Capítulo 39
39. Capítulo 39
Draco Malfoy
Ela estava dormindo agora. Nunca havia a visto dormir tão serenamente e já havia a observado dormir várias vezes. Ao lado dela, haviam colocado um pequeno recipiente oval de vidro cheio de pequenos cobertores, acomodado em cima de um pedestal branco, onde seus filhos, pequenos e frágeis, dormiam naquele exato momento Tão pacificamente que Draco se sentia obrigado a levantar a cada cinco minutos para checar se continuavam respirando. Eles dois cabiam perfeitamente ali dentro.
Sentado de sua poltrona, ele pulava seus olhos de Hermione para os bebes a cada transição de pensamento em sua cabeça. O silêncio era tão grande que ele podia escutar o próprio coração. Até mesmo o escuro era acolhedor naquele momento. Mal parecia o que aquele quarto havia sido horas atrás. Horas que ele não sabia como descrever. Ele sentia como se... Como se... Tivesse nascido de novo.
O mundo parecia muito diferente agora para ser o mesmo que ele havia vivido a vida inteira. O mundo parecia extremamente colorido. Mesmo que estivesse no escuro. Não conseguia entender como sua noção de prioridade pulara para um nível que ele sequer imaginava que pudesse existir. Enquanto encarava Hermione e seus pequenos bebês, juntinhos naquele pequeno bercinho, não conseguia medir o senso de responsabilidade que pesava em suas mãos. Era assustador, mas ao mesmo tempo tão maravilhoso que ele não trocaria por nada no mundo.
Deixara a Catedral naquele meio de tarde e pensara que chegaria em casa e encontraria Hermione sofrendo, aos gritos ou qualquer coisa do tipo, mesmo que soubesse que por mais que ela tivesse uma personalidade forte, nunca fora o tipo de mulher escandalosa. No entanto, assim que pisou os pés em casa, tudo parecia muito calma e sob controle.
Desejou como nunca que sua casa fosse menor enquanto fazia o caminho para seu quarto e quando finalmente o alcançou, encontrou Hermione de pé, vestida em sua camisola larga de algodão, os pés cobertos por uma meia engraçada, os cabelos soltos e o rosto limpo de qualquer maquiagem que fizera na manhã. Assim que ela o viu, sorriu aliviada e aquilo lhe tirou o ar.
Foi até ela e seu sorriso de alívio logo se transformou em uma expressão de preocupação. Desculpou-se por não ter acreditado no que havia dito durante o café da manhã. Ela apenas disse com pressa que não importava, que na verdade, não sabia o que realmente estava acontecendo com ela de manhã. Que havia passado metade do dia tentando convencer a si mesma que as dores que sentia eram devido as poucas horas de sono e ao cansaço que vinha tendo que lidar nos últimos dias. No entanto, teve que acabar se entregando quando sua bolsa estourou no meio de uma demonstração da zona sete no Departamento de Aurores do Ministério.
- Mas isso não importa, Draco. – ela parecia aflita. Olhou para os lados apreensiva e por cima dos ombros para analisar se as curandeiras presentes estavam ocupadas. – Precisa ir até Godric’s Hollow buscar Harry. – ela sussurrou muito baixo e muito firme do que dizia. - Eu não posso passar por tudo isso sabendo que Hera vai ter que morrer inevitavelmente. Precisa entrega-lo a Voldemort ou não sei se vou conseguir passar tudo por isso, Draco. Me disseram que já estou com seis centímetros de dilatação. Tenho que chegar a dez e depois dos seis normalmente se progride mais rapidame... – ela engoliu o restando do que ia dizer, fechou os olhos e cerrou as sobrancelhas fazendo uma intensa expressão de dor. Ela gemeu muito baixo, fez silêncio e mordeu os lábios.
Contrações. Aquilo só podia ser contrações.
- Você não precisa ter que se preocupar... – ele começou a dizer, mas teve que se calar quando ela tapou sua boca. Sua mão estava pegajosa e cheirava o perfume que normalmente usava.
- Me dê alguns segundos. – foi tudo que ela lutou para dizer.
Ele calmamente segurou seu pulso e muito sutilmente afastou a mão dela. Notou que seus músculos estavam travados e ela segurava a respiração enquanto passava pela dor silenciosamente.
- Respire, Hermione. – sentiu-se na obrigação de lembra-la sendo muito cuidadoso com o tom que usava. Ela estava extremamente tensa. Conseguia claramente notar que ela não estava pronta para aquilo.
Observou quando ela puxou fundo oxigênio, sem suavizar sua expressão de dor. Seus músculos relaxaram quando ela soltou o ar devagar. Ainda demorou alguns segundos para que finalmente todos os seus músculos relaxassem. Ela abriu os olhos e encarou o chão entre eles.
- Pensei que fossemos ter mais algumas semanas. Só mais algumas semanas! – ela soltou. Estava um pouco rouca. – Não estava me iludindo, achando que completaria todas as quarenta semanas estando grávida de duas crianças, mas pensei que conseguisse ir ao menos um pouco mais longe. Pensei que fossemos ter mais tempo.
- Hermione. – ele teve que colocar o rosto dela entre suas mãos para ter sua atenção. – Tudo vai ficar bem. – lançou um rápido olhar aos curandeiros para ter certeza de que ainda estavam ocupados. – Voldemort não vai matar nenhum dos nosso filhos. Nem se não entregarmos Potter a ele. – disse muito baixo para que somente ela escutasse. – Ele não quis me tirar do posto de Primeiro Ministro porque tem receio de desestabilizar o povo, de fazer com que o povo o desaprove. Ele tem lutado por muito tempo para fazer com que o povo o aceite e não colocaria isso a perder. Ele disse que o povo tem um favoritismo pelo nosso sobrenome. Essas foram as exatas palavras dele.
Ela o encarou por alguns segundos sem nenhuma reação.
- Como pode ter certeza disso? Como pode ter certeza de que ele não estava jogando com você?
- Pegue qualquer revista ou jornal, Hermione. Escute qualquer programa de rádio ou converse sobre isso com qualquer pessoa na rua. Mesmo quando não abríamos a boca para dar nenhuma declaração, as pessoas foram espertas o suficiente para juntar os pontos. Elas passaram a nos amar pelo que a mídia vinha jogando para eles, pelo que mostrávamos em público para que a mídia criasse uma história, elas tem apego por nós e Voldemort sabe que pode colocar muito a perder se desestruturar a fantasia que criamos para a mídia. Ele não pode tocas nos nossos filhos.
- Não tente me enganar agora, Draco. Eu não preciso que tente tornar as coisas mais fáceis para mim, preciso que resolva nosso problema! Nós não temos tempo! Eu sei que Voldemort pode fazer o que bem quiser, quando quiser. Ele não se importa com a opinião de ninguém!
- Ele se importa mais do que deixa aparentar, Hermione. Sabe disso! Por isso mesmo fizemos o que fizemos, mentirmos para mídia, ajudamos a criar toda a ilusão da vida que vivemos. Escolhemos esse caminho porque sabemos que é seguro! Por que não consegue processar isso agora?
- Porque soa errado, Draco! Estamos debaixo do controle dele! Não adianta lutar contra ele! Não adianta! Nem se entregarmos Harry nosso filhos vão estar realmente seguros. Ele pode fazer o que bem quise.... – ela engasgou nas palavras, apertou os olhos novamente e se encolheu dessa vez. Soltou o ar e não conseguir conter o gemido de dor que saiu alto e chamou atenção dos curandeiros que espalhavam pelo quarto todo o equipamento que precisariam para as horas seguintes.
Draco entendeu o que estava acontecendo com ela, entendeu o que estava se passando em sua cabeça, porque não fazia muito tempo que passara pelo mesmo. Não fazia muito tempo que deixara seus medos dominarem seus pensamentos, que se deixara ser estrangulado pelo desespero e pela ansiedade do pessimismo, que se permitira perder o objetivo.
- Tente não se focar na dor, querida. - Uma das curandeiras aproximou-se de Hermione com um sorriso amável no rosto. – Concentre-se no porque....
- Não me toque! – Hermione soltou agressivamente para a mulher sem nem mesmo voltar-se para ela. A curandeira parou imediatamente e encarou Draco. Draco apenas fez um sinal mais educado com a mão para que a mulher desse espaço e ela assentiu calmamente forçando um sorriso e inclinando a cabeça como se tentasse dizer que, tudo bem, conhecia bem aquilo.
Ele apenas observou Hermione mordeu os dentes e contrair-se tentando segurar qualquer expressão vocal de dor. Todos os músculos dela estavam tencionados e ele sabia muito bem que aquilo não era bom. Aumentava ainda mais a dor dela. Quando aquela contração passou, ela soltou o ar e ofegou como se tivesse passado pela pior sessão de tortura de sua vida inteira. Os olhos dela mostraram o desespero quando ela os abriu.
- Ele vai matar Hera e me tomar Scorpius, Draco. Ele vai matar nós dois. Ele sabe o que temos feito. Ele sabe que temos o enganado. Ele sabe, Draco. – o sussurro dela foi desesperador.
