Retrato De Uma Obsessão
Logo após Draco beijar a mão da advobruxa, Jack entrou no escritório:
-Estou interrompendo algo? –perguntou cinicamente.
Gina virou-se para ele. Seus olhos tiveram uma bela visão, ela tinha que admitir. Jack lançava seu sorriso mais sedutor para Virginia e ela correspondia o olhar, talvez por vaidade, talvez porque estivesse interessada. Draco percebeu o certo clima entre eles, estreitou os olhos levemente e resolveu interromper aquilo:
-Ela é Virginia Weasley. –cuspiu as palavras friamente.
-Eu sei. –ele disse –Também leio o Profeta Diário, Draco, sabia? –e aproximou-se de Gina beijando-lhe uma mão –Prazer em conhecê-la, Virginia. –a ruiva sorriu –Sou Jacques Villepas, mas me chame de Jack.
-O prazer é meu, Jack. –respondeu, admirando seus olhos azuis –É amigo do Sr. Malfoy?
-Sim. –respondeu –Eu e Draco nos conhecemos há vários anos. Somos quase que irmãos.
-Não exagere. –Draco disse.
-Sério? -a ruiva perguntou ao francês, interessada.
Draco mudou de assunto:
-O que achou da Marie, Jack?
-A sua empregada? –perguntou, mesmo sabendo de quem se tratava –Ela parece ser uma pessoa simpática e educada.
Draco decepcionou-se ao ouvir essa resposta dele. Esperava ter ouvido algo que trouxesse à tona seu jeito mulherengo, fazendo Gina sentir-se menos impressionada com ele.
-Onde está a Eve? –Gina perguntou para Draco.
-Está com a Marie. –Jack foi mais rápido a responder –Adorei ela, é uma garotinha muito bonitinha.
Gina sorriu:
-Você gosta de crianças?
-Adoro. –ele mentiu para impressioná–la –Talvez no futuro eu abra uma creche.
-Ora, mas que encantador! –ela exclamou, com um belo sorriso.
Draco cerrava os dentes e olhava seriamente para Jacques.
-O que foi, Draco? Que cara é essa? Está com fome?
“Droga! Segurar vela me dá nos nervos. Ele não vai roubar a Weasley de mim.” O Malfoy pensou.
-Sim. Está na hora do almoço. –Draco respondeu, tentando controlar sua irritação.
Foram até a sala de jantar. Gina e Jack conversando animadamente pelo caminho, fazendo Draco sentir vontade de quebrar o que encontrasse pela frente.
“Ela é minha propriedade! Ele não pode fazer isso! Terei uma conversa com o Villepas sobre isso.” Decidiu.
Na mesa sentou numa ponta Lúcio Malfoy e na outra Narcisa. Cathia Simpson sentou-se ao lado de Jack. Gina de frente pra ele, entre Draco e Evelyn.
-Quem é ela? –Gina perguntou baixinho para Draco.
-Uma garota que solicitou a minha ajuda.
-Que tipo de ajuda? –ela quis saber.
-Eu vou arrumar um emprego de garçonete pra ela. –respondeu, o que não deixava de ser verdade.
-Ahn...
“Será um daqueles casos que a Marie mencionou? De ele ajudar as pessoas? Mas a troco de nada é que não é!” a ruiva pensou e voltou-se para sua refeição.
O almoço transcorreu com tranqüilidade. Antes que o Malfoy se retirasse, Gina lembrou de algo que ainda não tinha falado para ele:
-Malfoy, eu esqueci de te dizer que o Burgoux me deu o telefone dele. Hum... –ela hesitou, aquele não era exatamente o tipo de atitude 100% ética –Você não poderia...
-...grampear a linha dele? –o loiro completou.
-É. –Gina confirmou –Eu sei que isso não é muito legal, mas...
Draco interrompeu-a:
-Ele é o errado na história, juntamente com quem está por trás dele. Sim, eu posso grampear. Apenas me passe o número.
-Bem, é que está na minha bolsa. Ficou no quarto.
Apesar de ver o prato de Gina já vazio, Draco perguntou educadamente:
-Já terminou a sua refeição?
-Sim.
-Então vamos buscar. –resolveu -Com licença. –o loiro disse aos presentes –Espere na frente da casa, Srta. Simpson, volto logo. –avisou para a garota.
Antes de acompanhar Draco, Gina encontrou os olhos de Jack postados em si. Ele sorriu-lhe simpaticamente. A ruiva deu um sorriso quase imperceptível e seguiu Draco.
Ao chegarem à porta, ela girou a maçaneta e abriu a porta, entrando, seguida de Draco. Pegou a bolsa que estava em cima da cômoda e abriu-a, procurando o papel em que o número estava anotado. Logo que o achou, estendeu para o Malfoy:
-Aqui está. Mas não teríamos que pedir autorização ao Ministério para grampear uma linha?
-Provavelmente a notícia vazaria, não podemos correr esse risco. Tenho contatos confiáveis que podem facilmente arranjar o grampo. Ninguém vai ligar para uma coisa ínfima como essa se descobrirmos algo de maior gravidade.
-Você vai voltar a que horas?
-Não sei. Por quê? –ele estava realmente curioso pelo repentino interesse dela.
-Eu vou visitar a ex-mulher de Burgoux. –ela informou.
-Sabe onde ela mora?
-Não, mas consegui o telefone dela numa lista telefônica que vasculhei na recepção do Louis XIV, depois de visitar Burgoux. Foi fácil, eu já sabia o nome. A ficha que me entregou hoje cedo, sabe?
Draco sorriu pela rapidez com que ela estava agindo, mas perguntou cauteloso:
-Vai marcar um encontro com ela, não vai? –a ruiva concordou –Então não ligue de um telefone fixo. Pode ligar de um orelhão ou até mesmo do seu celular, eu coloquei um feitiço que apenas eu posso rastreá-la do meu celular, GPS, sabe?
Ela fez que sim, surpreendida por não ter pensado antes nessa possibilidade do Malfoy saber aonde ela ia. Será que ele também poderia rastrear suas ligações? Era preciso tomar muito cuidado com o Malfoy...
“Em todos os sentidos.” Ela pensou, mirando os orbes cinzentos.
Draco então deu um passo largo em direção a ela. A distância entre eles era bem limitada. Inconscientemente, Gina começou a se sentir incomodada com a proximidade e sua respiração acelerou:
-Tem mais algo a dizer? –ela perguntou, sua cabeça um tanto levantada para continuar mirando os olhos dele.
O loiro pousou suas duas mãos nos ombros da advobruxa, fazendo-a estremecer levemente com o contato:
-Tome cuidado. Não sabemos se essa tal ex-mulher do Burgoux é confiável.
“Vá caçar pomorim, Malfoy.” Ela pensou “Duvido que esteja realmente preocupado comigo. Além disso, eu sei me cuidar sozinha.”
-Pode deixar. É o meu ramo, estou acostumada a desconfiar das pessoas. Faz parte da minha profissão. –disse confiante.
***
Virginia se encontrava em direção à casa de Rose Burgoux. Novamente estava em um táxi, uma limusine chamaria demasiada atenção e poderia ser mais facilmente seguida. Após uma meia hora, chegou. Era uma casa com uma garagem para dois carros, mas só havia um carro nela. Um gramado estendia-se atrás do portão. A casa era branca, com janelas e portas azuis, havia uma varanda em frente à porta de entrada. O motorista parou em frente ao portão:
-Espere aqui. –pediu e saiu do táxi.
O portão não estava trancado, visto que a proprietária esperava sua visita. Empurrou-o e adentrou o jardim. Usou o caminho de pedras que havia no meio da grama. Subiu as escadas que davam acesso à varanda e tocou a campainha. Uns dois segundos depois a porta estava sendo aberta:
-Alorromora. –ouviu uma voz feminina dizer do outro lado e a porta se abriu.
A mulher parada em frente à porta vestia uma calça capri jeans preta com uma blusinha creme, nos pés uma sandália preta sem salto. Seus cabelos eram negros e lisos. Contrastavam com sua pele pálida e iam até a altura dos ombros, no momento estavam presos em um alto rabo de cavalo. Seus olhos eram verde-água e sua estatura mediana. Era bonita e parecia ter 20 e poucos anos.
-Sra. Burgoux, sou Virginia Weasley.
-Sim, sim, eu sei. É bem-vinda na minha casa se não me chamar pelo nome daquele estúpido com quem fui casada.
-Desculpe, Rose. Posso entrar?
-Claro. –a outra respondeu, dando espaço para que a advobruxa passasse pela porta –Se importa de ir até a cozinha? Eu estava fazendo um sanduíche. Faço um pra você também.
-Não se incomode com isso, acabei de almoçar. –Gina respondeu.
-Se você não aceitar, eu vou me sentir ofendida. Os meus sanduíches são realmente ótimos.
-Ok. Eu nem comi tanto assim no almoço. –a ruiva disse, não queria começar contrariando.
A cozinha era toda branca:
-Sente-se. –a morena disse e Gina obedeceu –Ficará pronto num minuto. É sanduíche natural, sabe? Faz muito bem.
A advobruxa sorriu, concordando:
-Mora sozinha, Rose?
-Sim. –ela respondeu –O meu namorado mora na casa dele e eu na minha. Não tive uma experiência muito boa, se é que me entende. –respondeu, separando fatias de pão light.
-Eu sei que não quer falar sobre o seu ex-marido. –Gina começou –Mas é necessário. Ele está acusando o meu cliente e creio que é uma acusação injusta. –silêncio por parte de Rose, enquanto ela passava patê de azeitonas pretas nas fatias, usando mais força que o necessário –Onde se conheceram?
-No Ministério. Eu costumava trabalhar no mesmo setor que ele. Pedi demissão quando íamos nos divorciar. Agora sou gerente numa loja que vende artefatos para quadribol.
-O que te fez se apaixonar por ele?
-Bem, eu nunca quis nada com ele, não era o tipo de homem que eu queria. Parecia ser volúvel demais. Mas ele insistiu tanto que acabei saindo com ele. Então ele me cativou. Ele sabe realmente como fazer isso. Que é atraente, isso eu sempre soube, mas eu fui totalmente enfeitiçada por ele. Nos casamos dois meses depois desse primeiro encontro.
-E a convivência depois do casamento? Como foi?
-No começo ele parecia ser todo atencioso e tudo mais. Mas então foi se tornando mais frio, distante e parecia sempre estar ocupado. Tinha sido promovido a advobruxo chefe e não trabalhava apenas para o Ministério. Eu perguntava o que estava acontecendo com ele, mas ele dizia que era apenas excesso de trabalho. Eu então perguntava o porque dele trabalhar tanto daquele jeito, sendo que a nossa renda já era boa. Então quando eu começava a pressioná-lo, ele me seduzia e essas conversas não iam a lugar algum e terminavam na cama. Até que um dia eu tive coragem de mexer na papelada que ele guardava no escritório. Descobri coisas que me fizeram chorar. Estava decepcionada com o homem que amava. Não pensei que ele fosse daquele jeito.
Houve silêncio, o qual Gina respeitou por algum tempo. Devia ser doloroso para Rose lembrar daquele assunto. Então ela trouxe para a mesa numa bandeja os dois sanduíches:
-Espero que goste. É pão com patê de azeitonas pretas, fatias de peito de peru, cenoura ralada e alface.
