Capítulo IX
Capítulo
Nove
Silêncio... é incrível como em
todos os momentos decisivos, o silêncio paira no ar... e, aquele silêncio que
pairou na Sala Precisa era extremamente ansioso; Anne abraçava-se,
encarrapitada na borda da cama, sem coragem para olhar Harry e encarando seus próprios
pés como se estes fossem muitíssimo interessantes. O garoto começara
lentamente a falar, porém parara na primeira palavra. Tremia da cabeça aos pés
e parecia indeciso...
- Eu... - recomeçou, vacilando às vezes. - Anne, eu... sinceramente... isso
tudo é... uma... - Mais um minuto de silêncio. Aquilo tudo era extremamente
estressante. E chegava a dar uma dor no peito de ansiedade. - mentira... - Ninguém
mais falou nada; nem Harry teve coragem de continuar a falar.
No segundo seguinte, a garota levantou-se ainda abraçando a si mesma e caminhou
penosamente para a porta, saindo do vestíbulo... nada fazia sentido... nada...
e, enquanto ia para a sala comunal da grifinória, Anne sentia o cérebro em um
enorme estupor, sem conseguir pensar em nada... sem conseguir reagir a nada...
finalmente, quando percebeu o que acontecera, já estava escondida sob seu
edredom, as cortinas roxas cerradas à sua volta e o travesseiro sobre o rosto;
as lágrimas salpicavam pelo lençol e ela chorava como um bebê.
*-*
- BEM-VINDOS AO CAMPEONATO DE QUADRIBOL DE HOGWARTS - berrou o locutor grifinório,
anunciando a partida "Grifinória versus
Sonserina". - O CAMPEONATO ENTRE AS CASAS TÃO ESPERADO CHEGA, FINALMENTE!
HOJE, NÓS TEREMOS UM JOGO E TANTO E A VOLTA DE HARRY POTTER!
Várias exclamações de surpresa de todas as arquibancadas puderam ser ouvidas
e, a arquibancada da Grifinória aplaudiu com vontade, berrando alegremente o
nome de Harry.
- E O JOGO ESTÁ PARA COMEÇAR. VAMOS LÁ! E AS BOLAS ESTÃO NO AR!!!!! - disse
Dino, em voz alta, a profª McGonagal ao seu lado, como que para orientá-lo e
impor limites no que ele iria falar. - E VEJA SÓ, QUE M...!
A professora ao seu lado ralhou com ele, dizendo que ele deveria ter mais
respeito para com os ouvintes. O jogo continuava... lá em cima, sobrevoando o
toldo verde-esmeraldino entalhado no estádio, Harry segurava, cerrando os dedos
sobre o cabo da vassoura com força; hora ou outra, podia ver um risco dourado
entrecortando o céu azul de domingo, porém, logo, o risco desaparecia.
Finalmente o campeonato de quadribol chegara e, embora o garoto amasse aquilo,
parecia que quadribol não conseguiria absorver toda a sua tristeza; àqueles
dias que seguiram sua separação com Anne, ele vivera excluso dos amigos,
sempre andando sozinho, abraçado a algum livro ou comendo alguma coisa para
ocupar as mãos. As aulas arrastaram-se monotonamente junto a testes de preparação
que, para a maior parte dos estudantes, eram chamados de "testes para f*deção".
A atenção de Harry voltou-se para o jogo quando ele viu, no céu opalescente,
o risco dourado contornando uma das hastes, do outro lado do campo; agilmente,
ele sobrevoou o estádio e pôde ver Malfoy voando em seus calcanhares, como
para ter certeza que conseguiria pegar o pomo-de-ouro; habilmente, Harry tentou
voar o mais rápido que pôde, tateando no céu até sentir as asinhas relutando
entre seus dedos.
No momento seguinte, uma sineta soou por todo o gramado e os jogadores
aterrisarem suavemente, Harry erguendo a mão onde estava o pomo-de-ouro. O jogo
acabara e a Grifinória ganhara.
Alegremente, os estudantes foram voltando para o castelo, comemorando a vitória
enquanto a Sonserina bufava de raiva.
*-*
- Harry...? - Ele ouviu a voz de Hermione e virou-se.
- Ah... oi - suspirou, tristemente, sentando-se na poltrona defronte para a
lareira e encarando o fogo crepitar.
- Parabéns... Harry - continuou Hermione, falando calmamente, como que com medo
da reação do garoto. - Foi um jogo e tanto...
- Ah... sim... sim - disse ele. -, hum... eu... não estava prestando muita atenção
nele, não é...
- O que está acontecendo? - perguntou Hermione, sentando-se perto dele e
chamando sua atenção para que ele olhasse para seus olhos.
- Nada - respondeu Harry, esforçando-se para não olhar para os olhos dela e
apenas encarando os próprios joelhos magricelas.
- Ah, Harry - chilreou Hermione, levantando-se e segurando-lhe o punho. - Claro
que está... mas parece que toda a vez que você tem problema desconta em mim e
no Rony, não é? No quinto ano também foi assim - Ela chunchou, irritada. - É
impressionante! E agora, você brigou com uma das suas namoradinhas
e agora vem com palhaçada para os seus verdadeiros amigos. Harry! Você devia
tentar pedir ajuda a nós e não ficar assim! Desculpe se o que eu vou dizer vai
te machucar, mas vai a merda!
Harry por um instante preferiu não falar nada; dois terços do que a garota
falara era, de fato, verdade. Porém, no momento seguinte, ele procurou forças
onde não havia e disse, com a voz retumbante.
- Bem... seria mais fácil falar com vocês se vocês não estivessem se
beijando de cinco em cinco segundos... vocês não cansam não? Nossa! E é
estressante, sabe?! É decididamente estressante.
- Pelo menos, nós somos um casal de verdade
- disse Hermione, desprezando-o. -, e não apenas duas pessoas que querem fazer
sexo...
- Cala a boca para não falar o que não sabe - murmurou Harry, perigosamente.
- Era isso, não é? - continuou a garota. - Aquela menina... Anne... o nome
dela... você estava só transando com ela. Nunca teve um sentimento para com
ela que passasse de desejo. Você sabe o valor que sexo tem, Harry? É algo íntimo,
apenas para quem se ama... mas você? Você é um sujeito tão desprezível que
só queria usá-la!
Ele levantou-se, girando nos calcanhares.
- Eu me recuso a discutir com você -
disse, com sarcasmo. -, agora, boa noite, srta. Granger.
Subiu as escadas que davam para o dormitório, sentindo o peso do que a garota
dissera sobre as costas; o pior de tudo, era saber que tudo que ela falara era a
mais pura verdade; a verdade, geralmente, dói quando é revelada de maneira
descarada.
Assim, Harry cerrou as cortinas envolta de si, desprezando um Rony que abriu a
boca para falar quando o viu entrar no quarto. O céu, visto pela janela, estava
azul escuro, perolado de estrelas brilhantes. Como ele queria que nada daquilo
tivesse acontecido... como ele queria que a sua vida fosse feliz novamente.
Sem Anne para fazer sofrer. Sem Cho para estragar seu romance com Gina. Sem
garoto louro e bonitinho para dificultar a volta dela com Harry. Uma lágrima
rolou pela face dele enquanto ele tentava dormir...