Capítulo 40
40. Capítulo 40
Narcisa Malfoy
Havia levado a chave com ela quando saíra de casa. Sempre encontrava uma hora para ficar a encarando e se debatendo. Fizera isso na casa de Draco. Fazia agora em seu apartamento também. Era apenas inevitável. Fazia até mesmo quando estava cuidando dos netos, tentando se distrair.
Recebera uma carta de Lucio aquela manhã. Ele parecia um espírito que voltava para atormentá-la nos dias que conseguia se sentir melhor, simplesmente porque haviam dias que ela o tomava como morto, mesmo que lhe doesse a alma, o espírito, o corpo, a mente e o coração, acima de tudo.
“Você sabe o porque. Você tem a chave. Você sabe que é importante.”
Era tudo que havia escrito na carta.
Ele se sentia triste. Isso era tudo que ele tinha para dizer a ela depois de tanto tempo sem conseguir se comunicar? Era realmente tudo? Será que ele não queria implorar para que ela fosse o visitar? Será que ele não queria dizer que sentia falta de ver seu lindo rosto, de ser tocado por sua mão carinhosa e de escutar sua voz paciente? Draco dizia isso de Hermione com uma frequência que Lucio nunca havia feio, como se estivesse atestando sobre a beleza do tempo, ou sobre o bom vinho que tinha nas mãos.
O que ela tinha de errado? Qual era o seu problema? Por que sabia ser tão perfeita para os padrões dele e ainda ser rejeitada? Por que ela ainda continuava pensando essas coisas quando o considerava um homem morto?
Soltou o ar e puxou o jornal para tentar se distrair e terminar seu lanche da manhã, antes de ir pegar sua carruagem para a casa de Draco onde faria companhia para Hermione durante a tarde. A foto na primeira página era deles. A tão amada família Malfoy. Draco, Hermione, Scorpius e Hera. Aquela era a primeira foto oficial publicada no jornal. Havia sido tirada na sala da casa deles onde se podia ver a neve acumulada do lado de fora pela enormes janelas de fundo. Eles estavam sério e estáticos como bom Malfoys, porém havia algo no olhar deles, havia algo na energia daquela imagem, algo na forma como Draco colocava a mão sobre o ombro de Hermione estando de pé logo atrás dela depois de ajeitar o lindo vestidinho de Hera em seu colo, e na forma como Hermione alcançava a mão que ele colocara em seu ombro logo após rearranjar confortavelmente Scorpius sentado em sua perna. Eles estavam completos, estavam bem, estavam felizes. Era possível ver isso sem que abrissem um simples sorriso ou dessem qualquer declaração. Eles eram uma família, não eram apenas seres humanos ocupando gloriosos cargos hierárquicos em um sistema que vinha se arrastando por anos com o nome Malfoy.
Ah! Como ela ficava feliz por Draco por ele ter encontrado algo que ela não havia tido a chance com Lúcio. Mas ainda assim, quando seus olhos caiam sobre Hermione, seu coração apertava. Apertava por não acreditar que pudesse existir algum amargo naquele mel. Sim, ela tinha suas atitudes excêntricas, era firme em suas decisões, orgulhosa e independente, mas era autêntica, não havia nada que saia de sua boca que era vago ou impensado. Ela se importava com coisas além de seu próprio ego e era verdadeiro, era verdadeiro porque ela sempre fazia parecer ser simples algo que para Narcisa, para sua família, para todos que conheciam e principalmente para os Malfoy, parecia escandaloso.
Parou de se focar nela, ela não faria as palavras de Lúcio penetrarem em sua mente mais fundo do que já haviam penetrado. Sorriu inevitavelmente ao ver o rostinho dos netos. Eles eram absolutamente idênticos e terrivelmente fofos. Não havia dúvidas de que eram filhos de Draco e Hermione. Os poucos fios que tinham na cabeça eram brancos. Os olhos eram absurdamente cinzas e as bochechas extremamente rosadas. Eram Malfoys sem dúvida alguma. Alguns traços lembravam bastante Hermione, o nariz, a boca, as orelhas e o formato do rosto, mas os olhos e os cabelos eram um gene dominante que vinha sendo passado por séculos entre os herdeiros do nome Malfoy.
Levantou-se não muito tempo depois e entrou em sua carruagem para deixar o centro em direção ao subúrbio. Não passou dois minutos e ela se viu presa novamente nos pensamentos que rodeavam sua cabeça. Se Lúcio morresse... Se ele morresse mesmo. Ela teria que tomar conta do último dever que ele lhe dera. Não sabia se podia. Não sabia se conseguiria.
Então lá estava ela novamente com a chave em sua mão. Draco não a perdoaria. Ou talvez a perdoaria. Ou talvez ele mesmo fizesse o trabalho por ela se visse a fundo o que ela já havia visto antes, num passado que parecia tão distante agora.
Ergueu os olhos no exato no momento em que passou por Gringotes. Seu cérebro foi a mil e talvez ela precisasse ir até lá entender novamente a razão de toda a exigência contra Hermione. Talvez ela precisasse ver tudo de novo, ler tudo de novo, ter nas mãos todas as provas, sentir todas as emoções novamente. Talvez...
Pediu para que voltasse e parasse em Gringotes. Seu pedido foi atendido sem qualquer hesitação. A carruagem deu a volta e estacionou de frente a extensão do branco em Brampton Fort. Sem demora, ela pulou para fora de sua cabine, seguiu para dentro do edifício e estendeu a chave em sua mão para o primeiro duente que a atendeu. A criatura a encarou por alguns segundos, como se quisesse pegar algo em sua expressão, mas sem ter qualquer informação adicional, apenas girou pelos calcanhares e a guiou até o cofre principal dos Malfoy, abriu o cofre, seguiu pelo enorme museu que ele era até a ala das salas fantasmas. Uma delas foi aberta pela chave e quando Narcisa entrou, sentiu o cheiro da história impregnar em sua roupa, sua pele, seus cabelos e pressionar suas entranhas.
Arrependeu-se de ter ido até ali com muita rapidez. Ainda tinha chances de dar as costas, mas era impossível não ser atraída pelo peso do ar daquela sala. Era apenas uma sala, retangular, grande o suficiente para ser uma sala de jantar para o padrão de sua família. Mas não havia mesas e cadeiras. Haviam pilhas e baús de diários separados por nomes de herdeiros Malfoys que datavam até uma época muito próxima a de Merlin. No fundo, inúmeros quadros mostravam o rosto de Morgana. Alguns pareciam uma foto envelhecia de Hermione. Haviam sido congelados por feitiços para que não expressassem nenhuma tipo de vida. No centro, em um pedestal, havia um livro gigantesco, pesado e velho, que era preservado por magia, como o nome de todas as fadas humanas já mortas pela perseguição dos Malfoy, desde o início da história.
Não muito distante de onde estava, ainda parada a alguns metros da entrada, estava o quadro que continha uma fotografia que chamava atenção. Era uma fotografia trouxa e era de Hermione entrando na adolescência. Ligado a ela vinha as imagens de toda sua arvore genealógica e logo abaixo o nome do Malfoy que havia o exterminado. A mãe de biológica de Hermione havia sido morta por Lucio, mas o pai fora eliminado por Draco, e Narcisa duvidava que Lucio havia sequer mencionara para o filho a existência daquela sala ou do paradeiro do homem que matara.
