A final do campeonato

A final do campeonato



                A semana foi bastante tensa, com todas as provas finais. Não tinha tempo para mais nada a não ser estudar. Eu nunca fui um aluno exemplar, mas não poderia ser reprovado justo no meu último ano. Sem contar que decidiram fazer a final do campeonato no mesmo dia da formatura. E por falar em formatura, a casa estava um caos. Gina estava em tempo de ter um colapso nervoso por causa do vestido de formatura.


                Eu não falei mais com Hermione desde quando ela voltou para o colégio. Um pouco porque eu não tinha tempo, e muito por que eu estava tentando me distanciar dela. Até que eu estava me saindo bem. Por outro lado Tasha ficava mais insuportável a cada dia, e todos os dias, Gina e Harry em perguntavam por que eu ainda estava com ela. Era simples: Eu queria esquecer Hermione. Eu sei que isso é errado, que não podemos usar uma pessoa para esquecer outra, principalmente quando elas são completamente diferentes, mas Tasha passava tanto tempo me ligando e ficando agarrada comigo, que ela chegava a ser mais chata do que Lilá. Sim, exatamente. Eu nunca imaginei que poderia existir alguém mais chata do que Lilá, mas existia. E isso era bom, já que eu não tinha tempo para pensar em Hermione.


                No dia de sabermos os resultados das provas, nós tiramos um horário livre para treinarmos um pouco para o campeonato. Estávamos muito bem, e quanto mais perto chegava o dia, mais eu sentia que íamos ganhar. Depois do treino, fomos para o vestiário, onde os caras falavam sobre quem convidar no baile.


- É claro que eu vou convidar a minha ruivinha. – Harry falou orgulhoso.


- Só Harry mesmo pra ter coragem de namorar a irmã caçula do capitão do time. – Simas brincou e todos nós rimos.


- Acho bom mesmo você levar a minha irmã, se não você não ia jogar na final. – Eu brinquei.


- E é claro que o Roniquinho vai chamar a Tasha não é? – Dino deu tapas em meu ombro.


- É... Não tenho outra opção. – Eu não escondi minha decepção.


- Na verdade você tinha... Mas perdeu para o Krum. – Os rapazes riram, mas eu e Vítor ficamos sérios, olhando um para o outro.


- Você vai convidar Hermione não é Krum? – Simas perguntou.


- Claro que vou... Só estou esperando a ocasião, ela deve ser tratada como uma princesa. – Dizendo isso ele me encarou, e a minha vontade era de expulsá-lo ali mesmo do time. Mas eu não poderia misturar problemas pessoas com o futebol, principalmente quando Hermione não fazia mais parte da minha vida pessoal.


 


 


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                Eu estava um pouco ansiosa para a entrega dos resultados. Mesmo que eu já sabia que ia passar, eu sempre ficava aflita, ainda mais que era o último ano no colégio. Apesar de tudo, eu ia sentir falta desse clima de colegial. Da minha invisibilidade durante tantos anos, e de repente, ficar tão conhecida em todo o colégio. Eu não consegui me acostumar com as lentes, e voltei a usar os meus óculos. As roupas que Gina tinha me emprestado, eu as devolvi, sentia falta das minhas. Pensei que quando eu voltasse a ser a verdadeira Hermione, as pessoas voltariam a me tratar como uma pessoa invisível, mas pelo contrário, eu andava pelo corredor, e sempre tinha alguém me cumprimentando ou me dando bom dia. Era irônico como esperei ser conhecida na escola durante tantos anos, e justo na ultima semana de aula eu consigo isso.


                Os professores entregaram os resultados por sala. Recebi os meus resultados, e um parabéns de cada professor, por ter conseguido as melhores notas do colégio. As pessoas me aplaudiram, e eu me senti um pouco envergonhada, mas muito orgulhosa.


- Eu gostaria de conversar com vocês dois, a sós. – Snape disse para mim e para Rony. Nós os seguimos pelo corredor da escola, temendo o que ele iria fazer ou dizer. Entramos em sua sala, e ele fechou a porta, olhando para nós com a mesma expressão fria de sempre. – Queria dizer, que graças àquela excursão que fizemos, que vocês tiveram a infelicidade de ficarem perdidos, vocês tiraram a maior nota da sala.


- O que? – Perguntamos juntos.


