Guelracho



Harry gostava que aquele baile se tivesse prolongado para sempre. Ele e Alice foram dos últimos a sair do salão. Ele fez questão de a levar até à porta da Torre de Ravenclaw e dar-lhe um último beijo, antes de voltar para as Masmorras.


 


Harry,


Parabéns pela tua vitória sobre o Cauda-de-Chifre. Mas mantém-te alerta. Ainda só realizaste uma tarefa e quem te inscreveu para o torneio ainda tem muitas oportunidades para te fazer mal. Mantém-te vigilante.


- Ele parece o Moody. – Suspirou Daphne, que lia a carta por cima do ombro de Harry.


Segue um canivete que tem ferramentas para abrir qualquer fechadura e desfazer qualquer nó. Desculpa isto estar ligeiramente atrasado em relação ao Natal, mas o Dinzanfar trocou os calendários, porque achou divertido e só hoje é que me resolveu dizer.


Como foi esse baile?


 Abraço, Sirius 


- Bastante útil. – Harry abriu e fechou a faca do canivete com um sorriso – Então, diz-me lá, Daph, o que se passou com a Granger? Ela saiu a chorar do baile…


- Não faço ideia. Eu e o Cass estivemos o tempo quase todo lá fora. Ah! E o Hagrid é um meio-gigante. – Daphne sorriu – Ele passou com Madame Maxime, tu sabes, ele foi com ela ao baile e depois devem ter ido lá para fora. E ele falou-lhe da mãe que era uma gigante, e parecia achar que Madame Maxime, também, o era, mas ela negou-o. Disse que tinha ossos grandes.


- Mas ela, também, deve ser. – Draco comentou – Os gigantes são perigosos…


- Ele não é propriamente perigoso, pois não? – Harry perguntou.


- Não. Mas não tem noção do perigo que são os animais que têm tendência para adorar. – Draco comentou.  


Harry foi ter com Alice, logo no dia a seguir ao baile. Ficou à espera que ela entrasse ou saísse da Torre dos Ravenclaw.


- Olá. – Ele disse, com um sorriso, quando a viu sair.


As amigas dela lançaram-lhe sorrisinhos, mas ela disse-lhes para irem andando e aproximou-se dele.


- Olá. – Ela respondeu, aproximando-se. – Queres ir…hum…andar?


- Parece-me óptimo. – Ele pôs o braço à volta dela, e deu-lhe uma túlipa.


Conversaram, enquanto viam o pôr-do-sol sob o lago. Estava frio, e estavam sentados no meio da neve, com um fogo azul para os aquecer, agarrados e trocavam alguns beijos. Dias depois, toda a gente em Hogwarts os chamava de namorados. 


A segunda semana da Páscoa foi dedicada a trabalhos e estudo.


Harry dedicou-se seriamente ao ovo. Sentou-se no chão da Câmara dos Segredos e deixou-o gritar até que os seus tímpanos já não aguentassem. Ainda ouvia zumbidos, quando o fechou. Mas, pelo menos, agora sabia uma coisa: aquele grito não era humano. Nenhum humano conseguiria gritar tão alto e tão regularmente por um período tão longo de tempo.


Já excluíra as criaturas que emitiam gritos. Começou a andar às voltas. Mata Kemantian observava-o com uma expressão divertida.


- Então, já ouvimos isso três vezes, alguma conclusão ou estamos os dois apenas um pouco mais surdos? – Perguntou o Basilisk.


- E tão inútil como tentar falar contigo, se não percebesse serpentês. – Suspirou Harry. – Estarias apenas a sibilar, tal como isto está apenas a gritar. Será isto uma outra língua como o serpentês? O que tenho de fazer para a compreender?


- Tenho a certeza de que é bastante lógico. – O Basilisk replicou – Tem de ser alguma coisa que tu consigas fazer ao ovo, não pode ser algo como o serpentês.


- Uma língua que eu compreenda com algo que eu faça ao ovo? – Harry repetiu, parando de caminhar.


Fechou os olhos. Já lera sobre línguas que não se propagavam no ar, havia seres do fogo, seres subaquáticos… Apontou a sua varinha ao ovo e envolveu-o em chamas. Abriu-o com um toque da varinha, mas o som saiu tão estridente quanto antes. Suspirou frustrado. E lançou-o para dentro de água, e mergulhou atrás dele.


 


Vem onde as nossas vozes estão
Não podemos cantar acima do chão
E enquanto procuras, pensa assaz;´
Tirámos o que mais falta te faz.
Tens uma hora para procurar
E o que tirámos recuperar
Depois é tarde, e nunca mais o encontrarás.


A melodia, agora harmoniosa, entrou nos seus ouvidos. Harry voltou à superfície do lago.


- Então? – Perguntou o Basilisk.