Naquele dia ela foi até a casa do filho, fez companhia a Hermione, comeu de sua comida, conversou, brincou com os netos, procurou se entreter e foi embora carregando silenciosamente o peso do dever que tinha para com o sangue da esposa de seu filho, exatamente como fazia todos os dias.
Ela nunca havia falhado como Malfoy. Nunca.
Hermione Malfoy
Suas mãos suavam enquanto ela fitava em silêncio Harry Potter logo a sua frente, sentado no degrau de uma escada de incêndio em um dos becos da grande Londres, o mesmo lugar em que vinham se encontrando quase toda semana. Ela estava de pé a alguns poucos passos de Draco, que atentamente observava Harry ler o papel que havia entregado a ele.
Hermione mantinha as mãos na cintura, tentando disfarçar como uma boa Malfoy, o quão desconfortável era se encontrar com Harry. Ela genuinamente se importava com ele, e exatamente por isso, se importava e se incomodava com o que quer que estivesse se passando na mente dele sobre ela naquele momento. Talvez ele estivesse a acusando por ser quem era, por estar tão diferente, por nunca atender suas expectativas sempre que se encontravam.
Ela não tinha ideia do quanto ele sabia sobre sua vida. Não tirava mais a aliança dos Malfoy de seu dedo para se encontrarem, esperava que até ali ele já soubesse que ela era uma Malfoy, que Draco era seu marido e que eles tinham filhos. Mas ele parecia completamente alienado. Ao menos era o que dava a entender. Sabia que o que havia restado da Ordem estava preso na casa dos Potter em Godric’s Hollow. Harry conseguia sair e se encontrar com ele graças a moeda que servia como chave de portal quando ativada, mas isso era tudo que o ligava ao mundo fora das paredes da casa dos Potter. A ideia de estar completamente excluído do mundo bruxo era absurda para ela, principalmente agora que o mundo se dividia entre Voldemort e seus império e Voldemort e conspirações contra os Malfoy. Draco, Hermione e os gêmeos eram figuras presentes na mídia diariamente, e não era como antigamente, onde suas vidas circulavam apenas no Diário do Imperador dentro das muralhas de Brampton Fort, agora eles eram figuras presentes nos grandes jornais e revistas mundiais. Pessoas de todo o lugar do mundo sabiam o que acontecia dentro das muralhas do forte do Mestre.
O fato de não duvidar que Harry e o restante da Ordem estivessem completamente alienados do mundo exterior se dava simplesmente por já ter estado daquele lado da guerra antes. Lembrava-se de que as forças de Voldemort eram tão opressoras contra os rebeldes que um pedaço de informação, uma folha de jornal, cinco segundos que conseguiam se conectar a alguma estão de rádio eram vistos como milagres, como preciosidades, como oportunidades que não conseguiriam ser alcançadas tão cedo. Isso porque estavam em uma situação muito melhor do que a Ordem deveria estar agora.
- Isso é absurdo. – Harry abaixou o papel e encarou Draco com raiva. – Está querendo nos usar como fantoches.
Hermione conseguiu sentir o calor da irritação de Draco de onde estava.
- Juro que se me fizer entrar nessa discussão novamente, minha primeira ação assim que matar Voldemort será cortar sua garganta, Potter. – Draco foi severo.
Hermione limpou a garganta e tomou a frente. Draco não sabia lidar com Harry, ela sabia.
- Lembre-se que nossos objetivos são iguais, Harry. Estamos sendo suas pernas quando não pode andar e seus olhos quando não pode enxergar. Precisamos de você na mesma proporção que precisa de nós agora.
Ele estreitou os olhos.
- “Nós”. – ele soltou com nojo, repetindo o que ela havia dito. – Você realmente faz parte deles. É exatamente como eles. Se veste como eles. Tem a mesma postura deles.
- Sim, eu sou um deles. – ela sentiu a dor da acusação dele afetá-la numa intensidade angustiante. Sentiu a necessidade de recuar, de cruzar os braços, de limpar as mãos suadas na saia, mas continuou corajosamente e orgulhosamente em sua postura. – Posso mostrar a Marca Negra em meu braço mais uma vez se ainda não ficou satisfeito em ver apenas uma.
Ele claramente percebeu que ela havia se ferido com a acusação dele. Apesar das máscaras que usava, apesar do tempo que haviam passado distantes, apesar do tanto que havia mudado, não podiam apagar o fato de que haviam crescido juntos. Ele conseguia lê-la há mil quilômetros de distância, da mesma forma que ela conseguia lê-lo.
- Não foi isso que quis dizer. – a voz dele suavizou. Hermione quis estreitar os olhos e responder grosseiramente, sabia muito bem que Harry estava sendo indireto e que ele quis dizer exatamente o que disse. – É difícil confiar em você desse jeito. Só tenho feito tudo isso porque ainda consigo ver a Hermione que conheço no fundo de seus olhos.
Ela não disse nada. Ele estava sendo honesto. Ele sempre era honesto e tímido quando percebia que havia feito algo errado. Hermione se sentiu imediatamente culpada por se ver pronta a tirar proveito do recuo dele, mas aquilo não a fez hesitar.
- Então faça o que está na lista. – aquilo não a faria ficar acordada a noite. Só existia uma coisa que lhe tirava o sono agora.
- Hermione. – o som de seu nome na voz dele a fazia querer fechar os olhos e recuar. Aquilo a fazia relembrar tanto. Fazia com que relembrasse de todas as vezes que ele já pronunciara seu nome, desde quando tinha onze anos até poucos anos atrás onde o sussurrava em seu ouvido enquanto corria as mãos pelo seu corpo. – Acaso leu essa lista?
- Eu fiz essa lista. – ela foi indiferente.
- Não é sua letra. – ele retrucou.
- É a de Draco.
Harry pulou seus olhos dela para Draco e de Draco de volta para ela. Hermione morreu por dentro ao imaginar que ele poderia estar conseguindo enxergá-la no escritório de sua casa, com as pernas sobre as pernas de Draco, vestida em sua camisola, segurando sua taça de vinho caro enquanto discutia com Draco o conteúdo daquela lista.
- A Ordem não existe mais, Hermione. – ele começou depois de alguns segundos em silêncio. – Nós fomos reduzidos ao pó quando os ajudou a invadirem a sede da Ordem. Não somos mais a Ordem. A Ordem se desfez. Cada um seguiu seu rumo. Quem fugiu, fugiu. Quem foi pego, morreu. Quem era indeciso, se rendeu a Voldemort. E quem está comigo em Godric’s Hollow agora não passa da metade de quem estava comigo no início de tudo. Não somos a Ordem. Somos fugitivos tentando sobreviver. Não somos uma fonte. Não pode contar conosco nesse nível. – dobrou o papel.
Ela conseguiu ver o quanto ele estava ressentido pela decisão de derrubar a Ordem. Uma decisão que ela havia o persuadido a tomar. Ele a culpava e ela não o culpava por isso. Deu um passo e começou.
- Essa guerra nunca foi a Ordem versus Comensais, Harry e foi assim que nós a vimos por muito tempo. Não negue. Eu estava com vocês para saber que mais nos valia derrotar um exército de Comensais e ganhar uma pequena vila do que te preparar para encarar Voldemort cara a cara. Nós nos engajamos demais nas batalhas e esquecemos que a guerra sempre foi sobre derrubar Voldemort. A Ordem não precisa existir para que Voldemort caia. Quem precisa existir é você e, pelo menos isso a Ordem teve sucesso. Te manter vivo nunca foi um trabalho muito fácil.