Gina mordeu um pedaço, estava gostoso. Ao terminar de mastigar, a ruiva disse:
-Muito bom. O melhor lanche natural que já comi.
Rose sorriu e conjurou uma jarra de suco de uva, com dois copos, servindo-os:
-Que bom que gostou.
-Será que pode me contar o que te decepcionou?
-Ah, ele é ambicioso demais, tornou-se corrupto. Ele é sócio de uma casa de má fama e freqüenta o lugar. É um tal de “Jeune Vie”, o nome da pocilga. Pode imaginar como fiquei ao descobrir que o meu marido financia algo como isso e pior ainda, dorme com prostitutas? Por culpa dele eu peguei uma DST, sorte que era curável. Mas isso não é tudo. O filho da puta ainda aceita suborno de assassinos, traficantes e outros criminosos para não acusá-los.
Gina controlou-se para não sorrir, a situação não permitia isso. A mulher à sua frente estava contando uma parte dolorida de sua vida, precisava mostrar respeito por isso.
“Mas eu não posso deixar de ficar feliz! O safado não presta mesmo!” ela pensou.
-Teria como provar isso, Rose?
Ela fez que sim:
-Eu tirei cópias da maioria dos papéis que tinha no escritório e os guardei num lugar seguro.
-Seria capaz de depor contra o Burgoux?
-Claro. Eu só não fiz isso ainda porque pensei que ele poderia dar um jeito de me desacreditar ou me tirar fora do caminho. Mas você é a namorada de Harry Potter. Aquele que derrotou Você-sabe-quem. Potter não confiaria em você se não merecesse sua confiança.
-Ex-namorada. –Gina corrigiu –Eu terminei tudo com ele quando foi eleito Ministro da Magia dos EUA. Quis deixar que ele fosse livre pra encontrar um outro amor, ainda que eu não seja capaz de fazer o mesmo. –deu um suspiro –Mas posso arrumar pra que fique segura. –Gina garantiu, mudando o assunto.
-Sério? –ela perguntou –Eu quero que ele pague pelo sofrimento que me fez passar.
-Eu vou falar com o meu chefe. –e fez uma careta ao dizer isso.
-Quem é o seu chefe?
-Draco Malfoy.
-Hum? Mas...?
-Ele quis me contratar, eu aceitei. Foi um engano a acusação que fiz contra ele. Como uma forma de me redimir, agora trabalho pra ele. O seu ex-marido está acusando o pai dele. Confie em mim.
“Mais uma vez mentindo sobre os motivos que me levaram a trabalhar para o Malfoy... Mas a Mione tem razão, eu não posso correr o risco. Não posso sair por aí contando o verdadeiro motivo.” Ela pensou.
-Ok. Fale com ele e depois me conte.
Gina fez que sim. Terminaram o lanche:
-Foi um prazer conhecê-la, Rose. –e se levantou da cadeira, apertando-lhe a mão.
***
Durante o percurso na limusine, Cathia Simpson estava muito quieta. Apenas falava quando Draco lhe perguntava algo e suas respostas eram sempre curtas e vazias.
“Essa garota deve estar realmente traumatizada. Pelo que devem ter feito ela passar nesses últimos tempos? Eu apenas posso imaginar.” O loiro pensou e olhou para a garota. Ela estava pálida e parecia suar frio:
-Acalme-se, eu não vou deixar que nada de mal lhe aconteça. Não vou deixar que eles continuem abusando de você, eu prometo. –disse, sério.
-Obrigada. –ela murmurou timidamente.
Draco deu um suspiro cansado. Decididamente Cathia Simpson não era uma companhia agradável para ele. Era até bonitinha, mas não fazia seu estilo. Estava sendo um tédio aquele percurso, mesmo porque ele estava com vontade de falar. Gostava dos diálogos que mantinha com Virginia. Com ela sim valia a pena conversar. Gina representava três coisas para o Malfoy: Um desafio, uma vítima e uma inimiga. Desafio, porque ela não era como as outras e o loiro teria que se utilizar de métodos extremos para conseguir prazer com ela. Uma vítima, porque ele a atraíra para uma armadilha irresistível e irremediável. Uma inimiga, porque Draco não confiava nela. Se a Weasley já tinha uma vez tentado mandá-lo para Azkaban, quem poderia garantir que ela não tentaria novamente?
O loiro agradeceu aos céus quando chegaram em frente ao “Jeune Vie”. Desceu do carro e olhou a fachada do lugar. Era um prédio relativamente novo e caro. Havia um letreiro luminoso, que no momento se encontrava apagado, com o nome do lugar. A porta da frente era bem larga e de vidro fumê. Ele se aproximou, estava fechada:
-Por aqui. –Cathia disse e fez com que ele a seguisse –De dia não se usa essa entrada.
Eles contornaram o prédio e acharam uma pequena porta na lateral, que ficava em uma ruela. Draco olhou para ela, esperando que ela batesse à porta, mas era visível o medo estampado nos olhos da americana. Ergueu as sobrancelhas:
-Ok. Deixe que eu faça isso. –disse e o fez.
A morena escondeu-se atrás do Malfoy, ao ouvir a porta se abrir:
-Sim? O que o senhor deseja? –um homem alto, forte e mal-encarado perguntou –Está aqui procurando diversão? Veio ao lugar certo.
-Não, estou aqui por ela. –e saiu da frente de Cathia.
No mesmo instante o homem avançou sobre a garota. Jogou-a contra a parede do outro lado da ruela, apertando o pescoço dela e começou a gritar:
-SUA PUTA DESGRAÇADA! VOCÊ VAI APRENDER! VAI APANHAR TANTO QUE...
Os olhos da garota estavam arregalados com imenso pavor. Draco sacou o revólver que carregava e destravou-o:
-Se eu fosse você, não faria isso. –falou, encostando a arma na cabeça do brutamontes –Vamos! Solte-a agora mesmo ou eu estouro os seus miolos.
O homem engoliu em seco, mas ainda perguntou:
-E quem é você para me dizer o que fazer?
-O cara que vai te matar sem pensar duas vezes se você não tirar as patas imundas dela nesse instante. –respondeu, friamente.
O homem finalmente obedeceu, encarando-o ameaçadoramente. Draco o manteve sob a mira de sua arma:
-Quero falar com Charles Degou. –Draco disse, ao que o brutamontes pareceu surpreso.
-Você sabe o nome do chefe, quem é você?
-Já deve ter ouvido o meu nome. Sou Draco Malfoy, devo dizer que é um desprazer conhecê-lo.
No mesmo momento a atitude do homem mudou de agressiva para submissa:
-Oh, queira desculpar esse pobre segurança, Lorde Malfoy.
Draco travou a arma e guardou-a novamente:
-Quero ver Degou, eu já disse. –falou mal-humorado, ignorando as desculpas do outro.
-Sim, é claro, pode entrar. –e deu espaço para o loiro passar.
-Eu vou, mas a garota vai comigo.
O segurança ainda tinha um brilho maligno no olhar ao mirar Cathia, mas concordou com Draco.
-Fique perto de mim. –o loiro sussurrou no ouvido dela e a morena segurou o braço dele.
Subiram para o terceiro andar e diante da última porta, o segurança bateu:
-Sr. Degou, o Sr. Draco Malfoy está aqui para vê-lo.
Após cerca de alguns segundos, a porta foi aberta. Saiu por ela uma garota, enrolada num lençol, que passou por eles rapidamente. O segurança fez sinal para que entrassem e fechou a porta após Draco e Cathia passarem. Dentro do aposento havia um homem de meia idade. Sentado atrás de uma escrivaninha, seu cabelo ralo se encontrava bagunçado e sua camisa mal fechada:
-A que devo o prazer de tê-lo em meu escritório, Malfoy? –perguntou, ignorando totalmente Simpson.
-Será que devo presumir que podemos nos sentar? –Draco devolveu.
-Mas é claro. –disse reparando agora em Cathia –Que má educação a minha.
Os dois sentaram-se. Houve silêncio, o qual Draco quebrou:
-Estou aqui para negociar a liberdade dessa garota.
-Hum. –murmurou, pensativo -E por que isso?
-Porque não apoio o que fez com ela e não finja que não sabe do que estou falando.
-O que você tem a ganhar fazendo isso?
-E o que eu tenho a perder?
Degou franziu o cenho, tirou de sua gaveta uma caixa que abriu:
-Quer charutos? –ofereceu –São cubanos.
-Não, obrigado. –Draco se negou, mas o fez polidamente, para fazer perceber que ele queria ditar o jogo, mas queria que o desenlace da situação fosse amigável.
-Não acha que está se metendo em algo que não lhe diz respeito? –perguntou após acender o charuto.
-A partir do momento em que ela pisou na minha casa e me fez conhecer sua situação, é sim da minha conta. –disse calmamente –Vamos, Degou, é apenas uma. Não vai falir o seu negócio, vai?
O francês soltou uma baforada:
-Na verdade não, mas prefiro evitar os maus hábitos. E se você decidisse me pedir para libertar uma garota por semana?
-Não faria isso. Além do mais, eu tenho outro conceito de maus hábitos. Por exemplo: quando enganam uma garota ingênua, a atraindo para fora de seu país e a fazem de escrava sexual.
Degou lançou um olhar ofendido a ambos:
-Ora, como há pessoas ingratas nesse mundo! Eu dei um emprego para essa garota, moradia e o que comer. Do que ela está reclamando?
-Eu sou uma escrava aqui! –ela se atreveu a dizer –Eu nunca quis ser prostituta seu cafetão maldito! Se eu quisesse teria sido no meu país.
-Viu só, Degou? Eu não saio daqui antes que diga o que quero ouvir. Ou será que você quer se tornar um inimigo meu?
-N-não, Malfoy, de forma alguma. –apressou-se a responder -Ok, você venceu, leve-a daqui. –disse, após uns segundos de reflexão.
-Promete que nenhum dos seus capangas vai fazer mal à ela? Porque se eu souber que qualquer mal aconteceu com essa garota, ah, você vai se ver comigo.
-Não, nenhum dano. Leve essa puta daqui, não era das melhores mesmo.
Cathia cuspiu na cara de Degou e Draco segurou o braço dele para que não batesse nela:
-Nenhum dano, lembra-se? –perguntou e o outro baixou a mão –Adeus, Degou, foi um prazer negociar com você. –e saiu, junto com Cathia, pela porta –Onde é o seu quarto? Pegue suas coisas e vamos embora daqui.
Draco seguiu-a até o tal quarto. Era pequeno e havia dois beliches. Havia duas prostitutas no quarto:
-Olá, meu bem. É um cliente? Vem aqui que a Tamy vai te incendiar. –uma delas, loira tingida, disse sugestivamente.
-Não mesmo. –a outra, também loira, disse –Esse cara tem que ser meu. É muito gostoso. Vem comigo que eu sou a melhor, vou fazer você subir pelas paredes, gatinho.
-Não estou a fim. –ele disse, secamente, e era verdade, estava farto de mulheres fáceis.
