Surpresas
CAPÍTULO I
Surpresas
Harry entrou na cozinha ainda deserta, satisfeito por contar com mais algum tempo sem ter que aturar os parentes. Acordara muito cedo, como se tornara um hábito, já que seu sono era perturbado por pesadelos terríveis, e a dor em sua cicatriz se tornara uma constante, impedindo-o de ter um descanso decente. Fritou alguns ovos com bacon, arrumou a mesa e sentou-se para degustar seu café da manhã. Mal tinha começado quando os tios entraram na cozinha, fechando a cara para ele.
- Esse garoto anda cada dia mais abusado, Petúnia. - tio Válter torceu o bigode, numa careta de desagrado. A tia não respondeu, começando a preparar o café, batendo com as coisas, e deu para perceber o esforço enorme que fazia para se controlar.
Os Dursley andavam apavorados desde que os membros da Ordem tiveram aquela conversinha com eles na estação de King Cross. O único que ainda se atrevia, raramente, a criticá-lo de alguma forma, era tio Válter; mas Harry achava que era mais por falta de controle mesmo, e não por algum tipo de coragem.
Pouco tempo depois, uma coruja entrou pela janela da cozinha, assustando os Dursley, e fazendo com que Duda, que acabava de entrar, se jogasse no chão, fugindo do rasante que ela deu sobre sua cabeça. Saiu voando novamente pela janela após receber o pagamento de Harry, que pegou o jornal que ela deixara a sua frente, abrindo-o e começando a ler com ansiedade, ignorando a indignação nos rostos dos tios.
- Eu já não disse que não quero esse lixo na minha casa? - tio Válter grunhiu, não conseguindo se conter.
- E eu já não respondi que precisamos saber o que está acontecendo? - retrucou irritado, sem tirar os olhos do jornal, que trazia as mesmas notícias histéricas desde que a volta de Voldemort passara a ser de conhecimento geral. - Quantas vezes vou ter que explicar a vocês que estamos todos, bruxos e trouxas, - tia Petúnia gemeu, enquanto tio Válter ficou vermelho, parecendo inchar de indignação ante o atrevimento do sobrinho em mencionar aquelas palavras na sua frente - correndo grave perigo? Esqueceram o que aconteceu no último verão? - Duda tremeu, se encolhendo na cadeira. Jamais esqueceria o terror pelo qual passara.
Ao perceber que tio Válter pretendia insistir em suas reclamações, Harry ergueu os olhos, pronto para enfrentá-lo, mas ao pousar o olhar sobre tia Petúnia, as palavras de Dumbledore vieram a sua mente, fazendo-o desistir. Ela podia ser uma péssima tia, ter tratado-o de forma horrível desde que chegara àquela casa, mas aceitara-o, e mantivera-o vivo por todos aqueles anos. Unicamente por isso, Harry levantou-se sem responder às provocações do tio, e voltou para o seu quarto, onde poderia terminar de ler o jornal em paz.
Era impressionante como mudara naquele último ano, em vários aspectos. Amadurecera bastante com os golpes que sofrera, e depois de muito remoer sobre tudo o que acontecera, chegara a conclusão que Dumbledore agira certo, por mais que lhe doesse admitir aquilo.
Percorreu todo o jornal, procurando por indícios que pudessem lhe revelar os passos de Voldemort - aprendera com a experiência do último ano a não ficar apenas na primeira página – mas nada encontrou em relação a isso. Porém, uma pequena notícia num canto da última página chamou sua atenção.
"Faleceram nessa madrugada os ex-aurores Frank e Alice Longbottom. Os dois estavam internados no Hospital St. Mungus para Doenças e Acidentes Mágicos há dezesseis anos, desde que seguidores de Você-Sabe-Quem os torturaram até a loucura.". A notícia continuava com informações sobre o sepultamento dos dois.
- Pobre Neville... - murmurou Harry, que sabia exatamente como o amigo devia estar se sentindo.
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Harry sentou-se de repente na cama, apurando os ouvidos. Tinha certeza de ter ouvido um som estranho no primeiro andar. Passava da meia-noite, e com certeza seus parentes estariam dormindo; além disso, não fora o som de alguém atacando a geladeira. Empunhando a varinha, saiu apressado para o corredor escuro, o coração acelerado, na expectativa do que poderia estar a sua espera lá embaixo.
TAPUM!