Ele apertou os olhos parecendo sentir-se estranho enquanto a encarava.
- Por que você soa assim?
Hermione não entendeu.
- Assim?
- Fria. – ele respondeu. – Indiferente. Sem emoção. – ele estava incomodada com aquilo. – Você sempre me disse isso. “Te manter vivo não é um trabalho fácil.” – parecia frustrado. – Escutei dizer isso dezenas de vezes e em todas elas, sempre me deu um sorriso no final.
Hermione lutou contra a vontade de sair correndo. Permaneceu imóvel, inabalável. Quis até mesmo suspirar, mas não se deu a chance.
- Não tem ideia do que eu passei, Harry. - Foi direta. Era sua melhor opção. – Tenho uma vida diferente agora.
- E nessa sua vida, onde eu me encaixo? Onde seus amigos se encaixam? Onde sua história se...
- Potter. – Draco o cortou e Hermione nunca se sentiu aliviada por isso quanto antes. – Nós não temos tempo para discutir a relação de vocês.
- Eu preciso de resultados, Harry. – Hermione foi o mais sincera que pode ser. – É tudo que eu preciso. Eu preciso de Voldemort morto. Eu preciso ser livre. Eu preciso que faça isso. Por favor. Se fizer isso vai se tornar tão livre quanto eu.
Ele desviou o olhar dela abaixando os olhos. Soltou o ar.
- Nós não temos condições de conduzir nada disso, Hermione. – ele tornou a abrir a lista em suas mãos. – Nós estamos vivendo as custas de magia. Nenhum de nós se sente pronto para levantar de nossos lugares para dizer qualquer coisa sobre a guerra. Perdemos tudo tentando ser fortes. Todos estão na expectativa de que se formos fracos pelo menos uma vez... – suspirou. - ...quem sabe ganhamos algo.
O silêncio pairou entre eles por alguns segundos. Draco e Hermione trocaram um rápido olhar e foi o suficiente para que ela entendesse que ele havia aquele momento como sendo o perfeito. Ela apenas piscou calmamente em sinal de que pensava o mesmo. Draco não hesitou:
- Nos dê o véu, então.
Harry ergueu os olhos imediatamente.
- Não. – foi sua primeira resposta. Exatamente a que Hermione havia dito a Draco que ele daria.
- Você é incapaz de nos prestar qualquer serviço, Potter. Estou tentando tirar proveito do que posso de você, mas aparentemente, o que realmente quer é que seja colocado em uma sela com Voldemort totalmente desprovido de qualquer magia enquanto você segura a faca.
- Seu exército dilacerou a Ordem por inteiro, como espera que eu lhe preste qualquer tipo de serviço.
- Meu exército destruiu um prédio, Potter! Eu disse que estaríamos o invadindo num intervalo de tempo o suficiente para que você montasse a melhor estratégia para lidar com isso. Nós nunca dissemos que a Ordem necessariamente precisava ser destruída, precisávamos apenas que a Ordem aparentasse ter sido destruída...
Harry levantou irado.
- Harry! – Hermione levantou o tom de voz para ter sua atenção antes que Harry começasse a querer seguir com uma discussão infantil, o que ele era muito bom em fazer. – Não importa. Realmente não importa. Nada se pode ser feito a respeito disso agora. Não importa mais.
- Não importa mais?! – ele voltou-se para ela. – Você tem ideia de quantas pessoas morreram?
- Sim, eu tenho, Harry. Mas não posso voltar no tempo. Nem eu, nem você. Independente do que foi, conseguimos o resultado necessário. Agora eu preciso de outro resultado. – puxou o ar, lançou um olhar rápido pelo canto do olho a Draco. – Posso trabalhar no véu se realmente é impossível que você não consiga me dar nenhum resultado. Eu me sacrifiquei por esse véu, Harry. Lembre-se disso. Se ele tem a chave de ser a chave para o fim disso, me deixe ter os resultados que ele pode me proporcionar. Preciso de resultados. Se eu tiver resultados, eu tenho soluções. Sabe disso.
Harry não respondeu e ela achou bom que ele estivesse tomando seu tempo para digerir aquilo. O silêncio durou mais do que o necessário até que ele respondeu, completamente relutante:
- Irei pensar.
Era tudo que precisavam.
- Tem uma semana, Potter. – Draco decretou e deu as costas.
- Draco. – Hermione o chamou sua atenção para que ele ainda não finalizasse aquela conversa. Ela não conseguia tirar os olhos de Harry. – Pense com cuidado. Eu preciso disso, Harry. Você precisa disso. Por favor.
Naquele instante em que seus olhares se focaram um no outro, ela se lembrou do quanto conhecia aquele homem a sua frente, do quanto ele era familiar, do quanto parecia que dividiam o mesmo sangue. Eles tinham uma história enorme e ele havia sido sua família por anos. Ela havia se dedicado tanto a ele. Ali ela se sentiu envolta naquele ciclo novamente, nos arredores de sua vida com Harry, de seu passado tão significativo com ele. Ela se sentiu parte dele novamente e foi como se depois de muito tempo, conseguisse ver com clareza outra vez, como se fosse relembrada de algo importante, que ele era suas raízes.
- Eu acredito que você nunca faria algo para me machucar, Hermione. – ele soltou tão envolto naquela ligação que estavam tendo.
Sim, ela faria. E foi naquele segundo em que digeriu as palavras dele, que ela foi puxada para fora daquela conexão. Ela tinha prioridades, e uma vida muito diferente agora. Harry na verdade havia sido suas raízes, no passado, agora ele não era mais. Queria poder fechar os olhos e chorar, queria poder se perguntar que tipo de Grifinória era sem medo. Que tipo de lealdade o chapéu seletor havia visto nela.
Recuou, refez sua postura, focou-se no seu presente, na sua realidade, nos seus problemas, no que não a deixava pegar no sono a noite, nos objetivos que precisava alcançar e nas soluções que tinha que encontrar. Puxou o ar e soltou num tom vazio e sem emoção:
- Você tem uma semana. – deu as costas. Seu olhar se encontrou com o de Draco, ele parecia atento. Ela apenas passou por ele e seguiu seu caminho para fora daquele longo beco.
Draco a seguiu enquanto ela se permitia deixar que sua cabeça remoesse sobre o que Harry poderia estar pensando naquele exato momento. Ela conseguia apenas imaginar o quanto ele deveria estar confuso de não ter dela nada do que esperava e ela se sentia mal por saber que o melhor estado para trabalhar com Harry era no que ele se encontrava, confuso. Talvez fosse por isso que Dumbledore sempre o deixou conviver com milhões de perguntas.
Ela continuou caminhando a frente de Draco. Precisavam voltar para casa imediatamente. Haviam se estendido com Harry mais do que deveriam. Assim que saíram do beco, tomou caminho pela sombra. Era dia e eles precisavam ser vistos pelo mínimo de pessoas possíveis, mesmo que fossem trouxas. Desceu rapidamente por uma escada muito próxima que dava acesso a um bar semienterrado que certamente não abriria tão cedo sendo aquela hora da manhã. Pararam na porta, Draco estava logo atrás dela. Ele apenas estendeu a mão, ela não hesitou em segurá-la e em segundos eles viajaram pelo tempo e espaço de volta para o que ela gostava de chamar de casa agora.
