Os Fins Justificam os Meios -



Capítulo 12: Os fins justificam os meios –Parte I

N/A: Antes de mais nda me desculpem pela demora, mas não deu msm p postar antes. Já espliquei o porque. Quero agradecer a tds os coments, eles realmente demonstraram a ânsia de vocês em saber o q acontece. Desculpem se tiver mtos erro, não tive tempo de revisar o cap inteiro. Boa leitura!

Na manhã seguinte, ao acordar, Gina não queria abrir os olhos. A dor-de-cabeça era insuportável.
“Maldita poção! Eu não fiquei bêbada de verdade, mas estou com uma ressaca brava.” Pensou.
Seu raciocínio encontrava-se extremamente lento. Esticou um braço e percebeu que havia um corpo. Tateou-o, abraçando-o em seguida.
“Harry, por quê? Por que eu bebi tanto? Lembro que tomei uma poção para não ficar bêbada, mas veja como estou...Que preguiça de abrir os olhos e falar com o Harry, acho que é melhor ficarmos deitados mais um tempo. Ainda deve ser cedo.”
Ficou tentando pensar. E então percebeu que não via Harry há um bom tempo, lembrou-se que tinham terminado e ele era agora Ministro da Magia dos EUA. Se não era Harry, quem seria?
“Eu dormi com o Burgoux? Mas eu não me lembro disso. Acho que vou mesmo ter que abrir os malditos olhos, enxergar a maldita luz e com isso aumentar a maldita dor-de-cabeça.” Maldisse tudo mentalmente.
Abriu os olhos e encarou o indivíduo à sua frente, com o rosto distante poucos centímetros do seu. Era loiro, mas não era Burgoux. Os cabelos eram de um loiro muito claro, macios, lisos e alguns fios caiam por cima de suas pálpebras fechadas. Mesmo por debaixo das pálpebras, a Weasley lembrava-se bem demais dos olhos cinzentos dele e do sorriso irônico que seus lábios costumavam esconder. Havia dormido com Draco Malfoy?!? Reparou que ele estava sem camisa e que a camisa dele estava por cima de sua roupa debaixo. Não teve coragem de tatear pra saber se ele encontrava-se inteiramente nu. Levantou-se num segundo, assustada, até esqueceu sua dor-de-cabeça ao gritar:
-AAAHH NÃOOOOOO!
Enterrou o rosto nas mãos. Com o grito dela, Draco acordou:
-Virginia, fique quieta, sim? A minha cabeça vai estourar.
Teve medo, mas tinha que perguntar:
-O que aconteceu? Eu não lembro de nada!
Draco pegou sua varinha e fechou as cortinas brancas da cabine. Em seguida virou-se para ela:
-Como assim não lembra? –perguntou –Fizemos coisas incríveis. –disse, sorrindo malicioso.
-A minha vida acabou. –ela disse –Eu não acredito nisso! Não pode ser!
-Qual é a última coisa que se lembra?
-Eu te esperando na sua casa de veraneio, depois do jantar com Burgoux.
-Nós aparatamos aqui, no meu iate. Eu queria que você me contasse sobre o jantar.
-O que aconteceu depois?
-Você estava bêbada e me provocou, nós discutimos. Você passou mal e desmaiou. Então eu te trouxe aqui pra baixo.
-E cadê as coisas incríveis que você disse que fizemos?
-Você tem que concordar comigo que te ver entornando taças sem parar, insinuando coisas e desmaiando nos meus braços são coisas incríveis. Se eu contar ninguém acredita.
-E você? O que fez de tão incrível?
-Eu dormi com você, Virginia.
-Nós dormimos juntos, mas não ‘dormimos’ juntos, não é? Você mesmo disse que eu tinha desmaiado.
-Olha. Você estava suando, então eu tirei as suas roupas. Não todas. Eu te deixei de calcinha e sutiã.
“Lógico, ou não agüentaria o tesão e transaria com você mesmo estando desacordada.”
-Como você é consolador. –disse irônica.
-Mas então você ficou com frio, por isso eu coloquei a minha camisa em você e te cobri.
-Só isso?
-Por quê? Você queria mais? –perguntou, insinuante.
-Claro que não. –apressou-se em responder.
Draco sorriu. Não tinha transado com ela. Não teria a menor graça com ela desacordada. Ele queria vê-la implorando para que ele a possuísse e isso não seria possível naquela noite. Mas isso não significava que ele não tivesse feito nada...
Gina estava impregnada com o cheiro do perfume de Draco, mas não era apenas por causa da camisa.
Draco omitira o fato de ter contado a ela, em meio aos efeitos da bebida, seu plano de a possuir. De qualquer forma, Gina estava desacordada demais para se lembrar disso, ou mesmo das mãos e lábios dele percorrendo seu corpo. Era apenas algo como o aperitivo da refeição que logo viria. Draco contava os dias para a execução de seu plano.
O Malfoy tirou as cobertas de cima de si e Gina fechou os olhos o mais rápido que pôde:
-Abra os olhos, Weasley. Eu não estou nu. –ele garantiu.
Ela abriu os olhos. Ele usava apenas uma cueca samba-canção preta. O peitoral largo e definido à mostra, assim como sua barriga perfeita.
Controlou-se para não lamber os próprios lábios.
“Como o Malfoy é gostoso.” Pensou, mas no segundo seguinte arrependeu-se de tal pensamento “Não se deixe levar pela embalagem, Gina!” repreendeu-se.
-O que foi, Virginia? Gostou do que viu? –alfinetou.
Ela engoliu em seco:
-É mesmo muito convencido, Draco. Você não é tudo isso.
Ele sorriu:
-Hum...Não sou, é? –questionou –Será que interpretei mal o seu olhar de cobiça?
Ela atirou um travesseiro nele:
-Pare de insinuar coisas! –reclamou –Já disse que não sou nenhuma daquelas mulheres que fazem o que você quiser! Eu tenho amor-próprio, moral e...
Draco interrompeu-a:
-Eu por acaso disse que você era disso?
Ela fuzilou-o com o olhar:
-Você disse que eu tinha vendido o meu corpo para o Burgoux.
Gina nunca ficaria com ninguém por motivos profissionais, apenas se estivesse a fim da pessoa. Como ele então insinuava que ela costumava misturar seu trabalho com sua vida amorosa?
-Então se lembrou disso? Sim, eu disse. Você estava agindo como uma perfeita bêbada. Por que não poderia ter agido como uma perfeita...
-EU NÃO VOU ADMITIR QUE FALE ASSIM COMIGO! –ela se descontrolou –Nem termine essa frase, Malfoy, ou eu me demito agora mesmo!!!
Ele suspirou:
-Desculpe-me, Virginia, se eu a ofendi. Não era minha intenção, apenas estou estressado.
A Weasley respirou fundo. Tinha vontade de jogar tudo para o alto, mas não era de deixar as coisas inacabadas. Precisava prosseguir, nem que custasse todo o seu autocontrole:
-Está bem, Malfoy. Dessa vez passa, mas que não volte a se repetir, entendeu?
-Sim, eu entendi. –respondeu seriamente.
“Preciso tomar mais cuidado com o que digo.” Ele pensou.
Passou as mãos pelos cabelos, demonstrando cansaço:
-Não pense que pode fazer e falar o que quiser com os seus funcionários. Comigo não funciona assim. Não sou como as tolas que não vêem a hora de você levá-las para cama.
-De certa forma eu te levei pra cama... –ele murmurou.
-Sem gracinhas. –ela o cortou –Eu não aceitei trabalhar para você para ser sua escrava, muito menos escrava sexual. Então...
-Alto lá, você agora, Virginia. –Draco interrompeu-a –Por acaso eu já te disse que queria transar com você? –perguntou, forçando o queixo dela para cima, a fim de encará-la.
A Weasley ruborizou ao receber um olhar profundo dele:
-Bom, não, mas... –e não completou.
-Mas o quê? –ele quis saber.
-Você insinua. –ela respondeu.
-São apenas brincadeiras.
-Alguém alguma vez me disse que 50% de toda brincadeira é verdade, eu simplesmente concordo com isso.
-Está dizendo que eu tenho desejos sexuais com você? –perguntou, fingindo-se indignado e ela fez que sim.
“Eu sei que virou uma obsessão pegar essa ruiva, mas...será que estou deixando transparecer tanto assim?” perguntou-se.
-Então me diga o porquê de eu não ter aproveitado esta noite. –ela não respondeu –Não acha que deveria ter provas concretas antes de acusar alguém? Isso foi um grande deslize da sua parte, advobruxa.
Gina tirou a mão dele de seu queixo e ficou com raiva. Sabia que ele estava se referindo também a quando ela o tinha acusado de ser o mandante da MMVO:
-Quero tomar um banho. –ela mudou de assunto.
-Está vendo aquela porta ali? –e apontou para o lado direito –Lá é o banheiro, pode ir.
-Vire-se de costas, Malfoy.
-Quanta hostilidade, Virginia. –frisou o nome dela.
-Eu preciso me descobrir antes de ir até o banheiro, Draco. –também frisou o nome dele.
-Por que se preocupa? Eu já vi o que tem por debaixo dessa camisa. –respondeu despreocupado, fazendo-a ficar muito constrangida.
-Lembre-me de no futuro nunca mais desmaiar na sua presença, ok?
-Vai ou não tomar banho?
Ela tirou as cobertas e levantou-se:
-Sim, eu vou. –respondeu com firmeza e desabotoou a camisa dele.
Tirou a camisa e olhou-o, como se o desafiasse a fazer um comentário maldoso sobre sua atitude. Atirou nele a camisa:
-Por nada a camisa, Virginia. –disse ironicamente.
-E eu deveria te agradecer? –indagou, lançando um olhar quente e profundo para o chefe.
Draco cerrou os punhos, tentando conter-se ao ver a Weasley seminua à sua frente, apenas com um provocante conjunto azul-escuro de lingerie. A calcinha era baixa. O sutiã era bem cavado.
“Como é que ela tem coragem de me provocar dessa maneira?” perguntou-se.
Gina estava atuando, é claro. Aquela era a Virgínia dos tribunais, capaz de interpretar qualquer personagem com perfeição. O único resquício da outra Virgínia era as bochechas coradas que ela ostentava.
O loiro engoliu em seco:
-Vá logo tomar banho. –disse, tentando aparentar tranqüilidade.
-Incomoda tanto me ver assim em trajes de baixo? –perguntou inocentemente –Eu pensei ter ouvido você dizer que não possuía nenhum desejo por mim.
“A carne é fraca...Deus e Merlim, me ajudem! Do jeito que vai eu vou acabar agarrando a Weasley! Não posso fazer isso, é tática dela pra me ferrar! ” Draco desesperava-se internamente.
-Eu tenho mulher, Virginia. Ela não ia gostar de saber do que você está fazendo. Vai logo para o banheiro!
-E o que eu estou fazendo? –perguntou, se aproximando dele.
Draco recuou:
-Será que ainda está bêbada? Pare de me assediar.
-Ora, Draco. Não interprete assim. Apenas quero as minhas roupas e então irei para o banheiro. Não tenho a intenção de fazer nada demais.
Draco rapidamente pegou as coisas de Gina e entregou à ela:
-Pronto, aí está.
-Bom garoto. –respondeu jogando um beijo no ar pra ele e entrando no banheiro.
Draco não pôde ver que assim que fechou a porta do banheiro, Gina desencarnara a personagem da sedutora e ficara envergonhadíssima pelo que tinha feito.
Foi depois de Gina entrar no banheiro que ele percebeu que estava com uma ereção.
“Maldita, Weasley! Ela ainda me paga! Eu vou foder tanto ela que vai precisar usar pomadas anti-assaduras por uma semana!” pensou com raiva por ela deixá-lo naquela situação, dirigindo-se para tomar banho no banheiro de outra cabine.

