How To Be An Idiot
Ted Lupin
Lentamente, soltei a fumaça. Me encostei no muro e suspirei.
Meu dia não tinha como ficar pior.
Primeiramente, o fato de ter que acordar as sete da manhã para ir para a escola no outro dia não me animava em nada. E eu ainda tinha vários trabalhos para fazer. Não que eu me importe, é claro. Não só porque eu não vou ficar em Hogwarts por muito tempo, mas porque eu não acho isso relevante para minha vida. Quero dizer, eu nunca vou precisar saber quantos carinhas morreram na Primeira Guerra Mundial se eu não vou ser professor de história. Ou também porque eu faria uma releitura da Mona Lisa se eu não quero ser um artista. Pelo o menos não esse tipo de artista.
A guitarra em meu quarto já diz tudo.
Eu não me importo de não ter um trabalho que me dê dez mil por mês se eu não faço o que eu gosto. Prefiro ter um salário mínimo e gostar do que eu faço. Não é uma questão de dinheiro, mas sim de satisfação. Quem precisa de três carros? Quem precisa de dez mil por mês? Eu sou apenas um. É minha escolha, e não importa o que aconteça, eu vou fazer o que eu gosto. Mas parece que ninguém entende isso.
Dorcas. Esse é outro problema. Por alguma razão, ela tem mania de se meter em minha vida e fingir que se importa com quem eu faço, ou com quem eu saio. Fica perguntando toda hora como vai a escola, e blá blá blá. Parece até que quer que eu me irrite com ela. E agora, só porque ela descobriu que eu fiz uma tatuagem seis meses atrás, ela já ficou pirada. Porque eu estava estragando meu corpo, sendo irresponsável, e tinha que contar para meu pai. Ah, é. Espera sentada. E agora, se eu não contar para meu pai até amanhã, ela mesma conta. E ainda é capaz de inventar que eu fui preso por tráfico de drogas, que engravidei uma garota e atirei pedras no presidente. Que o mundo seria um lugar melhor se eu estivesse em um reformatório.
Porque tanto escândalo, é só uma tatuagem! E uma tatuagem legal, para falar a verdade. “Rock Stars Never Die” artisticamente desenhado em sua clavícula com letras levemente rabiscadas, acompanhando a volta do pescoço de um ombro ao outro talvez não possa ser legal para pessoas caretas como Dorcas. Mas para pessoas da minha laia, que não estão nem aí para o que os outros vão pensar, isso é como um desafio à sociedade.
Pelo menos parecia isso quando eu fiz. Agora tá mais para um desafio à sociedade que provavelmente vai te deixar de castigo.
Tudo por causa dela.
Joguei a guimba no chão e pisei para apagá-la. Tirei outro cigarro do bolso e coloquei na boca. Acendi o isqueiro.
-Você não devia fazer isso.
Olhei para o lado, confuso, e vi um pé.
Uma garota loira me observava, sentada no muro, quase em cima de minha cabeça. Suas pernas balançavam na altura do meu rosto.
-Ah, desculpe – falei, sorrindo sarcasticamente – Você quer?
-Prefiro deixar meus pulmões inteiros, obrigada – respondeu ela, com um sorrisinho.
Seus olhos eram tão azuis que chegava a ser inacreditável. Seu cabelo era tão loiro que na pouca luz do fim de tarde parecia branco. Ela ergueu as sobrancelhas para mim, e sorriu abertamente.
-Que foi? - perguntou. Pisquei, confuso.
-Você não é daqui.
Ela falava com um sotaque, no mínimo, diferente. Falava fazendo biquinho, como se estivesse sussurrando.
A garota ergueu as sobrancelhas.
-Você também não.
-Birmingham – respondi, dando de ombros e voltando à tarefa de acender o cigarro.
-Vem cá, seu objetivo de vida é deixar seus pulmões pretos? - perguntou ela, com uma expressão irritada. Olhei para ela, irônico.
-E o seu é se meter na vida das pessoas?
Me lançando um último olhar irritado, ela passou as pernas para o outro lado do muro e saltou. Revirei os olhos.
-Gente maluca.
Ignorando o fato de estar fedendo a cigarros, iniciei minha lenta caminhada de volta para casa.
Ginny Weasley
Terminei de amarrar os cadarços e voltei a correr.
Não que eu já não estivesse empapada de suor, com algumas bolhas nos pés e ofegando que nem louca. Mas é que ficar sem fazer nada é muito chato. Eu gosto de correr rua (não exatamente literalmente, entende?), de sair com meus amigos, de fazer festa. Acho que sou a única pessoa da escola que odeia domingos. Não tem nada pra fazer. Agora, sem os treinos de líder de torcida, eu me sentia completamente inútil.
Quero dizer, eu ainda tinha o balé. E o time de vôlei. E o grêmio estudantil. E as aulas de piano.
Mas eu não tinha nada pra fazer. E se eu ficasse parada por muito tempo, começaria a ficar desesperada. De cair na rotina, sei lá. Por isso que eu faço tantas coisas ao mesmo tempo, para que eu fique andando de um lado para o outro o dia todo, fazendo com que eu não pense que faço exatamente a mesma coisa todo santo dia.
Alguns chamam isso de hiperatividade. Minha mãe chama isso de um bicho que mordeu minha bunda e me impede de ficar parada.
Cada um com seu ponto de vista, ué.
Esses CDs que Harry me emprestara me faziam sentir vergonha de tudo aquilo que eu já ouvi em toda minha vida. Isso me faz querer gritar, pular, e principalmente excluir tudo que tem no meu iPod. Pra quê música eletrônica se você tem Green Day? Pra quê pop se você tem rock? Pra quê respirar se você têm School Of Rock?