Caverna de Vidro. Era o nome que davam para a casa que ela havia escolhido na região do Vale do Bosque, referente a um famoso e antigo conto da região, ao sul do Reino Unido. Duas gerações Malfoy haviam vivido nela a pouco menos de dois séculos atrás. Haviam sido Malfoys tão terríveis que a casa que tinha o belo nome de Palácio de Vidro, começou popularmente ser chamada de Caverna de Vidro e desde então o nome original nunca fora recuperado.
Hermione não tinha a menor intenção de recuperar o nome. Queria fazer daquele lugar sua casa, independente do nome que tivesse. Ela gostava dos pátios de inverno que surgiam inesperadamente quando passava de uma ala para a outra. Gostava de como tinha uma visão permeável para o exterior em alguns pontos bem estratégicos. De como era possível escutar água corrente dos vários espelhos d’água espalhados pela casa. De como conseguia privacidade e conforto em áreas internas bem específicas. De como tinha quartos grandes, janelas enormes, tetos bem decorados. De como os pássaros cantavam alto, de como o lago a lembrava Hogwarts, de como o verde refletia a luz do dia. Era definitivamente um palácio.
Quando pisou mais uma vez no enorme foyer, sentiu-se revigorada. O sol da manhã, embora ainda fosse inverno, clareava tudo muito bem devido a falta de cortinas nas grandes janelas. Porém o gigantesco lustre estava no alto dessa vez, logo acima dos primeiros degraus da escada dupla que se abria a sua frente há alguns bons metros de distância.
- Eles colocaram o lustre de volta. – Draco comentou as suas costas, fazendo sua voz ecoar. – É maior do que eu imaginava.
- Eu gostei. – ela declarou.
- Bom. – ele disse. – Eu também. – ficaram lado a lado e encararam em silêncio o lustre por alguns segundos. – Acha que Potter irá ceder?
Ela puxou o ar não querendo ser sincera para responder aquela pergunta. Não porque não queria ser sincera com Draco, mas porque não queria escutar suas próprias palavras.
- Harry, Rony e eu crescemos juntos. Eu sempre fui a parte do trio que resolvia os problemas, que encontrava as soluções, que achava as saídas. Harry não sabe o que fazer, Draco, e por mais que eu pareça tão diferente para ele agora, ele ainda me olha como o cérebro que irá encontrar uma solução. – suspirou. – Ele irá ceder.
- Ótimo. – ele foi prático. – Quer escolher um quarto para o véu ou quer que eu escolha?
Ela queria que Draco soubesse que as vezes a lhe doía ter que escutar os “direto ao ponto” da racionalidade dele tendo acabado de ver Harry alguns minutos atrás.
- Podemos fazer isso juntos. – ela não iria discutir.
Preparou-se para receber toda a equipe que receberiam nos próximos quinze minutos e assim que eles chegaram a casa ficou abarrotada. Hermione dava ordens de onde queria cada peça de decoração, cada móvel, cada peça de valor especificamente escolhida por ela ou por Draco tiradas de dentro dos cofres dos Malfoy para a casa. Eles montavam aquele lugar para eles e havia uma energia boa que crescia nela quando se via fazer parte de uma família, montando uma casa que ela nunca esperou que poderia ser sua em toda a sua vida, para os filhos que ela nunca esperou que fosse ter, para o marido que nunca em sua vida imaginou que iria ser seu. Era absolutamente estranho quando via tanto valor naquela vida que ela jamais havia sequer imaginado por um segundo, nem em seus sonhos mais loucos.
E foi quando estava no pico de sua distração, dando ordens para moverem um sofá para o andar superior, que Draco surgiu em sua expressão séria, a expressão que ela temia. Ele empurrou para ela um pedaço de pergaminho, seguiu seu caminho e apenas disse:
- Abra uma chave de portal.
Ela leu o que tinha nas mãos e era a caligrafia clara, espaçada e bem desenvolvida de Narcisa. “Venha para casa. Agora!” Sua mente gritou apenas dois nomes: Scorpius e Hera. Seus pés foram mais rápidos que seu próprio cérebro e em segundos ela havia alcançado Draco.
- Estaríamos quebrando o protocolo de entrada e saída de Brampton Fort, Draco.
- Como se eu me importasse, Hermione. – Ele soltou sério. – E como se você também estivesse se importando.
Céus, ele era temível quando precisava ser. Muitas vezes Hermione se perguntava como ele conseguira se livrar do exigente garoto mimado para dar lugar ao que era hoje. Mas então se lembrava que ele havia passado anos entre Comensais, sendo moldado por Lorde Voldemort, sendo um dos líderes de uma guerra injusta e brutal. Ele tinha que ter se livrado do garoto exigente e mimado, ele não havia tido outra escolha.
Queria correr, mas não podia se dar ao luxo de atingir o nível do desespero. Era uma Malfoy. Seguiu o passo rápido do marido odiando mais uma vez o tamanho dos saltos que usava. Seu cérebro trabalhava a mil elaborando todos os piores cenários envolvendo os filhos naquele momento.
Chegaram ao foyer de entrada onde estavam acumulados todos as peças importantes que haviam sido enviadas diretamente dos cofres museológicos da família. Hermione sabia bem o que fazer. Sabia exatamente qual peça precisava usar. Normalmente, as melhores peças para chaves de portal eram as mais simples possíveis, as que nunca haviam sido tocadas por magia direta ou indiretamente. No entanto, Brampton Fort era um espaço de terra um tanto quanto peculiar. Ela sabia pouco sobre a real matemática de toda a magia que envolvia o lugar, tudo que sabia era sobre a maldição que carregava dos antigos proprietários, por isso Voldemort precisava manter constantemente um número específico de Dementadores velando o espaço.
Usou uma espada do século XVII que ficaria exposta sobre a lareira de uma das salas de chá do segundo andar. Abriu o portal sem ter nenhum problema ou interferência de trânsito e em segundos eles fizeram o trajeto do Vale do Bosque até a estação sul do portão de chegada de Brampton Fort. A carruagem que os havia deixado mais cedo estava estacionada não muito longe e o condutor esperava pacientemente pela noite, quando fosse os levar de volta para casa. Certamente ficou surpreso por vê-los tão cedo, mas não negou a atender a pressa com a qual estavam e rapidamente os levou de volta para a Vila dos Comensais.
Ela praticamente voou para fora da cabine da carruagem e subiu as escadas de casa desejando poder pular os degraus. No momento em que irrompeu pela porta, pode escutar abafado o berro do choro de Scorpius e Hera em uníssono. Como ela podia fazer aquilo? Como ela podia sair de casa e deixar seus filhos longe de suas mãos? Como ela podia abandoná-los daquela forma? Que tipo de mãe ela era?
Dessa vez ela realmente quase correu pelos corredores do primeiro andar seguindo a intensificação do choro dos filhos. Uma voz dentro dela rugia. Ela estava pronta para eliminar suas garras, para acabar com o que quer que estivesse causando todo aquele distúrbio e foi então que seus pés travaram e ela parou. Draco parou logo depois dela.
- Deus do céu. O que é isso? – ele soltou por debaixo da respiração.
A energia. Era tudo que ela sentia. E Draco muito provavelmente sentia o mesmo. Era opressor e ao mesmo tempo surpreendente. Fazia seus poros fechares, os pelos de sua nuca levantarem e as extremidades de seu corpo formigarem. Até mesmo os ossos dentro de seu corpo pareciam vibrar. Voldemort estava ali dentro. Ele tinha que estar ali dente e Deus o sabe o que estava fazendo com seus filhos! Era obscuro demais para que ele não estivesse ali.
