Capítulo 20
20. Capítulo 20
Rony Weasley
Luna Lovegood abriu uma caixa de alumínio com muito cuidado. Uma fumaça gelada saiu dali de dentro enquanto ela retirava um frasco de vidro preenchido com um líquido vermelho vivo.
- É o sangue dela. – disse Luna entregando o frasco a Neville. – Só tenho cinco amostras aqui dentro então é melhor que seja cuidadoso.
- Creio que será o suficiente. – Neville analisou o frasco lançando a Rony um olhar incerto. Rony sabia que não era suficiente. (Sugestão: que ele estava mentindo.)
- Hermione não pôde fazer muita coisa nem avançar muito nos estudos, porque não queria que ninguém soubesse que ela estava mexendo com essas coisas. Ela não tinha o material necessário e mesmo tentando ser discreta para adquiri-los era um risco. – informou Luna.
- Bem, - Gina se pronunciou – eu imagino o quanto isso deve ter sido devastador para ela. - O tom de Gina (sugestão: da mulher, da menina) era sempre aquele seco quando se referia a Hermione. Rony lançou para a irmã um olhar de reprovação. – O que foi? – ela retrucou e percebeu que os outros também a olhavam apreensivos. – Vocês sabem que ela adora desvendar um mistério!
Rony revirou os olhos e Neville limpou a garganta para perguntar:
- Ela quer que eu faça alguma coisa específica? Quero dizer... Sou bom com Herbologia e entendo bem de Poções por causa disso, mas não sou nenhum pesquisador ou especialista como Hermione.
- Ela anotou tudo nesses pergaminhos. – Luna entregou um rolo para ele. – A marca libera algum tipo de toxina que deixa o sangue dela envenenado. Esse veneno faz a ponte de ligação entre ela e Voldemort. Ela conseguiu encontrar a fonte da ligação. Está em um desses cálculos. Gina é boa com cálculos. O que ela quer é que tentem encontrar uma erva, raiz ou qualquer coisa que reaja contra o veneno anulando a ponte de ligação ou pelo menos deixando-a fraca. Hermione anotou alguma opções que talvez possam ajudar, mas ela não teve como fazer os testes e também disse que essa pode não ser a única maneira de interferir nessa ponte.
- Me parece que ela tinha bastante tempo livre. – Gina comentou com aquele tom maldoso novamente. Rony viu Luna desviar o olhar para ela como se tentasse entender o que havia mudado desde que deixara a Ordem.
Era verdade que Gina e Hermione não se davam muito bem fazia alguns anos, mas desde que Harry poupara discrição ao deixar todo mundo saber que eles haviam tido um caso, Gina parecia estar bastante empenhada em soltar comentários venenosos sobre a antiga amiga Nascida Trouxa.
- Você não vai fazer as pessoas odiarem Hermione, Gina. – Rony disse para a irmã, um tanto quanto irritado pelo comportamento contínuo dela.
- Não é o que eu quero. – ela retrucou igualmente aborrecida pela repreensão do irmão.
- É exatamente o que parece que você quer! Mamãe já disse um milhão de vezes que soa maldoso! Além do mais, ela nunca te traiu! Nem a você, nem a mim, nem a ninguém. Harry estava livre e ela também.
- Mas ela sabia o que eu sentia! Ela sabia desde sempre! – Gina assumira sua postura irritada de vez. – Me desculpem, mas não creio que seria uma boa ideia contar comigo para esse... projeto.
- Gina! – Neville interrompeu – Sério, eu vou precisar da sua ajuda!
- Eu não quero ajudar. – ela deu as costas.
Rony a segurou pelo braço.
- Pelo amor de Merlin, Gina! Está sendo uma criança egoísta agora! Hermione está em um lugar muito ruim para você achar que tem o direito de agir assim! Essa sua teimosia não vai durar muito!
Gina soltou-se dele.
- Não me importo. Vão ter que começar sem mim. – foi seu decreto final antes de sair da sala.
Rony rosnou.
- Luna, eu não sei se vou conseguir fazer isso sozinho. – Neville comentou.
- A idéia nunca foi deixar que você trabalhasse sozinho. – Luna disse.
- Relaxa, cara. – Rony deu um tapa no braço do amigo – Eu sei que tem muita gente empenhada no véu, mas podemos dividir esses cérebros aí. Talvez uma das salas do subsolo monte um bom laboratório.
Neville não parecia muito contente com a tarefa. Ele sabia que era responsabilidade demais receber uma tarefa de Hermione sem ter a ajuda dela e encheu a boca para dizer isso, mas antes que sua voz saísse o alarme do andar de baixo tocou. Ele engoliu as palavras e soltou um palavrão.
- Estou de ronda essa semana. – disse e apressou-se pelo corredor.
Rony e Luna trocaram olhares. Ele percebeu que as mãos dela tremeram quando colocava o frasco com o sangue de Hermione novamente na caixa de onde havia tirado.
- Tudo bem, Luna. – Rony segurou sua mão. – Só mais um dos sustos semanais.
- Rony! – Neville reapareceu na porta. – Estão invadindo o bloco novamente. Precisamos de mais forças lá fora, chame o máximo de gente possível e veja se Harry está bem trancado em algum lugar. – terminou e sumiu novamente.
- Parece que esse é um daqueles sustos grandes. – comentou Luna.
- É... – Rony foi obrigado a responder enquanto tentava pensar rápido. – Vai ficar tudo bem. – pensar positivo fora uma lição que aprendera para sobreviver ao Quadribol. – Você poderia por favor se certificar de que Harry está em um lugar seguro? – Luna assentiu – E não deixei que aquela coisa de herói da história suba a cabeça dele.
- Não sei se vou ser capaz disso. – ela disse.
- Não se preocupe, Harry já superou um pouco dessa parte desde que Hermione foi capturada. – disse e se enfiou na agitação do corredor.
Harry Potter
Ela usava um giz branco para desenhar no chão de madeira velha da casa de seus pais. Traçava linhas, setas, círculos e especulava ideias com a voz doce e determinada que sempre tivera.
- Hermione. – Harry a interrompeu e ela parou. Ergueu os olhos para ele, soltou o giz e se levantou limpando as mãos no jeans.
Eles trocaram um olhar em silêncio. Depois de todos aqueles anos juntos, palavras era algo que quase nunca parecia necessário ser usado.
- Me desculpe. – ela se pronunciou. – Eu sei que esse é o seu lugar de escape, mas não consigo me conter.
Harry não queria puni-la por estar apenas sendo ela mesma.
- Eu não sei se vamos passar do dia de amanhã, Hermione. – ele se levantou do sofá e foi até ela. – Por favor, só por agora não tente ser a deusa Hera que há em você.
Hermione riu e aceitou o abraço em que ele a envolveu.
- Nós ainda podemos encontrar...
- Uma solução milagrosa? – ele a cortou encarando seus olhos dourados. Segurou seu rosto absurdamente maravilhoso banhado pela luz da lua. – Escute, Hermione. Não me importa se morrermos amanhã. Hoje à noite eu tenho você e você sabe o quanto gosto de estar aqui na sua companhia.
Ela sorriu.
- Me esforcei tanto para fazer com que você esquecesse que era o Garoto-Que-Sobreviveu aqui dentro e olhe só eu estragando tudo.
- Vou avisando que não é a primeira vez. – brincou ele.
- Hei! – ela o empurrou e eles riram.
Harry a trouxe para si novamente cercando sua cintura e beijando seu pescoço. Os cabelos dela sempre cheiravam tão bem. Ele admitia que nunca havia se dado muito bem com as mulheres. Sua fama fora algo que sempre havia ajudado, mas ele amava estar com Hermione. Era tão confortável. Não tinha medos, não ficava nervoso, não se preocupava em tomar cuidado com as palavras, em parecer idiota, em fazer alguma besteira. Ele gostava de como ela o anestesiava e o trazia paz.
- Eu quero viver o agora, como se eu fosse alguém normal, como se não houvesse guerra. Sabe que consigo fazer isso só com você. – ele selou seus lábios nos dela por um minuto demorado. – Eu não me importo que somos errados, que o que nos envolveu foram motivações erradas, que nossos laços são frágeis. Eu não me importo, Hermione. Eu nos vejo agora e aqui. Eu e você. Amanhã é incerto, o futuro é incerto, mas agora eu tenho você e eu preciso de você. – adorava se perder no olhar dela. Sondou seu rosto perfeito, deixou seus dedos percorrerem os lábios que havia aprendido a desejar. – Diga que também precisa de mim.
Ela sorriu. Um sorriso triste.
- Eu também preciso de você, Harry. – a boca dela disse, mas os olhos não. Os olhos dela nunca diziam. Ela piscou e percebeu de imediato que não soara convincente.
- O que foi? – perguntou sabendo exatamente o que ela iria começar a abordar.
Hermione se afastou. Deu as costas e encarou a rua pela janela por um momento.
- Sua honestidade soa romântica. – ela lhe lançou um olhar sorrindo e voltou-se novamente para a janela. – Mas nós existimos apenas aqui, Harry. Nessas condições. – voltou-se para ele – Se há um futuro para todos nós, ele apenas existe com o fim da guerra. Consegue nos ver juntos sem a guerra? A guerra é o que nos une, Harry. Se um dia ela acabasse eu não seria mais sua paz, não seria mais seu escape. Nem você o meu.
Ela era Hermione Granger, nunca tiraria o pé do chão por mais maravilhosa que fosse a ilusão.
- Essa pode ser a última noite que vamos ter juntos e é isso que está escolhendo me dizer?
O olhar dela se contraiu num triste reconhecendo o segundo deslize daquela noite. Aproximou-se dele num passo só e tocou seu rosto.
- Me desculpe, Harry. – ela parecia mesmo arrependida – Me desculpe, as vezes eu penso demais algumas coisas mesmo quando não deveria. – ficou na ponta dos pés e selou seus lábios nos dele por um segundo – Eu te amo. É isso que escolho dizer. Te amo. Sabe que eu amo. Eu faria qualquer coisa para colocar um sorriso nesse seu rosto, para te livrar desse fardo, para te ver livre, livre para... – ele a calou cercando sua cintura, colando seu corpo no dela e a beijando.
**
O silêncio vez ou outra era preenchido pelo gritos de ordem no andar de cima. Sapatos pisando forte no piso de madeira chegava até seus ouvidos como um sinal de que as coisas não pareciam muito fáceis de lidar do lado de fora da Ordem naquele momento. Invasões no bloco Grimmaud era sempre algo inesperado, mas eles conseguiam controlar a situação todas as vezes.
Os olhos azuis de Luna estavam paralisados sobre ele. Ela o olhava com curiosidade, como se não o reconhecesse e ele continuava ali sentado em uma pequena arquibancada encostada no fim da parede com os cotovelos apoiados nos joelhos para poder encarar o chão, e não os olhos dela.
- Ela me disse que costumava conversar com você sobre nós. – ele finalmente disse esperando fazer os olhos dela calarem as perguntas que faziam em silêncio.
- Quem? – Luna pareceu confusa não entendendo do que ele estava falando. Claro, ela estava em outra sintonia.
- Hermione. – ele respondeu.
- Ah, sim. – ela pareceu se lembrar. – Sim, ela falava bastante sobre vocês dois. Já que não tinha mais Gina, eu fui o que restou.
Harry nunca esperara que Luna Lovegood pudesse ter receios, mas desde que ela perdera seu pai muito dela havia mudado.
- Você acha que ela me amou? – ele perguntou.
- Ela não está morta, Harry.
- Realmente acredita que vamos um dia ficar juntos novamente, Luna? – ele começou – Foi você quem disse que Voldemort fez dela uma comensal. Ela jamais poderá sair do lado dele. Eu teria que ir até ela e ir até ela é ir atrás de Voldemort! Eu não estou pronto para ele! Morreria para vê-la.
- Valeria a pena? – ela perguntou.
Harry já havia pensado naquilo dezena de vezes.
- Claro. – respondeu desviando o olhar.
- Está sendo dramático. – ela disse e ele teve raiva a encarando como se ela não soubesse do que estava falando.
- Não deveria falar assim do que não sabe, Luna!
- Eu sei de vocês há bastante tempo! Sério, Harry! Olhe para você mesmo! O que acha que estaria fazendo se isso fosse há um ano atrás? Era preciso uma equipe inteira para te manter preso no subsolo quando a Ordem sofria ataques e você ainda encontrava uma forma de escapar. Eu estou sozinha com você agora e nem tranquei a porta! Está sendo estúpido, ok?! Talvez ela tenha te amado, talvez ela te ame, talvez tudo que ela fez não passou de uma forma para te ver feliz no meio de toda essa confusão. Isso não importa! Você tem uma profecia para cumprir, Harry. Cada um de nós devemos aprender a lidar com nosso fardo da melhor forma possível. Alguns tem fardos piores do que os outros, mas não vá se entregar só porque não vê mais esperança e porque não tem mais a mulher que o faria esquecer que não vê mais esperanças por uma noite.
- Eu vejo esperança. – ele retrucou – Temos o véu. – ele apontou para o véu posto no centro da sala onde estavam - Hermione se sacrificou por ele. Conseguimos coisas incríveis com ele, recrutamos Dementadores, conseguimos persuadir novos recrutas de Voldemort para o nosso lado, Conseguimos recuperar o domínio de vilas bruxas que havíamos perdido, conseguimos vencer batalhas importantes que jamais conseguiríamos, mas eu não consigo fazer parte disso! Não posso! Se me perguntar como conseguimos isso eu não saberia dizer. Tudo isso era projeto dela e eu não consigo fazer parte porque cada reunião, cada discussão, cada estudo, cada planejamento, eles dizem o nome dela como se não se lembrassem quem ela realmente era.