- O objetivo do trabalho era conseguirem se virar, sabendo como sobreviveriam se estivessem sozinhos em uma floresta, e vocês ficaram literalmente sozinhos, e conseguiram se virar muito bem. Por isso, eu e os outros professores escolhemos vocês dois como oradores da turma.


- Mas orador é apenas um. – Eu disse.


- Parabéns Granger. – Ele disse irônico. – Mas nesse caso serão os dois. Podem dar conta disso?


- Sim Senhor, podemos. – Rony disse.


- Ótimo... Podem ir agora.


                Nós dois saímos em silêncio da sala de Snape. Andamos pelo corredor (agora vazio) e eu dei mais uma olhada no colégio. Queria guardar várias lembranças daquele lugar.


- O que está olhando? – Ele me perguntou.


- Quero guardar recordações daqui.


- Você não deve ter muita coisa pra guardar daqui. – Sua frase soou como um deboche.


- Pra falar a verdade, tenho sim... Fiz muitas amizades que valeram a pena ser lembradas... Outras eu não faço questão.


- Como a amizade do Vítor não é? – Eu poderia jurar que ele estava com ciúmes.


- Sim, como a amizade do Vítor. – Nós saímos no colégio e seguimos o caminho de casa. – Vítor tem sido um príncipe pra mim durante esses dias.


- E você já pensou que se talvez não tivesse ficado doente ele não ia ter se reaproximado de você?


- Ronald para de ter essas teorias malucas. Eu e Vítor estamos dando muito certo, e não importa o que você fale, ele vai continuar sendo um cavalheiro para mim.


 


 


 


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                Nós dois ficamos em silêncio, ouvindo apenas o barulho dos nossos passos no chão. Olhei para Hermione e ela estava com a mão sobre a barriga. Eu sabia que ela sentia alguma coisa.


- Está se sentindo mal? – Eu perguntei.


- Não. – Ela disse fria. Eu parei e fiquei olhando para ela. – Estou um pouco enjoada.


- Você comeu hoje?


- Olha Rony... Você realmente não tem que se importar...


- Hermione.


- Não... Fiquei muito tensa por causa dos resultados que acordei tarde e não tomei café. - Ela abaixou a cabeça, ainda com as mãos sobre a barriga.


- Vem. – Eu segurei sua mão e a puxei carinhosamente.


- Aonde vamos?


- Você precisa comer.


- Mas estamos a três quadras de casa.


- Eu sei. – Eu continuei andando, e parei em uma lanchonete. – Vamos nos sentar aqui está bem?


- O que está fazendo Ronald?


- Hermione, pode se sentar, por favor? – Ela respirou fundo e se sentou, cruzando os braços. Ela mal sabia que eu adorava quando ela ficava emburrada. Eu fui até o balcão, e pedi um sanduíche e um suco natural.


 


 


 


 


 


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                Eu não estava entendendo por que ele fazia isso. Preocupava-se comigo, me ajudava, e logo depois me tratava como se eu fosse uma qualquer. Eu estava cansada daqueles joguinhos dele, e estava cansada de ficar pensando nele a maior parte do meu dia. Eu estava decidida a esquecer de Ronald Weasley.


- Aqui... – Ele colocou um prato com um sanduíche natural na mesa, e um copo com suco.


- Obrigada.


 Eu não quis começar uma discussão, afinal ela não levaria a nada, e eu estava realmente precisando me alimentar. Comi o meu lanche e nós dois ficamos calados, sem dizer nada. Algum tempo depois, eu terminei de comer, e Rony não me olhava em nenhum momento.


- Podemos ir agora? – Eu perguntei.


- Se sente melhor?


- Olha, Ronald... Precisamos conversar. – Eu disse sincera. – Não te entendo. Realmente não entendo. Depois de tudo, t-u-d-o  que nos aconteceu, você fica querendo me ajudar, e fica preocupado comigo. Me diz... Por que ?


- Eu não fico preocupado com você. – Ele falava olhando para sua própria mão.


- Ah não, imagina. – Eu ri ironicamente. – Você me trata feito uma qualquer por vários dias, e depois é só eu sentir uma dor ou passar mal e você me ajuda. Você tem pena de mim, é isso? – Ele não respondeu, e continuava com a mania de não me olhar. – Eu não preciso que você tenha pena de mim Ronald. Não preciso mesmo! Cometi vários erros com você, o principal deles foi dizer que te amava. Hoje eu percebo que não poderia te amar, por que você não se preocupa com mais ninguém além de você, e não é me comprando lanches ou me levando ao hospital que você vai demonstrar o contrário. Te dei duas chances Ronald, duas. Você simplesmente poderia ter dito que não queria nada comigo... Mas ao invés disso você preferiu me magoar, e me machucar. Está satisfeito com isso? – Mais uma vez ele ficou calado. – Ronald, olha pra mim!


