XVIII
Rose Weasley se encarava no espelho pela milionésima vez naquela tarde. Desde que havia recebido a coruja com a mensagem do Malfoy, ela tinha se trancado no quarto para escolher o que deveria usar no jantar de mais tarde. Lilian fez falta naquelas horas, mas depois de tantas tentativas de contato frustradas por a ruiva não aceitar seus pedidos de desculpas, Rose acabou desistindo. Talvez durante o baile de sábado, ela tivesse mais sorte e conseguisse reatar a amizade de anos com a prima.
Porém, seus pensamentos logo eram ocupados e ela não tinha tempo para se sentir deprimida. A ansiedade parecia estar fazendo um rombo no estômago da garota que tinha acabado de escolher a roupa perfeita, embora se sentisse um pouco insegura devido à cor do vestido.
Vermelho.
Vermelho vivo, quase como a cor dos seus cabelos, que soaria como uma provocação, se Scorpius não tivesse dito que era uma de suas cores favoritas. Sorriu para o reflexo no espelho, apreciando o que via em um de seus momentos raros de auto-aceitação.
A cor do vestido destacava a pele alva de Rose perfeitamente, da mesma maneira que o caimento solto valorizava os quadris da garota. O modelo era curto, quase até os joelhos, mas possuía um generoso decote que certamente lhe daria trabalho para sair de casa, visto que ela sabia que o pai, mesmo depois de toda a conversa que tiveram mais cedo, teria uma de suas crises de ciúmes.
Apanhou a varinha sobre a cômoda e aponto para os cabelos, prendo-os rapidamente pela metade e formando suaves cachos nas pontas. Em seguida, se maquiou a moda trouxa, destacando os olhos com lápis e rímel preto, mas optando por apenas um leve brilho nos lábios. Acabou sorrindo com o resultado.
Não sabia exatamente a que restaurante Scorpius iria levá-la, por isso não quis um sapato muito alto, de modo que ela estaria bem vestida qual fosse a escolha dele.
E então, quando estava prestes a sair do quarto e se juntar aos pais na sala de estar, sentiu um arrepio violento percorrer toda a sua espinha, acompanhado de uma agitação gostosa na barriga. E Rose ficou satisfeita, embora se sentisse nervosa, quando percebeu que aquele jantar seria o primeiro encontro oficial entre ela e Scorpius Malfoy.
Uma chance para se conhecerem melhor e começarem de novo, relembrou Rose enquanto pegava a bolsa dentro do closet e apagava as luzes do quarto.
**
– Astoria Malfoy é simplesmente uma mulher adorável. – Rose ouviu a voz da mãe enquanto descia as escadas e, automaticamente, apurou os ouvidos para ver o que se passava.
– Não fale asneiras, Hermione. – Ela ouviu a voz ranzinza do pai. – Você vai negar esse convite porque eu não estou com a mínima vontade de jantar junto com os Malfoy. Não quero ter uma indigestão.
Rose riu da expressão desgostosa que seu pai tinha no rosto, enquanto Hermione olhava para ele indignada, pronta para rebater.
Definitivamente, pensou a menina, seu pai estava certo quanto a tudo. E, embora ainda se sentisse intranqüila pelas mentiras que contou, não conseguia conter a felicidade diante da perspectiva de Scorpius sentir algo por ela e, quem sabe, assumirem um compromisso verdadeiro daquela vez.
– Isso será deselegante Ronald. – Hermione argumentou. – E além do mais, Rose está namorando o filho de Draco. Não acha que está na hora de deixarmos as brigas de infância de lado?
– Que bonitinho, já o chama até pelo primeiro nome. – Zombou Ronald, fazendo Rose, que ainda não tinha sido notada, prender o riso. – Por algum acaso, esqueceu que esse cara fez da minha vida, da vida de Harry e da sua vida um inferno sempre que podia?
E então, quando Rose percebeu os riscos que o pai tinha de passar mais uma noite no sofá, resolveu intervir.
– Mãe, pai? – Ela chamou, fazendo com que Ronald e Hermione se virassem para ela um tanto surpresos. – O que está acontecendo?
Hermione encarava a filha um pouco desconcertada por Rose ter visto aquela pequena discussão, ao passo que Ronald tinha virado o rosto para o lado, se negando a dar uma resposta. Porque ele sabia que Rose ficaria do lado da mãe e ele – nem ser humano algum – resistiria as suplicas delas.
