Capítulo 10: Ontem, quando eu



-Hermione, talvez você devesse pensar melhor – Sirius dizia. Ele, Napoleon e Sukesh andavam depressa para acompanhá-la, enquanto marchava apressada pelos corredores da DI. Depois de seu anúncio, ela imediatamente disparatou e eles foram obrigados a seguí-la. Não precisava ser um gênio para imaginar o que passava pela cabeça dela.


-Não preciso pensar melhor – Ela disse, seguindo sua bolha.


-Bem, você tem um plano?


-Achar o Guardião. Este é o plano. – ela chegou até uma porta dupla e a abriu, revelando o depósito de armas da DI. Varinhas de combate estavam alinhadas em um das paredes, cada uma identificada com o nome do agente a quem pertencia, as prateleiras das outras três paredes tinham amuletos, vasos com variados pós e poções, protetores anti-maldições e qualquer coisa que um agente pudesse precisar. Hermione pegou uma cartucheira de um apoio na parede oposta e colocou um par de protetores em um dos muitos lugares.


-Isso é maluquice – Napoleon disse.


-Que bom que pensa assim – ela disse –Porque você vem comigo.


-Vou?


Ela virou e apontou a varinha pra ele. –Quer discutir comigo agora?


-Hã, não. Absolutamente não.


-Bom. – ela colocou a varinha no lugar. –Melhor pegar sua varinha e se certifique de pegar alguns protetores.


-Mas... Não tenho certeza se agora é a melhor hora...


Ela virou para encará-lo. –Eu disse para não discutir comigo!


-Meu Deus, Hermione, se controle! Este é um momento muito emocional e eu...


-Momento emocional uma droga. Apenas se prepare pra ir.


-Agora? Precisamos...


-Não me diga o que precisamos fazer! – ela gritou.


Napoleon a segurou pelos braços. –Se acalme!


-Estou perfeitamente calma! – ela gritou na cara dele.


-Hei, hei. Hei! – Sirius disse, entrando entre os dois. –Vamos todos respirar, certo?


Hermione deu um passo para trás, colocando as mãos na cintura. Os quatro bruxos ficaram lá, se olhando. O queixo de Hermione estava fixo numa expressão teimosa que Napoleon conhecia e temia. Essa era a mulher que quebrara a perna do próprio noivo para passar em seus testes.


Depois de uns momentos tensos, o silêncio desconfortável foi quebrado pela bolha da DI aparecendo no ar, diante deles. –Agente Jones – disse o bruxo da segurança da entrada.


Napoleon respirou fundo. –Sim? – ele disse, o tom de voz normal.


-Tem uma pessoa aqui pra ver o Chefe Potter. Ela diz que ele a está esperando.


Hermione franziu a testa. –Quem é?


-Não tenho idéia – Napoleon disse, dando de ombros. –Ele não tinha nada marcado pra hoje.


Ela falou com a Bolha. –Ela disse o nome?


Uma pequena pausa. –É a caça-vampiros, Hermione.


Eles trocaram um rápido olhar. –Já vamos pra aí.




Hermione e Napoleon entraram no salão de visitantes, agradavelmente decorado. Sentada num sofá encostado na parede estava uma mulher que Hermione de fato nunca conhecera, apesar de ter ouvido e lido muito sobre ela. Hermione teve que engolir a surpresa ao vê-la. Não tinha certeza do que esperava, mas essa mulher não era. A caça-vampiros era pequena,bonita e loira com expressão ativa e brilhantes olhos azuis. Usava roupas simples, as pernas cruzadas com decoro enquanto esperava. Sentado ao lado dela estava um homem pálido com cabelos loiros platinados, vestido todo de preto com um longo casaco de couro. Esse deve ser o noivo vampiro. Hermione lutou pra lembrar seu nome, mas não conseguiu.


Quando a caça-vampiro os viu chegar, levantou sorrindo. –Você deve ser Hermione – ela disse. Hermione apertou sua mão. –sou Buffy Summers.


-Muito prazer. Este é Napoleon Jones, o vice de Harry. – ela disse.


-Já nos falamos pelo telefone, Napoleon. Este é Spike. – Spike apertou a mão de Napoleon, um olhando pro outro com uma expressão estranha.


-Eu te conheço? Você parece familiar – disse o amigo da caçadora, a voz grossa com um sotaque único, muito parecido com o de Napoleon.


-Estava pensando a mesma coisa – Napoleon respondeu. –Mas acho que nunca nos conhecemos. Tenho certeza que me lembraria.


-De onde você é?


-Londres. Seu sotaque está um pouco misturado, não é?


O vampiro fez um gesto de "deixa pra lá". –Depois de cem anos ou mais tudo começa a se misturar.


Este tópico terminado, Hermione voltou-se para caça-vampiros. –Tinha marcado pra falar com Harry?


-Bem... Não exatamente. Ele pediu que eu passasse aqui quando estivesse na vizinhança. Estou aqui me consultando com o Conselho de Sentinelas, então pensamos em fazer uma visita.


-Ele disse por que?


-Não, na verdade não.


Hermione suspirou. –Harry não está em condições de ver você no momento. Acho que ele queria sua ajuda. Apesar dele não poder te pedir agora, já que está aqui posso pedir no lugar dele. Por favor, me acompanhe.


Ela e Napoleon guiaram o caminho pelos corredores. –O que aconteceu com o plano do "vamos lá agora mesmo"? – Napoleon sussurrou no ouvido de Hermione.


-Ainda vamos sair. Se Harry achou que eles podem ter alguma informação sobre o Guardião, e estou chutando que era isso que ele ia perguntar, então não devemos ignorar esta possibilidade.




Buffy virou da divisória entre o laboratório e a câmara onde Harry estava. –E há quanto tempo ele está assim?


-Desde a noite passada – Hermione disse, seu olhar atraído para janela como sempre. –E se eu não puder achar algo que reverta isso, ele vai morrer.


-Hum... – Buffy olhava Harry enquanto Spike estava com Sukesh a uma pequena distância, ouvindo os sintomas de Harry. Ouviram a história inteira. Hermione só torcia para que eles tivessem alguma contribuição a dar. Harry deve ter achado que eles tinham, e ela confiava no julgamento dele. Além disso, ele conhecia os dois, ela não.


Spike foi até a janela de observação, colocando uma mão no ombro de Buffy enquanto se aproximava. –Então, sem querer ofender, mas o que isso tem a ver com a gente? – perguntou. –É tudo muito interessante, mas não somos médicos nem bruxos.


-Não, mas são parte do mundo mágico. E Spike, quantos anos você tem?


-128.


-Acho que Harry tinha esperanças que você soubesse alguma coisa sobre... o Guardião. – Spike apenas piscou, mas Hermione teve a nítida impressão que o termo significava alguma coisa pra ele. Buffy olhava atentamente pra ele, aparentemente tendo a mesma impressão.


-O Guardião – ele repetiu.


-Sim. Harry mencionou o Guardião, tanto em seus sonhos quanto sob hipnose. Comecei a acreditar que essa é a chave para a doença dele. Pretendo achar este Guardião.


Spike soltou um risinho sarcástico. –Boa sorte. Pode também ir atrás do coelhinho da páscoa.


-O Guardião é real, sei disso.


-É um maldito mito, isso sim.


-Famosas últimas palavras – Buffy sussurrou. –Qual é! Quantas coisas achamos que eram mitos e vimos que eram reais e que estavam bem irritados porque achamos que eles eram mitos?


Ele suspirou e sentou ao lado dela. –Bem, esse é um que a gente deve rezar que seja um mito.


-Me conte o que sabe – Hermione disse, se inclinando pra frente.


Ele sorriu, um pequeno sorriso triste. –Não sei de nada. Só que você devia tomar cuidado.


-Preciso encontrar o Guardião.


-Você não quer encontrá-lo. Seu poder está além de qualquer coisa que podemos compreender.


Buffy revirou os olhos. –Minha nossa, onde foi que ouvi isso? "Este pode ser o fim do universo" ou "isso é pior do que qualquer coisa que já enfrentamos!".


-Não – ele disse ríspido, olhando duro pra ela. –Não é um demônio, ou um deus, ou um mal mundial. Não é mal. Nem bom. Não é nada além do que realmente é. Sem limites. Um ser do puro infinito.


Hermione piscou, a idéia fazendo um tremor correr dentro dela. –É a única coisa que pode ajudar Harry.


-Se eu fosse você, encontraria outra forma.


-Esta é a única forma. – ela esfregou as têmporas, uma dor de cabeça começando a se infiltrar por elas.


-Sem ofensas, Hermione, mas está se superestimando. Isto é mais do que consegue suportar. Pode ser mais do que qualquer um pode suportar.


-Ficaria surpreso com o que posso agüentar. – ela encarou Spike por um momento. Ele suspirou.


-Certo. Só não diga que eu não avisei. – Hermione concordou. Spike pegou uma prancheta ali perto e começou a escrever nela. –Já viu este símbolo? – segurou o papel pra ela ver.


-Sim, o símbolo do Guardião.