- Não. – Ele se levantou. – Já paguei o lanche. Estou indo embora. – Ele se virou e saiu andando. Aquilo fez com que eu sentisse mais raiva ainda, e eu me levantei e fui atrás dele.


- Tá vendo o que você faz? Você sempre faz isso! Me deixa nessa dúvida! Você me confunde Ronald, faz com que a razão e o coração entrem em guerra, e eu estou cansada disso. Não quero mais a sua ajuda, pra nada. Eu posso desmaiar na sua frente que não quero que você me ajude. – Nesse instante ele parou de andar, e eu respirei fundo tomando fôlego. – Todos os meus amigos foram me visitar no hospital... Me levaram flores, me deram presentes... E você nem ao menos me ligou. Nem ao menos perguntou se eu estava bem. – Minha voz começou a falhar, e eu sentia que ia chorar, mas não queria que fosse na frente dele. Ele não merecia minhas lágrimas.


- Até mais Hermione. – Ele disse simplesmente, andando em direção à sua casa.


- EU TE ODEIO RONALD WEASLEY! – Eu gritei antes de começar a chorar. Ele não parou, não se virou, apenas continuou andando, com as mãos no bolso. Eu me sentei na calçada e me senti a pessoa mais idiota de todo o mundo. Como eu pude amar uma pessoa como Ronald Weasley? Insensível, ego enorme, mimado, não ligava para ninguém além dele mesmo, e adorava magoar as pessoas. Eu me sentia idiota por chorar daquele jeito... Mas era inevitável, a dor era maior.


 


 


 


                **


 


                Mais tarde naquele dia, eu fui à minha consulta. Era minha última consulta do mês, e eu estava ansiosa. Doutor Márcio era uma ótima pessoa, mas eu não via a hora de não precisar mais fazer exames. Por fim, quando terminamos nossa última consulta, ele pediu para que eu me sentasse.


- Muito bem Hermione... Estou muito orgulhoso. Você está se cuidando bem, se continuar assim podemos fazer apenas uma consulta por ano. – Ele disse sorrindo.


- Sério?


- Sim. Parabéns. Espero que continue assim.


- Obrigada! – Eu disse animada. – Nem acredito que não vou precisar mais fazer esses exames chatos.


- Mas você tem que me prometer que vai se cuidar e se alimentar bem, como está fazendo.


- Sim, eu prometo.


- Ótimo! – Ele sorriu. – E por onde anda o seu amigo?


- Amigo? Que amigo?


- Eu não me lembro do nome dele... Acho que era... Roberto... Ricardo... Ele é ruivo.


- Ronald?


- Isso! Ronald Weasley. Ele não vem mais por aqui?


- Como assim “mais”?


- Você não sabia? Ele dormiu aqui no hospital as duas noites que você ficou internada. Seus pais voltavam para casa para descansar e ele ficava aqui com você. Um ótimo garoto... Não pregava os olhos enquanto não amanhecia. Eu fiquei um pouco preocupado com ele... Ele sempre saía daqui e ia direto para o colégio. Imagino que deve ser um ótimo aluno... Ele estava muito interessado na medicina.


                Eu não consegui responder. Rony foi me visitar no hospital? E passou a noite comigo? Por que ele não tinha me falado nada? Por que não me chamou de idiota quando eu joguei tudo aquilo em sua cara, mais cedo? Eu me senti a pior pessoa do universo. Uma onda de remorso tomou conta de mim.


                Saí do consultório sem saber o que fazer. Eu não poderia simplesmente chegar nele e dizer que sentia muito ter falado daquele jeito, e que eu estava arrependida. Principalmente que ele ainda era o errado da história. Se ele se preocupava tanto comigo, por que não dizia isso?


 


 


 


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                Harry estava na minha casa naquela tarde. Ele e Gina conversavam o tempo inteiro, mas eu não prestava atenção. Sempre vinha em minha mente Hermione dizendo que me odiava, e o quanto eu tinha sido errado com ela. E o pior de tudo é que ela tinha razão.


