Capítulo 5: A sorry mess
Geralmente, Hermione achava o encontro anual da Sociedade Internacional de Feiticeiros um dia interessante e agradável. Era uma chance de rever antigos amigos de Hogwarts, conhecer novos bruxo e bruxas, e aprender algumas coisas durante esse tempo... Sem falar que a comida e a atmosfera social eram um estouro. Esse ano, entretanto, estava distraída por seus pensamentos em Sorry e nas teorias de Harry.
-Hermione? Hermione!
-O quê? – ela disse, voltando ao presente. Minerva estava tentando chamar sua atenção. A diretora de Hogwarts olhou séria pra ela, com as mãos na cintura.
-Sua cabeça está em outro lugar, querida. O que está te distraindo?
Hermione suspirou. –Desculpe, estou preocupada. Tenho muitas coisas em mente.
Minerva se aproximou, colocando uma mão sobre o braço dela. –Isso não é por causa da carta que te enviei, é? Odiaria pensar que te fiz passar a noite em claro...
-Ah! Não, não é nada disso. Não posso te contar os detalhes, mas Harry não tem mais segredos pra mim.
Minerva a segurou pelo braço e a guiou até um banco próximo, sentando-a como se ela ainda fosse uma aluna e estivesse prestes a levar uma bronca. Ficou em pé na frente dela, uma expressão preocupada e séria no rosto. –Hermione Granger, eu poderia suspeitar que você não está feliz em seu emprego.
Hermione levantou os olhos pra ela, surpresa por essa observação perspicaz. –Por que acha isso?
-Bem, primeiro porque estamos conversando há horas e você ainda não o mencionou.
Hermione sorriu. –Acho que não posso te enganar, não é mesmo?
Minerva sentou ao lado dela, suspirando. –Eu deveria saber que depois da vida que você levou, nunca ficaria feliz em sentar atrás de uma mesa, lendo livros o dia todo. Precisa de animação, de um jeito de usar suas habilidades.
Hermione não disse nada por um momento. –Ah, isso é tudo culpa de Harry! – finalmente falou.
-Provavelmente.
Ela expirou pela boca. –Não sei o que fazer, Minerva.
-Algo vai aparecer. Com seu currículo, não vão te faltar empregos.
Ficaram em silêncio por um momento, olhando a multidão. Os olhos de Hermione pararam em uma mulher notável, conversando com o professor Flitwick na barraca do "Grêmio Vassoura". Ela era alta e parecia forte, com pele morena e cabelos muito cacheados. Sorria com uma boca cheia de dentes brancos enquanto falava. –Quem é aquela falando com Flitwick? – Hermione perguntou.
-Ah! Aquela é nossa atual professora de defesa.
-Ouvi falar dela! Lembro que tinha um nome diferente... Moneypenny ou algo assim?
Minerva riu. –Quinlan Cashdollar. Nome apropriado pra uma americana, não é?
-Ela é boa?
-Bem... Acabou de chegar ao fim de seu segundo ano. – Hermione concordou, impressionada. –Ela tem um campo de experiência vasto e amplo. Era do Esquadrão de Execução das Leis Mágicas na Associação Americana de Bruxos.
-Impressionante. Uma professora de Defesa Contra Artes das Trevas que realmente praticou o que ensina.
-Os alunos a adoram, é muito carismática. – Minerva cruzou o olhar com o de Cashdollar e acenou para que se aproximasse. A mulher se despediu de Flitwick e veio até elas, sorrindo.
-Minnie! – ela disse. –E aí?
-Quinn, quero que conheça a Drª Hermione Granger, uma de nossas egressas mais ilustres.
-Ah, a famosa Hermione! Sua reputação a precede – Hermione apertou a mão da mulher enquanto Minerva olhava para a barraca de caldeirões, onde Snape parecia estar prestes a começar uma discussão com o comerciante.
-Com licença – Minerva disse, se apressando para interferir. Cashdollar se virou pra Hermione.
-Sempre é um prazer conhecer os ex-alunos. Que ano você se formou?
-Turma de 98, Srtª Cashdollar.
-Ah, raios, me chame de Quinn. Então você estudou DCAT com uma mistura de professores.
Ah, sim. Quirrell, depois Lockhart...
-HÁ! Aquele idiota. Não podia espetar um vampiro com um forcado.
-Lupin, Gudgeon... Todos eles eram farinha do mesmo saco, menos Remo, claro. – ela virou um pouco a cabeça e encarou Quinn. –Devo dizer que essa é uma experiência nova pra mim, Quinn. As pessoas que sabem quem sou imediatamente me fazem perguntas sobre Harry.
-Quem, Potter? – disse, sorrindo. –Eu não preciso.
-Não me diga que o conhece!
-Na verdade sim. Trabalhei com ele quando estava na AAB.
Hermione segurou o braço dela e a puxou de lado. –Então você sabe sobre o trabalho dele.
-Ah, claro. – de repente, ela arregalou os olhos e parou de andar. –Ah, nossa! Eu esqueci! Ele disse pra manter o trabalho dele em segredo de seus amigos! Não falei demais, falei?
-Não, não, descobri sobre isso semana passada. – ela parou por um momento, pensando. –Mas só sei o que ele me contou. Pode me dizer se há mais alguma coisa?
Quinn apontou um outro banco pra Hermione, entre grandes figueiras que ofereciam bastante privacidade. –Está preocupada com ele.
Hermione respondeu que sim –Ele é meu melhor amigo. Preciso saber mais sobre o que ele faz, coisas que ele não me diria.
Quinn concordou com a cabeça e virou um pouco para encará-la. –Bem, a coisa é a seguinte, Hermione. Ele era famoso antes mesmo de se tornar um espião, mas isso não torna as coisas mais fáceis em nosso trabalho. Você tem que mostrar o que pode fazer e conquistar o respeito de seus colegas. Sempre há um período meio que de doutrinação. Quer saber sobre ele? Vou ser direta. Potter é bom... Ele é inteligente e é forte. Agora, não sei muito sobre espionagem, eu era apenas uma executora, mas quanto a espiões... Seu Harry é tão escorregadio quanto possível. É um dos bruxos mais poderosos que conheci, tenho certeza absoluta que não gostaria de enfrentá-lo. Uma vez o vi derrubar um cara duas vezes maior que ele sem usar magia.
Hermione engoliu em seco. –Suponho que ele seja bom pra ter sido promovido tão rápido.
-Isso mesmo, ele é o vice de Pfaffenroth agora, não é? Era apenas um bruxo da inteligência quando o conheci. Ele merece. – ela sorriu. – Costumava falar muito de você, sabe.
-É mesmo? – Hermione falou, sentindo seu rosto esquentar.
-Com certeza. Era sempre Hermione isso, Hermione aquilo, Hermione disse isso e se Hermione estivesse aqui, ela poderia nos dizer isso.
Hermione não sabia exatamente o que dizer. Pensava sobre sua resposta quando de repente lembrou de outra pergunta com a qual Quinn poderia ajudá-la. –Desculpa a mudança de assunto, mas... você conhece um bruxo chamado Sorenson Carlisle?
Quinn parou de sorrir e ficou séria imediatamente. –Sorry? Por que quer saber?
-Ah... É uma coisa que estou trabalhando com Harry.
-Bem, é melhor deixar isso pra ele, eu acho. Ele é profissional, não tente isso em casa. Sorry é um homem muito mal.
Hermione sentiu um frio no corpo todo. –Mal, como?
Quinn suspirou. –Ele tem más companhias. Companhias das trevas, se me entende. Pode-se dizer que ele é o novo garoto dourado deles... Pelo menos foi o que ouvi. Você parece surpresa.
-Mais preocupada. Uma de nossas companheiras de casa namora ele. – disse, num tom desolado.
-Se quiser ajudar sua amiga, então a mantenha longe dele.
-Não acredito que ela continuaria com ele se soubesse que ele é mal.
-O amor é cego, sabe. E quando não é cego, é simplesmente estúpido.
Harry estava sentando à sua mesa, perdido em pensamentos, quando uma bolha amarela do tamanho de uma bola de críquete flutuou para dentro da sala e falou com a voz do guarda do posto de segurança da entrada da D.I.
-Chefe Potter. Tem uma pessoa aqui querendo te ver. Ela não é autorizada. – a voz do guarda vinha com um tom inconfundível de desaprovação.
-Quem é? Como chegou aqui? – Harry perguntou, apesar de ter um bom palpite de quem era e de como chegara até ali.
-A drª Hermione Granger, ela aparatou. Chefe, preciso lembrá-lo das conseqüências de dar abertura à segurança desse prédio? Se o senhor entregou nossa localização...
-Eu conheço bem o regulamento, Agente, eu o escrevi. Faria bem se lembrasse sua posição na hierarquia de comando. Por favor, peça que ela espere um momento. – A bolha amarela desapareceu fazendo um pequeno "pop".
Ele mordeu os lábio, pensando. –Bolha – ele disse. Outra bolha, essa brilhando um azul claro, apareceu flutuando no ar diante de seus olhos. –Lefty?
Um segundo depois, uma voz profunda, grave era emitida da bolha. –Tudo bem, Harry? – era a voz de Lefty Mamakos, seu instrutor na DI, transmitida do escritório dele localizado no treinamento.
-Preciso de um conselho.
-E por que mais eu estaria aqui? Qual é o problema? Não, não... Deixe-me adivinhar... Teve que contar a seus amigos sobre seu emprego.
-Como você...
-Ouvi falar que você sofreu um tipo de ataque e pensaram que estava morto. Não é algo que se explique com umas mentirinhas. Fico feliz que não esteja morto, por falar nisso.
-Obrigado. Estou pensando se devo permitir uma civil a entrar na DI.
-Quem?
-Hermione. Ela está aqui agora mesmo e não tenho idéia de como me encontrou.
-Ela está te ajudando um pouco? Devia ter adivinhado.
-Não queria que ela tivesse feito isso. – ele disse. Sabia que não devia ter deixado Hermione pesquisar sobre aqueles feitiços com "sorry"... Depois que ela se interessa em uma coisa, não há como detê-la.
-Confia nela?
-Claro. Com minha vida.
-Então a decisão é sua. É o segundo no comando, pode autorizá-la a entrar, se quiser. O que está remoendo? Não, não... Deixe-me adivinhar de novo. Está relutante em deixá-la entrar nessa parte de sua vida.
-É perigoso. Não posso expô-la a nenhuma situação arriscada, apenas não posso.
-Ela estará a salvo enquanto estiver com ela.
Harry sorriu. –Obrigado. É bom saber que alguém confia em mim.
-Não pense assim, todos confiam em você e sabe disso. É o melhor aluno que já tive, Potter. Não precisa minha ajuda.