Soltou o ar e passou as mãos pelos cabelos. Luna ficou o encarando por um bom tempo. Ele preferia receber os olhares de condenação a ter que falar sobre tudo que sentia. Era acostumado com olhares de condenação desde Hogwarts.
- Você não a merece. – ela disse e ele se surpreendeu com o que escutou.
Franziu o cenho e ajeitou a postura.
- O que quer dizer? – devia ter escutado errado.
- Você não a merece. – ela repetiu com ênfase enquanto se aproximava – Eu sei que sua vida não tem sido muito fácil desde sempre, Harry, mas Hermione também está vivendo bem longe de um mar de rosas em Brampton Fort e tem vivido bem longe de um também desde que te conheceu. Mesmo assim ela está trabalhando duro para se manter na guerra e te ajudar. Ela conseguiu que eu trouxesse todas essas informações, estudou muito para adiantar o máximo possível e tenho certeza que agora está trabalhando para tentar encontrar uma nova forma de trazer mais informações para nós. – ela puxou o ar – Ela está sendo engolida pelo sistema daquela cidade todos os dias, mas tem permanecido do nosso lado e trabalhando debaixo de todas as ameaças e perigos daquele lugar! E você, Harry? Eu tenho certeza que se realmente a quisesse. Se a quisesse de verdade. Se tudo que te importasse mesmo fosse ela, você estaria agora lutando essa guerra como nunca lutou antes. Se preparando para Voldemort como nunca se preparou antes. Tomando a frente e assumindo o lugar que deve assumir para enfrentar sua profecia, dar um fim em Voldemort e livrá-la da marca que a aprisiona. Assim você a teria de volta. Mas não é isso que estou vendo, portanto não a merece porque enquanto ela está do outro lado da guerra lutando por você, você está aqui desse lado, falando dela como se ela estivesse morta e como já tivesse sido derrotado por...
- EU TENTEI, LUNA! – ele a cortou não aguentando a acusação. – Eu tentei ir atrás dela. Fui culpado pelo extermínio de quase metade da Ordem nas missões suicidas que comandei! Acredite, eu estou aqui porque sei que se me levantasse para fazer algo, estragaria tudo!
Luna soltou o ar, um tanto indignada.
- Depois de todos esses anos você ainda não aprendeu que agir por impulso sempre te leva por esse caminho, Harry?
Ele sempre havia achado calma na voz sonhadora de Luna, por mais indignada que ela soasse.
- É involuntário... – sussurrou encarando os próprios pés. – Estou perdido e ela era quem conseguia me colocar em ordem sempre que isso acontecia.
- Bem, é hora de ver se ela te ensinou bem. Se consegue se pôr em ordem por você mesmo agora, certo? – ela colocou a mão em seu ombro. – Precisa ser inteligente. Hermione era a alma da Ordem e continua sendo. Ela nos deu trabalho o suficiente me trazendo de volta para cá. Você não precisa ser Harry Potter. Apenas faça o que ela pediu para fazermos.
Ele considerou. Havia seguido por muitos caminhos desde que levaram Hermione e nenhum deles deu muito certo.
- Você é uma boa amiga, Luna. – ele comentou e a encarou. Era uma pena que ninguém quase nunca prestasse atenção nela.
- Sei que sou. – ela respondeu com um sorriso, mas havia ressentimento ali.
Hermione Malfoy
Arranhava com pressa a pena contra o pergaminho. A ordem das palavras em sua mente corria mais rápido do que podia escrever e muitas vezes perdia a linha de raciocínio e tinha que voltar para reler o último parágrafo enquanto esperava que as palavras perdidas voltassem.
- Não acredito que ainda não está pronta. – Draco anunciou irrompendo para dentro do quarto.
- Shiii! – pediu ela concentrada em ser pergaminho.
- Estamos atrasados, Hermione! – disse enquanto desfazia o nó da gravata.
- Não estamos. – ela retrucou ainda arranhando a pena no pergaminho. – Você é quem está sempre preocupado em ser pontual. – se levantou enquanto ainda lia os últimos parágrafos. – Poderia fechar meu vestido, por favor?
Ele soltou o ar impaciente largando o cinto que desatava para adiantar seu serviço. Hermione sentiu as mãos dele pousarem em seu quadril e por um segundo se desconcentrou na palavra que estava lendo. Ele a ajeitou e subiu o zíper, ela moveu o corpo para ajustar o vestido sem precisar usar as mãos e moveu-se em direção ao closet ainda sem tirar os olhos do pergaminho.
- O que é isso? – Draco perguntou entretido em sua troca de roupa.
- Eu continuo gerenciando as Casas de Justiça e Theodoro está um pouco perdido tentando colocar as coisas em ordem enquanto não posso fazer minhas visitas diárias. – respondeu ela parando um pouco sua leitura para escolher algum sapato que combinasse com o azul de seu vestido.
- Cartas para Theodoro? – foi mais um comentário para si mesmo. Ele a olhou pelo espelho quando ela pegou um par de sapatos e deixou o closet parando apenas para enfiar algum tipo de torrada que havia sobre sua mesa de joias. – Será que você poderia parar de comer por um segundo, Hermione? Tem comida em cada esquina dessa casa!
Hermione reapareceu na porta do closet segurando o pergaminho e um par do sapato em uma mão e tentado colocar o outro no pé.
- Meu corpo está criando uma pessoa, Draco! Será que dava para você tentar imaginar quanta energia isso me custa? – ela se ajeitou para colocar o outro par no pé que faltava enquanto ele vestia a calça do terno que iria usar. – Preciso de uma coruja.
- Compre uma. – ele retrucou sem dar muita atenção a ela. – Você tem todo o dinheiro da minha conta bancária.
- Há três corujas nessa casa, não precisamos de outra. O problema é que nenhum delas está disponível no momento. – e ela não usava o dinheiro dele nem que sua vida dependesse disso. Trabalhava e ganhava o suficiente para manter o padrão do luxo que lhe era exigido.
- Isso porque elas são minhas corujas e eu as uso para o trabalho que faço. Não usará nada meu para o seu trabalho, principalmente para mandar cartinhas para Theodoro.
Ela revirou os olhos.
- Sério, você precisava ter tido um irmão para aprender a dividir suas coisas.
Ele teve que rir com o comentário e Hermione apenas maneou a cabeça e deu as costas voltando para o quarto. Chamou por Tryn e pediu que a elfa encontrasse um modo de fazer com que aquele pergaminho chegasse as mãos de Theodoro o mais rápido possível.
Recolheu todo o trabalho que havia movido da biblioteca e da Casa de Poções para o quarto quando o horário começara a ficar apertado no fim do dia antes que Draco reclamasse da bagunça. Checou seu cabelo e sua maquiagem no espelho quando Draco saiu impecável de dentro do closet.
- Nossa carruagem está pronta? – ele perguntou enquanto fechava os botões dos pulsos.
- Não sei, foi você quem acabou de descer de uma, não foi? – ele havia deixado Brampton Fort pela manhã e só havia voltado agora.
Draco soltou a ar impaciente e chamou por Tryn que acabou tendo a ordem de Hermione adiada para cumprir a dele.
- Você está pronta? – ele perguntou vestindo o terno
Ela terminava de ajeitar seu penteado. Mostrou as mãos nuas para ele e disse:
- Joias. – era o que faltava. Entrou novamente para o closet, sentou-se em sua mesa e começou a colocar os itens que já havia separado parando apenas para enfiar mais algumas torradas na boca.
Olhou pelo espelho o reflexo de Draco quando ele apareceu logo atrás. Estava pronta para informar que não demoraria mais nenhum segundo quando ele colocou na mesa de frente para ela uma caixa de couro lisa com um alto relevo que a espantou. Ela conhecia aquela marca de todo o estudo com Narcisa sobre como ser rica e derivados.
- Guarde. – ordenou ele.
Ela quase nem o escutou, puxou a caixa para si e abriu. O colar era fios de prata que se entrelaçavam fazendo surgir pedras vermelhas entre os espaços que se estreitavam a media que faziam o desenho do pescoço. Era a pedra da Família. Hermione não conseguia nem ter ideia do quanto aquilo havia sido caro. Ele não havia comprado aquilo em nenhum lugar em Brampton Fort.
- Pensei que o aniversário fosse seu. – ela comentou passando o dedo sobre o objeto que parecia até mesmo irreal tamanha a perfeição. – Devo me culpar por não ter escolhido nada para você?
- Meu aniversário já passou e não gosto de presentes. – o tom dele deu a entender que o presente que ela recebia não era exatamente para agradá-la. – Logo o Lorde irá permitir que as pessoas saibam que está grávida, portanto quero que use isso.
- Assim elas pensarão que você mal pode se aguentar de tanta felicidade e me deu um presente como esse logo que soube da notícia. – ela fechou a caixa e o encarou pelo espelho. Não havia nenhuma expressão em seu rosto como sempre, mas o olhar mostrava que ele não havia ficado contente com o tom irônico que ela usou. – O que nós dois sabemos que não é verdade. – ela concluiu.
- Apenas guarde, Hermione. – foi o que ele respondeu, deu as costas e sumiu.
Hermione puxou e soltou o ar. Guardou seu caro presente e se levantou para alcançá-lo a porta do quarto. Desceram juntos, cruzaram a sala principal, saíram para o lado de fora e foi exatamente quando desciam as escadas da varanda principal que ela avistou uma ave escura pela noite descer numa velocidade que a alertou.
Draco parou assim que a ave pousou num dos braços da carruagem. O animal era completamente reconhecível. Negro, grande, olhos vivos e vermelhos. Era a coruja de Voldemort.
- Mandar uma coruja parece bastante civilizado da parte do Mestre. – comentou Hermione.
Draco não disse nada, apenas avançou e pegou o pergaminho que o animal carregava. Ele logo voou e foi embora fazendo saber que Voldemort não esperava resposta. Levou alguns poucos segundos até que Draco terminasse de ler.
- É para nós. – ele comentou e estendeu o pergaminho para ela.
- Nós? – estranhou.
- Sim, Hermione. Eu e você. – ele pareceu irritado com a demora dela em pegar o papel. Ela o pegou receosa e leu. Era uma intimação para o almoço do dia seguinte no salão de jantar do ciclo interno. Leu e releu diversas vezes. De algum modo seu cérebro parecia querer procurar por algum erro ali naquelas linhas. – Hermione! – ele exclamou seu nome e quando ela ergueu os olhos ele já estava dentro da carruagem. – Precisamos chegar lá ainda hoje.
Ela entrou, fechou a porta e Draco bateu na cabine. Em menos de um minuto já estavam avançando pelas ruas estreitas da Vila dos Comensais. Hermione observou bem Draco enquanto o silêncio se assentava entre eles como sempre. Ela queria um vacilo da expressão crua que ele usava com frequência.
- Nós vamos? – ela perguntou.
- Claro que vamos. – ele respondeu sem olhá-la.
Ela já sabia aquela resposta. Havia sido uma pergunta estúpida e ele respondera de modo estúpido por justa causa, mas queria ter a miserável esperança de que ele dissesse que não era necessário ou obrigatório que realmente fossem.
- Devo me preocupar? – dessa vez tratou de fazer uma pergunta que não fosse estúpida o que fez ele desviar o olhar da janela para ela.
Ele a encarou por alguns segundos como se estivesse pensando em uma resposta.
- Talvez fosse bom que não pensasse muito sobre isso. – ele se decidiu por responder e tornou a se focar na janela.
Hermione ainda o encarou por alguns minutos e percebeu que talvez ele também estivesse se perguntando a mesma coisa e que a resposta dele fora a melhor tanto para ele quanto para ela. Eles nem ao menos sabiam se seria um encontro privado ou coletivo.
Desviou o olhar e deixou o pergaminho de lado. Torceu para que fosse apenas mais um daqueles encontros coletivos tediosos num horário incomum. Tocou a própria barriga quando a vida lá dentro lhe cutucou. Olhou o volume sobre o tecido fino de seu vestido e deslizou sua mão por ele. Se sentia bem mais grávida nesse segundo trimestre. Começava a sentir que sua pressão caía com facilidade por pouca coisa, se cansava com mais rapidez e os hormônios queriam consumi-la alguns dias. Não se sentia inchada, não tinha muita fome, mas sentia vontade de comer algo sempre com muita frequência. Enjôos haviam ficado para trás embora alguns cheiros a incomodasse e sua barriga crescia em cada noite o dobro do que já havia crescido até ali. Ela tinha sonhos estranhos com cores que mexiam com sensações de emoção. Tudo aquilo para ela era absurdamente novo, queria alguém para compartilhar aquela experiência, queria ouvir se outras mulheres haviam passado pela mesma coisa, queria ter seus amigos podendo paparicá-la e às vezes tudo que tinha era Narcisa Malfoy que nem sempre era alguém acessível.
Levantou os olhos e encontrou Draco a encarando. Era quase difícil acreditar às vezes quando se lembrava de que a primeira experiência que estava tendo de uma gravidez era com o filho do homem sentado a sua frente. Nunca em sua vida inteira ela imaginara que seria justamente com ele, o menino loiro insuportável de Hogwarts. Havia acreditado, quando estava na Ordem, que o momento em que Draco Malfoy apontasse a varinha para ela durante alguma batalha, esse seria o momento de sua morte.