Spike levantou uma sobrancelha e pareceu impressionado. –Bom. Sim, é isso mesmo. Nos anos quarentas eu e Dru estávamos meio fazendo barulho pela Europa depois que nossa gangue antiga tinha se separado, procurando um lugar pra ficar. Nos batemos com um encontro de bruxas malucas nos arredores de Atenas. Elas pareciam divertidas, então resolvemos ficar por lá uma ou duas noites, decidindo se íamos comê-la ou não. Elas estavam num tipo de culto apocalíptico maluco, e diziam que iam começar a servir ao Guardião. – Hermione aguçou os ouvidos. –Bem, quando os vampiros contam histórias de terror, geralmente são sobre a caça-vampiros, mas ainda mais velado que isso, ouvi sussurros sobre o Guardião, como se ninguém se atrevesse a falar mais alto do que num murmúrio. Muito vago, em sua maior parte. Muitos rumores vagos e "conheço um cara que conhecia um cara que sabia de alguém" esse tipo de histórias. Ângelus costumava rir disso e de chamar de bicho-papão. Mas estas bruxas pareciam ter feito várias pesquisas, e diziam poder encontrar o Guardião rastreando este símbolo – ele apontou no papel. –Disseram que é possível encontrar uma forma de entrar em contato com o Guardião se você prestar atenção suficiente ao símbolo.


-E o que isso significa?


-Não sei. Elas não foram muito precisas nos detalhes. Acho que nem elas tinham muita certeza. Ficamos com a impressão que estavam esperando uma voz sonora dos céus pra dizer o que tinham que fazer.


-Sabe, o Conselho de Sentinelas talvez possa ajudar –Buffy disse. –Eles gostam de manter as coisas realmente secretas... bem, em segredo. Meu sentinela ainda está em Londres.


-Podemos falar com ele? – Hermione disse.


-Não vejo porque não. Terei que ir com você. – Hermione ficou olhando pra ela. –O que, agora?


-Sim, agora – ela respondeu. –Harry não vai durar muito mais tempo. Sukesh está lhe dando uma semana.


-São quatro horas de carro.


-Vamos aparatar – Hermione riu com a expressão preocupada de Buffy. –Não se preocupe, é perfeitamente seguro. – ela levantou. –Spike, pode ficar aqui e dizer a Napoleon tudo sobre este culto e sobre o Guardião que pode lembrar? – Spike olhou pra caça-vampiros e depois concordou.


-Claro, sem problema.


-Buffy, venha comigo. Vamos ter que ir até entrada principal para poder aparatar. – ela olhou pra Napoleon. –Voltamos logo.




-Foi aqui que estávamos quando encontramos a reunião das bruxas. – Spike disse, apontando para um grande mapa na parede. Assim que seu dedo o tocou, a imagem se aproximou até que ruas e árvores fossem visíveis. –É, parece que é isso mesmo.


-E essas bruxas disseram que encontraram uma forma de contatar o Guardião?


-É, bem, isso não necessariamente faz com que seja real.


-Mesmo assim, é uma boa pista.


-Isso é tudo o que eu sei – Spike disse suspirando, sentado numa das cadeiras diante da mesa de Napoleon. –Não sei se vai ajudar muito.


-Qualquer ajuda é mais do que temos, acredite. – Napoleon sentou atrás de sua mesa e olhou para o outro homem com um ar de curiosidade. –Pode me dizer uma coisa?


-O quê?


-Você é um vampiro, certo?


-Sim, posso te dizer que sou um vampiro – um sorriso cínico se espalhou em seus lábios pálidos quando ele respondeu.


-Desculpe, é que...


-Não, deixa eu adivinhar. Nunca conheceu um vampiro do bem antes.


-Bem, você costumava ser bem malvado antes. Li sobre isso.


-Sim, William, o sangrento, este sou eu.


-Mas não é mais.


-Não. Não mais.


-O que mudou?


-Muitas coisas. Uns soldadinhos colocaram um chocalho em minha cabeça então eu não podia mais machucar humanos. Foi quando começou. E depois... bem, ela. – ele riu. –Houve um tempo quando a única coisa que eu queria era vê-la morrer, uma morte terrível, lenta e dolorosa. E ela estava tão ansiosa pra me fazer virar pó.


Napoleon assoviou. –Uma caminhada longa de lá pra cá, não é?


-O grande eufemismo do século.


Napoleon queria perguntar como isso aconteceu, mas ele sabia por cima. Apaixonou-se, redescobriu a humanidade perdida, blá blá blá. –Então, como é? – ele perguntou no lugar.


Spike franziu a testa. –Como é o que?


-Ser um vampiro.


Ele pensou por um momento. –Não tenho certeza. Sou um há tanto tempo que mal posso lembrar quando era outra cosia.


-Mas... Como é?


-Tem seus altos e baixos. Do lado positivo, tem a coisa da imortalidade e a coisa da mega-força... Pode ser bem útil, posso dizer. E tem o visual.


-O visual?


-Claro. Uma capa balançando ao vento, o visual de aquele-que-anda-nas-sombras. Nunca me canso disso, na verdade.


-Então esse é o lado positivo.


-Sim. Do lado negativo, tem a coisa da imortalidade de novo... E a cada ano que eu vivo, passa ainda mais pro lado negativo. Não poder sair na luz do dia é bem chato especialmente quando você namora alguém que gosta de dormir à noite. Beber sangue não é tão divertido quanto devia. Além disso, não dá mais pra comer comida italiana por causa do alho. E eu não vejo meu próprio rosto há mais de cem anos.


Napoleon balançou a cabeça, imaginando como ele viveria sem um reflexo. –Como você sabe que seu cabelo está na posição certa.


-Eu meio que sinto como está. – ele suspirou. –Na verdade, é difícil explicar pra um não-vampiro, mas... Quase não consigo lembrar como eu sou. Não sei o formato de meu próprio queixo ou de minhas sobrancelhas, ou de nada mais em meu rosto. – ele riu. –È um tanto liberador na verdade. –ficou sério então, examinando os dedos. –a pior coisa é não saber se vou morrer um dia. Isso parece com ganhar na loteria a princípio, mas não é. Sei que um dia vou ter que vê-la morrer. – ele balançou a cabeça. –Já a vi morrer uma vez e quase me matou. Não sei como vou lidar com isso da próxima vez.




-Você está bem? – Buffy perguntou, tocando o braço de Hermione.


-Hã? – Hermione levantou os olhos de suas anotações, piscando. –Ah, sim. Bem.


-Está meio quieta.


-Tenho muita coisa pra pensar.


-Essa coisa vai ajudar?


-Acho que sim. Preciso falar com Remo. Hã, um amigo da DI.


Estavam andando pela calçada, se afastando do escritório londrino do conselho de sentinelas até que chegaram a um lugar seguro para aparatar. Hermione não estava olhando onde ia, estava com o nariz enfiado nas anotações que fizera durante sua conversa com Sr. Giles, o sentinela de Buffy. –Até onde vamos? – Buffy perguntou.


-Daqui uns quarteirões tem um beco seguro. Vamos aparatar de lá.


Buffy remexeu na alça de sua mochila. –Escute, tem certeza que esta coisa de busca é uma boa idéia?


-Como assim?


-Pelos rumores que ouvi, esse Guardião não é algo com queira mexer.


-Não tenho nenhuma intenção de mexer em nada.


-Sabe o que quis dizer.


Hermione olhou nos olhos da outra mulher por um momento. –Não entendo. – era uma mentira, ela entendia perfeitamente, mas queria saber o que Buffy estava pensando.


-Só estou perguntando se está disposta a arriscar sua vida.


-Não faria isso por alguém que ama?


-Sim. Já fiz dezenas de vezes. Mas este é meu trabalho.


-O meu também.


-Talvez seja uma caçada em vão. O Guardião pode ser apenas um mito, não sabemos.


-Acho que não. E de qualquer forma, é minha única chance.


Buffy sorriu. –Ah, que inferno. Já morri algumas vezes, não é tão ruim.


Hermione riu. –Ninguém fica morto em seu mundo?


-Não, muito não. Meu ex foi mandado para o inferno e voltou. Tenho uma amiga que mora em Los Angeles e mora com este cara meio-demônio e ele já ficou morto por um tempo. Mais do que eu. Ele não parece pior pela experiência.


Hermione fungou. –Bem, se Harry morrer, vai ficar morto. Por isso tenho que fazer isso.


-Espero que as informações que Giles te deu ajudem.


-Sim, acho que vão ajudar.




Remo olhou para o texto aberto na mesa de conferência. –O que diz?


Hermione deu de ombros. –Não tenho certeza, meu Laconiano nobre está um pouco enferrujado. Mas notei com interesse que o símbolo do guardião aparece várias vezes.


-Sim, eu vi. – levantou os olhos pra ela. –Me dê um minuto pra traduzir isso. –Ele sentou com um bloco e começou a trabalhar.


Hermione virou pra Buffy e Spike enquanto Remo trabalhava. –Onde seu sentinela achou este texto?


Buffy sorriu. –Se existe uma verdade curta e grossa sobre sentinelas é que qualquer que seja seu problema, eles têm um livro que fala sobre isso. –olhou para o livro velho e empoeirado que Remo estudava. –Mas se isso for possível, este parece ser ainda mais antigo do que o de costume.