-Falo com você depois.
Harry saiu de sua sala, sua bolha azul flutuando a sua frente, e andou rapidamente pelos corredores até chegar ao posto de segurança da entrada. –Hermione! – ele chamou. Ela estava de pé em frente à mesa do guarda, segurando alguns papéis e parecendo desconfortável. –O que diabos está fazendo aqui? Como encontrou esse lugar? Este local é confidencial! – ele estendeu a mão pelo campo de segurança, segurou a mão dela e a puxou através dele.
Ela respirou fundo. –Não fique com raiva. Trouxe algumas informações.
-Não estou com raiva, só impressionado.
-Não foi tão difícil te encontrar. Estive trabalhando em feitiços para detectar seres metamórficos, então mudei um para lobisomens. Usei para achar Lupin no quartel general da Federação, depois aparatei. Usei um glamour para esconder meu rosto e depois o segui até que fiquei próxima o suficiente para colocar um talismã de ligação ao lar nele e quando aparatou para cá, usei um feitiço localizador para encontrar o quartel da DI. – ela deu de ombros. –Simples.
Harry apenas ficou olhando pra ela. Simples, ela disse. –Ainda acho que seria mais simples se você esperasse que eu chegasse em casa hoje.
-Bem, e eu lá sei quando você vai voltar pra casa ou mesmo se você vai voltar pra casa, Harry! – disse, irritada. Harry lamentou imediatamente, afinal, ela tinha razão. Não escapou da percepção dele que em algum nível, ela estava tentando provar que ainda era páreo para ser incluída novamente nas suas aventuras. Essa idéia o deixava nervoso, mas ao mesmo tempo a possibilidade de ter todas as habilidades dela a seu favor era atraente. A expressão irritada dela estava sumindo; parecia tê-lo desculpado. –Além disso, gosto de um desafio. Foi divertido.
Ele riu, balançando a cabeça. –Você nunca para de me impressionar, Hermione. Venha. – ele segurou a mão dela e a guiou pelo labirinto dos corredores. Hermione olhava o chão, onde a bolha azul acompanhava os passos deles alguns metros à frente.
-O que é aquilo?
-Uma bolha de babel. Um pequeno feitiço que usamos para segurança e comunicação. As salas e corredores desse prédio são mudados periodicamente, nunca sei onde minha sala vai estar no próximo minuto. Cada pessoa autorizada a estar aqui tem sua própria bolha de babel que reconhece apenas essa pessoa. Quando chego, minha bolha sai de seu jarro e me leva aonde quero ir. Se alguém entrar aqui sem autorização, nunca encontraria o que está procurando sem uma bolha, as salas ficam mudando e essa pessoa vagaria eternamente. – A bolha de Harry os guiou por mais algumas esquinas até que ele viu sua sala no fim do saguão, uma porta larga, pintada de vermelho e com uma raio amarelo sobre ela.
-Humm. Esse é o símbolo que tem em sua capa? – ela perguntou de olhos arregalados e expressão inocente.
Ele lançou um olhar ameaçador. –Agradeço se não rir. Nomes chamam muita atenção. – ele tocou a fechadura com a varinha e ela abriu. –Bem vinda a meu escritório. Meio desarrumado.
-Já vi piores.
Harry sentou atrás de sua mesa e ocupou as mãos revirando os papeis. –Agora, vai me dizer do que isso se trata.
Ela sentou em uma das cadeiras do escritório dele e colocou suas pastas sobre a mesa. –Bem, vasculhei todos livros de feitiço que encontrei não achei nenhum que começasse com "sorry" que seja interessante... A não ser que Leland estivesse interessado na média de crescimento das madrágoras ou em como alisar o cabelo de alguém.
Ela se recostou em sua cadeira, os dedos sob o nariz, pensativo. –Beco sem saída então.
-Acho que você estava certo sobre ser um nome... E descobri mais uma coisa. Algo perturbador.
-O que foi?
-Bem, hoje eu fui pra convenção da SIF. Conheci uma amiga sua. Quinlan Cashdollar.
Harry fez que sim com a cabeça. -Ah, sim. Quinn. O que ela estava fazendo na convenção da SIF? Ela não é uma executora?
-Não é mais. Ela acabou seu segundo ano de ensino de DCAT em Hogwarts.
-Mesmo? Deve ser muito boa.
-Perguntei a ela sobre Sorry.
-E?
Hermione suspirou. –Disse que ele é um homem muito mal. Só faltou dizer que ele trabalhava pra forcas das trevas. Ela o chamou de o novo garoto de ouro deles.
Harry apenas olhou pra ela por um momento, em silêncio. Fechou os olhos e balançou a cabeça. –Ah nossa. Eu realmente não suspeitava desse nível de envolvimento.
-Ainda não estou convencida. Não consigo acreditar que ele seja tão mal depois de tudo que fez por Laura e pelo ambiente... Por que mudar pro lado das forças das trevas quando tem tanta coisa dando certo pra ele?
-Sei que é sua afeição por Laura falando, mas temos que nos lembrar que não conhecemos o homem. Nem sempre as pessoas precisam de motivos para virarem más, sabe.
-Tentei tirar informações sobre ele de Laura. Nada que ela disse sobre ele pareceu notável pra mim, mas ela me disse uma coisa muito interessante.
-O que foi?
-Bem... Laura nasceu trouxa. A mãe e avó de Sorry a transformaram em bruxa através de um ritual chamado "Passagem" e Sorry também teve seu papel nele.
Harry piscou. –Sim, eu chamaria isso de interessante. Já tinha ouvido falar desse procedimento antes?
-Não, nunca. Já tinha ouvido falar de meio para amplificar ou aumentar os poderes de alguém, mas nunca gerar em alguém que não os tinha.
-O que essa Passagem envolve?
-Pareceu muita visualização simbólica. Laura falou em rios de sangue e florestas de espinho, mas ela sempre estava ciente que fisicamente continuava no banheiro onde o ritual foi realizado porque viu as palavras "tam htab" no...
Harry ficou tenso, sentindo um peso no estomago. –Tam htab? – ele perguntou.
Hermione afirmou com a cabeça, confusa. –Sim. "Bath mat" ao contrario. Meu Deus, Harry... O que foi? Está branco feito papel!
-Hermione... Leland Stormare só diz duas coisas: "sorry" e "tam htab". – ela fechou os olhos, suspirando. –Agora, pensando nisso, ele também mencionou rios de sangue e florestas de espinhos. Ficaram em silêncio por um instante. –Acho que isso tira qualquer dúvida sobre o envolvimento de Sorry com o que aconteceu com Leland.
-Por que submeter Leland a uma Passagem? Ele já é um bruxo!
-Então a verdadeira pergunta é: qual o efeito que o ritual teria em alguém que já tem poderes mágicos?
Os olhos dela se arregalaram. –Você acha que pode ser usado em sentido oposto? Tirar os poderes de alguém?
-Não sei, mas acho imprescindível que a gente descubra.
Antes que Hermione pudesse responder, uma bolha de Babel verde apareceu no ar. –Sim, Remo? – disse Harry.
-Acho melhor você vir até a Detenção – veio a voz de Lupin da bolha.
-Por que? O que aconteceu? – ele disse, trocando um olhar com Hermione.
-Capturamos alguém em quem acho que está interessado.
-Já vou descer – Harry levantou, olhando pra Hermione. –Você vem? – ela sorriu e o seguiu pra fora da sala.
A Detenção era um salão confortável que não parecia mais sinistra que uma sala de estar suburbana. Dois bruxos com uniforme preto e prata estavam à porta; saudaram Harry quando ele entrou no cômodo. Lupin já estava lá, junto com um bruxo magro e pálido que parecia ser o carcereiro. Sentada no sofá estava uma mulher. Era extremamente bonita, de um jeito duro e insensível, de traços finamente esculpidos e longos cabelos negros que brilhavam sob a luz suave. Harry balançou a cabeça que sim ao vê-la, nem um pouco surpreso dela estar ali. –Foi o que pensei. –virou pra Lupin. –Quem a trouxe?
-Dois agentes da Infiltração e Reconhecimento acharam o rastro dela no Surrey. Eles a pegaram a caminho de um tipo de reunião e é tudo o que eles sabem. Ela não vai falar com ninguém além de você.
-Não é surpresa. – ele virou pra Hermione. –Essa é Allegra Blackburn-Dwyyer, umas das bruxas das trevas mais notáveis dessa parte do mundo.
-Ela não devia estar numa cela ou algo assim? – Hermione sussurrou.
-Ah, ela está – Lupin disse. –Só porque não se pode ver as grades, não significa que não estejam ali.
Allegra levantou. –Já era hora de você vir aqui embaixo, Harry. Estava esperando. – ela olhou ora Hermione. –Bem, bem. Essa deve ser a famosa Hermione. É exatamente como você descreveu. – Hermione olhou pra Harry, parecendo um pouco assustada dessa pessoa saber seu nome.
Harry entrou parcialmente na frente dela. –Você só precisa se preocupar comigo. Quer me dizer aonde ia e com quem ia se encontrar?
-Tinha hora marcada pra fazer o cabelo – a mulher disse áspera, cruzando os braços e olhando para o mundo como uma fortaleza impenetrável.
Harry virou, segurando Lupin pelo braço e o afastando, gesticulando pra que Hermione se juntasse a eles. –Ela não está falando, Harry. – Lupin disse.
-Não no momento, mas ela vai falar com a gente, disso eu tenho certeza.
-Como pode ter tanta certeza? – Hermione sussurrou, olhando pra Allegra. –Ela me parece bem durona.
-Ela é, ela é bem durona realmente. Dura o suficiente pra estarmos atrás dela há anos e nunca a capturamos nenhuma vez. E então, hoje, do nada, dois bruxos da I&R numa patrulha de rotina a pegam a caminho de um encontro?
-Ela queria ser pega. – Lupin disse.
-Ela tem uma mensagem pra gente e se deixou capturar pra que pudesse entregá-la. –virou pra Allegra.
-A conferência acabou? – ela disse. A voz dela estava baixa e rouca. Ficou lá de pé, com as mãos em seus quadris desenhados, parecendo incrivelmente entediada com a situação toda.
-Allegra, se tem algo a me dizer, sugiro que acabe logo com isso pra que possamos continuar com nossas vidas.
Allegra não estava nem olhando pra ele, olhava pra Hermione. –Ele está escondendo tanto de você, sabe – falou. Hermione engoliu em seco. Não queria exatamente ouvir, mas não conseguia desviar os olhos. –Acha que o conhece? Acha que ele precisa de você? Está cega, minha irmã.