- Eu o sinto com mais frequência agora. – ela comentou deixando sua mão fazer o caminho de sua barriga novamente. Sabia mais coisas também, mas obviamente que Draco não estaria interessado em ouvir.
- O que mais? – ele perguntou e embora que tivesse sido em um tom até desinteressado ela se surpreendeu.
Puxou o ar e se ajeitou sentindo uma pequena pontada de alegria vinda do além.
- Acredito que ele possa sentir e ouvir coisas agora. – disse – Li em um livro.
- Não deveria fazer isso. – ele comentou. Ela sabia que não, não deveria se apegar.
- Sei disso. – respondeu. Puxou o ar e desviou o olhar – É apenas ruim demais viver sem respostas para aquilo que mais tem me importado no momento.
Hermione esperou que ele fosse dizer que o que fazia era errado. Que se importar com algo que não seria seu era no mínimo o que Voldemort queria que acontecesse. Mas ele não disse nada. Ele sempre dizia, mas se manteve calado. Olhou-o, e ele a olhava de volta. Havia algo ali e ela não conseguiu captar.
Pararam de frente a enorme mansão de Lucio e Narcisa. Hermione achava a casa de Draco grande, mas todas as vezes que ia até ali entendia o porquê de Voldemort havia uma vez sugerido que ele conseguisse uma casa nova antes de se casar.
- Nós não temos a intenção de ficar por muito tempo. Entendido? – ele cochichou para ela assim que passaram para o lado de dentro do hall bem iluminado.
Hermione apenas assentiu. Draco não tinha o menor interesse de estar ali, principalmente porque a família inteira estaria junta e se havia algo que Hermione entendera sobre Draco durante todo o tempo que estavam juntos era que família era sinônimo de desgosto para ele.
Assim que foram acomodados na sala principal Narcisa surgiu com um sorriso bonito de se olhar. Era tão caloroso para o padrão de frieza ao qual havia se acostumado que Hermione sentiu a necessidade de retrucar tentando abrir seu próprio sorriso com dificuldade. Não era como ser recebida por Molly Weasley. Não teria abraços, beijos, apertos de bochecha nem elogios de como havia crescido e estava linda, mas era o mais próximo que receberia disso. O sorriso de Narcisa. Ela estava feliz, afinal família para ela, por mais destruída que estivesse, não passava perto do desgosto de Draco.
- Vejam só quem está aqui. – ela se deixou ser ouvida.
A princípio Hermione pensou que ela estivesse se referindo a presença deles, mas então ninguém menos que Pansy Parkinson surgiu logo atrás andando em seu gingado único com sua roupa sempre marcante. Hermione deixou morrer o sorriso que com tanta dificuldade conseguira puxar num segundo.
- Já estou de saída. – ela mostrou as mãos em sinal de paz. – Não vim estragar a festinha de vocês. Vim mais cedo conversar com Narcisa e acabamos perdendo a hora. – ela sorria para Narcisa e Draco ignorando a presença de Hermione. – Estava apenas esperando a carruagem da Catedral. – parou bem a frente de Draco em sua melhor pose e lançou a ele um olhar muito significativo. – Alguém ainda não foi buscar o presente de aniversário. – o tom foi sedutor e Hermione se viu puxando o próprio ar. Era claro qual o presente que ele ainda não havia ido buscar.
- Pansy. – Narcisa pigarreou e Hermione quase pôde escutar a conclusão pedindo para que ela tivesse um pouco mais de respeito.
Draco cruzou os braços sem desviar o olhar de Pansy que havia ignorado o chamado de Narcisa. Ele sorriu. Hermione sentiu uma agonia lhe crescer e se conteve para não abrir a boca.
- Se está tentando fazer Hermione ter ciúmes com esse comentário está perdendo seu tempo, Pansy. Conhece o tipo de relação que temos. Tente atingi-la de outra forma.
- O comentário foi para você. – ela disse a ele e direcionou o olhar para Hermione parando alguns segundos em sua barriga visível. – E eu não sei mais que tipo de relação vocês dois tem. – lançou um último olhar desgostoso para ele e deu as costas. – É sempre um prazer, Cissa. – ela se despediu – Sei o caminho da porta.
- Volte mais vezes, querida. – Narcisa usou de um tom extremamente educado.
Hermione observou os cabelos longos e negros de Pansy arrastarem de um lado para o outro em sua lombar enquanto se retirava da sala.
- O que ela queria aqui? – Draco logo perguntou num tom baixo para a mãe.
- Ver Hermione. Essa é minha maior aposta. Pansy sabia sobre seu jantar de aniversário hoje. – respondeu Narcisa dando a volta para se aproximar de Hermione. – Desde que Hermione se afastou da Catedral os rumores sobre uma possível gravidez tem aumentado cada vez mais. O Diário do Imperador mencionou mais uma vez a ideia e isso tem levantado a curiosidade de muita gente. – ela direcionou o olhar para Hermione. – Como se sente?
Hermione puxou o ar hesitando no que responder.
- Bem. – optou por ser objetiva.
- E quanto ao meu neto?
Aquela era uma pergunta ainda mais difícil de se responder.
- Eu também gostaria de saber sobre ele. – foi o que ela disse.
O olhar dela se compadeceu sobre Hermione. Narcisa se aproximou e tocou seu braço.
- Está ansiosa para ver o rostinho dele? – ela usou um tom muito amigável e Hermione quase sentiu como se estivesse tendo a gestação de qualquer mulher normal.
Mas a verdade era que não estava e pensar no rostinho de seu filho fez com que suas vistas embaçassem e ela tivesse que engolir o nó em sua garganta. Queria poder desejar ver o rostinho de seu bebê, mas tudo que ela desejava era que ele continuasse ali dentro dela, seguro e saudável. Pelo menos ali ele era dela e ninguém lhe poderia tirar.
Desviou os olhos para Draco que a encarava sentado de uma poltrona por um segundo, abaixou os olhos para a própria barriga e a tocou. Forçou um sorriso, limpou a garganta e assentiu com a cabeça.
- Talvez sim. – respondeu baixo.
- Bom. – Narcisa disse, a olhou por uns segundos e se afastou. Havia algo ali.
- Onde está meu pai? – Draco se manifestou.
- A caminho. – ela respondeu. – Acredito eu. – acrescentou. – Conhece seu pai, Draco. – ela tratou de dizer ao ver a expressão insatisfeita dele. – Fiz seu prato favorito. – desviou o assunto.
- Você fez? – ele ergueu uma das sobrancelhas desconfiado.
Ela rolou os olhos e sorriu.
- Eu dei uma ajudinha.
- Dando ordens?
- Agora você está sendo maldoso. – ela apontou o dedo para ele que riu.
- Hermione sabe cozinhar. – Draco comentou pegando-a de surpresa. – Deveria pegar algumas dicas com ela.
Narcisa desviou um olhar curioso para Hermione.
- Sabe cozinhar? – ela parecia um tanto surpresa.
- Um pouco. – Hermione respondeu e o viu revirar os olhos. Draco condenava a modéstia. – E como você sabe disso? – ela se dirigiu a ele. – sempre se surpreendia com o Draco que ele podia ser perto da mãe.
Ele se ajeitou em sua poltrona de um modo muito confortável.
- Existem três lugares prováveis de te encontrar em casa, Hermione: O sótão, a biblioteca e a cozinha. – ele estava tão certo sobre aquilo, ela até gostaria de ir mais vezes ao jardim, que era absolutamente maravilhoso, porém o estado do céu sempre a desanimava. – E não pense você que não sei quando cozinhou para o jantar.
Foi a vez de Hermione erguer as sobrancelhas. Observou quando Narcisa sentou no braço da poltrona de Draco e passou o braço ao redor de seu ombro. Os dois pareciam relaxados e a olhavam descontraídos.
- Por que não disse que sabia que eu havia feito a comida? – ela se sentiu mais confortável com o ambiente.
Ele deu de ombros.
- Havia necessidade?
- Iria gostar de saber se havia gostado.
Um sorriso dele foi contido. Ele piscou com calma e disse:
- Eu gostei. – findou. – Pode cozinhar o jantar quantas vezes preferir por mim. – mostrou as mãos.
Narcisa riu.
- Ele está me alfinetando, Hermione. – ela interferiu com um sorriso. – Draco sabe que eu ficaria enfurecida se a impressa soubesse que um Malfoy se aventura pelos cômodos dos empregados da casa porque não consegue largar a velha vida plebéia que tinha. – ela dizia aquilo sem ao menos saber que a ofendia. Hermione sabia que não era a intenção dela. Ela havia sido criada em outro mundo. – De qualquer modo, Draco pareceu ter gostado e não vou me opor ao fato de que isso me instigou curiosidade. Adoraria experimentar qualquer coisa feita por você porque sei o quanto é difícil agradar esse garoto. – ela puxou a orelha de Draco num ato tão maternal que infantilizou todo o aspecto masculino do homem na poltrona. Hermione teve que sorrir diante daquela cena e bem ao contrário do que ela esperava, ele não a afastou nem se irritou com o tratamento, ele parecia muito confortável e bastante distraído. – Me diga Draco, o que ela cozinha que mais gosta?
- Ela sabe fazer peixe muito bem. – comentou ele erguendo as sobrancelhas para sua mãe. Eles pareciam muito interessados naquilo, como se fosse algo tão incomum para a realidade que viviam que era como se estivessem discutindo alguma habilidade exótica que Hermione possuía. – O que foi aquilo que fez há umas duas semanas atrás? Você faz com frequência. É como se fosse um prato adicional.
- Espinafre? – não tinha certeza se era daquilo que ele estava se referindo.
- Sim. – ele concordou. – É bom. – informou a sua mãe. – As sopas também são muito boas.
- Ora se isso não é bastante interessante. – comentou Narcisa realmente impressionada. Ela se aproximou de Hermione. – Me deixe ver suas mãos, espero que elas não estejam comprometidas devido a esse trabalho. – ela analisou as mãos de Hermione que simplesmente deixou. A mulher tinha suas crenças e Hermione não perderia seu tempo convencendo-a de que cozinhar não era um trabalho escravo. – Tem certeza de que isso lhe serve de entretenimento?
- É um bom passatempo. – Hermione sorriu. – É como fazer poções.
- Ah, sim. Você adora poções. – ela sorriu de volta – Que elfo lhe ensinou essa tarefa? – Hermione podia perceber pelo tom dela de que era absolutamente incomum aceitar que ela talvez tivesse se sujeitado a adquirir experiências de Elfos Domésticos.
- Nenhum. – respondeu Hermione. – Minha mãe me incentivou bastante em casa, por isso me dei bem com poções quando entrei em Hogwarts. Molly Weasley foi quem mais me ensinou.
O sorriso de Narcisa amarelou e Draco prendeu um riso.
- É, ela tinha que cozinhar para muita gente. Precisava mesmo de uma ajuda. – comentou Draco e aquilo sim havia soado ofensivo. Hermione sabia que ele se referia a quantidade de filhos da Sra. Weasley como um exagero proveniente de sua classe social. Hermione se lembrou porque Draco Malfoy era odiável. – Você é mesmo bem estranha, Hermione. – ele se levantou. – Bem diferente.
- Todos sorrindo? – a voz de Lucio soou alto assim que ele passou para o lado de dentro da sala. – Será que finalmente tenho uma família feliz? – ele parou e encarou Hermione – Não, você não está sorrindo. – ele sorriu – Mas todo nós sabemos que faz todo o sentido nunca sorrir, primavera. – piscou para ela. – Como está meu aniversariante? – Lúcio abriu os braços para o filho.
Hermione observou o comportamento de Draco mudar em segundos. Ele logo se vestiu de sua figura mais comum. Sério, frio, calculista. O Draco de segundos atrás virou quase uma figura de algum delírio seu.
- Você está atrasado. – Draco o olhou com uma seriedade profunda.
- Estive ocupado.
- Me ensinou a nunca estar atrasado. – sempre havia rancor em seu tom quando se dirigia ao pai.
- Faça o que eu digo e não o que eu faço, certo? – bateu no ombro do filho e riu. Draco se esquivou para longe. – Parabéns atrasado. É uma pena nunca mais termos nos instalado na Travessa do Tranco um final de semana para comemorar essa data como nos velhos tempos, não acha?
- Eu colocaria fogo naquele lugar com prazer. – Hermione podia ver que Draco estava a um passo de começar a vociferar suas palavras.
Narcisa pigarreou para chamar atenção e afastar as faíscas que havia entre a troca de olhares de pai e filho.
- Querido, é sempre bom te ter em casa. – ela se aproximou de Lúcio. – Nós todos sabemos que é ocupado e entendemos seu atraso. Não é fácil ser Primeiro Ministro. – Passou as mãos pelas costas do marido enquanto Draco se afastava com desgosto das palavras da mãe e da cena que presenciava. – Já que estamos atrasados, sugiro pularmos para a parte princi... – sua voz morreu ao ver Draco deixar a sala. – Bem... – limpou a garganta – Parece que alguém já pensou nisso. – e forçou um sorriso. – A mesa está pronta.
Hermione acompanhou quando todos seguiram para a sala de jantar. Draco bem a frente. O local de destino acabou não sendo exatamente o lugar onde ela já havia jantado com os Malfoy algumas vezes. Era menor, mais aconchegante, mais reservado. A escala um tanto monumental do que ela se lembrava da sala de jantar daquela casa havia certamente se perdido ali. Não entendia o porquê, sabendo que Draco gostava de distâncias, principalmente quando se dizia respeito a compartilhar um ambiente com o pai.
