Último Dia



Último Dia

Harry ficou sentado no telhado da torre de Gryffindor, com os olhos perdidos no horizonte. Sob a luz das estrelas e da lua, via a água do lago mexer-se em subtis ondas, acompanhando os movimentos da lula gigante, e as árvores de troncos largos da floresta cheia de sombras.


Podia fugir. Imaginou-se correr pela floresta, atravessar os seus perigos, sabendo que ninguém o seguiria. Arranjaria um veleiro, quando chegasse junto à costa. E, então, partiria, sem olhar para trás. Conheceria terras distantes, e desvendaria os seus segredos. Sabia que havia magia espalhada pelo mundo, magia de outros povos e culturas. A sua pele seria queimada por mil sóis e saberia a sal, e ele seria livre.


Segurava a faca de pesca na mão direita, e a varinha na mão esquerda. Com os olhos cheios de lágrimas, deixou escapar um suspiro.


Nunca mais voltaria a aprender magia, se ficasse. Levantou-se. Mas tinha de ficar. Os sonhos começaram a desvanecer-se na noite.


Ele era o Herdeiro dos Potter, a Mansão da Cornualha continuava a ser a sua casa. Um lugar que ele amava, e ao qual pertencia. E se Ethan tivesse de combater Voldemort, ele não se perdoaria se não estivesse por perto para o apoiar. Não poderia manter contacto com Hermione, se não quisesse ser localizado. E mesmo que não o quisesse admitir naquele momento, gostaria de reconciliar-se com os seus pais.


- Eu não posso fugir. – Murmurou para si próprio. – Eu não posso fugir.


Começou a caminhar pelos telhados da escola. Sem destino. As mãos nos bolsos. Só queria manter-se afastado do seu dormitório.


O sol surgiu no horizonte, anunciando o seu último dia em Hogwarts.


Vivera ali apenas um mês e meio da sua vida, mas sabia que teria saudades. Ali havia magia, conhecimento e diversão a espreitar a cada esquina. Passeou-se pelos corredores vazios do castelo, deambulando sem destino, como se quisesse observar tudo por uma última vez.


Abriu as portas das salas de aulas, e atreveu-se a entrar na sala de poções. Subiu até à Torre de Astronomia. Sentou-se no pátio interior, onde ele e Hermione tinham passado horas a fazer trabalhos de casa. Sorriu ao ver túlipas azuis a crescerem a um canto, recordando o dia em que ela lhe contara como gostava de túlipas azuis. Escreveu as suas iniciais atrás de uma estante da biblioteca.  


Encontrou Hermione adormecida à porta da sala comum dos Gryffindor, quando subiu para começar a empacotar as suas coisas. A sua cabeça estava apoiada no ombro de Draco, que dormia profundamente contra a parede. Daphne Greengrass e Blaise Zabini estavam deitados no chão, ao lado de Hermione.


- O que estás aqui a fazer? – Harry murmurou.


Hermione abriu os olhos, pestanejou. Quando o reconheceu, levantou-se de um salto com um sorriso, abraçando-o.


- Onde é que estiveste? – Ela perguntou – Estávamos à espera que voltasses para te contar as novidades!


Draco, Blaise e Daphne espreguiçavam-se e bocejavam atrás dela. Zabini estalou as costas. Hermione deixou escapar um bocejo antes de continuar.


- O Snape escreveu para Durmstrang! – Ela disse – Mesmo depois do Dumbledore se ter recusado a fazê-lo. Ele disse que era muito provável seres aceite.


Primeiro, foi como se não tivesse ouvido. Depois, os seus lábios abriram-se num sorriso, e abraçou Hermione girando-a no ar. Havia uma hipótese de não ir para uma escola muggle.


- Vocês foram falar com o Snape? – Perguntou, olhando para as quatro pessoas à sua volta. – Obrigado. Muito obrigado.


