Capítulo XI

Já estavam na metade do jantar, mas Astoria Malfoy permanecia empolgada com a idéia de ter uma nora. Não podia negar, sempre teve medo de que o filho fosse a cópia exata de Draco na adolescência. Lembrava-se perfeitamente bem do imã para garotas interesseiras e sem conteúdos que seu marido tinha nos tempos de Hogwarts. Lembrava tanto, que o nome Pansy Parkinson sempre lhe causaria ânsias de vômito quando fosse pronunciado.

Ela estava extremamente feliz por ver seu filho sentado ao lado da filha de Ronald e Hermione Weasley e com os dedos firmemente entrelaçados nos dela. Pelo menos agora ela tinha a certeza de que ele estava envolvido com pessoas de bem.

Quanto a Rose Weasley, ela ainda estava um pouco assustada com a receptividade de Draco e Astoria Malfoy. Ela não sabia o que estava esperando, apenas não acreditava que havia sido recebida na mansão Malfoy – a mesma mansão que ouviu os gritos de sua mãe enquanto era torturada – com sorrisos e de forma tão afetuosa. A mais animada, com toda a certeza, era a Sra. Malfoy, que parecia não se caber de tanta alegria. Mas Rose podia notar que Draco já esboçava traços de aceitação quanto à relação entre ela e Scorpius. Uma relação mentirosa e inexistente.

Apesar de todos estarem acreditando no teatro que eles haviam montado, Rose não conseguia se sentir plenamente feliz. Aquilo era perfeito para o plano, não para os seus ideais. Os pais de Scorpius eram pessoas magníficas, e ela jamais teria envolvido o Malfoy em seus planos se soubesse que acabariam em um jantar confraternizando com os pais dele, onde Astoria Malfoy não parava de lhe dizer o quanto ela era uma pessoa adorável. E ela não era uma pessoa adorável. Rose, naquele momento, se sentia uma serpente traidora que daria o bote a qualquer momento.

– A comida estava uma delícia, Sra. Malfoy. – Rose comentou tentando se livrar da culpa que estava sentindo.

– Obrigada, querida. – Ela disse sorrindo e então diminuiu o tom de vós, como se fosse contar um segredo. – Mas terei que confessar que encomendei a comida.

Rose a olhou sem entender muito bem.

– É que eu não cozinho muito bem, não queria que você se assustasse logo na primeira visita que fizesse a minha casa! – Ela se explicou, fazendo com que Rose sorrisse ao recordar que sua mãe também não dominava a cozinha.

– Não precisava ter se incomodado, minha mãe é um perigo eminente cozinhando. – Rose comentou sorrindo. – Qualquer coisa que a senhora fizesse não me assustaria tanto quanto as experiências culinárias de minha mãe.

– Você fala isso porque ainda não viu Astoria na cozinha, Rose. – Ela sobressaltou-se ao ouvir a voz de Draco e virou-se para encará-lo. Ele dirigia a Astoria um sorriso de canto divertido, que beirava o sarcasmo. E ela conhecia muito bem aquele sorriso. – Minha esposa pode fazer a cozinha parecer uma guerra nuclear. – Ele concluiu, recebendo um olhar irritado da mulher.

– Quando se casou comigo, você não reclamava. – Ela disse emburrada.

– Mas eu não estou reclamando, só estou dizendo que você é capaz de provocar um pandemônio enquanto cozinha!

Rose surpreendeu-se ao notar que Draco precisou desviar de um garfo que fora jogado em sua direção. Quando seu olhar cruzou com o da matriarca Malfoy, Astoria enrubesceu e pediu desculpas pelo comportamento.

–Sabe como é, Draco tem o dom de me tirar do sério de vez em quando.

Rose virou-se para o lado repentinamente encarando Scorpius de forma intimadora. Era óbvio que, além do sorrisinho irritante, Scorpius havia herdado do pai muitas outras coisas. Como o prazer de infernizar a sua vida.

– Por que está me olhando desse jeito? – Scorpius se pronunciou pela primeira vez aquela noite, estranhando aquele sorriso nos lábios de Rose.

–Oras, por nada. – Ela deu de ombros, mas não sem antes olhar para Astoria, que simplesmente riu em sinal de compreensão, deixando Scorpius ainda mais confuso.