A mesa ficava em um nicho sobre um curto patamar elevado a sala que o cercava. Havia muita madeira, tapeçaria e pequenos lustres. Era quase um pouco menor do que a sua mesa de jantar. Hermione se colocou ao lado de Draco e todos puderam sentar somente quando Lúcio tomou seu lugar ao lado de Narcisa e não na cabeceira assim Hermione e Draco ficaram bem a frente de Lúcio e Narcisa.
Negar se sentar a cabeceira deveria significar algo que Hermione começara a especular. Lançou um olhar a Draco esperando ver nele a reação de surpresa por seu pai ter se negado sentar em seu lugar de direito, mas não havia nele nenhum tipo de reação.
- Estive pensando se poderíamos adiantar...
- Cissa, querida. – Lúcio a interrompeu. – Iremos comer e só depois iremos discutir, certo?
- Ela organizou isso. – Draco tinha um tom longe do agradável enquanto cobria as pernas com seu guardanapo – Não acha que ela teria o direito de proceder da forma como quisesse?
- Posso não ter sentado em meu lugar, mas eu quem ainda dito as ordens. – Lúcio estalou o dedo e ordenou pelo jantar que logo foi servido. – Me diverte querer defender os possíveis “direitos” de sua mãe. – ele riu consigo mesmo enquanto pegava seus talheres e preparava a comida em seu prato com eles. – Duvido bastante que considere os direitos de Hermione dentro da casa de vocês. – levantou os olhos para Draco com um sorriso de lado e uma sobrancelha levantada e então enfiou uma garfada de comida na boca com uma expressão bem satisfeita.
Draco parecia furioso o suficiente para não mover um músculo sequer. Hermione sabia que quando ele estava furioso e precisava se controlar quase nem respirava. Se cansara de observá-lo naquele estado. O som de Narcisa limpando sua garganta soou.
- É melhor nos concentrarmos no jantar. – ela se fez soar em seu tom amigável e seu sorriso amarelo.
- Me diga se ele considera os direitos que muito provavelmente deve reivindicar, Hermione. – Lúcio ignorou a mulher e insistiu no assunto encarando Hermione com aquele olhar de quem podia enxergar através de suas roupas. Ela ficou em completo silêncio. – Não me diga que vai se calar? – ele insistiu. – Vai ficar do lado do maravilhoso marido que tem? – ele riu e encarou Narcisa – Não sabia que havia a treinado para ser igual você também.
Draco fez o menor sinal de movimento com intenção de se levantar e em um reflexo Hermione o deteve o segurando pelo pulso. Sabia quais eram as consequências de quando ele saía de seu estado imóvel quando estava irritado. Draco parou a tempo recebendo o recado de que tudo que Lúcio queria era apenas implicar. Ela logo deslizou a mão para longe dele. Ainda era estranho tocá-lo. Tocavam-se apenas quando faziam sexo e nada muito além disso.
- Hum... – Lúcio engoliu sua comida – Estive me questionando se você preparou algum bolo para cantarmos parabéns, Narcisa. – riu de seu próprio comentário.
Em situações como aquela Hermione conseguia entender perfeitamente todo o comportamento de Draco em Hogwarts.
- Não acha que já é o suficiente por hoje? – Draco disse com o olhar voltado para o pai enquanto pegava os próprios talheres. Hermione podia sentir a tensão que emanava ao seu lado.
Lúcio abriu a boca para retrucar, mas Narcisa foi mais rápida:
- Por favor rapazes, nós estamos aqui para algo muito maior do que isso. Poderíamos deixar a falta de civilidade de vocês para bem depois. – disse ela e Hermione achou completamente injusto que a falta de civilidade tivesse sido atribuída também a Draco. Mas logo fez sentido quando imaginou que Narcisa nunca se permitiria acusar o amado marido.
As bocas se calaram, mas a de Lúcio ainda tinha aquele sorriso de que sabia que era uma ameaça. Lúcio lembrava muito de Draco em Hogwarts, a forma como jogava suas palavras apenas para implicar. Hermione se perguntava se Draco havia mesmo mudado ou se apenas vestia aquela máscara inexpressiva e fria para evitar agir como o pai que tanto desprezava.
O silêncio seguiu pelo jantar. Era sempre triste estar sentado entre eles. Todas as vezes que se sentava a mesa dos Malfoy para qualquer refeição, se lembrava dos Weasley em suas férias de Hogwarts. Dos barulhos, das risadas, das conversas separadas, dos gêmeos, da movimentação e da comida maravilhosa. Havia sido um passado muito colorido, porque tudo havia mudado depois da guerra. Mas os Malfoys, ela se questionava se aquele silêncio havia os acompanhado desde antes da guerra, se havia sido morto assim para eles desde sempre. Eram uma família e sabiam apenas conversar sobre negócios, negócios, futuro, negócios, dinheiro, negócios, planos e negócios. Se por algum motivo o assunto escapasse o medo de haver uma grande confusão passava a ser uma ameaça forte o suficiente para os fazerem se calar novamente.
- Ouvi dizer que irão quebrar a estátua de gelo do parque de inverno. – Hermione comentou tentando parecer distraída. Todos pararam para olhá-la por um segundo como se ela estivesse fazendo algo de errado. Na verdade ela sabia que estava, Narcisa havia a instruído a ficar sempre calada durante as refeições. Malfoys não conversavam durante as refeições, era falta de etiqueta, mas Hermione sabia que quando ela era uma Black conversar durante as refeições não era falta de etiqueta. Malfoys apenas não sabiam ser uma família.
- Você quer dizer da entrada sul? – Narcisa foi quem se manifestou a respeito, talvez para não fazer desfeita. Ela era sempre muito preocupada em manter a classe e a educação.
- Sim. A que nunca derrete. – confirmou Hermione.
- Ah. – ela fez um som de desapontamento – É uma pena. É uma estátua bonita. Por que farão isso?
- Parece que a magia para mantê-la inteira fora do inverno é de alguma maneira prejudicial ao entorno. São questões do departamento de urbanização da Sessão da Cidade. – Hermione tentou manter a conversa o mais natural possível.
- Soube que irão dar um dia de sol para o último dia de verão. – Narcisa continuou – Isso pode ser uma boa notícia para você.
- Amanhã? – Hermione ergueu as sobrancelhas. Narcisa sabia sobre suas reclamações em não ver o sol brilhar.
- Sim. – ela confirmou.
- Como sabe disso? – Draco se manifestou perguntando para mãe. – Não há nenhuma sessão sobre o tempo no Diário do Imperador.
- Vamos mesmo conversar sobre o tempo? – Lúcio interferiu. Era claro que ele não estava gostando da falação.
- Bellatrix me mandou uma coruja essa tarde me informando sobre o fato e me convidando para almoçar com ela em algum quarto recluso sem janelas. – Narcisa disse ignorando o comentário do marido e a forma como soara levantando as sobrancelhas e ironizando o estilo único de Bellatrix fora engraçado o que fez com que os três sorrirem deixado Lúcio perplexo. – Apenas espero que ela não invente de fazermos isso nas masmorras. Você sabe como ela ama aquele lugar.
Draco soltou um riso fraco e distraído quando a mãe se direcionou a ele. Hermione percebeu ter um sorriso no rosto. Não um grande, mas um satisfeito. Era a primeira vez que via a mesa de jantar dos Malfoy com alguma mínima vida.
- O Lorde também nos mandou uma coruja. – Draco comentou. – Nos intimou para um almoço amanhã.
Narcisa ergueu as sobrancelhas.
- Você e Hermione? – ela pareceu interessada com o fato. – Talvez tenha sido por isso que Bella me convidou para o almoço, o Mestre estaria bastante ocupado para gastar tempo com ela.
- É curioso o fato de ser um almoço. – Hermione comentou. – Não soa nada aleatório a escolha de uma refeição no meio do dia.
Narcisa deu de ombros.
- O mestre não os atenderia em um horário como o jantar. É importante demais e normalmente é um horário separado para o ciclo interno. Ficariam sabendo se a sala de refeições dele fosse fechada durante o jantar para receber um casal exclusivo. Rumores sairiam correndo com facilidade e logo teríamos isso estampado no Diário do Imperador. Até onde sei ele ainda quer a realidade da gravidez bem longe do conhecimento das pessoas. Talvez esteja apenas tentando evitar a imprensa. – Hermione apenas assentiu em resposta e abaixou o olhar para o seu prato de comida. – Você me parece bastante preocupada.
- Eu acredito ter o direito de estar. – Hermione não usou de um tom rude. Ergueu os olhos para Narcisa e notou que não apenas ela a encarava, mas Draco e Lúcio também pareciam interessados em sua figura. – Há alguma razão para eu não estar? – ela perguntou pulando seus olhos de um para o outro.
Narcisa se ajeitou em sua cadeira enquanto a mesa era trocada para receber chá. Ela se voltou para Draco e ele piscou com calma e passou o olhar para os outros da mesa. De repente um botão finalmente parecer acender no cérebro e passou os olhos novamente pela mesa e tornou a encarar Draco.
- Não estamos aqui por causa do seu aniversário, estamos? – ela se viu perguntar.
- Não, primavera. – Lúcio foi quem abriu a boca e ela logo direcionou seu olhar para ele. Não gostava daquele nome, a fazia lembrar de como Draco sempre tinha um apelido para dar a alguém em Hogwarts. – Estamos aqui para negociar.
Negociar. Claro. Malfoys não se reuniam para fazer jantares de aniversário.
- E eu sou o objeto da negociação de vocês. – ela concluiu aquilo pela forma como parecia ser a única ali que não sabia o que estava acontecendo.
- Sim, primavera.
- Pare de me chamar por esse nome. – dessa vez ela foi realmente rude. – Por que eu seria o objeto de negociação de vocês?
- Não um objeto... – Narcisa interrompeu.
- Você está carregando o próximo Malfoy da linhagem, Hermione. – Draco passou por cima da mãe. – E eu não sei se percebeu, mas tem uma situação muito delicada envolvendo tudo isso.
- O acordo que temos com o mestre deixa claro que ele terá total direito sobre a criança. – Lúcio começou. – Mas o sobrenome Malfoy ainda pertencerá a ela. Sendo assim o legado que deixaríamos seria um Malfoy como herdeiro de todo o império do mestre. Entretanto eu, você e todo o restante do mundo sabemos que Lorde Voldemort não tem sequer a mínima intenção de deixar esse mundo, o que significa que ainda teríamos uma história ao lado do maior imperador de todos os tempos. – ele fez uma pausa. O chá continuava intocado. – Há uma chave nesse mar de maravilhas que ficaria gravado em nossa história que muda tudo. – ele continuava a encarando como se esperasse que ela fosse dizer que chave era aquela.
- O mestre é um líder das trevas, Hermione. Todos sabemos disso. – Narcisa tomou a palavra percebendo que Hermione ainda continuava confusa. – E por mais que hoje em dia a fachada de que maldade é apenas uma questão de ponto de vista tenha vendido muito bem, as pessoas sabem que o seguem porque o temem, porque não querem viver como você costumava viver sendo uma rebelde. Ele é um imperador, repressor, ditador. O dia que ele cair, a queda será muito grande e nesse dia o nosso nome não poderá estar ao lado dele.
- O mestre está em seu apogeu. – Draco disse – Todo apogeu entra em declínio uma hora ou outra, você conhece história muito bem. Não há como manter um reinado como o dele eternamente por mais esforço que se faça. – ele a encarou – Eu não quero o meu filho nas mãos de Voldemort.
Hermione sentiu suas extremidades formigarem e suas vistas embaçaram quando seus olhos se encheram de água. Será? Será que havia qualquer réstia de esperança para se beber?
- Por favor, diga que vai salvar meu bebê. – ela sussurrou sentindo um nó torcer sua garganta.
- Claro que nós acreditamos que o tempo de Voldemort ainda é muito incerto. – Lúcio interrompeu – Ele ainda está muito estável no poder. – bebericou de seu copo - Nós poderíamos deixar que o Mestre tivesse a criança. Há o prometido de que ela saberá o valor de seu sobrenome e como um Malfoy saberia bem administrar o futuro do nome que carrega. Todo Malfoy sabe que nós nunca caímos e deve estar preparado para o que for para nunca cair. Mas ainda seria incerto. Essa criança não cresceria debaixo de nosso poder e não temos o menor conhecimento de como Voldemort pretende criá-la. Passar uma geração seria arriscado demais e nós não jogamos no campo do arriscado. Temos que tomar a responsabilidade por isso.
Hermione sentia seu coração bater acelerado. Sim, ela faria qualquer coisa. Sentir esperança parecia tão imensamente maravilhoso depois de todo o poço em que havia descido.
- Draco esteve em alguns países do leste Europeu esses últimos dias. – Narcisa disse - Conversou com alguns grupos bruxos centenários que se mantém reclusos a guerra devido a tratados do Ministério. Lúcio foi a Itália e Alemanha conhecer alguns orfanatos trouxas de fácil acesso por chaves de portais anônimas e em áreas de pouca cobertura da magia de monitoramento do Ministério. Encontramos bons lugares, mas ainda existe uma barreira a ser vencida: confiança. Me diga Hermione. – ela reclinou sobre a mesa unindo as mãos – O quanto você confia na Ordem da Fênix?
Nesse ponto ela se sentia desesperada em chegar ao fim daquela conversa e saber que seu bebê estaria longe de Voldemort assim que nascesse.