-Olhei o texto no caminho até aqui e apesar de não poder ler todo, tinha algumas palavras que conseguia entender aqui e ali que sugeriam que os autores falavam do símbolo como uma forma de portal.


-Mas onde encontramos este símbolo? – Napoleon perguntou.


-Bem, Remo o viu em vários lugares... Em tábulas, gravados em paredes, esse tipo de coisa. Duvido que todos eles me dirão como encontrar o Guardião. Espero que este texto nos dê respostas mais concretas.


Buffy sentou ao lado de Hermione na longa mesa, olhando com atenção seu rosto. –Você está bem?


-Ficaria bem se todo mundo parasse de me perguntar isso. – Hermione respondeu ríspida. Buffy apenas ficou olhando pra ela. –Desculpe –disse em voz mais baixa.


A caça-vampiros suspirou. –Escute, você está sob muita pressão. Pode tirar um intervalo? Deitar um minuto? Comer alguma coisa ou tomar um café?


Hermione balançou a cabeça que não. –Não posso relaxar até saber que vou poder ajudar Harry.


Buffy balançou a cabeça que sim. –É, eu sei como se sente. – ela olhou pra Spike, -Teve uma vez que eu...


-Ohh! – Remo gritou de repente. Hermione pulou ao ouvir este barulho estranho vindo de seu mentor. Todos ficaram olhando pra ele. Remo se encolheu em sua cadeira, parecendo constrangido. –Quer dizer... Acho que encontrei alguma coisa. Venha aqui olhar. – Hermione levantou e ficou atrás dele. Os outros se aproximaram também, olhando a página que ele indicava. –Aqui, está vendo este símbolo maior do Guardião? – Hermione seguiu o dedo dele. De fato no canto superior esquerdo da página havia um símbolo do Guardião maior e desenhado mais cuidadosamente do que já vira, cercado por caracteres Laconianos. –Isso diz, basicamente, "Procuro teu conhecimento, venho com satisfação".


Hermione assoviou. –Nossa, esta é uma boa pista. Que mais?


Remo leu com cuidado, seu dedo seguindo os caracteres em forma espiral, modo característico da linguagem laconiana. –E continua... "Nuvens de mentes, voz de escuridão, os olhos do sol deveras procura".


-Isso é bonito e vago – Hermione resmungou.


-Os laconianos amavam suas metáforas – Remo disse. –Essas três frases envolvem imagens de elementos bem diferentes de sua teologia... Como se a religião deles não fornecesse ferramentas exatas para descrever sobre o que estão escrevendo. –inclinou a cabeça sobre as páginas novamente e continuou. -"Questão que não pode ser proposta, tua resposta flui como se viesse da grande boca".


-A boca de quem? – Buffy perguntou, confusa.


Hermione balançou a cabeça. –Acho que quer dizer boca como a boca de um rio. Continue, Remo.


-'Tanto teu espaço seja agora um portal, quanto teu sentido a alma interior escute, como também os vazios dos cascos fendidos". -Remo suspirou, seu dedo chegando ao final dos caracteres em espiral. –Isso é tudo.


Napoleon se inclinou sobre as páginas, examinando as letras sob os dedos de Remo. –Você fala em enigmas, Sahib – ele murmurou.


-Teu espaço seja agora um portal. – Hermione repetiu, expirando entre os dentes. –Que espaço? Um portal até o Guardião?


-E esta coisa de cascos fendidos? – Buffy disse. -Como satã?


-Satã não – Spike disse, falando pela primeira vez. –Está falando sobre Lasceaux. – uma pausa. –Lasceaux? – ele virou os olhos. –Ah, peraí, eu sou o único aqui que sabe alguma coisa sobre antropologia?


-Não é não. – Hermione disse. –Lasceaux é uma famosa caverna as França, cheia de pinturas primitivas. Os trouxas a estudam.


-Aí está – Spike disse. –Estes malditos demônios não podem dizer nada simples. Em textos antigos, Lasceaux é frequentemente chamada de caverna de cascos fendidos, ou vale de cascos fendidos, ou qualquer coisa do tipo, por causa...


-Dos animais pintados nas paredes. – Hermione completou.


-Sim. Mas... Não sei do que os Laconianos estão falando. Já estive lá, e tenho certeza que não há nenhum símbolo do Guardião por lá.


Hermione e Remo trocaram um olhar. –Na verdade, talvez tenha – Remo falou. –Parte da caverna está bloqueada e protegida por feitiços mágicos, está assim há centenas de anos. É. ah, droga, isso tudo é confidencial. É parte de nosso trabalho lá, uma das funções originais da DI, mesmo antes dela se chamar assim. Tem um esquadrão que não faz nada além de guardar as cavernas reais, as que estão atrás da famosa caverna estudada por trouxas. É algo que mantemos escondido deles porque existem pinturas bruxas e segredos mágicos lá que eles não devem ver. – ele olhou pra Hermione. –Não sei se tem um símbolo do Guardião lá, mas pode haver. Eu diria que é provável, levando em conta este registro, que data significantemente de antes de nossa proteção das cavernas.


-Temos que ir lá embaixo – Hermione disse a Napoleon. –Se este texto estiver certo, este é o caminho pra encontrarmos o Guardião.


-Não podem ir antes de escurecer – Remo disse. –Vai haver atividade demais no lugar. Vão ter que entrar escondido.


-Não podemos simplesmente ordenar aos guardas que parem e nos permitam entrar?


-Não! Eles não aceitam ordens! Estão fora da hierarquia de comando e tudo o que fazem é guardar aquela caverna e a protegem muito bem! –Remo gaguejou nas palavras chave desta frase, o que acontecia quando seu cérebro estava trabalhando mais rápido que sua língua.


-Não podemos falar com Sirius? Com certeza alguém do escritório do Chanceler...


-Não podemos envolver Sirius nisso, Hermione. O que estamos propondo é ilegal!


-O que está sugerindo? – Hermione perguntou, seus olhos brilhando, as mãos na cintura.


Remo se remexeu, parecendo intensamente desconfortável –Estou sugerindo que você... hã... use sua imaginação.


Napoleon olhou sério pra ele. –Estou ouvindo o que acho que estou ouvindo?


Hermione se inclinou pra baixo. –Está me dizendo para incapacitar o guarda e forçar a entrada?


-Nunca incitaria a violência contra um companheiro agente – Remo disse, sentando reto. –Então... Você não me ouviu dizer isso.


-Claro que não – Hermione começou a andar de um lado para o outro. –Por Merlin, faltam nove horas para escurecer! O que vou fazer, vou ficar maluca de esperar!


-Bem, tem seus preparativos a fazer... – Remo começou.


-Isso não vai levar o dia todo! – continuava andando. –Tenho que deixar um pouco da tensão sair ou então na hora de ir vou estar tão nervosa que não vou servir pra nada. – ela apertou os punhos. –Arghhh... O que preciso é bater em alguma coisa até que fique quase sem vida – ela parou de andar e olhou pra Buffy, um sorriso vagaroso aparecendo em seu rosto. –Algum voluntário?




Napoleon sentou ao lado de Spike num banco contra a parede do ginásio. Buffy e Hermione iam juntas até o centro do ginásio, tirando as roupas de fora no caminho. –Tem certeza que quer fazer isso? – Buffy perguntou quando ficaram de frente.


Hermione ia se equilibrando pra frente e pra trás sobre o peito do pé. –Ah, vamos lá. Vai ser divertido.


-Espancarmos uma a outra? Não pode entrar na caverna toda roxa.


Hermione olhou para o teto. –Feitiços de segurança ativados. – ela disse. Rapidamente, uma luz branca piscou pelo ginásio. –Pronto. Sem machucados. Não vai nem doer. – ela entrelaçou os dedos e os flexionou para frente. Napoleon podia ouvir os nós dos dedos estalando. –Estou curiosa sobre você.


Buffy sorriu e tirou o casaco, revelando uma camiseta por baixo. –Isso não é justo. Tenho superpoderes. Sem ofensas, Hermione, mas não vai durar dez segundos. – ela suspirou. –Mas isso é apenas uma briga amigável, acho que não vai doer levar até um nível mortal.


-Não precisa pegar leve comigo.


-Agora, isso é confiança demais. Não luta nem há um ano ainda. Só vou diminuir a força de caça-vampiros um pouco, certo? Realmente não seria certo eu lutar com você de outra forma.


Hermione pensou por um minuto. –Certo.


Buffy colocou as mãos na cintura. –Soube que você quebrou a perna de Harry pra passar em seus testes.


Hermione parou de se movimentar. –Quem te disse isso?


-O próprio Harry.


Ela suspirou. –Ele parecia com raiva?


-Nem um pouco. Parecia orgulhoso.


Hermione sorriu. –Que bom. Tenho orgulho de mim. Mas este é um teste mais difícil. Quero ver se passo nesse.


Spike se inclinou e falou baixo no pé de ouvido de Napoleon. –Essa garota é bem durona.