Logo Cathia terminou de juntar seus poucos pertences e eles saíram daquele local o mais rápido possível. A norte-americana parecia aliviada ao entrar novamente na limusine:
-Obrigada, obrigada. Muito obrigada, Sr. Malfoy. Muito obrigada... –ela não parava de agradecer.
-Ok. Ok. Chega de agradecimentos. Agora vamos arrumar um emprego pra você.
O motorista ligou a limusine:
-Para onde, Sr. Malfoy?
-O “Rick’s Place”. –ele respondeu e a limusine partiu.
Foram até a lanchonete e Draco pediu para falar com o dono, que lhe devia um favor. Então fora muito fácil garantir o emprego de Cathia. Saíram de lá, a norte-americana com um enorme sorriso:
-Obrigada. –ela agradeceu novamente.
-Pelo visto nunca fizeram muita coisa por você. –ele comentou.
-É... –ela concordou, sentindo-se envergonhada.
-Agora falta arrumar um lugar para que more. Siga-me, aqui perto tem uma pensão.
-Mas eles aceitam fiado? Eu só começo a trabalhar na lanchonete amanhã, ainda não tenho dinheiro para pagar.
-Não se preocupe com isso. –Draco disse calmamente.
Draco pagou um mês adiantado de estadia na pensão para ela. Subiram para ver os aposentos:
-Agrada-te? –ele perguntou.
-Oh, sim, assim está muito bem. Muito obrigada, Sr. Malfoy. Mas não está fazendo tudo isso por mim porque quer... –ela não completou a frase.
-Não. –disse categoricamente –Eu não quero isso, não sou homem de aceitar uma “foda de gratidão”. –e abriu a carteira, tirando algumas notas e empurrando nas mãos dela –Aqui tem 300 euros, deve ser o suficiente para se manter até receber seu primeiro salário. Passar bem. –e deu meia volta antes que ela pudesse agradecer novamente.
***
Ao sair do táxi, Virginia foi chamada pelo jardineiro:
-A sua rosa negra.
-Ah, obrigada. –a ruiva agradeceu, agora a rosa encontrava-se dentro de uma redoma de vidro, o jardineiro havia colocado-a lá –O Sr. é muito gentil.
Foi até o quarto e colocou a redoma sobre a mesa de cabeceira. Estava mirando a misteriosa e bela rosa negra, enquanto pensava no jantar que teria mais tarde.
“Irei jantar com o Burgoux. Preciso fazer com que ele aceite um acordo. Eu realmente não quero me prolongar por aqui. Tenho que voltar logo para a Inglaterra. O Gui e a Fleur vão brigar comigo...” ela lamentou-se mas não teve muito tempo para pensar nisso, logo entrou pela janela uma coisa branca.
Virginia pulou de susto antes de perceber que a tal coisa branca era Edwiges. A coruja pousou em cima da cama e deixou seu cocuruto ser acariciado pela advobruxa, enquanto piava baixinho.
-Estou tão feliz em te ver, Edwiges. –disse sorrindo e então tirou a carta que a coruja carregava.
Abriu-a ansiosamente. Sorriu ao ver a tão conhecida caligrafia de Harry Potter. A carta dizia:
Querida Gina,
Como você está? Eu estou bem na medida do possível. Sinto sua falta e ainda penso muito em você. Será que algum dia poderemos voltar a ser um casal? Eu espero que sim.
Bem, mas uma coisa me preocupou. Eu li no jornal que você está agora afastada do Ministério e trabalhando para o Malfoy, me diga que isso é mentira, Gi. Como você seria capaz de fazer algo assim? Quer dizer, tem uma possibilidade, mas... Você se arriscaria tanto assim? Não faça isso, Gina. Se eu soubesse que iria fazer uma coisa dessas teria te trazido amarrada para os Estados Unidos. O Malfoy é perigoso, Gina, e você sabe disso. Não está medindo as conseqüências? Você pode se dar mal por isso, e creia-me, é a última coisa que quero.
Quanto a mim, o trabalho me ocupa bastante, mas meus pensamentos sempre vagam até você. Será que sente a mesma falta de mim?
O meu trabalho como Ministro está sendo elogiado e eu fico feliz por isso, mas às vezes bate uma saudade imensa e eu penso se não teria sido melhor abdicar do cargo e continuar em Londres.
Eu te amo, Gina.
Um milhão de beijos, do eternamente seu, Harry.
Ao terminar de ler, a ruiva mordeu o lábio inferior, como se estivesse buscando forças. Dobrou a carta cuidadosamente e guardou-a com carinho na gaveta da mesa de cabeceira.
“Ah, Harry, se você soubesse...Eu sinto tanto a sua falta.” Pensou tristemente.
Procurou por uma pena e um tinteiro. Começou a escrever, uma breve resposta, não tinha certeza se seu coração agüentaria por mais tempo se tivesse que dizer tudo o que sentia:
Harry,
Eu sei o que estou fazendo. Apenas confie em mim, ok?
Seja feliz. Também te amo.
Com todo o meu amor, Gina.
Em seguida prendeu a carta ao pé da coruja:
-Leve a minha resposta pra ele Edwiges. –disse, afagando as penas extremamente brancas –Faça uma boa viagem. –e a coruja partiu.
Virginia sentiu-se drenada de todas as suas forças. Não esperava por uma carta de Harry. Fora tudo muito repentino. Tirou as sandálias e deitou-se na cama. Inevitavelmente algumas lágrimas escaparam de seus olhos.
“Droga! Por que eu tenho que chorar? Devo estar na TPM. Harry, por quê? Por que você teve que partir? Eu preciso de alguém me dê forças e me incentive. Eu preciso de você comigo para me apoiar. Será que você vai assombrar os meus pensamentos para sempre? E se nunca mais nos vermos? O que vai ser da minha vida? Eu não sei se serei capaz de amar novamente.”
Amor...Palavra tão desoladora para a Weasley. Estava longe de Harry e não sabia se algum dia voltariam a namorar. Não conseguia imaginar amar outro homem. Sentir atração era uma coisa, mas amar era completamente diferente. Amor era sublime, atração era terrena. Sentia atração por vários homens. Burgoux, Villepas e Malfoy...
“Uh! Isso não! Por que a maioria dos homens bonitos não presta? Isso não é justo! O Burgoux é um salafrário e o Malfoy...só pra começar é um cretino de marca maior. Só o Villepas que eu não conheço o suficiente para falar mal. Ele deve saber várias coisas sobre o Malfoy...Talvez eu use um pouco ele para descobrir algumas informações.” Pensou, mas continuava se sentindo deprimida.
-Tia Gina? –Eve chegou perto dela, subindo em cima da cama.
-Por que está chorando?
-Assunto de adultos. –falou, sem no entanto mirar a sobrinha.
Eve abraçou Gina:
-Conta. Eu não gosto de te ver assim, Tia Gina. Você tá dodói? –perguntou, franzindo o cenho exatamente da mesma maneira que Gui.
Aquela expressão fê-la lembrar de quando o irmão se preocupava com seus problemas infantis e adolescentes, sentiu uma enorme nostalgia. Agora era uma adulta e como tal, tinha problemas mais graves do que costumava ter há anos atrás. Só o fato de estar ali naquele instante, trabalhando para Draco...bem, aquele consistia em seu maior problema. Agora era uma mulher, não mais uma garotinha desprotegida, precisava ser forte e seguir em frente. Não teria Gui para ajudá-la no que tinha que fazer nem mais ninguém. Era como xadrez bruxo. Um jogo no qual apenas duas pessoas jogavam. Jogavam para vencer, com o melhor de suas capacidade. Ela e Malfoy eram os jogadores e pelejavam com as estratégias mais ardilosas que conseguiam arquitetar. A diferença residia no tipo de estratégias. Draco era capaz de qualquer coisa para alcançar o que queria. Por outro lado, Gina não conseguia ir contra os princípios que norteavam sua vida desde que se entendia por gente, não podia seguir o lema de Draco. Não podia concordar com “Os fins justificam os meios.” Porém, isso não significava que não pudesse lutar contra o Malfoy ou que a batalha estivesse perdida. Como em qualquer jogo ou guerra, ganha o melhor estrategista e a Weasley não estava disposta a perder para o Malfoy. No entanto, por várias vezes, era-lhe difícil controlar seu coração. Os seus sentimentos pesavam muito em tudo o que fazia, exceto quando estava no Tribunal, onde sentia ser outra pessoa. Sempre fora assim e era difícil de mudar. Mas se ser um tanto sentimental consistia em seu ponto fraco, essa poderia ser a diferença entre perder e ganhar. Se assim fosse, precisava aprender a controlar suas emoções, teria que aprender. Apesar de tudo, os dois tinham algo em comum: A obsessão por vencer. Para o Malfoy, ganhar da Weasley incluía ganhar a Weasley, ou seja, não desistiria até que conseguisse subjugá-la mental e fisicamente. Já para Gina, vencer Draco significava trancafiá-lo em Azkaban, o que implicava conseguir a confiança dele e ela preferivelmente planejava conseguir isso sem ter que o seduzir, não que não pudesse jogar seu charme sensual de vez em quando apenas para testar a reação dele...
-Não, Eve. Mas o meu coração dói. Eu estava pensando no Harry, ele me faz falta.
Eve concordou, também sentia falta dele. Harry vivia mimando a garota:
-Mas o Tio Harry foi embora, Tia Gina. Não pode ficar assim. Por que não fica com o Tio Draco?
Virginia arregalou os olhos:
-Que absurdo, Evelyn. –reclamou, inconformada com a imaginação fértil da garota.
-Isso me faria feliz. –ela comentou –E o Tio Draco te faria feliz. Todos iam ser felizes.
Gina sorriu melancolicamente pela ingenuidade da sobrinha:
-Não ia dar certo. Eu já disse que ele é casado.
-Uhn, deve ter um jeito... –falou pensativa.
-As pessoas que estão casadas podem se separar, Eve, mas isso não vem ao caso.
-Então eu vou pedir pro Tio Draco se separar e casar com você, daí eu tenho dois pais e duas mães.
-Não, Evelyn! –a ruiva exclamou, indignada –Eu posso ser a sua segunda mãe, mas o cargo de segundo pai vai ficar vago por enquanto. Eu e o Malfoy nunca vamos namorar, tá bom? Repita com a titia: “A Tia Gina não vai namorar o Tio Draco”.
Evelyn repetiu e a ruiva apoiou:
-Isso. Satisfeita?
-Não. Ainda acho que...
-Por favor, Evelyn... –Gina pediu e seu olhar era tão triste que a ruivinha calou-se.
De repente Marie entrou no quarto:
-Está na hora do chá, Virgínia. –e então percebeu que a ruiva estava deitada na cama, com a sobrinha a abraçá-la –O Sr. Malfoy pediu que eu a chamasse, mas se não estiver se sentindo bem, eu posso dizer...
Gina enxugou as lágrimas e então se sentou na cama, olhando para a empregada:
-Não. Eu estou bem, desço daqui a pouco.
-Com licença. –Marie disse e então se retirou.
-Tem certeza que tá bem, Tia Gina? –uma Evelyn preocupada perguntou.
-Sim, querida. –Gina forçou um sorriso –Já passou. –e deu um beijo estalado na bochecha da sobrinha.