- RONY! – Harry me jogou uma almofada.


- QUE FOI? – Perguntei bravo.


- Tá voando aí cara? Perguntei se você já chamou a Tasha pro baile.


- Ah... Não. Ela se auto convidou. – Gina e Harry começaram a rir. – Ela disse que era pra eu passar em sua casa às nove horas em ponto.


- Isso sim é um auto convite. – Gina brincou e os dois começaram a rir.


- Vítor ia chamar Hermione hoje. Ele vai levá-la pra jantar. – Harry disse me soando como uma provocação.


- Mesmo? – Gina perguntou. – Que coisa mais linda.


- É... Ele está gostando dela eu acho. Quem sabe mais pra frente ele não a pede em namoro.


- Eles até que combinam.


                Eles não sabiam que eu estava ali? Ou estavam falando de propósito para me provocar? Se queriam me provocar, eles conseguiram. Me levantei com raiva do sofá e subi as escadas indo para o meu quarto. Lá pelo menos ninguém falava que eu era errado e idiota. E lá eu não precisava pensar em Hermione o tempo inteiro... Pelo menos eu achava que não.


 


 


 


 


 


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                Vítor realmente estava sendo um príncipe comigo. Me levou para jantar em um restaurante vegetariano, onde obviamente só serviam comidas saudáveis. Era tudo o que eu precisava. Conversamos bastante durante todo o jantar, e então ele me levou até minha casa.


- Obrigada Vítor. Me diverti bastante. – Eu sorri.


- Eu que agradeço a sua companhia. – Ele sorriu de volta. – Hermione... Será que seria pedir demais você ir ao baile comigo?


- Uau... Eu... Adoraria Vítor. – Eu sorri.


- Isso é ótimo! Eu passo aqui em sua casa depois do jogo, está bem?


- Sim, está ótimo!


- Você vai à final não é? Pra ver minha espetacular defesa? – Ele riu.


- Claro... – Eu disse disfarçando meu desanimo. A ultima coisa que eu queria era ir nesse jogo.


- Então nos vemos amanhã. – Ele beijou meu rosto e eu sorri para ele.


- Até. – Ele entrou no táxi que nos levou até minha casa e foi embora. Eu respirei fundo, eu realmente não queria ir naquele jogo.


 


 


 


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                Eu estava muito nervoso com a final. Não conseguia nem comer... E isso era um caso grave. As pessoas passavam ao meu lado me desejando boa sorte, mas era como se tudo estivesse embaçado, e as vozes baixas demais para que eu conseguisse ouvir. Meu nervosismo estava passando dos limites. Nunca fui de ficar ansioso ou nervoso, mas nesse dia era diferente. Era o último jogo do nosso time, seria nossa última chance de conseguirmos conquistar um título para o colégio, e eu não tinha chegado tão longe com meu time para perdemos no ultimo instante.


                Fui até o vestiário, e não prestava atenção em absolutamente nada que me falavam. Parecia que eu era o único que estava nervoso daquele jeito. Todos brincavam e riam, como se nada estivesse acontecendo.


- Onde está Harry? – Eu perguntei para Simas.


- Ele estava no celular lá fora, já deve estar vindo.


                Ótimo. Era só o que me faltava. Meu melhor atacante estava namorando minutos antes de entrarmos para o jogo mais importante até aquele momento. Eu comecei a me sentir péssimo, não era possível que só eu estava nervoso daquele jeito.


 


 


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- Harry, eu não estou muito a fim de ir. – Eu falava no telefone deitada em minha cama.


- “Hermione, por favor. É a final! Eu quero que minha amiga esteja presente. E Gina está lá na arquibancada sozinha. Não queria deixá-la sozinha.”.


- Eu não estou preparada pra isso Harry. Rony é o capitão do time... E eu não vou me sentir a vontade...


- “Hermione, não está na hora de vocês dois pararem com esse orgulho estúpido?”.


- Não. Rony me magoou Harry, e isso eu não posso perdoar.


- “Mas você mesma disse que estava arrependida por ter brigado com ele, depois que descobriu que ele passou a noite com você no hospital”.


- É, eu disse. Mas isso não apaga o fato dele ter me feito de boba. Eu disse que amava ele duas vezes, e ele não ligou. Não foi suficiente pra ele.