Draco precisou segurar o rosto dela mais uma vez. Não adiantava explicar sobre os resultados do apoio do povo. Não adiantava perder tempo com aquilo. Não era isso que Hermione precisava escutar. Precisou pedir mais de uma vez para que ela o encarasse diretamente nos olhos e quando ela finalmente conseguiu, ele começou:
- Pare. – foi firme. Não severo, grosso ou frio. Firme. – Está deixando seu medo te controlar. Está perdendo o foco. Controle-se.
Hermione ficou sem reação, quase que em choque por alguns segundos. Ela só deu algum sinal de vida quando piscou bem depois.
- Estou com medo. – sua voz saiu rouca e fraca.
- Eu sei que está. – continuou sendo firme. – Mas nós não temos tempo para isso. – aproximou-se bem dela. – Olhe bem para mim. – ela olhou. E foi só isso que ele precisou dela. O olhar. Precisava que ela entendesse que estava tudo bem, mesmo que não estivesse. Precisava que ela fosse forte, mesmo que não tivesse condições. Precisava que ela soubesse que ele não permitiria que nada acontecesse a ela, que ninguém tocaria nos filhos, que estariam seguros, que ninguém se aproximaria deles para fazer qualquer mal, mesmo que ele não tivesse o poder de prometer nada. Precisava que ela encarasse aquela realidade mais uma vez e que encontrasse algum conforto nela porque aquilo era tudo que tinham naquele momento.
Sabiam tanto aquilo que ele não precisava dizer qualquer palavra. Aquilo era o que viviam. Quando se encaravam em silencio na maioria das vezes, trocavam aquela informação sem que fosse necessário verbalizar um artigo sequer.
Não demorou para que Hermione simplesmente respirasse fundo e desviasse o olhar. Ela puxou o ar uma ou duas vezes como se quisesse falar algo, mas acabou engolindo todas as palavras. Deu as costas e passou a andar pelo quarto. Draco precisou acreditar que eventualmente ela aceitaria tudo aquilo e encontraria uma forma de ficar bem. Ela era boa naquilo simplesmente porque estava acostumada.
Apenas a observou. Ela teve outra contração, se encolheu de primeira, mas a viu lutar para tentar relaxar os músculos. Ela foi silenciosa, mas respirou fundo expressivamente. Céus, ele queria poder fazer algo por ela! Ele queria poder ao menos dividir a dor. Sabia que as coisas piorariam.
As lágrimas começaram a escorrer pelo rosto dela embora ela continuasse silenciosa, até mesmo durante suas contrações. Por algum motivo, sabia que ela estava tentando se convencer de que tudo estava bem. Mas ainda assim, ele queria poder ter o poder de entrar na mente dela para saber tudo que estava se passando ali dentro. Tinha que haver uma forma de poder aliviar as angústias dele.
No passado, antes de Voldemort, as pessoas eram acostumadas a serem mentalmente desarmadas e ele se aproveitava frequentemente da vantagem de ter sido educado sobre legilimência e oclumencia desde criança. Gostava de lembrar dos tempo quando cruzar a barreira da privacidade alheia era algo que apenas ele tinha o poder, principalmente em Hogwarts, onde nem mesmo ensinavam sobre oclumência, nem nas aulas de defesa contra a arte das trevas, nem quando a notícia do retorno de Voldemort estourou nas mídias da época, o que era um relapso muito claramente esperado de uma escola tão descompromissada com o ensino bruxo como Hogwarts. Hoje era quase impossível encontrar alguém que não soubesse como proteger a própria mente.
Ele foi até Hermione assim que mais uma de suas contrações passou. Ele limpou a lágrima que escorria por sua bochecha e segurou seu rosto tentando ter sua atenção, mas ela não o deu. Ele a chamou pelo nome e ela afastou a mão dele.
- Eu não consigo, Draco. – puxou o ar. Limpou a outra lágrima que lhe escapou dos olhos. – Não consigo fingir que está tudo bem. Não agora. Não como tenho feito todo esse tempo. – soluçou tentando encontrar uma forma de acalmar seu fôlego. Encarou-o. – Eu, genuinamente, nunca tive tanto medo. – sussurrou.
Ele suspirou. Sabia que ela não estava com medo do que passaria para trazer aquelas crianças ao mundo. Sabia que ela estava com medo de como sua vida mudaria quando elas chegassem. E ele não tinha a menor ideia de como ajuda-la naquele momento. Já havia tentando seu melhor e claramente sabia que não adiantaria puxá-la para o racional quando estavam prestes a viver algo que ele sabia que pareceria bem sobrenatural.
- Nem eu. – ser honesto foi seu alerta de que havia desistido e surpreendentemente ele viu o imediato brilho de conforto surgir nos olhos dela. Então ele finalmente entendeu, que o que ela precisava, era que ele sentisse o mesmo que ela. Ela não queria ficar sozinha, emocionalmente ou fisicamente. Ele não a deixaria sozinha. – Eu não vou te deixar sozinha, Hermione. Nunca.
Não precisou ter a palavra “promessa” para que aquela afirmação fosse entendida como uma. Hermione sabia tanto quanto ele o quanto evitava fazer qualquer tipo de promessa e escutar aquilo a fez encará-lo com dúvida e suspeita. Mas ele não a julgava. Não podia. Haviam inúmeras falhas na relação que tinham e uma delas era confiança. Ainda tinham muito o que construir naquela categoria.
Hermione assentiu em resposta parecendo duvidosa, mas extremamente grata. Ela lhe tocou o braço e aproximou-se. Conseguiu lhe beijar o pescoço porque foi tudo que alcançou. Draco apenas desceu a mão por suas costas, com receio de tocá-la demais. Não queria ser motivo para mais desconforto.
Tryn apareceu no segundo seguinte informando que Narcisa Malfoy havia chegado e pedia permissão para poder entrar no quarto. Draco deixou que Hermione decidisse pelo sim ou pelo não e foi assim que alguns minutos depois, sua mãe apareceu, passando pela porta. Foi nesse exato momento que Draco percebeu o quanto Hermione e ele estavam sendo sugados pela incerteza, porque o ar de confiança que sua mãe naturalmente carregava encheu o quarto e o incomodou imediatamente.
Ele teve certeza que sua mãe enxergara aquilo tão rápido quanto ele somente pelo estranho olhar que ela os lançou. Draco se viu ajeitar a própria roupa quase que no mesmo instante. Ele raramente perdia a postura. Hermione não pareceu se importar nem minimamente que fosse. Narcisa suspirou como se entendesse tudo que ela estava passando naquele momento, mas sem perder nenhum segundo de seu ombro erguido. Foi até Hermione, sem perder a oportunidade que via de ensinar alguma boa lição sobre ser uma Malfoy. Parou a sua frente em uma perfeita postura, puxou o ar e sorriu. Ver sua mãe sorrindo daquela forma para Hermione o surpreendeu. Foi um sorriso amoroso.
- Vai ser difícil. – ela disse para Hermione. – Vai doer, vai ter bastante sangue, e você vai ficar exausta. Mas eu garanto que vai ser o sofrimento mais bem recompensado de toda a sua vida. – Hermione processou aquilo e assentiu. Sua mãe mostrou-se comovida e aquilo surpreendeu ainda mais a Draco. - Eu sei que está genuinamente assustada e com medo agora e sei que não por causa da dor que vai ter que passar para trazer seus filhos ao mundo.
Por algum motivo, Hermione aceitou aquilo muito abertamente, como se soubesse que somente Narcisa entendia o que estava passando.
- Quero ser a mãe deles. – foi a resposta que ela deu a Narcisa.
- Então seja. – respondeu sua mãe. – Independente de qual será o destino deles daqui há uma hora, uma semana, um mês ou um ano. Seja a mãe deles agora. Dê o seu melhor agora. Eles precisam que você faça o seu melhor agora para o bem deles. Não se distraia com o resto.
Aquelas palavras transformaram Hermione. Ele não teve a menor ideia de como aquela conexão entre ela e sua mãe havia acontecido, mas ele podia dizer que havia funcionado. Hermione entendia que Narcisa já havia passado pelo que ela passaria, que entendia a ligação que tinha com os filhos, que entendia todo o medo que ela sentia e Draco apostava que isso fosse exatamente o que dera tanto crédito as palavras de sua mãe.
A verdade é que ele queria que seu pai estivesse ali também, e que soubesse as palavras exatas para confrontá-lo e confortá-lo ao mesmo tempo. Hermione não era a única assustada. Não era a única que tinha medos. Ele queria uma palavra de alguém que pudesse ter tanto crédito quanto a de sua mãe para Hermione, e ele sabia que isso só poderia vir de seu pai, mas tinha absoluta certeza de que se seu pai estivesse ali, ele não teria nenhuma palavra de conforto para dar a ninguém.
De qualquer forma, se anjos existissem, sua mãe era um deles, porque ela começou a conduzir aquilo e puxar Hermione para uma zona de confiança que ele sabia que ele não teria tido a capacidade de sequer reproduzir algo parecido. Nunca ficou tão grato pela existência de sua mãe como naquele momento. Ela foi capaz de controlar o estado emocional de Hermione até mesmo quando a Marca Negra tomou uma cor viva em seu braço, em sinal de que Voldemort já estava bem ciente do que estava acontecendo.