– Astoria Malfoy nos mandou uma correspondência. – Explicou Hermione fazendo os olhos de Rose se esbugalharem um pouco. – Ela nos convidou para dividirmos uma mesa durante o jantar de ano novo do ministério, mas seu pai está sendo infantil e não quer colaborar. – Ela completou, lançando um olhar ressentido para Ronald.
E então, para o desespero de Ron, Rose o chamou com a voz chorosa e derretida.
– Papai, por que o senhor não quer?
E Ron respondeu, mas não teve coragem de se virar para encarar os olhos da filha ou da mulher.
– Porque eu não gosto daquele homem que, por um tremendo azar do destino, é seu sogro.
E Rose sorriu enquanto balançava a cabeça negativamente. Porque Hermione tinha razão sempre que resmungava que Ron discutia por coisas absurdas.
– Mas papai, você não precisa nem falar com ele se não quiser. – Rose começou, fazendo com que os lábios de Hermione se abrissem em um meio sorriso. – Se você não quiser falar com Draco Malfoy, nem eu, nem a mamãe, vamos nos importar. Certo mãe?
– É claro que não! – Hermione respondeu ao perceber onde a filha queria chegar.
Ronald já começava a esboçar traços de aceitação, mas foi a última frase de Rose que finalmente o convenceu.
– Por favor papai! – A voz de Rose era suplicante, fazendo com que Ronald se virasse lentamente para encará-la. – Por mim!
Foi um jogo baixo, pensou Ronald, porque ele simplesmente fazia tudo pela filha e sempre cedia com o olhar quase pidão que ela lhe lançava. O olhar que sempre lhe recordava dos tempos em que Rose não passava de uma criança que, desde cedo vivia rodeada de livros e bonecas. Uma menina pequena, que gostava dos cabelos arrumados em duas tranças laterais e andava de balanço. A garotinha que sempre o convencia a tomar sorvete antes do jantar. E que não tinha um namorado.
– Está bem. – Ele respondeu resignado, arrancando gritos de empolgação de Hermione, que correu para a cozinha a fim de escrever uma resposta a Astoria, e risos de Rose. – Mas que fique claro que não vou me esforçar nem um pouco para ser sociável com aquela maldita doninha quicante.
Oh, sim. Os apelidos eram realmente carinhosos, pensou Rose enquanto corria para os braços do pai lhe agradecer.
E foi então que, apenas depois que Rose se afastou dele, ele percebeu algo diferente. Sua filha estava arrumada, bem vestida – embora aquele decote, ao menos em seus olhos, fosse quase obsceno – e maquiada. E aquilo só poderia significar uma coisa, de maneira que ele estreitou levemente os olhos na direção de Rose.
– Aonde a mocinha pensa que vai?
E Rose sorriu sem graça, enquanto sentia a pele do rosto esquentar.
– Scorpius vai me levar para jantar. – Ela respondeu enquanto encarava os sapatos, focando no enfeite prateado que eles tinham.
– E não acha que esse vestido está um pouco aberto demais para aparecer na mansão Malfoy? – Inquiriu Ronald, ignorando o fato de que a esposa estava voltando da cozinha e passava a encará-lo não muito satisfeita.
Rose levantou os olhos para o pai e não se preocupou em esconder a indignação.
– É só um vestido pai. – Ela respondeu como se fosse óbvio. – Não quer que eu saia com o meu namorado vestida de freira, quer? – Ela questionou irônica e Hermione gostou da resposta.
Ronald franziu o cenho um pouco pensativo e, por fim respondeu.
– Freiras andam bem comportadas e não deixam o corpo aparecer. – Avaliou Ronald. – Sendo assim, até que não é uma boa idéia. Hermione temos uma fantasia freira guardada no porão?
Rose gargalhou, mas ficou surpresa ao ver a mãe observando a cena, afinal, não tinha reparado que ela tinha voltado. Ronald, pelo contrário, sabia que ela estava ali desde o começo. Quando se está casado com uma mulher como Hermione há tantos anos, o homem acaba desenvolvendo um tipo de sensor que sempre o alerta quando ela está por perto.
– Não, Ron, nós não temos. – Hermione respondeu entre risos. – E não ligue para seu pai querida, você está linda.
Rose sorriu em agradecimento a mãe em quanto o pai resmungava algo que ela não entendeu.