Caiu sobre uma mesinha do corredor, causando estardalhaço, depois de chocar-se com algo que vinha ao seu encontro. Colocou-se rapidamente em guarda, enquanto ajeitava os óculos que caíram do seu rosto, e deparou-se com o brilho verde do tamanho de duas bolas de tênis encarando-o com ansiedade.
- Dobby!
- Harry Potter, meu senhor, - disse a criaturinha com sua voz esganiçada, tentando puxá-lo novamente para dentro do quarto – não pode descer, meu senhor! Dobby não pode permitir.
- O que está havendo, Dobby? - Harry resistia, tentando, em vão, livrar-se das mãos do elfo.
- Harry Potter não pode descer! - insistia ele, agarrado ao braço de Harry.
- AGORA CHEGA! ISSO JÁ PASSOU DOS LIMITES, PETÚNIA!
A voz de tio Válter veio como um trovão do quarto mais adiante, que se abriu, dando passagem ao tio furioso, que estacou ao se deparar com a cena no corredor. Tia Petúnia, que vinha logo atrás, soltou um gritinho abafado de pavor. Duda também saiu de seu quarto correndo, chocando-se contra Harry e Dobby, e os três caíram ao chão, numa confusão de braços e pernas. Quando Duda reparou no elfo, pôs-se a gritar, apavorado, ao que os tios lançaram-se no chão ao seu encontro, dispostos a livrarem o filho daquela criatura horrível.
Aproveitando a confusão, Harry desvencilhou-se e desceu correndo as escadas, disposto a enfrentar o que quer que o aguardasse.
- SURPRESA!
Harry parou no pé da escada, piscando atônito ante a cena na sala de estar dos Dursley. Mais ou menos uma dezena de rostos conhecidos o encaravam, sorridentes, em meio a uma decoração festiva, e em uma grande faixa na parede contrária as palavras "Feliz Aniversário Harry!" dançavam alegremente. Era seu aniversário. Havia esquecido totalmente disso, o que não era uma grande surpresa, com todos os problemas que tinha na cabeça. Além disso, nunca tivera com quem comemorar a data.
A Sra. Weasley se adiantou, envolvendo-o num abraço de rachar as costelas.
- Harry, querido, estamos tão felizes de poder estar com você hoje! - ela lhe deu um beijo estalado na bochecha, antes de abraçá-lo novamente. Harry corou, satisfeito. Molly Weasley era a pessoa mais próxima a figura materna que já tivera em sua vida.
Após a mãe de Rony, Harry recebeu os cumprimentos de Gui, Carlinhos, os gêmeos, Tonks, Moody e Lupin.
- Vim mesmo apenas te dar um abraço, Harry. - disse Lupin, após cumprimentá-lo - Tenho que voltar ao trabalho, mas não queria deixar de vir.
Harry agradeceu com um sorriso. Sabia que os membros da Ordem estavam mais atarefados do que nunca, e apenas o simples fato de terem ido até ali já o alegrava. Apenas uma coisa faltava para tornar a ocasião perfeita. Mas sabia que seus amigos não poderiam vir até ali, ainda mais no meio da noite. Afinal, eles ainda não sabiam aparatar.
Voltou-se para receber os cumprimentos de Dobby, que lhe entregou, satisfeito, um pequeno embrulho, que ele logo descobriu tratar-se de outro par desconexo de meias.
- Esses aí não estão te causando problemas, não é, garoto? - perguntou Moody, apontando com o polegar sobre o ombro na direção dos Dursley, que acabavam de descer a escada.
Harry respondeu que não, rindo ao ver que Fred oferecia aos Dursley uma bandeja de doces dos mais variados, com um sorriso maldoso no rosto. Tio Válter se encolhia contra a parede, um braço em volta do ombro da esposa ao seu lado, o outro pressionando o filho entre os dois. A fúria e o pavor estampavam-se em seu rosto, do mesmo modo que a gula e o medo estavam no rosto do filho, que olhava avidamente para a bandeja, mas lembrava-se muito bem da última vez em que se atrevera a provar um doce vindo de bruxos.
Harry estava conversando animadamente com Tonks, quando a campainha tocou. Sabendo que os tios não estavam em condições de atender, ele mesmo foi até o hall, e um sorriso surpreso brilhou em seu rosto ao ver quem chegava.
- SURPRESA!
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Lupin sentou-se em um banco de pedra, observando calado enquanto ela posicionava vários cristais em volta do arco de pedra. O ritual era o mesmo de todas as noites desde começaram a trabalhar juntos naquela tarefa. Remo falava apenas o essencial, seguindo as instruções dela.