E ele não esperou que tudo fosse ficar tão intenso. A dor dela piorou. O tempo entre as contrações começaram a ficar mínimos. Narcisa insistiu para que Hermione usasse o feitiço que acabasse com as dores, mas Hermione negou prontamente. Draco conseguiu ver que a dor era algum tipo de distração que ela precisava e não deixou que sua mãe insistisse mais do que o necessário. No entanto, Hermione acabou tendo que aceitar uma hora depois quando percebeu que ainda teria muito o que esperar e que precisava ter forças para empurrar duas crianças para fora de seu corpo.
O feitiço a imobilizou da cintura para baixo. Hermione não ficou muito contente com aquela situação, mas ela estava comprando a ideia de fazer o melhor que podia para que os filhos viessem bem. Se ela precisava ter forças para quando chegasse a hora de empurrar, ela escolheria a melhor opção para ter certeza de que teria forças até lá.
Ele assistiu tudo. Não tinha muito o que fazer, mas por algum motivo, quando ele fez somente menção de que deixaria o quarto para poder encontrar uma forma de tirar a mídia que estava se acumulando em seu portão, Hermione lhe lançou um olhar suplicante em sinal de que se ele ousasse sair daquele quarto, ela encontraria uma forma de fazê-lo pagar por aquilo.
Tudo ficou muito calmo quando Hermione deixou de sentir as próprias contrações. Narcisa tentou encorajá-la a tirar um cochilo. Hermione não disse que não iria, mas todos ali sabiam que ninguém iria conseguir dormir. Draco ficou próximo a ela na cama, de pé, encostado num dos dosséis de braços cruzados, brincando com o irritante jogo da espera. Costumava não ser alguém muito paciente quando estava nervoso, mas aprendera a disfarçar bem em todos os seus anos de Comensal.
Sua mãe desceu com a desculpa de dar alguma informação para a mídia empilhada do lado de fora, o que era importante. Eles não podiam exigir privacidade quando precisavam tanto do apoio do povo. Draco sabia que sua mãe queria apenas deixar Hermione ter um tempo de descanso.
Ele sentou-se na cama ao lado de Hermione quando ficaram sozinhos. A última curandeira a sair diminuiu a intensidade da luz para criar um ambiente mais confortável. Eles ficaram alguns bons minutos em silêncio. Draco com os cotovelos apoiados nos joelhos, brincando com os nós dos dedos, Hermione de lado, observando-o sem abrir a boca. Eles checariam a dilatação dela só depois de uma hora.
- Me diga que está nervoso, por favor. – ela finalmente abriu a boca.
Ele desviou os olhos para ela. Sabia que ela não estaria conseguindo enxergar o quanto ele realmente estava nervoso porque ele não queria demonstrar que estava. Estendeu a mão para ela para que tivesse a resposta. Hermione pareceu não entender, mas quando uniu sua mão com a dele, era impossível que o suor fosse imperceptível. Hermione sorriu. Ele sorriu de volta. E então aquele pareceu o único momento de cumplicidade que eles tiveram desde que tudo aquilo tinha começado. Ele se sentiu finalmente ligado a ela.
- Eu não sei como é ser pai. – ele soltou seu receio.
- Eu também não faço a mínima ideia de como ser mãe, Draco.
- Prometo não te julgar quando você errar se você não me julgar quando eu errar. – ele resolver dizer.
Ela abriu um sorriso bonito, porém cansado.
- Posso assinar esse contrato. Me parece um bom negócio.
Ele soltou um riso fraco em resposta. Encarou-a e passou a mão palas bochechas rosadas deum dos lados de seu rosto. Aquele rosa o lembrava de quando ficava na banheira por muito tempo debaixo da água quente, ou quando ela estava na cozinha preparando um de seus pratos deliciosos para o jantar, ou quando tomava mais taças de vinho do que deveria e começava a soltar teorias loucas sobre seus pontos de vista a respeito da vida, ou quando faziam amor. Céus, era absurdo e louco o tanto que ele se via se importar com ela.
- Não queria que precisasse passar por tudo isso para trazer nossos filhos ao mundo. – ele comentou.
- Eu não me importo com a dor se é isso que o incomoda. – ela sorriu e tocou a mão dele. – Posso lidar com a dor. Quero apenas que eles fiquem bem.
Ele gostava de vê-la sorrir. Mesmo que soubesse que ela estava mergulhada em ansiedade, nervosismo e preocupação. Sua mãe havia feito um excelente trabalho para acalmá-la.
- Também quero. – concordou. Segurou sua mão e beijou o nó de seus dedos. – Como está se sentindo agora?
- Fisicamente? – ela ergueu uma das sobrancelhas em sinal de que não queria entrar no âmbito sentimental. Ele assentiu concordando que também não tinha nenhuma intenção de explorar aquele campo e ambos estavam tentando se equilibrar no momento. – Não sinto minhas pernas. – ela respondeu. – É estranho. Na verdade, me sinto pesada. Sei quando estou tendo uma contração, mas não sinto dor alguma. Por um lado é bom, por outro fico impressionada o que é algo a mais para lidar no meu psicológico. – ela riu tentando soar descontraída quando na verdade Draco sabia que era realmente algo que a incomodava. – Também estou cansada, mas sei que é efeito da magia para me fazer pegar no sono e descansar antes de puxar duas crianças para fora de mim. – descontraída novamente.
- Você deveria realmente tentar pegar no sono.
- Eu vou mesmo tentar. – ela disse, mas a verdade é que ele sabia que ela não tentaria. – E se eu pegar no sono e souber que você deixou esse quarto por um segundo que for, juro que vou te fazer dormir em outro quarto para o resto da vida.
Ele riu de verdade dessa vez. E daquele momento até o primeiro milésimo do primeiro segundo em que ele ouviu pela primeira vez o choro da primeira vida que saiu de dentro de Hermione, a vida que eles haviam feito juntos, foi como um piscar de olhos. Tudo estava calmo e então, de repente, tudo tomou uma proporção que eles não esperava. Foram os minutos prévios de uma vida que em questão de segundos mudou e passou a fazer parte de um passado estranhamente distante. Por que naquele pequeno instante em que seus ouvidos foram capazes de capturar o som de seu filho puxar o ar por si mesmo e soltar o som mais poderoso e frágil que ele já havia escutado em toda a sua vida, naquele insignificante e rápido instante, o mundo mudou. Foi como pular de uma realidade para outra, onde todas as cores pareciam saturadas e todos os seus sentidos pareciam sobrenaturalmente apurados. E foi tão real que ele não teve tempo de se sentir fora de si ou preso em algum tipo de mundo paralelo, sonho. Ele foi tão imediatamente imerso naquela realidade que ele se sentiu mais do que pronto para viver aquilo, para chamar Hermione e seus filhos de família, para acreditar que estavam completos, para sentir que ele finalmente estava completo. E quando não bastou ter seu filho nos braços, quando não bastou estar tão cheio, ele transbordou ao escutar o som do choro de sua filha.
Ele esperou. Esperou que seu mundo desmoronasse. Esperou que tudo fosse por água abaixo, que algo fosse quebrar o ápice a ordem de crescente satisfação e felicidade que o preencheu por inteiro, simplesmente porque isso ia contra a ordem natural do seu universo. Esperou que algo de terrível acontecesse com Hermione. Esperou que algo de ruim lhe arrancasse as pequenas vidas que ele havia semeado. Esperou pela tragédia. Por que ele não podia chegar ao pico em que havia chegado sem ter nenhuma queda. Isso estava fora de toda a realidade que ele já havia vivido.
Mas a verdade é que tudo voltou a ficar calmo novamente. Hermione estava bem. Seus filhos eram perfeitos. As horas continuaram passando e o que restou para eles era viver o resto da vida que tinham com a companhia das novas que haviam gerado. E essa realidade não lhe cabia. Ele não sabia o que fazer para lhe caber. Ele transbordava. Não sabia como fazia para parar. A verdade era que ele não queria que parasse.
E foi assim que eles chegaram até ali. No meio da noite. No silêncio. Onde ele observada Hermione, Scorpius e Hera aproveitarem o sono que os tomara. Ele não deixara o quarto por um segundo sequer porque sabia que Hermione não queria que ele deixasse e era incrível como ele se preocupava e se sentia atraído pelo constante desejo de fazer as vontades dela, mesmo que fossem coisas pequenas.
Aquela paz e aquele silêncio não durariam muito tempo simplesmente porque sabia que em algum momento Hera ou Scorpius dariam algum sinal de estômago vazio ou frauda cheia e se não dessem, alguma das Curandeiras apareceria para fazer com que Hermione os amamentasse novamente. Draco sabia que bebes eram frágeis, mas não sabia que eles precisavam de atenção com tanta frequência. Se Hermione tivesse que seguir todas as direções que os medibruxos passavam para ela, nunca mais dormiria uma noite de sono completa até que eles fossem grandes.