– Posso ao menos saber onde vão jantar? – Ronald perguntou de má vontade e novamente Rose ficou sem graça, porque ela não sabia a resposta daquela pergunta.
– Eu não sei muito bem. – Ela respondeu e quando o pai estreitou os olhos na sua direção outra vez, ela se defendeu. – Scorpius disse que seria surpresa!
– Você nunca faz essas perguntas a Hugo. – Hermione comentou, visivelmente, ressentida com algo. – E ainda me repreende quando eu faço.
Ronald revirou os olhos e soube que o foco da conversa, graças a deus, tinha mudado.
– É constrangedor para um garoto ter sua mãe questionando aonde vai e que horas vai voltar. – Ronald explicou. – Essa é a tarefa do pai da garota, que no caso de Hugo e Lilian, compete a Harry. Assim como cabe a mim infernizar a vida do garoto que se diz namorado da minha princesinha!
Foi a vez de Hermione e Rose revirarem os olhos.
– Isso foi tão machista, pai.
– Quer dizer que você não se importa com o fato de Harry poder azarar Hugo? – Hermione questionou furiosa. – Gina me contou que Harry está inconsolável porque Lilian ia sair com Hugo essa noite! Acha que ele ia deixar o nosso garoto passar ileso?
Ronald sorriu despreocupado o que deixou as outras duas ainda mais confusas.
– É claro que não me importo! – Exclamou Ronald rindo de alguma piada interna. – Se existisse um documento chamado “código secreto dos pais de meninas” certamente haveria um artigo lá que nos diria que todo o pai de garota tem o direito de fazer o que quiser com o garotinho insolente que está tentando afastar as nossas filhas de nós.
E então, Hermione e Ron embarcaram em mais uma de suas intermináveis discussões, ao mesmo tempo em que Rose gargalhava das conclusões absurdas de seus pais. Mas teve um detalhe naquilo tudo que ela não pode deixar de notar: Lily e Hugo tinham saído juntos.
Quem sabe, pensou ela, seu irmão e sua prima não poderiam se acertar também?
Aquela noite prometia.
Rose sentou-se no sofá enquanto acompanhava aos risos as brigas infantis dos pais. Pensou que precisaria esperar uma eternidade por Scorpius, mas, superando suas expectativas, a campainha de sua casa soou exatamente às 19h30min, fazendo com que Ronald e Hermione Weasley interrompessem abruptamente a divertida batalha verbal que travavam.
Rose Weasley levantou-se como um foguete e alisou o vestido seguidas vezes. Seus olhos aflitos encontraram os olhos sorridentes e confiantes da mãe, que mesmo não sabendo de toda a história que envolvia a filha e Scorpius Malfoy, compartilhava aquele nervosismo com Rose. Poucos segundos depois, ela já estava conseguindo controlar as batidas frenéticas do seu coração.
Mas foi Ronald Weasley, se aproveitando da breve distração da filha, quem fez questão de abrir a porta.
**
– Onde você está me levando Hugo? – A voz de Lilian Luna Potter ecoou risonha enquanto o primo lhe arrastava pelas ruas geladas de Hogsmead.
Hugo sorriu com a curiosidade dela. Certamente, a surpreenderia, porque nem em mil anos Lilian desconfiaria do local para onde ele a estava levando.
– Por aqui. – Ele disse enquanto lhe puxava para dentro de um bar. – Estamos chegando.
Assim que adentraram no lugar, Hugo pediu que ela esperasse por ele alguns minutos. Lilian aceitou e enquanto ele ia conversar com um homem baixo e gordo, ela deu uma boa olhada no lugar em que estava. Não tinha anda de especial ali, pensou ela. Era um bar comum, com mesas sujas e garçonetes distribuindo bebidas e sorrisos aos visitantes, que pareciam estar todos bêbados.
Involuntariamente, seu rosto se contorceu em uma careta, afinal, aquele não poderia ser o passeio que Lilian esperava. Porém, esboçou um sorriso assim que viu Hugo se aproximar dela, sorrindo de um jeito encantador e que quase lhe arrancou suspiros.
– Vem comigo. – Ele pediu, enquanto a puxava pela mão mais para o fundo do bar. Entraram em um corredor estreito e mal cheiroso e, em seguida, avistaram uma porta. Hugo a abriu sem pestanejar e sorriu ao vislumbrar uma lareira com um pote de pó de flu ao lado.