Harry avançou, seus olhos brilhando. –Não fale com ela – ele rugiu. –Nem olhe pra ela, está ouvindo? – virou pra Hermione. –Não ouça. Não ouça nenhuma palavra que ela diz. –olhou novamente pra Allegra, um olhar fatal. –Ela mente. – ele disse, sua voz monótona.
Allegra recuou alguns passos. –Sabia que ia me descobrir, Harry... Nunca pude te enganar por muito tempo. Realmente tenho uma mensagem pra você... de meu mestre.
-Seu mestre? – Lupin perguntou.
-Vocês o verão em breve – todos três trocaram olhares preocupados. –É poderoso, meu mestre... seu novo servo o ajudará a tomar o que é dele de direito. –levantou a cabeça bem alto. –E enquanto o servir, ninguém poderá me deter. – ela deu um largo sorriso, cheio de dentes brancos, emoldurado por lábios vermelho-rubi. –Adorei te ver novamente. E te conhecer, Hermione. Lembre do que te disse, pois poderá te salvar. – e com isso, ela se foi.
Todos na sala pularam –Droga! – Lupin gritou.
Hermione deu uns passos à frente, colocando a mão sobre o feitiço de contenção que fora posto em volta de Allegra; estava intacto. –Como ela fez isso? Não devia poder aparatar, devia?
-Absolutamente não – Harry disse em voz baixa, olhando severamente pra o ar onde Allegra estava alguns segundos antes. –Essa sala é selada. Não sei como ela saiu.
-Vou investigar tudo, Harry – Lupin disse.
-Bom. Me mantenha informado. – ele acenou com a cabeça pra Hermione e eles saíram da sala, liderados pela bolha de babel azul de Harry.
-Mulher interessante – ela disse, neutra. Harry levantou a mão e a parou no meio do corredor de tijolos.
-Hermione, espero que não dê o mínimo de credito ao que ela disse – ela desviou o olhar, inquieta... Harry podia ver que sim, ela deu pelo menos um pouco de credito àquilo. –A verdade é antiética para personalidade de Allegra, não a reconheceria se andasse até ela e a mordesse na bunda.
-Ela estava certa sobre uma coisa... não acho que te conheço tanto quanto achava.
Harry apenas olhou pra ela. –Você é a única pessoa que me conhece – disse, seu tom normal, como se isso fosse a coisa mais obvia do mundo.
Mais tarde naquela noite, Harry estava sentado no jardim de inverno lendo um livro quando a campainha tocou. Laura e Justino ainda não tinham chegado do emprego e Jorge estava no mercado, então ele levantou pra atender.
Abriu a larga porta da frente e seu sorriso de boas-vindas diminuiu um pouco. Em pé à porta estava um homem vestido com terno bem feito, caro. Era descomunalmente bonito, de traços esculpidos e vastos cabelos loiros. Ele deu um largo sorriso. –Ah! Harry! Fico satisfeito de finalmente conhecê-lo! – exclamou, avançando para apertar a mão de Harry.
Harry manteve sua expressão agradável com esforço. –Olá, Geraldo. – em sua cabeça, podia ouvir Jorge brincando "Ger-aldo! Ger-aldo!" – ele limpou a garganta. –Entre. –deu um passo pro lado para permitir que o namorado de Hermione entrasse, olhando feio pras costas do homem. –Hermione está lá em cima, vou chamá-la. Fique a vontade. – Geraldo entrou na sala enquanto Harry subia as escadas. –Hermione! Geraldo está aqui!
Ela colocou a cabeça pra fora do quarto. –Desço daqui uns minutos. Comporte-se.
Resmungando, Harry voltou pra sala, onde Geraldo estava pendurado na ponta de um pequeno divã dourado. Harry sentou em sua cadeira favorita. –Então – ele disse, decidindo ser agradável com o homem. –Pra onde vão hoje?
Geraldo se mexeu desconfortável, parecendo estar muito pouco à vontade. –Hã... é uma festa dada por meu chefe.
-Você trabalha em que mesmo?
-Sou vice-presidente da Spellbound Books, somos a maior editora de textos e referências bruxos. Alguns de nossos best sellers incluem todos os volumes do "Livro padrão de feitiços", a coletânea de trabalhos de Gilderoy Lockhart e a maioria dos textos padrões. – Harry acenou com a cabeça, educadamente ao que com certeza era parte de seu discurso de vendas. –Sou encarregado dos Testes e do controle de Qualidade. Superamos nosso recorde de vendas este ano, o CEO está dando um grande sarau para dar parabéns à equipe.
-Isso parece... bom. – Harry disse, tentando lembrar se já tinha ouvido alguém realmente usar a palavra sarau antes de agora.
-Bem, vamos ter um bom jantar e dança, esse tipo de coisa. É uma ocasião meio extravagante.
-Hermione é ótima dançarina.
-Eu sei. Ela é muito paciente comigo, receio ter dois pés esquerdos. – ele deu aquele sorriso iluminado pra Harry novamente. Harry apenas continuou balançando a cabeça, o sorriso agradável grudado em seu rosto começando a cansar. Geraldo levantou e parecia estar reunindo sua coragem. –Harry, só quero que saiba que gosto muito de Hermione, e sempre a tratei com respeito...
Harry levantou as sobrancelhas. –Não precisa prometer que vai trazê-la pra casa antes das onze, sabe. Ele é uma mulher crescida; não sou pai dela.
-Eu sei, mas você... você sabe, você é Harry Potter, e... bem, ela leva muito em conta o que você acha...
-E eu o que ela acha. Ela gosta de você, é o suficiente pra mim. Não precisa fazer uma entrevista pra ter permissão pra levá-la pra sair. –os dois ficaram em silêncio. Geraldo sentou tenso no divã, olhando para as paredes e teto da sala, pros moveis no chão, pra qualquer lugar menos pra seu anfitrião. Harry apenas ficou sentado olhando feio pra ele, sua habilidade de fingir ser amigável reduzindo-se a zero.
Os dois levantaram os olhos ao ouvir os sapatos de Hermione nas escadas. Geraldo levantou e foi para o saguão de entrada, Harry parou na porta enquanto Hermione descia. A visão dela fez algo estranho em seu estômago, parecia que ele tinha ido numa montanha-russa sem consultá-lo. Hermione geralmente se vestia informalmente, com um guarda-roupas cheio de saias de lã, calças, casacos de gola em V, e camisas de gola alta; praticidade era a ordem do dia com ela. Geralmente prendia os cabelos num rabo ou numa trança, para mantê-los fora de seu caminho e não era fácil de ser vista sem seus óculos de leitura ou na cabeça ou pendurados no pescoço por suas correntinhas de contas. Hoje, entretanto, ela usava um vestido brilhante e elegante, sem alças, de cor violeta, reluzindo milhares de pequenas faíscas até seus pés. Uma corrente de pedras e contas violetas flutuavam ao redor de seu pescoço e seu cabelo estava empilhado num elegante coque sobre a cabeça, alguns cachos mais longos deixados mais frouxos para cair em seus ombros. Ela sorriu para Geraldo, uma mão de luva correndo pelo corrimão enquanto descia pelas escadas. Quando seus olhos passaram por ele até Harry; ela parou e o sorriso dela hesitou. Harry percebeu que devia estar com uma expressão muito estranha, mas não conseguia conter; um tremor passou por ele quando seus olhares se cruzaram por um momento. Hermione desviou o olhar e deu um sorriso ainda mais largo para Geraldo, que esticou o braço pra tomar a mão dela quando alcançou a base das escadas. –Você está linda –disse, beijando sua bochecha.
-Obrigada – ela disse. –Você também.
Harry piscou, o mundo voltando ao lugar ao seu redor. O que acabou de acontecer? Pensou. –Foi um prazer conhecê-lo, Harry. – Geraldo disse, abrindo a porta. Hermione parou, olhando a chuva do lado de fora e se voltou pra sorrir pra Harry.
-Tenha uma boa noite – foi tudo o que Harry conseguiu dizer. Ele olhou enquanto ela aceitou o braço de Geraldo e ele levantou sua varinha, murmurando um feitiço pra impelir a chuva; saíram pra varanda e fecharam a porta atrás deles.
Harry suspirou e voltou para seu livro. Várias horas se passaram em silêncio, exceto por trovões e booms periódicos do lado de fora, mas ele percebeu que tinha que ler a mesma pagina várias vezes porque sua mente não se concentrava na primeira. Eventualmente, ouviu a porta de trás abrir e foi pra cozinha, onde Jorge estava entrando com sacolas de mantimentos. –Nos dê uma mão, Harry? – ele disse entregando um grande peru congelado. Harry colocou no freezer.
-Bem, conheci o famoso Geraldo.
-Foi? Como ele é? – Jorge perguntou, colocando os vegetais na caixa de gelo.
-Ah, você sabe. Bonito, charmoso, rico, bem-vestido... um pesadelo perfeito.
-Hermione parece gostar dele. Tenho certeza que ela não tem problemas pra mantê-lo na linha. O que ele... – Jorge parou, tendo virado pra descarregar mais sacolas... o rosto de Harry estava completamente rígido e branco como papel. –Harry? Você está bem?
Os olhos de Harry vagarosamente giraram pra olhar Jorge. Ele podia sentir se aproximando como um trem desgovernado. Segurou a borda da mesa, mas quando veio, o derrubou. A dor, rasgando por sua cicatriz e cavando implacavelmente por seu cérebro atrás de sua testa como se agulhas de tricô quentes entrasse em seu crânio. Jorge avançou para segurá-lo quando uma onda enegrecida tomou sua visão ele caiu em cima da mesa.
Harry abriu seus olhos vagarosamente, meio que esperando a dor atingi-lo na testa novamente, mas nada aconteceu. Estava no quarto de hóspedes do primeiro andar, sob pesadas colchas da larga cama de colunas. Por um instante, apenas ficou olhando diretamente para cima, para o material do dossel da cama, e então ouviu um pequeno movimento a seu lado. Virou e viu Hermione sentada em uma cadeira junto da cama com seus cotovelos sobre o colchão, o rosto nas mãos. Ainda estava usando o elegante vestido com o qual saíra, mas o cabelo dela estava todo desarrumado. Uma luz brilhou do lado de fora e ele pode ouvir a chuva batendo contra o vidro da janela.
Ele limpou a garganta e ela abaixou as mãos, revelando o rosto marcado por lágrimas. Ela sorriu pra ele. –Você está bem?
Ele afirmou com a cabeça e lutou pra se erguer. Hermione levantou e colocou um braço atrás dos ombros deles, ajudando-o a ficar sentado. –Parece que sim. Você não teve que me acordar novamente, teve?
-Não – ela disse, colocando uma xícara de chá para ele. –Não foi o feitiço necrominético dessa vez, você estava apenas inconsciente.
-O que você está fazendo aqui? Não devia estar se divertindo com Geraldo?