É, acho que exagerei.
Antes que Victoire Perfeita Weasley aparecesse, eu estava bem na boa conversando com Harry. Não sei o que foi aquilo com aquela bateria, mas aconteceu. E agora ele deve pensar que eu sou um alien. Quero dizer, garotas não tocam bateria!
Não é?
Dei um salto para o lado no meio da corrida para desviar de um cara que caminhava. Arregalei os olhos e sem perceber me virei e comecei a correr de costas. Era ele. Com a droga dos cabelos loiros, a droga de sua jaqueta de couro e a droga do seu jeito que me deixa sem fôlego.
Ele parou de caminhar e olhou para mim por cima do ombro, com o cenho franzido.
Alguma coisa bateu na parte de trás dos meus joelhos, e quando percebi, estava de costas no chão. Sem fôlego, mas não era por causa do loiro. Minhas pernas estavam para o alto, presas pelo cadarço do tênis em uma lata de lixo. Soltei um palavrão e esfreguei a parte de trás da cabeça, que ardia.
-Você está bem?
Veja bem, a primeira vez que Ted Lupin me dirige a palavra é porque eu fiz uma coisa realmente idiota.
-Depende – respondi – Eu to viva?
-Acredito que sim – disse ele, estendendo a mão para me ajudar a levantar. Segurei sua mão, ele me puxou, mas logo eu estava no chão de novo – Pera, tá preso.
Ele desprendeu meu cadarço do suporte de ferro da lixeira.
-Pense pelo lado bom – disse ele, voltando a me estender a mão – Pelo o menos você não está de saia.
Não sabia se esperava que todo mundo começasse a soltar foguetes quando eu fiquei na altura dele, perto demais do seu rosto. Não é como nos livros, que as mocinhas sentem que vão derreter, e de repente o mundo fica mais colorido. Só que para mim, o mundo ficou com exatamente as mesmas cores que estavam antes.
-Obrigada – murmurei, puxando minha blusa mais para baixo.
-Você não é aquela garota? - perguntou ele. Ergui meus olhos, esperançosa – Aquela que fez um barraco no meio do refeitório.
-Ah... - droga – Bem, é. Ahn, obrigada de novo. Eu vou indo.
Tentando segurar as lágrimas, dei as costas para ele e apressei o passo de volta para casa.
Harry Potter
-Harry, atende a porta – disse mamãe, da cozinha.
-Pede pro pai – respondi, trocando os canais da TV, procurando algo que preste.
-James, atende a porta.
-Manda o Harry atender – respondeu ele, pegando outra fatia de pizza – Eu sou mais velho.
Sorrindo, me levantei e fui até a porta.
-Eu sinto cheiro de pizza – disse Ted, espiando por cima do meu ombro. Eu ri e abri espaço para ele passar.
-Entra aí.
-E aí, Teddy – cumprimentou papai, quando sentamos no chão da sala, ao redor da mesinha de centro – Seu pai te deixa com fome, por acaso?
-Não, eu só não queria ficar lá – respondeu ele, se servindo de pizza. Mamãe chegou da cozinha, trazendo três copos e uma garrafa de refrigerante.
-Ô, guri abusado – brincou, ao ver Ted devorando a pizza – Vou pegar mais um copo. E James, tenta não manchar o tapete.
Papai arregalou os olhos e segurou um pedaço de queijo antes que ele caísse no chão.
-Mas eu nunca fiz isso, amor!
-Ah, sei – resmungou ela, indo pra cozinha.
-Nem sabe quem eu encontrei na rua agora pouco – disse Ted, se dirigindo a mim – A ruiva.
-G-Ginny? - péssima hora para engasgar com a pizza, Harry. Péssima hora.
-Ela estava correndo – continuou ele – Daí ela me viu, prendeu o pé em uma lixeira e caiu.
-É aquela ruiva que veio aqui ontem? - perguntou papai, se metendo na conversa. Ted ergueu as sobrancelhas para mim.
-É – respondi, sem olhar para eles.
-E a companhia para sua fuga para Londres, também? - continuou ele, e eu tive quase certeza que eles estavam zoando com minha cara. Não respondi. Logo mamãe se juntou a nós, e em menos de três minutos, os dois já estavam contando histórias sobre sua adolescência.
-Não, não, e aí... Pára de rir, James... E aí Sirius “mas esse não é o zoológico?” - contava mamãe, enquanto eu tentava respirar de tanto rir – E assim Sirius nunca mais pôde pisar no Canadá.
Rimos por uns bons minutos antes de conseguirmos voltar a beber algo com segurança.
-Como andam suas músicas, Harry? - perguntou mamãe, cautelosa. De repente eu preferi não ter conseguido para de rir e ter morrido sufocado.
-Tudo normal – respondo, sabendo que não adiantaria mudar de assunto – Segui seus conselhos e fiz a cifra para uma delas. Já gravei, até.
-Sabe, filho, você poderia montar uma banda de rock – disse papai.
-Ah, não, obrigada – respondi, pegando meu décimo quarto pedaço de pizza - Quanto menos eu me destacar nessa sociedade, melhor.
-Lily, nosso filho é um idiota – disse ele, olhando para a esposa, com cara de apavorado. Ela revirou os olhos.
Passei a noite toda pensando naquilo.
Comentários (1)
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK Com pais desses quem precisa de pessoas dizendo as verdades não é mesmo ? Eu ri. Acho que a Gina vai ficar mais irritada ainda com a Victorie quando Ted e ela começarem a ter um rolo - se eles tiver é claro kkkkkkkkkkkkkkkkkkk - amei o capitulo *-*Beijoos!
2013-04-02