Napoleon riu. –Ela é uma masoquista, isso sim. Fica tentando passar dos próprios limites, lutando contra adversários cada vez mais habilidosos. Ela nem precisa de todo treino físico pra divisão dela, fez mais carga horária por opção.


Spike não disse nada por um momento, apenas se esticou e manteve o olhar à sua frente. Napoleon ficou olhando as duas mulheres se aquecendo. –Dez libras em Buffy – Spike finalmente sussurrou.


Napoleon sorriu. –Tô dentro.


Os dois homens ficaram olhando enquanto Hermione e Buffy apertavam as mãos e começavam. Os olhos de Napoleon se arregalaram quando ele viu a caça-vampiros. Ela era a encarnação viva da violência. Fluía como água, batia como um trovão e era rápida demais pra seus olhos seguirem. Acho que perdi dez libras, pensou consigo mesmo. Hermione é boa, mas nunca vai vencê-la. Ele fez uma careta quando Buffy acertou um chute no queixo de Hermione. –Ahh, isso vai deixar uma marca – ele murmurou.


-Essa é minha garota – Spike disse, seus olhos fixos em sua noiva. Ele deu um pequeno pulo quando Hermione se aproveitou da pausa e acertou um murro no queixo de Buffy.


Napoleon balançou a cabeça. –Isso não é justo – e não podia ser menos justo. Buffy vinha lutando desde os 15 anos e foi presenteada com poderes naturais. Tudo que Hermione tinha era oito meses de treinamento. Bom treinamento, é verdade, mas ficava pra trás na comparação.


Spike deu de ombros. –É, bem, e eu não posso ir passar férias na praia. As coisas são difíceis para todos.


Ficaram em silêncio por um tempo. Napoleon sorriu quando Hermione conseguiu segurá-la. Perguntou-se quanto Buffy estava pegando leve, mas decidiu que não importava. Ela ainda seria uma ótima adversária, não importando o quanto estivesse indo com cautela. O rosto de Hermione estava retorcido numa careta medonha. Ele se maravilhou com quanto ela estava com vontade de tirar tempo da preparação deles pra essa luta, mas fazia sentido. Já que não iam poder partir pra Lasceaux até que escurecesse, iam de qualquer modo ficar sentados olhando um pro outro... E ele podia entender a necessidade de liberar um pouco da tensão com a boa e velha porrada. Sentiu seu pulso mais forte com a visão à sua frente... Duas mulheres brigando, sem restrições. Ele se inclinou pra frente e sussurrou para Spike. –Diga... Isso está te excitando de alguma forma?


Spike se remexeu um pouco. –Por Deus, sim – ele sorriu. –Você?


-Acho que poderia enfiar um prego num pedaço de madeira agora.


Spike se dobrou, rindo.-Maldição, essa foi boa. – ele conseguiu dizer. –Obrigado por compartilhar isso comigo.


-Sem problema.


Buffy fez uma coisa com várias cambalhotas. A intenção era claramente acertar Hermione bem no meio da cara quando o pé se aproximasse girando, mas Hermione antecipou o movimento e segurou a perna de Buffy já perto do quadril e a jogou no chão. –Boa – Spike murmurou. –Estou impressionado. Ela me acertou com esse chute daí mais de uma vez. – ele balançou a cabeça. –Como ela ficou tão boa assim em lutas num tempo tão curto? Pelo que soube, ela era um tipo de super-cdf, não muito do tipo físico.


-É verdade. Por isso ela ficou tão boa assim. Ela não apenas sua no ginásio. Ela lê livros. Centenas deles. Livros sobre técnicas de luta, técnicas de defesa, diga qualquer um, ela já leu.


Napoleon fez uma careta quando Hermione levou um chute e saiu escorregando pelo chão. –Ah, cara – ele ouviu ela falando quando ficou de pé. –Acho que essa é a definição do dicionário de "levar uma bela porrada".


-Hei, a maioria não duraria nem dois minutos – Buffy disse, sem nenhum traço de arrogância na voz. Estava apenas relatando um fato. –Você tem jeito pra coisa.


Hermione esfregou o braço onde tinha batido no chão. –Você tem que enfrentar Harry um dia desses. Essa pode ser uma luta de iguais. Ele tem uns superpoderes também.


-Você também.


-Só com minha varinha, que eu convenientemente deixei no meu armário. – ela se aproximou da caça-vampiros no meio do ginásio. –Um bom "estupefaça" teria sido útil agora... mas acho que vou ter que fazer o melhor que puder sem um – ela disse, e então gritou e acertou um soco no rosto de Buffy. A luta amigável continuou.


Depois de mais alguns minutos Hermione finalmente admitiu derrota, apesar dela já estar lutando contra isso há um tempo. Levantou novamente do chão do ginásio depois de ter sido outra vez lançada para o outro lado do cômodo como um lenço usado e levantou a mão. –Certo, certo – ela disse, ofegando. –Me rendo à melhor lutadora.


Buffy sorriu, sem nem mesmo estar ofegando. –Melhor não, só mais forte e mais experiente. E hei, você foi muito bem! É mais do que igual pra qualquer um que não seja caça-vampiros.


-Obrigada – Hermione disse, limpando o suor da testa.


Buffy passou um braço por cima do ombro dela enquanto saiam do tablado. –Vamos lá, o que diz de eu te pagar uma bebida?


-É uma hora da tarde.


-Bem, não estou sugerindo que a gente fique bêbada. Um suco de laranja parece bom?


Hermione sorriu. –Perfeito.




Buffy estava sentada de frente para a janela de observação e olhou para cela de Harry. Daqui uma hora, Hermione e Napoleon estariam partindo, e ela e Spike voltariam a Londres, para suas vidas. Algumas horas antes, Harry ficara bastante agitado e Sukesh o sedou. Ele agora estava deitado de costas, amarrado fortemente em uma mesa de exames. Hermione estava sentada a seu lado e segurando sua mão, já que era seguro ela fazer isso enquanto ele estava inconsciente.


Nas últimas sete horas desde que a conhecera, Buffy começou a saber um pouco mais sobre Hermione, e quanto mais a conhecia, mais ficava impressionada. A primeira impressão era que ela era uma mulher comum, que ficava mais confortável perto de livros do que de pessoas... Mas isso não era verdade. Apesar de seus traços serem normais e sem nada que chamasse atenção, Buffy via a qualidade que fizera pelo menos dois homens se apaixonarem por esta mulher. A beleza dela não vinha de seu rosto, que era agradável, mas tinha apenas um pouco de beleza, mas de sua personalidade. Era sua inteligência sagaz que brilhava em seus olhos, sua expressão animada, seu sorriso fácil e algo diferente em seus lábios que entregavam sua natureza impulsiva.


-Parece séria – veio uma voz familiar por cima de seu ombro. Spike puxou um banco pro lado dela. –O que está fazendo?


Ela esticou o braço e segurou a mão dele. –Apenas observando.


Ele seguiu o olhar dela até onde Hermione estava no interior da cela. –Não sei o que pensar dela – ele disse.


-Gosto dela. Ela me lembra Will. Mas é diferente. – Buffy balançou a cabeça. –Não é certo ela ter que passar por isso tudo.


-Ela parece estar suportando bem.


-Olhe pro rosto dela.


-O que tem?


-Conheço essa expressão. Ela está pensando em sua missão, e em todas coisas que podem dar errado e ela está pensando nos materiais que vai levar e na melhor maneira de entrar na caverna e os feitiços que vai precisar. Mas por baixo disso tudo, ela está realmente pensando é que se ela apenas o amar o suficiente tudo vai magicamente dar certo. –olhou pra Spike, que a encarava intensamente. –Estive onde ela está. Eu sei.


-É – ele sussurrou, sem precisar adicionar que também já estivera ali. Ele apertou a mão dela. –Quer sair daqui?


-Ainda não. Vamos esperar que partam, certo?


-Certo.




Hermione se deu ao luxo de um pouco de escapismo e tirou todos os pensamentos da missão em sua mente, onde eles estavam armando acampamento e estavam ocupados fazendo uma fogueira e pegando marshmallows. Ela não queria mais pensar sobre isso, queria apenas ficar sentado ali com ele.


Ela trouxe a mão dele até o peito e a segurou ali, seus olhos nunca se desviando de seu rosto, e passou a outra pelo braço dele. A pele dele parecia úmida e fria, gotas de suor se acumulavam na testa dele. O rosto parecia em paz, entretanto, e ela quase podia acreditar que ele estava dormindo. Logo acordaria e diria o nome dela e o veria sorrir novamente.


Lágrimas apareceram nos olhos dela, lágrimas que ela implacavelmente evitou durante todo o dia. Ela deixou que viessem pra chorar bem por uma última vez antes de ter que se recompor e executar esta missão como profissional. Ela colocou uma mão sobre a testa dele, a imagem dele dobrando e depois tremendo diante dos olhos dela. –Ah, Harry –sussurrou. –Isto não está certo, apenas não está certo –se inclinou mais pra perto. –Você está aí? Pode me ouvir – passou uma mão nos olhos. –Ah, esqueça. Não importa. É só que... Não é justo! Te perco durante dois meses, você volta e é como um milagre e agora isso... Quando vai acabar? Um dia teremos paz? – ela suspirou e se encolheu na cadeira, ainda segurando a mão dele bem forte. –E agora estou com tanto medo de te perder pra sempre e tudo que posso pensar é em todos aqueles anos. Horace, Rufus, Abel, Geraldo... Pra que isso? Como posso ter ficado com alguém além de você? Tanto tempo perdido... – ela engasgou um soluço rouco.