Hermione abriu os olhos imediatamente, como se nunca tivesse pegado no sono, quando Hera gemeu, se esticou e tornou a se acomodar junto com o irmão, que pouco demonstrou se importar com a breve inquietude da irmã. Draco observou quando Hermione esticou a mão para tocar os filhos e verificar estavam respirando, se estavam bem e assim que ela teve a certeza de que não precisavam de nenhuma atenção extra, tornou a se acomodar no travesseiro e finalmente encarou Draco.
Eles se encararam em silêncio naquele semiescuro sem pressa dos segundos que passaram. Hermione sorriu. Ele conseguiu ler naquele único sorriso, que ela estava feliz. Ver aquele sorriso o encheu mais ainda. Sorriu de volta. Ele queria que ela soubesse que ele também estava. Ela não sabia, ou talvez soubesse, que ele nunca havia vivido aquele sentimento antes de forma tão intensa.
- Quer que eu faça algo por você? – e essa teria sido uma pergunta que ele nunca teria feito em sua vida, para ninguém.
Ela negou com a cabeça e eles voltaram ao silêncio. Os segundos se passaram e ele esperou que ela fosse voltar a dormir, mas ao invés disso, ela apenas suspirou e esticou o braço para mostrar a Marca Negra em contraste com sua pele.
- Ele sabe. – ela disse numa voz muito fraca.
Voldemort não era o único que sabia.
- Todos sabem. – sua mãe havia se encarregado de manter a mídia bem atualizada.
O silêncio que se seguiu foi quase que uma troca de informações mutuas que não chegou a ser verbalizada, mas que nem por isso deixou de ser clara. Ambos sabiam que os próximos dias seriam difíceis, não só para se acostumarem a uma rotina, mas para aceitarem o fato de que seus filhos seriam instrumentos de testes pelas mãos dos medibruxos de Voldemort. Obviamente que ele e Hermione iriam intervir com a influência que tinham como Malfoys, mas ainda assim, ordens eram ordens e desde o início, ele sabia que o nascimento dos filhos tinha um propósito muito específico para Voldemort.
Não queria pensar naquilo. Não naquele instante em que queria apenas se focar em permitir que aquele momento continuasse perfeito, porque sabia que seria raro, que seria único e que talvez não fosse viver nada tão parecido com aquilo nunca mais em sua existência.
Draco insistiu para que Hermione voltasse a dormir, que muito provavelmente acabaria sendo acordada dentro de uma ou duas horas novamente. Ela estava exausta. Disse que sentia como se tivesse corrido uma maratona e ele percebeu que ela tentou se manter acordada, apenas para ficar olhando os filhos dormirem pacificamente logo ao lado, mas cansada como estava, acabou cedendo e fechando os olhos.
- Você também tem que dormir um pouco. – ela disse muito baixo, com a voz cansada.
- Não agora. – mas eventualmente iria, em algum momento. Ou quem sabe não conseguisse, mesmo se tentasse. Queria ficar com ela ali e se ela não fosse dormir, ele também não iria. Assistiu atentamente a respiração calma dela. Seus olhos pulavam para os filhos logo ao lado a cada segundo. Suspirou e sorriu. Sorriu.
As vezes, quando seu cérebro desligava e ele conseguia se concentrar apenas no ambiente em que estava, em Hermione e nos filhos, ele se via incapaz de não sorrir. Era tão genuíno que chegava a se questionar se era realmente real. Quantas vitórias ele já havia conquistado em sua jornada no mundo dos Comensais, quantas satisfações já havia tido em sua história de vida. E mesmo assim nada chegava a fazer sequer uma pálida comparação ao que gerava dentro dele a cada segundo que se passava e ele se via atado ao laço daquele pequeno grupo de pessoas em seu quarto.
Ele não tinha ideia do valor de Hermione até algumas horas atrás. Se voltasse no tempo, podia se lembrar de que pouco havia se importado com ela na escola. Havia implicado com ela porque era amiga de Potter e qualquer amigo de Potter, para o Draco que era na época, não prestava. Na guerra, seu ódio e sua raiva por ela cresceram a medida em que os anos foram se passando e ela foi se mostrando seu uma oponente perigosa. Quando a capturou e ela foi escolhida para ser sua noiva, a única coisa que o impediu de que ele mesmo a matasse, foi seu simples instinto sexual. Ele a queria morta, mas no fundo, sabia que ela tinha uma única chance de lhe proporcionar algo positivo. Ele ainda podia tirar proveito dela viva de uma única forma, e essa era a de matar seu desejo, de satisfazer os hormônios que carregava com ele.
Hermione não apenas tomou aquela chance, sem qualquer conhecimento de que era uma, como soube domina-la vitoriosamente. Foi exatamente o período em que viveram contando os segundos para quando pudessem estar sozinhos, em casa, na cama. Hermione usou a única chance que tinha com ele para abrir as portas de sua natureza, para criar outras milhões de chances, para que o fizesse enxergar outros mil proveitos que podia ter dela. Então ele se familiarizou com ela e a conheceu. Conheceu a mulher que sabia seduzi-lo, que sabia tocá-lo, que sabia usar seu corpo, mas também conheceu a mulher que passava horas na biblioteca de sua casa, que sempre tinha uma opinião inteligente para colocar na mesa, que era quieta e silenciosa, mas que quando abria a boca derrubava muralhas, que era atenciosa, que olhava detalhes, que sabia sorrir o melhor sorriso, que sabia confortar, que sabia ouvir, compreender, apoiar. Ela tinha um espírito único, uma força admirável, um orgulho indestrutível e um caráter inquestionável. Tudo isso tinha ganhado o coração dele. Mas ainda assim, ele nunca havia chegado ao ponto de enxergar o valor dela. Ele sabia que ela alto, apenas porque ela havia ganhado seu coração e nunca ninguém havia conseguido isso. Mas agora, enquanto ele se via consciente da aliança que tinham, da história que tinham, dos laços que tinham, do sentimento que tinha, ele via o valor dela. Era assustador e ao mesmo tempo transcendental. Ela era insubstituível. Ela havia se tornado seu potencial ponto fraco por todo o valor que tinha para ele. Tudo isso porque ele a amava.
Sim, ele a amava. E não era um sentimento. Sentimento era o que ele sentia por ela. Amor era o que ele tinha por ela. Era consequência de respeito, admiração, valor, era a consciência do que os unia, do que os distinguia, mas acima de tudo, do que os tornava um. Ou talvez ele estivesse completamente errado sobre seu amor por ela. Talvez não fosse nada perto do que amor realmente era. Talvez na primeira grande barreira com que se deparasse ele desse as costas a Hermione, o que ele achava impossível no nível de profundidade ao qual se encontrava com ela, mas seria mesmo impossível que ele um disse pudesse dar as costas a elas? Ali ele se via absolutamente incapaz de jamais pensar que um dia daria as costas a família que tinha, a ela, aos filhos que mal haviam dado os primeiros suspiros de vida no planeta terra. Mas seria mesmo impossível? A que ponto ele se conhecia para dar essa afirmação sobre ele mesmo. Para confiar na pequena revelação do que ele havia acabado de receber sobre o amor. Por incrível que pareça, ele não queria, com todas as suas forças naquele momento, não amar Hermione, mas não sabia se isso o fazia amá-la.
- Desde que... – ele suspirou e diminuiu mais o tom de voz quando se lembrou dos filhos dormindo logo ao lado. - ...Desde que minha família começou a trabalhar no projeto de eternizar essa geração dos Malfoy, tenho esperado pelo dia em que vou segurar toda a glória de ser o responsável por ter estado por trás da destruição do imperador mais cruel da história bruxa. Sempre pensei que esse fosse ser o momento em que o mundo viraria pra mim, em que eu finalmente teria justificativas para poder argumentar a vida com pensamentos positivos. – ele puxou o ar. Hermione se mexeu e abriu os olhos muito calmamente para encará-lo, em sinal de que estava intrigada como que ele estava dizendo e queria estar acordada para ouvir o final. – É estranho poder enxergar agora o quanto eu insistia nessa ideia, o quanto eu apostava nela, o quanto eu me limitava a ela. É estranho poder enxergar o quanto eu dei tanto do meu suor, da minha energia, da minha inteligência, para um objetivo que, agora, perde todo o sentido e toda a glória quando me vejo fazer parte de você, dos nossos filhos, da nossa família.
Hermione esticou um lábios mostrando que havia sido algo bonito de se ouvir.
- Somos mesmo uma família agora? – a voz dela saiu tão baixa que ele quase não pode ouvir. – Agora que realmente temos filhos? – ela piscava lentamente, exausta, fora daquela realidade. – Quero dizer, somos uma família no papel e nos olhos de todo mundo. Mas será que somos uma família um para o outro agora?
- Eu não sei o que é uma família, Hermione. Se você não pode responder essa pergunta, acredito que eu não poderia também. – ele suspirou. – É frustrante. – ele queria poder saber. - Eu também quero te amar tanto, mas não sei se isso faz com que eu realmente te ame. Olho para você agora e tudo que consigo pensar é como eu poderia não te amar, você mudou o meu mundo te tantas formas diferentes, mas, ainda assim, como poderia saber? Eu não sei o que é amor.