– Elas estão falando em códigos Scorpius. – Draco comentou enquanto se equilibrava cadeira. – Não adianta tentar, você nunca vai decifrá-los.

As duas mulheres riram e, em seguida, Astoria convidou Rose para se sentar na sala de estar. Scorpius e Draco, sem outra opção eminente, deram de ombros e seguiram as duas.

As duas horas que se seguiram foram as mais torturantes para Scorpius Malfoy, mas não pelo fato de sua mãe estar mostrando as fotos mais constrangedoras que alguém pode ter e sim por causa dela, por causa de Rose Weasley. Ele sempre havia achado a garota relativamente sem graça, mas definitivamente, ela estava impossível naquela noite.

Rose Weasley estava mexendo com ele de uma forma que Scorpius nunca pensou que pudesse ser real. Ele estava se sentindo atraído pela garota que, há apenas alguns dias, ele detestava e isso era extremamente desconcertante. E impossível de evitar.

Ele estava tão hipnotizado pela garota dos cabelos ruivos, que não reparava nos olhares que Draco Malfoy lhe lançava. Olhares curiosos, de quem um dia já havia passado pela mesma situação.

– E então, Scorpius. Não vai contar a mim e a sua mãe como você e a Weasley resolveram as suas diferenças? – Draco perguntou, olhando discretamente para a esposa como se recordasse algo.

Diferente do que Astoria e Draco esperavam, nem Rose e nem Scorpius sorriram. Pelo contrário, Scorpius estava engasgado e Rose possuía uma expressão que beirava ao terror. Eles não haviam pensado direito nessa pergunta. E Rose xingou-se mentalmente por não ter notado o quão óbvio aquele questionamento era.

Devidamente recuperado do susto, Scorpius notou que Rose não conseguia se mexer. E o pior, parecia apavorada. Antes que seus pais começassem a desconfiar, o Malfoy estampou o seu melhor sorriso e resolveu mostrar a sua versão dos fatos. Lançou mais um olhar a Weasley e, em seguida, seu sorriso aumentou. Não a tinha irritado naquela noite, talvez aquela fosse uma ótima oportunidade.

– Foi logo após o jogo de quadribol entre Sonserina e Corvinal, há três meses. – Scorpius disse sorrindo de forma presunçosa na direção de Rose, que enrubesceu quando percebeu o que ele estava prestes a fazer. – Rose estava saindo com um babaca que jogava no time adversário e ele ficou bastante irritado com a derrota. Aparentemente, Rose e ele discutiram após o jogo por minha causa. – Ele narrou de forma rápida. – Então ela veio até mim e acabou acontecendo.

Rose imediatamente ficou vermelha, mas por duas razões distintas: a primeira, obviamente, era raiva por Malfoy ter jogado tão baixo, e a segunda e mais importante causa, era porque a história que ele contou tinha um pouco de verdade, sim.

O jogo de quadribol entre Sonserina e Corvinal ocorreu duas semanas antes do recesso de final de ano e ela estava saindo com o capitão do time, o corvino Jimmy Thomas. Como era de se esperar, ele ficou extremamente irritado por perder o jogo e, quando ela chegou ao local, ele e o Malfoy discutiam ferrenhamente. Rose teve a infeliz idéia de se meter, o que resultou em Thomas ainda mais irritado que dirigiu seus gritos para ela, exclamando para quem quisesse ouvir que Rose Weasley tinha uma queda por Scorpius Malfoy e era plenamente correspondida. Ela até tentou se defender, mas Thomas fez questão de chamá-la de burra por não enxergar um palmo à frente de seu nariz. Ela se irritou e mandou ele se ferrar. Fim de história.

Mas era obvio que Scorpius tinha que se utilizar desse fato para atormentá-la. Mas onde se joga um, pode se jogar dois.

– Não tenha vergonha, amor. – Rose disse com voz melodiosa, mas Scorpius não se enganava. O olhar dela denunciava o que vinha pela frente. – Por que não conta direito a sua declaração? Ela pediu, arrancando gritinho de excitação de Astoria.

Scorpius ficou incomodado, mas não foi capaz de formular uma única frase para reverter a situação a seu favor. E para fechar o pacote, sua mãe resolveu ajudar um pouco.

– Oh! Rose me conte o que ele fez. – Astoria implorou. – Meu filho é muito orgulhoso, não irá contar nada.