- Quando você vai parar de agir como uma criança mimada e conversar normalmente comigo? - perguntou suavemente, sem interromper o que estava fazendo.
- Bela comparação, vindo de quem vem. - retrucou, irônico. Não parecia o homem calmo e sensato que todos conheciam.
Ela suspirou desanimada, voltando os profundos olhos azuis em sua direção. Caminhou resoluta até onde ele estava, sentando-se no estrado de frente para ele.
- Muito bem, Remo, acho melhor termos uma conversa séria. Esse mal-estar entre nós está dificultando muito nossa missão.
- Me desculpe, srta. Donovan, se não sou capaz de agir como você, e fingir que nada aconteceu entre nós.
- Eu sei que você está aborrecido...
- Aborrecido? Eu? Imagine! - o sarcasmo permeava cada uma de suas palavras - Só porque a mulher que eu amava desapareceu do mapa algumas semanas antes de nosso casamento, sem deixar rastro, e agora, dezesseis anos depois está de volta, como se nada tivesse acontecido? - ele levantou-se, incapaz de ficar parado - Tem idéia do que senti quando você sumiu, Ana? Tem sequer noção do meu desespero quando encontramos o corpo de Sebastian na casa de Marlene?
- Eu entendo, Remo, mas tive meus motivos para isso. Você sabe que tivemos que ir até a Ilha. - ela começou a explicar, nervosa - Lá descobrimos... algo. Uma coisa que nos impediu de continuar a usar o Gaworn, e por isso tanto a Ilha quanto nós estávamos em perigo. Dierna agiu rapidamente, e ergueu uma barreira, que impedia qualquer um de entrar ou sair de Avalon. Ficamos incomunicáveis.
- E por que não voltaram quando o perigo acabou? O que foi esse "algo" que descobriram?
Ana desviou o olhar, triste.
- Não posso dizer, Remo. Apesar de querer muito, não posso.
- Ou seja: voltamos a etapa dos mistérios. Aliás, acho que nunca saímos dela, não é, Ana? Mas isso não importa. Não mais. - ele parecia mais abatido do que nunca, seu olhar triste pousado sobre ela - Importou quando você me deixou praticamente no altar. Importou quando encontramos o corpo do seu primo. E importou na noite em que perdi meus melhores amigos de uma só vez. Naquela noite, tudo o que eu queria era tê-la ao meu lado.
- E tudo o que eu queria era ter estado ao seu lado...
- Como eu disse, isso não importa mais. Eu sobrevivi, juntei meus pedaços e continuei minha vida sem você. E é assim que eu quero continuar. Assim que acabarmos essa missão, Ana, eu não pretendo vê-la nunca mais. - concluiu, seguindo para o estrado, e tomando sua posição sobre ele, pronto para começar o ritual de todas as noites.
Ana suspirou, contendo a dor que sentia. Sempre soubera que o reencontro deles seria difícil, e não se surpreendeu com a reação do antigo namorado. Voltou para junto dele, pronta para continuar a tarefa, e pensando que o pior ainda estava por vir, quando ele descobrisse tudo.
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Harry não coube em si de felicidade ao abrir a porta e encontrar Rony, Hermione e Gina, ao lado do sr. Weasley e da Sra. Figg.
- Parabéns, Harry! - Hermione lançou-se ao seu pescoço, com um daqueles abraços que sempre o constrangiam. Logo depois foi a vez de Gina, tão efusiva quanto a primeira. A seguir foi Rony quem o cumprimentou, um braço sobre seu ombro enquanto entravam em casa.
- E aí, amigão! - dizia ele, rindo satisfeito - Achou que nós íamos perder a sua festa?
- Pensei... já que vocês não sabem aparatar...
- Viemos com Pó de Flu. - explicou Gina – A lareira da Sra. Figg faz parte da rede.
A festa ganhou novo ânimo com a chegada dos amigos, e o ruído alto de conversas ecoava pela casa, enquanto tia Petúnia não parava de olhar pela janela, verificando se nenhum vizinho percebera o que estava acontecendo em seu lar.
Depois de algumas horas, Moody anunciou que estava na hora de irem.
- Bom, então até logo. - Harry despediu-se, triste por já ter que se afastar dos amigos - Muito obrigado pela festa.
- O que está dizendo, garoto? - perguntou Moody, impaciente - Você vai conosco. Suba e arrume suas coisas, rápido.