Lilian quase gemeu de emoção ao perceber que não ficariam em Hogsmead.
– Achei que jantaríamos por aqui. – Ela comentou sorrindo.
– O importante é que tio Harry continue pensando assim. – Hugo respondeu. – Ele nunca concordaria que eu levasse a princesinha dele para onde eu vou levar.
Lilian adentrou na lareira e Hugo se espremeu ao seu lado devido ao pouco espaço. Ela o encarou um pouco confusa.
– E aonde você pretende me levar?
Hugo sorriu enviesado para ela ao mesmo tempo em que pegava um punhado de pó de flu.
– Você já vai ver. – Ele respondeu, jogando o pó sobre ambos e dizendo em seguida – LUMIERE!
**
Eles estavam visivelmente sem graça, como se uma barreira invisível tivesse sido colocada entre ambos. Enquanto Rose Weasley apertava o casaco cor creme que ela tinha colocado sobre o corpo para sair na noite fria, Scorpius Malfoy tentava colocar os pensamentos no lugar e esquecer os olhares intimidadores de Ronald Weasley.
Eles andavam para os fundos do jardim da garota em silêncio, onde aparatariam juntos para o misterioso restaurante em que Malfoy tinha prometido levá-la.
– Você já pode voltar a respirar, Scorpius. – Rose disse baixinho, se referindo a expressão apavorada que o namorado ainda tinha no rosto. Malfoy virou-se para ela visivelmente confuso, mas sorriu.
– Você diz isso porque não foi você quem foi intimidada por um cara que tem o dobro da sua altura e que, por pura ironia, é o pai da minha namorada. – Ele respondeu sorrindo de forma torta para ela.
E Rose sentiu as borboletas em seu estômago se agitarem devido as palavras dele. Porque mesmo que Scorpius Malfoy estivesse destilando ironia, a expressão ‘minha namorada’ mexeu com ela. Porque não havia ninguém em volta para que Scorpius tivesse dito aquilo apenas para ser convincente.
– Você está exagerando. – Rose resmungou ainda desconcertada e com as bochechas coradas.
Malfoy a encarou pelo canto do olho e seu sorriso se alargou. Ele já tinha ficado com mais de uma dúzia de garotas e mesmo assim, todas as sensações pareciam ser novas para ele. Rose Weasley era diferente de tudo o que ele conhecia. A facilidade com que ela corava ou a forma com que ela sempre desviava os olhos dele quando estava nervosa o fascinava. Ela era incrível e ele, apenas um bobo apaixonado.
– Por aqui. – Ela o guiou pelo meio do jardim escuro e parou quando achou que aquele seria um lugar seguro para aparatar. Os olhos dela brilharam em excitação e curiosidade quando questionou. – Não vai me dizer aonde vamos?
Malfoy riu ante a ansiedade da menina, mas não disse uma única palavra sem antes a puxar delicadamente para junto dele, abraçando-a de forma carinhosa. Os espasmos tomaram conta da Weasley quando ele, suavemente, acariciou-lhe o rosto enquanto brincava com uma mecha do cabelo ruivo.
– Tenha um pouco de calma, Weasley. – Ele disse em meio a um sorriso zombeteiro. – Você já vai descobrir.
Rose odiava aquele sorriso desdenhoso dele, mas não teve tempo de reclamar, porque, antes que pudesse perceber, já estava experimentando as sensações desagradáveis da aparatação.
O povoado de Hogsmead estava quase silêncio naquela noite. Havia poucas pessoas nas ruas devido ao frio e aos finos flocos de neve que começavam a cair. Malfoy e Weasley tinham surgido ali, próximo a Dedos de Mel, e Scorpius olhava de forma curiosa para ela, que tentava acalmar seu estômago.
– Eu odeio aparatar. – Murmurou ela enquanto se refazia da viagem.
– Eu sempre achei que você gostasse disso. – Scorpius respondeu um pouco confuso. – Você vive reclamando por aí que gostaria de ser maior de idade apenas para aparatar.
E Rose riu um riso que Scorpius poderia jurar ter o som parecido com o de badaladas suaves de sinos.
– Entenda que aparatar é o meio mais fácil de locomoção no nosso mundo. – Ela respondeu com aquele ar de sabe-tudo que sempre o irritou em Hogwarts, mas que ali, enquanto caminhavam pelas ruelas geladas de Hogsmead, o deixava encantado. – Querer aparartar não significa, necessariamente, gostar de usar esse meio.