- Eu pensei que eu sabia. – ela suspirou e fechou os olhos. – Eu pensei que sabia o que era amor, no que ele se baseava, como crescia, o que significava, até me envolver com você, até hoje. Eu não posso te amar da forma como eu pensava que amor era, porque se amor for o que esta acontecendo agora, nesse exato momento: eu, você, nossos filhos, esse quarto. É muito mais poderoso do que tudo que eu pensei um dia que amor fosse.
Ele teve que sorrir. Arrastou-se para sentar-se na ponta da cadeira, onde pode inclinar-se sobre Hermione, afastar seus cabelos, beijar seu pescoço e apoiar a testa em sua têmpora. Fechou os olhos.
- Se eu te disser que te amo, você entenderia que o que quero dizer é que realmente quero te amar? Te amar em todos os sentidos que, o que quer que amor seja, é? – ele cochichou para ela e Hermione assentiu.
- E se eu disser que te amo, você entenderia que espero que realmente seja verdade? – ela disse no mesmo tom que ele e ele assentiu da mesma forma que ela, mesmo que o nível da honestidade quisesse fazer com que ele se afastasse. Draco queria realmente dizer que a amava, ela merecia, ela precisava receber algo tão exclusivo dele, ela precisava saber o valor com o qual ele conseguia vê-la agora. Realmente queria. Mas ela suspirou e disse: - Isso não é amor, Draco.
- O que é amor então? Se for mais do que tudo isso que estamos vivendo agora, o que é amor?
- Eu não sei. – ela soou tão frustrada quanto ele. – Mas tenho certeza de que não é duvidoso. Amor não é um momento. – ele teve que concordar. Não tinha duvidas do quanto sacrificaria sua vida pelos filhos que dormiam logo ao lado, mas quanto a Hermione, tudo que ele podia dizer se limitava ao momento em que estavam vivendo. Não tinha a menor ideia de como tudo aquilo mudaria. – Não vamos ter dúvida quando realmente soubermos.
Ele se viu sendo obrigado a concordar. Será que a dúvida o fazia não amar Hermione de nenhuma forma?
- Eu não acho que posso me sentir mais completo que agora.
Hermione sorriu. Enfiou os dedos pelos cabelos dele e o beijou.
- Eu acredito que pode. Acredito que eu também posso. Esse é o começo, Draco.
**
Havia colocado a farda, logo quando o dia começou a clarear, sem a mínima vontade de cumprir seu dever na Catedral. Queria ficar em casa. Queria poder continuar sentado ao lado de Hermione, vendo tudo de novo que seus filhos faziam, mostrando seu apoio a ela, mostrando que ela poderia contar com ele. E a verdade era que se não quisesse ir, poderia realmente não ir. Mas porque precisava pensar na chances que teria de mostrar ao mundo que suas obrigações com relação ao império de Voldemort excedia o tolerável, assim como tudo que envolvia Voldemort. A repercussão daquilo seria mais um ponto positivo para que ele tivesse cartas para jogar na mesa quando precisasse proteger sua família.
Quando voltou para o quarto já pronto, Hermione estava recebendo ajuda e orientação para amamentar Hera e Scorpius, que expressavam audivelmente o desagrado pelo estômago vazio. Hermione o avistou no momento em que ele apareceu, deixando de prestar atenção no que estava sendo orientada a fazer por um segundo apenas para analisa-lo com seu olhar nada contente. Ele sabia que ela não estava feliz de ver ele ir cumprir seu papel de general no dia seguinte do nascimento dos filhos. Sua mãe, que tentava acalmar Scorpius no colo também não parecia muito contente. Mas nenhuma delas ousava levantar qualquer argumento contra. Ambas sabiam a necessidade daquilo.
Aproximou-se deles com paciência e esperou até que Hermione tivessem mais confortável alimentando Hera e sua mãe tivesse conseguido diminuir o volume de Scorpius. Foi até Hermione que já esperava que ele fosse até ela ter sua despedida. Inclinou-se sobre ela e beijou seus lábios que já estavam posicionados para recebê-lo. Hermione passou a mão pelo seu rosto com carinho enquanto ele afastava suas bocas com calma. Não queria deixa-la, não queria deixar seus filhos, não queria deixar sua casa. Ela alinhou o broche preso a gola dele e eles se encararam por quatro ou cinco segundos em silêncio onde ele pode tentar mostrar para ela que tentaria voltar o mais cedo possível.
Ele não entendia. Se não se amavam, por que se importavam tanto? Por que não podia simplesmente dizer que a amava, torcendo para que realmente a amasse? Ele sentia falta de ter algo como aquilo para dizer para ela ali.
Apenas desculpou-se por não poder ficar. Hermione não reagiu aquilo. Ela entendia o porque, mas isso não a fazia aceitar. Voltou-se para Hera, tocou os dedinhos pequenos que seguravam com força a seda do robe de Hermione e sentiu a pele extremamente macia e perfeita da mão de sua filha. Ela estava grudada em Hermione e fazia um bom esforço para tentar encher o estômago. Era tão pequena que o assustava.
Foi até sua mãe em seguida. Agradeceu por ela estar ajudando Hermione quando ele não poderia, deu um beijo rápido em sua têmpora e teve receio de tocar muito em Scorpius visto que ele não parecia muito contente que a vez de se alimentar fosse de Hera e não dele.
Assim que saiu do quarto, quis voltar imediatamente. Desde o dia anterior, quando os filhos haviam nascido, ele não os deixara por nenhum segundo e toda novidade ele estava presente para ver. Deixa-los, por mais que fosse por algumas horas e em prol da segurança deles, o fazia sentir que perderia a primeira vez que reconhecessem ele e Hermione, a primeira vez que falassem qualquer palavra, os primeiros passinhos.
Logo que desceu as escadas, teve que lidar com os jornalistas que havia colocado dentro de casa. Pedira para sua mãe, logo cedo, que trouxesse para sua sala três jornalistas dos mais altos meios de comunicação que estivessem do lado de fora, para que assim pudesse dar uma declaração sobre a chegada dos filhos.
E foi exatamente isso que fez. Antes mesmo de tomar seu café, sentou com os três jornalistas e deixou claro nas entrelinhas que também vivia no medo que todos viviam debaixo do poder de Voldemort e que por isso não ousaria falhar em seus deveres como general do exército, mesmo que fosse o dia seguinte do nascimento dos filhos.
Foi mais emotivo do que jamais fora em sua vida inteira ao público quando abriu a boca para falar da sensação de ter duas vidas criadas por ele agora no mundo, de como havia sido vê-las chegar, de como o mundo parecia diferente agora. Sua intenção era realmente passar a força do sentimento, algo que ele raramente havia feito em qualquer entrevista ou declaração, mas precisava fazer com que as pessoas se relacionassem aos Malfoy em todos os sentidos, principalmente ao sentimental.
Quando finalmente conseguiu sair de casa rumo a Catedral, pode ignorar o restante de repórteres acumulados no portão de sua casa. Já havia feito bastante pela mídia aquele dia. Exagerar em sua atenção poderia causar desconfiança e essa era a última coisa que precisava naquele momento.
Assim que fez sua entrada pela ala leste da Catedral para se encontrar com o pequeno grupo da zona três e cinco que ainda estavam em Brampton Fort, para proferir seu costumeiro discurso diário, sentiu que seu dever aquele dia era ser aquele que continuaria de pé, lutando silenciosamente pelo fim da Era de Voldemort, enquanto seu pai estava impossibilidade, sua mãe ocupada e Hermione se recuperando. Aquilo lhe dava um senso de grandiosidade maior do que as vitórias que já havia conquistado naquela guerra.
Encarou seu exército e começou a ditar seu discurso já muito bem conhecido. Mas ele logo sentiu a diferença. Seu tom era diferente. Ele era uma pessoa fria e séria, e por mais que estivesse sério naquele momento, havia um calor irreconhecível em sua voz. O rosto daqueles que o olhavam, dos soldados de seu exército, dos líderes, também eram calorosos. Não era a expressão monótona e entediada de quase todos os dias. Eles sabiam, que sua família havia aumentado, que seu general recebera mais um título. Draco Malfoy não era mais apenas um herdeiro Malfoy, um general, um marido, ele também era pai agora. Aquilo lhe trazia tanto orgulho que ele lutava para não encher o peito mais do que o normal.
Ele não estava errado. Assim que desceu de seu pódio, o número de felicitações que recebeu foi gigantesco. Cada um tinha uma pequena frase rápida e decorada para lhe dizer. Ele deu atenção a todas elas simplesmente por gostar de ter o contato que tinha com o seu exército. Ele nunca havia sido um general distante e não podia se dar o luxo de ser principalmente agora.
Subiu até sua torre e quem estava a sua espera era Isaac Bennet do lado de fora de sua sala. Tina informou que ele havia chegado não fazia muito tempo e Isaac logo pediu pela atenção de algum de seus minutos. Ele não parecia exatamente contente como o restante do calor que havia recebido dos homens de seu exército não fazia muito minutos.
- Como estão seus filhos? – Isaac apressou-se a perguntar assim que Draco fechou a porta atrás deles.
- Saudáveis. – respondeu.
- Hermione?
- Recuperando-se. Ela é uma mulher forte. E quanto a Astória e Elise?