Ela balançou a mão impaciente pra ele. –Jorge me mandou uma coruja, vim pra casa imediatamente.
-Harry olhou pra xícara de chá em seu colo. –Não precisava ter feito isso.
-O que preferia que eu fizesse? Que ficasse naquela festa completamente chata enquanto você estava aqui? Acho que não.
Ele deu um pequeno sorriso, mais grato pela presença dela do que poderia dizer. –Foi diferente dessa vez.
-Mais fraco? Não acionou o feitiço... Talvez estivesse mais distante.
-Não. Estava mais perto.
Hermione franziu a testa. –Isso não faz muito sentido.
-Eu sei. Não sei como explicar, mas tenho a sensação que o que quer que estivesse sentindo estava mais perto dessa vez... Mas mais suave, como se não quisesse me atingir tão forte.
-Isso é loucura, Harry. Se as forças das trevas estão te atacando então não iriam ligar se estivessem te machucando.
-Só sei o que sinto.
Ela pegou um envelope que estava sobre a mesa de cabeceira. –Isso chegou há alguns minutos.
Ele pegou, examinando a letra do envelope. –É de Sabian.
-Quem é Sabian?
-Meu melhor agente. Se um humano pudesse ser um fantasma, seria ele. Pedi que fizesse umas perguntas discretas sobre Sorry e que mantivesse o ouvido grudado no chão. –abriu o envelope e leu o bilhete, Hermione observando seu rosto nesse tempo. Finalmente ele dobrou o papel novamente.
-Noticias boas ou ruins?
-Bem, não posso dizer que são boas. Sabian disse que tem ouvido muito o nome de Sorry, mas nunca o viu e quando começou a perguntar, descobriu algumas coisas preocupantes.
-Como o que?
-As conversas por aí dizem que Sorry é... – ele parou, hesitando. –É o novo tenente de Voldemort.
Hermione apenas ficou sentada. –Harry, Voldemort está morto. Você o matou. você disse que alguém estava tomando o lugar dele e usando seus métodos... talvez Sabian quis dizer que Sorry é o novo tenente dessa pessoa.
Harry mordeu o lábio e depois virou pra ela, encarando-a com um olhar penetrante. –Hermione, preciso te dizer algo, uma coisa que não pode sair desse quarto. – ela fez que sim com a cabeça. –O fato é... Voldemort não está morto.
A expressão dela congelou como se não tivesse certeza de como responder. –Como é? Ele não está morto?
-Não muito, não. – ele baixou os olhos pra colcha, evitando os olhos dela. –Ficou concordado, depois que o derrotei da última vez, que deixaríamos as pessoas pensarem que ele estava morto... pra todas intenções e propósitos ele estava tão morto quanto o possível. Veja bem, Voldemort não estava vivo de verdade há muitos anos. Estava existindo num tipo de meia-morte, se segurando nesse mundo por pura força de vontade e pelo poder de sua maldade. Aquele que não tem vida não pode ser morto. Pensávamos que eu tinha mandado-o tão de volta pra si mesmo que nunca teria acesso a seu poder novamente.
Hermione apenas balançava a cabeça, descrente. –Não acredito nisso!
-Enquanto as pessoas soubessem que ele ainda existia, sempre haveria aqueles dispostos a ajudá-lo a restabelecer seu poder. Pensamos que se todos acreditassem que estava morto, seu legado morreria também. – ele levantou os olhos pra ela. –Parece que subestimamos a teimosia do mal.
-Quem é esse "nós"?
-Eu, ministro Fudge... o chanceler da Federação, professora McGonagall. Só que agora... sou o único que sabe. Fudge e o Chanceler e os outros que sabiam me pediram pra fazer um Feitiço da Memória neles pra que nunca entregassem o segredo, pois não mais lembrariam. Confiaram que eu permanecesse atento e se ele mostrasse sinais de retorno, confiaram que eu lutasse mais uma vez. – Hermione olhava pro rosto dele, espantada. –Esse era meu maior peso, esse segredo, Hermione. Manter meu emprego em segredo de você não foi nada comparado a isso... E eu o carreguei sozinho, lutando contra a vontade de contar a alguém a cada minuto de cada dia.
-Mas outros já devem saber, se estão dizendo que Sorry é seu novo servo. E quando Allegra falou de seu novo mestre, devia estar se referindo a Voldemort também!
-Eu sei, isso é que me preocupa. Se ele está reunindo novas forças e enviando seus seguidores pra mim como demonstração de seu poder, então ele está pronto pra fazer um novo desafio.
Hermione levantou e começou a andar de um lado pra outro. –Temos contar a Laura de nossas suspeitas sobre Sorry.
Harry levantou a cabeça rapidamente, uma expressão de horror em seu rosto. –Não! Fora de cogitação!
-Ela merece saber! Pode estar em perigo!
-Hermione, ele não pode saber que estou atrás dele! Se contarmos a Laura, ela não vai conseguir segurar, vai dizer algo pra ele! Não posso mostrar minhas cartas tão cedo no jogo!
-Ainda não estou totalmente convencida que ele é mal.
O queixo de Harry caiu. –O que mais precisa pra se convencer? vê-lo explodir ônibus escolar cheio de crianças?
-Tudo até agora é tão circunstancial e informações de segunda mão...
-È assim que é nesse trabalho. Lembra quando te falei do paradigma da incerteza? Sabia que você nunca ficaria confortável com essa margem de erro.
-Devemos a verdade a Laura, pelo menos um aviso!
-Pra que ela precisa de aviso? Segundo você, Sorry é tão inocente quanto um cordeirinho! – os dois estavam quase gritando agora.
-Pare, Harry! Só estou tentando considerar todas possibilidades!
-Menos a possibilidade que se dissermos a ela alguma coisa pode arruinar qualquer chance que eu tenho de detê-lo! – os dois pararam, olhando-se com raiva... Parecia não restar mais nada a dizer.
Hermione se jogou sobre a cadeira junto a cama, sua raiva dissipando e sendo substituída por cansaço. –Como faz isso? – ela disse, sua voz baixa novamente. –Como você toma essas decisões impossíveis quando a vida de pessoas está na balança?
Harry suspirou. –É meu trabalho.
-E fica mais fácil?
Ele cruzou o olhar com o dela. –Espero que não. – Hermione suspirou e afundou na cadeira. Harry esfregou a testa, e a franziu sem notar.
-Sua cicatriz está doendo?
-Um pouco. Dói como um machucado.
Hermione levantou devagar e se curvou sobre ele. Tirou o cabelo da testa dele com uma mão e gentilmente pressionou os lábios sobre a cicatriz. Recuando, ela sorriu pra ele. –Tente descansar – ela disse. –Chame se precisar de alguma coisa. –virou e saiu do quarto, sua longa saia fazendo barulho contra suas pernas. Harry a olhou ir embora, a dor em sua testa esquecida.
Na manhã seguinte Harry acordou muito mais tarde do que de costume, sentindo-se exausto. Esses ataques de inconsciência devem realmente tirar muito de mim, pensou, colocando as pernas pra fora da cama. Entrou na cozinha pra procurar algo pra comer e encontrou Hermione e Justino lutando pra enlatar molho de tomate . –Bem, bem... olhem quem está vivo! - Justino disse. –Tem um pouco de carne com repolho e batatas no congelador se quiser esquentar.
Harry fez uma cara de nojo. – carne com repolho e batatas, eca. É um dos favoritos de Duda, nunca consegui suportar.
-Como vai o querido Duda? – Hermione disse.
-Da última vez que soube, Valter tinha dado a ele o cargo de supervisor de produção na fabrica de brocas. É completamente incompetente, lógico, mas pra Valter ele é o próximo Branson. – ele procurou na geladeira e achou uns ovos. –Mas devo admitir que da última vez que os vi, os Dursley foram quase civis comigo. Fiquei pasmo. Acho que é menos nojento que eu seja, vocês sabem, tão desviado quando não estou mais morando sob o teto deles.
-Como está se sentindo? – Hermione perguntou.
-Estou bem. Um pouco cansado. – ele pegou a frigideira e começou a mexer os ovos. –Onde está Jorge?
-Viajou. Tinha aquela convenção da associação de vassouras nos EUA, lembra: aparatou hoje de manha.
-Droga. Queria que ele fizesse um daqueles bolos de nozes, estou morrendo de vontade de comer um pedaço. – essa frase foi respondida por vários gemidos de êxtase dos outros.
-Ah, isso seria um pedaço do céu – Justino disse.
-A caixa de receitas dele está bem ali, você mesmo pode fazer uma – Hermione disse, sorrindo. Todos sabiam que as habilidades culinárias de Harry se limitavam a fazer torradas.
Harry sentou a mesa com seu prato de ovos e olhou Hermione organizando as vasilhas, rótulos e tampas. –Então... Pensando em fazer um molho de espaguete? – ele perguntou.
-Há há. Vão durar o ano inteiro, sabe. – A porta dos fundos de abriu e Laura entrou, segurando algumas caixas de tomate. Harry e Hermione trocaram um olhar doloroso, lembrando da discussão que tiveram na noite anterior sobre ela, e então os dois ficaram bastante interessados no que faziam. Laura colocou as caixas sobre a mesa.
-Bom dia, dorminhoco – ela disse pra Harry. –Aqui está a última remessa – ela disse, virando pra Hermione. –Isso deve ser suficiente pro lote todo. – ela olhou dela pra Harry e depois pra ela novamente, sentindo algo estranho. –O que está havendo?
Harry levantou os olhos. –Nada! Nada, nada está errado. E aí, Hermione? – Hermione balançou a cabeça, ocupada, tentando abrir uma tampa teimosa de uma das vasilhas. Ela finalmente puxou a varinha e a folgou com magia. Laura deu de ombros e sentou pra limpar os tomates.
Eles continuaram suas respectivas atividades por alguns minutos em silêncio quando alguém bateu à porta. –Eu atendo – Hermione disse, levantando. Todos a ouviram abrir a porta.. –Fred! – ouviram exclamar. –Que bom... o que foi? – passos rápidos se aproximavam da cozinha e alguns segundos depois Fred Weasley, parecendo apressado e chateado, entrou, Hermione logo atrás dele.
Todos levantaram, a expressão de Fred os deixando em guarda. –O que foi? – Harry perguntou.
-É Jorge – Laura pôs a mão no peito, enrugando as sobrancelhas em preocupação. –Fui dar uma passada na convenção com ele e... – ele parou pra correr a mão por seus cabelos ruivos. – ele estava bem a meu lado, virei pra olhar pra ele e... desapareceu bem na minha frente.
-O que? – Hermione disse, seu rosto branco de pasmo.
-Ele se foi. Jorge desapareceu.