– Vassouras também são um meio fácil de locomoção. – Malfoy respondeu já sabendo que sabia que ela tinha medo de altura e, por conta disso, não voava e detestava quadribol.
– Vassouras são estúpidas. – Respondeu ela, visivelmente constrangida com o comentário.
Não demoraram muito para chegar ao destino proposto por Scorpius. E embora os Malfoys sejam conhecidos por sempre esbanjar em tudo o que fazem, o restaurante não era tão sofisticado quanto Rose temia. Era um lugar pequeno, que tinha um ar aconchegante e o cheiro agradável de comida caseira.
– Venha comigo. – Scorpius disse enquanto enlaçava sua mão na dela inconscientemente. – Reservei uma mesa para nós.
Rose o seguiu até o final do estabelecimento, onde uma mesa cuidadosamente coberta por uma toalha rendada branca e enfeitada com algumas flores silvestres que ornamentavam as velas que estavam acesas. E o sorriso de Rose se alargou, porque ela nunca imaginou que, algum dia, um garoto a levaria para um jantar a luz de velas.
Usando-se da educação refinada que lhe fora dada, Scorpius afastou a cadeira para que Rose se sentasse e, em seguida, sentou-se de frente para ela. Foi impossível não admirar os olhos curiosos dela correndo por todo o local enquanto suas bochechas avermelhavam.
– Gostou? – Ele despertou Rose de seus devaneios. A menina, visivelmente encabulada, colocou o cabelo para trás da orelha.
– É lindo. – Ela respondeu sorrindo. – Você tem um bom gosto.
– É claro que tenho! – Ele concordou em um tom que fingia ultraje. – Sou um Malfoy, esqueceu? – Ele piscou para ela e revirou os olhos.
– Oh. Claro, tinha me esquecido que sair com você significava sair com o seu ego terrivelmente inflado. – Ela respondeu enquanto devolvia o sorriso irônico para ele.
– Admita Weasley, você ama o meu ego. – Ele fez charme, enquanto uma mulher gordinha que usava um avental se aproximava deles com um sorriso bondoso nos lábios.
– Não admitiria nem em mil anos. – Ela provocou.
Depois da pequena disputa que travaram, Scorpius fez o pedido de ambos e, arriscando um pouco mais o seu pescoço, resolveu escolher uma garrafa de hidromel ao invés de cerveja amanteigada.
– Agora falando sério. – Rose interrompeu o silêncio. – Eu realmente não conhecia esse restaurante.
– E não conhece mesmo. – Scorpius respondeu. – Foi inaugurado por uma amiga da minha mãe há poucas semanas.
Rose ficou quieta por alguns instantes e, após bebericar um pouco do hidromel a recém servido, lembrou-se do convite curioso que sua mãe havia recebido.
– Nossas mães andam querendo juntar as nossas famílias. – Rose falou tentando reprimir o riso. – Papai quase teve um infarto quando ela contou que a sua mãe tinha nos chamado para dividir uma mesa durante o baile de sábado.
– Eu fiquei sabendo dessa história. – Malfoy respondeu descontraído. – Minha mãe acredita que, quanto antes meu pai e seu pai aprenderem a serem sociáveis, melhor.
Rose contorceu o rosto em uma careta.
– Vai ser divertido vê-los dividindo um mesmo espaço. – Ela disse com um ar levemente sonhador. – Não quero que eles sejam sociáveis.
Scorpius gargalhou diante da colocação dela porque ela tinha razão, seria extremamente engraçado ver Ronald Weasley e Draco Malfoy se esforçando para terem uma boa convivência. E, para Malfoy, foi inevitável se questionar se, dentro de dois dias, ele e Rose já estariam suficientemente resolvidos para aparecerem no baile do ministério como namorados de verdade e não unidos apenas por um acordo.
O jantar veio logo e Weasley agradeceu por Malfoy ter escolhido um restaurante com comida simples porque ela simplesmente detestava freqüentar lugares onde se pagava uma fortuna para não comer nada. Scorpius ficou simplesmente encantado ao ver a menina agradecer o garçom que a servira e se deliciar com a massa que ele tinha escolhido. Qualquer outra garota, certamente, teria, no mínimo, torcido o nariz para algo tão gorduroso – e trouxa – quanto a massa italiana que estavam servindo. E ele estava feliz por não estar jantando com qualquer garota.