A porta da cela se abriu e Sukesh entrou, seguido por Napoleon e Sirius. A cela ficou um pouco amontoada depois que todos entraram. Sukesh sentou ao lado dela. –Tudo certo. Posso acordá-lo e mantê-lo calmo por um curto período. Provavelmente dez minutos no máximo. Só o tempo suficiente pra você dizer o que vai fazer e dar tchau. Certo?


Ela concordou. –Isso vai machucá-lo?


-Não, acho que não. Não recomendaria fazer isso mais de uma vez.


-Vá em frente.


Sukesh ficou de pé ao lado da mesa e pegou sua varinha e um livro, que Remo segurou pra ele. Ele disse o feitiço sobre Harry, o brilho vermelho de sua varinha pousando sobre o rosto de Harry e depois desaparecendo. –Espere só um minuto.


Hermione segurou a mão de Harry, observando o rosto dele com atenção. Depois de um longo momento Harry começou a se mexer. Suas pálpebras contraíram e depois se abriram. –Hermione? – ele murmurou.


-Estou bem aqui, Harry.


Ele virou a cabeça em direção do som da voz dela, olhando em volta. –Onde estou?


-Está no Confinamento. – Sirius disse. –Se lembra do que aconteceu?


-Sim – ele olhou pra todos a seu redor, sorrindo um pouco. –E você estava lá, e você e você...


Hermione riu um pouco alto demais, aliviada em ouvir a voz dele. –Vejo que ainda tem seu senso de humor inapropriado.


Ele virou pra ela, ficando sério. –O que está acontecendo?


Ela se aproximou. –Sukesh usou um feitiço pra te acalmar, só por uns minutos, pra que eu pudesse falar com você. – ela hesitou. –Harry, eu vou partir agora. Vou achar uma forma de te curar.


Uma expressão de alarme passou pelos olhos dele, mas sumiu rapidamente. –Ah – ele piscou. –Outra pessoa não pode ir?


Ela sorriu e colocou uma mão na testa dele. –Vou encontrar o Guardião, e o que quer que seja, vou fazer com que te ajude.


Ele a encarou por um longo momento. –Depressa – pediu rouco.


-Muito ruim?


Ele balançou a cabeça que sim. –Está escuro aqui... E frio, e ele é forte. Não sei... –parou, olhando pra baixo. De repente, levantou a cabeça e olhou pra ela. –Pode... hã... pode me fazer um favor?


-Qualquer coisa.


Ele deu um pequeno sorriso. –Casa comigo?


Ela sorriu em resposta. –Já respondi essa pergunta, não lembra?


-Não. Agora. – ele olhou pro rosto dela, seu olhar intenso, e sem sorrir mais. –Por favor.


Hermione olhou de volta, franzindo a testa. –Do que está falando?


-Case comigo agora. Antes de ir. – a mão dele, com o movimento limitado pelas amarras, se esticou para segurar a maga da camisa dela. –Argo pode fazer isso. Ela tem o poder.


-Harry, por que? O que quer dizer?


-Não... Posso agüentar muito mais. Ele fica mais forte, eu fico mais fraco. Você vai embora.. Quando voltar... Será tarde demais. – Hermione estava balançando a cabeça, chocada -Por favor – ele murmurou. –Eu preciso me preparar para... –limpou a garganta. –Vou morrer logo. Só queria estar casado com você quando... – ele não completou.


Hermione levou algum tempo pra reunir as palavras. Napoleon tinha desviado o olhar, Sirius cobria os olhos com uma mão e Sukesh parecia que ia chorar a qualquer momento. –Harry, eu... eu não sei o que dizer. – ela abaixou a cabeça até o ombro dele, depois se endireitou e o beijou gentilmente nos lábios.


-Aceita, então? –ele perguntou.


Ela sorriu. –Absolutamente não.


Ele arregalou os olhos. –O que... Por que não?


Ela levantou e se inclinou sobre ele, segurando as duas mãos dele entre as suas. –Agora, me escute e me escute com atenção. Você não vai morrer, entendeu isso? Não agora, não assim. Você vai viver, e eu vou me casar com você em novembro como planejamos.


-Mas, eu...


-Não, eu não aceito. Não desista, não se atreva. Você agüente aí até eu voltar. Não me importa quanto fique difícil ou o quanto sinta dor, você continue lutando, me ouviu? –estava quase gritando com ele agora, mas não podia se segurar. –Não vou dizer adeus e e isto seria um adeus. Então esqueça. Você não vai morrer, por que eu não vou deixar. Certo?


Ele apenas olhou pra ela durante um tempo. –Minha heroína – finalmente sussurrou.


Ela riu um pouco, fungando. –Certo. Que bom que resolvemos isso. –acariciou o rosto dele com um toque gentil. –Não sei quanto tempo ficarei longe. Napoleon vai comigo.


Harry olhou pra seu vice e depois pra ela. –Cuide dele então. Só não o beije de novo, certo?


Ela riu.-Certo, não vou. – ela olhou pr ele, as lágrimas dela escorrendo sobre a superfície da mesa na qual ele estava deitado. Ela esticou a mão e soltou as amarras em volta dos pulsos e do pescoço dele, libertando-o da cintura pra cima. Com a ajuda dela ele sentou com as pernas ainda presas à mesa. Ela segurou as mãos dele; que olhou pros dedos enlaçados deles como se de repente tivesse medo de olhá-la nos olhos. –Hei – ela sussurrou, colocando um dedo sob o queixo dele e a inclinando pra cima. A expressão dele estava tão nua, tão ansiosa, como se a luta dele tivesse derrubado todas suas defesas emocionais. Enquanto ela olhava, os olhos dele se encheram de lágrimas.


-Eu... – ele começou e então teve que dar uma pausa antes de continuar. –Estou com medo, Hermione. –desviou os olhos quando disse isso.


Ela balançou a cabeça concordando. –Eu também. – ela soltou os dedos dele e colocou as mãos em sua cabeça, se inclinando pra frente e pressionando a testa contra a dele. Ela podia sentir a respiração dele em seu rosto e as mãos dele segurando seus braços. –Mas hei, já passamos por situações piores que essa.


Ela sentiu o sorriso triste dele. –Cite uma – disse.


-Certo, você me pegou – ela recuou, esticando a mão pra tirar uma mecha da testa dele.


-É melhor você ir antes de eu me tornar o cara mal de novo – ele sussurrou.


-É – ela sabia que ele estava certo, mas estava com dificuldade dar as costas pra ele e sair, pelo menos enquanto a vozinha na cabeça dela sussurrava que talvez nunca mais o visse com vida. Ela o olhou nos olhos, tão familiares pra ela e ao mesmo tempo estranhos o suficiente pra que se preocupasse em se lembrar como eles eram. –Eu te amo –disse, dando uma ênfase deliberada a cada palavra.-Sempre te amei.


O sorriso de resposta foi a primeira expressão genuína que ela vira no rosto dele desde que Sukesh o acordara. –Eu te amo também, Hermione – o sorriso dele se desfez. –No momento, é tudo o que eu tenho.


-Eu vou agora, certo?


-Certo. – Hermione balançou a cabeça que sim e recuou, virando. Ela deu outro passo e então parou. Ela podia sentir o olhar dele em suas costas, a olhando ir... Mas ela não podia partir assim.


Ela virou e voltou correndo até a mesa, as mãos esticadas, lágrimas a cegando enquanto Harry a puxava pra ele. Ela já o estava beijando antes de saber o que estava acontecendo, as mãos segurando os cabelos dela. Ela viu com de canto de olho os outros virando pra dar privacidade, mas ela não ia ligar se qualquer um parasse pra prestar atenção. Sabia que não tinham tempo, que tinha que se apressar, que ele não tinha tempo pra ser ele mesmo, e a incessante vozinha que dizia que esse poderia ser o último beijo deles não ajudava. Os beijos deles tinham um ar desesperado, uma necessidade urgente por esse último momento de intimidade antes de se separarem, talvez para sempre. Os lábios dele ainda tinham gosto do café de ontem, de antes dele perder o controle... Meu Deus, foi só ontem? Parecia que mil anos tinham se passado desde então. Esse dia tinha se esticado para o infinito desde que ela chegara ao Confinamento esta manhã.


Finalmente, quando ela não podia mais adiar, se afastou dele, mantendo o rosto dela desviado, e saiu. Ela ouviu os outros a seguindo, exceto por Sukesh que ficou pra atender Harry.


Hermione não parou de andar até que chegou até sua sala, onde ficou por alguns segundos respirando. Ela virou pra encarar Napoleon e os outros. –Certo. Estou bem. –expirou entre os dentes. –Napoleon, vamos pegar nossas coisas e sair daqui antes que eu perca a coragem – ele balançou a cabeça que sim e saiu pra pegar as mochilas.