- Elise está bem. Ainda tem alguns pesadelos com a noite da queima da sede da Ordem, mas isso não a faz ser uma garotinha menos feliz. Astória tem se ocupado com as coisas da nova bebê. Essa gravidez está passando mais rápido do que pensávamos.
- É mesmo uma menina?
- Sim. Tivemos outra confirmação semana passada. Acredito que ela vá combinar com Hermione um bom horário para irmos até sua casa visita-los. Mas não é por isso que vim até aqui, Draco. – ele puxou um pergaminho com o selo do gabinete de Voldemort estampado logo a frente. – Acredito que merece os parabéns por ser pai agora e por ter filhos saudáveis, e eu não queria ser quem vai te obrigar a se lembrar do mundo real agora, mas não posso esperar para discutir sobre isso. – ele estendeu o pergaminho a Draco, que o pegou, o abriu e o leu rapidamente. – Eu sei que está por trás disso. E Draco realmente estava. Era um pedido para que assumisse a posição de Primeiro Ministro, exatamente como Draco discutira com Voldemort no dia anterior. – Eu nunca quis ser Primeiro Ministro, Draco. Sabe disso.
- Não. Não sabia. O que eu sei é que quer proteger sua família tanto quanto quero proteger a minha. Nada vai lhe colocar em tanta estima com o mestre do que o cargo de Primeiro Ministro. – Draco devolveu o mandado do gabinete de Voldemort para ele. – O problema é que eu não quero e nem posso ser Primeiro Ministro agora e a única pessoa que me inspira confiança suficiente para preencher o cargo é você.
Isaac o encarou por alguns segundos em silêncio como se estivesse debatendo se deveria confrontar ou não.
- Você me colocou no círculo interno e isso era tudo que eu precisava, Draco. Eu não pretendo ir muito além disso, quanto mais no topo você está nessa cadeia alimentar, mais fatal é a consequência de um erro. Eu não quero colocar minha família nessa posição. – ele foi sério.
- Eu entendi que estava do meu lado, por isso o coloquei no círculo interno, Isaac. – queria ameaça-lo e dizer que tinha o poder de tirá-lo de lá se caso houvesse compreendido as intenções dele de erroneamente, mas iria tão longe assim, não seria nada sábio. Talvez tudo que Isaac precisasse era ser convencido. – Você sabe bem a posição da minha família com relação ao império do mestre. Tem entendido bem o sistema no qual estamos criando dentro do dele. Sabe muito bem qual o propósito. Permiti que tivesse acesso a isso porque entendi que estava do meu lado.
- E estou do seu lado.
- Então trabalha para mim.
- Não. Trabalho para o bem da minha família. Sabe disso.
- E para o bem da sua família, trabalha para mim.
Isaac estreitou os olhos.
- Isso soa como uma ameaça.
- Soa como senso comum para mim. Conhece muito bem o mundo onde vive.
Isaac encheu o pulmão de ar como se quisesse retrucar, mas acabou por se calar por um bom tempo.
- Eu entendo. – ele diminuiu o tom de voz para um mais imparcial. – Sei que seu pai tem segredos no Ministério e eu entendo que quer que eu os segure para você.
- Para nós.
Isaac riu.
- Não seja hipócrita, Draco. Se ganhar tudo isso, a glória será da sua família.
- E se tiver provado bem aliança comigo sua família estará segura suficiente quando chegarmos lá. Está do meu lado ou não está, Isaac? Preciso do seu serviço, pensei que não hesitaria. Sabe que posso encontrar quem queira uma boa aliança com um Malfoy se recusar o cargo.
- Não pretendo enfraquecer nossa aliança, Draco, mas...
- Mas? – Draco não tinha paciência para os receios dos Bennett. – Eu sento acima do Primeiro Ministro nos patamares do trono, logo ao lado do mestre. Não existe cargo mais alto que o meu no império de Voldemort por agora. Eu estou no topo da cadeia alimentar. Minha família está no topo da cadeia alimentar. Você sabe muito bem que isso é estar com mais corda em volta do pescoço que qualquer outra posição dentro do império do mestre. Eu arrisco minha família todos os dias, meus filhos que acabaram de chegar ao mundo, minha mulher que mal pode se levantar da cama agora, minha mãe, meu pai, minha geração, meu nome, minha história. Esse é o risco, esse é o preço a se pagar. Quanto você está disposto a pagar para ter de volta o mundo antigo, Isaac? Eu não faço acordo com covardes e eu sei que não é um.
Isaac suspirou. Soltou o ar com força. Mostrou as mãos.
- Astória está contente com a ideia. Ela não tem a mínima noção do que isso significa para nós.
- Não a iluda. Terá que guardar segredos que tem o poder de nos destruir facilmente
Ele assentiu.
- Ela estará contente enquanto tivermos fortes alianças com os Malfoy, tenha certeza.
- Ela é inteligente. – ele disse embora aquilo tivesse lhe lançado um receio sobre o quanto Astória havia conseguido superar por não ter se tornado uma Malfoy.
Isaac assentiu novamente concordando e enfiou as mãos no bolso. Draco cruzou os braços e apoiou em sua mesa encarando o homem a sua frente.
- O munda sabe que o mestre quer seus filhos. Por mais que seja especulação. Eles sabem. Hermione é descendente de Morgana. Você tem linhagem direta com Merlin. É óbvio que o mestre tem interesse nessa mistura de sangue. E o mundo sabe que vocês não estão contentes com isso. Eles estão do seu lado, gostam de vocês, simpatizam com a dor. Eles querem que sejam uma família completa. Uma família feliz. Mas o mestre é o mestre. Como está segurando isso? Como está segurando tudo isso agora que seus filhos chegaram?
Draco já tinha aquela resposta.
- Eu tenho sido um câncer silencioso dentro de todo esse sistema por anos. – começou. – Mas ninguém manipula um Malfoy como Voldemort tem manipulado e ninguém vai tocar nos meus filhos como Voldemort quer tocar. Eu tenho o povo do meu lado e está na hora de começar a por um fim nisso. Está na hora de mostrar que eu causei mais estrago ao império do que colaborei para ele.
Isaac não pareceu digerir.
- O que quer dizer?
- É hora de começar a guerra civil.
Hermione Malfoy
Sonhou que chorava no quarto de seus filhos por ver os berços vazios. Quando acordou, o dia ainda estava clareando e sua primeira ação foi virar os olhos para o espelho em sua cabeceira, por onde podia ver o quarto dos filhos ao invés do próprio reflexo. Scorpius dormia pacificamente, exatamente como ela havia o deixado horas atrás, ao contrário de Hera que estava acordada, mas quieta. Ela havia dormido bastante e não acordara como o irmão durante a noite, portanto Hermione já sabia que não demoraria para que ela exigisse por comida.
Anda estava se acostumando que os filhos não dormiam mais em seu quarto. Tinha pesadelos onde Voldemort entrava em sua casa sem que ela soubesse e os levava para longe dela. Eles eram tão pequenos e indefesos. As vezes, pouco conseguia enxergar o quanto haviam crescido desde que haviam nascido, mas então se deparava com situações onde eles mostravam o quanto já haviam desenvolvido e ela mal podia acreditar como o tempo passara tão rápido.
Por um lado, o quarto havia voltado a ser só dela e de Draco novamente e isso havia trago um senso de conforto que ela não imaginava que traria, apesar de ainda estar tentando se acostumar com a ideia dos filhos dormirem logo ao fim do corredor. Draco era diferente de qualquer outro homem com quem ela havia havia se envolvido. Ele não era pegajoso, não encostava muito nela, não exibia em público os sentimentos que tinha, nunca extrapolava o necessário. Mas a noite, quando estava cansado, quando estava com a cabeça cheia, tudo que queria era sentar perto da lareira, segurar os filhos e tê-la encostada nele. Ele era outro homem. Era outro homem completamente diferente. Já haviam se passado quase o inverno inteiro e ela contava nos dedos de uma mão apenas, as vezes em que vira Draco do lado de fora, congelando seus próprios pensamentos, sozinho. Ele sorria com facilidade agora, sorria quando via os filhos, sorria quando a vida, sorria simplesmente por sorrir. Algo mudara nele, algo muito forte mudara nele.
Ela gostava de deitar a noite com ele, de se sentir ser abraçada, de cair no sono junto com ele, de o sentir beijar seu pescoço no meio da noite. Aquele era o pequeno universo deles. Ninguém precisava ver. Ninguém precisava entender, nem eles mesmos. E tudo havia começado ali, naquele quarto, naquela cama, naquela casa, naquela maldita cidade. Havia um certo e estranho... conforto.
Acomodou-se mais contra o corpo de Draco e fechou os olhos tentando tirar proveito dos minutos que Hera estava lhe dando. Se perdeu na respiração ritmada e pesada de Draco e quase pegou no sono novamente, mas logo Hera se manifestou, o chorinho soou como se ela estivesse ali com eles. Draco acordou quase que imediatamente. Virou a cabeça para poder ver o espelho e saber qual dos dois estava demandando atenção.