– Porque está me olhando assim? – Rose questionou alguns segundos depois, estranhando a forma como Malfoy a encarava, sem sequer tocar em seu prato. – Estou com o rosto sujo de molho? – Ela questionou quase assustada enquanto sua mão, delicadamente pousava em cima do guardanapo que ela pretendia levar a boca.
Porém, a mão de Scorpius cobriu a sua antes que ela levasse o guardanapo aos lábios.
– Não está suja. – Ele respondeu sorrindo e lhe acariciando os dedos. – Eu só estava pensando em como eu tenho sorte por estar sentado com uma garota que não está me xingando por eu não levá-la para comer em um restaurante mais saudável.
Rose franziu o cenho um pouco confusa e encarou seu prato tentando entender o que ele estava dizendo.
– O que tem de mais em comer massa? – Ela perguntou e, imediatamente, seus olhos brilharam em compreensão. – Você não estava pensando que eu era algum tipo de anoréxica, estava?
Scorpius gargalhou ante a irritação dela.
– É claro que não, mas vocês garotas são estranhas, precisa concordar comigo. – Scorpius explicou rindo da expressão enfezada que a menina tinha adquirido. –Sabe o quanto é difícil encontrar uma menina que coma massa sem reclamar?
Rose riu, mas fingiu continuar zangada.
– Pois saiba que massa é um dos meus pratos preferidos. – Ela respondeu empinando o nariz. – Principalmente massas à moda trouxa, sem óleo de escamas de dragão ou qualquer outro tempero assim.
– Você diz isso porque ainda não comeu a massa da minha mãe. – Scorpius falou com ar um sabe-tudo que fez as defesas de Rose escorrerem pelo ralo. – Sabia que ela tem um estoque centenário de óleos de escama de dragão em casa?
Eles riram mais um pouco e passaram o resto do jantar conversando amenidades e implicando um com o outro. Especialmente Rose, que após Scorpius elogiar o seu vestido, disse a ele que ele estava querendo virar a casaca e ir para a casa de Grifinória naquele ano. Scorpius se sentiu ultrajado e disse a ela que era feliz na nobre casa de Salazar Sonserina.
– É uma pena. – Respondeu ela enquanto se levantavam da mesa para pagar a conta. – Porque o campeonato das casas será da Grifinória esse ano.
– Só nos seus sonhos Weasley. – Scorpius respondeu. – Eu consegui levar você pra jantar! Depois de conseguir sair com a garota mais difícil de Hogwarts, conquistar o troféu das casas será como roubar doce de criança.
– Na verdade você vem saindo comigo desde o começo da semana Malfoy. – Ela respondeu entrando no jogo de provocação dele. – E não se esqueça que, se eu não tivesse oferecido aquele acordo, nós, provavelmente não estaríamos aqui agora.
Scorpius tirou do bolso das calças pretas alguns galeões – sob os protesto de Rose, achando injusto que ele pagasse o jantar dela – e, em seguida revidou.
– Você está ficando muito convencida. Não se esqueça de que sem o meu charme irresistível, provavelmente, nós não estaríamos aqui também.
Rose apertou-se mais dentro do casaco quando sentiu o vento frio do inverno corroer seus ossos quando ambos saíram para a rua. Malfoy, instintivamente, a abraçou e ambos passaram a caminhar pelas ruas daquela maneira, sentindo um ao outro como nunca tinham sentido.
Àquela altura, o povoado já estava totalmente deserto enquanto Scorpius e Rose percorriam as ruas sem um destino certo. Eles permaneceram em silêncio por um longo período, mas não era um silêncio do tipo perturbador. Eles ficaram quietos porque não havia nada para ser dito e porque ambos queriam se recordar daquela noite uma forma especial.
Enquanto caminhavam abraçados, nada no mundo parecia existir além deles. Não havia rivalidades ridículas ou acordos absurdos. Não havia medo, não havia receio. Havia apenas duas pessoas comuns compartilhando momentos que seriam eternizados para sempre.
Havia silêncio porque quando estavam juntos não eram necessários palavras para traduzirem o que estavam sentido.
**
Em um lugar um pouco mais distante dali, mais precisamente na Londres trouxa, outro casal desfrutava de momentos particulares e mágicos. Lilian Potter e Hugo Weasley percorriam as ruas agitadas do centro de Londres de mãos dadas enquanto a garota não parava de tagarelar.
