XIII



Lysander não gostava do papel a que estava se prestando e não gostava de se sentir daquele jeito, como a segunda opção de alguém. Tanto que quando recebeu o patrono de Hugo para aquele almoço, ela se sentiu terrivelmente tentada a negá-lo. Ela não precisava daquele tipo de esmola, era uma garota bonita e sabia que metade da população masculina de Hogwarts venderia um rim para sair com ela. Mas assim como qualquer garota da idade dela, Scamander não se sentia capaz de negar nada aquele que era dono de seu coração.


Ela nunca foi boa em lidar com sentimentos, aliás, ela os evitava sempre que podia. Não sabia o que sentia por Hugo, apenas que gostava dele o suficiente para ter uma relação séria pela primeira vez nada vida. Porém, Hugo parecia não gostar dela daquela maneira. Pelo menos não tanto quanto gostava da Potter.


maldita Potter. A garota sem sal que, por algum motivo quase paranormal, conseguia prender toda a atenção de Hugo. Somente um cego não percebia que o garoto gostava da prima muito mais do que deveria. E que era plenamente correspondido pela Potter.


– O que ela está fazendo aqui, Hugo? – As vozes de Lilian e Rose ecoaram a fazendo sorrir um pouco mais.


O ciúme na voz de Lilian poderia ser detectado a milhas de distância, assim como a raiva de Rose, que segurava a mão do Malfoy doentiamente. Ela podia não saber o motivo do ódio gratuito que a Weasley sentia por ela, mas aquele namoro repentino era um pouco estranho para ela. Scorpius nunca lhe pareceu o tipo de garoto que aceitaria um relacionamento sério antes dos vinte e cinco anos.


Tendo os olhos de todos presos em Hugo, ela aproveitou a situação para provocar a Weasley, piscando na direção do Malfoy, que arregalou os olhos quando a suposta namorada apertou sua mão com ainda mais força.


Quando a boca de Rose Weasley se abriu em indignação, Lysander sorriu ainda mais. Ela iria garantir que aquele almoço fosse, no mínimo divertido. Ao menos para ela.


**


– Ela veio me acompanhar. – A voz de Hugo soou um tanto nervosa e ele jogava seu olhar diretamente para cima da prima, como se ignorasse os olhares mortais que a irmã lhe lançava. – E seria bom se você se comportasse e tentasse não insultar Lysander, Lilian.


Lilian olhou ressentida para o primo e, em seguida, dirigiu discretamente seu olhar Anthony Zabine, que encolheu os ombros, constrangido. Era óbvio o que ela pensava, que a culpa pelo babaca do Weasley estar esfregando outra garota nas fuças da Potter era dele. E talvez aquela afirmação fosse verdadeira mesmo.


Lysander cumprimentou a todos com um sorriso falsamente simpático e sentou-se ao lado de Hugo nas cadeiras vagas e, aos poucos, a conversa na mesa começou a retornar. Em partes por que os gêmeos Roxanne e Fred resolveram descontrair o ambiente com algumas histórias divertidas sobre o relacionamento de seus pais.


Mas Rose Weasley não estava prestando atenção em nada. A raiva por aquela ridícula da Scamander ter piscado para Scorpius ainda estava latente, afinal, quem aquela loira abusada pensava que era?


– Você vai acabar matando a garota com esse seu olhar. – A voz irônica de Scorpius ecoou não mais alta que um sussurro em seu ouvido, a fazendo se virar para ele ligeiramente irritada.


– Talvez eu devesse matá-la mesmo. – a Weasley o desafiou com o olhar. – Uma vadia a menos no planeta.


Scorpius não queria, mas riu. A forma como o humor da Weasley variava era uma das coisas que mais o divertia. E, por um curto espaço de tempo, ele se questionou como seria depois que a farsa terminasse. Apesar de ele nunca ter se interessado em conviver pacificamente com a Weasley, aquela semana estava servindo para ele aprender que ela tolerável. E se arriscava a dizer que a companhia da garota lhe era quase agradável.


– Você não deveria ser tão vingativa. – Ele ponderou divertido. – A Scamander só estava tentando tirar uma com a sua cara. – Observou.


Bem, talvez se Scorpius soubesse como Rose interpretaria aquelas palavras, ele não teria compartilhado seus pensamentos com ela.