Buffy saiu detrás de Sirius. –Vamos embora agora, Hermione. Só queria ficar tempo suficiente pra te desejar boa sorte.


Hermione apertou a mão dela com um calor genuíno. –Muito obrigada por toda sua ajuda, Buffy. Não vou esquecer. Tenham uma boa viagem pra casa. –virou pra pegar o casaco, olhando os bolsos de sua capa de viagem. Buffy e Spike saíram sem estardalhaço, deixando apenas Hermione e Sirius.


Hermione levantou as mãos a cabeça e começou a prender os cabelos numa trança apertada, e cheia, os dedos revirando habilmente as pontas. –Hermione... – Sirius começou.


-Não diga – ela disse curta. Ela não precisava ouvir outro discurso dizendo pra tomar cuidado.


-Só ia agradecer por ajudá-lo – ele fez uma careta de frustração. –Devia ser eu indo.


-Há! – ela disse. –você tem coisa demais pra fazer, Sirius, com essa coisa de ter que cuidar de todo mundo. – ela virou do espelho para encará-lo. –E você não precisa me agradecer. Sabe que não posso ficar aqui sem fazer nada enquanto ele sofre. Você poderia?


Sirius balançou a cabeça que não, olhando pra ela com uma expressão estranha. De repente, avançou e a puxou num abraço apertado. –Boa sorte –disse em seu ouvido, depois virou e saiu na hora que Napoleon voltou com as mochilas.


Hermione colocou a capa. –Certo, vamos cair na estrada.




-Como vamos fazer isso?


-Hãa... Bem silencioso.


Hermione lançou um olhar pra Napoleon, que passou despercebido por ele, já que estavam amontoados numa escuridão sem fim. Estavam agachados atrás de uma plataforma acima de Lasceaux. O lugar era iluminado por grandes refletores. Estavam esperando há uns dez minutos enquanto os antropólogos e administradores saíam. O lugar agora parecia deserto, mas nunca era boa idéia presumir coisas.


Hermione se aproximou mais um pouco de Napoleon. Os dois usavam roupas justas e pretas que cobriam tudo até o pescoço, incluindo as mãos. Usavam gorros de lã pretos sobre os cabelos e carregavam as varinhas em bolsos estreitos costurados na parte de fora da coxa da roupa. Cada centímetro dos dois parecia de um espião. Hermione sussurrou bem baixo. –A parte da caverna que nos interessa é lá atrás, segura e escondida, então depois que entrarmos não precisamos nos preocupar em sermos descobertos. Isso é bom. Só há uma entrada, pela frente e é um túnel sem saída... Sem rotas alternativas. Isso não é tão bom. – ela hesitou. –Vejo algumas opções. Podemos esperar até ter certeza que ninguém esteja por perto e depois entrarmos. Ou podemos usar a capa da invisibilidade de Harry pra entrarmos escondidos.


-Ah, estou gostando da idéia.


-É, mas isso não vai nos ajudar depois que entrarmos. Remo me alertou sobre os feitiços mágicos guardando a caverna, se tentarmos atravessá-los vamos ser descobertos num piscar de olhos. Há pelo menos três guardas, altamente treinados e muito entusiasmados. A capa vai pelo menos nos dar a vantagem da surpresa, mas teremos que ser rápidos e incapacitá-los imediatamente, com sorte, antes de eles saberem o que aconteceu.


-Como passamos pelos feitiços depois de entrarmos?


Hermione procurou em sua mochila e tirou um frasco cheio de um líquido viscoso marrom. –Você vai se transformar em um dos guardas com essa poção polissuco. Os feitiços estão armados pra deixar os guardas passarem. Depois que entrar, pode destruir o talismã que reproduz o feitiço e então poderei entrar.


-E quanto ao rodízio dos guardas? Qual a possibilidade de alguém entrar pra pegar o turno e nos encontrar com a boca na botija?


Hermione mordeu o lábio, pensando e depois balançou a cabeça. –Não sei. Não temos como saber que horas os guardas entram no serviço. Acho que vamos ter que arriscar e trabalhar rápido.


-E depois que tudo for de acordo com o plano, vamos procurar o que exatamente?


-Vou saber quando ver – eles levantaram e Hermione passou o braço com firmeza pelo de Napoleon e depois passou a capa pelos dois.


Passar pela entrada da caverna sem se entregar acabou sendo mais difícil do que parecia. Tinham que manter o passo ou então um deles tropeçaria e puxaria a capa. O lado inclinado era pedregoso e cheio de coisas que podiam facilmente rolar e entregar a localização deles. Eles andaram com cuidado até a entrada, se segurando um no outro enquanto seguravam a capa em volta deles.


Finalmente chegaram até uma área relativamente plana da caverna, nivelada por anos de passos. Andaram mais confortavelmente até a entrada. Todo o cuidado que tiveram agora parecia tolo, ainda não havia ninguém por perto.


A parte pública da caverna era protegida por uma cerca que mantinha os expectadores longe da parede da caverna. Eles cuidadosamente passaram pela barreira que os separava do resto da caverna quando ela se curvava para o lado da montanha.


Eles viraram a curva e pararam. –Que fantástico – Napoleon sibilou. Diretamente na frente deles estava uma parede sem nada, aparentemente o fim da caverna. –E agora o que?


-Shh – ela sussurrou. –Provavelmente é falso, como passar pela parede da King's Cross para plataforma nove e meio.


-Parece sólida o suficiente pra mim.


-Claro que parece.


-Certo, mas se eu quebrar o nariz vou registrar como acidente de trabalho – Hermione segurou com força a mão de Napoleon, se preparando, quando começaram a avançar em direção à parede. O instinto de parar era muito forte, mas ela resistiu... E de repente eles estavam no outro lado. Ela podia sentir que Napoleon ia falar alguma coisa e colocou a mão na boca dele, apontando com a cabeça pra frente deles.


Uns vinte metros à frente deles, dois guardas com uniformes da DI estavam de pé e atentos em cada lado da caverna. Ela não podia ver uma barreira, mas sabia que devia existir. Atrás deles, a caverna fazia uma curva pra direita e desaparecia. Um terceiro guarda estava logo na frente deles, sentado em um banco alto e perto da parede. Hermione olhou pra eles, imaginando como suas vidas deviam ser tediosas... Afinal, ninguém nunca vinha até aqui.


Ela e Napoleon trocaram um olhar e então seguiram como um só, devagar e com cuidado para não fazer nenhum barulho. Emparelharam com o guarda sentado no banco. Hermione pressionou três dedos no braço de Napoleon, depois dois e depois um. No "um" ela apontou a varinha para o guarda. –Estupefaça! – a maldição o acertou no peito e ele escorregou do banco caindo no chão.


Eles jogaram a capa quando os outros dois guardas avançaram. Hermione mal teve tempo de registrar a rapidez com que reagiram, como se estes eventos repentinos não os deixado nenhum pouco surpresos. Num segundo os guardas estavam a postos e no outro estavam em cima deles.


Hermione de algum modo atraiu o mais alto dos dois. Ela desviou do punho dele, mas ele antecipou o movimento e acertou a outra mão na barriga dela. Ela engoliu a dor e a vontade de se curvar e jogou a dignidade pela janela. Ela avançou e lançou o joelho na direção do das partes baixas do rapaz. Ele caiu sobre um joelho. Hermione se preparou pra acertar um chute, mas ele de repente a segurou pelas canelas. Ela perdeu o equilíbrio e caiu por cima dele. Ela sentiu uma dor fina na coxa e depois um nauseante fluxo quente e soube que ele a tinha certado com algum tipo de lâmina.


Ela se perguntou porque o oponente dela não estava tentando estuporá-la... Mas ele não parecia estar com uma varinha. Uma luz se acendeu em sua mente. –Napoleon! – ela gritou, chutando o guarda na cara quando se re-equilibrou de pé. Suas pernas pareciam dormentes e sem firmeza. –Não use sua varinha!


Ele já ia fazer isso, mas apenas socou seu adversário. –Por que não?


-Os feitiços! Estamos muito perto! – ela não precisava falar mais nada. Napoleon guardou a varinha. O guarda de Hermione avançou novamente, mas ele ainda estava cambaleante pelo golpe na cara e ela desviou com facilidade. Quando ele cambaleou pra frente, ela aplicou um chute bem dado no queixo dele, que caiu como uma pedra. Hermione se sentou no chão, toda a perna de sua roupa molhada de sangue. Ela se arrastou para apoiar contra a parede de pedra e olhou Napoleon derrubar o guarda com um soco forte que assoviou quando passou pelo ar. Com os dois guardas temporariamente inutilizados, ele os estupurou de uma curta distância, onde não havia o risco dele errar e acertar os feitiços da caverna. –Certo, pronto e pronto – ele disse, guardando a varinha no bolso. –Isso não foi tão... – ele parou de vez, na hora que viu Hermione sentada com as mãos sobre uma perna, sangue escorrendo sobre a terra embaixo dela. –Ah, Deus – ele engasgou. Correu até ela, escorregando de joelhos a seu lado. –Está machucada.