***

Draco e Gina aparataram nos fundos da casa.
“O que os empregados vão pensar de mim se me virem chegar com ele às 8h da manhã? E a Narcisa? E o Lúcio? E a Eve?!?” Gina perguntava-se, desesperada.
O Malfoy abriu a porta dos fundos com cuidado. Logo que entraram, Draco recomendou:
-É melhor que aparate na frente do seu quarto e eu no meu. A essa hora já tem gente acordada e poderiam nos ver se fossemos andando.
Gina fez que sim e sem uma palavra, aparatou. Abriu a porta do quarto e fechou-a logo que passou. Foi ao banheiro escovar os dentes e ao se olhar no espelho percebeu o que não tinha visto enquanto tomava banho apressadamente no iate do Malfoy. Seu pescoço e colo tinham marcas arroxeadas.
“Caramba! Eu podia jurar que o Burgoux não tinha me deixado nenhuma marca.” Pensou, supreendendo-se.
De fato, William não havia mesmo. A culpa de Gina estar com aquelas marcas era de Draco. Sorte a dele da ruiva nem desconfiar quem realmente era o culpado...
Usou um feitiço para tirar as marcas. Saiu do banheiro. Planejava vestir seu pijama e acordar Eve.
Tirou a echarpe. Estava abrindo o zíper do vestido, quando escutou:
-Onde você dormiu, Tia Gina?
A Weasley engoliu em seco. O que diria para a sobrinha?
-Evelyn...É que eu tive muito trabalho. Então fiquei na biblioteca depois que voltei do jantar.
-Ah, Tia Gina! Assim não dá! Você parece mal. Vou dizer pro Tio Draco que você tem que descansar mais. –ela disse, indignada.
A advobruxa sorriu pela preocupação de Eve, mas respondeu:
-Não precisa dizer isso pra ele, Eve. Eu é que levo muito a sério o trabalho, sempre querendo fazer o melhor.
-Mas isso faz mal! A mamãe sempre diz pro papai que quando ele trabalha demais é errado e que ele tem que descansar. –disse em tom de quem sabe das coisas.
-Não se preocupe comigo, Evelyn. Apenas divirta-se.
-Mas eu quero brincar com você, Tia Gina.
Gina abraçou Evelyn:
-Isso não é possível agora. Mas saiba que estou fazendo o possível para que possamos voltar logo para a Inglaterra. Não sente falta dos seus pais?
-Sim. –ela respondeu, concordando tristemente.
-Vá escovar os dentes, Eve. Já está na hora de levantar.
Evelyn obedeceu, seguindo para o banheiro silenciosamente.
“Acho que ela não está feliz. Queria tanto poder dar mais atenção a ela, mas não posso. Tenho que trabalhar. Vou falar com a Narcisa. Quem sabe tem alguma outra criança na vizinhança com quem a Eve possa brincar.”