Paradigma da Incerteza
Capítulo 5: A sorry mess
Geralmente, Hermione achava o encontro anual da Sociedade Internacional de Feiticeiros um dia interessante e agradável. Era uma chance de rever antigos amigos de Hogwarts, conhecer novos bruxo e bruxas, e aprender algumas coisas durante esse tempo... Sem falar que a comida e a atmosfera social eram um estouro. Esse ano, entretanto, estava distraída por seus pensamentos em Sorry e nas teorias de Harry.
-Hermione? Hermione!
-O quê? – ela disse, voltando ao presente. Minerva estava tentando chamar sua atenção. A diretora de Hogwarts olhou séria pra ela, com as mãos na cintura.
-Sua cabeça está em outro lugar, querida. O que está te distraindo?
Hermione suspirou. –Desculpe, estou preocupada. Tenho muitas coisas em mente.
Minerva se aproximou, colocando uma mão sobre o braço dela. –Isso não é por causa da carta que te enviei, é? Odiaria pensar que te fiz passar a noite em claro...
-Ah! Não, não é nada disso. Não posso te contar os detalhes, mas Harry não tem mais segredos pra mim.
Minerva a segurou pelo braço e a guiou até um banco próximo, sentando-a como se ela ainda fosse uma aluna e estivesse prestes a levar uma bronca. Ficou em pé na frente dela, uma expressão preocupada e séria no rosto. –Hermione Granger, eu poderia suspeitar que você não está feliz em seu emprego.
Hermione levantou os olhos pra ela, surpresa por essa observação perspicaz. –Por que acha isso?
-Bem, primeiro porque estamos conversando há horas e você ainda não o mencionou.
Hermione sorriu. –Acho que não posso te enganar, não é mesmo?
Minerva sentou ao lado dela, suspirando. –Eu deveria saber que depois da vida que você levou, nunca ficaria feliz em sentar atrás de uma mesa, lendo livros o dia todo. Precisa de animação, de um jeito de usar suas habilidades.
Hermione não disse nada por um momento. –Ah, isso é tudo culpa de Harry! – finalmente falou.
-Provavelmente.
Ela expirou pela boca. –Não sei o que fazer, Minerva.
-Algo vai aparecer. Com seu currículo, não vão te faltar empregos.
Ficaram em silêncio por um momento, olhando a multidão. Os olhos de Hermione pararam em uma mulher notável, conversando com o professor Flitwick na barraca do "Grêmio Vassoura". Ela era alta e parecia forte, com pele morena e cabelos muito cacheados. Sorria com uma boca cheia de dentes brancos enquanto falava. –Quem é aquela falando com Flitwick? – Hermione perguntou.
-Ah! Aquela é nossa atual professora de defesa.
-Ouvi falar dela! Lembro que tinha um nome diferente... Moneypenny ou algo assim?
Minerva riu. –Quinlan Cashdollar. Nome apropriado pra uma americana, não é?
-Ela é boa?
-Bem... Acabou de chegar ao fim de seu segundo ano. – Hermione concordou, impressionada. –Ela tem um campo de experiência vasto e amplo. Era do Esquadrão de Execução das Leis Mágicas na Associação Americana de Bruxos.
-Impressionante. Uma professora de Defesa Contra Artes das Trevas que realmente praticou o que ensina.
-Os alunos a adoram, é muito carismática. – Minerva cruzou o olhar com o de Cashdollar e acenou para que se aproximasse. A mulher se despediu de Flitwick e veio até elas, sorrindo.
-Minnie! – ela disse. –E aí?
-Quinn, quero que conheça a Drª Hermione Granger, uma de nossas egressas mais ilustres.
-Ah, a famosa Hermione! Sua reputação a precede – Hermione apertou a mão da mulher enquanto Minerva olhava para a barraca de caldeirões, onde Snape parecia estar prestes a começar uma discussão com o comerciante.
-Com licença – Minerva disse, se apressando para interferir. Cashdollar se virou pra Hermione.
-Sempre é um prazer conhecer os ex-alunos. Que ano você se formou?
-Turma de 98, Srtª Cashdollar.
-Ah, raios, me chame de Quinn. Então você estudou DCAT com uma mistura de professores.
Ah, sim. Quirrell, depois Lockhart...
-HÁ! Aquele idiota. Não podia espetar um vampiro com um forcado.
-Lupin, Gudgeon... Todos eles eram farinha do mesmo saco, menos Remo, claro. – ela virou um pouco a cabeça e encarou Quinn. –Devo dizer que essa é uma experiência nova pra mim, Quinn. As pessoas que sabem quem sou imediatamente me fazem perguntas sobre Harry.
-Quem, Potter? – disse, sorrindo. –Eu não preciso.
-Não me diga que o conhece!
-Na verdade sim. Trabalhei com ele quando estava na AAB.
Hermione segurou o braço dela e a puxou de lado. –Então você sabe sobre o trabalho dele.
-Ah, claro. – de repente, ela arregalou os olhos e parou de andar. –Ah, nossa! Eu esqueci! Ele disse pra manter o trabalho dele em segredo de seus amigos! Não falei demais, falei?
-Não, não, descobri sobre isso semana passada. – ela parou por um momento, pensando. –Mas só sei o que ele me contou. Pode me dizer se há mais alguma coisa?
Quinn apontou um outro banco pra Hermione, entre grandes figueiras que ofereciam bastante privacidade. –Está preocupada com ele.
Hermione respondeu que sim –Ele é meu melhor amigo. Preciso saber mais sobre o que ele faz, coisas que ele não me diria.
Quinn concordou com a cabeça e virou um pouco para encará-la. –Bem, a coisa é a seguinte, Hermione. Ele era famoso antes mesmo de se tornar um espião, mas isso não torna as coisas mais fáceis em nosso trabalho. Você tem que mostrar o que pode fazer e conquistar o respeito de seus colegas. Sempre há um período meio que de doutrinação. Quer saber sobre ele? Vou ser direta. Potter é bom... Ele é inteligente e é forte. Agora, não sei muito sobre espionagem, eu era apenas uma executora, mas quanto a espiões... Seu Harry é tão escorregadio quanto possível. É um dos bruxos mais poderosos que conheci, tenho certeza absoluta que não gostaria de enfrentá-lo. Uma vez o vi derrubar um cara duas vezes maior que ele sem usar magia.
Hermione engoliu em seco. –Suponho que ele seja bom pra ter sido promovido tão rápido.
-Isso mesmo, ele é o vice de Pfaffenroth agora, não é? Era apenas um bruxo da inteligência quando o conheci. Ele merece. – ela sorriu. – Costumava falar muito de você, sabe.
-É mesmo? – Hermione falou, sentindo seu rosto esquentar.
-Com certeza. Era sempre Hermione isso, Hermione aquilo, Hermione disse isso e se Hermione estivesse aqui, ela poderia nos dizer isso.
Hermione não sabia exatamente o que dizer. Pensava sobre sua resposta quando de repente lembrou de outra pergunta com a qual Quinn poderia ajudá-la. –Desculpa a mudança de assunto, mas... você conhece um bruxo chamado Sorenson Carlisle?
Quinn parou de sorrir e ficou séria imediatamente. –Sorry? Por que quer saber?
-Ah... É uma coisa que estou trabalhando com Harry.
-Bem, é melhor deixar isso pra ele, eu acho. Ele é profissional, não tente isso em casa. Sorry é um homem muito mal.
Hermione sentiu um frio no corpo todo. –Mal, como?
Quinn suspirou. –Ele tem más companhias. Companhias das trevas, se me entende. Pode-se dizer que ele é o novo garoto dourado deles... Pelo menos foi o que ouvi. Você parece surpresa.
-Mais preocupada. Uma de nossas companheiras de casa namora ele. – disse, num tom desolado.
-Se quiser ajudar sua amiga, então a mantenha longe dele.
-Não acredito que ela continuaria com ele se soubesse que ele é mal.
-O amor é cego, sabe. E quando não é cego, é simplesmente estúpido.
Harry estava sentando à sua mesa, perdido em pensamentos, quando uma bolha amarela do tamanho de uma bola de críquete flutuou para dentro da sala e falou com a voz do guarda do posto de segurança da entrada da D.I.
-Chefe Potter. Tem uma pessoa aqui querendo te ver. Ela não é autorizada. – a voz do guarda vinha com um tom inconfundível de desaprovação.
-Quem é? Como chegou aqui? – Harry perguntou, apesar de ter um bom palpite de quem era e de como chegara até ali.
-A drª Hermione Granger, ela aparatou. Chefe, preciso lembrá-lo das conseqüências de dar abertura à segurança desse prédio? Se o senhor entregou nossa localização...
-Eu conheço bem o regulamento, Agente, eu o escrevi. Faria bem se lembrasse sua posição na hierarquia de comando. Por favor, peça que ela espere um momento. – A bolha amarela desapareceu fazendo um pequeno "pop".
Ele mordeu os lábio, pensando. –Bolha – ele disse. Outra bolha, essa brilhando um azul claro, apareceu flutuando no ar diante de seus olhos. –Lefty?
Um segundo depois, uma voz profunda, grave era emitida da bolha. –Tudo bem, Harry? – era a voz de Lefty Mamakos, seu instrutor na DI, transmitida do escritório dele localizado no treinamento.
-Preciso de um conselho.
-E por que mais eu estaria aqui? Qual é o problema? Não, não... Deixe-me adivinhar... Teve que contar a seus amigos sobre seu emprego.
-Como você...
-Ouvi falar que você sofreu um tipo de ataque e pensaram que estava morto. Não é algo que se explique com umas mentirinhas. Fico feliz que não esteja morto, por falar nisso.
-Obrigado. Estou pensando se devo permitir uma civil a entrar na DI.
-Quem?
-Hermione. Ela está aqui agora mesmo e não tenho idéia de como me encontrou.
-Ela está te ajudando um pouco? Devia ter adivinhado.
-Não queria que ela tivesse feito isso. – ele disse. Sabia que não devia ter deixado Hermione pesquisar sobre aqueles feitiços com "sorry"... Depois que ela se interessa em uma coisa, não há como detê-la.
-Confia nela?
-Claro. Com minha vida.
-Então a decisão é sua. É o segundo no comando, pode autorizá-la a entrar, se quiser. O que está remoendo? Não, não... Deixe-me adivinhar de novo. Está relutante em deixá-la entrar nessa parte de sua vida.
-É perigoso. Não posso expô-la a nenhuma situação arriscada, apenas não posso.
-Ela estará a salvo enquanto estiver com ela.
Harry sorriu. –Obrigado. É bom saber que alguém confia em mim.
-Não pense assim, todos confiam em você e sabe disso. É o melhor aluno que já tive, Potter. Não precisa minha ajuda.