- Não podem cantar acima do chão, o que significa que estão debaixo de água. O Lago, provavelmente. – Harry disse – Tiraram-me alguma coisa. E vou ter uma hora para o recuperar. Como é que eu vou respirar debaixo do lago durante uma hora?


- Não há descanso para o campeão de Hogwarts. – Mata Kemantian estava cheio de sarcasmo, naquele dia. 


Harry concluiu que deveria enfrentar uma qualquer espécie de sereia, famosas pelas suas canções.


As aulas recomeçaram.


Harry só soube o que acontecera com Granger na aula de Aritmancia.


- Ele achava que eu só não queria ir com o Neville por vergonha ou assim. E só quis ir comigo por segunda opção…E depois disse que eu estava a confraternizar com o inimigo ao conviver com o Krum – Ela murmurava frase meio soltas para cima de Harry durante a aula de Aritmancia – Ele é um idiota.


- Que novidade! – Harry suspirou, sarcástico. – O Krum parece fixe.


- O Viktor é um amor. – Hermione corou. Harry riu-se.


Um artigo sobre Hagrid saiu no Profeta Diário. Era acusado de ser violento e perigoso, revelado como meio-gigante e filho da temível Fridwulfa. Havia, também, uma referência ao facto de ter sido expulso no terceiro e ter cruzado caranguejos cauda-de-fogo com manticores, originando os explojentos, sem autorização do Ministério.


Crabble fizera uma declaração a Skeeter “Toda a gente odeia o Hagrid. O meu amigo Draco Malfoy foi atacado por um Hipogrifo o ano passado”.


- Ele não teve culpa do que aconteceu com o Hipogrifo. – Observou Blas, ao ler o jornal.


- Quem é que se importa? As aulas dele são uma treta, só espero que o despeçam. – Disse Crabble – Ele chumbou-me naquela estúpida disciplina. Alguém me pode dizer exactamente o que nós aprendemos?


Os desejos de Crabble pareciam realizar-se. Na aula desse dia, Hagrid fora substituído pela Professora Grubbly-Plank. Tiveram de mostrar o artigo a Weasley, para que ele parasse de perguntar o que acontecera a Hagrid. Foi uma verdadeira aula de Cuidados Com Criaturas Mágicas sobre unicórnios.


- Isto sim é uma aula. – Sorriu Daphne, enquanto acariciava o seu unicórnio.


- Como é que será que a Skeeter soube disto tudo? – Perguntou Harry, agitando o artigo. 


- Não sei. – Daphne encolheu os ombros – Ela, também, poderia estar escondida no meio dos arbustos…mas não me pareceu que ela estivesse por perto, só vi o Weasley e o Longbottom.


A meio de Janeiro, o fim-de-semana em Hogsmeade chegou. Foram à Arena ver uns quantos combates. Ash e Curtis divertiram-se a ouvir todas as novidades sobre o Torneio. E, depois, Harry foi ter com Alice ao Três Vassouras.


Encontraram Bagman, rodeado por um bando de duendes horríveis. Ele ofereceu ajuda a Harry para desvendar o ovo, mas o jovem recusou e disse-lhe que já tinha conseguido fazê-lo. Os duendes estavam à procura de Mr. Crouch, que continuava doente e não respondia às perguntas do Ministério. Bagman pusera, finalmente, alguém à procura de Bertha Jorkins.


Rita Skeeter passou por eles e parecia muito interessada em arruinar a vida de Bagman. Mas subitamente os seus olhos caíram sobre Alice.


- Então, e quem vem a ser esta jovem, Harry? Com quem tu te encontras sozinho no Três Vassouras? – Skeeter perguntou, e a Pena de Notas Rápidas começou logo a escrever ao lado dela.


- Anda daí, Al. – Harry disse, virando as costas a Skeeter.


- Al? – Ela perguntou com um sorriso.


- Er…Não sei… Pouco fofinho? – Harry perguntou – Acho que tenho a mania das alcunhas. E…se a Rita Skeeter te perseguir é por minha causa.


- Não te preocupes. – Alice sorriu – Ela pode tentar.


Beijou-o e sussurrou-lhe ao ouvido: “Eu gosto de Al”.


Harry abraçou-a, e começaram a caminhar de volta para o castelo. As semanas de aulas continuaram a passar, e Harry sentia-os cada vez mais próximos.


Mas o trabalho do quarto ano não perdoava.


- Plantas, plantas e mais plantas. – Malfoy atirou com o livro de Herbologia ao ar, na quinta-feira – Uma seca. Tenho saudades de jogar Quidditch.


- Não há Quidditch. Há boxe e karate, se quiseres. – Harry sorriu.


- Boxe. – Malfoy pôs-se de pé, e convocou os dois pares de luvas que Harry tinha com um feitiço.


Davam socos poderosos. Harry tinha ensinado Draco a aguentar-se bem. E lutavam sem protecções. Era uma adrenalina única.