- Minha vida. – ela se sentiu ofegante – Eu confiaria minha vida a eles sem hesitar.
- Você acreditaria, com veemente certeza, que...
- Sim. – Hermione adiantou Narcisa – Eles cuidariam do meu filho. Não por ele, mas por mim. Cuidariam e protegeriam. Eu posso afirmar isso com toda certeza. – Hermione podia julgar que até mesmo adrenalina seu sangue deveria estar recebendo naquele momento.
Narcisa, Lúcio e Draco trocaram olhares.
- Hermione. – Draco começou com calma. Seu nome fluindo da boca dele soava bonito e eram raras as vezes que Hermione apreciava isso. – O quão segura é a sede da Ordem da Fênix?
Ela franziu o cenho.
- Você sabe o quão segura é. – sua voz parecia uma oitava acima. – Nunca conseguiu entrar lá.
Draco puxou o ar ainda com calma.
- Hermione, nós sabemos o lugar, sabemos até qual é a magia de segurança. É apenas muito difícil quebrá-la. – ele continuou.
- Mas é um lugar seguro! – exclamou Hermione.
- Como pode ter certeza disso? – Lúcio soava sempre bastante profissional.
- Eu sei! Eu criei toda a segurança! Sei que as pessoas ali dariam a vida para proteger meu filho se eu pedisse que fizessem. – ela sentou mais ereta em sua cadeira – Eles são confiáveis! O lugar é confiável! Sobreviveu todo esse tempo!
- A duras penas! – acrescentou Draco.
- Isso não é verdade! – exclamou ela.
- Hermione! – Narcisa chamou sua atenção. A voz pacífica parecia ser resultado da agitação que talvez estivesse demonstrando em excesso. – Entendemos que quer muito salvar seu bebê. Eu a entendo perfeitamente. Mas você precisa ser muito - ela respirou – muito – enfatizou – racional agora. Tem que pensar no futuro do seu filho para bem além do que está desejando.
Ela pulou seus olhos de Draco para Narcisa, de Narcisa para Lúcio.
- Nós temos o véu. – ela soltou e Lúcio abriu um sorriso como se estivesse feliz por não ter precisado pressionar para ter essa resposta. – Quero dizer, a Ordem talvez tenha o véu. O véu do Ministério da Magia. – ela via pelo sorriso de Lúcio que aquele era o lugar em que ele queria ter chegado – Se tivermos o véu a Ordem pode ser o lugar mais seguro para se estar agora.
- Como pode ter certeza disso? – Lúcio tornou a perguntar.
Hermione se perguntou se estava fazendo a coisa certa ao abrir a boca daquela forma, mas querendo ou não era uma Malfoy agora e estavam todos no mesmo barco ali e também, antes que pudesse pensar na Ordem ou na guerra pensaria em seu filho.
- É uma história mais longa do que pode imaginar. É ainda incerto o poder do artefato, é complexo e eu só saberia decifrar para poder usá-lo se o tivesse comigo. Mas se souber a história que o envolve concordaria comigo.
Lúcio a encarou por um tempo em silêncio.
- Eu quero saber agora. – jogou ele.
- Não é algo que se eu te contasse, acreditaria.
Ele ficou ali, a encarando por mais um bom tempo.
- Então terá que encontrar uma forma de me provar isso, primavera. – se levantou – Minha hora bateu. Tenho que ir.
- Querido! – Narcisa se levantou com pressa como se tentasse querer alcançá-lo – Não vai ficar? – ele deu as costas e seguiu seu caminho para fora da sala – Você me disse que ficaria. – ela pareceu contrariada em deixar a mesa da forma como queria deixar ou ver seu marido sair pela porta sem ir atrás apenas para seguir suas normas de etiqueta. Ela passou seus olhos por Draco e Hermione – Com licença. Perdão. – e apertou o passo para alcançar o marido.
O silêncio reinou um tempo entre ela e Draco ainda ali sentados.
- Nosso horário acabou aqui. – Draco comentou, mas ainda demorou um tempo antes de finalmente se levantar.
Hermione ainda não conseguia se mover. Aquela conversa não poderia ter terminado ali. Precisava saber como fariam para tirar seu filho de Brampton Fort, como fariam para entregá-lo a Ordem...
- Hermione. – a voz de Draco a chamou. – Precisamos ir.
Ela o olhou e por um motivo eles ficaram ali naquele olhar por um longo minuto. Hermione queria muito saber se ele ao menos imaginava a dimensão do quanto aquilo era importante para ela, se ele conseguia sentir o que ela sentia quando pensava em seu filho, se para ele aquela vida era importante como para ela, não pelo fato de ser um Malfoy, o próximo na linguagem, mas sim por ser fruto dele.
- Draco. – ela começou baixo. Puxou o ar e piscou os olhos molhados lutando contra todos os hormônios que corriam seu corpo. – Você pode não ser a minha pessoa mais favorita no mundo. Porque sabe que se eu tivesse a chance de te deixar, deixar tudo isso, eu não pensaria duas vezes. – respirou – Mas. – sentia seus olhos se encherem de súplica – Se salvar meu filho, se o livrar de Voldemort, eu juro, juro – enfatizou – que vou lhe dever minha vida.
- Nunca precisei ter créditos com você, Hermione. Continuo não precisando. – deu as costas – Não demore. Não estou com paciência para ver meus pais discutindo. – disse antes de deixar a sala.
Draco Malfoy
Abriu os olhos e precisou mantê-los cerrados. Havia mais claridade do que normalmente deveria ter e se questionou se deixara de fechar as cortinas na noite anterior. Talvez estivesse atrasado. Puxou o relógio em sua cabeceira e conferiu o horário. Estava quase uma hora adiantado. Deitou de costas e passou uma mão pelos cabelos sentindo preguiça e soltando o ar como forma de protesto. Haviam algumas manhãs que ele simplesmente gostaria de poder fechar os olhos novamente e tornar a dormir.
Olhou para o lado e encontrou Hermione como nunca estivera antes. A luz do sol que escapava de uma das cortinas mal fechadas se deitava sobre ela como se tivesse encontrado o lugar certo para se estar. Draco sentiu aquela sensação de falta de fôlego por um segundo mais uma vez. Hermione lhe causava aquela sensação em momentos mais inesperados. A olhava e por um segundo a consciência de ter a mulher mais bonita do mundo lhe batia com força.
Ela abraçava o lençol de lado e ele deixou sua visão cair para uma das pernas esguias subindo até o meio de seus quadris onde a camisola começava a lhe cobrir e fazia o restante do desenho de seu corpo. A respiração dela era calma, seu rosto todo estava relaxado, o rosa em suas maçãs pareciam mais rosas, seu cabelo parecia mais claro, sua boca parecia mais suculenta, tudo nela que já era bastante perfeito parecia ainda mais perfeito. A consciência de ter a mulher mais bonita do mundo lhe socou mais uma vez e ele foi obrigado a desviar o olhar. O que era beleza se ela continuava sendo Hermione? Era quase um desperdício.
Sentou-se tentando de algum modo espantar a vontade de permanecer ali. Colocou os pés para fora da cama e apoiou os cotovelos um em cada joelho para poder esfregar o rosto em uma posição mais confortável. Sentiu o movimento do corpo de Hermione sobre o colchão atrás de si e ficou imóvel por uns segundos esperando que ela estivesse apenas trocando de posição.
- Ainda é cedo. – a voz dela soou baixa e arranhada enquanto ele ainda sentia o movimento do corpo dela.
- Não parece que é. – ele disse de volta.
Ela se levantou. Não conseguiu escutar os passos dela pelo quarto, mas logo ele pensou em um palavrão quando escutou o rolar das cortinas e sentiu a luz intensa invadir o ambiente. Demorou segundos apenas para seus olhos se acostumarem e rapidamente teve a visão de sua própria pele pálida sob a luz do sol.
A claridade o fez lembrar das férias de verão nos anos de Hogwarts, o fez se lembrar dos verões de sua infância, de quando via seus pais juntos e acreditava que se amavam, que eles eram uma família como qualquer outra, mas com poder, com dinheiro, com influência. Ficava grato por saber que seu filho seria mandado para longe, independente de onde fosse. Assim ele não cresceria tendo que ver que seus pais não eram como aqueles que haviam se casado por amor para formar uma família dos sonhos, ele cresceria consciente unicamente de seu papel como Malfoy.
Olhou para o lado quando a figura de Hermione apareceu de pé passando um dos braços pelo dossel, onde descansou a cabeça. O sol continuava a lhe cobrir e ali fazia todo o sentido para ele porque talvez ela gostasse tanto daquela estrela. Seus olhos pareciam ainda mais dourados e sua pele parecia quase brilhar.
- Como vamos fazer hoje? – ela perguntou. Sua voz arranhada pelo sono parecia quase sedutora dentro daquele quadro.
Seus olhos estavam de certo modo tão entorpecidos pela imagem dela que a pergunta não chegou a ser bem processada.
- O quê?
- Vou ter que ir a Catedral em uma hora bastante movimentada. Sei que eu deveria pensar nisso sozinha, mas você conhece o lugar melhor do que eu. Haveria alguma entrada em que eu poderia passar sem ser vista?
Ele estreitou os olhos.
- Você sabe que há portões de entrada privativas. – respondeu ele.
- Eles mantém apenas a imprensa longe.
- Ninguém vai estar chegando esse horário na Catedral, Hermione.
- Eu vou. Outras pessoas também podem.
- Outras pessoas tomariam a entrada principal.
- Não dá pra generalizar em um lugar como aquele, Draco.
Ele soltou o ar cansado e deixou suas costas cair sobre o colchão. Cobriu o rosto e desejou férias.
- Converse com minha mãe, vocês duas vão para lá no mesmo horário. Eu não quero resolver seus problemas. – talvez tivesse soado mesmo mal humorado.
O silêncio que se seguiu lhe trouxe paz. Se aquele momento fosse durante os primeiros meses de casamento certamente estaria sendo obrigado a escutar Hermione o enfrentar porque obviamente, o problema não era apenas dela, se alguém a visse saberia que ela está grávida e esse problema estava também diretamente ligado a ele.
- Eu nunca o vi assim antes. – a voz dela soou, mas soou doce, de um modo que quase acompanhou o ritmo do silêncio. Não o irritou embora ele soubesse que deveria ter.
- Assim como? – o tom com que retrucou era quase gutural.
Sentiu o colchão afundar com o peso dela.
- Você não quer ir trabalhar. – a voz que ela usava continuava aquela que acompanhava o ritmo do silêncio. Era quase delicioso.
Ele abriu os olhos para vê-la sentada sobre as próprias pernas ao seu lado. A imagem dela sob o sol ainda conseguia lhe pegar desprevenido.
- Continuo sendo humano, não é?
- Você tenta não o ser com bastante frequência.
Soltou um riso fraco e virou a cabeça para encarar o teto bem decorado. Por um minuto ficar em casa, mesmo que Hermione estivesse lá, pareceu mais agradável do que ter que enfrentar a Catedral mais um dia.
- Você deveria tirar um dia de descaso. Pelo menos um. – ela falou, sua voz soava doce e incrivelmente natural. – Não precisa ser necessariamente hoje, mas deveria. – ela se levantou e foi ao lavatório.
Aquilo era verdade. Principalmente para pessoas como ele que trabalhavam com tanta frequência. Não se sentia um escravo. Fazia o que gostava e Voldemort garantia que ele continuasse sempre fazendo o que gostava. Gostava de ser líder, de mandar, lançar ordens e de ser bom nisso, mas ainda era humano, certo?
Tornou a sentar-se ainda se permitindo desfrutar do próprio desânimo. Levantou-se e primeiramente foi até a janela onde Hermione havia aberto as cortinas. Encarou seu jardim do lado de fora e se surpreendeu ao finalmente ver todo o potencial de seu colorido. Escutou o som das duchas vindo do banheiro e decidiu que enfrentar o dia era sempre seu dever. Muitas coisas entravam em jogo se ele não estivesse diariamente com o olho por cima de toda a movimentação de cada metro quadrado daquele lugar.
Seguiu para o lavatório onde decidiu adiar seu barbeado em um dia. Desceu para as duchas e encontrou Hermione no fim de seu banho. Seu passos quase que inconsciente o guiaram até ela que se mantinha de costas.
Seus dedos primeiro entraram pela raíz dos cabelos dela. Afastou sua cabeça para poder provar com a boca a pele macia de seu pescoço. A cercou pela cintura colando seu corpo ao dela e subiu até ter o lóbulo de sua orelha entre os dentes.
Ele até gostava de ter uma mulher em casa em momentos como aquele. Se descobrira até ser um homem bastante “matinal”. Nunca havia se dado muito ao luxo de dormir com as mulheres que levava para a cama. Nem com Pansy, nem quando namorou Astoria, nem quando insistiam para que ele ficasse. Não gostava de acordar acompanhado de alguém, parecia haver um peso de compromisso que ele resistia em aceitar. Com Hermione havia sido bastante tranquilo lidar com isso. Ele sabia que ela também não estava feliz com a companhia dele, portanto não era como se ele estivesse alimentando qualquer esperança de compromisso com ela. Momentos como aquele serviam para matar um pouco da exaustão da convivência que as vezes chegava ao nível do detestável. Haviam concordado com aquilo até verbalmente já.