– Você está defendendo aquela garota? – Ela questionou e, embora sua voz estivesse controlada, ela estava com olhar estreito e amedrontador de alguém que está prestes a cometer um homicídio. – Ela cometeu o disparate de dar em cima de você na minha frente e você está defendendo ela?


Scorpius demorou um tempo para processar alguma resposta, em partes porque o olhar ameaçador que ela lhe lançava o alertava que qualquer palavra errada poderia causar o seu fim. Não reparou nos olhares divertidos que Anthony e Lilian – que já estava se recuperando do choque de ver a Scamander com Hugo – lançavam na direção deles.


– Eu não estou defendendo ela, veja bem... – Ele tentou dizer em vão.


– Você disse que eu não deveria ser tão vingativa. – Ela falou como quem explica a uma criança. – E, em outras palavras, disse que ela não havia feito nada demais.


– Eu não disse isso! – Scorpius exclamou um pouco alto, chamando a atenção do restante da mesa que, até aquele momento, estava entretida com as conversas sem sentido de Fred e Roxanne.


– Disse sim. – Ela resmungou com a voz baixa e olhar rasteiro.


Scorpius precisou respirar fundo mais algumas vezes até entender o que estava acontecendo. Um riso divertido apareceu nos lábios dele e a Weasley o encarou em expectativa, afinal, ela gostaria de saber o que o Malfoy estava achando de tão engraçado.


Para não ser ouvido pelo restante das pessoas, Scorpius se aproximou sorrateiramente do ouvido da garota, fazendo com que Rose se arrepiasse pelo contato repentino do hálito fresco dele contra a sua pele.


– Com ciúmes Weasley? – Ele sussurrou divertido, sentindo a garota ao seu lado ficar rígida.


Rose Weasley afastou-se dele furiosamente corada pelo que ele dissera. Tudo bem, eles não eram namorados de verdade, mas então por que ela se sentiu tão furiosa ao ver Lysander piscar para ele? Céus, a resposta para aquela pergunta não poderia ser boa, ela sabia disso.


– Nunca. – Ela respondeu o encarando de forma impassível, mesmo que tivesse certeza que seu rosto estava vermelho.


– É claro que não. – Scorpius zombou enquanto observava um dos garçons do lugar depositar sobre a mesa alguns petiscos, e ignorando o olhar ameaçador que a garota lhe lançava.


Rose Weasley ainda estava indignada, afinal, assim como Scorpius não gostava de Lorcan muito perto dela, ela também não gostava de Lysander se insinuando para ele. A questão não era ciúmes, era respeito. Ela apenas não gostava que o seu falso namorado fosse objeto de desejo de outras meninas. Mesmo que aquele não fosse um namoro convencional.


Irritada com a insinuação do garoto, a Weasley já havia se inclinado para perto dele e estava pronta para sussurrar uma resposta bem ácida a afirmação dele de que ela estava com ciúmes. Mas ela foi interrompida pela voz estridente de Dominique Weasley.


– Alguém sabe me dizer onde o James está? – Ela questionou chamando a atenção de todos na mesa. – Sinceramente, eu estou com fome. E vou vomitar se continuar olhando para Rose e Scorpius quase se agarrando!


E como Hugo Weasley ainda era filho de Ronald Weasley, imediatamente ele virou-se para encarar a irmã:


– Vocês estavam se agarrando? – Ele questionou e, embora quisesse que sua voz saísse divertida, ela saiu com uma dose extra e desnecessária de ciúmes.


Se antes as bochechas da Weasley estavam vermelhas, agora elas beiravam a cor roxa. Ela tentou formular alguma palavra coerente, mas aparentemente não se via capaz de sair daquela situação sozinha. Ela encarou Scorpius em expectativa, mas ele apenas sorriu para ela daquele jeito convencido em que ele era perito.


– Não seja bobo Hugo. – Lysander disse entre risos, fazendo com que Rose e o restante das pessoas olhassem para ela. – Sua irmã é puritana demais para beijar em público.


Lysander estava certa, Rose Weasley sabia disso. Mas mesmo assim ela não conseguiu se sentir menos irritada com o comentário inoportuno e intrometido da garota. Felizmente ela não precisou dizer nada, pois seus pensamentos foram expressos por uma irônica Lilian Potter.


– Antes puritana do que fácil demais. – A ruiva alfinetou.