***

Ao chegarem à mesa da sala de jantar. Narcisa e Lúcio tomavam seu café-da-manhã:
-Bom dia, Narcisa, Lúcio. –cumprimentou, notando que Draco não estava à mesa.
-Bom dia, Tio Lúcio e Tia Narcisa. –Evelyn disse animadamente e foi sentar-se ao lado de Narcisa.
A advobruxa sentou-se à mesa:
-Poderia pedir-lhe um favor, Narcisa? –perguntou educadamente.
-Sim, é claro, Virginia.
-Estou com dor-de-cabeça. Não teria algum remédio?
A loira bateu palmas elegantemente e logo Marie apareceu:
-Deseja algo, Sra. Malfoy?
-Traga um remédio contra dor-de-cabeça para a Virginia.
-Que coincidência! –a empregada comentou –O Sr. Draco acabou de me pedir um também. –e retirou-se.
Gina sentiu suas bochechas esquentarem e olhou para baixo, ocupando as mãos em passar patê em uma torrada, mas podia sentir olhares sobre si.
“Droga! Aposto que devo estar corada!” pensou, desgostosa.
Alguns minutos passaram, com Weasley fazendo de tudo para não parecer preocupada. Mas de fato encontrava-se preocupada. E se descobrissem que ela e Draco haviam dormido fora? De certo que passariam a pensar mal sobre si e isso não lhe agradava nem um pouco, mesmo porque não fora sua culpa. Não merecia que pensassem isso sobre a sua pessoa. Não era esse tipo de mulher. Dormir com o chefe não fazia o seu tipo, principalmente se esse chefe fosse Draco Malfoy. Alguém inescrupuloso, um assassino, o chefe de todo um esquema de corrupção.
Se por um lado, era um homem atraente e fascinante por todo o mistério a sua volta, por outro, era perigoso e imprevisível. Não podia esquecer disso. De maneira relutante, apesar de por vezes negar, reconhecia que sentia uma ponta de atração por ele. Porém isso não significava que planejava deixar-se seduzir por ele. Não, na verdade, nem passava por sua cabeça a idéia de ir para a cama com ele. Bem, não no sentido buliçoso da palavra...
“Eu pretendo de hoje em diante passar longe da cama do Malfoy. Aliás, passar longe do quarto dele.” Foram as resoluções que vieram em sua mente.
Marie voltou e posicionou-se ao lado da Weasley, mas Gina estava por demais absorta em pensamentos para notar.
-Hum...Srta. Virginia. –a empregada disse calmamente, mas mesmo assim houve um sobressalto por parte da advobruxa –Desculpe, não pretendia assustá-la, mas veja, aqui está o seu remédio.
Sorriu:
-Obrigada, Marie. –pegou o pequeno copo de plástico descartável e tomou o líquido arroxeado que ali havia, tinha um gosto parecido com amora, mas era ao mesmo tempo amargo –Obrigada. –agradeceu.
-Por nada, Srta. Virginia. E tenho um recado do Sr. Draco para a Srta. Ele pediu para dizer que vá até o quarto dele após o café-da-manhã, pois se sente indisposto.
“Ops...” pensou, vendo ir por água abaixo a sua resolução de nem chegar perto do quarto dele.
Respirou fundo:
-Ok, Marie. Mas por acaso saberia dizer o porquê dele ter me chamado?
-Ele não me disse especificamente. Disse apenas que era algo meio pré-combinado entre vocês. – “Assim você me complica, Marie...” pensou desconfortável com o jeito que a empregada falara –Acho que foi só. Com licença.
Logo que Marie saiu do aposento, Gina mirou os presentes. Evelyn parecia brincar com o mingau, mas de maneira tediosa. Narcisa a observava de maneira profunda, como se quisesse ler os pensamentos de Gina. Lúcio Malfoy a olhava com grande interesse.
-É sobre a mulher do Burgoux. –Gina comentou.
Lúcio ergueu uma sobrancelha, gesto que já vira Draco fazer, a ruiva não pôde deixar de reparar:
-Como anda o caso, Virginia? –quis saber.
-Pois bem, Lúcio. Eu fui até a casa de Rose Burgoux conversar com ela sobre o ex-marido e também jantei com William Burgoux. Rose tem várias provas e deporia contra o ex-marido. Tentei fazer um acordo com Burgoux, mas ele não me quis ouvir. Então usarei as provas materiais e o depoimento de Rose contra Burgoux. O seu filho quer conversar com ela pessoalmente. É sobre isso que o Draco pretende falar comigo.
Assim que terminou sua refeição, Virginia pediu permissão para retirar-se e em seguida deu um beijo no rosto da sobrinha:
-Comporte-se, Eve. Promete?
-Sim, Tia Gina. –respondeu, sem ânimo.
-Narcisa. Não conhece nenhuma criança com a idade da Eve? Ela está se sentindo sozinha para brincar.
-Bem, tenho uma amiga que tem uma neta mais ou menos da idade dela. Vou ver o que posso fazer.
-Obrigada. –Gina agradeceu e subiu para seu quarto.
Escovou os dentes e agora que sua dor-de-cabeça havia sumido, decidiu arrumar-se melhor. Penteou os cabelos e vestiu uma calça social escura, com uma blusa azul de meia manga e tonalidade clara. Colocou um sapato preto confortável com algum salto. Decidiu colocar uma corrente no pescoço com um pingente com a letra “V”.
Dirigiu-se então para o quarto do Malfoy, com alguma apreensão, já que sua vontade era não olhar na cara do chefe. Não depois do que havia acontecido nas últimas horas.
Respirou fundo e então bateu à porta. Ouviu a voz dele, dando-lhe permissão para entrar, o que fez em seguida.
Draco encontrava-se de pijamas. Estava sentado na cama e suas costas estavam apoiadas na cabeceira da mesma. Tinha uma bandeja sobre as pernas, era óbvio que tomava café-da-manhã:
-Feche a porta e aproxime-se, Virginia.
A ruiva obedeceu:
-O que tem para falar comigo, Draco? –perguntou diretamente.
-Rose Burgoux.
-Desconfiava que se tratava disso.
-Então por que não disse?
-Poderia estar errada.
-Que falta de confiança é essa?
Gina ignorou a pergunta dele e fez outra:
-Quer que Rose venha até aqui ou irá até ela?
-O que você acha?
-Por que quer saber o que eu acho?
-Porque quero saber qual é a sua opinião. É melhor que ela venha até aqui ou que eu vá até ela?
-Está bem. –ela concordou –Acho melhor irmos até lá.
-Irmos? –levantou uma sobrancelha.
Gina cruzou os braços:
-É claro que eu vou. Não é nenhuma visita de diversão pra você, Draco. É o meu trabalho, eu tenho que estar lá. Preciso estar a par de cada palavra que trocarem.
-Ok. –e tomou um gole de chá –Ligue para ela e diga que você vai lá, não diga que eu vou.
-Posso saber por quê?
-Melhor prevenir do que remediar. –disse simplesmente –Faça o que eu disse, pode usar esse telefone. –disse, entregando-lhe o aparelho que estivera sobre a mesa-de-cabeceira.
Gina consultou a agenda de seu celular e então discou para Rose:
-Alô? Rose, é a Virginia. Estou ligando para dizer que vou aí hoje, está bem? Que horas? –Gina viu Draco mexer os lábios e disse o que ele queria –Daqui a pouco. Estou ligando apenas para te avisar. Até mais. –e desligou –Feito. –disse a Draco, devolvendo o telefone ao lugar que estivera anteriormente.
Draco levantou-se da cama.
-Fique aqui e não mexa em nada. –ele disse, se dirigindo para o banheiro.
A Weasley bufou ao ver a porta do banheiro se fechar. Observou atentamente o quarto.
Era um aposento grande e bem mobiliado. Havia um quadro de Draco na parede, mas não era um quadro trouxa. Era bem parecido com o Draco verdadeiro, o que a levava a perceber que havia sido pintado há pouco tempo. O Draco do quadro tinha uma pose de ostentação e confiança. Em seu rosto havia um olhar profundo e misterioso. Nos lábios um sorriso sexy. Ele olhava Virgínia com visível divertimento. A ruiva resolveu parar de olhar o quadro, já que possuía o mesmo poder de irritá-la que o verdadeiro. O guarda-roupa era enorme e havia um closet. Uma televisão ficava em cima de uma cômoda de madeira pura, com várias gavetas, as quais possuíam puxador de ouro com uns adornos em prata. Era incrível como Draco gostava de sofás, divãs e afins. Havia em seus escritórios e agora ela percebia que no quarto também. Era um sofá de couro negro. No centro havia uma mesinha com revistas em cima. Algumas tinham Draco na capa, ela percebeu. Um carpete macio e negro também cobria todo o chão do quarto. As cortinas eram de uma brancura que doía aos olhos após ter olhado para o carpete. Do teto, na parte central, pendia um majestoso lustre de cristal com várias lâmpadas. Gina lembrou-se de algo que seus irmãos costumavam comentar. Mesmo achando que eles não falavam sério, ela abaixou-se e olhou debaixo da cama. Havia uma caixa, mas ainda assim ela não acreditou. Puxou a caixa e remexeu seu conteúdo.
-Caramba! Eu não acredito que eles falavam sério. –ela disse baixinho.
Na caixa havia revistas e filmes indecentes. Rapidamente empurrou a caixa de volta no lugar. Nesse momento ouviu a voz de Draco:
-Nossa, Virginia. Não é todo dia que se vê de quatro uma advobruxa toda certinha como você.
A ruiva levantou-se e encarou-o, estava vermelha ao fazer isso:
-Sem piadinhas. –ela disse seriamente –O meu brinco tinha caído no chão, eu me abaixei para procurar. –mentiu.
O loiro deu de ombros e arrancou a camisa de seu pijama.
-Não faça isso! –a Weasley exclamou.
-Isso o quê? –quis saber.
-Eu estou aqui. Não se troque na minha frente.
-Ah, me desculpe. Foi a força do hábito... –comentou e foi para o closet.
“Força do hábito?” ela perguntou-se, pensando que Draco havia dito isso porque estava acostumado a se trocar no meio do quarto.
A verdade era que ele era acostumado a se trocar na frente de mulheres...
Após alguma espera, Draco saiu do closet. Já havia colocado os sapatos e a calça, mas vinha abotoando a camisa cinza. Quando terminou de arrumar a camisa, sentou-se na beirada da cama, tirou a gravata que estava pendurada no ombro e perguntou:
-Poderia fazer o favor de ajeitar a gravata para mim?
-E você não sabe fazer isso? –perguntou com desconfiança.
-Sim, eu sei. Eu poderia fazer isso olhando no espelho do guarda-roupa, mas isso não me apraz.
-Não te apraz? –a advobruxa perguntou indignada –Isso me parece preguiça...
Draco interrompeu-a:
-Custa você me fazer um favor? –perguntou sério –Eu disse que você podia contar comigo sempre que precisasse. Será que com você eu não posso contar nem para uma coisa mínima como um nó na gravata?
A ruiva engoliu em seco. Se ela se negasse, seria pior. Por ela já o ter acusado uma vez, percebia que Draco seria propenso a desconfiar de suas intenções facilmente. Não parecia ser difícil que ele se voltasse contra ela. Draco tinha todo aquele ar misterioso. Para Gina era impossível prever do que Malfoy era capaz. Não queria conseguir a confiança dele? Então teria que provar que a merecia, ou pelo menos fingir...
Sorriu ao responder:
-Claro que pode contar comigo, Draco. –e começou a fazer o nó –Eu apenas não me sinto confortável em estar a sós com você depois do que aconteceu na última noite. Eu peço desculpas por ter bebido demais e te dado trabalho. E também me desculpe se falei alguma besteira.
-Desculpo apenas se você responder algo.
A ruiva engoliu em seco ao perguntar:
-E o que seria?
Draco suspirou e parecia fazer mistério. Gina esperava que ele fosse lhe perguntar algo altamente importante, inconveniente ou constrangedor:
-A Evelyn é uma garota corajosa? –os olhos de Gina arregalaram-se de surpresa –Do que ela tem medo?
Sua expressão não ocultava o quanto não esperava por aquilo. Percebeu que havia terminado o nó na gravata dele, mas continuava segurando-a. Soltou:
-A Evelyn é dada a aventuras. –e os olhos de Gina se iluminaram ao falar da sobrinha –Acho que puxou o tio dela, Carlinhos. Só espero que não chegue perto de dragões. A Evelyn tem medo de escuro, medo de perder as pessoas que ama, medo de filmes de terror. Sabe por que ela tem medo de escuro? Por que ela acha que o bicho-papão virá pegá-la. Coitadinha. –falou, mas não pôde deixar de rir discretamente –Mas por que quer saber isso? Não está pensando em assustá-la, está? Eu não vou permitir que faça isso.
-Eu adoro a sua sobrinha, Virginia. Não tenho porque querer assustá-la. Apenas quero conhecê-la, é a única criança que eu não acho irritante e entediante.
-A Eve gosta muito de você, Draco. –Gina comentou –Então tome cuidado para não magoá-la.
-Está dizendo que eu seria capaz de fazer algo que magoasse a Eve? –perguntou indignado.
-Não. Apenas estou dizendo que por você não ser acostumado a lidar com crianças, talvez cometa alguma gafe. –apressou-se a corrigir –Crianças não são iguais aos homens de negócios com quem você lida, nem os bens que possui. Uma criança não se compra, se conquista. –“O que você deveria aplicar com as mulheres também, Malfoy.” Não pôde deixar de pensar –Mas estou certa em afirmar que você conquistou a Eve. Por isso não quero que ela sinta-se mal de alguma maneira por sua causa.
Draco segurou a mão de Gina:
-Será que eu posso contar com você para me ajudar a não cometer nenhum erro? –a ruiva ergueu as sobrancelhas levemente e Malfoy prosseguiu –A Evelyn é realmente importante para mim.
Virginia focou seus olhos castanhos nos cinzentos dele. Mirou-os profundamente, como se decidida a descobrir um fundo de mentira nas palavras dele. Não encontrou nenhum. Draco sustentou o olhar de maneira firme e clara. Gina convenceu-se de que ele deveria estar falando a verdade. Sentiu o polegar dele acariciar as costas de sua mão e então percebeu que sua mão estava na dele. Sua face esquentou consideravelmente e ela desconfiava que estava corada. Tratou de tirar a mão de Malfoy da sua e respondeu polidamente:
-Sim, é claro. Eu faria qualquer coisa pela Evelyn, para o bem-estar dela.
Draco sorriu com a resposta da advobruxa.
-Ela é como uma filha para você, não é? –perguntou brandamente e recebeu um gesto afirmativo por parte da Weasley –A Evelyn realmente cativa a todos. –comentou e então o seu tom tornou-se mais sério –Porém, receio que ela esteja sentindo falta dos pais. Ela tem estado um pouco tristonha.
-Sim. –concordou –Mas eu falei com a sua mãe e ela me disse que uma amiga dela tem uma neta da idade da Eve. Se as duas brincarem juntas, acho que será uma boa distração para a Eve.
-Que bom. –e deu um breve sorriso –Obrigado pela gravata.
-Obrigada por ter contado aquele conto de fadas para a Eve.
-Não foi nada.
Houve um silêncio curto, o qual foi quebrado pelo Malfoy:
-Vamos indo. –o loiro disse vestindo o paletó e andando em direção à mesa-de-cabeceira.
Virginia observou-o. Ele pegou sua varinha e apontou-a para o guarda-roupa, fazendo um feitiço não verbal, que logo ela percebeu ser um accio, visto que ele apanhou no ar uma arma e colocou-a por dentro do paletó. Ao ver o insistente e sério olhar da advobruxa sobre si, ele sorriu como que para tranqüilizá-la.
Saíram então do quarto, com Draco trancando a porta com um feitiço não-verbal:
-Normalmente tranco o meu quarto com um feitiço especial. –disse à guisa de comentário banal.
Começaram a se afastar do quarto, em direção à escada que dava acesso ao saguão de entrada.
-Por quê? –perguntou, tendo o cuidado de não soar curiosa demais –Há documentos importantes lá?
-Não, isso eu deixo no meu escritório. No meu quarto há algumas coisas ostensivas, mas sei que ninguém se atreveria a me roubar. Mas digo pelas coisas de valor sentimental, não quero ninguém as xeretando.
“E desde quando algo tem valor sentimental para o Malfoy? Essa é nova.”
-Não consigo imaginar o tipo de coisa que teria valor sentimental para você.
Draco não respondeu.
“O mesmo cara fechado de sempre!” Gina ficou com raiva. Como é que ela poderia penetrar o limite que ele impunha a ela? Weasley ainda não sabia, mas por certo que estava disposta a descobrir. Precisava fazê-lo se abrir com ela, mas como isso seria possível? Draco Malfoy parecia ser um enigma impossível de ser desvendado. Como conseguir a confiança de alguém que mede as palavras com o mesmo cuidado que um banqueiro avarento zela por cada centavo que possui em seu banco? Decididamente, colocar Malfoy em Azkaban era a meta mais alta que já havia imposto a si mesma em toda sua vida. Estava determinada a sondar até que encontrasse uma brecha e então se aproveitaria dela. Virginia sabia o quanto Draco aparentava ser controlado e queria ver por trás disso. Um dique é um paredão capaz de segurar o mar. Se há uma pequena rachadura num dique, a água começa a vazar e abrir passagem para que a vazão aumente cada vez mais. Tudo o que a Weasley tinha que fazer era encontrar essa rachadura, essa falha no caráter dele. Saberia gradativamente o que precisava, até achar o ponto crucial. A partir daí causaria uma onda capaz de derrubar todo o paredão que Draco havia construído para proteger seu verdadeiro e perigoso eu. Seria o auge da glória na carreira dela. O único problema...era o caminho. Como achar a fenda?
Logo estavam entrando na limusine e Draco cumprimentava o chofer, porém Virginia estava demasiadamente perdida em pensamentos gloriosos para prestar atenção a isso.
Estava num devaneio particularmente alto, no qual ela ganhava uma medalha de honra do Ministério e Harry a pedia em casamento em frente a todos, dizendo que ela era a mulher de sua vida...
-Virginia. –Draco chamou –Virginia. –insistiu, colocando a mão sobre seu ombro.
-Sim, Harry. –mas logo percebeu que era Draco a chamando e também percebeu o olhar assassino que ele lhe lançava –Desculpe, Draco. Eu estava...
-Sonhando acordada com o Potter. –ele disse, enojado –Sai dessa fossa, Virginia. Logo o Potter arranja outra mulher nos EUA e você ficará a ver vassouras.
-Para o seu governo, o Harry não é igual a você. –disse, antes que pudesse controlar sua língua.
-É óbvio que não sou igual a ele. Por Merlin que não! Mas o que você quis dizer com isso?
A Weasley arrependeu-se. E agora? O que responderia?
-Bem...Eu apenas não conheço você. E o Harry eu conheço muito bem.
-Quão bem você conhece o Potter? –perguntou com um sorrisinho zombeteiro.
-Tão bem como você nunca vai me deixar conhecer você.
Draco passou uma mão pelos cabelos antes de suspirar e dizer:
-Admira-me a sua vontade em me conhecer.
-Já disse, gosto de saber para quem trabalho.
-E não já é suficiente o que sabe?
-Você percebeu que sempre quer dar voltas e me enrolar quanto a esse assunto, Draco? –ela o encarou, decidida.
-Talvez seja para que você perceba que não é assunto seu. –encarou-a de volta.
-Você quer que eu confie em você, Draco. Como espera que eu confie em alguém que nem ao menos conheço?
“Ok. Ponto para a Weasley.” Ele admitiu.
-Eu levo promessas e dívidas a sério.
-Você não deve nada para mim. –a ruiva disse –A não ser algumas respostas. –atreveu-se a dizer.
-Respostas? Que tipo de respostas? –perguntou com curiosidade.
-Por que ajuda as pessoas sem pedir aparentemente nada em troca?
-Eu ajudo porque eu posso ajudar, Virginia. Por que não ajudar os menos afortunados?
“Ele espera que eu acredite nessa história?”
-Você ajuda também instituições. Por quê?
-Porque faz com que eu me sinta bem. –respondeu e nesse instante o carro parou.
O loiro pediu ao motorista que esperasse. Desceu do carro e foi até o outro lado abrir a porta para que Gina saísse. Ofereceu o braço a ela, que meio relutante, acabou por aceitar.
Ao chegarem em frente à porta, Gina soltou-se de Draco e apertou a campainha. Esperaram alguns segundos e então a porta se abriu:
-Bom dia, Virginia, eu... –parou de chofre ao perceber que Draco estava ali também.
Rose havia prendido seus cabelos em um coque frouxo. Usava uma calça de moleton e uma camiseta de pijama. Estava visivelmente embaraçada por estar desarrumada na frente de um homem.
Draco tomou a iniciativa:
-Sou Draco Malfoy, a Virginia trabalha para mim. Prazer em conhecê-la, Sra. Burgoux. –disse, pegando a mão dela e levando aos lábios.
-Rose, por favor. –ela pediu.
-Como quiser, Rose. Mas me chame de Draco.
-Prazer em conhecê-lo, Draco.
-Podemos entrar, Rose? –a ruiva perguntou.
-Claro. –e deu passagem para os dois –Sentem-se. –e apontou os sofás –Eu vou buscar algo na cozinha.
-Acabamos de tomar café-da-manhã. –ele disse.
-Assim eu me sentirei ofendida. –Rose disse –Não é mesmo, Virginia? –e a ruiva concordou.
-Tudo bem, então. –Draco concordou também..
Rose se retirou. Gina sentou-se em um sofá e o loiro resolveu sentar-se ao lado dela:
-O que achou dela? –a advobruxa perguntou.
“Aquele tal de Burgoux até que tem bom gosto.” Pensou.
-Nada muito conclusivo ainda.
Poucos minutos depois, Rose estava de volta com uma bandeja de sanduíches naturais e suco de laranja. Logo o loiro percebeu que ela era natureba, uma fã de produtos naturais.
-Você vai me perdoar se eu pedir que você coma e tome o suco primeiro?
-Como? –perguntaram Gina e Rose juntas.
-Tenho alguns inimigos, sempre é bom ser precavido. Espero que entenda a minha posição. –disse jogando o máximo de charme que conseguia em seu sorriso.
-Não, tudo bem. –Rose respondeu e fez o que Draco queria.
Como não aconteceu nada com a morena. Draco e Gina serviram-se também.
-A Srta. Weasley me disse que está disposta a depor.
Rose respondeu a pergunta de Draco após terminar de mastigar:
-Sim, eu estou. O meu ex-marido foi um canalha comigo.
-Uma das coisas que o Burgoux fez foi trair a Rose com prostitutas, sabia, Draco? –Gina disse a ele intencionalmente.
-Odeio homens infiéis. –Rose declarou fervorosamente.
Draco deu um sorrisinho sem graça e tratou de desviar o assunto:
-E sobre as provas?
-Estão no BBF, Banco Bruxo da França. Tenho uma conta lá desde a época de solteira.
-Eu preciso averiguar junto com a Srta. Weasley essas provas. –Draco disse –Se quiser, podemos acompanhá-la até o banco.
-Seria ótimo. –Rose disse sorridente –Mas e sobre a proteção? A Virgínia falou sobre isso?
-Sim, ela falou. Acha que dois seguranças de dia e dois de noite, está bom?
-Seria ótimo. Temo pela possível vingança de meu ex-marido. Depois de tudo o que ele fez, eu não duvido de mais nada. Querem ir ao banco quando?
-Agora mesmo. –o loiro respondeu.
-Está bem. Apenas irei até o meu quarto vestir algo mais apropriado.
Durante o tempo em que Rose esteve lá em cima, Draco e Gina permaneceram em silêncio. A advobruxa pensava na noite passada, depois que ela tinha aceitado subir para o apartamento de Burgoux.