- Na realidade, a Granger e o Draco foram falar com o Snape. – Greengrass contou – Os teus pais levantaram problemas, assim que souberam pelo Dumbledore. Porque Durmstrang é uma escola de feiticeiros negros, e tal. O Draco comentou o assunto comigo. E eu arrastei o Blaise…


- O pai dela trabalha no Gabinete de Execução de Lei Mágica. – Blaise acrescentou.  


- O que significa que eu cresci a ouvir as leis mágicas, e sei que é ilegal impedir a educação de um jovem feiticeiro, a não ser que ele tenha sido condenado a Azkaban. Significa, por isso, que ainda que possas ser expulso de Hogwarts, com desculpas esfarrapadas, é ilegal os teus pais impedirem-te de estudar magia, se fores aceite em alguma escola. – Daphne explicou com um sorriso.


- E nós viemos relembrar-lhes disso. – Blaise concluiu.


- Uau…- Harry suspirou, maravilhado. Conseguia imaginar as caras de James e Lily, ao serem relembrados da lei que defendiam como Auror por uma miúda de onze anos. E não conseguia acreditar que três Slytherin com os quais sempre se simpatizara, mas nunca considerara verdadeiramente amigos, o estavam a ajudar tanto – Eu não sei como vos agradecer.


- Tu meteste-te em problemas por minha causa. Era o mínimo que podia fazer. – Draco sorriu.  


- Eu e a Daphne gostamos apenas de desafiar a autoridade. – Blaise encolheu os ombros, com um sorriso divertido nos lábios.


- E dormiram aqui só para me darem as novidades? - Harry fintava-os, espantado.


- Hum…Vamos ter História da Magia. – Draco comentou – Compensa qualquer noite de sono perdida.


- Oh. Não. – Hermione passou a mão pela testa – Vou ter Transfiguração. A McGonagall vai matar-me.


Todos se riram. Foram tomar banho, e vestir roupas lavadas. Pela primeira vez, Harry concordou com o chapéu seleccionador: teria ficado melhor nos Slytherin.


Encontraram-se com os Slytherin antes do pequeno-almoço, e Harry e Hermione sentaram-se na mesa das serpentes. Conversavam animados sobre dragões e fénix, discutindo qual venceria o outro numa luta – Harry nem sequer se conseguia lembrar como foi que o assunto surgira – quando Dumbledore passou por eles.


- Uma fénix venceria. – Insistia Hermione – O Dragão não a conseguiria matar com fogo, enquanto a Fénix arranjaria modo de atacar o Dragão, é mais ágil.


- Miss Granger, Mr. Potter, tenho de vos lembrar que o vosso lugar é na mesa dos Gryffindor? – Dumbledore perguntou.


- Eu fui expulso. – Harry encolheu os ombros – Acho que é indiferente, onde me sento.


- Mas Miss Granger…


- As regras de Hogwarts não proíbem os alunos de se sentarem na mesa de outras equipas. Na realidade, os próprios fundadores incentivavam ao convívio entre as diferentes casas. Isto é…Slytherin tinha sempre aquela questão do sangue…- Draco Malfoy cortou, para surpresa geral. 


- E não o incomoda o sangue de Miss Granger, Mr. Malfoy? - Os olhos de Dumbledore pousaram no loiro. 


Hermione olhou para baixo. Daphne lançou um olhar de desdém ao director: que tipo de professor se atrevia a fazer insinuações daquelas? Harry franziu as sobrancelhas, não percebendo a razão do ataque.


- Não, Professor. – Draco respondeu, educada e friamente – Os tempos mudaram. Slytherin viu feiticeiros a serem perseguidos e mortos por muggles que temiam o nosso poder. Era natural que quisesse garantir a segurança do nosso mundo, não lhe parece? Ele valorizava o sangue puro, por garantir a tradição. Mas, hoje, o nosso mundo encontra-se bem escondido. E a única coisa que importa é a aptidão, não o sangue. E a Hermione é uma das feiticeiras mais talentosas que conheço.