Virginia checou sua aparência no espelho da penteadeira antes de sair do quarto junto com Evelyn.
Havia uma sala somente para se tomar chá. Dirigiram-se para lá. No meio do caminho, encontraram Jacques:
-Olá Virginia. Oi, ruivinha. –sorriu para Eve –Que surpresa agradável.
-Pensei que tivesse ido embora. –Gina comentou.
-Não, eu estava lendo na biblioteca. –ele respondeu.
-Ahn... –ela murmurou –Não sabia que aqui tinha uma. Você gosta de ler?
-Não sou fã, mas de vez em quando devoro alguns livros.
-Acho que o Malfoy deve estar nos esperando, é melhor irmos.
Jack concordou:
-E então, Evelyn? –ele perguntou –O que tem feito?
-Não muita coisa. –respondeu desanimada –Sem a Tia Gina é chato.
-Querida, eu já disse que estou aqui a trabalho.
-Sabe jogar snap explosivo? –o francês perguntou para a garota.
-Não. –ela negou.
-Então eu posso te ensinar, verá como é divertido.
Evelyn sorriu, assim como Gina. Logo chegaram na sala de chá. Assim que Draco viu os três entrarem, seus olhos estreitaram levemente.
“Calma, Draco. Não perca a paciência.” Pensou, respirando fundo.
-Vocês demoraram. –comentou casual.
-É que a Tia Gina tava mal. –Evelyn falou e Gina olhou feio para ela.
-O que você tem Weasley? –Draco perguntou, analisando-a profundamente com seus olhos cinzentos.
-Eu não tenho nada, Malfoy. –Gina respondeu, fingindo naturalidade.
-Ela chorou. –Eve dedurou.
-Evelyn! –Gina a repreendeu.
Draco abriu a boca para falar algo, mas Jack foi mais rápido:
-Está se sentindo mal, Virginia? –seu tom de voz era preocupado.
-Eu estou bem.
-Tem certeza? –o loiro perguntou, tentando competir com Jack no tom preocupado –Se quiser eu posso mandar chamar um medibruxo.
Gina olhou a princípio incrédula para ele, mas então disse:
-Não é necessário. Não foi nada. Um cisco tinha entrado no meu olho.
-Ah... –O Malfoy fez, sabia que ela estava escondendo o real motivo, mas não iria forçá-la a dizer, pelo menos não agora –Então, não vão se sentar?
Eve foi a primeira a acatar a sugestão, seguida de Gina e Jack. A garota olhou a mesa maravilhada. Havia três tipos de bolo (laranja, nozes e frappé), leite num bule, chá de erva-doce, de hortelã e de camomila, geléia de morangos e algumas bolachas salgadas. Gina apenas começou a se servir após Draco o ter feito. A advobruxa percebera que o olhar do Malfoy, durante o chá, estivera quase sempre fixo em si. Estava incomodando-a.
“O que tanto o Malfoy olha pra mim? Será que ele sabe que eu menti sobre ter chorado?” ela perguntou-se.
“Weasley...Minha cara Weasley...Eu gostaria muito de te ter essa noite na minha cama...Aff, eu sei que isso não é possível, mas ainda será. Eu vou fazer o seu corpo implorar pelo meu. Vou te dominar física e mentalmente, Weasley. Ah, como a vingança é doce...Mas para você será amarga. Você vai amargar profundamente o dia em que decidiu colocar-se no meu caminho. Não vejo a hora desse dia chegar.” Era o que Draco pensava ao olhar para a ruiva.
Gina estava bebericando sua xícara de chá de hortelã, quando Jack lhe fez um convite:
-Gostaria de conhecer os arredores comigo, Virginia?
Ela não esperava por isso. Pousou sua xícara no pires e olhou para o belo par de olhos azuis que a fitavam ansiosos. Sorriu e ia responder que sim, quando Draco falou:
-A Virginia não vai poder, Jack. Ela está aqui trabalhando e me deve um relatório sobre o que fez esta tarde.
Eve estava quieta, ocupada demais devorando sua sexta fatia de bolo de laranja para entrar na conversa.
-Ora, Draco. –Jacques disse amigavelmente –Certamente a Virginia pode entregar esse relatório depois, não?
-Se é um relatório eu posso entregar depois, não é Malfoy? –Gina perguntou.
“Sair com o Jack seria duplamente lucrativo. Além dele ser agradável e atraente, posso tirar informações sobre o Malfoy dele. Resolveria o meu problema de carência e de pouco progresso nas minhas investigações.” Ela pensou.
-Receio que não. –Draco disse com um sorriso perverso –Não é escrito, é oral. Quero que ela preste contas de seus serviços a cada passo que der. É minha nova funcionária, estou testando-a, você compreende isso, Jacques?
Jack estreitou seus olhos azuis.
“Oral? Testar? O que ele anda fazendo com ela? A Virginia não parece ter cara de quem dormiria com o chefe. Será que estou enganado?”
-Tudo bem. –ele murmurou, com insatisfação em cada sílaba –Então o que acha de jantar comigo esta noite?
-Desculpe-me, Jack, mas esta noite já tenho um compromisso. –declarou e ele ergueu as sobrancelhas –É um compromisso de trabalho. Vou jantar com o advobruxo de acusação do caso que estou defendendo. –especificou –Mas quem sabe outro dia...Amanhã, por exemplo?
“O quê?!? A Weasley não pode se jogar desse jeito em cima dele!” Draco pensou bravo e apertando a mesa fortemente.
Porém, antes que ele inventasse uma desculpa para Gina não jantar com o francês, Jack disse entusiasticamente:
-Amanhã está ótimo! Venho te pegar às 8h, está bem?
-Sim, está ótimo. –a ruiva concordou.
Draco estava abismado. Sentiu-se tolo por estar se importando.
“E daí? Deixa a Weasley ir pra cama com o Jack. De qualquer jeito ela vai ser minha e eu vou poder fazer o que quiser com ela. Talvez eu deixe que ela aproveite os últimos tempos de liberdade.” O loiro pensou, mas ainda estava se sentindo desconfortável com o fato de Gina sair com Jack.
Quando acabaram o chá e saíram do aposento, Jack deu um beijo na bochecha de Virginia:
-Até amanhã então, eu tenho que ir.
-Tchau, Jack. –a ruiva respondeu, sorrindo.
-Até mais, Draco. –e apertou a mão do loiro.
-Até. –ele respondeu, mas seu sorriso ‘amigável’ parecia bem perigoso.
-A nossa partida de snap explosivo fica pra depois, eu não vou esquecer. –falou, fazendo cafuné em Evelyn e em seguida indo embora.
-Eve, você gosta de cinema, não é mesmo? –Draco perguntou, todo atencioso com a garota.
-Sim, Tio Draco! –respondeu com entusiasmo.
-Eu tenho um tipo de mini cinema nessa casa. –ele disse, piscando um olho pra ela –Tenho certeza que irá gostar. Vou chamar o Henri pra te...
-O Henri não! –Evelyn e Gina exclamaram ao mesmo tempo.
O Malfoy olhou-as, espantado e ergueu as sobrancelhas:
-Por quê o Henri não? –quis saber.
-Porque a Eve não gosta dele. –a advobruxa se apressou a responder.
-É! –a ruivinha concordou.
Draco sorriu calorosamente para Evelyn:
-Não faz mal, então eu peço para a Marie.
Draco sacou sua varinha e convocou a empregada:
-Sim, Sr. Malfoy?
-Fique com a Evelyn na sala de filmes, assistam algo que seja apropriado para a idade dela.
-E tem algo que seja? –Gina perguntou, provocando-o.
-Sim, tem, Weasley. Alguns são desenhos animados. –o loiro respondeu.
Draco e Gina se despediram da garota e então seguiram para o escritório dele. Logo que passaram pela porta, ele fechou-a. Ao invés de se dirigir para a cadeira em sua escrivaninha, sentou-se no divã:
-Sente-se, Virginia. –ele cobrou.
-Ah...-ela murmurou, como se tivesse esquecido de que não seria muito educado continuar em pé, e sentou-se a uma distância razoável dele.
-O que tem para me dizer? –perguntou casualmente.
Gina focou seus olhos castanhos nos cinza dele e começou a falar:
-Rose Burgoux guarda grande ressentimento do ex-marido.
-Então por que ela continua com o sobrenome dele? –interrompeu.
A ruiva bufou por ter sido interrompida, mas respondeu:
-Não são divorciados, apenas separados. Eu tinha falado sobre isso no telefone com ela, por algum motivo que ela desconhece, ele não quer que se divorciem...
-No mínimo ele andou colocando alguma coisa em nome dela. –Draco disse.
-Exatamente o que eu ia dizer. –a advobruxa disse, levemente irritada pelas seguidas interrupções –Mas não sei se há provas disso. O que sei é que há provas que poderiam colocar o Burgoux em maus lençóis. Rose tem cópias de vários documentos comprometedores.
-E sabe onde estão guardadas essas cópias? –ele perguntou, interessado.
-Não. Ela apenas me disse que era um lugar seguro, então creio que não seja na casa. E tem uma condição.
-Diga. –Draco suspirou –Quanto ela quer para cooperar?
Gina sorriu, dessa vez o Malfoy havia errado:
-Ela não pediu nenhum dinheiro. Ela quer que nós a protejamos.
Draco levantou uma sobrancelha e passou uma mão brevemente por seu queixo:
-Ela acha que Burgoux seria capaz de apagá-la se descobrisse que ela está nos ajudando? –a ruiva fez que sim –Mas ele já não sabe dessas cópias?
-Não. Ela as tirou escondidas. –a advobruxa explicou –O que vai fazer?
-Ela deporia contra ele?
-Sim, mas somente se...
-Já sei, já sei. –o Malfoy a cortou –Se nós lhe dermos proteção. –suspirou –Muito bem, se é proteção que ela deseja, eu darei, mas gostaria de avaliá-la pessoalmente. E também gostaria de pôr as mãos o quanto antes nessas cópias. Será que poderia arranjar para que ela viesse aqui?
-Sim, eu provavelmente poderia. Amanhã ligarei para ela, fica satisfeito assim?
“Com o seu trabalho sim, está se mostrando bem útil, Weasley, assim como eu previa. Mas bem que você poderia ser útil na minha cama também...”
-Quase... –ele murmurou.
Quase satisfeito? Gina não podia acreditar naquilo! No Ministério nunca ninguém ficava menos que plenamente satisfeito se contratasse seus serviços. Como é que ele podia falar isso? De certo estava gozando da cara dela, não?
Virginia juntou toda sua dignidade e tentou esconder o tom ofendido de sua voz ao perguntar:
-Quase? Por que quase? O que eu fiz de errado, Malfoy?
-Draco, Virginia.
-Draco. –ela disse, revirando os olhos.
-Não fez nada de errado. Apenas acontece que eu ficarei satisfeito quando me contar como foi o seu jantar com Burgoux. –ele respondeu e a ruiva abriu a boca para dizer algo, mas ele não deixou –E não venha me dizer que não é da minha conta, pois é. É um jantar de negócios, ou será que eu estou enganado?
-Está certo. –ela disse de má vontade.