A mesa ficou em um constrangedor silêncio, embora Dominique e Rose estivessem se esforçando para segurar o riso devido as expressões falsamente ofendidas de Lysander, que encarava Hugo sugestivamente. Ela não precisou pedir nada, porque ele foi ao seu socorro imediatamente.


– Qual é o seu problema, Lilian? – Ele questionou levemente irritado.


– O meu problema é você ter trazido esse projeto de pessoa com você para um almoço em família. – Ela respondeu frisando a última parte.


Hugo devolveu o comentário de forma ríspida.


– Almoço em família, é? – Ele questionou irônico. – Então eu não posso trazer a Lysander, mas você pode trazer o Zabine? É isso?


– Hey cara, é melhor você parar de falar com ela dessa maneira. – Anthony resolveu intervir, passando os braços de forma protetora por cima de Lilian.


E foi então que a discussão realmente começou. E enquanto via toda aquela discussão se desenvolver entre Lilian, Hugo, Lysander e Anthony, Rose Weasley pensou que, talvez, devesse ter contado a prima que sabia o motivo de Hugo ter terminado com Lysander. Talvez se ela tivesse contado, Lilian e Hugo estariam juntos e não brigando como cão e gato.


– Já chega todos vocês! – O grito de Dominique irrompeu no ar no exato momento em que Anthony e Hugo levantaram-se de suas cadeiras como se fossem se enfrentar. – Pelo amor de Merlin, onde diabos o James se meteu Albus? – Ela questionou irritada olhando furtivamente para Albus, que permanecia alheio a toda situação enquanto degustava alguns dos petiscos que haviam sido trazidos.


Percebendo o olhar ameaçador da prima sobre sim, Albus levantou os olhos para ela e sorriu de forma disfarçada.


– Boa pergunta. Eu não sei. – Ele deu de ombros se virou para Lilian, que parecia espumar de raiva. – Onde está o seu irmão Lilian? – Ele questionou fazendo com que a Potter revirasse os olhos.


Hugo Weasley é um idiota. Ela tentava se convencer, ainda sem acreditar que ele estava do lado da Scamander. Respirou fundo uma, duas, três vezes. E então se viu bem o suficiente para controlar o seu sarcasmo na resposta que daria a Albus.


– Eu não sei onde o James se enfiou. – Ela respondeu azeda e, em seguida, estreitou os olhos na direção de Albus. – E ele é seu irmão também, idiota.


– Entenda uma coisa irmãzinha, James é meu irmão quando faz coisas legais. – Albus retrucou sabiamente. – Quando faz algo idiota ou está atrasado, ele é seu irmão, coisinha.


A tensão entre Hugo e Anthony ainda era visivelmente, mas o clima aliviou com as risadas que ecoaram após esse pequeno dialogo entre os irmãos Potter. Lysander permanecia ao lado de Hugo, talvez um pouco mais segura de si mesma, porque estava agarrada ao braço dele e sorrindo, mesmo que no fundo tudo o que ela quisesse fosse ir para casa. Quanto a Rose e Scorpius, esses permaneciam na mesma situação, trocando olhares, furtivos ou nem tanto assim, e pequenos desaforos inaudíveis aos ouvidos dos outros.


– Admita Weasley, você sente ciúmes de mim. – Ele dizia apenas para implicar com ela, que revirava os olhos e negava.


– Eu vou estar louca o dia em que sentir ciúmes de você. – Ela respondia impassível.


Scorpius Malfoy poderia insistir o quanto quisesse, mas no fundo ele sabia que ela nunca admitiria qualquer sentimento com relação a ele. Rose Weasley nunca iria afirmar que sentia ciúmes dele da mesma maneira que ele não faria isso se estivesse em condição contrária. De todos os defeitos que ambos tinham em comum, provavelmente o orgulho era o pior deles.


**


Já passava das 12 horas quando Lilian Potter resolveu mandar um patrono a James para saber o que havia acontecido com ele, mas, aparentemente, o garoto não se importou em mandar uma resposta. Estavam quase pedindo o almoço quando ouviram passos trôpegos e desajeitados vindos das escadas.


Em questão de segundos, James Sirius Potter apareceu, causando suspiros cansados de “finalmente” nas garotas – principalmente me Dominique, que alegava estar mau-humorada devido a fome. E que os petiscos não serviam nem para fazer um curativo no imenso buraco negro em que se encontrava o seu estomago.