Quase que como num pulo ela avançou, alcançou a porta e a empurrou com força passando para o lado de dentro da sala. Parou novamente ao ver apenas os filhos e Narcisa. No entanto, a sala estava aos pedaços. As velas estavam todas apagadas, os vidros e vitrais todos quebrados, os livros, decorações, quadros, moveis, tudo estava fora de lugar.
No momento em que Scorpius, do colo de Narcisa, a avistou, o choro se intensificou e então os móveis começaram a se arrastar. Hera agiu da mesma forma segundos depois e no momento em que o choro desesperador dos dois se uniram, os móveis saíram do chão, bateram pelas paredes e começaram a mover-se de um lado para o outro.
- Eu não faço a mínima ideia de como eles estão fazendo isso! – Narcisa expressava o quanto estava assustada com aquilo de seu jeito único.
Hermione avançou afastando os móveis e tentando contê-los com sua magia da melhor forma possível. Pegou Scorpius primeiro. Seus lábios estavam roxos, o rostinho vermelho, os olhos encharcados de lágrimas.
- Eles estão inconsoláveis. – Narcisa declarou passando Hera para os braços de Draco.
Hermione tentou envolveu Scorpius protetoramente, mas ele estava inquieto. Os dedinhos dele seguraram com força uma mecha de seu cabelo e ele a encarou com um olhar absurdamente triste e perdido enquanto as lágrimas escorriam pelas bochechas. Era como se ele estivesse esperando que ela fosse ser a solução para o que quer que fosse que estivesse o incomodando naquele nível.
Olhou para Draco e ele parecia tão confuso quanto ela. Hermione não queria desesperar, mas não tinha absolutamente nenhuma ideia do que poderia estar acontecendo, ou do que deveria fazer. Ela conhecia todos os choros dos filhos, na verdade, pensava que conhecia. Já os vira chorar de dor, de sono, de fome, mas aquele choro em específico... era angustiante. Além do mais, estava assustada pelo que eles pediam fazer. Crianças normais, filhos de pais bruxos, começavam a mostrar sinais de dons especiais apenas quando se aproximavam do segundo ano de idade, filhos de pais trouxas começavam a mostrar sinais muito mais tarde. Hera e Scorpius mal haviam completado seis meses e ela tinha certeza que eles estavam causando toda aquela destruição tamanho o nível da aflição que estavam passando. Aquilo a assustava ainda mais.
- Estão agindo estranho desde que saíram. – Narcisa tentou atualizá-los. – Demorei horas para fazê-los dormir, eles acabaram cochilando por apenas vinte minutos, acordaram péssimos e a partir daí tudo foi piorando até agora. Não faço a mínima ideia do que pode estar os perturbando.
- Hermione. – Draco voltou-se para ela. – Você os entende melhor do que qualquer pessoa.
- Eu nunca os vi chorar dessa forma. – ela não podia lidar com aquilo sozinha e não gostava que Narcisa e Draco estivessem esperando que ela fosse ser a solução para algo que ela não saber nem por onde começar a decifrar. – Eu... – tentou consolar Scorpius inutilmente em seu colo. – Eu não sei como...
- Hermione. – Draco tornou a chamar sua atenção. – Eu não queria que fosse essa pressão em cima de você, mas sabe bem que é a única que pode tentar entende-los.
Ela puxou o ar furiosa para argumentar o julgamento dele e foi justamente quando percebeu que seu argumento era egoísta. Ela era realmente a única que podia fazer mais que Narcisa e ele ali. Soltou o ar frustrada.
- Eu sei. – aceitou. – Mas não sei o que fazer.
- Sei que não sabe. – ele tentava ser compreensivo enquanto também tentava consolar Hera em seu colo. – Tente ao menos entrar na mente deles. Pode fazer isso de uma forma muito menos invasiva do que eu ou minha mãe.
Ela não sabia se aquilo era uma boa solução. A formação da mente de bebês era muito abstrata para que pudesse conseguir extrair qualquer informação concreta. De qualquer forma, aquela poderia ser uma solução enquanto ela não tinha nenhuma outra no momento.
Abraçou o filho, cobriu o a cabeça dele com sua mão muito cuidadosamente, fechou os olhos e tentou se concentrar. Não queria fazer aquilo com o próprio filho, mesmo que soubesse que não fosse conseguir nada, aquilo poderia ser doloroso para ele, além do mais, seria uma quebra de privacidade sem o consentimento dele. Antes de Voldemort, aquilo era um crime pelo Ministério da Magia e haviam histórias horríveis de destruição de famílias por quebra de privacidade.
- Não posso fazer isso, Draco. – ela afastou-se do filho e o entregou a Narcisa. – São meus filhos e não posso me aproveitar da vulnerabilidade deles para invadir uma privacidade que é de direito deles. – soltou o ar. – Eles devem estar assustados por estarem produzindo uma magia desse nível. É um poder diferente. Eles tem apenas seis meses. – tentou jogar o argumento.
- Eles não estão só assustados, Hermione. – Narcisa apontou. – Eles estão em agonia.
- Eles não estão sofrendo nenhum tipo de dor, mãe. – Draco contradisse. – Eles estão assustados.
- Talvez eles estejam com algum incomodo. Eu não sei. – Hermione jogou confusa. Eles se entreolharam. Céus, nenhum deles sabia o que estava acontecendo ali e como lidar com a situação. Não podia continuar escutando os filhos implorarem por ajuda com aquele choro tão angustiante e não podia esperar que Narcisa tivesse qualquer atitude nem que Draco fosse bom em improvisos porque ele não era. Hermione era boa em improvisos. Havia improvisado com a Ordem por anos. Podia elaborar um plano ali mesmo, mesmo que não soubesse exatamente qual seria o resultado. – Talvez eu consiga encontrar a fonte que eles estão externando, talvez eu consiga parar o caos que eles estão causando, talvez... – ela não precisava informar para ninguém. Calou-se. Afastou-se. Puxou o ar e fechou os olhos.
Havia feito aquilo poucas vezes até agora. Tinha medo de se explorar como uma descendente de Morgana. Draco a incentivava, mas ela não tinha coragem. Era como abrir uma caixa cheia de surpresas que lhe traziam sensações confusas. Era algo que ela tentava ignorar.
Desde quando Minerva assumira o papel de tutora em sua vida, assim que Dumbledore morrera e a Ordem tomara forma, ela havia se descoberto em habilidades extraordinárias que bruxos comuns não possuíam. Minerva costumava lhe dizer que isso era apenas consequência de todo o empenho e investimento que ela tinha com os estudos e o próprio crescimento, mas a verdade era que ela sabia que nem mesmo Dumbledore, sendo o bruxo que era, havia sido capaz de produzir o que ela produzia. Isso a assustava naquela época e continuava a assustá-la hoje. Hoje principalmente. Não gostava de pensar que era diferente, que o sangue de uma criatura mágica corria em suas veias, que podia fazer coisas que outras pessoas nem mesmo sabiam que poderiam ser feitas.
Ela não se colocava ao limite, nunca se colocava ao limite. Tinha receios de saber a extensão de seu próprio poder. Primeiro porque tentava ignorar toda a história de fazer parte de linhagem de Morgana, segundo porque ela sabia da existência de poderes que eram capazes de dominar a própria fonte e se havia algo que ela odiava, era estar fora de controle.