- Anda lá, Potter. Consegues fazer melhor. – Draco disse, quando Harry falhou um dos seus socos.


Harry sorriu selvaticamente, e atacou Draco. O loiro arfou por uns segundos, e contra atacou agarrando Harry pelos ombros.


- Isso é tudo raiva das plantas, Draco? – Harry perguntou, ao cair sobre o sofá.


- Vocês são tão idiotas. – Suspirou Tracey. Daphne teve de encolher os pés para os retirar do caminho de Malfoy, mas sorria.


- Até parece que gostas de Herbologia, Potter. – Draco retorquiu, quando Harry contra-atacou, obrigando-o a recuar.


Fintaram-se frente a frente, ambos de luvas erguidas e movendo os pés, rapidamente.


- É bastante útil para Poções. – Harry ganhou abertura e conseguiu acertar em Draco – Mas eu neste momento só queria que a Herbologia me desse uma solução para o Torneio.


Draco foi ao chão e retirou as luvas. Harry ajudou-o a levantar-se.


- Corrida até ao Lago? – Draco perguntou.


- Esperem! – Daphne levantou-se, de um salto – Eu, também.


- Vocês são doidos. Está a nevar! – Comentou Millie.


Mas Harry já arrancara. Sem casacos ou agasalhos, cortaram os campos cobertos de neve, e atiraram-se para dentro de água. Riam-se perdidamente. Draco e Harry mandaram Daphne, novamente, para dentro de água, quando os três saíram do lago encharcados. Correram para os chuveiros e tomaram um duche quente.  


Só à noite na sua cama, enquanto meditava sobre as diversas plantas que tinha estudado, se lembrou de uma sobre a qual lera num livro: Guelracho.


Abriu o Mapa do Salteador. Snape não estava no seu Gabinete, o ponto estava assinalado com o ponto: Bartemius Crouch. O que estaria Barty Crouch, respeitador funcionário do Ministério e supostamente doente, a fazer no Gabinete do Professor de Poções em Hogwarts?


Harry agarrou na sua varinha. Subiu as escadas, silenciosamente. Quando chegou ao patamar do escritório de Snape, foi iluminado pela luz da varinha do Professor, que estava de camisa de dormir. E Filch estava ao lado dele.


- O que estás aqui a fazer a esta hora, Potter? – Perguntou Snape.


- Apareceu um nome no Mapa. – Harry limitou-se a responder. Sabia que Snape sabia exactamente a que mapa é que ele se referia.


- Uma festa nocturna, com que então. – Disse uma voz, no fundo das escadas que Harry acabara de subir.


- O Peeves andava por aqui. – Filch disse – E o Professor Snape descobriu que alguém arrombara o seu escr…


- Cale-se. – Disse Snape, rispidamente.


- Mas quem é que quereria entrar no teu escritório, Snape? – Perguntou Moody.


- Já aconteceu, suspeito que haja um grupo de alunos a tentarem fazer misturas ilícitas. – Snape respondeu.


- Parece que apanhaste o culpado. – Moody olhou para Harry – Parece o tipo de coisa que aqui o Potter tentaria fazer. A não ser que aches que não estavam lá ingredientes de poção, e escondesses lá alguma coisa?


- Sabes perfeitamente que não há nada, uma vez que tu mesmo revistaste o meu escritório. O Dumbledore confia em mim, lamento que a palavra do director não te seja suficiente.


- Há nódoas que não saem, Snape. – Moody afastou-se, arrastando a sua perna de pau.


Snape indicou a Harry que o seguisse, e levou-o para o seu gabinete.


- Eu não lhe retirei nada do Gabinete, senhor. Nem mesmo para fazer a Felix Felicis. – Harry disse.


- Eu sei, Potter. – Snape suspirou – E os ingredientes que têm desaparecido são de Polisuco. O que aconteceu com esse mapa? Que vejo que o Lupin te devolveu.


Harry contou-lhe como vira o nome Bartemius Crouch no Gabinete de Snape, na noite em que aparentemente fora roubado.


- Crouch em Hogwarts a assaltar o meu armário? Parece tão improvável. – Snape suspirou.


- Hum…Pois…Mas, na realidade, senhor. Eu estava a olhar para o mapa porque queria saber se ainda estaria por aqui. Eu gostaria de saber se me pode dar Guelracho?


- E para que queres tu Guelracho, Potter? – Snape levantou o sobrolho, convocando com a varinha um pequeno pote de vidro com uma estranha planta no interior.


- Garanto que tem a ver com o Torneio, senhor…É para a Segunda Tarefa. – Harry disse.


- Vai dormir, Potter. – Snape disse, dando-lhe o frasco. 

N/A: Estão a gostar? =) 

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Comentários (1)

  • Xandevf

    Estou a gostar sim, é que tive um falecimento na fámilia e não estou muito com vontade a escrever.

    2013-04-19
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