O corpo dela era gostoso de se ter nos braços. Ele havia se acostumado as formas dela, a quais posições se encaixavam melhor, e mesmo que a barriga dela estivesse crescendo, ainda não havia chegado ao ponto de os atrapalhar. Um dia certamente haveria de chegar, mas por enquanto ele desfrutava de como as curvas dela ficavam ainda mais bonitas a medida que sua barriga crescia. Saber que ela gerava seu filho também lhe dava frios na espinha de vez em quando.
Hermione se virou para recebê-lo. Os seios dela pareciam de certo modo terem aumentado minimamente de tamanho, mas já era o suficiente para o deixar bastante feliz, por assim dizer, quando os tinha pressionados contra seu corpo.
A forma como faziam sexo tinha atingido um nível que ele jamais havia tido ideia de que existia. Para ele sexo sempre fora uma questão de dar prazer ao nível de manter sua imagem de desejado por boa parte do gênero feminino. Isso tudo envolvia honra, dominação, confiança, satisfação, prazer e todos os derivados desse setor. Com Hermione eles haviam passado por isso e vez ou outra voltavam para lá novamente, mas chegaram a um nível de total conforto que as vezes ele só queria estar dentro dela com seu corpo no dela e ficar ali sentindo o prazer o consumir aos pouco, sem pressa, sem eventos brilhantes, sem gemidos intensos. Não era o seu melhor tipo de sexo, ele confessava, nem mesmo seu favorito, mas era gostoso, relaxante e bem mais prazeroso. Chegar em casa para ter aquele tipo de sexo as vezes o animava mais do que estar pronto para dar a Hermione o sexo de sua vida. E era mútuo. Ela mesma muitas vezes se sentava sobre ele e o usava pelos minutos que precisasse. Era bom e era bom que fosse com ela porque se sentia confortável o suficiente para isso. Nunca tivera a intenção de impressioná-la em primeiro lugar.
Sua boca se uniu a dela pela talvez milionésima vez desde que a beijara pela primeira vez. O sabor era familiar, os movimentos eram familiares, mas a sensação era sempre única e não, ele não se cansava. As mulheres com quem já havia ficado depois dela eram altamente usadas a nível de comparação, o que muitas vezes o irritava, se irritava com a existência de Hermione por isso, mas acabava precisando do seu corpo no fim das contas.
Puxou sua perna, a encostou na a parede e entrou dentro dela sem a menor pressa. Os suspiros que ela soltava quando isso acontecia sempre ficavam gravados em sua mente e sim, ele se lembraria daquilo quando fosse levar outra mulher para cama. Deixou que a sensação de estar dentro dela o dominasse, que o prazer o invadisse, que a paciência o permitisse aproveitar aquilo pelo máximo de tempo que tinha. Ele sempre começava mais devagar.
Tinha bastante tempo e soube aproveitar isso. O corpo dela chegou a tremer umas duas vezes contra o seu. Ele adorava a forma como o corpo dela reagia ao seus orgasmos. A forma como os músculos travavam e relaxavam em pequenos espasmos, a forma como ela puxava seus cabelos levemente, a forma como abafava seus sons contra o pescoço dele e como seus dedos se cravavam em sua pele. Mulheres faziam isso o tempo todo, mas ela, ela tinha um jeito especial.
Estava com sua boca na dela quando sentiu que depois de todos os minutos que estavam ali finalmente estava pronto para dar um fim a sua própria agonia e foi assim que o fez. Seu corpo pesou e ele tratou de esconder o rosto contra a curva do pescoço dela um tanto ofegante. Hermione firmou os pés no chão novamente e ele ficou ali, sentindo a água bater em suas costas. O silêncio pairou sobre eles enquanto Draco esperava para se afastar dela. Sempre se afastavam e quando não se afastavam era porque haviam praticado o tipo de sexo que tirava deles qualquer resquício de forças, mas ali ele deveria, deveria se separar dela porque era estranho quando se tocavam fora do sexo. Naquele momento parecia apenas errado se afastar dela.
Suas mãos desceram pela cintura dela e se alocaram próximo aos quadris onde podia sentir o início do volume que seu filho fazia no pé da barrida dela. Aquele dia parecia estranho.
- Draco. – a voz dela soou quando os minuto passou e ele simplesmente continuou ali. Sentiu as mãos dela se moverem fazendo o desenho de seu pescoço e nuca. – O que foi? – ela parecia preocupada e ao mesmo tempo confusa, mas ainda assim sua voz era doce, sempre doce, ele queria que aquilo o irritasse. – Draco. – ela o chamou mais uma vez e ele deixou o pescoço dela para encará-la. A boca vermelha e inchada, a ponta do nariz vermelho, o cabelo bagunçado. Ele adorava aquela imagem dela. Sempre a tinha depois que faziam sexo. – Qual é o problema?
Nada, ele se viu respondeu, mas ao invés disso ficou ali, encarando seus olhos perfeitamente dourados, sua boca vermelha, a ponta de seu nariz vermelho. Hermione o encarava de volta como se estivesse vivendo o maior suspense de sua vida. Draco tentou balançar a cabeça e responder nada novamente, a soltar e terminar seu banho, mas não. Continuou exatamente ali.
- Eu sinto... – escutou sua própria voz dizer – Como se não devesse viver o dia de hoje.
O cenho dela franziu e uma expressão confusa apareceu em seu rosto. Se tivesse dito aquilo a Pansy ela estaria naquele exato momento, rindo como nunca na vida.
- O que quer dizer exatamente? – ela começou a usar uma voz cuidadosa – Tipo... morrer?
Ele balançou a cabeça negativamente. A palavra “morrer” parecia muito pesada.
- Não. – respondeu. – Apenas... – sua voz morreu. Não tinha uma justificativa, uma resposta, algo que tirasse a confusão do olhar dela, porque aquilo parecia tão abstrato para ele quanto para ela. – Não sei.
Ela continuava ali, o olhando. O silêncio entre eles e o olhar dela, aquele que percebia a completa estranheza daquela situação, mas que mesmo que ele estivesse soando até idiota, ela parecia fazer esforço para entrar no mundo dele, para compreender, para tentar achar uma resposta para ele. Ele não veria isso nem mesmo no olhar de sua mãe.
- Eu acho... – ela começou – Que você deveria ficar em casa hoje.
Ele negou com a cabeça. Não.
- Esqueça, Hermione. É apenas um pensamento idiota. – ele se afastou.
- Não. Não é. – ela o segurou pelo pulso. – Quero dizer, você quem tem o direito de julgar quão importante é aquilo que sente porque só você está sentindo. Mas não acho que é idiota considerar algo que o incomoda ao ponto de chegar a me dizer. - Sim, ela havia tocado em um ponto importante. Nem ele havia julgado aquilo – Vamos lá. Ficar aqui não significa que vá ficar comigo. Essa casa é enorme. Podemos ir para a Catedral no almoço e voltar. Você tem um milhão de pessoas que podem fazer seu departamento rodar sem você por um dia apenas.
Certo, ela já estava agindo de um jeito único demais que o fez erguer uma barreira antes que cruzasse alguma linha que não queria cruzar.
- Não tente entrar na minha vida desse jeito, Hermione. – ele rebateu e foi o suficiente para fazê-la recuar.
Ele tomou seu banho enquanto ela simplesmente o deixou. Grifinórios e suas estranhas manias de serem prestativos até mesmo com inimigos. Decidiu que tudo aquilo era apenas uma tremenda besteira. Sua mãe o teria repreendido e Pansy teria soltado uma gargalhada daquelas bonitas de se ouvir. Parou para fazer a barba quando decidiu que procrastinas era uma doença de dias como aquele, colocou sua farda e desceu.
Hermione já estava no fim de seu desjejum. Ela virava as páginas do Diário do Imperador e tomava a réstia de seu chá. Quando o viu ela o fechou, colocou-o sobre a mesa e se levantou.
- Te vejo no almoço. – foi tudo que ela disse antes de puxar um chapéu que descansava na cadeira ao lado e deixar a sala.
Ele a viu tomar o rumo do corredor que passava por trás da cozinha e soube exatamente onde ela passaria a manhã. Soltou um riso fraco enquanto colocava chá em sua porcelana e puxava o Diário do Imperador. Fazia até sentido que seu pai a chamasse de primavera.
Não foi o bastante e antes de deixar a casa ele a avistou pela janela no meio do jardim. Os pés dentro do espelho d`água do chafariz, um braço servindo de apoio para seu corpo e uma mão sobre a barriga, os olhos fechados voltados para o céu como se pudesse tirar do sol algum tipo de energia. Ele riu e foi para a Catedral.
O dia lá também havia começado cedo. Talvez o sol tivesse acordado bastante gente como fizera com ele. Alguns reclamavam, outros até discutiam que deveriam haver mais dias como aquele. Mas Draco sabia que dias como aquele implicavam na segurança da cidade portanto era melhor que sempre fosse nublado.
Foi direta para o seu discurso diário e logo após subiu para sua torre e informou Tina que tinha o horário de seu almoço fechado. Interrogatórios deveriam ser passados para depois desse período e reuniões consideradas fora de questão para o dia todo.
O conselho o esperava e a reunião foi maçante como sempre. Tinha treinamento o resto da manhã inteira e se sentiu exausto mais cedo do que deveria. Aquela estranha sensação o perseguia junto com o estranho dia ensolarado. Quando saiu do Q.G. sua mãe o esperava ali no saguão. Ela acelerou o passo para encontrar com o dele.
- Você não deveria estar com tia Bella? – perguntou a ela olhando as horas em seu relógio de bolso.
- Vou encontrá-la em um minuto. – ela respondeu – Nos encontramos logo quando cheguei. Hermione veio comigo. – disse – Draco. – ela o parou o segurando pelo pulso. Olhou rapidamente de um lado para o outro e se aproximou um passo. – Não estou gostando da forma como tudo isso está bem organizado.
Ele franziu o cenho.
- O que quer dizer?
Ela puxou o ar e olhou novamente para os lados.
- Bella olhou para Hermione quando descemos da carruagem e usou um tom irônico para dizer que esperava que ela não tivesse planos para a tarde. – usou um tom baixo para dizer aquilo.
Draco precisou processar aquilo com mais cuidado.
- Quantas vezes tia Bella a chamou para almoços na Catedral? – ele perguntou.
- Poucas vezes. Não consigo me lembrar de nenhuma. – ela respondeu. – Quero dizer, costumamos tomar o desjejum juntas quando tenho planos aqui dentro. Almoçamos muito no centro ou em algum parque, mas não consigo me lembrar de nenhuma outra vez que ela tenha me tirado de casa para lhe fazer companhia aqui, para um almoço, um onde vamos nos sentar e comer como se fosse um jantar.
Ele ainda estava confuso.
- O que você sugere?
- Eu não sei. – ela respondeu. – Estou preocupada com Hermione. De alguma forma eu acredito que isso tudo se ligue a ela.
- Hermione está bem. – ele disse – Vamos estar com o Lorde, ele não deixaria que ninguém encostasse o dedo nela.
Narcisa ficou em silêncio o encarando por um longo segundo. Assentiu finalmente aceitando que aquilo soava bastante convincente e acrescentou:
- Mantenha os olhos abertos, Draco. – ela tocou seu rosto por um segundo, deu as costas e seguiu seu caminho.
Draco subiu para a torre de Voldemort. A sala de refeições do Mestre estava aberta e quando ele entrou encontrou Hermione já sentada de um lado dos três lugares já postos. Ela ergueu o olhar para recebê-lo apenas e ele foi até seu lugar de frente a ela para se sentar. A cabeceira era sempre do mestre.
- Alguém a viu quando chegou? – ele perguntou assim que se acomodou em seu lugar.
Ela negou com a cabeça.
- Vim com Narcisa. Bellatrix estava nos esperando quando chegamos. Ela tomou o cuidado de limpar o caminho. – respondeu Hermione. Era evidente o desconforto em toda a sua postura. – Draco. – sua voz soou muito baixa agora. – Bellatrix me disse que...
- Eu sei o que ela te disse. – ele a cortou. – Agora não é o momento. – a repreendeu. – Ela estava apenas te provocando, esqueça isso.
Ela uniu as sobrancelhas quase que imediatamente.
- Como sabe disso?
- Minha mãe me disse. – respondeu ele e se arrependeu no mesmo momento.
A reação dela foi expressiva. Seus olhos assumiram um tom assustado e ela se mexeu em sua cadeira muito mais incomodada do que antes.
- Draco. – soou quase pausado – Por que sua mãe gastaria saliva e tempo para lhe informar algo que não passa de uma provocação?
Ele queria encontrar uma resposta para amenizar a agonia dela, mas no mesmo momento Voldemort os surpreendeu com sua presença. Ele veio sério, tomou seu lugar em silêncio e descansou sobre a mesa bem ao seu lado uma pasta de couro de dragão até gorda com o símbolo da extensão do St. Mungo’s que havia na cidade. Hermione encarou o objeto quase que com sede. Ela sabia o que havia ali.
- Espero não ter atrapalhado nenhum de seus planos devido ao convite em cima da hora, Draco. – ele se dirigiu a Draco.
- Não, Mestre. – Draco respondeu. Sabia que qualquer outro comensal nesse exato momento estaria declarando suas honras pelo convite e o quanto havia sido presenteado de privilégios que enchiam seus olhos. Draco não fazia esse tipo de comensal.
- Sei que você esteve colhendo os relatórios de atividades dos países da Europa esse mês. – comentou ele – Tem algum planejamento em apresentá-los para mim?
Draco piscou não muito paciente com a indireta que havia levado. Claramente ele era obrigado a apresentar os relatórios.