– Por Merlin, Hugo! Eu ainda não acredito que você levou para assistir esse filme! – Ela falou extasiada enquanto Hugo sorria.
– Não foi tão difícil quanto parece. Eu apenas descobri uma lareira em Hogsmead que era conectada à de um bar trouxa aqui por perto. – Ele explicou levemente modesto.
– Meu pai enlouqueceria se soubesse onde estamos. – Lilian comentou sem esconder o sorriso e a emoção por estar quebrando algumas regras. – Ele não gosta que eu venha para Londres sozinha. Ele diz que é muito agitado, perigoso e que eu posso me perder.
A pequena ruiva revirou os olhos e Hugo tentou aliviar o clima.
– Ele tem razão em ter medo que você se perca. Já deu uma olhada no seu tamanho?
Lilian, obviamente, ficou furiosa com o comentário, mas dentro de poucos minutos, os dois já tinham voltado a fazer palhaçadas e a se divertir outra vez. Hugo tinha levado Lilian ao cinema para ver a estréia de um filme que ela queria muito ver. Pessoalmente, ele achou o filme um tédio, mas o sorriso e a empolgação da prima valeram todos os cochilos que ele tirou dentro da sala de cinema.
Por a garota ter hora certa para voltar, visto que Harry Potter avisou que gostaria de ver a filha surgindo pela lareira da família as 22h00min em ponto, os dois não se demoraram muito em Londres, e logo, já tinham voltado a um bar trouxa repugnante, cujo dono era um bruxo, e embarcaram na lareira da volta pra Hogsmead.
**
– Ah meu Deus, Scorpius! – A voz de Rose não passava de um sussurro assustado. – Vamos ser assaltados! Ou melhor, vão nos seqüestrar e nos dar de comida aos gigantes!
– Quer calar a boca Rose? – Scorpius a interrompeu bruscamente, embora a apertasse contra seus braços com força e de forma protetora. – Podem ser apenas duas pessoas como nós tentando ter um encontro especial.
Mas, embora tentasse aparentar confiança, Scorpius estava se borrando. Isso porque, vindo em direção a eles, era visto o vulto de duas pessoas que caminhavam muito rápido. Estava escuro e nem Malfoy, muito menos Weasley, conseguiam enxergar nada, porque, como se não bastasse o frio, a neve havia recomeçado.
– Se eles pedirem pra você entregar o dinheiro, você entrega o dinheiro, okay? – Rose sussurrou para Scorpius que revirou os olhos diante do medo da garota.
– Está tudo bem Rose. – Ele tentou tranqüilizá-la, enquanto lhe beijava os cabelos carinhosamente. – Não vai acontecer nada, eu prometo.
Os olhos úmidos de Rose se levantaram para ele suplicantes.
– Você jura?
– É claro que sim, leãozinho. – Ele sussurrou de forma zombeteira para ela. – Já disse que você é a grifinória mais medrosa que eu conheço?
Rose não conseguia responder, muito menos andar. As duas figuras se aproximaram ainda mais deles e Rose já podia ouvir suas vozes, fazendo com que ela, instantaneamente fechasse os olhos. Porém, Scorpius, ao estreitar os olhos violentamente na direção dos dois vultos, sentiu os ombros relaxarem ao reconhecer as duas figuras, embora estivesse surpreso por eles estarem até aquela hora da noite sozinhos em Hogsmead.
– Amor, você já pode abrir os olhos. – Scorpius sussurrou para ela. – É apenas seu irmão e Lilian.
E Rose Weasley, de fato, abriu os olhos sem ao menos ter tempo de reparar no modo carinhoso como Scorpius se referiu a ela. Hugo parecia indiferente ao encontro inesperado, mas Scorpius sentiu o clima tenso porque ele notou a respiração da sua garota se entrecortar, assim como ele percebeu os olhares nada amistosos que a prima lançava na direção de Rose.
E então Scorpius se lembrou, repentinamente, que elas ainda não tinham feito as pazes desde o episódio em que Lilian descobriu que Rose tinha escondido o motivo do término do namoro entre o Weasley e a Scamander.
Scorpius não sabia, mas naquela noite, o destino o faria conhecer Rose Weasley um pouco melhor.
O que esperar de um encontro entre duas garotas que estão profundamente magoadas uma com a outra?
Talvez o início da terceira guerra bruxa.
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