– Hey família! – O Potter mais velho saudou enquanto se aproximava e tentava inutilmente colocar os cabelos no lugar. – Sentiram a minha falta?


Várias respostas foram ouvidas, mas com certeza foi a de Dominique que causou os risos.


– Eu estou com fome, James, se você não se importar, sente-se nessa mesa imediatamente para que eu possa pedir o meu almoço. – Ela inquiriu, fazendo com que Albus erguesse as sobrancelhas para ela e com que o restante risse.


James sorriu em compreensão e, em seguida, virou-se para trás, como se esperasse ver alguém ali.


– Mas onde ela está? – Ele se perguntou em voz alta ao mesmo tempo em que esbarrava em uma cadeira, causando risinhos nas garotas devido ao atrapalho dele. Em seguida, James praguejou alguma coisa em voz baixa e se virou para quem o esperava. – Gente, eu vou só resolver uma coisa lá embaixo. Me esperem aqui por favor.


– Como se nós tivéssemos outro lugar para ir. – Uma esfomeada Dominique resmungou.


Em seguida, James desceu as escadas apressado e todos ficaram olhando por onde ele desceu de forma curiosa. Alguns segundos depois, ouviram a voz de uma garota junto com a de James, o que causou sorrisos nas garotas e olhares debochados nos meninos.


– Eu disse que era uma namorada. – Fred afirmou quando as vozes ficaram mais próximas.


– Você está parecendo uma mulherzinha nervosa desse jeito. – A voz irônica de James foi ouvida, seguida de um barulho estridente e um resmungo de dor.


–Insinue isso de novo, e você vai conhecer a força da mulherzinha aqui. – Resmungou a voz feminina, fazendo com que Lilian e Rose se entreolhassem.


– Essa voz não me é estranha. – Murmurou Rose Weasley a prima, que ouvia tudo atentamente e concordava.


Bem, de fato a voz era de uma pessoa conhecida, mas ninguém esperava que fosse daquela pessoa em especial. Quando James Potter apareceu novamente a escada, dessa vez segurando fortemente a mão de uma mulher de cabelos cacheados que o olhava de forma contrariada, as expressões de todos beiraram o choque. E os olhos de Rose Weasley e Lilian Potter pareciam prestes a saltar dos olhos e dançar um tango sobre a mesa.


Desconcertado com o olhar que lhe lançaram, James se atrapalhou todo na hora de confirmar o que todos pensavam.


– Hey, gente! – Ele saudou novamente, dessa vez mexendo nos cabelos nervosamente devido às expressões incrédulas dos irmãos e primos. – Então... Vocês se lembram da Abgail Jones? – Ele perguntou, sem conseguir formular nada melhor, levando uma cotovelada da garota em seguida. – Isso dói, Abbie. – Ele resmungou massageando o local.


– Típico de você, não Potter? – Ela questionou levemente irritada. – Você me mete em situações constrangedoras, e eu tenho que nos tirar delas. - Ela disse, recebendo a atenção de todos em seguida. – É o seguinte, James e eu estamos namorando. E não nos olhem como se fossemos assombrações, por favor.


Obviamente, o pedido dela não foi aceito pelos presentes, visto que todos continuavam a olhar para eles ainda sem acreditar no que viam. Foi Roxanne a primeira que conseguiu formular uma pergunta concreta a eles.


– Você é Abgail Jones? – Ela perguntou ainda sem acreditar. – A mesma Abgail Jones que viva brigando com James pelos corredores em Hogwarts? A única que conseguia fazê-lo calar a boca em discussões? E que o mandou para a enfermaria umas dez vezes no ano passado por usar nele azarações em que nem Minerva sabia os contra-feitiços? – Ela perguntou incontáveis vezes, fazendo com que o casal se sentisse cada vez mais constrangido. – Você é essa Abgail Jones?


– É, eu ela essa Abgail Jones, Roxy. – James respondeu por Abbie, que resmungou alguma coisa logo atrás dele. – Será que agora nós podemos nos sentar para almoçar?


– Assim que quiser, vossa Majestade. – Dominique respondeu, recebendo um olhar repreensivo do próprio James. – O que é? Estou com fome.


Em seguida, ele e Abgail se dirigiram para as cadeiras vagas ao lado de Rose e Scorpius. A namorada do Potter – que de discreta não tinha nada – encarou o casal sem entender.


– Vocês estão juntos? – Ela perguntou incrédula, em meio a uma careta que fez os mais próximos rirem.