-Não é tão ruim – ela disse entre os dente cerrados.


-O inferno que não é – Napoleon disse, o rosto pálido. Ele rasgou o pano da perna do uniforme dela, tirando de cima do corte. A dor atravessou a perna dela novamente e ela jogou a cabeça pra trás, contra a parede de pedra, abafando um grito. –Desculpe – ele sussurrou. Ela olhou pra baixo, com medo do que poderia ver. O guarda tinha aberto um grande corte na coxa dela, parecia ter pouco mais de um centímetro de profundidade. –Não é muito fundo, mas está sangrando muito – Napoleon disse. Levantou os olhos pra ela. Se Hermione alguma hora duvidara do que ele sentia por ela, o olhar no rosto dele neste momento tiraria qualquer dúvida.


-Pode consertar isso? – ela conseguiu dizer.


O olhar de alarme dele aumentou. –Meus feitiços médicos estão um pouco enferrujados... Não pode fazer isso?


Ela balançou a cabeça que não. –Está doendo muito, não posso me concentrar. – ela o olhou nos olhos. –Você pode fazer isso. Você sabe os feitiços, não esqueceu.


Ele olhou pra ela por um minuto, depois bateu com o punho fechado contra a própria coxa. –Droga, queria ter trazido minha mochila... Compêndio de feitiços – ele puxou a varinha. –Certo, certo, certo. – ele resmungava pra si mesmo.


Hermione segurou a mão dele com força, possivelmente com força suficiente pra machucar, mas ele não disse nada. Ela procurou em sua própria mente distraída as palavras certas pra poder ajudá-lo. –Succinibus...


-Certo! É isso. Succinibus reparomnivit striatum! – uma luz laranja claro saiu da ponta de sua varinha e pousou sobre o longo corte na perna de Hermione. Quase imediatamente a dor diminuiu um pouco.


-Ah – ela respirou.


-Melhor? – Napoleon perguntou ansioso.


Ela fez que sim. –Vai... levar um minuto pra terminar.


Ele sentou ao lado dela e Hermione se apoiou contra ele, agradecida. Ele hesitou um momento e depois colocou o braço em volta do ombro dela. Hermione apertou a mão dele enquanto a magia fazia efeito em sua perna, feliz de ter um amigo a seu lado.




-Lumus – ela disse. A ponta de sua varinha brilhou, iluminando a caverna além dos feitiços. O resto do plano correra sem incidentes. Napoleon pegou um cabelo do guarda e se transformou nele rapidamente. Os feitiços deixaram que ele passasse e ele destruiu o talismã que os gerava. Os guardas continuavam dormindo. Hermione se sentia um pouco culpada por bater em agentes que trabalhavam pra mesma pessoa que ela, mas isso não podia ser evitado.


Quando Napoleon voltou a ser ele mesmo, a perna dela estava completamente curada, embora um pouco trêmula. Eles checaram os guardas e seguiram em frente. A caverna depois dos feitiços de guarda se alargava e o teto subia, de modo que a varinha de Hermione mal podia iluminar tudo. Eles andaram vagarosamente pra frente, olhando as paredes.


Quando chegou, a princípio Hermione não tinha certeza do que estava vendo. –Napoleon – ela disse. –Olhe. – ele virou e seguiu o olhar dela. Havia um desvio da caverna principal, parecendo um beco-sem-saída. Era profundo, a varinha só iluminava os primeiros metros da parede... Mas a parte que eles podiam ver estava coberta de desenhos. Eles mal podiam ver todos, pois a atenção deles foi atraída pra um grande símbolo do Guardião bem no centro de tudo. –Eureka – ela murmurou, se aproximando e tirando alguns pedaços de pergaminho do bolso detrás.


-Demais– foi o único comentário de Napoleon.


Hermione mal o ouviu. Os desenhos em volta do símbolo chamaram sua atenção. Se ela ia encontrar uma forma de entrar em contato com Guardião, suspeitava que ia ser aqui. –Olhe – ela disse. –Esse grupamento parece uma constelação.


-Talvez o portal esteja num relógio estelar. Acessível durante uma certa configuração do céu.


-Isso é possível. – ela seguiu a progressão dos desenhos ao redor do grande símbolo no meio, seu coração afundando. –Ah, maldição - ela murmurou.


-O que?


-Bem, olhe pra isso! Vai levar um tempo pra decifrar tudo isso! – ela balançou a cabeça e deu um soco na parede da caverna. –Droga, não temos esse tempo todo. Não posso sentar aqui durante dias e descobrir o que isso tudo significa!


-Não vai precisar.


Napoleon e Hermione pularam, Hermione dando um constrangedor gritinho, do tipo bem não-agente. A nova voz tinha vindo forte e alta do fundo da caverna. –Mas que merda – Napoleon murmurou. –Acho que acabei de engolir minha própria língua.


-Quem está aí? – Hermione gritou, sua voz um pouco mais aguda que o normal. Os dois olharam para escuridão onde a varinha de Hermione não alcançava. –Identifique-se!


Uma pequena chama apareceu na escuridão... Um isqueiro, Hermione percebeu. Ela pode ver o contorno de um rosto e o brilho laranja do cigarro da pessoa que falou e então a luz sumiu. Hermione apertou os olhos pra ver no escuro... A voz pareceu familiar, mas ela não conseguiu reconhecer.


Passos se aproximaram deles... Duas pessoas. Uma vaga silhueta apareceu na borda do círculo de luz e então entrou na parte iluminada. O queixo de Hermione caiu e o braço que segurava a varinha desceu.


-Terk? – ela disse, incrédula.


Terk deu um sorriso torto com seu jeito sarcástico e depois derrubou as cinzas na ponta do cigarro. –Você demorou pra chegar até aqui.




Hermione sentou no banco escondido no fundo do bar onde ela e Napoleon estavam. Napoleon pendurou a capa dela e sentou a seu lado. Terk colocou uma jarra de cerveja na mesa e ela e Tax sentaram do outro lado.


-Então que inferno é...


-Terk levantou a mão pra interromper as palavras de Hermione. –Pra ter esta conversa todos nós com certeza vamos precisar de cerveja – ela serviu quatro copos. Hermione tomou um gole, com sede e suada depois da excursão à caverna. A cerveja parecia um néctar dos deuses.


-Certo – Hermione disse, colocando o copo na mesa. –Como vocês dois entraram naquela caverna?


Os Hainsley trocaram um olhar. –Você sabe como – Tax disse, sua voz grossa ainda estranha aos ouvidos de Hermione. Geralmente era Terk quem falava.


Hermione parou, olhando os rostos deles. –O Guardião.


-Sim – Terk disse.


Napoleon olhava intensamente pra sua ex-esposa. –Então você não é trouxa?


Eles trocaram outro olhar se divertindo. –Claro que somos trouxas – ela disse. –Você acha que eu poderia ter escondido poderes mágicos todos estes anos?


-Mas... como...


Terk revirou os olhos. –Vocês bruxos são tão egocêntricos. Tudo tem que ser sobre vocês. O Guardião não faz distinção.


-Quem é o Guardião? – Hermione perguntou, as mãos apertando o copo de cerveja. –O que é? Onde posso encontrá-lo?


-Mais devagar – Terk disse.


-Apenas me diga quem é! – outro daqueles olhares telepáticos entre os gêmeos. Hermione seguiu o olhar de Terk até o rosto de seu irmão. –Vocês não sabem, não é?


-Deixe eu começar do começo – Terk disse. Ela respirou fundo e entrelaçou as mãos sobre a mesa. –Tax e eu somos apenas dois membros de uma vasa rede de ajudantes do Guardião. – ela olhou para Napoleon. –Fomos recrutados dois anos atrás, depois de nosso divórcio. – Napoleon relaxou um pouco. –Não sabemos quem são os outros ou quantos são ou o quê fazem. Recebemos nossas ordens de um contato, outra pessoa que nunca vimos.


-Quem é seu contato?


-O nome dele é North, achamos que ele tem uma ligação mais direta até o Guardião, mas não temos certeza disso.


Hermione balançava a cabeça. –Sistema inteligente. Vocês não têm nenhum conhecimento direto que posso colocá-los em risco, ou a eles.


-Exatamente – Terk hesitou. –Muitas vezes me perguntei sobre o Guardião. É uma pessoa? Algum tipo de entidade? Uma força da natureza? Não entendo. Mas sei que quando nossas ordens chegam, o trabalho que nos pedem é mais que justificável. – ela olhou para Hermione. –Ordens como ir para DI e me aproximar de você e Harry.


O queixo de Hermione caiu e ela teria deixado o copo cair se não o estivesse segurando com tanta força. –O que? Vocês receberam ordens pra isso?


-Sim. As instruções eram muito vagas, mas quando Harry ficou doente, as coisas começaram a entrar em foco.


Hermione bateu a mão na mesa. –Sabia! O Guardião está envolvido de algum modo!


-Espere, não sabemos... – Napoleon começou.


-Por que mais eles seriam mandados pra cá? – ela lançou um olhar intenso na direção dos Hainsley. –Você veio até aqui pra me levar até o Guardião?