E Scorpius Malfoy sentiu vontade de escavar um buraco para colocar sua cabeça dentro quando notou o sorriso perverso da Weasley.

–Não foi nada demais, Sra. Malfoy. – Rose disse. – Mas depois que Thomas e eu discutimos, Scorpius veio perguntar como eu estava, visto que o garoto foi um bruto comigo. – Ela disse encarando o Malfoy fulminantemente. – Mas eu estava tão irritada que gritei com ele, e Scorpius, sendo quem ele é, não deixou barato e gritou comigo também.

Ela jogou na mesma moeda, contou mais uma verdade acerca daquele dia, o que deixou Scorpius visivelmente desconfortável com os olhares que recebia.

– Você não é fácil de lidar, Rose. – Scorpius tentou se justificar. – Thomas foi um imbecil com você e, aparentemente, ao invés de descontar nele, preferiu descontar em mim.

– Mas não precisava ter dito que eu era cega demais e que caia nas graças do primeiro que aparecia. – Irritou-se Rose por se lembrar daquele momento. Ela não tinha culpa se Thomas enxergava coisas onde não havia.

– Mas eu não teria dito isso se você não tivesse me chamado de metido primeiro! – Scorpius levantou uma oitava, percebendo que ambos estavam perdendo o foco de toda aquela história. Não era hora de lavar roupa suja, era hora de interpretar. E foi isso o que ele tentou fazer, recompondo-se rapidamente, mas sem conseguir esconder o quão real as palavras a seguir soaram para ele. – Eu só estava preocupado com você.

Depois de alguns instantes, Rose conseguiu recuperar um pouco da noção das coisas e, embora sua raiva continuasse latente, ela conseguiu esboçar um sorriso e convencer a Draco e Astoria que tudo havia acabado bem.

– Mas não se preocupem. – Rose disse suavemente. – Durante a minha ronda da monitoria, Scorpius me encontrou com um buquê de flores silvestres e me pediu desculpas, confessando que toda a raiva que ele sentia de mim era apenas amor reprimido. – Ela concluiu fazendo com que Draco olhasse de uma forma esquisita para o filho, e com que Astoria sorrisse em satisfação. Mas o toque irônico que havia na voz de Rose apenas Scorpius conseguiu notar.

– Por que não deu rosas a ela? – Astoria perguntou um tempo depois, parecendo visivelmente interessada. – sabe, o normal é um homem entregar rosas a uma mulher pela primeira vez.

– Flores silvestres são as preferidas dela. – Scorpius respondeu de forma automática, arrependendo-se logo em seguida ao notar o olhar inquisidor de Rose Weasley que claramente lhe perguntava como ele sabia daquilo.

Depois daquele rápido relato, Astoria se levantou e foi até a cozinha para ser vir a sobremesa. Estava tão feliz que seria capaz de flutuar. Porém, assim que retornou a sala notou que o filho estava desconfortável. E logo descobriu o porquê.

– Então Srta. Weasley, o que pretende fazer quando o ano acabar? – Ela ouviu Draco perguntar, fazendo com que fechasse a cara imediatamente.

Rose achou a pergunta levemente estranha, mas optou por responder.

– Pretendo ser jornalista. – Ela respondeu e, ao notar os olhares de Scorpius e Draco completou. – Mas uma jornalista de verdade, não como os do Profeta Diário. Quero fazer algo de bom para a comunidade e, quem sabe, escrever um livro. Mas isso é outra história. – Ela contou levemente ruborizada, mas Scorpius se sentiu terrivelmente encantado ao ver o quanto os olhos dela brilharam ao falar de suas aspirações.

Mas o momento de encanto foi quebrado quando Draco Malfoy tocou em um assunto que o deixava extremamente irritado.

– Com planos tão bons, talvez você possa ajudar meu filho a encontrar carreiras mais dignas para se seguir. – Draco alfinetou.

Astoria permanecia em silêncio – embora tenha dado um olhar duro para o marido quando lhe entregou a sobremesa. – e Rose não era capaz de entender muita coisa. Ela estava com a boca aberta e era capaz de se ouvir pronunciando a frase, mas foi interrompida pela voz arrastada e nada satisfeita de Scorpius.

– Eu já tenho meus planos, e você sabe disso. – Scorpius disse já irritado com o rumo da conversa.

– Planos estúpidos, você quer dizer! – Draco disse de volta, fazendo Rose arregalar os olhos e Astoria largar os talheres em cima da mesa de centro enquanto encarava o marido seriamente.