Rose sentiu a face aquecer, mas resolveu ignorar.


– E aparentemente você e James também, não é? – Rose respondeu de forma divertida. – Quem diria, não?


– Pois e, aí está uma das coisas que eu nunca pensei que veria. – Ela disse olhando expressivamente para o casal em sua frente.


– Você e eu juntos? – James questionou confuso e Abgail o fuzilou com os olhos.


– É claro que não, eu falava de Rose e Scorpius. – Ela respondeu.


– Sabe, você podia ser mais romântica, Abgail. – James disse puxando uma Abgail levemente risonha pela mão, a obrigando sentar do seu lado.


Rose Weasley encarou o casal sorrindo. Até perceber o que aquilo poderia significar.


Um pequeno relato sobre James Potter e Abgail Jones para que você possa entender a preocupação da Weasley: Ambos, até o ano passado – ano em que concluíram Hogwarts – não eram o exemplo de convivência harmoniosa. Discutiam pelos corredores seguidamente, gostavam de discordar um do outro e, com uma certa freqüência, sempre acabavam em detenções juntos por protagonizarem pequenos duelos de azarações, enlouquecendo Minerva e Papoula, que além de ajudá-los a retirar as deformações que causavam um no outro, ainda precisava agüentá-los brigando durante toda o tempo em que permanecessem na enfermaria.


Eles eram completamente opostos, e qualquer um que ousasse dizer na época que toda aquela raiva que nutriam um pelo outro era tensão sexual ou qualquer coisa semelhante, ganhava um passaporte só de ida para a enfermaria também. Imaginar a relação de James e Abbie em Hogwarts, era a mesma coisa que imaginar a situação dela e Scorpius. E isso despertou nela um sentimento de preocupação por ela não conseguir definir o que sentia por Scorpius. E por não odiá-lo tanto quanto gostaria.


Será que o destino havia resolvido colocar em prática aquela velha história de que os opostos se atraem? Sinceramente, Rose Weasley esperava que não.


**


Ficaram reunidos no Três Vassouras até próximo das três horas da tarde, porque James precisava voltar ao Ministério . O tempo em que ficaram reunidos foi extremamente agradável, exceto, é claro, pelas alfinetadas de Lysander a Rose e Lilian. O clima estava tão tenso, quem nem mesmo Abbie resistiu a um comentário:


– Qual é o problema dessa vaca oxigenada? – Ela questionou a James que, como todo homem que não liga para intrigas do universo feminino, deu de ombros.


É desnecessário dizer que Rose e Lilian adoraram o apelido. E que Abgail se tornou a nova queridinha delas.


Mas naquele momento, eles não estavam mais em Hogsmead. Pelo menos Rose e Scorpius, porque a Weasley poderia jurar de pés juntos que viu Albus e Dominique andando discretamente na direção da Casa dos Gritos.


Naquele momento, eles haviam acabado de aparatar na casa dela, e caminhavam em silêncio pelo jardim.


– Seus pais estão em casa? – O Malfoy questionou depois de um tempo, enquanto chutava uma pequena pedrinha.


– Não, eles ainda estão trabalhando. – Ela respondeu de forma quase vaga.


– E Hugo?


– Deve estar na casa da detestável da Scamander.


O Malfoy a olhou intrigado, afinal, não era o normal de Rose Weasley estar calada daquele jeito.


– O que você tem? – Ele perguntou, fazendo com que a garota levantasse os olhos para ele sem entender.


– Como assim?


– Sei lá. – Ele deu de ombros, um pouco desconfortável. – Você está calada demais, é estranho.


Rose Weasley não respondeu. Não gostava de falar sobre aquele assunto, e se colocasse o nome de Lysander Scamander em jogo naquele momento, ela tinha certeza de que Scorpius Malfoy e seu ego grande a acusariam de estar sentindo ciúmes. E ela não precisava daquilo, na verdade ela não precisava de nada. Só pensar.


Scorpius Malfoy não tentou mais nenhum assunto, apenas seguiu a garota pelo jardim em silêncio. Observou aos fundos do jardim um par de balanços pendurados em uma velha árvore e percebeu que era para lá que a Weasley se dirigia. Não questionou, nem se opôs, apenas acompanhou a garota até lá.