Terk reagiu com uma expressão que desafiava a descrição. –Eu não sei. North disse que tínhamos permissão para ajudar você, mas... não tenho certeza do que podemos fazer. Não temos nenhuma forma de entrar em contato com Guardião. Tentei falar com North várias vezes hoje e ele não responde. Acho que estamos sozinhos nessa.


-Bem, então qual é o objetivo disso?


-Olhe, a única coisa que posso pensar pra ajudar é deixar você falar com outra pessoa da rede, alguém um pouco mais acima na linha de comando.


-Achei que não conheciam mais ninguém da rede.


-Não conhecemos, só que... tem essa mulher, Theo. Ela explicou as coisas pra gente quando fomos recrutados. Nos deu algumas orientações. Ela talvez possa ajudar.


Hermione virou para Napoleon. –Não é uma pista muito boa – ela disse.


-Tudo o que temos – ele respondeu. –Se esta pessoa tem mais informações, só pode ajudar.


Ela fez que sim. –Certo. Vamos encontrá-la. – ela esperou a concordância total de Terk, mas não foi essa a resposta. –Você sabe onde ela está... ah, não, não me diga.


Terk espalmou as mãos, dando de ombros. –Eu te disse, eles não nos contam nada! – um silêncio frustrado caiu sobre eles. –Bem, ela era americana...


-Ah, ótimo. Isso diminui nossa busca para 250milhões de pessoas – Napoleon ironizou.


-Não, não vamos jogar a toalha ainda – Hermione disse. –Vamos conseguir alguma coisa. Certo, pensando com lógica. Como se comunicam com North?


-Por um tipo de escrita automática.


-Certo, poderiam usar pra entrar em contato com essa Theo?


Terk olhou pra seu irmão. –Poderíamos? Sabemos o nome dela, sempre foi o que precisamos pra North – ela disse pra ele.


-Vale a pena tentar – ele disse, dando de ombros. –Mas se ela for uma ajudante menor, como nós, não vai ter como responder.


-Vamos tentar – Hermione disse. –Agora.




Hermione teve que se controlar pra não sair correndo pela rua. Pressa não ia ajudar nesse ponto, mas não significava que não adiantaria se apressar. Ela estava plenamente consciente de cada segundo que passava com Harry ainda preso em sua cela, lutando pra manter o controle de sua mente.


Ela e Napoleon não tiveram permissão para ver enquanto Terk tentava entrar em contato com seus amigos. Pareceu demorar uma eternidade, mas o resultado acabou sendo positivo. De acordo com Terk, essa pessoa misteriosa iria encontrá-los no mesmo café em Iowa no qual sempre se encontrara com os Hainsley.


Passou pela mente de Hermione várias vezes o quanto ela estava confiando em Terk e Tax. Uma parte dela se perguntava se era sábio fazer isso. Eles pareciam ter sido mandados por motivos incertos. As ordem podiam ser muito bem pra fazê-la falhar... mas de algum modo, ela duvidada disso. Terk falou que as ordens deles eram moralmente justificáveis, e Hermione tinha a forte impressão que se não fosse, Terk nem pensaria em obedecê-las.


E no fim das contas, Napoleon confiava neles e ela confiava nele... mesmo que tivesse dado trabalho pra convencê-lo a mudar um pouco o visual e poder passar despercebido nas ruas de Bettendorf.


Essa metrópole urbana era um grupo de quatro pequenas cidades (com a grande criatividade americana, referidas como a Cidade Quádrupla) no infinito mar de milharais que era o estado de Iowa. O pouco que Hermione tinha visto não a deixou impressionada. A rua principal de Bettendorf era legal, mas tinha uma estranha artificialidade, como uma exibição na Disneylândia.


Ela se sentia extremamente inglesa entre todos estes yankees de pelo rosada, queimados pelo sol e comedores de sorvete, mas Terk e Tax estavam mais relaxados do que ela já vira antes. Estavam em seu elemento. Ficou impressionada com como uma atmosfera tão neutra podia produzir duas pessoas tão interessantes. Enquanto esperavam a hora marcada para ir até o café, já tinham forçado Hermione e Napoleon a provar especiarias do meio-oeste como bratwurst e frozen custard. O bratwurst estava um pouco oleoso pro gosto dela, mas ela acompanharia com prazer todas suas refeições com o frozen custard.


-Ali é o Beanery – Terk disse baixo no ouvido de Hermione, apontando pra rua, pra um toldo verde e branco que fazia sombra sobre várias móveis de jardim.


A vontade de Hermione de se apressar aumentou um pouco mais, mas ela manteve o ritmo normal, segurando a mão de Napoleon como se estivessem apenas passeando.


O café era um lugar agradável, sombreado e cheiroso. O chão era de longas tábuas de madeira, os móveis eram uma mistura de cadeiras antigas que não combinavam e sofás velhos. O lugar estava quase deserto, já que era o meio da tarde. Napoleon olhou o relógio. –Temos uns quinze minutos. Vou pegar um café pra gente. – ele foi até o balcão enquanto Hermione e os Hainsley pegaram uma mesinha de café num canto. Hermione sentou numa cadeira de balanço antiga, Terk e Tax num sofá que estava com um pouco do enchimento já saindo nas costas.


Ficaram em um tenso silencio até que Napoleon voltou com uma bandeja com xícaras de café. Ele entregou um pra Hermione e ela viu que ele tinha pedido uma xícara de chocolate quente, pois sabia que ela não bebia café depois do almoço. Ele deu um sorriso tímido pra ela e sentou em almofadas que estavam no chão. Hermione sorriu em resposta com o coração pesado. Ele realmente era um doce e nunca tinha sido nada além de muito cooperativo e sempre a considerava muito. Ela se sentia mal por estar causando uma dor a ele, uma dor que ela própria já tinha experimentado assim como todo mundo. Ela lembrava como tinha sido doloroso quando ela pensava que Rony não sentia o mesmo que ela. Infelizmente, a situação de Napoleon não acabaria tão feliz quanto a dela.


Eles bebiam em silêncio, olhando o relógio na parede enquanto o ponteiro dos minutos se aproximava da hora. –Então... Quem é essa mulher? – Hermione finalmente disse, sem realmente se importar, mas querendo puxar conversa.


-Bem – Terk falou, pensativa. –Não sei o sobrenome dela. Acho que ela disse uma vez que era professora. História? – Tax fez que sim. –É, historia. Tenho a impressão que ela morava em algum lugar da costa oeste. Seattle, talvez, ou Portland. Noroeste.


Hermione fez que sim com a cabeça. –Eu devia vim mais vezes aqui.


Terk franziu a testa. –Onde, Bettendorf?


-Não. América. Essa é só minha segunda viagem. E a primeira... – o sino acima da porta tocou. Hermione olhou para entrada.


-È ela – Terk disse baixo.


A mulher os viu e veio imediatamente, com um largo sorriso. –Terk! Tax! Como estão vocês? – ela apertou as mãos deles.


-Estamos bem, obrigada, Theo. – Terk disse. –Ah, estes são Hermione Granger e Napoleon Jones...


-O prazer é meu – Theo disse enquanto apertava a mão de Hermione e depois de Napoleon. Ela sentou numa cadeira vaga. Hermione tentou sorrir, e até que não doeu. A mulher tinha um jeito que lembrava de um lenhador. Ela era alta e atlética com cabelos avermelhados e cacheados e uma pele bronzeada. Ela usava calças jeans e um suéter de lã. –Então. Qual é a grande emergência e quem são os civis?


Napoleon levantou uma sobrancelha. –Civis?


-Ela quer dizer que vocês não são parte da rede – Terk murmurou. –Bem, Theo, Hermione e Napoleon são bruxos. Estão num tipo de busca e North nos disse que poderíamos ajudar. Você á única pessoa que conhecemos na rede. Achamos que talvez você...


-È justo – ela virou pra Hermione. –Que busca é essa, então?


Hermione colocou o chocolate quente sobre a mesa. –Meu noivo está muito doente com uma misteriosa condição mental que apareceu depois dele ter sumido por dois meses.


Theo balançou a cabeça que sim, pensativa. –Estranho – foi seu único comentário.


-Estamos procurando pelo Guardião.


Ao ouvir isso, Theo sentou reta e olhou pro outro lado pra Terk e Tax um "que merda é essa?" em sua expressão. –É mesmo? Esses dois não me contaram isso.


-Olhe, eu não te conheço, nem sei muito sobre esta rede. Tudo o que sei é que o Guardião está envolvido de alguma forma com o que aconteceu com Harry. Preciso encontrá-lo.


-Esse é o problema. Ninguém procura o Guardião. Não é assim que funciona.


Hermione a olhou direto nos olhos. –Não me importo com a maneira que funciona. Vou encontrar o Guardião, com ou sem sua ajuda!


-Certo, não precisa se irritar.


-Pode me ajudar ou não?


Theo se encostou na cadeira e cruzou as perna. –Sim, acho que posso.


-Pode me levar até o Guardião?


Ela sorriu. –Não precisa.


Hermione piscou. –O quê?


-Eu sou o Guardião.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.