Mas apesar de não se colocar ao limite, apesar de evitar o máximo possível pisar naquele terreno que a assustava, não conseguia ser capaz de negligenciar por completo o que poderia ser. Explorava-se eventualmente. Principalmente quando estava envolvida com trabalhos da Comissão ou quando se via sozinha nas salas de simulação. Toda vez que se via sem saída, perguntava a si mesma se poderia pensar uma forma muito criativa e impossível de encontrar uma solução.
Portanto, podia dizer confiantemente que o que estava para fazer não era nenhum experimento. Encontrar fonte de feitiços era algo que ela já fazia muito tempo no papel, usando todos os cálculos que conhecia ou que havia desenvolvido por si só. Fazia pouco tempo que ela começara a se aventurar a fazer aquilo fora do papel e era fascinante ao mesmo tempo que era também assustador.
Conhecia todos os passos. Não era muito diferente do que ter que encontrar os resultados que encontrava nos papéis, a diferença era que sabia o propósito e o porque de cada um deles, o que tornava tudo mais fácil. A única diferença era que não encontrada números ou símbolos, encontrava sensações e elas tinham o poder de fazer seu cérebro pensar e ver por si só. Ela precisava estar apenas concentrada o suficiente. Concentração. Era a chave para tudo em magia.
Hermione assustou-se com o quão rápido foi capaz de avançar em toda aquela energia sem precisar sequer tocar em nada. Foi como se tivesse mergulhado em uma onda e estivesse sendo arrastada mais rápido do que esperava. Recuou assustada e abriu os olhos emergindo de todas as sensações para encarar Narcisa e Draco encarando-a curiosamente.
- O que foi? O que viu? – Draco estava evidentemente ansioso.
Hermione olhou Hera no colo do pai. Ela estava ficando cansada, mas nem por isso parava de chorar. Havia encostado a cabecinha em seu ombro e tristemente soluçava e chorava.
Ela tinha que fazer aquilo pelos filhos. Não podia ter medo agora. Não podia deixar que seus receios lhe atrapalhassem agora. Respirou fundo. Negou com a cabeça em sinal de que precisava de mais tempo para Draco e Narcisa. Tornou a fechar os olhos e mergulhou na onda da energia que a rondava mais uma vez.
Era novo, as sensações eram novas, mas ela conseguia sentir claramente a estrutura que segurava toda aquela magia. Era simples e muito exata. Conseguiu passear pela energia, sentir seus pontos francos, seus pontos fortes, seus braços, seu potencial. Era sem dúvida uma magia involuntária e simples. Forte, no entanto.
Abriu os olhos sem deixar escapar sua concentração. Aproximou-se de Narcisa e tocou Scorpius. Precisava saber se a magia vinha dele e no momento que o tocou teve essa certeza. Sabia que era involuntária, mas ficava surpresa com a intensidade da magia que seus filhos tão pequenos estavam sendo capazes de produzir. De qualquer forma, ela poderia encontrar uma forma de descontruir aquela força até extingui-la. Se seus filhos estivessem apenas assustados por estarem produzindo magia, aquilo os acalmaria.
Começou a usar sua própria força e concentração para desfazer a magia. Começou dos pontos mais fracos, dos braços mais longes, até a raiz, a parte mais forte. Ainda assim foi simples. Obviamente que qualquer bruxo comum não conseguiria fazer o que ela estava fazendo naquele momento. Intervir na estrutura de um feitiço. Mas ainda assim foi simples. Era uma magia simples, exata, de corpo bem estruturado. Uma daquelas que qualquer aluno primeiranista conseguiria produzir na segunda semana de aula em Hogwarts.
Os móveis estavam quietos no chão, os cacos de vidro das janelas também. Alguma das velas haviam tornado a acender. No entanto o cômodo parecia ter sido atacado por um furacão e seus filhos continuavam a implorar por ajuda não dando descanso aos pobres pulmões.
Draco comentou algo sobre não ter ajudado com as crianças. Eles ainda choravam. Mas por um segundo, Hermione se sentiu atraída pelo estranho olhar de Narcisa Malfoy. Por um segundo ela se viu convencida de que a sogra a encarava de uma maneira muito diferente. Será que ela havia visto receio? Surpresa? Medo? Não. Não era nada daquilo. Mas era definitivamente diferente. Narcisa nunca havia a visto colocar em performance suas habilidades extraordinárias. Na verdade, nem mesmo Draco havia a visto mais do que algumas poucas vezes.
Mas não era no que ela deveria se focar. Claramente algo estava aborrecendo Scorpius e Hera e era por isso que estavam produzindo magia involuntária porque mesmo que estivessem livres da magia agora, não pareciam mais calmos. Ela não queria ter que entrar na mente dos filhos, mas precisava. Desde quando algum valor moral fazia mesmo sentido no mundo de Voldemort?
- Eu não quero entrar na mente deles. – ela teve que dizer.
- Também não acredito ser uma boa ideia. – a forma como Narcisa disse aquilo quase que imediatamente fez com que ela quisesse cerrar os olhos, mas não tinha tempo para isso.
- Pode nos trazer uma solução e não quero que eles fiquem nesse estado o dia inteiro. – foi a opinião de Draco.
Ela não hesitou. Colocou as duas mãos uma de cada lado da pequena cabeça de Scorpius. Respirou fundo e invadiu a privacidade de seu próprio filho. No entando, quando esperou encontrar um mundo abstrato de informações desconexas e ilegíveis, o que viu foi o portão de sua propriedade, o jardim da frente, o pátio e sua casa. No mesmo segundo seu braço direito pareceu pesar um quilo a mais e a pele de seu pulso queimar como estivesse sendo colocado em brasa. Recuou quase que imediatamente sem conseguir evitar a exclamação de susto e dor.
Alguém estava na mente de Scorpius. Talvez também estivesse na de Hera. E ela conseguia muito bem ter ideia de quem era, porque quando olhou para o próprio braço, a marca negra estava pulsante, viva e chamativa.
- Hermione? – Draco queria uma resposta.
Ela puxou o ar para lhe dizer o que havia acontecido, mas naquele mesmo momento Tryn apareceu.
- O Mestre das Trevas está nos portões da propriedade, Senhor Draco Malfoy.
Hermione travou.
- Não o deixei passar. – Draco ordenou segundos depois.
- Senhor Draco Malfoy, acredito que o Mestre das Trevas não pareça estar se importando em receber qualquer permissão.
Hermione e Draco encararam-se quase que imediatamente. Hermione apertava o próprio pulso tentando se livrar da labareda que parecia estar contra sua pele. Draco não era bom com improvisos, mas ainda assim, ele foi o primeiro a tomar iniciativa.
- Mãe, leve as crianças para o andar de cima. – ele ordenou empurrando Hera para o colo da mãe.
Narcisa não questionou, mas congelou e não se moveu quando escutaram o berro enfurecido de Bellatrix vindo da sala principal:
- ONDE INFERNOS ESTÃO ESSES PEQUENOS DEMÔNIOS?
Hermione nunca desejou tanto poder calar a boca dos filhos. Seus sensos pareciam tão apurados estando naquele modo de concentração que ela nunca ficara por todo aquele tempo, que conseguiu escutar os passos deles e traçar o caminho que faziam pelo o interior da sala.
- Mãe! – Draco a alertou, como se pedisse para que ela se movesse e tirasse as crianças dali.