– Draco, por favor, se recomponha querido. – Astoria pediu calmamente, mas lançando um olhar nervoso ao marido. Rose quase sorriu ao compará-la com sua mãe. – Não é hora para isso. – Ela completou acenando levemente na direção de Rose que ruborizou.

Os dois continuaram trocando olhares raivosos e Rose podia sentir o quanto Scorpius estava nervoso. Havia algo de estranho com ele, ela só não conseguia decifrar o que era.

–Scorpius, querido, por que não leva Rose para conhecer seu quarto? – Astoria pediu de forma suave, mas ficou bastante claro que estava dando uma ordem.

Rose pensou que Scorpius fosse revidar e que talvez gritasse com o pai ou dissesse à mãe que não ia a lugar nenhum, mas ele não o fez. Ele simplesmente se levantou e ofereceu a mão para Rose, que aceitou prontamente. Em seguida eles marcharam para fora da sala, mas Rose percebia que Scorpius estava exaltado e parecia bastante irritado com a atitude do pai. Antes de seguirem para as escadas, ela o viu lançar um olhar estranho ao pai, um olhar que ela nunca tinha visto nele. Era um olhar de mágoa.

Eles fizeram todo o percurso da sala até o quarto do garoto em silêncio. Enquanto Scorpius estava perdido em seus pensamentos, Rose apenas seguia observando a mobilha e os quadros onde os antepassados da família Malfoy estavam pintados e que, vez ou outra, torciam o nariz ao vê-la.

Não demorou muito para pararem em frente a uma porta de alvenaria com detalhes talhados na madeira. Scorpius a abriu sem cerimônias, dando um pouco de espaço para que ela entrasse. Assim que Rose colocou os pés no cômodo, sua expressão beirou a incredulidade. Sabia que ele vinha de uma família sonserina, mas não tinha nem idéia que eles levavam tão a sério essa história ao ponto de os quartos serem decorados em verde e prata.

Scorpius fechou a porta atrás de si e se moveu para um canto especifico do quarto, próximo a janela. Rose o seguiu com o olhar, seus olhos absorvendo cada detalhe estranho daquele cômodo. Era impressão sua, ou a cabeceira da cama tinha uma cobra esculpida?

– Admirada Weasley? – Ela se voltou para ele, que, apesar de ter falado com ela, não desgrudava os olhos de uma pequena estante ao lado da janela, que era coberta por grossas cortinas em um tom de cinza.

Ela andou devagar até ele, pensando nas palavras que usaria.

– Posso dizer que sim. – Ela admitiu com a voz baixa enquanto se aproximava e encarava os objetos da pequena estante com o cenho franzido. – Eu sabia que vocês sangues-puros apreciavam muito a casa de sonserina, mas não sabia que levavam isso tão a sério.

Scorpius soltou uma risada seca e sem humor e, notando que ele não falaria nada, ela voltou seus olhos para os objetos da estante, que agora ela reconhecia como uma coleção de mini-vassouras. Uma coleção que, se não estava completa, deveria estar quase. Ela observou aquilo junto de Scorpius por alguns momentos, antes de notar que pelo quarto estavam espalhadas várias coisas que faziam referência ao quadribol. Desde pôsteres de times, até bolas de jogo e troféus. Quando seus olhos encontraram os de Scorpius, ele já a encarava, como se estivesse decidindo se deveria contar o motivo de tudo aquilo ou não.

Ele respirou pesadamente e sentou-se, completamente frustrado, em uma poltrona. Rose o encarou sem entender, mas quando estava prestes a fazer seu questionamento, Scorpius começou a falar.

– Ele não aceita as minhas escolhas. – Começou ele e, de alguma maneira, Rose sabia que ele se referia ao pai. – Ele sempre me contou as histórias da guerra, histórias nada bonitas. E acho, que de alguma maneira, ele esperava que eu conseguisse limpar o nome da família de uma vez por todas me tornando auror. – Desabafou, fazendo Rose o olhar com curiosidade.

– Me deixeeu ver se entendi. – Rose interrompeu fazendo uma careta que Scorpius achou engraçada. – Seu pai quer que você siga a carreira de auror e você não quer isso, certo? – Ela questionou.