- Sim, Mestre. – respondeu.
- Bom. Porque sabe que gosto quando é mais eficiente.
- Sabe também que eu gosto quando é mais bem feito. – Draco retrucou.
Voldemort sorriu aquele sorriso amarelo em resposta. Aquele homem era definitivamente assustador.
- Seria bom que começássemos a apreciar da comida. Aposto que Draco tem muito no que trabalhar. – ele estalou os dedos e mais de um elfo foi responsável pelo serviço de encher os pratos. – O motivo de tê-los chamado aqui pode ser um pouco desagradável. – ele começou somente após engolir uma garfada de seu prato. Draco encarou Hermione e tudo que ela tinha feito até o presente momento era engolido uma de sua azeitonas. Ele se preocupou bastante com o fato da direta ter sido lançada logo de início. – Sabem que por sentarem em um nível muito alto dentro dessa hierarquia torna a responsabilidade de vocês maior e bem mais direta a mim. Ambos tem feito excelentes trabalhos dentro e fora da Catedral, mas me preocupa saber o nível de relutância que possuem em relação a ordens. – ele se voltou para Draco primeiro. – Sei que é fiel a mim, sei de que lado esteve desde o começo e também sei que detesta ordens. Severo tem questionado muito a forma amigável com que tem administrado o exército. A zona sete atua de maneira muito próxima a você.
- Foi me dada a liberdade de gerir esse departamento da forma como bem me interessasse. – foi tudo que ele respondeu.
- Essa não é a resposta que eu gostaria de ouvir. – Voldemort se pronunciou.
- É engraçada a forma como ainda espera que eu vá agir como seus outros comensais. – disse Draco. – Não vou me desculpar por estar lhe causando suspeitas, mestre. Sabe exatamente o meu tipo de gestão, sabe de todos os benefícios que isso tem trazido ao seu império, sabe que nunca escondi nada, e caso não esteja satisfeito, procure alguém que faça um trabalho melhor do que o meu. Talvez Severo esteja disposto a assumir a posição novamente com aquela velha política que quase o levou ao declínio, certo?
- Eu não gosto de questionar o seu trabalho, Draco. Ninguém poderia fazê-lo melhor do que você. Gosto de trabalhar com pessoas boas e você tem se mostrado mais que capacitado desde que assumiu o cargo, mas me conhece e sabe que se escapar um vago milímetro do seu trabalho, do que realmente deve fazer, eu vou estar lá olhando.
Draco puxou e soltou o ar buscando paciência. Ele odiava aquelas fases em que Severo conseguia horários extras no gabinete do mestre.
- Quantas vezes eu terei que provar minha lealdade? – tentou não se mostrar irritado.
- Algumas vezes você parece não ter ideia do cargo que ocupa. – Voldemort disse – Inúmeras vezes não será o suficiente. Nunca será o suficiente. Eu devo confiar em você todo o segundo e realmente confio, mas devo testá-lo sempre. As pessoas não mudam com facilidade, mas elas mudam. Tenho te testado desde que coloquei minha marca em seu braço e vou continuar o testando, inclusive hoje o testarei.
Draco não gostou da ideia. Franziu o cenho.
- O que quer dizer com isso? – a curiosidade lhe aflorou – O que Hermione está fazendo aqui se eu estou sendo o tópico?
Voldemort negou.
- Você não é o tópico aqui, Draco. Meu herdeiro é o tópico. – ele puxou a pasta que havia deixado de lado e desviou seu olhar para Hermione. – Não gostei do fato de terem deixado o relacionamento pessoal de vocês atrapalhar na eficiência do cumprimento da ordem que lancei aos dois. Hermione apenas engravidou porque eu tive que interferir na situação. – ele puxou a taça de vinho que ingeria e tomou um longo gole. – Também não gostei da rebeldia de Hermione em esquematizar todo um plano de fuga para a amiguinha vivendo debaixo do seu teto. – encarou Draco. – Alguém precisa pagar pelo seu erro. – virou-se novamente para Hermione. – Acha que pode ir contra mim tentando se mostrar forte ao torturar prisioneiros? – o olhar que Hermione mantinha sobre ele era forte, resistente. Se havia algo que ela conseguia fazer era encarar Voldemort. – Aquilo não pagou o débito que você abriu, minha preciosa Hermione. Eu poupei sua vida para que sofresse e até então você tem tido uma boa vida. – estendeu a pasta a ela. – Você queria as informações da criança que acha que é sua, não queria? – Hermione hesitou em pegar – Tome. É tudo seu. Todo o histórico desde as primeiras tiragens na ala das enfermarias. Quero que tenha as informações daquilo que vou tirar de você.
Ela pegou a pasta com receio enquanto lançava um rápido olhar a Draco. Seu primeiro movimento foi abri-la e não guardá-la ao contrário do que Draco faria, mas sabia que Hermione estava sedenta por informações. Diferente do que ele havia pensando desde que recebera a intimação para o almoço no dia anterior, estar ali agora o preocupava e ele conseguia captar cada movimento de tudo. Seus olhos deveriam estar mais atentos do que o de qualquer coruja durante a noite.
Voldemort pegou sua taça de vinho, mordeu um pedaço de seu queijo e deliciou-se com a bebida enquanto tinha os olhos em Hermione. Ela folheava cada páginas com pressa e cuidado ao mesmo tempo. Draco desejou que ela não se mostrasse fraca, que não se mostrasse vulnerável e maleável, mas não foi bem isso que ele recebeu. Os olhos dela começaram a entrar no mundo daqueles papéis e não demorou para que ela se mostrasse encantada e com os olhos em lágrimas. Foi somente então, que em uma virada de página seus olhos assumiram um brilho estranho. Ela franziu o cenho e pareceu olhar um pouco mais de perto a informação que acabara de ler.
- Eu estou esperando uma menina? – sua voz saiu quase num sussurro. Aquela informação batera em Draco como uma notícia completamente inesperada. Hermione ergueu o olhar confusa para encarar o sorriso de satisfação de Voldemort e o apreensivo de Draco. Ele não tinha ideia de qual era o peso daquela realidade ali. – É uma menina. – sua voz saíra mais forte dessa vez. Ela tornara a abrir a boca para dizer algo, mas sua voz nunca saiu. O que aconteceu foi de repente uma de suas mãos apertando com força a espessura da mesa e seu corpo se curvando para frente como se tivesse sentido uma forte dor inesperada. – Draco. – ela o chamou ofegante quase que em socorro e ele se viu levantar também quase que imediatamente. Não. Era um teste. Ele não sabia como agir.
Voldemort ainda tinha aquele sorriso de satisfação e também se levantou.
- Eu pensei ter deixado bem claro desde o começo que eu queria um herdeiro e não uma herdeira. – ele soltou com muita tranquilidade. – Até pensei em deixar você ficar com a criança, mas lembrar do que me deve por causa da Srta. Lovegood me fez considerar que eu não teria paciência para esperar até que pudesse produzir meu herdeiro novamente.
Ela empurrou a cadeira para trás e dessa vez suas mãos apertaram com força o apoio dos braços enquanto ela se curvava e cerrava os dentes para não soltar nenhum gemido sequer. Draco sentia a agonia de correr até ela, mas sabia que deveria ficar imóvel porque mostrar qualquer tipo de preocupação pela vida que ela carregava poderia significar ir contrário a ideia de que sabia que aquela vida primeiramente era de Voldemort, não dele.
Voldemort estalou os dedos e um elfo apareceu em seu serviço.
- Traga a equipe que mandei preparar. – ele ordenou – Narcisa e Bella também.
- Isso pode acabar comprometendo a saúde dela. – Draco se viu dizer algo estúpido em reflexo da agonia que sentia – Ela pode acabar não podendo gerar mais nenhum herdeiro.
- Não se preocupe com isso. – Voldemort respondeu. – A tônica que ela bebeu está apenas a induzindo ao aborto e a equipe que irá atendê-la tomará os cuidados necessários para deixá-la preparada para engravidar o mais rápido possível novamente. Seu pai foi bem claro quando fizemos o acordo do casamento que o nome Malfoy não poderia morrer com você.
- Draco. – a voz dela soou novamente. Ele a olhou a ela parecia querer dizer algo, mas sua luta contra qualquer dor que estivesse sentindo parecia maior. – Não deixe eles... – ela ofegou em súplica – Por favor. - Sim, ele tinha que deixar e de alguma maneira aquilo doía nele também.
A chamada equipe irrompeu pela sala. Eram medibruxos e ele até conhecia alguns.
- Vamos lá. Tirem ela logo daqui antes que isso comece a chegar naquela fase nojenta. – Voldemort gesticulou com as mãos.
- Não! – Hermione lutou quando tentaram auxiliá-la. – NÃO! – ela gritou quando começaram a tentar usar da força.
Alguns dos medibruxos lançaram a Voldemort um olhar de que não haviam estudado para lidar com aquela parte e ele apenas retrucou severamente:
- Ela é só uma. Será que vou ter que contar quantos vocês são?
- NÃO! – Hermione gritou ferozmente enquanto seus rosto se banhava em lágrima. – VOCÊS NÃO PODEM MATAR MEU BEBÊ! – alguém respondeu que ele já deveria estar morto e ela chorou alto expondo uma dor tão forte que pareceu até atingir Draco. – ME DEIXEI! – havia um sofrimento tamanho em seu tom que ela parecia até longe de sua própria sanidade.
Narcisa passou confusa para o lado de dentro sendo guiada por Bellatrix. O primeiro olhar que ela lançou foi para Hermione. Sua mãe não era surpreendida com facilidade, mas Draco a viu colocar a mão na boca enquanto encurtava o passo até ela.
- Hermione. – ela começou a repetir o nome da nora tentando chamar sua atenção.
- ME DEIXE! – Hermione chorou dolorosamente.
- Nós precisamos ir, Hermione. – Narcisa começou a ajudar a equipe. – Está tudo bem. Você precisa ser forte. Se lembra? Precisa ser forte. – a voz de sua voz era mansa e severa ao mesmo tempo. Ela levantou um rápido olhar para Draco antes de ter sua atenção em Hermione novamente. – Vou estar com você.
Draco via aquela cena e não percebeu talvez quando tudo se tornou muito mudo para ele como se fosse um reflexo de seu próprio corpo em como estava reagindo a aquela atmosfera. Todos os seus músculos se mantinham rígidos e ele foi conseguir escutar novamente o zunido do silêncio somente quando seu cérebro lhe mandou a mensagem de que era seguro e ele se localizou na sala vazia ao lado de Voldemort.
- ...um processo muito limpo. – dizia o Lorde das trevas ao seu lado quando seu ouvido tornou a captar sons – Não é nenhum tipo de magia negra e ela não passará por nenhum ritual. Será bem simples e verá que ela estará em casa hoje mesmo. – o tapa no ombro que recebeu fez Draco voltar o olhar para Voldemort com cuidado. – Espero não ter tomado muito tempo de sua agenda. Tem alguma reunião hoje?
Draco piscou e seu próprio cérebro trabalhou rápido para lhe enviar a resposta.
- Não. – respondeu quase que roboticamente – Tenho vistoria nas masmorras. Interrogatório.
Voldemort assentiu.
- Draco. – ele se aproximou bem – Eu quero um herdeiro. – disse bem pausadamente e somente deu as costas para ir embora quando Draco assentiu informando que havia entendido bem.
Os últimos minutos daquela loucura pareciam ter sido deletados de seu cérebro. Ainda precisou do zunido de silêncio dentro de sua cabeça para colocar no lugar tudo que deveria colocar. Devia agir normalmente, como se tudo estivesse bem e para isso precisava pensar que tudo estava bem. Realmente estava. Era um teste. Ele havia passado. Será que havia? Não se importava com Hermione, não deveria se importar, nem com o filho que já não tinha mais. Certo?
Sentiu como se sua cabeça flutuasse enquanto avançava de volta para a ala de seu departamento. Encontrou com Tina logo na entrada que o esperava com a prancheta apertada contra o peito.
- Esse foi um almoço rápido, senhor. – ela comentou e Draco sentia ter a ideia de que havia durado quase um dia inteiro.
- Está tudo pronto nas masmorras? – ele perguntou. Sério demais. Frio demais. Mais até do que costumava ser.
- Sim. – ela respondeu e precisou apertar o passo quando ele simplesmente tratou de tomar o rumo do lugar. – Tem uma lista bastante extensa das celas que deve visitar. – ela dizia enquanto o acompanhava – Os primeiros são os apreendidos daquela...
- Eu sei quem são. – ele a cortou.
As masmorras eram longe. Era um lugar muito diferente do que Hogwarts havia pintado sobre masmorras. Andaram pelos corredores de cela com uma pequena equipe de seu departamento e quando chegaram a primeira que ele deveria entrar Draco percebeu que nem sequer sabia quem iria encontrar.
- Relatório. – foi somente o que precisou dizer para Tina e em segundos tinha uma pasta nas mãos.
Folheou o perfil do sujeito e tentava ler mas as letras pareciam todas embaralhadas. O choro doloroso de Hermione pareceu encher seus ouvidos e ele sentiu sua cabeça latejar. Fechou a pasta irritado e a devolveu para Tina. Entrou na cela, puxou sua cadeira até e sentou enquanto observava os homens de seu departamento mover o prisioneiro e suas correntes até o centro da cela.
- Você não trabalha para a Ordem, trabalha? – começou Draco. Sempre esperava a boa vontade dos prisioneiros. Alguns deles já haviam sofrido psicologicamente o suficiente e abriam a boca sem Veritasserum com facilidade.