Tiveram uma breve discussão rouca e sonolenta sobre o que ela poderia estar precisando e Draco já se prontificou a usar a mamadeira que Hermione deixara pronta. Ele gostava de cuidar dor filhos. Haviam momentos em que ela conseguia enxergar perfeitamente o coração dele se derretendo ao ver o sorriso banguela de um dos filhos e então conseguia entender o porque ele se dedicava tanto a eles.
Ela pegou no sono inevitavelmente confiando que Draco conseguiria dar conta da situação. Seu sono extra foi calmo e livre de pesadelos, o que lhe deu um animo maior quando acabou acordando novamente, talvez não muito tempo depois. O dia já estava mais claro, cinzento como sempre, mas o sol parecia um pouco mais alto por trás das nuvens. Ela espreguiçou-se e encarou a silhueta de Draco de pé, contra as enormes janelas que davam vista para o pátio da frente, segurando quem, só pela sombra, já pode reconhecer ser Hera.
Hermione se levantou, amarrou o robe na cintura e avançou até eles. Abraçou-o por trás e descansou o rosto em suas costas. Hera estava acordada, mas quieta em seu colo como uma boa menina segurando um pequeno ursinho anexado a chupeta, que ela detestava. Eles ficaram em silêncio por um bom tempo.
- Recebi uma carta. – até que Draco se manifestou.
Ela sabia que era uma especial, porque Draco recebia inúmeras cartas por dia.
- De quem?
Ele respirou fundo e hesitou por alguns segundos.
- Meu pai. – respondeu finalmente. – Ele escreveu.
- Ele escreveu? – ela ficou surpresa.
- Sim. – reafirmou ele. – Aparentemente ele está realmente melhorando dessa vez.
- Tivemos uma semana assim mês passado, ele piorou bastante depois. Tente não ficar animado até vermos um progresso diferente.
Ele soltou um riso fraco.
- Você não precisa me podar para ser positivo com relação ao meu pai, Hermione.
- Eu conheço seus medos, Draco. Posso não saber a profundidade e a complexidade deles, mas sei que existem. – ela ficou na ponta dos pés e estalou um beijo calmo em sua nuca. Passou a mão pelos poucos fios branquinhos que haviam na cabeça de Hera e afastou-se dela e do marido. – Tem feito boas decisões pelo nome Malfoy, não se atormente pelo que seu pai faria ou pelo que ele diria. Acredito que está fazendo um trabalho incomparavelmente melhor que o dele.
- Não tente me fazer sentir bem.
- Estou sendo realista. – ele seguiu para o espelho mais perto, onde começou a prender os cabelos para cima.
- Ele quer conhecer Hera e Scorpius.
Hermione travou imediatamente.
- Não. – foi sua resposta quase que instantaneamente. Draco se virou e ela fez o mesmo. Mal pode acreditar a expressão que via no rosto dele. – Você está considerando? – ele não respondeu nada. – Draco. Nem mesmo você foi visitar seu pai mais de duas vezes desde que ele levou aquele tiro!
- São os netos dele também, Hermione.
- Ele não tem amor por ninguém! Ele não se importa! Ele permitiu que Voldemort tivesse autoridade sobre nossos filhos!
- Ele é meu pai! – ele se mostrou ferido com a frieza dela. – Trabalhou para destruir Voldemort tanto quanto eu e você temos trabalhado.
- E você o odeia.
- Mas ele continua sendo meu pai.
Hermione se calou. Pensou. Suspirou.
- O que sua mãe acha disso?
Ele deu de ombros. O silêncio pairou entre eles por alguns longos segundos até que o choro de Scorpius soasse vindo do espelho. Hermione lançou um último olhar a Draco, passou por ele e foi buscar o filho no outro quarto.
Abraçou-o com carinho, cuidado e calor assim que o pegou no colo. Conseguiu acalmá-lo facilmente. Scorpius era mais pacífico que Hera normalmente, como se demandasse menos atenção que ela na maioria das vezes e aquilo fazia com que ela o amasse de uma forma muito especial. Não que não amasse Hera. Era estranho. Amava os dois de formas diferentes, era um tipo de amor específico e especial para cada um, mas isso não tinha o poder de colocar um acima do outro. Amava-os na mesma intensidade, mas diferenciadamente. E era incrível ver quanto se via ficar engajada com eles e ver essa intensidade aumentar a cada minutos que eles cresciam, descobriam coisas novas, se mostravam quem eram, suas personalidades, suas pequenas reações. Ela os amava tanto. Eram uma pedaço dela que se tornava maior a cada dia.
Ela tomou seu tempo para cuidar de Scorpius antes dela mesma. Draco se juntou a ela em silêncio para toda a rotina da manhã com os gêmeos e assim que desceram com eles e os deixaram na sala, na companhia de Tryn, debaixo da iluminação da janela, que estava longe de trazer um raio de sol, mas que era o próximo que tinham, subiram para seguir suas próprias rotinas.
- Talvez eu esteja sendo dura com seu pai. – ela comentou logo que terminou de escovar os dentes. Ele estava saindo do banho e parou imediatamente para encará-la pelo espelho.
- Está considerando? – ele indagou.
Ela assentiu.
- Não é certo que eu me ache no poder de privar seu pai dos próprios netos. Não posso privar Hera e Scorpius de ter um avô. Não tenho o direito de ser maldosa com ele. Independente do que for. – ela foi honesta.
- Não se ache maldosa. Estuda uma solução para o caso do meu pai mesmo tendo motivos o suficiente para não querê-lo vivo. Tem um bom coração. Não a culpo por querer que Hera e Scorpius não tenham contato com ele. Eu também só não queria tirar o direito deles de ter acesso ao avô. – ele foi tão honesto quanto ela.
Hermione assentiu concordando.
- Podemos deixar que eles tomem a própria decisão deles sobre seu pai no futuro, não podemos? – sugeriu ela.
Draco concordou imediatamente e ali eles colocaram um ponto final em mais uma decisão sobre os filhos em conjunto, sem que discutissem severamente ou criassem feridas maiores.
Hermione vinha se sentindo tão confortável com a forma como eles estavam aprendendo a lidar com conflitos que ela sentia como se estivessem se tornando profissionais na arte de lidar um com o outro. Draco vinha aprendendo a importância de ser sincero com ela a cada dia e isso fazia com ela se sentisse confortável para também ser sincera e aquilo vinha criando a base de um relacionamento com milhões de dores de cabeça a menos. Ela finalmente conseguia enxergar, no fim do túnel, uma harmonia entre eles.
Ele foi até ela, a abraçou por trás, lhe deu um beijo simples na têmpora e partiu pra o closet. Ela prendeu os cabelos e foi para o banho seguir sua rotina. Quando foi sua vez de ir para o closet, ele já havia descido para esperá-la para o café da manhã.
Arrumou-se em uma perfeita saia azul marinho justa que vinha de sua cintura até um pouco abaixo do joelho. A blusa que foi por dentro da saia era pérola listrada com preto e de tecido fino com as mangas dobradas até a altura dos cotovelos. O salto que colocou era alto, porém o sapato era confortável. Ela andaria bastante hoje. Arrumou o cabelo, colocou suas jóias, fez uma maquiagem simples e desceu. A cada dia que se passava, ela conseguia alcançar um tempo recorde em sua rotina da manhã. Tinha filhos agora e por mais que tivesse ajuda, sua prioridade não era mais colocar um lindo vestido e pentear o cabelo pela manhã, por mais que fosse sua obrigação como uma boa Malfoy.
Debateu como Draco casualmente sobre as notícias do jornal enquanto tomavam café, como faziam normalmente. Moveram-se para uma sala menor assim que terminaram com aquela etapa do dia e passaram a entreter-se com Hera e Scorpius sobre o enorme tapete de frente a ladeira acesa. Hermione adorava aquela parte. Não havia um dia da vida deles juntos agora em que ela não escutasse Draco gargalhar pelo menos uma vez. Não havia um dia que ela não conseguisse esquecer o enorme peso da aflição que a pressionava constantemente quando olhava para o sorriso dos filhos, quando os estimulava a fazer coisas novas, quando os via fazer coisas novas, quando os via crescer.
Astória apareceu com Elise não muito tempo depois. Elise era fã número um dos gêmeos e não havia energia que pudesse ser contida no momento em que os via. Também não parava de falar da irmãzinha nova que estava prestes a nascer a qualquer momento. Narcisa também chegou minutos depois. O ânimo dela animava tão igualmente assim que se via cercada pelo ambiente com tantas crianças. Hermione apostava que Narcisa seria uma mulher menos amargurada se tivesse tido a chance de ter tido mais filhos. Era absolutamente inquestionável o seu dom peculiar com crianças. Ela era uma adulta silenciosa, que não interagia tanto quanto qualquer amante de crianças interagiria, mas ela tinha o poder de fazer com que qualquer criança se sentisse segura e confortável ao seu redor. Hermione tinha segurança nela e agradecia por ter alguém que pudesse guia-la em coisas pequenas. Coisas que ela esperava que fosse ser ensinada por sua mãe.
Draco e Hermione seguiram sua jornada do dia agora que tinham pessoas suficientes de confiança para ficar de olho nos filhos enquanto se ausentavam por algumas horas. Tomaram sua carruagem em direção ao portão sul de Brampton Fort. Foi um longo caminho até lá e assim que chegaram a mídia já os aguardava fervorosa como sempre.