***Flashback***

Quando a porta do elevador abriu-se, William saiu puxando Gina pela mão. Chegaram a porta do quarto dele, a qual ele abriu rapidamente. Trancou-a logo que passaram. Sentaram-se lado a lado no sofá:
-Eu já disse o quanto eu admiro você, Virginia?
A ruiva sorriu:
-Na verdade sim...
-Há muito que eu queria te conhecer pessoalmente. Ouvi falar da sua beleza, das suas façanhas, do quanto é atraente...
Ele falava aquilo de modo a fazer com que ela sentisse a mulher mais importante do mundo, de fato o sujeito tinha uma boa lábia. O jeito com que falava, fazia Virginia ficar hipnotizada pelos olhos dele e capaz de concordar com o que ele dissesse. Por não confiar no que poderia dizer, encostou seus lábios nos dele. William aprofundou o beijo, enquanto suas mãos passeavam pelas pernas da advobruxa.
“Puxa, ele beija bem pra caramba.” Gina pensou “Ou será que penso assim porque estou carente?”
Logo o advobruxo distribuía beijos leves pelo pescoço dela, que tinha os olhos fechados:
-Will...Se você me admira tanto, por que joga do lado errado?
Ele parou de beijá-la e encarou-a:
-Negócios à parte. –respondeu simplesmente –Não vai deixar que isso estrague tudo entre nós, vai?
-E o que há entre nós? –ela perguntou desafiadora.
-Não sei dizer por você, mas quanto a mim...Eu me sinto extremamente atraído por você.
Ele beijou-a novamente, não deixando espaço para que ela evitasse isso.
Sabia que estava agindo, ou melhor, aceitando aquilo por sentir-se atraída pelo advobruxo e porque se sentia carente. Mas sabia que agir desse modo, apenas significava fraqueza.
Burgoux levantou-a pela cintura, sempre mantendo juntos seus corpos e lábios. A ruiva sentiu ser prensada contra uma parede, as mãos dele percorrendo suas curvas. De repente deu-se conta de que precisava acabar com aquilo. Não era certo. Não podia colocar suas saudades de Harry em outro homem. Acreditava até que não poderia nunca substituir Harry Potter por ninguém. Somando-se ao fato de que não ia pra cama com um homem por puro prazer carnal e sim para se sentir amada. Virginia Weasley não fazia sexo, fazia amor.
A última coisa que passou por sua cabeça antes de parar os amassos com o advobruxo foi que Draco já duvidara de sua integridade por sugerir que ela seria bem capaz de ir para cama com Burgoux.
-Eu tenho que ir, William. –Gina murmurou, soltando-se dele.
-Tem mesmo? –questionou –O que eu fiz de errado?
-Nada. Eu apenas não sou esse tipo de mulher, não consigo ser. Até a próxima. –ela disse, destrancando a porta, saindo e deixando um Burgoux aturdido no apartamento.

***Fim do Flashback***

Foi despertada de seus pensamentos por uma voz em seu ouvido:
-Virginia. –era Draco sussurrando em seu ouvido, o que a fez dar um pulo de susto, reação a qual ele ignorou –No que estava pensando de forma tão compenetrada?
-E-eu? –gaguejou, sentindo o rubor lhe assomar a face.
-Não, estou perguntando para as paredes. –disse sarcástico.
Passou por cima do encabulamento e respondeu:
-Apenas pensando sobre ontem.
Pelo rosto dele perpassou uma expressão de entendimento:
-Não precisa se envergonhar por isso.
-O quê? –ela perguntou, ele não poderia falar do que ela pensara, podia?
Ele suspirou:
-Aposto que é a primeira vez que fica bêbada, não é mesmo? –perguntou e sem ao menos hesitar, a ruiva fez que sim –Não fique encabulada por ter acordado na minha cama...
Gina ficou vermelha e já não sabia mais se era de raiva, vergonha ou os dois. Logo que Malfoy disse isso, ela, inconscientemente, imaginou-o em trajes de baixo como havia visto de manhã e daí para algo mais...
“Não!” chutou-se mentalmente “Isso não é coisa que se pense. Que absurdo! Até parece que eu ia deixar esse crápula encostar as patas em mim.”
-Você tem que concordar que para mim foi um choque acordar daquele jeito. –ela ponderou.
-O meu cabelo estava tão desarrumado assim?
-Não seja cínico, não tem nada a ver com o seu cabelo! O problema era a situação toda. Como esperava que eu reagisse?
-Certamente que não gritando e com isso tentando ao mesmo tempo estourar a minha cabeça e os meus tímpanos. –defendeu-se.
-Isso é um exagero da sua parte, sabia? Eu apenas manifestei a minha surpresa com um tom um pouco elevado...
-Um pouco elevado? –ele interrompeu-a –Decididamente você precisa rever os seus conceitos sobre volume.
-E decididamente você precisa rever os seus conceitos sobre não assustar uma mulher. –ela contrapôs.
-Eu assusto você, Virginia? –perguntou com seriedade.
-Você me assustou. –ela respondeu na lata –Eu não esperava...
-Não me respondeu. Eu não quero saber apenas pela ocasião. –explicou –Você tem medo de mim?
-Eu não. Por que eu teria? –questionou-o.
-Hum, há pessoas que tem... –disse vago e neutro.
-E você dá motivos para que as pessoas tenham? –perguntou, tentando não soar curiosa.
Draco sorriu. Um sorriso que aparentemente era quente, mas tinha um quê de crueldade e malícia:
-Você vê como são as pessoas, Virginia? Eu sou um bom cidadão e ajudo em causas de caridade e ainda assim algumas pessoas inventam mentiras sobre mim. Está certo que sou poderoso... O dinheiro dá poder, mas também cria inimigos. Há muitas pessoas que querem me prejudicar, por isso sou tão cauteloso.
“Você diz isso pra todas, Malfoy?” a advobruxa perguntou-se.
-Não sou uma pessoa crente, Draco. –ela deixou no ar.
-Está dizendo que não acredita em mim? –perguntou.
Virginia encarou-o. Ele parecia mortalmente ofendido, mas seus olhos eram nebulosos. Se os olhos eram a janela da alma, Draco fazia de tudo para escondê-la muito bem. A ruiva queria descobrir o que ele escondia, seus pontos fracos e defeitos. Para conquistar um território era necessário dominá-lo e para dominar, era necessário conhecer. Queria poder entendê-lo para achar respostas para suas perguntas. Achar respostas para o comportamento e as razões dele. Assim, seria muito mais fácil fazer o que precisava fazer. O problema era justamente que a parte difícil –na verdade aparentemente impossível –vinha primeiro. Conquistar a confiança de Draco Malfoy era missão para poucos. Na verdade, de acordo com o próprio Draco, era uma tarefa para ninguém obter êxito. Ele dizia que não confiava em ninguém, mas ela sabia que isso não era uma verdade plena. Um ser humano não consegue viver sem depositar pelo menos um pouco de sua confiança, nem que seja em uma única pessoa. Tinha que descobrir quem eram essas pessoas para Draco. Sim, pois ela acreditava que não era apenas uma.
-Você acredita em mim?
-Você não respondeu a minha pergunta. –comentou.
-Nem você a minha.
-Eu perguntei primeiro, caso você não se lembre. –frisou.
-Eu sou uma dama. Aonde foi parar o seu o seu cavalheirismo, Draco? –ela perguntou, sorrindo.
Ele fez um muxoxo e em seguida, para a surpresa dela, sorriu-lhe também:
-Sim, Virginia. Eu acredito em você.
-Sério?
-Acho que isso responde a minha pergunta. –murmurou inexpressivo.
A advobruxa deu um sorriso, sem graça:
-Não é bem assim...
-Então é como? -perguntou, encarando-a.
Ela não baixou os olhos enquanto seu cérebro travava uma batalha rápida e silenciosa:
-Apenas não posso confiar em quem não conheço.
-E eu não disse que confiava em você. Eu disse que acreditava. Você é uma pessoa de caráter.
-Como pode ter certeza?
-Um passarinho me contou. –disse misteriosamente –Além do mais, faz o seu trabalho exemplarmente.
-Falando em trabalho...A Rose está demorando, não?
-Eu estou aqui. –a voz de Rose respondeu e tanto Gina quanto Draco tiveram ligeiros sobressaltos.
-Desde quando está aí? –Draco perguntou, com uma cara não muito boa, apesar da bruxa ter ficado mais bonita ainda em vestes de passeio e com os cabelos devidamente penteados.
-Desculpem-me. Eu tinha descido e vi que estavam conversando tão compenetrados que não quis interromper.
-Tudo bem. –a ruiva disse –Vamos?
Rose fez que sim. Só Draco parecia estar ressabiado. Não gostava de pessoas que ouviam conversas sem serem convidadas. Resolveu que ficaria com um pé atrás com a ex-mulher de Burgoux, apenas por precaução.