-Falo com você depois.
Harry saiu de sua sala, sua bolha azul flutuando a sua frente, e andou rapidamente pelos corredores até chegar ao posto de segurança da entrada. –Hermione! – ele chamou. Ela estava de pé em frente à mesa do guarda, segurando alguns papéis e parecendo desconfortável. –O que diabos está fazendo aqui? Como encontrou esse lugar? Este local é confidencial! – ele estendeu a mão pelo campo de segurança, segurou a mão dela e a puxou através dele.
Ela respirou fundo. –Não fique com raiva. Trouxe algumas informações.
-Não estou com raiva, só impressionado.
-Não foi tão difícil te encontrar. Estive trabalhando em feitiços para detectar seres metamórficos, então mudei um para lobisomens. Usei para achar Lupin no quartel general da Federação, depois aparatei. Usei um glamour para esconder meu rosto e depois o segui até que fiquei próxima o suficiente para colocar um talismã de ligação ao lar nele e quando aparatou para cá, usei um feitiço localizador para encontrar o quartel da DI. – ela deu de ombros. –Simples.
Harry apenas ficou olhando pra ela. Simples, ela disse. –Ainda acho que seria mais simples se você esperasse que eu chegasse em casa hoje.
-Bem, e eu lá sei quando você vai voltar pra casa ou mesmo se você vai voltar pra casa, Harry! – disse, irritada. Harry lamentou imediatamente, afinal, ela tinha razão. Não escapou da percepção dele que em algum nível, ela estava tentando provar que ainda era páreo para ser incluída novamente nas suas aventuras. Essa idéia o deixava nervoso, mas ao mesmo tempo a possibilidade de ter todas as habilidades dela a seu favor era atraente. A expressão irritada dela estava sumindo; parecia tê-lo desculpado. –Além disso, gosto de um desafio. Foi divertido.
Ele riu, balançando a cabeça. –Você nunca para de me impressionar, Hermione. Venha. – ele segurou a mão dela e a guiou pelo labirinto dos corredores. Hermione olhava o chão, onde a bolha azul acompanhava os passos deles alguns metros à frente.
-O que é aquilo?
-Uma bolha de babel. Um pequeno feitiço que usamos para segurança e comunicação. As salas e corredores desse prédio são mudados periodicamente, nunca sei onde minha sala vai estar no próximo minuto. Cada pessoa autorizada a estar aqui tem sua própria bolha de babel que reconhece apenas essa pessoa. Quando chego, minha bolha sai de seu jarro e me leva aonde quero ir. Se alguém entrar aqui sem autorização, nunca encontraria o que está procurando sem uma bolha, as salas ficam mudando e essa pessoa vagaria eternamente. – A bolha de Harry os guiou por mais algumas esquinas até que ele viu sua sala no fim do saguão, uma porta larga, pintada de vermelho e com uma raio amarelo sobre ela.
-Humm. Esse é o símbolo que tem em sua capa? – ela perguntou de olhos arregalados e expressão inocente.
Ele lançou um olhar ameaçador. –Agradeço se não rir. Nomes chamam muita atenção. – ele tocou a fechadura com a varinha e ela abriu. –Bem vinda a meu escritório. Meio desarrumado.
-Já vi piores.
Harry sentou atrás de sua mesa e ocupou as mãos revirando os papeis. –Agora, vai me dizer do que isso se trata.
Ela sentou em uma das cadeiras do escritório dele e colocou suas pastas sobre a mesa. –Bem, vasculhei todos livros de feitiço que encontrei não achei nenhum que começasse com "sorry" que seja interessante... A não ser que Leland estivesse interessado na média de crescimento das madrágoras ou em como alisar o cabelo de alguém.
Ela se recostou em sua cadeira, os dedos sob o nariz, pensativo. –Beco sem saída então.
-Acho que você estava certo sobre ser um nome... E descobri mais uma coisa. Algo perturbador.
-O que foi?
-Bem, hoje eu fui pra convenção da SIF. Conheci uma amiga sua. Quinlan Cashdollar.
Harry fez que sim com a cabeça. -Ah, sim. Quinn. O que ela estava fazendo na convenção da SIF? Ela não é uma executora?
-Não é mais. Ela acabou seu segundo ano de ensino de DCAT em Hogwarts.
-Mesmo? Deve ser muito boa.
-Perguntei a ela sobre Sorry.
-E?
Hermione suspirou. –Disse que ele é um homem muito mal. Só faltou dizer que ele trabalhava pra forcas das trevas. Ela o chamou de o novo garoto de ouro deles.
Harry apenas olhou pra ela por um momento, em silêncio. Fechou os olhos e balançou a cabeça. –Ah nossa. Eu realmente não suspeitava desse nível de envolvimento.
-Ainda não estou convencida. Não consigo acreditar que ele seja tão mal depois de tudo que fez por Laura e pelo ambiente... Por que mudar pro lado das forças das trevas quando tem tanta coisa dando certo pra ele?
-Sei que é sua afeição por Laura falando, mas temos que nos lembrar que não conhecemos o homem. Nem sempre as pessoas precisam de motivos para virarem más, sabe.
-Tentei tirar informações sobre ele de Laura. Nada que ela disse sobre ele pareceu notável pra mim, mas ela me disse uma coisa muito interessante.
-O que foi?
-Bem... Laura nasceu trouxa. A mãe e avó de Sorry a transformaram em bruxa através de um ritual chamado "Passagem" e Sorry também teve seu papel nele.
Harry piscou. –Sim, eu chamaria isso de interessante. Já tinha ouvido falar desse procedimento antes?
-Não, nunca. Já tinha ouvido falar de meio para amplificar ou aumentar os poderes de alguém, mas nunca gerar em alguém que não os tinha.
-O que essa Passagem envolve?
-Pareceu muita visualização simbólica. Laura falou em rios de sangue e florestas de espinho, mas ela sempre estava ciente que fisicamente continuava no banheiro onde o ritual foi realizado porque viu as palavras "tam htab" no...
Harry ficou tenso, sentindo um peso no estomago. –Tam htab? – ele perguntou.
Hermione afirmou com a cabeça, confusa. –Sim. "Bath mat" ao contrario. Meu Deus, Harry... O que foi? Está branco feito papel!
-Hermione... Leland Stormare só diz duas coisas: "sorry" e "tam htab". – ela fechou os olhos, suspirando. –Agora, pensando nisso, ele também mencionou rios de sangue e florestas de espinhos. Ficaram em silêncio por um instante. –Acho que isso tira qualquer dúvida sobre o envolvimento de Sorry com o que aconteceu com Leland.
-Por que submeter Leland a uma Passagem? Ele já é um bruxo!
-Então a verdadeira pergunta é: qual o efeito que o ritual teria em alguém que já tem poderes mágicos?
Os olhos dela se arregalaram. –Você acha que pode ser usado em sentido oposto? Tirar os poderes de alguém?
-Não sei, mas acho imprescindível que a gente descubra.
Antes que Hermione pudesse responder, uma bolha de Babel verde apareceu no ar. –Sim, Remo? – disse Harry.
-Acho melhor você vir até a Detenção – veio a voz de Lupin da bolha.
-Por que? O que aconteceu? – ele disse, trocando um olhar com Hermione.
-Capturamos alguém em quem acho que está interessado.
-Já vou descer – Harry levantou, olhando pra Hermione. –Você vem? – ela sorriu e o seguiu pra fora da sala.
A Detenção era um salão confortável que não parecia mais sinistra que uma sala de estar suburbana. Dois bruxos com uniforme preto e prata estavam à porta; saudaram Harry quando ele entrou no cômodo. Lupin já estava lá, junto com um bruxo magro e pálido que parecia ser o carcereiro. Sentada no sofá estava uma mulher. Era extremamente bonita, de um jeito duro e insensível, de traços finamente esculpidos e longos cabelos negros que brilhavam sob a luz suave. Harry balançou a cabeça que sim ao vê-la, nem um pouco surpreso dela estar ali. –Foi o que pensei. –virou pra Lupin. –Quem a trouxe?
-Dois agentes da Infiltração e Reconhecimento acharam o rastro dela no Surrey. Eles a pegaram a caminho de um tipo de reunião e é tudo o que eles sabem. Ela não vai falar com ninguém além de você.
-Não é surpresa. – ele virou pra Hermione. –Essa é Allegra Blackburn-Dwyyer, umas das bruxas das trevas mais notáveis dessa parte do mundo.
-Ela não devia estar numa cela ou algo assim? – Hermione sussurrou.
-Ah, ela está – Lupin disse. –Só porque não se pode ver as grades, não significa que não estejam ali.
Allegra levantou. –Já era hora de você vir aqui embaixo, Harry. Estava esperando. – ela olhou ora Hermione. –Bem, bem. Essa deve ser a famosa Hermione. É exatamente como você descreveu. – Hermione olhou pra Harry, parecendo um pouco assustada dessa pessoa saber seu nome.
Harry entrou parcialmente na frente dela. –Você só precisa se preocupar comigo. Quer me dizer aonde ia e com quem ia se encontrar?
-Tinha hora marcada pra fazer o cabelo – a mulher disse áspera, cruzando os braços e olhando para o mundo como uma fortaleza impenetrável.
Harry virou, segurando Lupin pelo braço e o afastando, gesticulando pra que Hermione se juntasse a eles. –Ela não está falando, Harry. – Lupin disse.
-Não no momento, mas ela vai falar com a gente, disso eu tenho certeza.
-Como pode ter tanta certeza? – Hermione sussurrou, olhando pra Allegra. –Ela me parece bem durona.
-Ela é, ela é bem durona realmente. Dura o suficiente pra estarmos atrás dela há anos e nunca a capturamos nenhuma vez. E então, hoje, do nada, dois bruxos da I&R numa patrulha de rotina a pegam a caminho de um encontro?
-Ela queria ser pega. – Lupin disse.
-Ela tem uma mensagem pra gente e se deixou capturar pra que pudesse entregá-la. –virou pra Allegra.
-A conferência acabou? – ela disse. A voz dela estava baixa e rouca. Ficou lá de pé, com as mãos em seus quadris desenhados, parecendo incrivelmente entediada com a situação toda.
-Allegra, se tem algo a me dizer, sugiro que acabe logo com isso pra que possamos continuar com nossas vidas.
Allegra não estava nem olhando pra ele, olhava pra Hermione. –Ele está escondendo tanto de você, sabe – falou. Hermione engoliu em seco. Não queria exatamente ouvir, mas não conseguia desviar os olhos. –Acha que o conhece? Acha que ele precisa de você? Está cega, minha irmã.