- General! – eles gritavam.
Hermione diminuiu o passo sabendo que havia uma regra silenciosa entre eles e dizia respeito a sempre dar atenção para a mídia enquanto existisse a chance de manipula-la para seu lado.
- Em anos de carreira no exército nunca tomou nenhum dia da semana para seu próprio descanso, por que tem se retirado da Catedral e dos seus deveres nos finais de semana agora?
- Tenho uma família e filhos agora. – ele respondeu como se não fosse óbvio. – Filhos crescem mais rápido do que você espera que eles cresçam. Quero ter tempo para estar com eles. Não faz sentido para mim ganhar uma guerra e não ter tido tempo de qualidade com as pessoas que mais importam para mim.
- Está fazendo isso por saber que quando eles completarem um ano o mestre irá tirá-los de vocês?
- Deveriam ter mais temor pelo tipo de acusações que jogam ao público. – Draco foi inteligente, não respondendo diretamente, mas respondendo nas entrelinhas. Voldemort era uma figura temível, não amigável como vinha tentando vender agora.
- Por que estão comprando uma propriedade fora de Brampton Fort?
- Não estamos comprando uma propriedade fora de Brampton Fort. Estamos apenas escolhendo uma boa propriedade dentre as que já são patrimônio da família, para podermos ocupar durante finais de semana. O mundo fora das muralhas esta muito mais estável agora.
- Apenas queremos um lugar onde o inverno não é tão rigoroso. – Hermione interveio. – Queremos poder ver Hera e Scorpius ter um livre espaço para correrem, com um lago grande para mergulharem e natureza para explorarem enquanto crescem. Um lugar descontraído onde possamos estar como família.
- Isso significa que os rumores de que o mestre quer suas crianças não passam de menti...
- Tenham um bom dia! – Draco os cortou e se apressou com Hermione ignorando todo o resto de perguntas que foram gritadas para eles.
O pequeno grupo que os acompanharia já estavam os esperando para pegarem a chave de portal para o tão esperado destino. O corretor contratado para estudar as propriedades da família Malfoy estava animado para recebe-los e rapidamente tentou jogar várias ideias para mudanças de plano, fazendo rápidas apresentações de novas casas e pequenos castelos que se encaixavam nas exigências que tinham.
Hermione foi quem o cortou. Não foi grossa. Foi educada, porém direta. Não tinha todo tempo do mundo gastar vendo casas o dia inteiro. Iriam seguir com o plano original. Draco não questionou. Sabia que ele também tinha o plano de estar em casa para o fim do domingo.
Eles tomaram a primeira chave de portal. Deram em uma clareira onde uma carruagem os esperava. Entraram e seguira caminho. Hermione olhou pela janela o tempo inteiro e não demorou para ver a propriedade de longe, assim que saíram da massa densa de vegetação.
Logo a frente, no topo de uma pequena elevação, a casa se erguia muito gloriosa. Era quase o triplo do tamanho da casa que moravam em Bramton Fort. A fachada era clara, seguia um padrão do renascimento inglês, porém com grandes janelas repetidas que iam de cima abaixo da parede em vitrais claros. Havia um lado que circulava o lado leste da casa e uma densa vegetação logo ao fundo. Era perfeita. Era muito mais bonita do que as imagens que vira. Mal podia se lembrar de que perdera seu outro final de semana vendo casas escuras, enclausuradas, castelos de pedras frias e estilos góticos.
Atravessaram um enorme jardim francês para chegar na entrada principal da casa. Subiram bastantes degraus até chegarem ao pátio de acesso a varanda da frente. A gigantesca e pesada porta dupla foi aberta e Hermione foi a primeira a entrar, fazendo o salto de seu sapato ecoar pelo vazio do enorme foyer de entrada da casa. Parou e a admirou. Admirou o enorme lustre no teto, o ouro do corrimão da escada que ela conseguia ver de longe por uma porta aberta, o piso quadriculado e monocromático sob seus pés, as paredes bem trabalhadas...
A luz era pura que entrava pelas enormes janelas. Era lindo. Ela não sabia como conseguiria viver ali, como decoraria, como encontraria um bom lugar para os móveis, mas ela já sentiu que aquele era o lugar certo, o lugar que queria, exatamente como queria, naquele mesmo momento. Era tudo que ela queria.
O corretor começou em sua voz enjoativa a explicar tudo que ela já sabia, já havia lido e estudado sobre a casa desde que vira a imagem. Duvidava que aquela casa seria apresentada a eles se ela não tivesse mostrado as imagens que encontrara por si só.
Ele começou a contar a história da construção, dos antigos casais Malfoys que já haviam habitado. Hermione tentou aguentar por um tempo, tornando a andar determinada e em uma postura perfeita e bem avaliativa pelo local. Parou perto de um móvel descoberto. Passou o dedo e viu o tanto de poeira acumulado.
- Será que eu e meu marido podíamos ter um tempo para explorarmos a casa por nós mesmos? – ela finalmente cortou o homem.
Sentiu-se mal quando ele foi extremamente educado e recuou dando espaço para Draco e ela.
- Sei que quer essa casa. – Draco apressou-se assim que se viram só.
Ela sorriu.
- Como pode ter tanta certeza? – questionou ela.
- Tenho certeza dos olhares que lançava para as casas que vimos semana passada. Esse olhar é novo e ele não parece passar perto de nenhuma condenação. – justificou ele.
Hermione riu.
- Eu realmente gostei. – olhou para ele. – Tem luz, os fundos é enorme, tem um lado confiável, uma floresta não tão densa logo atrás. Hera e Scorpius teriam a chance de uma infância divertida aqui, Draco.
- Você não acha que é muito grande? – perguntou ele.
- Boa sorte tentando encontrar uma propriedade da sua família que seja pequena. – jogou ela. Ele riu.
Eles exploraram o restante dos cômodos, subiram as escadas, deram ideias um para o outro, vira a extensão do lago pelo andar de cima, escolheram qual ala seria a melhor para o quarto deles, até que encontraram o quarto perfeito. Grande e na ala leste. A maior ala. Dava exatamente para o lago, as janelas eram altas e repetidas e cobriam quase todas as paredes.
- Nós teríamos o por do sol sempre. – ela comentou animada e maravilhada. – E os pássaros. – comentou quando prestou atenção no coral de pássaros do lado de fora.
Draco foi até ela e a abraçou.
- Se quiser essa casa apenas fale que a quer, que não quer ver outra, que está bem encantada por essa.
Ela suspirou.
- Quero essa. – disse - Você quer essa?
- Quero a casa que você quiser. – ele pressionou os lábios contra o ouvido dela. – Quero estar onde você estiver, morar onde você quiser morar.
Ela sentiu os lábios esticarem em um sorriso muito terapêutico. Passou os braços pelo pescoço dele e encostou a cabeça em seu ombro.
- Eu consigo vê-los correr do lado de fora. Consigo vê-los com três anos, com cinco, com dez... Consigo nos ver nesse quarto, consigo nos ver na sala de jantar, na cozinha, nos escritórios. Consigo nos ver aqui. – ela cochichou para ele.
- Então estamos na casa certa. – concluiu ele. – Tem certeza de que pode fazer com que Voldemort não consiga entrar aqui?
Ela ergueu a cabeça e o encarou. Tocou seu rosto.
- Posso fazer desse lugar uma fortaleza se tiver certeza de que consegue um exército?
- Posso ter a certeza de que muitos Comensais do meu exército sequer hesitariam se eu apenas jogasse a ideia. - Hermione assentiu. Ficou na ponta dos pés e selou seus lábios no do marido. – Precisamos ser rápidos, Hermione. Nosso tempo em Brampton Fort está contado. As suspeitas estão ficando cada vez mais visíveis. Temos gente demais do nosso lado. Nós estamos deixando de ser aliados e estamos nos tornando ameaça a cada dia que passa. Voldemort está vendo que eu não tenho feito nada para acabar com os comentários e com a ideia de que ele quer destruir nossa família. As pessoas estão se dividindo e ele está percebendo que isso tem atrapalhado a nova campanha de ditador perfeito que ele tem tentado vender.
Ela assentiu.
- Preciso ver Harry. Hoje.
Draco parou por um segundo não entendendo a associação tão inesperada.
- Potter?
Ela assentiu.
- A hora está chegando Draco. Não vamos poder segurar isso por muito mais tempo.
Draco ficou em silêncio por um bom tempo antes de assentir concordando.
- Vou comunica-lo.
Harry Potter tinha uma profecia a cumprir e ele nunca estivera tão perto de seu destino.
Comentários (3)
História envolvente....esperando ansiosamente o proximo capítulo.
2016-04-03Gente eu epserei tanto pelo capitulo, finalmente vão agir, ja esta mais que na hora de salver nosso gemeos lindos.por favor não demora mais tanto assim, e claro que eu sei que o tempo e curto e tudo mais, mas por favor tenha piedade dos seus pobres leitores...bjuss
2016-04-01CARACA!!!!!! Valeu cada segundo da espera. Percebi, ao terminar de ler o capítulo, que estava segurando a respiração... Uau!!!
2016-03-19