Ele não sabia exatamente o porquê de estar fazendo aquilo, afinal, se os pais dela não estavam em casa, ele podia simplesmente ir embora e dar por encerrada a missão daquele dia. Mas Rose Weasley estava calada demais. E, ao menos naquele momento, não era a garota que ele conhecia.


Quando se aproximaram dos balanços, a Weasley sentou-se em um deles e o Malfoy observou os pés da garota baterem na grama gasta. Quase sorriu ao imaginar o sorriso de Rose Weasley quando criança balançando. O silêncio permaneceu por vários segundos, e incapaz de ir embora e deixá-la daquele jeito, Scorpius se viu perguntando:


– Você quer que eu empurre?


Rose Weasley o encarou em dúvida por alguns instantes, mas assentiu em seguida. Com o consentimento da garota, ele andou para trás dela e a empurrou. Uma. Duas. Três vezes. Até que finalmente ela pegou impulso. O Malfoy não podia ver, mas a menina possuía os olhos fechados e sorria inconscientemente ao sentir o vento bater em seu rosto, indicando que finalmente ela estava balançando alto o suficiente. Como se pudesse voar.


– Pessoas perfeitas me irritam. – Ela disse simplesmente.


Scorpius Malfoy não entendeu muito bem, por isso questionou.


– Como?


Mas ela não se ateve as dúvidas dele, seguiu o seu raciocínio antes que a coragem sumisse. Ela se sentia estranhamente segura enquanto balançava. Era como se ela tivesse voltado a ser criança e fosse Ronald Weasley quem a empurrasse.


– Lysander Scamander é toda perfeita. Tem o cabelo perfeito, a pele perfeita e o corpo perfeito. – Ela seguiu falando fazendo com que o Malfoy começasse a entender. – As pessoas ficam tão deslumbradas com a beleza dela que não se importam com o lixo de ser humano que ela é.


O Malfoy fez uma careta que a Weasley não pode ver. Ele já tinha saído com a Scamander uma vez e, sinceramente, esperava nunca mais ter que repetir a dose.


– Se serve de consolo, eu não gostei de sair com ela.


Rose Weasley deu uma sonora gargalhada que coincidiu com o exato momento em que ela estava mais uma vez subindo com o balanço. E foi inevitável para o Malfoy achar aquela cena uma das mais encantadoras que ele já tinha visto.


– É estranho, mas eu não tenho um motivo exato para não gostar da Scamander. – A Weasley prosseguiu e, embora ainda tivesse os olhos fechados, sua expressão se contraiu em uma careta. – Eu só acho ela bonita demais. Às vezes me sinto culpada por sentir esse tipo de coisa. Acho que tenho um pouquinho de inveja.


– Pois não devia ter. – O Malfoy se viu falando. – Lysander pode ser bonitinha, mas você é mais que isso. Tem personalidade, e um cara sempre vai preferir personalidade à beleza.


Scorpius não sabia de onde havia tirado coragem para falar tudo aquilo e, sinceramente, esperava que a Weasley não interpretasse aquilo como um flerte.


E, de fato, ela não interpretou.


– Está dizendo que eu sou feia, mas tenho personalidade Malfoy? – Ela questionou, parando de balançar imediatamente e se virando para encarar o Malfoy diretamente nos olhos.


Scorpius Malfoy revirou os olhos.


– Você sempre entende as coisas pelo pior lado. – Ele resmungou.


– Então me explique um lado positivo para essa sua afirmação. – Ela desafiou se levantando e o encarando mais de perto.


– Eu não disse que você é feia. – Scorpius disse se aproximando um pouco mais dela. – Disse que prefiro a sua personalidade à beleza plástica da Scamander. E que os caras gostam de personalidade em uma garota.


Rose Weasley sentiu arregalou os olhos com a repentina declaração e Scorpius Malfoy, sem ter mais armas para resistir aquela garota, quebrou a distância restante entre ambos, a enlaçando pela cintura e puxando a Weasley para mais perto. Encararam-se por infinitos segundos, e quando ele estava a milímetros dos lábios dela, se viu dizendo.


– Eu acho que vou te beijar. Tudo bem pra você?


Rose Weasley tentou dizer algo coerente, mas sua voz a traiu e nem um som foi produzido por sua boca. Incapaz de se desconectar dos olhos dele, ela confirmou com a cabeça, enlaçando o pescoço do garoto ao mesmo tempo em que ele quebrava o restante da distância, finalmente a beijando.

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