pegá-lo agora. – ela disse com urgência.
Voldemort desviou o olhar, tentando desesperadamente controlar o temperamento. Foi assistir às memórias de Bella sobre a captura de seu filho que o fizera perder o controle. Viu quão machucado ele estava, como veio despencando do andar de cima. Viu como os três homens o arrastaram dos destroços sem cerimônia. Apenas os ouvir dizendo que o garoto ainda estava vivo foi a única coisa que fez o bruxo dominar a raiva para que não machucasse Harry. Sabia que mesmo o garoto estando longe dele, sua raiva extrema ainda ia afetá-lo de alguma forma e o bruxo não queria acrescentar isso ao seu tormento. Só Merlin sabia em que estado ele estava e como estava lidando com aquilo.
Comentários (1)
otima historia continue esta otimo ^^ adorei ver o voldemort como um papai "bonzinho" é esse desenrolar da historia
2013-09-07