- “Tá bem Hermione, Rony vai me matar se descobrir que eu te contei isso, mas eu vou falar porque não aguento mais vocês dois nesse sofrimento. No dia de você sair do hospital, Rony encontrou com Vítor lá. Eles começaram a discutir porque Rony perguntou o que ele estava fazendo lá, e Vítor jogou na cara de Rony que quem não deveria estar ali era ele. Disse que Rony não era homem o suficiente para cuidar de você, e que ele só ia te magoar. Falou que para o seu bem era melhor ele se afastar de você”.


- Vítor... Disse isso?


- Disse. E não me pergunte por que Rony deu ouvidos a ele porque eu não sei. Vítor na verdade é um grande idiota. Ele gosta de você, mas não quer te ver feliz com quem você realmente gosta. No fundo ele sabe que você nunca vai gostar dele como gosta de Rony, e isso faz com que ele sinta inveja e faça todas essas coisas. Rony te ama Hermione, eu tenho certeza disso, mas eu não sei por que ele não consegue dizer isso. Ele é realmente um idiota, tapado... Mas ele realmente te ama.


                Fiquei calada por alguns instantes. Era muita coisa para digerir. Se Harry estivesse certo, eu estava deixando o homem que eu amo... E eu não poderia permitir isso.


- Está bem, diga à Gina que estarei aí em vinte minutos.


- “Essa é a Hermione que eu conheço. Até mais então”.


                Desliguei o celular e corri para me arrumar. Eu tinha que estar lá antes que o jogo começasse.


 


 


 


 


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                Nós entramos em campo, e a arquibancada estava literalmente lotada. As luzes fortes ofuscaram meus olhos, já estava começando a escurecer. Ouvi alguns trovões, avisando que ia chover. Olhei para a arquibancada, à procura dela. Mas não tinha esperanças... Ela me odiava, e não teria por que ir aos jogos, nem mesmo por Vítor. Avistei Gina sentada sozinha na arquibancada, e foi aí que eu tive certeza que perdi Hermione.


- Boa sorte ruivinho. – Tasha pulou em meu pescoço e beijou meu rosto.


- Obrigado. – Eu disse um pouco sem graça.


- Defenda bem, eu estarei ali torcendo por você. Literalmente. – Ela riu e saiu correndo. Olhei mais uma vez, decepcionado, para a arquibancada. Harry bateu em meu ombro e eu me assustei.


- Vamos lá capitão. Vamos ganhar esse campeonato.


 


 


 


 


 


 


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                Terminei de me arrumar e corri para o portão. Uma surpresa: Estava trancado. Não era possível. Como meus pais me trancaram dentro de casa? Eu peguei meu celular e liguei para minha mãe, o mais rápido possível.


- “Oi querida”.


- Mãe! Onde vocês estão?


- “Estamos em um jantar com uns amigos... Por quê?”.


- Vocês me trancaram aqui!


- “Não filha, suas chaves estão em cima da mesinha”.


- “O que? Aquela chave era a dela? Eu pensei que era a minha”. – ouvi a voz do meu pai do outro lado do telefone.


- “Oh não... Desculpe filha, seu pai pegou por engano. Mas estaremos aí até o baile, não se preocupe. Você não ia sair antes disso, ia?”.


- Não mãe, não ia. Até mais. – Desliguei o celular e sentei no jardim. Tudo estava dando errado. Parecia até que o destino não queria que eu e Rony ficássemos juntos, isso é, se eu realmente acreditasse em destino.


 


 


 


 


 


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                O jogo começou péssimo. Harry e Draco haviam perdido várias chances de fazerem o gol, e Vítor tinha vacilado duas vezes. O time rival quase fez gol. Eu não podia negar, eles eram muito bons, e tínhamos grandes chances de perder esse jogo.


                Olhei mais uma vez para a arquibancada, e Hermione não estava lá. Talvez eu esperasse que ela aparecesse correndo, para que meu coração tivesse um pouco de esperança. O jogador rival veio em minha direção, e Vítor nem ao menos tentou defender. Vi a bola vindo em minha direção, e pulei em cima dela. Por sorte o atacante não tinha chutado tão bem. Consegui defender.