Narcisa tornou a dar as costas, mas foi no mesmo segundo em que Voldemort escancarou a porta e passou para o lado de dentro. O primeiro susto de Hermione foi vê-lo em sua forma antiga, seu corpo ossudo, seu olhar de serpente, seu nariz sem forma. Ele vinha tomando a poção feita com o sangue dos filhos fazia mais de quatro meses e desde então ela se esquecera de como Lorde Voldemort se parecia agora assumira a aparência de Tom Riddle. Seu segundo sustou foi quando ele avançou diretamente até ela, segurou seu rosto pelo queixo espremendo suas bochechas e a puxando para perto.
- Faça-os parar! AGORA! – Voldemort vociferou contra seu rosto.
- Tire as mãos dela! – Draco avançou, mas Hermione encontrou uma forma de detê-lo com a força do próprio pensamento. Ela não poderia imaginar do que Voldemort seria capaz se Draco fizesse a idiotice de encostar nele.
Encarou Draco abertamente e implorou silenciosamente para que ele agisse com o cérebro e não com as emoções. Algo que ela nunca esperou ter que fazer com alguém como Draco Malfoy. O racional, frio e inabalável Draco Malfoy.
- Saia da mente dos meu filhos! – ela cuspiu voltando-se para Voldemort. Vê-lo naquela forma novamente era assustador. Havia um ar muito frágil por traz da forma humana dele que lhe tirava a ideia imortal e inatingível que tinha seus olhos de cobra.
- Eu não estou na mente deles! Eles quem estão na minha e você vai fazê-los parar agora ou eu mesmo irei e posso garantir que não será agradável de assistir! – ele estava furioso.
Ela duvidou que eles pudessem estar na mente de Voldemort! Eles tinham apenas seis meses! Sem contar que Voldemort deveria ser a mente mais difícil de se penetrar no mundo bruxo. E mesmo se eles estivessem, como que ele poderia esperar que ela fosse ser capaz de fazer os filhos saírem da mente dele?
- E como espera que eu faça isso? – vociferou ela.
- Você descende de Morgana! Eu não vim até aqui sem motivos! – ele a soltou empurrando-a e Hermione cambaleou para recobrar o equilíbrio.
- HEY! – Draco tomou a dianteira entre eles. O choro de Hera e Scorpius começava a se tornar uma irritante música de fundo. – Essa é minha casa, a minha família, meus filhos! Nós não somos seus escravos! Estamos todos trabalhando debaixo das suas ordens!
- Não me exija sensatez, Draco! Vocês dois tem andado debaixo da minha paciência por muito tempo até agora. Eu vim por ela e não por você. – apontou para Hermione. – Portanto espere a sua vez!
Hermione avançou par tomar o espaço de Draco. Voldemort estava fora de controle e o que precisavam agora era trabalhar para que a situação fosse resolvida.
- Farei o que quer que faça. Precisa me dar tempo para que eu consiga entender o que devo fazer. – ela soltou um tanto perdida. Olhou para os lados. Precisava fazer alguma coisa. Precisava de algum resultado. Mesmo que quisesse pedir para que Narcisa corresse desesperadamente para o mais longe que pudesse com os filhos. – Precisa me deixar entrar em sua mente para poder achar a fonte que eles estão atacando.
Voldemort soltou um riso assustador. Aproximou-se dela ameaçadoramente.
- Planejou isso tudo, não planejou? Ensinou-os a fazer isso, não é mesmo? – ele disse com os dentes cerrados. – O que quer tirar de mim? Precisa de uma desculpa para entrar em minha mente e tirar que informação? A de que sei bem que você e Draco são um bom perigo para o meu império? Não pense que seu amável marido ocupa o posto mais alto do meu império por ser bonitinho.
- Os Malfoy sempre foram e sempre serão uma ameaça para você. Por isso os mantêm por perto. E eles podem entrar em conflito aqui e ali por ser quem é, mas definitivamente são leais aos seus ideais. – cuspiu Hermione.
- Está se referindo a Lúcio Malfoy? Porque o único motivo pelo qual tenho mantido minha paciência é por ele ainda estar vivo. Ele é o único Malfoy que eu confio. – Voldemort lançou um olhar a Draco. – Agora tire seus filhos da minha mente ou eu mesmo encontrei uma forma bem dolorosa de fazê-los.
Hermione sabia que se ele tivesse a chance, ele já teria feito. Ela sabia que o único motivo que o fizera sair de seu palácio até o canto mais remoto de Brampton Fort havia sido a chance de ferir os tão preciosos herdeiros Malfoy.
Mas ela não podia se focar naquilo. Precisava encontrar uma forma de achar a solução e estava muito certa de que conseguiria mesmo que não soubesse como diabos tudo aquilo estava acontecendo. Sabia que tinha que entrar na mente dos filhos novamente, mas isso iria direcioná-la rapidamente para a mente de Voldemort e ela temia pelo que ela pudesse ver lá. Voldemort não esperaria para fazê-la pagar.
Mas não tinha outra escolha. Fechou os olhos novamente. Concentrou-se no choro de Scorpius especificamente e mergulhou para dentro da mente dele. Foi como uma ponte. Ela se enxergou pelos olhos de Voldemort e sentiu aquela péssima sensação novamente. Seu estômago quase embrulhou. Manteve o foco e foi ainda mais fundo em sua busca. Logo ela foi capaz de ver as lembranças mais antigas dele. As péssimas condições em que viveu quando era criança. A raiva que alimentou por ser odiado no orfanato. A forma como era tratado. Até ele descobrir o que era magia. O que era poder. Ele era um garoto destruído quando conheceu a magia e isso certamente fez dele o que é hoje. Incorrigível.
Não vasculhou mais do que deveria. Olhar superficialmente várias áreas de sua mente fez com que ela percebesse que seus filhos não estavam ali. Eles não estavam atacando a mente de Voldemort. Não havia nenhum sinal de que havia qualquer intruso ali para que ela pudesse usar suas habilidades e fazê-lo recuar. Foi quando seu cérebro trabalhou rápido, como sempre trabalhava. Ela abriu os olhos e desfez toda sua concentração.
- Não há nenhum intruso em sua mente. – declarou ela. – Tem bebido poções feitas do sangue dos meus filhos por quase cinco meses sem interrupções e sabe muito bem que não é um sangue qualquer. Arrisco dizer que uma ligação foi criada eventualmente e que eles tem acesso a você da mesma forma que você tem acesso a eles. Pode não perceber agora por serem só bebês com uma mente pouco entendível e abstrata mas acredito que seja uma ligação recíproca. Irá tornar-se mais forte caso continue se alimentando do sangue deles. Magia negra sempre tem efeitos colaterais desagradáveis. Sabe disso. Poderia tirá-los de sua mente se fossem intrusos, mas não consigo ir tão longe em algo tão biológico. Talvez uma poção anuladora possa fazer algum efeito temporário enquanto a ligação enfraquece. Levou cinco meses para que chegasse a esse nível, não deve demorar mais do que algumas horas ou dias para perder força e eventualmente se extinguir. Irá precisar ficar longe do sangue deles, no entanto. – terminou ela.
Ele não parecia nada feliz.
- Essas são as suposições do seu formidável cérebro ou viu algo que a fez ter certeza, filha de Morgana? – questionou ele.
Ela não gostou de ser chamada daquilo.
- Suposições. – respondeu ela. – Tenho a poção. Podemos fazer um teste.
Ele parecia estar cheirando algo extremamente nojento, mas apenas disse:
- Traga-me a poção.