– É bem isso. – Scorpius concordou. – Eu sempre gostei muito de quadribol e ano passado depois da final do campeonato das casas, Slughorn veio falar comigo. Me disse que, durante o jogo, haviam olheiros do Puddlemere United e que eles haviam gostado de mim. E que se, ao final do ano, eu estivesse jogando tão bem quanto esse dia, eles tentariam fechar um contrato comigo. – Os lábios de Scorpius se abriram num sorriso com a lembrança, mas logo se contraíram em uma careta. – Mas quando eu voltei para casa e contei ao meu pai...

– Ele não concordou com a sua escolha. – Rose completou, recebendo um aceno positivo da parte de Scorpius. Não precisava ser nenhum gênio para saber que aquele era o final da história e o motivo para o desentendimento entre ele e o pai minutos atrás. Ficaram em silêncio alguns segundos apenas encarando a coleção de vassouras do garoto, quando Scorpius os interrompeu.

– Foi por isso que eu topei o acordo com você. – Ele disse repentinamente, fazendo com que Rose se voltasse para ele levemente confusa. – Minhas notas não estão nada boas, eu nunca estaria apto para o cargo de auror com elas. – Scorpius explicou sem humor. – Então meu pai achou que podia me chantagear.

– Chantagear como? – Ela perguntou, embora tivesse uma leve idéia.

– Bem, ele disse que se eu não melhorasse minhas notas, cortaria meus patrocínios no quadribol. – Scorpius explicou. – E eu acabei quebrando minha vassoura durante as férias.

– E com os 300 galeões do acordo você poderá comprar uma nova. – Rose concluiu.

– É, exatamente. – Ele disse sorrindo na direção dela. – Foi por isso que aceitei fazer parte do seu plano maluco.

Rose riu e, depois, ficaram mais alguns segundos presos em um silencio desconfortável. A mente de Scorpius viajava, sem acreditar que ele havia contado tudo aquilo a Weasley. Ele nunca tinha falado com ninguém sobre isso, nem mesmo com Albus e Anthony. Ter confiado em Rose Weasley lhe parecia bastante surreal naquele momento.

Quanto a Rose Weasley, ela apenas sorria bobamente, sem acreditar no que havia acabado de acontecer.

–Estamos evoluindo. – Ela comentou em voz alta, fazendo Scorpius se voltar para ela. Rose corou brevemente, mas prosseguiu. – Tivemos nossa primeira conversa civilizada em sete anos. – Ela disse quase entusiasmada.

– Quando você não está gritando e dando escândalos, pode ser bem agradável, Weasley. – Ele alfinetou, enquanto se levantava, mas sem esconder o sorriso.

– Quando você não está sendo um completo idiota, também é agradável, Malfoy. – Ela devolveu, levantando-se e o encarando com a expressão de desafio que fez Scorpius arfar.

– Ah! É? – Ele perguntou se aproximando perigosamente dela. – Estou sendo um idiota completo dessa maneira? – Ele pediu enquanto a puxava pela cintura os aproximando. Rose ficou vermelha imediatamente, mas ele não sabia se era vergonha ou raiva.

– Mais ou menos. – Ela sussurrou, se sentindo incapaz de soltar-se. Estava estranhamente confortável nos braços do Malfoy, embora tentasse não transparecer isso a ele.

Sorrindo de forma perversa, ele moveu seu rosto em direção ao dela, subindo uma das mãos pelas costas da garota, acariciando-as levemente. Estavam com os lábios quase colados quando ele se viu sussurrando na direção dela.

– Você tem que pedir Rose. – Ela o encarou sem entender. – Vamos lá Rose, me peça um beijo. – Ele sussurrou de novo, não como uma ordem, mas como um pedido. Ele a beijaria independente de ela pedir ou não.

– Eu não sei Scorpius. – Ela sussurrou completamente extasiada pela sensação de proximidade. Sentiu ele acariciar suas costas suavemente, enrolando os dedos nos cachos de seus cabelos a fazendo arfar.

Eles estavam preparados para o que viria a seguir. Todas as preliminares já haviam sido cumpridas e, definitivamente, Scorpius não parecia interessado em fazê-la implorar por um beijo seu, como havia proposto na noite anterior. A única coisa que ele queria era a sensação de provar aqueles lábios vermelhos e levemente inchados que a garota possuía. E ele estava quase fazendo, quando a porta de seu quarto foi aberta, fazendo com que ambos se assustassem e se jogassem um para cada lado do quarto.