Foi pega de surpresa quando ele pegou a mão direita dela. Arregalou os olhos como pratos. A ruiva sentia o grande contraste em suas mãos. As suas eram pequenas, macias e delicadas, enquanto as dele eram grandes, fortes e...
“...sensuais? No que está pensando Virginia Weasley? Será que perdeu a cabeça? Ele é o Malfoy, entendeu? DRACO MALFOY! Não se esqueça disso, sua idiota!” a consciência dela a repreendeu, enquanto sentia ele afagando sua mão de maneira provocante, impingindo-lhe calores que ela não sentia há um bom tempo.
-Pare, Malfoy. –ela disse, mas ele a ignorou, focando seus olhos profundamente nos dela.
Gina corou. Ficou estática. O que ele pensava estar fazendo?
-Draco! O que pensa que está fazendo? –ela perguntou.
O Malfoy soltou a mão dela:
-Você é muito tensa, Virginia, sabia disso?
-Ahn? Do que você...?
-Será que eu te deixo tensa?
Ele havia perguntado aquilo de maneira tão cruelmente sexy e com segundas e até terceiras intenções implícitas, que a ruiva viu-se a passar a língua pelos lábios inconscientemente:
-Quem não ficaria nervosa perto de você. –ela respondeu sem pensar e ele riu.
Gina corou mais ainda:
-Eu não quis dizer isso! Você entendeu tudo errado. –ela tentou se explicar, mas ele então levantou –Eu quis dizer que... –não terminou, sentiu as mãos dele deslizarem por seu pescoço até seus ombros.
-Tire as mãos de mim. –ela disse e ele a ignorou –Draco, eu estou dizendo para... –ele começou a deslizar seus dedos em vai e vem, fazendo pressão na área entre o pescoço dela e os ombros.
Um arrepio passou pelo corpo dela inteiro:
-Devo interpretar isso como medo de mim? –ele perguntou e ela não respondeu.
-O que está fazendo, Malfoy?
-Quantas vezes tenho que dizer...
-Ok, Draco. O que você está fazendo?
Fez um muxoxo antes de responder:
-Mas isso não é óbvio? Estou fazendo uma massagem, tentando tirar a sua tensão. Não é bom ficar tensa desse jeito.
-Chama isso de massagem? –ela perguntou cruelmente.
Está certo que ele não era especialista, mesmo porque estava fazendo isso pela primeira vez...E ela? Estava se mostrando uma perfeita ingrata, na concepção do loiro.
-Deveria se sentir privilegiada. É a primeira vez que faço isso, mas não, isso não é o suficiente para a toda-poderosa advobruxa Weasley. Aposto que não faz melhor que eu.
-Aposta errada, Draco. –ela murmurou e ele afastou suas mãos dela.
-O quê? Está me dizendo que sabe fazer massagem? Largue de contar vantagem.
-Eu estou dizendo.
-Então prove.
-Não, quem está precisando de massagem por aqui sou eu e não você. Eu sou a tensa, lembra-se?
Ele sorriu:
-Quer dizer que estava gostando da minha massagem, Virginia?
-Não! –ela respondeu rápido, rápido demais...
A verdade é que para a primeira vez que uma pessoa estava fazendo massagem, Draco se saíra bem. Mas Gina não queria. Não queria que aquelas mãos atraentes encostassem em sua pele novamente. Tinha receio disso. Tinha receio das conseqüências desse contato. Fazia-a se arrepiar todinha e ter pensamentos que a deixavam profundamente enojada de si mesma. Como ela poderia pensar coisas desse tipo? Com o Malfoy? Não, isso não estava certo. Por isso ela havia criticado-o, fazendo assim com que ele parasse.
-Vamos, Virginia. Falou, agora tem que provar. –ele disse e puxou as mãos dela, fazendo-a se levantar.
Draco sentou-se:
-Estou esperando, Virginia.
-Vai ficar esperando...
-Não precisa ter medo. A minha pele não é feita de nenhum ácido corrosivo e eu não vou te morder.
-Eu não quero fazer isso.
-Por que não? O que você tem medo que eu faça? Acha que vou matá-la se não gostar da massagem? Isso é ridículo. Não me contrarie.
Ela reconheceu ameaça na voz do chefe. Muito contrariada, postou-se atrás dele e estendeu suas mãos. Ao tocar a pele do loiro, soltou um suspiro, que julgou ser de tédio.
Massageou-o habilmente:
-Depois diz que eu sou a tensa? Você está duro, Draco.
-Não imagina como posso ser duro. -ele disse com duplo sentido.
Calor subiu pelo corpo dela, tornando suas orelhas e bochechas quentes:
-Pare de gracinhas. Depois diz que eu conto vantagem...
-Eu não chamaria assim. –ele disse calmamente.
Ela bufou:
-É tão inútil esse tópico. –ela reclamou –Relaxe. –acrescentou –Ou eu não poderei comprovar a minha eficácia.
Draco relaxou o corpo e freou a língua, impedindo-se de dizer o que queria...As formas que ela poderia provar eficácia...
-Assim está bom? –ela perguntou.
-Sim. –e era verdade, ele podia jurar que já recebera esse tipo de massagem, mas não conseguia se lembrar de quem –Não pare.
-Eu disse que era boa. –a ruiva se gabou.
-No que mais você é boa, Virginia? –perguntou com uma voz meio rouca e arrastada.
-Em advobruxia, como você bem sabe, ou não teria me contratado. –ela respondeu normalmente.
-Duvido que seja apenas isso, Virginia. Que outras habilidades você esconde de mim? Já reparei que tem o mau hábito de querer não me dizer certas coisas.
-Não sei do que está falando. –ela se defendeu.
-Sim, você sabe. Por que estava chorando?
-Eu não estava!
-A Evelyn não mentiria. Você estava sim chorando, Virginia, conte-me porque.
-E no que isso ajudaria, Mal...Draco? –perguntou, tirando suas mãos dele e sentando-se novamente no sofá.
-Se você estava chorando é porque alguma coisa não está bem. Conte-me e talvez eu possa ajudá-la, mesmo se não, vale pelo desabafo.
-Você é muito mais misterioso que eu. –defendeu-se –Não conta quase nada pra mim. Então também não acho conveniente que saiba de particulares sobre mim.
“Assim você não facilita as coisas, Weasley.” Ele pensou.
-O que há pra você saber de mim? Sou um empresário bem-sucedido, um homem metódico, pragmático, exigente e impaciente.
Ela riu irônica:
-Oh, mas é claro. Tenho apenas que saber isso e já saberei quem é Draco Malfoy.
-Está dizendo que eu estou mentindo? –ele perguntou, sorrindo enviesado.
-Não, Draco, eu não disse isso. Apenas estou dizendo que isso não é o suficiente para que eu possa dizer que o conheça bem.
Draco olhou profundamente nos olhos da advobruxa. Ao receber um olhar tão intenso dos cinzentos olhos do loiro, Gina sentiu-se invadida. Tecnicamente não havia nada demais num olhar, mas na prática... Com Draco Malfoy nada era sem propósito. Era um olhar quente, provocante e de divertimento. A ruiva perguntou-se se ele estaria zombando de si ao olhá-la daquela forma. Ou seria uma nova forma de tortura? O silêncio era pesado e agonizante para ela. O que ele faria? No que estaria pensando? Quando ia quebrar tão incômodo silêncio, ele disse, num tom de voz carregado de malícia:
-Quer me conhecer profundamente, Virginia? –e ela não respondeu –E por que seria isso?
Ela engoliu em seco e olhou para outro lado, pensando no que falar, ter aqueles olhos gelo em cima de si não ajudaria nada. No entanto, o Malfoy, pegou seu queixo e virou seu rosto de volta, forçando-a a encará-lo:
-É o meu chefe. –respondeu, tentando aparentar tranqüilidade.
-No Ministério você também era assim? Queria saber da vida dos seus superiores?
Ela bufou:
-Não desvie o assunto, estamos falando de você, atenha-se aos fatos. –respondeu, numa tempestade de palavras.
Um sorriso se formou nos lábios do Malfoy:
-Atenha-se aos fatos? Não estamos num tribunal, Virginia. –ela corou, irritada –Sabe, eu acho que esse é o seu problema...
-Meu problema? –ela o cortou.
-Sim, Virginia, você acha que tudo na sua vida é um tribunal e que todos são réis que você tem que mandar para a cadeia. Você marca cada detalhe na argumentação, mas não na emoção. Você não sabe separar a sua vida pessoal da profissional.
Ela abriu a boca indignada. Como ele se atrevia a falar aquelas coisas pra ela? Estava muito enganado e ela iria provar:
-Não separo a minha vida profissional da pessoal? Então me diga, por que o meu namoro durou tanto tempo?
-Não saberia dizer, talvez seja porque prendeu o Potter direitinho...
-Você é quem não sabe separar sua vida pessoal da profissional! Pensa que eu não sei como é infiel? Sei que a Chang não foi a sua única amante. Você costuma ter sexo com as suas funcionárias
“Ora, Weasley quem andou te dizendo isso?” ele se perguntou.
-Assim você me ofende, Virginia. –disse fazendo-se de indignado –Quem foi que andou falando esse tipo de coisa pra você?
“Cínico maldito! Quem ele pensa estar enganando?” pensou revoltada.
-Você acha que eu tenho cara de idiota? –ela perguntou –Fica com qualquer uma, se achando um garanhão, não é mesmo? Draco Malfoy, o pegador. –disse teatralmente, enojada –Isso é ridículo!
Ele ficou sério, e encarou-a de maneira perigosa:
-Por acaso eu já alguma vez te faltei com respeito?
-Você passou a mão em mim no cinema. –disse após pensar por um instante.
-Eu já disse que isso foi sem querer. –ele defendeu-se.
-E quando você me beijou? –ela cobrou.
-Eu te beijei, Virginia? –perguntou, sorrindo com deboche –Você me beijou. –ele disse e ela corou, isso era verdade.
-Mas você correspondeu! –ela rebateu.
-Eu já disse o porquê. –ele respondeu de uma forma tão controlada e definitiva, que ela odiou isso.
Silêncio predominou no lugar. Apenas se encaravam sem dizer uma palavra. Após algum tempo ele disse:
-Não que a sua presença me incomode, mas já disse tudo o que tinha para dizer?
-Não. Eu quero perguntar uma coisa. –ela disse e ele fez um gesto afirmativo –E o grampo? Foi instalado?
-Sim, foi. –respondeu despreocupadamente –Já sabe o que vai dizer esta noite para o Burgoux? –perguntou, curioso.
-Sim.
-O quê?
-Se der certo, eu te conto. –ela disse simplesmente.
-Como assim se der certo? Você precisa me deixar a par de cada tentativa.
-Largue de pegar no meu pé e deixa que eu faça o meu trabalho.
-Ok, Virginia, se é assim que quer... –deixou a frase no ar e abriu a porta com um gesto de sua varinha, convidando-a a se retirar de seu escritório.
***
Era 8h da noite quando a Weasley descia as escadas que davam para o Saguão de Entrada. Encontrou Henri ao pé da escada:
-Está muito linda, Virginia. –o mordomo a elogiou –Mais do que costuma ser. –ele acrescentou abobado.
“Gostosa demais! Eu preciso levar essa mulher para a minha cama.” Ele pensou.