***

Tudo havia corrido perfeitamente no BBF. Agora Draco estava de posse das provas e estava muito satisfeito com isso.
Malfoy e Weasley estavam na biblioteca, sentados à uma mesma mesa. Ele lia um livro, e ela lia os diversos papéis que eram as provas contra Burgoux. Ficaram assim por horas, até que Gina suspirou, juntando a papelada:
-Ufa! Terminei de ler.
Draco levantou os olhos de seu livro e disse:
-Agora você vai me informar sobre o que leu. –falou e viu a ruiva abrir a boca para dizer algo, porém continuou –Não aqui. No meu escritório. –e levantou-se.
Mais uma vez ela suspirou. Levantou-se e seguiu Malfoy para fora da biblioteca.
Caminharam lado a lado sem nada dizer.
Virginia pensava em como contaria o que havia lido. Tinha certeza de que Draco gostaria, pois significava praticamente vitória certa contra Burgoux. Ele não deixaria que aquelas coisas vazassem, deixaria? De uma coisa a advobruxa tinha certeza. Se vazasse... Burgoux podia ir tratando de desistir da advobruxia, pois iria direto para a cadeia. Ela sorriu maldosamente, tinha o destino dele em suas mãos.
-Que sorriso é esse, Virginia? –Draco quis saber.
Imediatamente o sorriso murchou, pois se sentiu culpada. Estava comemorando a desgraça alheia. Mas não era isso a advobruxia? Para que ela vencesse, era preciso que o outro advobruxo fosse derrotado. Burgoux merecia isso, não merecia?
-Você também vai sorrir quando eu te contar.
Malfoy ergueu as sobrancelhas, impressionado em como aquelas poucas palavras dela pareciam vazias de emoção.
“Será que a Weasley é tão impiedosa como dizem por aí?” perguntou-se.
Logo chegaram até o escritório dele. Malfoy fechou a porta assim que passaram por ela:
-Sente-se, Weasley. –falou, apontando a cadeira à frente de sua escrivaninha.
Gina sentou-se e depois Draco sentou-se na confortável cadeira por trás da escrivaninha.
-Por onde devo começar?
-Do começo, é claro.
-Ok. Burgoux chantageou e ameaçou diversas testemunhas que pudessem acusar seus clientes. Envolveu-se num duelo com um cliente que se recusou a pagar por seus serviços e acabou o matando. É sócio de um prostíbulo. Sabemos que o Ministério da Magia condena prostituição. Isso sem contar as propinas que aceitou para encobrir coisas e as mentiras que já contou em meio a um tribunal. É o suficiente para acabar com a carreira dele.
Draco sorriu:
-Com certeza. –respondeu –Quando pretende convencê-lo a cooperar conosco?
-No dia da audiência com o juiz.
-E quando será essa audiência?
-Irei hoje mesmo até o Ministério da Magia marcar a audiência.
-Vai agora? –ele quis saber.
-Não. Irei depois do almoço.

***

Gina encontrava-se dentro da limusine de Draco. Não tinha pedido por isso, mas ele insistira. Então ela resolveu aceitar a oferta dele. O Malfoy não estava junto consigo, ele alegara que tinha outros assuntos a tratar. Não que ela tivesse o que lamentar por ele não acompanhá-la, muito pelo contrário. Virginia queria ir sozinha. A verdade era que gostava de fazer o trabalho sozinha e não com alguém a analisá-la e dar opiniões, principalmente se esse fosse seu chefe.
Enquanto observava a cidade pela janela, deu um suspiro. Queria que aquilo acabasse logo. Apesar de Evelyn ter arranjado com quem brincar, Gina sabia que ela sentia falta dos pais. Além disso culpava-se por não poder dar tanta atenção quanto desejaria para a sobrinha.
-Mademoiselle? –foi chamada pelo motorista e enfim acordou de seus pensamentos.
Percebeu que havia chegado ao Ministério da Magia Francês:
-Obrigada, Pierre. Não demoro a voltar. –informou ao motorista que fez que sim enquanto lhe sorria gentilmente.
O Ministério era grande e imponente e também enfeitiçado para que os trouxas não se aproximassem. Ela ficou de frente para a porta insulfimada e ouviu uma voz dizer:
-Identifique-se.
A ruiva rolou os olhos, entediada com aquele processo:
-Virginia Weasley, advobruxa inglesa.
-Qual o objetivo de sua visita?
-Definir data de audiência com o juiz.
-Ok. O seu destino é no 3º andar, ala leste. Tenha um bom dia. –a voz disse e logo uma entrada abriu-se na porta de vidro, pela qual a advobruxa passou.
Entrou com semblante sério e decidido. Olhou as placas de informações então seguia reto e mais à frente virou à direita. Encontrou-se diante de um elevador. Apertou o botão em que havia uma seta apontando para cima. Ficou ali, esperando o elevador chegar. Logo isso aconteceu e ela adentrou-o, seguida de uma mulher de meia-idade. Ficou mais do que surpresa ao encontrar Burgoux dentro do elevador, mas apenas murmurou:
-Bom dia, Sr. Burgoux.
Ele levantou as sobrancelhas e devolveu o cumprimento no mesmo tom cordial que ela havia usado:
-Bom dia, Srta. Weasley.
Quem os visse ali, pensaria que eram apenas dois colegas de trabalho se cumprimentando. Ninguém imaginaria que eram rivais que trocaram uns beijos na noite anterior...
No andar seguinte a mulher desceu. Logo que as portas fecharam-se, o advobruxo virou-a de frente para si:
-Mas que surpresa interessante, Virginia. –disse, aproximando sua boca da dela.
A ruiva virou o rosto e desviou, sussurrando no ouvido dele:
-Surpresa nenhuma, Will. Eu estou aqui para marcar a audiência com o juiz.
Ele enlaçou a cintura dela, e puxou-a contra si:
-Que coincidência. Eu vim fazer a mesma coisa. –e mais uma vez tentou beijá-la.
-Não, não veio. –respondeu, empurrando o peito dele com suas mãos, assim impedindo-o de chegar mais perto –Eu vim marcar a audiência do caso que você vai perder.
-E eu vim marcar a audiência do caso que você vai perder.
-Viu? Eu disse que não viemos pela mesma coisa. Você não quer assumir que vai perder...
-Mas eu não aceito uma derrota, Virginia. –disse, abrindo os braços dela e prensando-a numa das paredes do elevador.
-Solte-me. –ela pediu.
-Você foi embora cedo demais ontem à noite. –comentou e sem mais perder tempo, encostou sua boca na dela.
“Quem ele pensa que é? Só por que é bonito e eu o beijei ontem à noite? Não, dessa vez não.” Pensou, tentando se desvencilhar.
Como não conseguia, ela pisou no pé dele com a parte do salto do sapato.
-AI! –ele exclamou, soltando-se dela e nessa mesma hora a porta do elevador abriu-se.
-Terceiro andar. Departamento de Execução das Leis da Magia. –uma voz anunciou e a ruiva saiu do elevador.
Ela andava rapidamente pelo corredor, mas na metade de seu percurso o advobruxo alcançou-a:
-O que foi? –perguntou de má vontade, enquanto encarava os belos olhos azuis dele.
-O que foi isso? –ele perguntou com cara de poucos amigos.
-Um pisão de pé. Você mereceu. Eu é quem deveria perguntar o que foi aquilo no elevador.
-Eu apenas te beijei. –ele comentou –É algum pecado mortal?
Ela suspirou:
-Não, eu apenas não quero e não vou me envolver com você. –respondeu, séria.
-E por que não? –questionou-a.
-Porque você é um canalha. –respondeu na lata.
Burgoux pareceu ofendido:
-É ser canalha te beijar porque estou a fim de você? Virginia, você é uma mulher inteligente e maravilhosa...
Ela o interrompeu:
-Os seus elogios não irão me comprar. Eu sei quem você realmente é. Já disse que é um canalha.
-Não era isso o que estava pensando ontem à noite.
-Percebi a tempo a besteira que iria fazer. –disse, seca.
-O que eu fiz para você? –quis saber.
-Para mim, nada. Você fez para outras pessoas.
-Você não sabe de nada. –ele disse, mais sério que nunca –Draco Malfoy não é o santinho que pensa.
-Eu sei com quem estou lidando.
-Então por que você se sujeita a isso?
-Isso o quê? –Gina perguntou, curiosa.
-Ir para a cama com o Malfoy. Ele nunca vai largar da mulher pra ficar com você. Será que não percebe isso?
-Como você se atreve?!? –ela indignou-se, cerrando os olhos –Eu não durmo com ele! Vocês homens são todos canalhas, com algumas raras exceções e tenha certeza, você e o Malfoy não fazem parte das exceções.
-Desculpe. Eu apenas tenho ciúme de você trabalhar para alguém tão galinha quanto ele. –murmurou.
Virginia o encarou. Ele realmente parecia arrependido por ter insinuado que advobruxa transava com o chefe. Porém, Gina sabia que ele era um bom advobruxo e isso significava ter alta capacidade de dissimulação.
-Ciúme? –ela perguntou com descrença –Foi isso que você alegou para que a Rose acreditasse que você realmente gostava dela?
Ao dizer o nome de Rose, os olhos do advobruxo escureceram:
-Você andou falando com ela?
O tom dele era casual, mas Gina podia sentir uma nota de preocupação na voz dele. Era treinada demais para perceber indícios suspeitos, sempre fora assim.
-Sim, William. Ela irá depor contra você, caso não decida entrar em acordo comigo. E só para constar, sua ex-mulher está bem protegida. Além do mais, não há apenas o depoimento dela para que eu questione a sua moral e obtenha sucesso nisso.
Havia algo de novo nos olhos de Burgoux além do fato de estarem mais escuros ainda. Eles possuíam um quê de surpresa e algum outro traço, medo talvez. Apesar desses indícios de preocupação, o advobruxo postou um belo sorriso em sua face:
-Você vai mesmo acreditar nela? Eu a deixei. Ela apenas quer se vingar de mim. Você não pode...
-Claro que posso. Estou falando sério. –o alertou –Eu tenho provas que te colocariam na cadeia.
-Impossível.
-Nunca duvide de Virginia Weasley. –ela disse, fazendo-o perceber que realmente não estava brincando.
-O que quer de mim? –perguntou.
-Quero que declare ao juiz que seu cliente está por trás desse abusivo aumento de impostos.
-Cliente? Ficou louca? Eu estou trabalhando para o Ministério nesse caso.
-Eu não fiquei louca, muito pelo contrário. Sinto que minha sanidade está muito bem esta tarde. O que diria se eu dissesse que está nesse caso por motivos de ganhos pessoais do Sr. Raul Bourbon? E é claro: Se ele ganha, você ganha. Como por acaso aquele seu carro.
-Eu não tenho nada a ver com esse homem...
-Não tente me enrolar, eu também sou advobruxa, queridinho e sei que está tentando achar uma brecha nessa acusação. Saiba que não há. Eu tenho muitas provas contra você. Desista ou irá para a cadeia.
Burgoux deu graças a Merlin por aquele corredor estar vazio. Sacou a varinha e apontou-a para a Weasley, acontece que ela também apontava para ele:
-Eu acho que você não vai querer fazer isso. Esse tipo de método de persuasão é ilegal, quer que eu adicione à lista de acusações contra você?
-Não. –ele murmurou, guardando a varinha, contrariado.
-Aliás, lembre-se que todos os Ministérios da Magia detectam cada feitiço utilizado em seu território. –acrescentou, guardando também sua varinha –Então, vai ou não vai denunciar Raul Bourbon?
-Quero que me mostre a provas.
-Eu não vou mostrar. Mas você deve saber muito bem que eu não estou blefando. Se pagar para duvidar, pode ter certeza de que sairá prejudicado e terá que dizer adeus a sua profissão.
Burgoux engoliu em seco. Virginia encarou-o incisivamente e naquele momento sabia que havia vencido, viu a resposta naqueles profundos olhos azuis.