Harry avançou, seus olhos brilhando. –Não fale com ela – ele rugiu. –Nem olhe pra ela, está ouvindo? – virou pra Hermione. –Não ouça. Não ouça nenhuma palavra que ela diz. –olhou novamente pra Allegra, um olhar fatal. –Ela mente. – ele disse, sua voz monótona.
Allegra recuou alguns passos. –Sabia que ia me descobrir, Harry... Nunca pude te enganar por muito tempo. Realmente tenho uma mensagem pra você... de meu mestre.
-Seu mestre? – Lupin perguntou.
-Vocês o verão em breve – todos três trocaram olhares preocupados. –É poderoso, meu mestre... seu novo servo o ajudará a tomar o que é dele de direito. –levantou a cabeça bem alto. –E enquanto o servir, ninguém poderá me deter. – ela deu um largo sorriso, cheio de dentes brancos, emoldurado por lábios vermelho-rubi. –Adorei te ver novamente. E te conhecer, Hermione. Lembre do que te disse, pois poderá te salvar. – e com isso, ela se foi.
Todos na sala pularam –Droga! – Lupin gritou.
Hermione deu uns passos à frente, colocando a mão sobre o feitiço de contenção que fora posto em volta de Allegra; estava intacto. –Como ela fez isso? Não devia poder aparatar, devia?
-Absolutamente não – Harry disse em voz baixa, olhando severamente pra o ar onde Allegra estava alguns segundos antes. –Essa sala é selada. Não sei como ela saiu.
-Vou investigar tudo, Harry – Lupin disse.
-Bom. Me mantenha informado. – ele acenou com a cabeça pra Hermione e eles saíram da sala, liderados pela bolha de babel azul de Harry.
-Mulher interessante – ela disse, neutra. Harry levantou a mão e a parou no meio do corredor de tijolos.
-Hermione, espero que não dê o mínimo de credito ao que ela disse – ela desviou o olhar, inquieta... Harry podia ver que sim, ela deu pelo menos um pouco de credito àquilo. –A verdade é antiética para personalidade de Allegra, não a reconheceria se andasse até ela e a mordesse na bunda.
-Ela estava certa sobre uma coisa... não acho que te conheço tanto quanto achava.
Harry apenas olhou pra ela. –Você é a única pessoa que me conhece – disse, seu tom normal, como se isso fosse a coisa mais obvia do mundo.
Mais tarde naquela noite, Harry estava sentado no jardim de inverno lendo um livro quando a campainha tocou. Laura e Justino ainda não tinham chegado do emprego e Jorge estava no mercado, então ele levantou pra atender.
Abriu a larga porta da frente e seu sorriso de boas-vindas diminuiu um pouco. Em pé à porta estava um homem vestido com terno bem feito, caro. Era descomunalmente bonito, de traços esculpidos e vastos cabelos loiros. Ele deu um largo sorriso. –Ah! Harry! Fico satisfeito de finalmente conhecê-lo! – exclamou, avançando para apertar a mão de Harry.
Harry manteve sua expressão agradável com esforço. –Olá, Geraldo. – em sua cabeça, podia ouvir Jorge brincando "Ger-aldo! Ger-aldo!" – ele limpou a garganta. –Entre. –deu um passo pro lado para permitir que o namorado de Hermione entrasse, olhando feio pras costas do homem. –Hermione está lá em cima, vou chamá-la. Fique a vontade. – Geraldo entrou na sala enquanto Harry subia as escadas. –Hermione! Geraldo está aqui!
Ela colocou a cabeça pra fora do quarto. –Desço daqui uns minutos. Comporte-se.
Resmungando, Harry voltou pra sala, onde Geraldo estava pendurado na ponta de um pequeno divã dourado. Harry sentou em sua cadeira favorita. –Então – ele disse, decidindo ser agradável com o homem. –Pra onde vão hoje?
Geraldo se mexeu desconfortável, parecendo estar muito pouco à vontade. –Hã... é uma festa dada por meu chefe.
-Você trabalha em que mesmo?
-Sou vice-presidente da Spellbound Books, somos a maior editora de textos e referências bruxos. Alguns de nossos best sellers incluem todos os volumes do "Livro padrão de feitiços", a coletânea de trabalhos de Gilderoy Lockhart e a maioria dos textos padrões. – Harry acenou com a cabeça, educadamente ao que com certeza era parte de seu discurso de vendas. –Sou encarregado dos Testes e do controle de Qualidade. Superamos nosso recorde de vendas este ano, o CEO está dando um grande sarau para dar parabéns à equipe.
-Isso parece... bom. – Harry disse, tentando lembrar se já tinha ouvido alguém realmente usar a palavra sarau antes de agora.
-Bem, vamos ter um bom jantar e dança, esse tipo de coisa. É uma ocasião meio extravagante.
-Hermione é ótima dançarina.
-Eu sei. Ela é muito paciente comigo, receio ter dois pés esquerdos. – ele deu aquele sorriso iluminado pra Harry novamente. Harry apenas continuou balançando a cabeça, o sorriso agradável grudado em seu rosto começando a cansar. Geraldo levantou e parecia estar reunindo sua coragem. –Harry, só quero que saiba que gosto muito de Hermione, e sempre a tratei com respeito...
Harry levantou as sobrancelhas. –Não precisa prometer que vai trazê-la pra casa antes das onze, sabe. Ele é uma mulher crescida; não sou pai dela.
-Eu sei, mas você... você sabe, você é Harry Potter, e... bem, ela leva muito em conta o que você acha...
-E eu o que ela acha. Ela gosta de você, é o suficiente pra mim. Não precisa fazer uma entrevista pra ter permissão pra levá-la pra sair. –os dois ficaram em silêncio. Geraldo sentou tenso no divã, olhando para as paredes e teto da sala, pros moveis no chão, pra qualquer lugar menos pra seu anfitrião. Harry apenas ficou sentado olhando feio pra ele, sua habilidade de fingir ser amigável reduzindo-se a zero.
Os dois levantaram os olhos ao ouvir os sapatos de Hermione nas escadas. Geraldo levantou e foi para o saguão de entrada, Harry parou na porta enquanto Hermione descia. A visão dela fez algo estranho em seu estômago, parecia que ele tinha ido numa montanha-russa sem consultá-lo. Hermione geralmente se vestia informalmente, com um guarda-roupas cheio de saias de lã, calças, casacos de gola em V, e camisas de gola alta; praticidade era a ordem do dia com ela. Geralmente prendia os cabelos num rabo ou numa trança, para mantê-los fora de seu caminho e não era fácil de ser vista sem seus óculos de leitura ou na cabeça ou pendurados no pescoço por suas correntinhas de contas. Hoje, entretanto, ela usava um vestido brilhante e elegante, sem alças, de cor violeta, reluzindo milhares de pequenas faíscas até seus pés. Uma corrente de pedras e contas violetas flutuavam ao redor de seu pescoço e seu cabelo estava empilhado num elegante coque sobre a cabeça, alguns cachos mais longos deixados mais frouxos para cair em seus ombros. Ela sorriu para Geraldo, uma mão de luva correndo pelo corrimão enquanto descia pelas escadas. Quando seus olhos passaram por ele até Harry; ela parou e o sorriso dela hesitou. Harry percebeu que devia estar com uma expressão muito estranha, mas não conseguia conter; um tremor passou por ele quando seus olhares se cruzaram por um momento. Hermione desviou o olhar e deu um sorriso ainda mais largo para Geraldo, que esticou o braço pra tomar a mão dela quando alcançou a base das escadas. –Você está linda –disse, beijando sua bochecha.
-Obrigada – ela disse. –Você também.
Harry piscou, o mundo voltando ao lugar ao seu redor. O que acabou de acontecer? Pensou. –Foi um prazer conhecê-lo, Harry. – Geraldo disse, abrindo a porta. Hermione parou, olhando a chuva do lado de fora e se voltou pra sorrir pra Harry.
-Tenha uma boa noite – foi tudo o que Harry conseguiu dizer. Ele olhou enquanto ela aceitou o braço de Geraldo e ele levantou sua varinha, murmurando um feitiço pra impelir a chuva; saíram pra varanda e fecharam a porta atrás deles.
Harry suspirou e voltou para seu livro. Várias horas se passaram em silêncio, exceto por trovões e booms periódicos do lado de fora, mas ele percebeu que tinha que ler a mesma pagina várias vezes porque sua mente não se concentrava na primeira. Eventualmente, ouviu a porta de trás abrir e foi pra cozinha, onde Jorge estava entrando com sacolas de mantimentos. –Nos dê uma mão, Harry? – ele disse entregando um grande peru congelado. Harry colocou no freezer.
-Bem, conheci o famoso Geraldo.
-Foi? Como ele é? – Jorge perguntou, colocando os vegetais na caixa de gelo.
-Ah, você sabe. Bonito, charmoso, rico, bem-vestido... um pesadelo perfeito.
-Hermione parece gostar dele. Tenho certeza que ela não tem problemas pra mantê-lo na linha. O que ele... – Jorge parou, tendo virado pra descarregar mais sacolas... o rosto de Harry estava completamente rígido e branco como papel. –Harry? Você está bem?
Os olhos de Harry vagarosamente giraram pra olhar Jorge. Ele podia sentir se aproximando como um trem desgovernado. Segurou a borda da mesa, mas quando veio, o derrubou. A dor, rasgando por sua cicatriz e cavando implacavelmente por seu cérebro atrás de sua testa como se agulhas de tricô quentes entrasse em seu crânio. Jorge avançou para segurá-lo quando uma onda enegrecida tomou sua visão ele caiu em cima da mesa.
Harry abriu seus olhos vagarosamente, meio que esperando a dor atingi-lo na testa novamente, mas nada aconteceu. Estava no quarto de hóspedes do primeiro andar, sob pesadas colchas da larga cama de colunas. Por um instante, apenas ficou olhando diretamente para cima, para o material do dossel da cama, e então ouviu um pequeno movimento a seu lado. Virou e viu Hermione sentada em uma cadeira junto da cama com seus cotovelos sobre o colchão, o rosto nas mãos. Ainda estava usando o elegante vestido com o qual saíra, mas o cabelo dela estava todo desarrumado. Uma luz brilhou do lado de fora e ele pode ouvir a chuva batendo contra o vidro da janela.
Ele limpou a garganta e ela abaixou as mãos, revelando o rosto marcado por lágrimas. Ela sorriu pra ele. –Você está bem?
Ele afirmou com a cabeça e lutou pra se erguer. Hermione levantou e colocou um braço atrás dos ombros deles, ajudando-o a ficar sentado. –Parece que sim. Você não teve que me acordar novamente, teve?
-Não – ela disse, colocando uma xícara de chá para ele. –Não foi o feitiço necrominético dessa vez, você estava apenas inconsciente.
-O que você está fazendo aqui? Não devia estar se divertindo com Geraldo?