A ruiva sorriu, ao olhar embasbacado do mordomo:
-Muito obrigada, Henri. –agradeceu, querendo livra-se dele o mais rápido possível.
-Sabe, eu tenho uma coleção de figurinhas de sapo de chocolate, edição de colecionador, se você quiser ir ver no meu quarto...
-Quem sabe uma outra hora. –respondeu educadamente, mas em seu pensamento essa outra hora seria nunca –Sabe onde está a Eve? Quero me despedir dela.
-A sua sobrinha está na biblioteca. –ele informou.
-E onde seria a biblioteca?
-No mesmo corredor do escritório do Sr. Draco, é a última porta. Quer que eu a acompanhe?
-Não, obrigada, isso não é necessário. –disse e saiu da presença de Henri apressadamente.
Não teve dificuldades para achar a biblioteca. Abriu a porta devagarzinho e teve uma grande surpresa.
A biblioteca era enorme. “Ampliada com magia de certeza.” Pensou. As prateleiras de livros eram embutidas nas paredes e possuíam escadas. Havia livros e mais livros, a se perder de conta. Havia algumas mesas de madeira com cadeiras elegantes, uma lareira com tapete branco muito macio a sua frente. Narcisa estava sentada a uma mesa, lendo concentrada uma revista de beleza. Porém o que, de longe, mais surpreendera Gina, foi a visão de Draco com Evelyn. Os dois estavam sentados no tapete e ele lia uma história para ela. Gina sabia como era difícil fazer a sobrinha parar quieta com uma história. Tinha que ser um conto de fadas, com um príncipe encantado, uma princesa em perigo e muita aventura ou ela não dava a mínima. Estaria ele realmente contando esse tipo de história? A ruiva tirou suas dúvidas ao chegar mais perto de fininho e ouví-lo:
-A rainha do Reino das Fadas Mordentes tinha muita amizade com a rainha do Reino dos Pelúcios, então resolveram que casariam seus filhos. Porém, elas não sabiam que a Princesa Lucy e o Príncipe Sebastian se odiavam. Logo descobriram isso, quando anunciaram publicamente o casamento, sem consultar os filhos. Lucy fez um enorme escândalo e enfeitiçou o teto para que aparecessem os dizeres “O Príncipe Sebastian é um trasgo montanhês da pior categoria, caso com qualquer um, menos com ele”. O Príncipe Sebastian também não gostou nem um pouco da idéia de casar com a Princesa Lucy e por isso, e também pelo feitiço do teto, ele se vingou. Sabe qual foi a vingança dele? –nesse ponto o loiro levantou os olhos do livro e perguntou para Evelyn.
A ruivinha avistou a tia:
-Oi, Tia Gina! –disse alegremente –Vem ouvir a história que o Tio Draco tava contando. –e a advobruxa se aproximou –E então, Tio Draco? Qual foi a vingança do príncipe?
Porém, Draco nem ouviu Evelyn falando, pois estava mirando Gina.
“Magnífica!” foi o que veio em sua mente.
Gina vestia um vestido azul petróleo, tomara-que-caia e com uma exarpe. No pescoço usava uma corrente prata com um pingente em que se podia observar uma delicada pedra azul em formato de coração. Os brincos faziam par com a corrente e eram parecidos com a mesma. O cabelo dela estava preso num coque frouxo e estiloso, deixando várias mechas soltas sobre seu rosto. Seus olhos estavam reforçados com lápis e uma discreta sombra com degradê entre azul e prata. Nos lábios um batom carmim. Segurava uma bolsa a tiracolo que era da cor do vestido. Nos pés calçava sandálias pretas e de salto bico fino com detalhes de pedras azuis marinho, mas não apareciam tanto, já que o vestido era bem longo.
Eve desistiu de perguntar o que acontecia na história, já que Draco e Gina estavam obviamente tão perdidos um no olhar do outro.
Após a fase de admiração, veio a de um monstro desconhecido dentro do Malfoy. Sentiu uma ira crescente dentro de si e não saberia dizer exatamente o porquê:
-Está muito bela esta noite, Weasley. –o loiro comentou, levantando-se do chão e se aproximando dela –Pergunto-me o porque de tanto esmero em sua aparência, sabia? –questionou, ao chegar a cerca de um metro de distância.
-Quando eu saio à noite, eu me arrumo, Malfoy. –ela respondeu, como se fosse óbvio.
-Mesmo para tratar de negócios?
Ela revirou os olhos:
-Ah, não, você é o meu chefe, mas não vai me dizer o quanto eu tenho que me arrumar para ir a um lugar. Vim aqui apenas porque o seu mordomo me informou que a minha sobrinha estava aqui e não para ouvir besteiras da sua parte. Evelyn, venha se despedir da titia, sim?
Eve levantou-se e foi até onde Gina e Draco estavam:
-Arrumou um novo namorado, Tia Gina? –a garota perguntou –Mas eu queria que fosse o Tio Draco! –ela reclamou e algumas coisas ocorreram.
Narcisa levantou os olhos de sua revista para assistir a cena. Gina ficou vermelha e Draco deu um sorriso misterioso.
-Não seja boba, Evelyn. –Gina a repreendeu –Eu estou saindo, mas não devo demorar muito. Evelyn, seja boazinha. E quanto a você, Malfoy continue a ler a história para a Eve. Devo dizer que você faz isso muito bem, ela estava pendurada em cada palavra sua. –disse e deu as costas, saindo do aposento.
Quando a Weasley fechou a porta atrás de si, Narcisa perguntou desconfiada:
-Isso foi uma reação de ciúmes?
-Mãe, não diga besteiras. Eu apenas estava tirando algumas conclusões sobre ela. –ele se defendeu.
-Quais por exemplo? –e fez uma cara de deboche parecida com a do filho –A de que ela é inalcansável para você, não importa o que faça? A Weasley tem caráter e fibra moral filho, não vai conseguir corrompê-la.
“Isso é o que pensa, mamãe.” Pensou sarcasticamente “Não sabe do que o seu filho é capaz...”
A voz de Eve interrompeu os pensamentos do loiro:
-Eu acho que você e a Tia Gina deviam ficar juntos. Eu amo você, Tio Draco.
O Malfoy ficou surpreso com a repentina declaração da pequena e engoliu em seco, ao passar a mão carinhosamente no topo da cabeça dela:
-Também amo você, Evelyn.
A garota sorriu e mudou de assunto drasticamente:
-E então, Tio Draco? O que o Príncipe Sebastian faz?
Ele ficou surpreso com a repentina mudança de tópico que a menina realizara, mas respondeu:
-Sim, claro, eu vou te contar o resto da história. –e olhou no relógio, calculando quanto tempo ainda teria disponível antes que tivesse que sair.
***
Tinham marcado para se encontrarem no restaurante do hotel Louis XIV. Ao descer do táxi e subir as escadas que davam acesso ao Saguão de Entrada, a advobruxa encontrava-se nervosa. Tinha que provar ao Malfoy que era mesmo competente e tinha que provar a si mesma que Burgoux era apenas mais um cafajeste lindo com quem ela tinha que lidar. Sim, porque ela estava plenamente ciente que o advobruxo tinha uma boa lábia e era muito atraente.
“Seja forte, Gina. Seja dura com ele, mas na medida certa. Não se deixe seduzir. Você tem que superar esse estado de carência.” Disse a si mesma, enquanto se dirigia ao restaurante.
Entrou e foi recepcionada por um garçom. Ela disse que era convidada de William Burgoux e foi levada até a mesa dele. William já a esperava e quando a viu mostrou um sorriso agradável e simpático. Parecia mais atraente do que nunca, numa mistura de social e negligente.
“Oh meu Deus!” ela desesperou-se “Eu deveria ter comido várias barras de chocolate antes de vir pra cá. Quem sabe assim eu me sentiria menos propícia a cair em tentação, já que o chocolate alivia a sensação de carência.”
Sorriu nervosamente e apertou a mão do advobruxo:
-Boa noite, Sr. Burgoux.
-Boa noite, Virginia. Deixe as formalidades de lado, me chame de William, ou até mesmo de Will se preferir. Não vai se sentar?
Gina então pendurou sua bolsa na cadeira e sentou-se em seguida.
“Do que o chamo? Acho melhor William. Will só se eu tiver que apelar.”
-Desculpe o meu pequeno atraso. –a ruiva desculpou-se.
-Não foi nada. Posso pedir por nós dois?
-Sim, é claro, confio no seu bom gosto.
“Vamos ver se hoje eu consigo dobrar a famosa Virginia Weasley.” Burgoux pensava.
“Eu quero muito um acordo e vou conseguir! Vou usar ao máximo o meu poder de persuasão.” A Weasley pensava.
-Vamos querer paella, uma garrafa de vinho branco e traga de sobremesa pavê de nozes, mas apenas quando terminarmos a comida. –disse ao garçom, que anotou e em seguida se retirou.
-E então, William? Já teve tempo para perceber que eu e o meu cliente temos a razão, não é mesmo?
O advobruxo sorriu-lhe afavelmente:
-Foi para isso que aceitou o meu convite para jantar?
“Sim!” teve vontade de responder, mas não foi o que disse.
-De certa forma.
-Por que não deixamos os negócios de lado essa noite, Virginia? –perguntou, charmosamente, enquanto tirava de cima dos olhos uma mecha do cabelo dourado.
-Por que não resolvemos logo essa situação incômoda? –ela devolveu.
-Porque não entraremos em acordo quanto ao caso que defendemos. –respondeu simplesmente.
-Mas não acha que é tão mais simples fazermos um acordo? –ela perguntou –Pouparia tempo gasto desnecessariamente.
-Já quer ir embora da França?
-E se eu quiser? –ela perguntou, mas ao ver a expressão dele, consertou –Não que eu não goste daqui, é que tenho alguns problemas para resolver na Inglaterra.
-Sinto muito, Virginia, mas no que diz respeito a esse caso...Terá que ficar por aqui um bom tempo.
-Por que não quer aceitar um acordo? –ela questionou, escondendo seu aborrecimento.
-Pela mesma razão que você não aceitaria se estivesse no meu lugar. –respondeu tranqüilamente.
-Mesma razão que eu? Duvido. –murmurou e em seguida questionou-lhe –E qual seria a minha razão?
-Na verdade seriam várias razões. Um advobruxo não quer perder um caso, quer teimar e lutar até o fim, dando o melhor de si para defender os interesses de outros, é para isso que somos contratados. Quer ser o melhor e ser disputado. Basicamente é isso. Eu não quero perder pra você Virginia. Vou me empenhar para ganhar de você. Quantas pessoas no mundo podem dizer que já venceram a Dama Ruiva dos Tribunais?
Seus olhos transformaram-se em duas fendas castanhas e ferinas, mas não pôde deixar de sentir um relutante orgulho por sua fama:
-Apenas uma. –Gina disse friamente –Perdi uma vez, pretendo não repetir o feito.
Ele sorriu com satisfação:
-Essa vai ser uma boa disputa, Virginia. Gosto do seu jeito decidido.
A ruiva sentiu-se lisonjeada e sorriu de volta:
-Quanto tempo durará a sua admiração pela minha teimosia, Will? –frisou cinicamente o apelido dele.