***

Era fim de tarde e o céu poente estava com diversas tonalidades. A advobruxa desceu da limusine após agradecer o motorista. Entrou na casa e ficou satisfeita em não demorar a encontrar Marie:
-Olá, Virginia. Deseja algo?
-Na verdade sim...
-A sua sobrinha está na casa do Sr. Jacques Villepas junto com Anne, que é sua nova amiguinha.
-Hum, e quanto ao Draco? –quis saber, sentia-se ansiosa para falar com ele.
-O Sr. Draco chegou não faz muito tempo e está na piscina.
-É atrás da casa, não é? –perguntou e Marie fez uma cara de espanto, como se perguntasse como ela sabia daquilo –A Eve me disse. –mentiu, não falaria que vira a piscina quando entrara pelos fundos naquela mesma manhã –Mas eu nunca fui lá, será que você poderia me levar?
-Mas é claro. Siga-me.
Gina seguiu a empregada e não demorou muito chegaram ao local. A piscina era em formato retangular e era grande. Não era coberta, mas a água era aquecida.
Ventava e o vento era frio. Draco estava nadando craw e o fazia com agilidade e perfeição, a ruiva pôde constatar.
Logo ele percebeu que Gina o observava. Nadou para a borda da piscina e saiu pingando água. Uma poça formou-se aos pés de Malfoy, mas dificilmente a ruiva reparava nisso. Os olhos dela automaticamente percorreram o corpo dele de cima abaixo. Apertou os lábios ao examiná-lo com relutante admiração. Olhou para os lados, procurando observar como Marie olhava para o monumento a sua frente. Porém, Marie não estava mais ali.
-Olá, Virginia. –disse, com visível divertimento.
Ela lançou-lhe um olhar sério:
-Oi. Enquanto eu trabalho, você simplesmente fica aí relaxando na piscina. –censurou-o.
-Para a sua informação eu tinha praticamente acabado de chegar. –defendeu-se.
-E de onde você tinha acabado de chegar? –perguntou com curiosidade, antes que pudesse se refrear.
-Onde eu estava? –perguntou com um riso debochado, como se estivesse pensando se iria responder e aquilo lhe trouxesse imenso prazer, andou em direção a uma cadeira onde havia uma toalha e um robe, o vento estava realmente frio –Por que quer saber?
-Hum. Já vi que foi galinhar. –disse com desdém, não se contendo, parecia haver algum tipo de necessidade em dizer aquilo.
O loiro secava seu corpo:
-Levei a sua sobrinha e a Anne para a casa do Jack. –respondeu e não deixava de ser verdade, apesar de não ser toda a verdade...
Logo que a advobruxa havia saído, Marie viera trazendo-lhe o telefone sem fio e anunciara:
-É a Srta. LeCarrier ao telefone.
Draco pegara o fone da mão da empregada, enquanto fazia um gesto para que ela se retirasse:
-Alô. Não esperava que ligasse, Kelly. –foi sincero.
Após um breve silêncio do outro lado, ela respondeu com certo constrangimento:
-Nem eu. Desculpe-me. Foi realmente um atrevimento da minha parte. Eu não deveria ter ligado, aliás, eu nem sei porque eu liguei...
-Sim, você sabe. –ele respondeu –Você ligou porque quer me ver... E resolver nossos assuntos inacabados.
-N-Não... –ela gaguejou –E-eu...
-Está livre agora? –ele a interrompeu.
-Sim, mas...
-Ok, então. Encontre-me no mesmo lugar de ontem daqui a meia hora. Até lá. –e desligou, antes que a modelo pudesse inventar alguma desculpa.
O loiro tivera alguns momentos de prazer com a loira e depois voltara para casa como se nada demais tivesse acontecido. Mesmo porque aquilo não era nada pra ele. Kelly não lhe causara nenhum prazer acima da média.
Ao chegar em sua casa, decidiu ir até seu escritório, mas encontrou Evelyn no caminho. Ela pulara no colo do Malfoy sem a mínima cerimônia:
-Tio Draco! Tio Draco!
-Oi, Evelyn. –forçou um sorriso, ela havia dado um susto nele.
A ruivinha deu um beijo estalado no rosto do loiro e ele coloucou-a no chão em seguida:
-Tio Draco, essa é a Anne. Ela é minha nova amiguinha.
Malfoy olhou para a outra garota. Era miúda. Cabelos castanhos e olhos verdes, parecia tímida:
-Olá, Anne. Como vai? –perguntou, tentando ser amigável.
-Bem. –respondeu baixinho.
Houve silêncio e então repentinamente Draco teve uma idéia:
-O que acham de eu levá-las até a casa do Jack?
-Quem é Jack? –Anne perguntou.
-Ele é legal. –Evelyn respondeu entusiasmada para a morena –Sim, leva a gente lá, Tio Draco!
Assim, Draco havia levado as duas para a casa de Jack. A mãe dele tinha um ótimo jeito com crianças. Draco deixou as duas com ela e foi falar com o amigo.
Jack estava lendo uma revista na sala quando viu Draco se aproximar:
-Olá, Draco. A que eu devo a sua repentina visita? –perguntou, estendendo a mão para o loiro –Não vá me dizer que veio inventar uma desculpa para me impedir de sair com a Virginia...
-Não é bem isso...
-Mas é perto disso. –Jack o censurou –Qual é, Draco? Você transa com ela?
Draco suspirou, como se a resposta o incomodasse:
-Não.
Antes que pudesse dizer qualquer outra coisa, Jack falou:
-Então ela está livre e desimpedida.
-Não está.
Jack riu, estava começando a entender:
-Uh! Você está a fim dela, Draco. Mas ela não está nem aí pra você... Haha, parece que você foi dispensado, querido amigo.
Uma fúria enorme passou pelos olhos do Malfoy, mas o que ele disse foi:
-Eu não levei um fora. Mesmo porque ela não sabe que eu quero levá-la pra cama.
-Então você quer? Não, não. Ela vai sair comigo.
-Mas ela não vai pra cama com você, pode tirar o cavalinho da chuva.
-Ah, é? –perguntou sarcástico –E quem vai me impedir, você?
Draco ficou mias sério ainda:
-Não brinque comigo, Villepas. –ameaçou -Eu não vou te impedir. –disse mais calmo, após alguns instantes –Apenas quero que saia com ela antes, lá pelas seis horas e não demore a trazê-la de volta.
-E você chama isso de não impedir?!?
-Eu preciso dela.
-Precisa dela?!? Está apaixonado, é isso?
Malfoy fez cara de descrença:
-Não acredito que ouvi você dizer tamanha besteira. Eu quis dizer que preciso dela profissionalmente. Hoje ela foi marcar a audiência com o juiz e preciso falar com ela ainda hoje.
-Mas que saco, Draco! –ele reclamou –Tem certeza que isso não é uma crise de ciúme disfarçada por uma desculpa esfarrapada?
-Estou dizendo que não. Eu não tenho ciúmes dela. Eu te dou no máximo três horas para trazê-la de volta, ok? Não se atrase. –tinha avisado e saiu sem olhar para trás.
-Draco? –Gina perguntou, tirando-o de seus devaneios.
-Hum, o que foi? –perguntou e só agora percebia que já estava envolvido pelo roupão de banho.
-Nada. É que a sua mente parecia estar em outro lugar.
-Que horas são? –ele perguntou com repentina curiosidade.
A ruiva olhou em seu delicado relógio de pulso:
-Faltam quinze minutos para às seis.
-Tenho que te avisar. O Jack disse que vai vir buscá-la às seis.
-Mas eu só tenho 15 minutos para me arrumar! –exclamou indignada.
-Você me parece muito bem assim. –disse neutro.
A advobruxa ignorou o comentário dele:
-Eu vou subir para me arrumar, se o Jack chegar, diga que eu não demoro. –e virou-se para sair.
Draco pegou-a pelo braço e virou-a de volta:
-Não demore a voltar. –foi incisivo.
-E por que não? –perguntou desafiadora, encarando aqueles perigosos olhos cinzentos.
-Porque você me deve satisfações sobre o que aconteceu hoje no Ministério e eu não sou obrigado a ficar acordado até a hora que você bem entender.
Ela bufou:
-Eu não vou demorar demais então, ditador. –e livrou-se do braço dele, indo em direção à casa.
Draco ficou observando partir, os cabelos sendo jogados para trás pelo vento gelado. O andar dela era decidido, mas ao mesmo tempo sensual. Ele acompanhava com os olhos o movimento que os quadris da ruiva faziam.
Passou a ponta da língua pelos lábios languidamente e deu um sorriso malicioso. Podia não ser hoje, nem amanhã. Mas Draco sabia que o dia se aproximava. Ela seria dele e era isso o que importava.