– Scorpius, querido, já está... – Astória Malfoy vacilou ao ver que os dois adolescentes a sua frente estavam ofegantes. – tarde. – Ela completou levemente constrangida por ter interrompido alguma coisa.

Rose corou imediatamente ao perceber o que estava prestes a fazer. Ela ia beijar Scorpius Malfoy! Merlin, nunca, em toda a sua vida, poderia imaginar que se deixaria enfeitiçar por Scorpius Malfoy. Céus, se não fosse por Astoria, ela teria colocado tudo a perder. Ela não deveria ter se deixado levar, era ele quem deveria estar encantado, e não ela!

O que estava passando pela sua cabeça, Scorpius Malfoy? Ele se perguntou, passando as mãos pelo cabelo em sinal de nervosismo. Não podia mostrar esse tipo de fragilidade na frente da Weasley. Ele quase a tinha beijado depois de ter jurado que a faria implorar por aquilo! Por Merlin, onde estava o valor de sua palavra? Scorpius voltou seus olhos para a mãe que permanecia parada, sem saber o que fazer.

– Nós já estávamos descendo, não é Rose? – Scorpius disse, olhando de canto de olho para Rose, como se temesse de alguma maneira encarar os olhos azuis da Weasley.

– Sim, sim. Já estamos indo Sra. Malfoy. – Ela disse visivelmente transtornada. Porém, para evitar maiores constrangimentos, ela andou até Scorpius e segurou sua mão, mas sem olhar em seus olhos. – Vamos descer junto com a senhora. – Ela disse, tentando mostrar o seu melhor sorriso.

Astoria sorriu para eles de forma terna e saiu para o corredor, sendo seguido pelos dois, que permaneciam em silencio, evitando o olhar um do outro, além de levemente corados.

Ela se despediu levemente de Draco Malfoy, que estava sentado em frente à lareira e prometeu a Astoria que aparecia de novo em uma tarde daquela semana para o chá. E que traria sua mãe com ela. Logo depois, caminharam até o jardim para aparatar. Seus olhos se cruzaram pela primeira vez quando Scorpius enlaçou a cintura de Rose para aparatar. Sentiram o corpo inteiro formigar, mas o garoto achou melhor mascarar aquela sensação com a aparatação.

Assim que surgiram nos jardins da casa dela, o olhar de Rose se voltou para a casa, que tinha a luz do quarto dos pais acesa. Ela sorriu ao pensar em tudo o que Hermione deveria ter passado naquela noite com Ron, que obviamente estava esperando ela chegar.

Eles caminharam até a porta dela e ficaram sem encarando, sem saber o que dizer. Scorpius optou o silêncio, não queria correr o risco de fazer mais burradas do que já havia feito aquele dia. Rose soltou o ar dos pulmões e se voltou para Scorpius. Ela tinha que prosseguir com o plano.

– Olha, é possível que meus primos nos chamem para irmos a Hogsmead amanhã. – Ela disse abaixando os olhos para não encará-lo. – Mas eu falo com você pela lareira se isso acontecer.

Scorpius observou ela abrir a porta e sussurrou um “boa noite” a ela. E Rose, com uma coragem que ela não sabia de onde tinha vindo, andou até ele e lhe beijou a bochecha, correndo em seguida para dentro de casa e fechando a porta para que ele não visse o quanto ela estava corada.

Scorpius permaneceu ali, em frente à porta, por alguns minutos tentando digerir o que havia acontecido. Acariciou levemente a bochecha esquerda, como se não quisesse que o calor dos lábios dela em sua pele se afastasse nunca. Acordou de seus devaneios apenas quando ouviu um barulho dentro da casa, como se alguém estivesse andando no andar superior. Balançou a cabeça negativamente na tentativa de apagar aquelas sensações e aparatou, embora soubesse que aquilo seria inútil, já que, provavelmente, a Weasley habitaria os seus sonhos naquela noite.

Rose se enfiou embaixo das cobertas no mesmo instante em que ouviu o som de Scorpius aparatando e, surpreendentemente, sorriu com as lembranças daquela noite. Sabia que na manhã seguinte estaria arrependida das besteiras que havia feito, mas se permitiu sorrir e mergulhar em um sono tranqüilo. Naquela noite, definitivamente, Rose sonhou com anjos.

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