-Então somos dois teimosos, querida. –forçou a última palavra de maneira suave.
Durante a refeição não trocaram muitas palavras, mas o que faltava verbalmente, era compensado pelos olhares. Trocaram muitos olhares de diferentes tipos, com diferentes intenções e intensidades. Gina tentava não se seduzir pelo mar profundo que pareciam ser os olhos de Burgoux.
Já haviam terminado a sobremesa e estavam bebendo vinho em suas taças, quando o advobruxo fez a pergunta, em seu tom mais galante:
-Poderíamos partilhar as nossas experiências como advobruxos, não é mesmo? O que acha de subirmos para o meu apartamento para conversarmos melhor?
Gina sentiu suas bochechas ficarem quentes, não esperava que ele fosse fazer um convite desses assim, tão de repente, sem nenhum aviso prévio do que pretendia:
-E-eu... –enrolou e olhou para o relógio na parede do restaurante, era 10h e 30min –Acho que está na hora de ir embora. –respondeu, mas sua voz não passava firmeza, Burgoux percebeu isso.
-O que há, Virginia? –perguntou cautelosamente –O Malfoy marcou um horário para que estivesse de volta? Será que devo tomar os boatos como verdadeiros?
A ruiva sabia perfeitamente de que boatos ele estava falando. Não eram verdades, é claro. Mas como a advobruxa poderia provar que não tinha nenhum caso com Draco Malfoy?
Fez cara de desagrado ao responder:
-São fuxicos mentirosos. Eu não sou amante de Draco Malfoy.
-Não mesmo? Será que você poderia provar isso? –perguntou, com seu sorriso mais simpático.
Ele era bom nisso, sorrir simpaticamente. Aquele sorriso conseguia derreter a raiva de Gina:
-Você vai ter que acreditar na minha palavra. –murmurou.
Ele suspirou e ficou olhando para ela, até que a ruiva o encarou de volta:
-E então, Virginia? O convite ainda está de pé...
Por alguns instantes, ela apenas avaliou-o.
“Ansioso, levemente embriagado e...” mirou o pé dele. Burgoux batia a sola do sapato no chão sem parar “...impaciente. Talvez seja interessante...”
Ela abriu um grande sorriso:
-Ótimo, vamos então.
Ele sorriu de volta, levantou-se e ajudou-a a levantar-se, puxando-lhe a cadeira:
-Não vai pagar? –ela perguntou.
-Não, é por conta do hotel.
“Por conta do hotel? Muito interessante...” pensava, enquanto era conduzida por ele para fora do restaurante.
***
-...após o casamento dos apaixonados, Príncipe Sebastian e Princesa Lucy, o Reino dos Pelúcios uniu-se com o Reino das Fadas Mordentes e todos viveram felizes para sempre. –Draco terminou de ler a história para Evelyn.
-Adorei, Tio Draco! –a garota vibrou –Foi tão legal quando o Príncipe Sebastian salvou a Princesa Lucy do Mago Mau! A coitada tava presa no Alto da Torre do castelo do Mago Mau, o príncipe foi tão corajoso no duelo, ele realmente gosta da princesa!
-Evelyn, está na hora de dormir. –Narcisa disse –Eu vou levá-la.
-Deixa que eu a leve, mãe. –o loiro disse.
-Tem certeza? –perguntou, espantada e ele fez que sim.
Draco pegou a garota no colo e aparatou em frente ao quarto que ela dividia com a tia, abriu a porta:
-Tio Draco, cobre eu?
-Ahn...Cobrir você?
-É, só deixa eu colocar o meu pijama.
O pijama de Eve tinha sido deixado por Gina em cima da cama. A garota trocou-se, enquanto o Malfoy olhava para outro lado:
-Pronto, Tio Draco. –a pequena disse.
O loiro aproximou-se da cama e puxou as cobertas. Eve deitou-se e ele puxou as cobertas pra cima:
-Acende o bajur pra mim?
-É abajur. –ele corrigiu e então fez um feitiço para o aparelho acender.
-Tio Draco?
-O quê?
-Você acha que alguém vai gostar de mim como o Príncipe Sebastian gosta da Princesa Lucy?
Ele sorriu:
-Sim. Quando você tiver idade suficiente, vai encontrar uma pessoa especial e vai viver feliz com ela para sempre. –a ruivinha sorriu de volta, fazendo cara de entendimento –Mas o que te fez pensar nisso?
-É que a Tia Gina tá sozinha. Por que ela não vive feliz com uma pessoa especial?
Draco viu que os olhos de Evelyn estavam muito tristes ao perguntar isso. Sentou-se na beirada da cama:
-A sua tia é complicada. O amor é complicado. –respondeu sinceramente –Não se preocupe, a sua tia é muito linda, ainda vai encontrar um novo tio pra você.
O Malfoy fez menção de levantar-se, mas uma mãozinha de Evelyn o segurou:
-Não vai me dar um beijo de boa noite?
-Ah... –disse vagamente, nunca tinha colocado uma criança pra dormir antes –Boa noite Evelyn, tenha bons sonhos. –disse e beijou a testa dela.
-Boa noite, Tio Draco. –ela respondeu e fechou os olhos.
Draco retirou-se do quarto.
“Boa noite? Ainda são 10h, a minha noite nem começou.” O loiro pensou, indo tomar banho.
Após o banho arrumou-se bem, como de costume quando saía. Passou seu perfume favorito, Calvin Klein, e olhou-se no espelho. Vestia um terno negro com sapatos de couro preto. Sua camisa era branca e resolveu que não usaria gravata. Os cabelos estavam úmidos e caíam ocasionalmente por cima de seus olhos cinzentos.
Estava na metade do saguão de Entrada, em direção à porta de entrada, quando ouviu a voz de sua mãe:
-Aonde vai a essa hora, Draco?
O Malfoy virou-se para ela e respondeu:
-Tenho que resolver umas coisas.
-Que coisas? –questionou.
-Assuntos de trabalho. –disse simplesmente –A mesma monotonia de sempre.
-Você vai demorar? –ela quis saber.
-Provavelmente sim. Não fique acordada me esperando. –disse e chegou mais perto dela, dando-lhe um beijo numa das bochechas –Boa noite, mãe.
-Boa noite, Draco, vê se tenha juízo.
-Mãe, eu não sou mais criança há muito tempo. –respondeu e saiu da casa.
Desceu as escadas frontais da casa. A limusine esperava por ele. Entrou no carro:
-Bonne nuit, Pierre. Le Château, s’il vous plaît. –ele disse ao motorista.
-Oui, Monsieur Malfoy. –o motorista lhe respondeu e deu a partida na limusine.
Draco pensava em como a Weasley estaria se saindo e o que ela estaria fazendo naquele momento. Sentiu-se frustrado por não ter a resposta às suas indagações. O resto do trajeto, tentou evitar pensar nisso, voltando seus pensamentos para o que estava prestes a acontecer. Transaria com Kelly LeCarrier. Quantos homens no mundo não gostariam de estar no lugar dele? Ao dar-se conta do quanto era privilegiado, não somente nisso, mas nos outros setores de sua vida, não pode evitar o sorriso que se formou em seus lábios.
“Le monde est a moi.” Pensou orgulhosamente.
Sim, Draco tinha seu próprio mundo, a MMVO. Seu reinado era absolutista. Ele não podia reclamar do patrimônio que tinha. Apesar de ter dado duro para chegar onde estava, gostara de galgar para esse pedestal. Cada conquista que o Malfoy obtinha em sua vida lhe dava prazer. Não havia nada melhor do que ganhar. Ganhar sempre, era a meta de Draco.
Ao chegar no hotel, pediu ao motorista que o esperasse, então saiu. Antes de chegar ao quarto, teve que cumprimentar umas 30 pessoas conhecidas que encontrou pelo caminho. Bem, fazia parte de ser famoso e de ser o dono daquele hotel. Não bateu à porta do quarto 205, foi logo girando a maçaneta, estava aberta. Entrou e trancou-a em seguida.
Kelly estava de costas para ele e de frente para a lareira, sentada num sofá aconchegante. Vestia um vestido roxo pouco abaixo dos joelhos e sapatos sociais igualmente roxos. O cabelo loiro escuro estava solto. Draco sentou-se ao lado dela:
-Desculpe se a fiz esperar.
Ela deu um salto, somente agora percebendo que ele estava ali:
-Eu deveria ter ido embora. –ela confessou –Na verdade, eu nem deveria ter vindo.
-Mas você veio, não é mesmo? E não conseguiu ir embora... Vamos, Kelly, não negue, você quer.
Ela não respondeu. Draco perguntou:
-O que quer beber?
-Conhaque. –ela respondeu.
Draco foi até o bar e preparou as bebidas, trazendo-as poucos minutos depois:
-Aqui está. –e levantou o seu copo –A essa noite. –disse, brindando.
Kelly tomou o conteúdo do copo de uma só vez e pousou-o em cima da mesinha de centro:
-Eu não devia estar aqui. –murmurou.
O Malfoy terminou de tomar sua bebida e pousou seu copo ao lado do dela:
-Vou te fazer mudar de idéia. –ele disse, virando-se para ela.
Antes que ela pudesse dizer algo ou até mesmo se preparar, Draco juntou seus lábios aos dela. Era um beijo que não deixava a mínima margem para que ela pudesse pensar. Inclinou-se sobre a loira, fazendo-a deitar as costas no braço do sofá.
As mãos do Malfoy subiram o vestido dela e massageavam suas pernas, subindo cada vez mais. Nem que tivesse um resquício de consciência naquele instante poderia ter se levantado, o peso do Malfoy sobre si tornava isso bem difícil de acontecer. Kelly sentiu vagamente algo, sua calcinha, ser puxada. Para seu espanto, descobriu que não estava mais calçada. Draco parou de beijá-la e ficou observando o ‘estrago’ que já havia feito, enquanto tirava seu cinto e abria a calça. Não havia marcas, apenas os lábios dela estavam um pouco inchados e vermelhos pela pressão do beijo. Os dois respiravam aceleradamente. Draco tirou o terno e deixou-o no chão:
-Ainda quer fugir de mim, Kelly? –perguntou atrevidamente.
-Draco...Eu não sei.
-O seu não sei é um não à minha pergunta. –ele murmurou e colocou as mãos dela sobre a sua camisa –Vai abrir pra mim?
Seus dedos pareciam mecanizados. Como se não obedecessem mais ao seu cérebro, estavam abrindo apressadamente os botões da camisa dele. Em seguida, pôs-se a acariciar o tórax dele, com alguma vergonha no olhar por estar fazendo aquilo. O loiro levantou-se do sofá, descalçou os sapatos e deixou sua calça, já desabotoada, cair.
Voltou para o sofá e ergueu mais o vestido dela depois de tirar sua cueca. Ficou sobre ela e foi se aproximando, até que fez contato e penetrou-a de uma só vez. A loira fez uma inesperada cara de dor pela repentina investida dele, mas essa expressão de dor logo desapareceu, sendo substituída por uma de intenso prazer. Draco arremetia contra ela vigorosamente. Estava pensando na Weasley e isso o estava deixando irritado, fazendo-o canalizar sua raiva em cada estocada que dava. O que para ele estava sendo válvula de escape de frustração, para Kelly estava sendo inesquecivelmente delicioso. Ela sentia cada vez mais e mais prazer:
-Draco-eu-te-amo. –disse de um fôlego só e ofegou –Ah...Continua... –e gemia, se sentindo mole nos braços dele.