Harry viu Hermione corar com o elogio de Malfoy. Dumbledore ficou perplexo. Os seus olhos azuis pestanejaram, e os lábios entreabriram-se ligeiramente.


- Muito bem. – Dumbledore suspirou – Mas esperava que se preocupasse mais em criar laços com os Gryffindor do que com os Slytherin, afinal é aquela a sua Casa.


Dumbledore afastou-se com estas palavras. Hermione ficou a fintá-lo por um momento, com uma expressão séria e determinada. Provavelmente, ficara magoada com as insinuações do Director, mas escolheu ignorá-las. Escolheu não se preocupar com o que Dumbledore achava. 


- Maldito. – Acabou por suspirar. – Surpreendeste-me, Malfoy. Admito que te achava preconceituoso…er…pelo historial da tua família.


- Sim, o meu está em Azkaban por ter sido um Devorador da Morte. – Draco acenou, sem qualquer emoção – Ele ter-se-ia safado, se não fosse a palavra do Auror James Potter. Não sei como seria se ele tivesse por perto. Honestamente, pelo modo como a minha mãe fala dele, parece melhor que não esteja. Ela nunca o amou, mas sempre teve de fingir que concordava com os ideais dele. Foi um casamento arranjado, e ela não queria desiludir a sua família. Ela contou-me que a minha avó não aguentaria mais uma desilusão, depois da fuga do seu primo e o casamento da sua irmã.


Narcisa Malfoy fora em tempos conhecida como Narcisa Black. Sirius fugira, percebeu Harry. Identificou-se com ele por momentos, relembrando o desejo de fugir sobre o qual meditara nessa madrugada. Mas os pais de Sirius eram assassinos, e estavam do lado das trevas. Os pais de Harry, tal como ele, combateriam pela luz, quando a guerra chegasse. Sabia que os motivos de Sirius tinham sido superiores aos seus. E não se arrependeu de ter ficado. 


- Ela nunca chegou a ser uma Devoradora. Limitou-se a apoiá-los, o que ainda hoje se arrepende. Mas sempre sentiu que não tinha escolha. Acima de tudo, depois da Tonks, a filha da minha tia Andromeda, nascer. Ela queria conhecer a sua sobrinha, e não lhe preocupava que ela fosse meio-sangue, mas não pôde. E com a prisão do meu pai, encontrou a sua própria voz. – Continuou Draco.


Todos escutavam em silêncio. Draco falava num tom neutro, como era seu costume, mas não conseguiam não reparar no quanto lhe custava falar do pai.


O pequeno-almoço acabou. Foram todos para as respectivas aulas, enquanto Harry foi fazer a sua mala de regresso. Depois, foi ao escritório de Snape.


- Eu queria agradecer-lhe, Professor. – Harry disse – Por ter escrito a carta de recomendação para Durmstrang.


- Igor Karkaroff disse para ir para Durmstrang o mais cedo que conseguires. – Snape informou-o – Tens entrada imediata, se passares no exame.


- Obrigado, senhor. – Harry agradeceu.


- Tenta não mostrar o quão idiota consegues ser a poções. – Snape sibilou – Eu tenho uma reputação a manter.


- Certo, senhor. – Harry não conseguiu evitar sorrir. Snape era sempre Snape. – Tenho a certeza que a sua reputação se manterá intacta, independentemente do eu faça.


Snape abanou ligeiramente a cabeça. Ambos sabiam que Harry era bastante bom aluno a poções. E secretamente Snape admirava aquele sarcasmo politicamente correcto que Harry sempre usara desde a sua primeira aula de poções.


- Boa sorte, Potter. – Snape disse.

- Obrigado, Professor. - Harry agradeceu, mais uma vez. 


Harry saiu do seu gabinete. Snape suspirou. Sabia, no fundo, que Hogwarts perdera um aluno extremamente talentoso para Durmstrang. 