Ela balançou a mão impaciente pra ele. –Jorge me mandou uma coruja, vim pra casa imediatamente.
-Harry olhou pra xícara de chá em seu colo. –Não precisava ter feito isso.
-O que preferia que eu fizesse? Que ficasse naquela festa completamente chata enquanto você estava aqui? Acho que não.
Ele deu um pequeno sorriso, mais grato pela presença dela do que poderia dizer. –Foi diferente dessa vez.
-Mais fraco? Não acionou o feitiço... Talvez estivesse mais distante.
-Não. Estava mais perto.
Hermione franziu a testa. –Isso não faz muito sentido.
-Eu sei. Não sei como explicar, mas tenho a sensação que o que quer que estivesse sentindo estava mais perto dessa vez... Mas mais suave, como se não quisesse me atingir tão forte.
-Isso é loucura, Harry. Se as forças das trevas estão te atacando então não iriam ligar se estivessem te machucando.
-Só sei o que sinto.
Ela pegou um envelope que estava sobre a mesa de cabeceira. –Isso chegou há alguns minutos.
Ele pegou, examinando a letra do envelope. –É de Sabian.
-Quem é Sabian?
-Meu melhor agente. Se um humano pudesse ser um fantasma, seria ele. Pedi que fizesse umas perguntas discretas sobre Sorry e que mantivesse o ouvido grudado no chão. –abriu o envelope e leu o bilhete, Hermione observando seu rosto nesse tempo. Finalmente ele dobrou o papel novamente.
-Noticias boas ou ruins?
-Bem, não posso dizer que são boas. Sabian disse que tem ouvido muito o nome de Sorry, mas nunca o viu e quando começou a perguntar, descobriu algumas coisas preocupantes.
-Como o que?
-As conversas por aí dizem que Sorry é... – ele parou, hesitando. –É o novo tenente de Voldemort.
Hermione apenas ficou sentada. –Harry, Voldemort está morto. Você o matou. você disse que alguém estava tomando o lugar dele e usando seus métodos... talvez Sabian quis dizer que Sorry é o novo tenente dessa pessoa.
Harry mordeu o lábio e depois virou pra ela, encarando-a com um olhar penetrante. –Hermione, preciso te dizer algo, uma coisa que não pode sair desse quarto. – ela fez que sim com a cabeça. –O fato é... Voldemort não está morto.
A expressão dela congelou como se não tivesse certeza de como responder. –Como é? Ele não está morto?
-Não muito, não. – ele baixou os olhos pra colcha, evitando os olhos dela. –Ficou concordado, depois que o derrotei da última vez, que deixaríamos as pessoas pensarem que ele estava morto... pra todas intenções e propósitos ele estava tão morto quanto o possível. Veja bem, Voldemort não estava vivo de verdade há muitos anos. Estava existindo num tipo de meia-morte, se segurando nesse mundo por pura força de vontade e pelo poder de sua maldade. Aquele que não tem vida não pode ser morto. Pensávamos que eu tinha mandado-o tão de volta pra si mesmo que nunca teria acesso a seu poder novamente.
Hermione apenas balançava a cabeça, descrente. –Não acredito nisso!
-Enquanto as pessoas soubessem que ele ainda existia, sempre haveria aqueles dispostos a ajudá-lo a restabelecer seu poder. Pensamos que se todos acreditassem que estava morto, seu legado morreria também. – ele levantou os olhos pra ela. –Parece que subestimamos a teimosia do mal.
-Quem é esse "nós"?
-Eu, ministro Fudge... o chanceler da Federação, professora McGonagall. Só que agora... sou o único que sabe. Fudge e o Chanceler e os outros que sabiam me pediram pra fazer um Feitiço da Memória neles pra que nunca entregassem o segredo, pois não mais lembrariam. Confiaram que eu permanecesse atento e se ele mostrasse sinais de retorno, confiaram que eu lutasse mais uma vez. – Hermione olhava pro rosto dele, espantada. –Esse era meu maior peso, esse segredo, Hermione. Manter meu emprego em segredo de você não foi nada comparado a isso... E eu o carreguei sozinho, lutando contra a vontade de contar a alguém a cada minuto de cada dia.
-Mas outros já devem saber, se estão dizendo que Sorry é seu novo servo. E quando Allegra falou de seu novo mestre, devia estar se referindo a Voldemort também!
-Eu sei, isso é que me preocupa. Se ele está reunindo novas forças e enviando seus seguidores pra mim como demonstração de seu poder, então ele está pronto pra fazer um novo desafio.
Hermione levantou e começou a andar de um lado pra outro. –Temos contar a Laura de nossas suspeitas sobre Sorry.
Harry levantou a cabeça rapidamente, uma expressão de horror em seu rosto. –Não! Fora de cogitação!
-Ela merece saber! Pode estar em perigo!
-Hermione, ele não pode saber que estou atrás dele! Se contarmos a Laura, ela não vai conseguir segurar, vai dizer algo pra ele! Não posso mostrar minhas cartas tão cedo no jogo!
-Ainda não estou totalmente convencida que ele é mal.
O queixo de Harry caiu. –O que mais precisa pra se convencer? vê-lo explodir ônibus escolar cheio de crianças?
-Tudo até agora é tão circunstancial e informações de segunda mão...
-È assim que é nesse trabalho. Lembra quando te falei do paradigma da incerteza? Sabia que você nunca ficaria confortável com essa margem de erro.
-Devemos a verdade a Laura, pelo menos um aviso!
-Pra que ela precisa de aviso? Segundo você, Sorry é tão inocente quanto um cordeirinho! – os dois estavam quase gritando agora.
-Pare, Harry! Só estou tentando considerar todas possibilidades!
-Menos a possibilidade que se dissermos a ela alguma coisa pode arruinar qualquer chance que eu tenho de detê-lo! – os dois pararam, olhando-se com raiva... Parecia não restar mais nada a dizer.
Hermione se jogou sobre a cadeira junto a cama, sua raiva dissipando e sendo substituída por cansaço. –Como faz isso? – ela disse, sua voz baixa novamente. –Como você toma essas decisões impossíveis quando a vida de pessoas está na balança?
Harry suspirou. –É meu trabalho.
-E fica mais fácil?
Ele cruzou o olhar com o dela. –Espero que não. – Hermione suspirou e afundou na cadeira. Harry esfregou a testa, e a franziu sem notar.
-Sua cicatriz está doendo?
-Um pouco. Dói como um machucado.
Hermione levantou devagar e se curvou sobre ele. Tirou o cabelo da testa dele com uma mão e gentilmente pressionou os lábios sobre a cicatriz. Recuando, ela sorriu pra ele. –Tente descansar – ela disse. –Chame se precisar de alguma coisa. –virou e saiu do quarto, sua longa saia fazendo barulho contra suas pernas. Harry a olhou ir embora, a dor em sua testa esquecida.
Na manhã seguinte Harry acordou muito mais tarde do que de costume, sentindo-se exausto. Esses ataques de inconsciência devem realmente tirar muito de mim, pensou, colocando as pernas pra fora da cama. Entrou na cozinha pra procurar algo pra comer e encontrou Hermione e Justino lutando pra enlatar molho de tomate . –Bem, bem... olhem quem está vivo! - Justino disse. –Tem um pouco de carne com repolho e batatas no congelador se quiser esquentar.
Harry fez uma cara de nojo. – carne com repolho e batatas, eca. É um dos favoritos de Duda, nunca consegui suportar.
-Como vai o querido Duda? – Hermione disse.
-Da última vez que soube, Valter tinha dado a ele o cargo de supervisor de produção na fabrica de brocas. É completamente incompetente, lógico, mas pra Valter ele é o próximo Branson. – ele procurou na geladeira e achou uns ovos. –Mas devo admitir que da última vez que os vi, os Dursley foram quase civis comigo. Fiquei pasmo. Acho que é menos nojento que eu seja, vocês sabem, tão desviado quando não estou mais morando sob o teto deles.
-Como está se sentindo? – Hermione perguntou.
-Estou bem. Um pouco cansado. – ele pegou a frigideira e começou a mexer os ovos. –Onde está Jorge?
-Viajou. Tinha aquela convenção da associação de vassouras nos EUA, lembra: aparatou hoje de manha.
-Droga. Queria que ele fizesse um daqueles bolos de nozes, estou morrendo de vontade de comer um pedaço. – essa frase foi respondida por vários gemidos de êxtase dos outros.
-Ah, isso seria um pedaço do céu – Justino disse.
-A caixa de receitas dele está bem ali, você mesmo pode fazer uma – Hermione disse, sorrindo. Todos sabiam que as habilidades culinárias de Harry se limitavam a fazer torradas.
Harry sentou a mesa com seu prato de ovos e olhou Hermione organizando as vasilhas, rótulos e tampas. –Então... Pensando em fazer um molho de espaguete? – ele perguntou.
-Há há. Vão durar o ano inteiro, sabe. – A porta dos fundos de abriu e Laura entrou, segurando algumas caixas de tomate. Harry e Hermione trocaram um olhar doloroso, lembrando da discussão que tiveram na noite anterior sobre ela, e então os dois ficaram bastante interessados no que faziam. Laura colocou as caixas sobre a mesa.
-Bom dia, dorminhoco – ela disse pra Harry. –Aqui está a última remessa – ela disse, virando pra Hermione. –Isso deve ser suficiente pro lote todo. – ela olhou dela pra Harry e depois pra ela novamente, sentindo algo estranho. –O que está havendo?
Harry levantou os olhos. –Nada! Nada, nada está errado. E aí, Hermione? – Hermione balançou a cabeça, ocupada, tentando abrir uma tampa teimosa de uma das vasilhas. Ela finalmente puxou a varinha e a folgou com magia. Laura deu de ombros e sentou pra limpar os tomates.
Eles continuaram suas respectivas atividades por alguns minutos em silêncio quando alguém bateu à porta. –Eu atendo – Hermione disse, levantando. Todos a ouviram abrir a porta.. –Fred! – ouviram exclamar. –Que bom... o que foi? – passos rápidos se aproximavam da cozinha e alguns segundos depois Fred Weasley, parecendo apressado e chateado, entrou, Hermione logo atrás dele.
Todos levantaram, a expressão de Fred os deixando em guarda. –O que foi? – Harry perguntou.
-É Jorge – Laura pôs a mão no peito, enrugando as sobrancelhas em preocupação. –Fui dar uma passada na convenção com ele e... – ele parou pra correr a mão por seus cabelos ruivos. – ele estava bem a meu lado, virei pra olhar pra ele e... desapareceu bem na minha frente.
-O que? – Hermione disse, seu rosto branco de pasmo.
-Ele se foi. Jorge desapareceu.
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