O loiro também ofegava, não estava longe de ter um orgasmo. Mas então...
RING! RING!
“Droga! Bela hora pra tocar o meu celular.” Pensou inconformado.
Continuou tocando. Ele então parou os movimentos, mas continuou dentro dela.
-Desculpa, Kelly, mas eu tenho que atender. Meu trabalho exige.
Abaixou um braço até o chão e pegou o celular que estava dentro do paletó. Já sabia quem era antes de atender, mas mesmo assim atendeu como se não soubesse:
-Alô?
-Alô, oi Draco. É a Virginia. –a voz de Gina respondeu, meio enrolada, do outro lado da linha.
-De onde você está ligando?
-Do meu celular, estou indo para a sua casa.
-Já jantou com o Burgoux?
-Sim... –respondeu vagamente.
-Então estou indo até aí e você vai me contar tudo o que aconteceu. –não esperou resposta, desligou o celular.
O loiro saiu de cima de Kelly e começou a se vestir:
-Eu tenho que ir, Kelly. Negócios.
-A essa hora? –ela perguntou com indignação –Como é que você deixa as coisas feitas pela metade?!?
-Eu não costumo fazer isso, caramba! –falou irritado –Mas essa reclamação prova que você estava gostando.
-Claro que eu estava! Quem que te ligou?
-Eu não gosto que peguem no meu pé. –respondeu.
-Apenas quero saber quem eu tenho que odiar por ter interrompido...
-Virginia Weasley, é minha advobruxa. Está cuidando de um caso do meu pai.
-Então por que ela não fala com o seu pai?
-Porque eu pedi que ela me mantivesse a par de tudo que acontecesse.
-Ah, Draco, não vai não. –ela pediu.
-É sério, Kelly, desculpa. Outro dia a gente termina. Agora eu tenho que ir. –e deu um beijo breve nela, antes de se retirar do quarto.
“Virginia Weasley, eu odeio você!!!” a modelo pensou.
***
Na verdade, Draco não amargara muito ter que sair daquele jeito do quarto do hotel. Estava pensando na Weasley mesmo antes dela ligar. Sabia que precisava ser paciente e que seu plano não poderia ser colocado em prática agora, mas a sua vontade de possuir a advobruxa o consumia por inteiro.
“Ah se eu pudesse...” ele pensava nas possibilidades.
Ao chegar na casa, saltou rapidinho da limusine, dizendo a Pierre que estava liberado por aquele dia. Logo que entrou, fechou a porta. Logo ao lado do saguão de Entrada havia a sala de visitas. Gina se encontrava sentada em um sofá, com os olhos fechados. O loiro contemplou a face serena por alguns instantes, até dar-se conta do quão idiota aquilo parecia, e então, como se pudesse anular o ato anterior, ele bateu palmas perto do ouvido dela:
-Acorde de uma vez, Virginia.
-Ahn? Ah, é você. –disse vagamente, esfregando os olhos.
-Quem você esperava? Merlin? –perguntou sarcástico.
-Onde você estava? Eu fui te procurar no escritório e no seu quarto? –disse após fazer cara de quem estava pensando.
-Meu quarto? –indagou.
-A Marie me disse onde era. –explicou –Mas onde você estava?
-Eu saí. –respondeu e olhou-a com melhor atenção –Você andou bebendo, Virginia?
Ela riu:
-Sério? O seu QI é realmente de gênio por ter percebido isso. –disse, rindo alto ao final.
-Eu acho que você deveria descansar, bebeu demais, amanhã você pode me contar sobre o jantar.
-Não, eu estou bem. Bebi apenas um pouquinho. –e fez um gesto quase juntando o dedo indicador e o polegar.
-Tem certeza? –ele perguntou desconfiado.
-Claro. –respondeu, quase parecendo sóbria.
-Ok. Vamos para um lugar em que podemos conversar em paz. –disse e abraçou-a –Vou aparatar com você. –explicou, antes que ela reclamasse por ele a ter agarrado.
Com um pop aparataram da casa de veraneio e com outro chegaram ao destino. Quando Draco soltou-a, Gina sentiu-se meio tonta, tendo que se segurar nele:
-Onde estamos? –perguntou.
-No meu iate.
Ela engoliu em seco:
-No seu iate?
-Sim, por quê?
-Nada. –tentou disfarçar seu nervosismo.
-Quer deixar a marina?
-Não, não precisa. –disse com veemência.
-Ok, eu vou pegar umas bebidas, enquanto isso, se quiser apreciar a paisagem... –disse.
A ruiva observou ele partir. Em seguida foi até murada e ficou observando os outros iates e as estrelas no céu. Era verdade que tinha bebido, mas não estava realmente bêbada. Antes de sair havia tomado uma poção que a impedia de ficar bêbada, mas isso não significava que não podia fingir que estava...
-Gosta mesmo de observar o céu, Virginia. –ele chegou, sussurrando em seu ouvido.
No mesmo instante, a advobruxa voltou-se para ele. O loiro segurava um tipo de cesta com algumas garrafas e duas taças:
-O que acha de começar com Firewhisky?
-Ótimo. -ela respondeu.
O loiro fez um feitiço convocatório para uma mesa e duas cadeiras que se encontravam a uma certa distância deles. Depositou a cesta em cima da mesa. Sentaram-se nas cadeiras, um de frente para o outro. Após servir as duas taças e entregar a de Gina, ele perguntou:
-E então, Virginia? Conte-me o que houve.
A ruiva tomou um generoso gole de sua taça, antes de sorrir de maneira sensual:
-Bem, eu fui até o Louis XIV. –ela garantiu –É, fui sim. –bebeu outro gole –Quando cheguei o Will já estava lá.
-Will? –Draco perguntou, um brilho de raiva passando por seus orbes acinzentados.
-Oh, sim, Will de William, sabe?
Ele ficou sério:
-Desde quando ficou tão amiguinha do Burgoux?
-Não somos exatamente amigos...apenas nos entendemos. Foi um longo jantar. Hum, será que você pode encher a minha taça novamente?
Draco fez o que ela pediu:
-Quer dizer que ele aceitou um acordo?
-Ainda não.
-Então o que quer dizer com nos entendemos?
Ela sorriu com segundas intenções:
-O que você acha?
“Não! A Weasley não pode ter ido pra cama com aquele idiota!” pensou inconformado.
-Você transou com ele? –perguntou com os olhos como duas fendas furiosas.
-Hum...O que você acha? Que tivemos uma rapidinha? –ela jogou no ar, não respondendo verdadeiramente à pergunta dele.
Draco tomou de um gole só o que havia em sua taça, enchendo-a novamente:
-Não esperava isso de você, Weasley. Vendendo o próprio corpo para um advobruxo de quinta categoria...
-E quem disse que eu transei com ele? Está com ciúme, gatinho? –perguntou, piscando um olho.
Draco engoliu em seco.
“Vaca desgraçada! Só está me provocando.”
-Não respondeu a minha pergunta. Fez ou não sexo com ele, Weasley? –perguntou sério.
-Enche a minha taça?
Ele encheu e fez uma cara de quem queria uma resposta naquele instante:
-O que isso te interessa? –ela perguntou, esnobando.
Draco segurou-a pelos braços:
-Diga-me, Weasley!
-Agora é Weasley? –perguntou, recebendo um olhar fulminante –O que você sinceramente acha?
-Você está bêbada demais para medir as suas palavras e os seus atos. Pode sim ter ido pra cama com aquele...
-Eu não fui. –ela respondeu, aparentando seriedade apesar da voz engrolada –Não que eu veja onde isso tem a ver com você, mas eu não fiz isso.
Sem perceber, soltou um suspiro de alívio. Era tão importante assim saber que ela não tinha ido para cama com Burgoux?
“Sim, ela é minha advobruxa. Não pode dormir com o advobruxo inimigo.”
-Então me diga, sobre o que falaram.
-Bem, eu disse que queria um acordo, mas ele não quis. Diz que quer me derrotar. Mas não se preocupe, esse caso não vai para o tribunal. Na assembléia com o juiz, apresentarei o que tenho contra Burgoux, ele não vai querer levar o caso adiante.
-Foi só isso?
-Sim. –a ruiva mentiu, omitindo a parte em que subiram para o quarto dele e tiveram alguns poucos amassos, que ela parara.
-Mesmo? Então por que demorou?
-Eu disse que o jantar tinha sido longo. Ficamos naquele jogo indireto de “eu-sou-melhor-que-você-e-vou-vencer”.
Ficaram por um tempo em silêncio, apenas bebendo taças e taças, até que Gina, ainda se fingindo de bêbada, disse:
-Eu não sei o que é que há comigo.
-Como assim?
-Os homens têm medo de mim, uns tentam fingir que não, mas eu sei que eles têm. Eu sou assustadora.
-Não, você não é, Virginia. Você apenas intimida alguns pobres mortais. –disse, meio enrolado já, estava ficando bêbado.
-Não te intimido?
-A mim? Não, você não intimida. Eu te vejo como uma igual. Draco e Virginia, perfeitamente intimidadores. –ele gargalhou alto –Dizem por aí que somos durões e sem sentimentos.
-Eu não sou, mas você é, Draco.
-Poxa, mas é claro que eu tenho sentimentos. Eu sou uma maravilha pra sentir raiva, você nem imagina.
-Posso imaginar.
-Duvido. Eu sou eu e ninguém sabe quem eu sou de verdade.
-E por que não?
-Porque não quero que saibam, é muito óbvio isso.
-Onde você estava quando eu te liguei?
-Eu...estava com um sócio. –mentiu, ainda tinha sobriedade para isso.
-Você está bêbado, Draco. –ela comentou.
-Você está mais ainda, Virginia.
-Como vamos aparatar de volta? –quis saber.
-Não vamos, oras.
-Hum? Mas...
-Aparatar nesse estado é arriscado, você sabe disso.
-É verdade. –disse e levantou-se, sentiu-se tonta de repente.
“Eu acho que misturar aquela poção com tanta bebida não me fez bem.” Ela pensou, caindo sentada no colo do Malfoy.
-Desculpa. Eu não estou bem.
-Eu vou te levar pra cama, Virginia.
-Quê?!?
-Pra você dormir. –ele completou, sorrindo zombeteiro.
Draco segurava a ruiva junto a si pela cintura:
-Eu acho que não estou muito bem... –ela murmurou, sentindo o mundo girar a sua volta.
-É, eu sei. –mal o Malfoy dissera isso, Virginia desmaiou.
Draco amparou-a e puxou o corpo dela para junto do seu:
-Acorde. Você realmente desmaiou?!?
Não obteve resposta, então juntou suas bocas. Lambia com a ponta de sua língua os lábios dela, sentindo o gosto do Firewhisk. Ficou com os lábios colados aos dela e como não havia nenhuma manifestação dela, ele afastou-se. Pegou-a no colo e carregou-a.
“Você é toda minha, Weasley, para eu fazer o que quiser...” pensou dirigindo-se para a cabine em que ficava o quarto.
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