Feliz com mais aquela surpresa, Harry subiu acompanhado de Rony, Hermione e Gina para arrumar seus pertences. Logo depois, os quatro usavam uma chave de portal, especialmente feita por Dumbledore para a ocasião, e que os levou diretamente ao Q.G. da Ordem, onde os pais de Rony já estavam aguardando-os.
A dor voltou a tomar conta de Harry ao se ver novamente naquela casa. A lembrança do padrinho, e de tudo o que acontecera invadiu a sua mente. Contendo a raiva que ameaçava dominá-lo, ele seguiu os amigos até o quarto que dividiria com Rony. Lá chegando, se aboletaram todos sobre as camas.
- E então? - perguntou Harry, ansioso - O que vem acontecendo?
- Bom, as coisas andam estranhamente calmas. - começou Rony. - Fora as notícias histéricas do Profeta, não aconteceu nada de novo.
- Só a morte dos Longbottom. - completou Mione, tristonha - Coitado do Neville, deve estar sofrendo muito, não é?
- Eu não sei o que é pior. - comentou Rony - Ver os pais naquele estado, ou perdê-los assim.
- Podia ser muito triste para ele ver os pais daquele jeito. - respondeu Harry, sério - Mas garanto que mesmo assim ele sentirá muito a falta dos dois.
Os três perceberam que Harry falava dos próprios pais, que ele nunca conhecera, e resolveram mudar de assunto.
- Você viu a lista desse ano? - perguntou Mione, esbaforida - Obviamente Dumbledore já arrumou um novo professor de DCAT, e a julgar pelos livros que pediu, teremos alguém competente pra variar.
- Mione, eu fico feliz em saber que não teremos outra Umbridge, - Harry respondeu, em tom cansado - mas não podemos falar sobre assuntos mais interessantes?
- Que tal o Lupin? - sugeriu Rony.
- O que tem ele?
- Ele anda muito estranho ultimamente. - respondeu Mione, pensativa - Sai todas as noites, e não é para a ronda da Ordem, disso sabemos; além disso anda mal-humorado, ranzinza e impaciente.
- Realmente é estranho, o Lupin não é assim. - comentou Harry, a testa franzida.
- Ele está numa missão especial.
Os três viraram-se surpresos para Gina, que dissera aquilo calmamente.
- E como você sabe disso? - perguntou Rony, encarando a irmã.
- Lembram-se das Orelhas Extensíveis de Fred e Jorge? - perguntou, com um sorriso maroto - Eles deram-nas para mim. E como eles não estão por aqui, mamãe relaxou a segurança nas reuniões.
- Você tem ouvido as reuniões da Ordem?! - Rony quase gritou, os olhos esbugalhados - Por que nunca me contou?
- Por que deveria? - retrucou Gina - Você nunca me conta nada!
Percebendo que os irmãos começariam a discutir, Harry resolveu intervir.
- Isso agora não importa. O que você descobriu, Gina?
- Não foi muita coisa, - começou ela, encarando o rapaz - e eu só vou contar porque acho que você merece saber, Harry.
- Ótimo! Pra ele você quer contar! Deixe o Dino saber disso!
- Pare com isso, Rony. - cortou Mione, ríspida - Uma coisa não tem nada a ver com a outra.
- É isso mesmo, Mione. - Gina agradeceu o apoio da amiga - Então, aí vai: o Lupin está trabalhando com alguém para tentar trazer o Sirius de volta.
Os três ficaram estáticos pela surpresa, e Harry sentiu uma onda de adrenalina disparar sua pulsação.
- Gina, deve ter algum engano...
- Não tem, Harry, eu ouvi muito bem.
- Mas Dumbledore disse que ninguém volta da morte. - argumentou Mione.
Gina então explicou toda a história do arco, que ouvira Lupin contando nas reuniões.
- Então, Sirius pode voltar? - perguntou Rony, ao fim do relato da irmã.
- Acho que foi isso que acabei de dizer, não é?
Enquanto os irmãos voltavam a discutir, Harry olhava para o teto, sem ouvir nada.. Ele poderia tornar a ver o padrinho! De todas as surpresas do dia, aquela sem dúvida era a melhor!
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N/A: Galera, primeiro quero agradecer pelos comentários, e dizer que espero corresponder a confiança que estão depositando em mim! Sei que não tivemos muita ação e romance até agora, mas estou apenas preparando as coisas para o que está por vir, não me abandonem por isso, ok? Bjks, e por favor, não deixem de comentar, viu?
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