 


 


 


 


 


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                Eu não sabia mais o que fazer, já tinham se passado meia hora, e eu queria muito ir naquele jogo, e poder dizer ao Rony que eu acreditava em tudo o que ele tinha me falado... Que ele não precisava ter medo de me magoar, que nós íamos enfrentar tudo aquilo juntos, mas eu estava presa dentro de casa. Comecei a pensar em tudo o que ele fez por mim, me levou ao hospital quando eu mais precisei, se preocupava comigo mesmo quando não estávamos conversando, olhava em meus olhos e dizia que eu era linda e que eu tinha o sorriso lindo. Ninguém nunca tinha falado daquele jeito comigo, e olhando em meus olhos, eu sabia que ele não conseguiria mentir sobre seus sentimentos. Meu coração começou a doer. Eu disse que o odiava, e naquele momento ele deveria me odiar também. Foi aí que olhei para o muro da minha casa.


                Foi a coisa mais louca que fiz na vida, e por sorte o muro da minha casa não era tão grande, e não tinha cerca elétrica. Nesse momento agradeci por meu pai ser tão teimoso e não dar ouvidos para minha mãe. Peguei um tronco que tinha no jardim, e o coloquei em baixo do muro. Subi no tronco, e com um impulso consegui escala-lo. Eu olhei para baixo, e vi que o muro não era tão baixo quanto parecia. Mas a minha vontade de ver Rony era tanta, que eu não me preocupei, e fechando os olhos eu pulei.


                Não foi tão ruim assim, apenas ralei um pouco meu joelho e meu cotovelo. Me senti como uma criança travessa que eu nunca fui. Olhei para a rua totalmente deserta, e respirei fundo. Durante toda a minha vida eu tinha sido medrosa, e essa era a vez de provar que eu não era tão frágil assim. Tomei fôlego, e comecei a correr na direção do colégio.


 


 


 


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                Eu estava aflito. Pela primeira vez nós conseguimos passar para a área do time adversário. Já estávamos quase no final do segundo tempo, e nenhum dos dois times tinha feito gol. Fiquei empolgado quando Harry driblava todos os jogadores, e ele e Draco passavam a bola um para o outro, rapidamente. Quando finalmente Harry se aproximou do gol, o inesperado aconteceu. Um jogador do outro time trombou com Harry, e ele caiu no chão.


                O juiz apitou, mostrando o cartão amarelo para o jogador que derrubou Harry, era pênalti. A torcida não sabia se comemorava ou se ficava preocupada com Harry, e eu saí correndo, deixando o meu lugar de goleiro.


- Harry! Harry você tá bem cara? – Eu me agachei ao lado dele.


- Acho que não vai da pra cobrar Rony. – Ele falava ainda deitado no chão. – Faz isso por mim.


- Tem certeza?


- Vai lá Rony! – Simas bateu em meu ombro, e os outros jogadores me entusiasmaram. Os paramédicos chegaram com uma maca, colocando Harry nela.


- Ganha esse campeonato pra gente Weasley! – Harry gritou enquanto os paramédicos o tiravam do campo.


                Os outros jogadores entraram em suas posições, e eu coloquei a bola no chão, mirando para o gol. O goleiro se aquecia, e parecia que a distância entre uma trave e outra estava diminuindo, eu não ia conseguir.


                Nesse momento olhei para a arquibancada lotada, e todos pareciam estar aflitos. As líderes de torcida não gritavam e nem dançavam, estavam todas nervosas. Com um último pedido, fechei meus olhos... Pensei em como queria que Hermione estivesse ali. Abri os olhos, e como uma miragem, uma garota de cabelos armados e totalmente desgovernada apareceu no topo da arquibancada. Meu coração disparou, e eu senti todo o meu corpo se arrepiar. Ela sorriu pra mim. Foi como se eu a sentisse ali do meu lado, me dizendo que confiava em mim e que eu faria a coisa certa.


                O juiz apitou. Respirei fundo, e toda aquela tensão que eu estava sentindo desapareceu como mágica. Eu me esqueci de que tinha um goleiro na minha frente, apenas foquei no gol. Com meu último suspiro, eu corri em direção à bola, e a chutei com toda a minha força. Ela foi diretamente para o canto direito do gol, na direção que Hermione estava. O goleiro pulou, e por dois segundos a bola tocou os seus dedos...


 


 


... Antes de entrar direto para o gol.


 


                O juiz apitou, o jogo tinha terminado. Nós vencemos o campeonato do colegial.