Hermione chamou por Tryn. Pediu pela poção e não levou muito segundos para que ela sumisse e aparecesse novamente carregando o frasco de um tamanho médio com um líquido transparente. Voldemort o cheirou para comprovar os componentes e tomou sem hesitar logo depois.
Ela esperou que estivesse certa. Esperou com todas as suas forças que estivesse certa. Não o queria usando os filhos daquela maneira, mas mesmo assim teve medo do que a confirmação de suas suposições pudesse significar para ela e para eles, Scorpius e Hera.
E então, com o ponteiro dos segundos do grande relógio de parede, agora no chão, o choro de Hera e Scorpius foi amenizando e ela sentiu um alívio lhe correr a espinha. Estava certa.
- Sua mente brilhante venceu mais uma vez. – Voldemort disse para ela. Ele parecia furioso apesar de estar estático a encarando friamente. – Bella. – ele chamou a mulher sem precisar tirar os olhos de Hermione. – A magia em meu sangue estará correndo baixa por algumas horas, você poderia me fazer o favor de ser minha varinha por um momento.
Bella riu estranhamente.
- Com prazer. – ela apontou a varinha para Hermione.
Hermione abriu a boca para argumentar, mas não teve tempo de soltar a primeira vogal quando pareceu ter sido consumida por labaredas e dessa vez não veio só da marca em seu braço, veio de todas as extremidades pelo seu corpo inteiro. Ao mesmo tempo que sua pele parecia queimar, sua visão foi bloqueada pelo nível da dor e uma pressão enorme em sua cabeça parecia comprimi-la ao ponto de fazê-la querer estourar. Não conseguiu evitar encolher-se ao perder as forças e cair com seu próprio peso. Naquele momento ela esqueceu de todo o treinamento que recebera anos atrás na Ordem de como resistir a maldições como aquela e pensou que fosse morrer. Foi quando tudo passou e o que pode sentir foi apenas sua cabeça pulsando alto enquanto sua visão voltava aos poucos. Ofegou de joelhos no chão, encolhida, como se temesse que tudo fosse começar novamente se caso movesse algum músculo.
- Não ouse ergueu sua varinha novamente para ela – ameaçou Draco.
Hermione ergueu os olhos. Ele havia a desarmado. Bellatrix parecia irritada e buscava o olhar e suporte de Voldemort, mas ele apenas se aproximou e abaixou-se frente a ela.
- Não pense que eu não vou encontrar uma solução, Sra. Malfoy. – ele pareceu neutro enquanto soltava aquilo. – E previamente a alerto de que pretendo encontrar uma que a coloque no fundo do poço. – então ele sorriu aquele macabro sorrido amarelado, levantou-se, deu as costas e seguiu seu caminho de volta sem se preocupar com o protocolo de ser escoltado até a porta.
Draco avançou até ela. Ajoelhou-se e a encarou. Ela o encarou de volta. Eles se encararam em silêncio por um bom tempo. Quando haviam acordado aquela manhã, nada daquilo sequer passava pela imaginação deles. Haviam sido pegos totalmente de surpresa e se havia algo que Draco odiava e que ela passara a odiar, eram surpresas.
- Por que estava sendo inconsequente, Draco? – Narcisa tratou de quebrar o silêncio. – Foi estúpido.
Draco a encarou com um olhar em chamas.
- Estúpido foi ter que te ver entrar no meu caminho, mãe! Não é porque meu pai nunca se importou com você que vai esperar que eu não me importe com Hermione!
- Draco! – Hermione lhe chamou atenção. Raramente ele era tão duro com a mãe. Mas Hermione também não sabia o que pensar ao saber que Narcisa havia tentado impedí-lo de protege-la. – Nenhum de nós poderia ter previsto isso. Precisamos fazer algo. A poção vai durar por apenas algumas horas e por mais que eu acredite que Voldemort irá encontrar uma solução para quando o efeito passar, quero me assegurar de que essa ligação não volte a acontecer. Nunca mais.
Draco assentiu concordando.
- E nós podemos usar isso. – ele não tinha o porque de se render a todo aquele drama. Precisava ser sistemático. Voltou-se para a mãe. – Chame Astória Bennett imediatamente. Diga que ninguém, absolutamente ninguém, pode vê-la vindo até aqui. – tornou a encarar Hermione. – Ela irá espalhar o rumor de que estava aqui, de que viu tudo, de que Voldemort tem usado o sangue das crianças, de que somos escravos nas mãos dele e de que não estamos melhor do que qualquer outro prisioneiro nas mãos dele só porque ocupamos um cargo alto na hierarquia do império. Isso é o que precisamos para irmos para os jornais. Para dar um nome a toda a tensão que tem crescido, para dar corpo a todas as revoltar, para Voldemort perceber que o número de inimigos é maior do que o de aliados apesar de ter derrotado a Ordem, para perceber que o a ditadura do medo tem gerado mais raiva do que aceitação. – Trocaram olhares entre eles, Narcisa, Hermione e ele. – Essa será nossa gota d’água.
- Irá manchar o nome da família. – Narcisa expos seu pensamento.
- Irá promover o nome da família. – Draco contrapôs.
- Seu pai...
- Meu pai está inválido em uma cama no momento, mãe. – ele ainda não parecia ter perdoado o fato dela ter tentado detê-lo. Algo que Hermione realmente não percebera. – Leve as crianças para o quarto e chame Astória imediatamente.
Narcisa pareceu relutar por um ou dois segundos em silêncio, mas logo deu as costas e saiu.
- Ela não é sua criada ou nenhum de seus homens. – Hermione sentiu a necessidade de pontuar.
- Ela estava sendo complacente com Voldemort tentando me parar, Hermione. Nós estamos no mesmo barco, você é parte da família e deve esperar dela a mesma reação que esperaria se caso eu estivesse no seu lugar. – ele se levantou e estendeu a mão. – Você vai ficar bem?
Ela aceitou a ajuda para se levantar e assentiu limpando a poeira da saia. Ficaria bem. Precisava subir e ficar com os filhos por um bom tempo. Dar-lhes atenção, carinho, amor, cuidado. Seria um bom remédio para o seu psicológico.
Ele deixou o cômodo. Talvez fosse ir atrás da mãe tentar tirar dela alguma boa justificativa sobre o modo como havia se comportado. Hermione tomou uma escada diferente. O caminho mais rápido para o quarto dos filhos. Assim que cruzou o mezanino e tomou o caminho pelo andar de cima, escutou os passos de Narcisa e Draco se encontrarem numa intercessão muito próxima. Ela apressou o seu para encontrá-los enquanto os escutava.
- Mãe...
- Não diga nada. – ela o interrompeu. – Precisamos conversar sobre Hermione. - Foi quando Hermione travou e recuou um passo antes de dobrar a esquina. – E isso é mais sério do que o que quer que possa estar imaginando. Vá até minha casa assim que puder. Estou indo embora agora. Não quero ser parte disso, apesar de saber que não posso evitar. Somos todos Malfoys aqui, não somos?
Hermione não soube o que pensar.
NA: Só tenho uma coisa a dizer: Capítulo que vem as coisas vão pegar fogo com essa gota d‘água! :)
Comentários (12)
Só de pensar que vou ter que esperar mais um mês... A história ta incrível, não consigo conter minha ansiedade. A cada capítulo uma nova surpresa. Parabéns
2016-04-04muito bom!!! cara, minha ansiedade não tem limites!!! Tô esperando muito o que vai acontecer.
2016-04-04