Deambulou pelas masmorras à procura de Daphne, Draco e Blaise para se despedir.


- Acho que só vos queria agradecer mais uma vez. – Harry sorriu – Isto é uma lista de feitiços bastante útil. São os feitiços simples que o Ethan nunca aprendeu a bloquear.


Blaise agarrou na lista, com um ar maravilhado, e um sorriso perigoso nos lábios.


- Boa sorte, Harry. – Daphne disse-lhe. E abraçou-o. Era estranho e parecia certo, ao mesmo tempo. – Nós não vamos deixar que ninguém se esqueça do que aconteceu. Garanto.


Harry olhou para ela desconfiado, mas não fez perguntas. Conseguia dizer pelo seu tom que estava a falar a sério, e que não iam fazer nada de bom.


- Não deixem a Hermione sozinha, sim? – Harry perguntou, preocupado com a sua amiga.


- Não te preocupes. – Daphne sorriu. 


- A Daphne já a adora. – Draco comentou – E somos amigos dela, Potter.


E era verdade, percebeu Harry. Os acontecimentos dos últimos dois dias, tinham criado laços naquele grupo. Sentiam-se como se sempre se tivessem conhecido. 


A despedida mais difícil foi a de Hermione.


Deu-lhe o seu colar de dente de tubarão, e deixou-a chorar no seu ombro. Prometeu escrever. Obrigou-a a prometer que escreveria, também. Disse-lhe para ignorar o Ethan. Ela disse-lhe para se divertir em Durmstrang, e provar a todos o seu valor. Mas não havia palavras para expressar as saudades que iam ter um do outro. 


Não se despediu do irmão. Não tinha para dizer a Ethan.


E apanhou o comboio em Hogsmeade, de volta à Plataforma 9 ¾. Era o único passageiro. Uma viagem solitária numa tarde de céu cinzento, como era típico em Inglaterra. Foi a ler, e a imaginar como seria a sua vida futura. 


Os seus pais esperavam-no em King’s Cross. Tinham voltado através da rede de Floo. Nenhum dos dois estava satisfeito por ele e para Durmstrang, e não o escondiam. Fizeram várias críticas à escola. Primeiro, por ser localizado numa zona inóspita e gelada, onde ninguém desejaria estar. Depois, por só aceitarem estudantes puro-sangue. E, acima de tudo, por os treinarem nas Artes das Trevas. 
 


N/A: Talvez achem que o James e a Lily não merecem o perdão do Harry, mas ele ainda só tem 11 anos, a sua relação com os pais afecta-o, mesmo que inconscientemente. E que ele, se calhar, não o queira. De qualquer maneira, o Lucius Malfoy está preso. Espero não ter desiludido ninguém ao não fazer do Draco um aprendiz de Devorador da Morte.


E próximo capitulo vai ser Durmstrang, mas vão continuar a saber o que está a acontecer em Hogwarts.


 


Ceci96 e Vitoria67: Obrigado pelos comentários! Continuem a comentar, porque é super motivante. 

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Comentários (3)

  • vitoria67

    desculpa esqueci a nota

    2013-05-15
  • vitoria67

    desculpa pela demora em responder. mais e claro que seria muito legal se o draco nao  fosse um comensal. e novamente concordo com ceci tambem to p*** com estes pais .....se nao fosse o severo sei la mais so quero ver quando o harry mostrar quem e ele... a cara de boco deles vai ser ddddd+++++.vitoria 

    2013-05-15
  • Ceci96

    Mas é claro que eu não me desiludir! Era a coisa que eu mais queria que acontecesse, Draco Malfoy não sendo um Cominsal da Morte! Ainda to meio P*** com James, Lily e Dumbledore. E o que foi aquilo de Dumbledore TENTAR atissar os Sonserinos?! Mas gostei muito!! Eu deixo você atualizar mais kkkkkkkkkkk to de brink's 

    2013-05-14
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