 


 


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                Eu olhei orgulhosa para o único ruivo no meio do campo. Todos faziam a maior festa, e a maior parte das pessoas que estavam na arquibancada foram parar no meio do campo. Eu o perdi de vista, depois que todas as pessoas foram comemorar com ele.


- Mione! – Gina veio correndo até mim.  – Você veio! E nós ganhamos!


- Sim Gina! Mas eu vim fazer uma coisa mais importante. Me ajude a achar seu irmão. – Nós duas subimos em um dos bancos da arquibancada, procurando por ele.


- Ali Mione! – Gina apontou para o meio do campo. Um alto e forte trovão avisou que a chuva estava prestes a cair.


- RONY! – Gina gritou por ele, mas era praticamente impossível ouvir no meio de tanto barulho, mas Gina não desistiu. – RONY! – Por incrível que pareça ele olhou, e mesmo sem meus óculos, mesmo de longe, eu pude sentir que ele estava sorrindo. Eu abri um largo sorriso e corri até a ponta da arquibancada, Rony correu em minha direção.


 


                De repente, com a chuva começando a cair, pela primeira vez senti que estava fazendo a coisa certa. Eu parei na escada, esperando que Rony viesse até mim. Por algum motivo ele parou, e ficou me admirando, com um largo sorriso. Senti que estávamos a poucos segundos de sermos finalmente um casal. A felicidade era tão grande, que não consegui esperar mais nem um segundo para dizer:


- RONY EU TE AMO! – Eu disse em alto e bom tom, e ele sorriu ainda mais. Seus olhos brilhavam de encontro ao meu, ele tomou fôlego, e eu sentia que aquele seria o momento. Harry se aproximou, e Gina desceu as escadas da arquibancada ao meu lado. Estava tudo perfeito, meu coração estava disparado. Quando Rony abriu a boca, para dizer o que quer que seja, ele foi interrompido, com um beijo.


 


 


 


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                Eu não sabia o que estava acontecendo, foi tudo rápido demais. Afastei a pessoa que me beijou, e quando vi me decepcionei.


- Tasha?


- Parabéns ruivo! Você foi o melhor de todos. Esse foi apenas um de seus prêmios. – Ela piscou para mim, e eu fui envolvido por uma multidão. Eu estava confuso, queria sair logo dali. Passei por algumas pessoas, e me soltei dos braços de Tasha. A chuva não ajudava em nada, e eu já estava totalmente encharcado.


                Quando eu finalmente consegui sair do meio da multidão, Hermione não estava mais lá. Apenas Harry e Gina, que com certeza também não entenderam nada.


- O que foi aquilo Rony? – Gina veio correndo até mim.


- Eu não sei! Onde está Hermione? – Perguntei aflito.


- Ela foi embora, é lógico. Ela gritou que te ama pra todo mundo ouvir, e depois você beija outra garota.


- Eu não a beijei, ela me beijou! Pelo amor de Deus Gina, eu estava pronto para responder Hermione.


- Mesmo?


- Claro! Hoje eu percebi que não adianta ficarmos afastados, eu não sou ninguém sem ela.


- Então diga isso pra ela! – Harry bateu em meu ombro e eu saí correndo como nunca corri antes, subi toda a arquibancada em poucos segundos, e corri até o meio da rua na esperança de encontrá-la, mas ela não estava mais lá.


                Me ajoelhei no chão, sem forças, e sem ânimo. Estávamos perto de ficarmos juntos, finalmente... E alguma coisa tinha que estragar tudo. Mas eu não poderia deixar isso acabar assim. Eu já tinha perdido Hermione duas vezes, mas agora eu não seria idiota suficiente para perdê-la de novo. Não dessa vez.

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Comentários (3)

  • Lana Silva

    Nossa... Esses dois estão parecendo a Emma e o Dexter de Um dia... Quer dizer nem tanto assim ,mas quase lá, o Rony só erra e a Hermione sempre perdoa exatamente como um dia... Espero é claro que ele consiga fazer a coisa certa e ir atrás dela, dizer alguma coisa a vaca da Tasha fez de proposito ele tem que dizer isso a ela!Beijoos! 

    2013-03-27
  • lumos weasley

    Finalmente o Ron acordou hein? Espero que não esteja tudo perdido e ele consiga se explicar.Bjs! capítulo demais 

    2013-03-26
  • Eliana de Albuquerque Lima

    Tadinha da Mione.

    2013-03-26
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