***

Gina tinha achado um absurdo que o Malfoy queria lhe impor horário para voltar.
“Quem ele pensa que é? Minha babá?” pensara com raiva, depois de tomar um banho rápido e estar se arrumando em frente ao espelho.
Ficara radiante no mínimo tempo que conseguiu. Ia descendo as escadas que davam para o saguão de entrada, quando encontrou Henri:
-Está linda, Virginia. Sempre linda. –ele comentou, obviamente babando.
Gina sorriu educadamente:
-Obrigada, Monsieur Le Blanc. –Poderia me dizer se o Jack já chegou?
O mordomo não fez uma cara muito feliz ao responder:
-Sim, ele já chegou. Ele e Monsieur Draco estão na sala de estar.
-Obrigada. Eu irei ate lá.
Ao chegar na sala de estar, Draco e Jack pararam imediatamente de conversar. Olharam para a ruiva. Ela estava no mínimo deslumbrante. Os cabelos dela encontravam-se soltos e caiam abaixo dos ombros e sobre o decote em v da blusa vermelha que ela usava. Por cima da blusa havia uma jaqueta preta. Usava também uma saia até a altura do joelho com uma meia calça cor-de-pele e uma bota preta cano longo de salto fino. Nós lábios destacava-se a cor carmim e nos olhos o lápis preto.
“Gostosa.” Draco e Jack pensaram ao mesmo tempo.
O moreno sorriu para ela:
-Está muito bela, Virginia. –disse sorrindo.
-Obrigada. Podemos ir?
-Sim, claro. –levantou-se do sofá e segurou um braço dela.
-Hey. –Draco chamou e os dois olharam, vendo que ele batia com o dedo indicador no pulso –Não esqueçam.
A ruiva bufou indignada e Jack disse:
-Ok, eu já sei disso.
-Tenham um bom passeio. –Draco disse cinicamente e nenhum dos dois respondeu.

***

O loiro passara mais um tempo na sala de estar, assistindo um pouco à tv. Quando enjoou, desligou o aparelho com um gesto de sua varinha. Já a deixar o aposento, quando Evelyn apareceu correndo de Anne:
-Parem já com isso vocês duas! –o loiro disse sério, não estava de bom humor e não sabia porque.
Diante da reação do dono da casa, as duas pararam imediatamente. Anne murmurou um tímido pedido de desculpas. Eve falou:
-A gente tava brincando, Tio Draco. De pega-pega.
Malfoy forçou um sorriso:
-Mas aqui não é lugar.
-Como você tá chato, Tio Draco. Tudo isso por que a Tia Gina saiu com o Jack? Não fica com ciúme não. –eis que a ruivinha percebeu a cara que Draco estava fazendo e resolveu mudar de assunto –Tio Draco, você pode levar a Anne pra casa dela?
Draco suspirou.
“Só o que me faltava. Virar babá de criança.” Foi o que pensou, mas não o que respondeu:
-Mas é claro que sim, Eve. Onde você mora Anne?
-Três casas para a direita.
-Ela é trouxa, Eve?
-A mãe dela é bruxa, Tio Draco.
-Melhor assim. Vou aparatar com ela. Você me espera aqui, evelyn, tá?
-Sim, Tio Draco. –a ruivinha respondeu angelicalmente e foi sentar-se ao sofá.
O loiro pegou Anne no colo e aparatou. Tocou a campainha e depois de ser agradecido pela mãe dela aparatou de volta.
Evelyn continuava no sofá. Assim que ouviu o *pop* de Draco aparatando de volta disse:
-Nossa, Tio Draco. Hoje eu tô cansada.
-Ué? Mas não gostou de brincar?
-Claro que sim!
-Você quer ir dormir? –a ruivinha fez que sim –Primeiro tem que tomar banho, depois jantar e escovar os dentes.
-Assim parece até o papai falando...
Ele engoliu em seco ao ser comparado a um pai. Aquilo lhe causava um certo desconforto. Draco fez um feitiço e Marie apareceu num piscar de olhos:
-O que deseja Sr. Malfoy?
-Leve a Evelyn para tomar banho.
-Tio Draco, você me espera para jantar?
Draco abriu um sorriso:
-Claro que sim, Anjinho.
-Quando o jantar estiver posto bata na porta do meu escritório, sim, Marie?
-Certamente, Sr. Malfoy. –respondeu e se retirou, levando Evelyn consigo.
Draco seguiu para seu escritório. Sentou-se por trás da escrivaninha e pegou o telefone sem-fio que por ali havia. Discou para Blás Zabini. Tinha que saber se seu Consiglieri já tinha conseguido o que ele havia pedido. O telefone chamou. Uma, duas, três vezes. Na quarta, uma voz contrariada atendeu:
-Malfoy Corporation. Katie Bell falando. Em que posso ajudar?
-Bell? O que faz na sala do Zabini? Melhor...Eu nem devia perguntar, é óbvio o que está fazendo aí.
-Desculpe-me, Sr. Malfoy, eu...
-Não quero desculpas. Passe o fone para ele imediatamente.
-Sim, Sr. –a secretária de Zabini obedeceu.
-Olá, Draco. Quer dizer que finalmente resolveu dar o ar da graça? O que anda fazendo por aí na França?
-Nada de interessante...
-Nada de interessante? Oras, Draco. Eu te conheço. A quem você acha que engana com esse papo?
O loiro suspirou:
-Ok, Blás. Eu dormi com alguém.
-Quem? A Weasley? –ele perguntou, com óbvia curiosidade.
-Não. Não a Weasley. Quero dizer, eu dormi com a Weasley, mas...
-Mas o quê? Fale de uma vez!
-Nós apenas dormimos numa mesma cama. Dormir no sentido literal da palavra, sabe?
-Putz, cara! Eu N-Ã-O ACREDITO! Você teve a chance de transar com Virginia Gostosa Weasley e não o fez. Não faça essa cara, Katie.
Draco ouviu Katie brigando com Zabini e batendo a porta em seguida:
-Parece que a sua queridinha ficou brava. –o loiro comentou sarcástico.
-Cale a boca, Malfoy! –o Consiglieri ralhou.
Draco riu. Blás era a única pessoa que tinha esse tipo de liberdade com ele. Se alguém mais o mandasse calar a boca, iria pagar caro. Mas com Blás era diferente. Eram amigos há tempo demais para não serem espontâneos um com o outro.
-Vamos, Blás. Ela vai te perdoar. E mesmo se não, você tem a Lilá para te consolar.
-Hum. Você está tentando fugir do assunto, Draco. –ele o acusou –Conte logo sobre a Weasley e a chance que você desperdiçou.
-Blás, Blás... Pense. Você transaria com a Weasley se ela tivesse desmaiado nos seus braços?
-Mas é claro que sim...
Draco não deixou que ele continuasse:
-Lembre-me de no futuro não deixar que ela desmaie perto de você. Mas fale sério, Blás. Não teria a menor graça. Ela seria apenas um corpo inerte. Seria praticamente a mesma coisa que praticar necrofilia.
-Bem, não havia pensado por esse lado. –ele considerou –Mas o que aconteceu para que a Weasley desmaiasse em seus braços?
-Ela estava bêbada. Então de repente desmaiou. Nós estávamos sozinhos no meu iate. Eu a levei para a minha cama e tirei uma lasquinha.
-Agora sim falou o Draco que eu conheço. Até parece que você perderia a chance de fazer alguma coisa. Mas então quer dizer que você está na seca?
-Não. Hoje mesmo eu...
-Sério? Com quem? Aquela sua empregada gostosinha? É Marie o nome dela?
-Não. Eu nunca fui pra cama com ela.
-Por que não?
-Porque nem eu quis e nem ela quis.
-Ok. Mas quem foi?
-Uma modelo. Kelly LeCarrier. –respondeu indiferente.
-Kelly LeCarrier? E você responde dessa maneira? Cara, como você consegue?
-Ah, ela disse que me ama, que só tem olhos pra mim.
-Seu sortudo, filho da mãe! Você possuía uma reserva só de Feliz Felicis, é isso?
-Não exagere. Eu não a amo. E nem foi tão bom assim. Foi normal.
-Draco, você não é normal. Você transa com uma das modelos mais cobiçadas e não sente nada demais?
-É sério, estou ficando enjoado já. Eu preciso de uma mulher que faça com que eu me sinta novamente um adolescente com os hormônios em polvorosa.
-Ahn, e você acha que essa mulher é a Weasley?
-Eu espero que sim, porque se não for, eu não faço a mínima idéia de quem possa ser. –disse desolado.
-Mas Draco...eu não quero ser pessimista nem nada, mas será que você consegue pegar a Weasley? Sabemos muito bem que ela não é como as outras.
-Eu sei, mas é isso o que mais me instiga. –houve uma pausa –Eu quero saber se fez o que pedi, Blás.
-Sim. Eu encontrei, mas não consigo entender qual é o seu interesse em...
-Você não tem que entender, Consiglieri. Apenas me obedeça. –disse um pouco aborrecido.
-Mas Draco, você não vai me dizer do que se trata? E se você estiver metendo os pés pelas mãos?
-Está tudo sob controle, Blás. Eu sei o que estou fazendo. È um plano sem nenhuma falha. Quando a hora certa chegar, eu contarei a você. Enquanto isso, quero que coloque alguém de confiança atrás dessa pessoa. Quero relatórios sobre isso. Quero saber onde costuma ir, com quem vai, a que horas, onde mora. Tudo. Entendeu?
-Claro, Draco. Como quiser.
-Mais uma coisa, Blás. Como vai a M Corporation na minha ausência? E também os meus outros negócios.
-Vão bem. Você sabe que eu cuido como se fossem meus, Draco. Então não tem com o que se preocupar.
-Ótimo, Blás. –disse com tranqüilidade.
-Quando vai voltar?
-Não sei, mas acho que em breve. Talvez tenha que passar mais alguns dias em Marselha, mas apenas mais alguns.
-Ok. Certo, então. Até mais, Draco. –despediu-se.
-Até. –respondeu e desligou.