- Não sei de que Ordem está falando. – não era o caso daquele prisioneiro.
Draco se mexeu impaciente. Seu cérebro lhe lançou uma imagem de como os medibruxos havia puxado Hermione com força e de como ela lutou. Precisou piscar para limpar sua visão.
- Ordem da Fênix. – disse – Uma organização rebelde. A maior de todas. Você trabalha para eles ou não trabalha?
- Não trabalho. – o prisioneiro respondeu.
Realmente não deveria trabalhar. Não havia nele nenhum perfil de ataque e personalidade que o ligasse a Ordem.
- Para qual grupo trabalha? – perguntou. Sua cabeça latejou novamente e aquele zunido veio acompanhado com o som de Hermione gritando para que a deixassem.
- Eu não trabalho para ninguém.
- Tente ser mais convincente. – Draco se levantou sentindo que havia uma agonia crescente dentro de si. A dor de Hermione. O sorriso de satisfação de Voldemort. Agachou a frente do homem. – Para qual grupo trabalha? – tornou a perguntar.
- Eu já disse que não trabalho para ninguém. – repetiu o homem.
- Não me faça querer engolir essa mentira. – Draco não sentia um pingo de paciência.
- Posso te fazer engolir bastante coisa, uma delas poderia ser meu pau. – cuspiu o homem.
Draco se deu conta de si somente quando escutou o urro do homem e seu punho latejando.
- Para qual grupo trabalha? – sua pergunta se tornava cada vez mais impaciente.
O homem precisou de um tempo para cuspir um dente e respirar.
- Eu já disse...
Antes que ele terminasse Draco lhe enfiou o punho fechado novamente contra o rosto. O homem cuspiu sangue e Draco ao invés de enxergar o homem, enxergou a realidade de que o filho que Hermione carregava. Sua filha. Estava morta. Morta. A palavra lhe pesou.
- PARA QUAL GRUPO TRABALHA? – rugiu e enfiou novamente o punho no homem. – DIGA PARA QUAL GRUPO TRABALHA! – enfiou mais um, mais outro. Seu cérebro o fez se lembrar do som doloroso do choro de Hermione. – PARA QUAL – mais um – GRUPO – mais um – TRABALHA? – havia tanto ódio em si que seu braço ia contra o homem com uma violência que Draco não conseguia contar. Mais um soco, mais outro, mais outro, mais outro, mais outro e ele urrou sentindo todo o sangue em sua cabeça quando o homem perdeu a consciência e ficou no chão. Draco se afastou ofegante, a adrenalina ainda em suas veias, o punho dormente. O silêncio correu a cela e o zunido em seu ouvido também. – Acorde-o. – ordenou para seus homens. A imagem de Hermione não saia de sua visão.
- Senhor, talvez seja melhor adiar os interroga...
- EU DISSE PARA ACORDÁ-LO. – rugiu Draco. – Nós ainda temos uma tarde bem longa.
N/B: Quem mais está completamente chocado com esse capítulo? Eu sinceramente nem sei o que dizer. É sério, eu não tenho palavras. Só que preciso urgentemente do próximo capítulo para saber como que vai ficar a situação com Hermione, Draco, Voldemort. Ah, eu nem sei. Não sei mesmo. Só sei que a autora precisa acabar com essa minha ansiedade antes que eu devore todas as unhas da minha mão, me fazendo recorrer às do pé, o que seria bem nojento. Então, por favor, autora, não me deixe chegar a esse ponto. Estou literalmente gaguejando em pensamentos agora. Não sei o que pensar. Que agonia. Quando o Voldemort falou que o motivo podia ser um pouco desagradável, meu sangue gelou. E essa nota está ficando gigantesca, então me vou antes que escreva algo que me arrependa depois.
NA: Olá, fellas!! :) Aqui vamos nós mais uma vez novamente outra vez! Esse capítulo teve quase o dobro de palavras que normalmente os capítulos vem tendo até agora. Espero que isso compense a demora da espera de vocês. Não sei se me expressei errado na minha nota do capítulo anterior, mas eu quis dizer duas partes relacionadas a Ordem que no caso foram uma do Rony e outra do Harry. Mas de qualquer forma, o capítulo ficou grande então não deu nem muita chance de ficar triste por causa disso. :) haha
Então vamos lá as notas desse capítulo:
Sem mil pedras para cima de mim, ok?! Pensem que tudo é por um bem maior!!!!!!!! E pobrezinha da Hermione genteee!! Não merecia! :(
Não me matem!!! Um herdeiro ainda há de vir!
Me contem o que pensam agora depois desse fatídico acontecimento!
Posso confessar que eu apenas adorooo o Draco reagindo no final? Ele consegue ser tão peculiar...
Notem que o Draco tem alguns problemas em usar a parte sentimental de sua bela pessoa pelo fato de julgar estúpido o sentimento estranho que ele estava tendo sobre o dia. Hermione considerou importante porque ela esta acostumada com isso e até tentou ajudá-lo (Hermione coração infinito de cabe até inimigos), mas ele a rejeitou.
Ahhh, não dava pra esquecer! Primeiro ponto de vista de Harry James Potter! Será que ficou claro o quão perdido ele tem estado dentro dessa guerra toda?
Landa, apenas faleci com toda a sua descrissão! Juro! Awesome! Tenho pensado em algo um pouco menos Gossip Girl, sem esse lance da intriga, que eu gosto bastante. Minhas fics sempre tiveram um pouco esse lado e minha imaginação também (haha), daí eu tava querendo escapar para uma coisa mais diferente, mais sutíl... não sei... mais aquelas ideia de tudo se liga... A gente não chegou até aqui para escutar um "Eu te amo" de conchinha na cama... por mais que isso seja fofo. *-* Adorei sua iniciativa de me contar!! Fiquei bastante surpresa e vou até confessar que já cheguei a considerar algo parecido, acredita?! hahahahaha Só que a parte da Pansy seria mais reveladora. hahahaha Eu acho que Draco e Pansy tem uma história muito longa para acabar por qualquer coisa. Ele sempre voltou para ela, certo? O que significa que eles já passaram por muita coisa. A Pansy vem sendo bastante paciente... pensem mais um pouco sobre ela.
Pessoal, deixem seus comentários porque escrever esse capítulo foi um su-fo-co! Tive mil coisas esse mês, viajens, problemas, voos cancelados, brigas de relacionamento, contas pra pagar, dinheiro faltando e consegui terminar o capítulo! Em cima da hora, mas terminei! E que capítulo grande! Me mandem suas mensagens de incentivo! hahahaha
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Msg do coração agora: Me desculpem por não ter conseguido administrar meu tempo para responder os comentários! Juro que logo todos terão suas devidas respostas!
Outra msg do coração: Pessoal, eleições estão chegando aí no Brasil! Escolham seus candidatos com MUITO cuidado! Não se deixem levar por qualquer historinha ou blablabla! Debates políticos são uma grande farsa. Pequise o plano de governo de cada candidato e vote em quem você acredita! Também vale lembrar que saber sobre a política de outros paises e a história deles, principalmente os desenvolvidos, ajuda bastante na escolha do seu canditado. Assim você sabe quem ta querendo fazer crescer e quem ta querendo só estar no poder! #ficadica hahahaha
Comentários (28)
Me amarrota que eu to passada, CHOCADA!! como assim, voldemort fez isso, que odio eterno!! Tomara que o Draco acorde logo pra vida e bole uma vingança bem maligna!!! Tomara que esse episódio de dor sirva pra unir a mione e o draco por uma causa em comum!! vou aguardar ansiosa pelo próximo, essa é definitavmente uma das melhores fic q já li!!
2014-09-18Estou em choque com esse capitulo! poderia esperar tudo menos isso... As reações (tanto da Hermione quanto do Draco) foram impactantes. Gostei do ponto de vista do Harry, e a Luna ainda me deixa um pouco confusa, sobre o que ela é de verdade...Ainda estou em um momento de choque por tanto não considere muito esse comentário!Parabén pelo capitulo explêndido! E até mês que vem... ;)
2014-09-17Eu não sei... não sei como escrever... estou em choque... não sei o que dizer... por que? Por que vc fez isso acontecer?? POR QUEEEE???????? Estou sem palavras!! Não sei nem o que pensar agora. Esse foi o capítulo mais incrível que já li em toda a minha vida. Nessa leitura eu fiquei curiosa, com raiva, sorri, pulei de alegria, gritei junto com a Hermione e simplesmente meu coração se desfez todinho... em pedaços... e agora eu não sei o que mais fazer. Quando foi chegando no final eu tive que parar, me afastar do computador e lutar pra não entrar em desespero quando comecei a pensar ‘isso nao ta acontecendo! isso nao pode ta acontecendo! isso não ta acontecendo!!!‘Ok. vamos lá. considerações sobre o capítulo:rolará alguma coisa entre Rony e Luna? Porque não sei não... to desconfiando...desde quando o Harry é tão otário?o jantar dos Malfoy foi simplesmente super bem escrito e retratado! Adorei!!Acho que nunca odiei tanto o Voldemort quanto agora!Espero que capítulo que vem o Draco acorde e perceba que foi tudo apenas um pesadelo!Mal posso esperar pelo capítulo que vem! Um mês é muito tempooooooo!!!!!! Eu não sei nem que rumo a história vai tomar agora depois de tudo isso que aconteceu. O jeito é confiar em vc!Meu Deus, essa fic é tipo a melhor do mundo inteiro!!! Uma história nunca me pegou tanto quanto essa! Vc escreve de um jeito que faz a gente entrar no negócio e quase viver tudo. É tão bem feito! Tão bem pensado! Tão bem bolado! Não tem um capítulo que me desanime! Todos eu tenho vontade de aplaudir no final!! Vc é simplesmente GENIAL! Nunca pare de escrever na sua vida! Vc é ótma e tem muito talento!!!Até mês que vem!!
2014-09-14Capítulo mega emocionante!!!Vale muito a pena esperar um mês para ler o próximo.Tadinha da Mione, deve ser muito difícil para uma mulher perde um filho.Mas acredito que quem vai sofrer o pênalti será Draco por não ter a socorrido, então o próximo baby pode demora.Draco mostrando que tem sentimentos , mas não sabe como lidar, é muitoais fácil para ele fingir que não tem.Já estou imaginando o final, não que quero que termine logo, pode demora muitos capítulos ainda. Mas agora já consigo ver um futuro em que Hermione será pra sempre uma Malfoy. E de preferência casada com Draco .
2014-09-12Eu não tinha me tocado do problema de ser uma menina até voldemort fala com todas as letras que ele queria um herdeirO, tô aqui sem palavras, monte de coisa passou pela minha cabeça, desde o Draco pegando a hermione pela mão e fugindo, até ele aparatando dali e indo pedir ajuda pro harry Hahahahah eu imaginei uma menininha loirinha se agarrando na perna do Draco, pedindo pra brinca com ela, aaaaaah me diz que bem lá no final terá uma cena assim, por favoor. Beiijos e continue escrevendo esse fic maravilhosa, e que cada capítulo seja maior hahahahaha
2014-09-12Chorei e sofri muito caramba o Draco deve estar muito perdido no proprio interior dele. Espero que a Hermione nao odeie o Draco e entenda que el nao tinha como lutar, mas porra era a mininha deles, a garotinha do Draco. Voldemort se superou no quesito maldade e vingaça e essa Bella entao (Bitch das Bitch) mita maldade. Poxa agora quero o outro capitulo
2014-09-11p.s. desculpa o comentario confuso e com erros de portugues, nao to conseguindo ver o teclado bem ainda rs
2014-09-08acho que fazia tempos que não chorava tanto e sentia tanto odio em um capitulo como hj. Qndo percebi o que ele ia fazer sofri como se eu fosse a mione. Ai ai fenomenal esse episodio. E tava tao feliz qndo eles dizeram que iam salvar a filha da mione. Foi meio patetico ver o harry de agora, pq ele esta extremamente patetico do jeito que ele esta.Que bom que conseguiu escrever e que bom que e quase o dobro dos normais. Pra mim quanto maior melhor rsrsrsrs. Foi otimo o capitulo. tava borbulhando de romantismo qndo eles acordaram de manha, meu coração tava acelerado. rsrsrs dai na hora do almoço ja estavaem fagalhos.Bom talvez isso faça Draco acordar pra algumas coisas em relaçao ao Lord e ter sua vontade de manda-lo pro inferno renovada ainda mais.depois do que ele fez. To torcendo por isso, que a cedo do Malfoy de acabar com Voldemort multipliquepor 100, pq ele poderia nao querer essa filha, mais era dele e ele nao divide nada, empresta nada muito menos perde algo que era dele.dia 10 do 10 apresento minha mono dai serei um jovem engenheira desempregada e com muito tempo livre e voltarei aqui melhor rssua fic anima meu mesespero que esteja bem agora depois desse seu mes conturbadobjos
2014-09-08Eu estou pasma, Voldemort consegue me fazer ter mais ódio a cada capitulo que passa, essa fic me deixa arrepiada, estou adorando ver essa relação do Draco, Hermione e Narcisa uma familia fria porém nem assim estão deixando de ser familia, isso da Hermione perder o bebe doeu meu coração, mas enfim, mal posso esperar pelo próximo mes com o próximo capitulo.
2014-09-08.................. ................ eu.... eu nao sei o que comentar.... nao sei... caramba... eu... CARAMBA!
2014-09-08