***

Virginia encontrava-se decepcionada. Não havia outra palavra que melhor a descrevesse enquanto voltava para a casa do Malfoy na Ferrari vermelha de Jack.
Estavam voltando do passeio. Ele mostrara a ela belos lugares em Marselha. Porém a tentativa da ruiva extrair dele informações úteis sobre o Malfoy fora por água abaixo. Cada vez que ela tentava fazer isso, por mais sutil que fosse, o moreno desviava o assunto e ficava gradativamente aborrecido.
Agora no carro, instalara-se um silêncio incômodo, o qual a advobruxa resolveu quebrar:
-Jack, o que eu fiz, você está zangado comigo? –ela perguntou, mas ele nada respondeu –É sério, por favor, quero saber.
Ela suspirou e disse tristemente:
-Eu pensei que você fosse diferente, Virginia. Que não era mais uma na cama do Malfoy, enganei-me. Você só quer falar sobre ele.
Após deixá-lo terminar de falar, respondeu:
-Jack, você está enganado. Eu não quero o Malfoy. Acontece que eu trabalho para ele e não sei quase nada sobre ele. Odeio trabalhar para alguém assim. Por isso quero saber. Estou dizendo a verdade.
-Desculpe-me, mas eu não consigo acreditar nisso. Você já viu como ele olha para você?
-Vi. Não tem nada demais.
-Como assim nada demais? Parece um lobo esperando para dar o bote no cordeiro.
-Eu não estou gostando disso, Jack. Você fere a minha dignidade com essas insinuações. Eu nunca daria confiança para o Malfoy a ponto de ele dar em cima de mim.
Jack nada falou pelo resto do caminho. Ao chegarem em frente aos portões estes se abriram, mas o francês não entrou. Parou ali mesmo:
-Boa noite, Virginia.
-Boa noite. –ela respondeu irritada, saindo e batendo a porta do carro.
Caminhou decidida até a porta de entrada da casa. Sacou a varinha:
-Alorromora. –pronunciou ainda de mal-humor e a porta abriu-se.
“Que ódio! Por que todos pensam que sou amante do Malfoy?!?” perguntou-se com raiva crescente.
Subiu as escadas batendo os pés e por isso fazendo mais barulho que o necessário. Antes que chegasse ao topo, ouviu a voz que menos queria ouvir naquele momento:
-Virginia, aonde vai desse jeito? Eu preciso conversar com você.
Ela virou-se:
-Agora não, Draco. Não estou com cabeça para isso.
-Com licença, mas eu decido quando você deve trabalhar ou não. Então trate de mudar de idéia.
-OLHA AQUI, SEU...
-Tia Gina! Tia Gina! –Evelyn veio subindo correndo as escadas e pulou no colo da tia.
A advobruxa teve que segurar momentaneamente no corrimão para que não se desequilibrasse.
-Oi, lindinha. Como foi o seu dia?
-Suuuuuuuuuper legal! –respondeu entusiasmada.
-Que ótimo lindinha, mas agora é quase nove horas. Tempo de crianças lindinhas como você irem dormir.
-Sim, Tia Gina, eu tava indo.
-Então vamos. –disse, colocando-a no chão e andando de mão dadas com ela.
-Vem, Tio Draco.
-O quê? –a ruiva perguntou, jogando os cabelos para trás enquanto via Malfoy subindo as escadas.
-Eu disse para a Eve que a colocaria para dormir. –ele explicou.
-Mas agora eu estou aqui. –Gina frisou.
-Eu quero os dois. –Evelyn reivindicou –Por favor. –pediu, fazendo cara de cão sem dono.
Gina suspirou:
-Tá bom, Eve. O que eu não faço pela minha sobrinha querida?
Evelyn sorriu e saiu correndo em direção ao quarto:
-Evelyn, não corra! –Gina a repreendeu.
-Eu já tinha falado isso para ela. –Draco disse a Gina –Mas deixa a criança ser feliz uma vez.
A advobruxa não respondeu, apenas deu um sorriso discreto para o Malfoy. Ao chegarem no quarto, a porta do banheiro estava fechada. Após algum tempo, a garota saiu de lá. Vestida com uma camisola comprida e com pantufas de ursinho.
-Você já escovou os dentinhos?
-Sim, Tia Gina.
Draco aproximou-se da cama e puxou as cobertas para baixo, esperando que Eve se deitasse. Quando ela o fez, ele as puxou para cima novamente. Deu um beijo na testa dela:
-Durma bem.
Virginia estava espantada com a espontaneidade com que Malfoy havia feito aquilo. Ainda surpresa, aproximou-se da sobrinha e depositou um beijo em cada bochecha dela.
-Lumus. –Draco disse, apontando o abajur.
Esperaram a garota dormir, o que não demorou muito, visto que ela estava realmente bastante cansada.
-Venha, Virginia. –Draco sussurrou no ouvido dela, fazendo-a quase dar um pulo de susto pela repentina aproximação dele –Eu preciso conversar com você.
Ela não respondeu, apenas seguiu-o até o escritório. Quando estavam sentados um de frente para o outro (Draco por trás da escrivaninha e ela na frente), Gina disse.
-Suponho que queria saber o que ocorreu hoje no Ministério.
-Sim, eu quero.
-Foi mais proveitoso do que eu teria pensado. –ela sorriu –Está tudo resolvido. Nem precisei marcar audiência, Burgoux estava lá e disse ao juiz tudo o que eu queria que ele dissesse.
-Como? O que você fez para fazê-lo mudar de opinião? –perguntou com franco interesse.
-Eu posso ser muito persuasiva quando quero, sabia? –e piscou-lhe um olho.
Draco abriu levemente os lábios, imaginando qual tipo de persuasão ela poderia ter usado. Não cairia novamente na bobagem de insinuar que ela tinha transado com o advobruxo. Não queria sentir a fúria indignada dela.
-Também sou. –Draco respondeu com um sorriso amigável –Bem, provavelmente você deve ter dito sobre as provas que temos contra ele, correto?
-Sim. Não disse especificamente quais eram, mas foi o suficiente para assustá-lo. Agora Raul Bourbon será indiciado pelo Ministério. A taxa de impostos do hotel do seu pai será aumentada em apenas 3% e a dívida dele foi perdoada. Satisfeito?
-Muito. –ele sorriu e realmente estava –Isso merece uma comemoração. Você já jantou?
-Não. –ela disse –Mas o quê...?
Apesar de Draco ter jantado, não havia comido tanto assim. Por essa e por outras achara o jantar uma ótima opção.
-Janta comigo?
-É... Tá bom. –concordou.
-Espere na limusine, ok? Eu não demoro. –disse, levantando-se.
-Jantar fora?
-Sim. –respondeu e a ruiva levantou-se da cadeira.
Gina seguiu para fora da casa. Encontrou Pierre, o chofer, conversando com o jardineiro. Foi até eles:
-Bonne nuit. Estou interrompendo algo?
-Bonne nuit, Mademoiselle Weasley. –os dois responderam –Não está atrapalhando nada. –o jardineiro acrescentou.
-Gostaria de algo? –Pierre perguntou.
-Sim. O Draco vai usar a limusine. Disse para que eu o esperasse nela.
-Muito bem. –Pierre disse –Au revoir.
Entraram na limusine. Após vários minutos de espera, Draco apareceu. Estava com uma camisa branca com os dois primeiros botões abertos e terno cinza, sem gravata.
Ao sentar-se ao seu lado, Gina inalou o cheiro do perfume dele e sentiu-se perdida. Sentiu uma repentina e inconsciente vontade de abraçá-lo e sentir aquele perfume mais de perto.
-Para o restaurante do meu pai. –disse ao motorista.
-Oui, Monsieur Malfoy.
-Estou muito satisfeito com o seu serviço, Virginia. –ele disse, encarando-a intensamente –Foi rápido e com bons resultados.
-Obrigada. –ela corou –Podemos ir embora amanhã, eu presumo.
-Sim, podemos. –ele respondeu.
-A que horas iremos embora? –quis saber.
-Depois do almoço está bom para você?
-Sim, claro.
Durante o resto do trajeto cada um ficou perdido em seus próprios pensamentos. Gina pensava na bronca que tomaria de Fleur e Gui. Precisava inventar uma boa maneira de amansá-los e ainda não sabia como.
Por sua vez, Draco pensava em seu plano. Por Merlin! Nunca estivera tão obcecado por uma mulher em toda a sua vida! Como era possível que aquela ruiva o instigasse tanto?!? Precisava ter paciência, mas odiava ter que esperar.
“É bom que essa espera valha a pena ou eu não respondo pelos meus atos.” Pensou.
Em pouco tempo chegaram ao restaurante. Foram tratados como VIPS. Quando o maître, para qual o loiro havia feito os pedidos, afastou-se disse:
-Tenho um presente para você, Virgínia. –e tirou do bolso uma caixinha preta aveludada –Abra. –incentivou, empurrando-a até as mãos da ruiva.
A advobruxa olhou com desconfiança, mas acabou por abrir a caixinha. Dentro havia uma pulseira linda. Era de ouro branco e possuía pedras de diamante incrustadas por todo o seu comprimento.
-É linda! –ela exclamou com os olhos brilhando –Mas eu não posso aceitá-la. –disse seriamente.
-E por que não? –ele perguntou chocado, era visível a admiração nos olhos dela. Por que não aceitava de uma vez?
-Porque isso não está certo. Você é meu chefe, Draco. Não tem que ficar me presenteando.
-Isso é pelo seu trabalho. –ele explicou.
-Mas eu fiz a minha obrigação. Era meu trabalho.
-Você não se lembra do que eu te disse quando apresentei a proposta de emprego? –ele perguntou –Eu disse que o funcionário do mês ganhava um presente surpresa.
-Não. Você não está me dizendo que eu...
-Sim, eu estou. Você foi mais eficiente ainda do que eu pensava que seria. Eu esperava que ainda demoraria mais alguns dias para a resolução desse caso. Aceite. Está nos termos. Você merece ganhar.
A ruiva suspirou:
-Ok então. Eu fico com a pulseira.
-Posso colocá-la? –Malfoy perguntou, soando prestativo.
-Sim, claro. –Gina respondeu e estendeu para ele seu pulso direito.
Colocou a pulseira e mirou por um instante antes de comentar:
-Ficou perfeita em você. –e sorriu.
-Obrigada. –sorriu de volta.
-Pode me dizer qual foi exatamente a condição que estipulou para Burgoux? –Draco perguntou curioso.
-Eu disse a ele que se não confessasse sobre as intenções de Raul Burboun, eu o mandaria para a cadeia.
-Wow. –Draco admirou-se –Quem diria que Virginia Weasley usa chantagem como persuasão?
-Isso não foi uma chantagem. –ela defendeu-se –Eu fiz apenas fiz para ele uma preleção de quais seriam as conseqüências se ele não cooperasse.
-Ahan. Uma bela maneira de dizer que foi chantagem. Não adianta florear, foi isso o que fez. Os fins justificam os meios, Gina. Não se esqueça disso. –falou sombriamente.
A ruiva engoliu em seco e sentiu um arrepio esquisito de mau pressentimento. Mal sabia que aquela célebre frase de Maquiavel mudaria sua vida.

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