After Midnight



Ginny Weasley


 


-HARRY POTTER, SEU ESTÚPIDO!


Meu rosto estava vermelho de raiva. Ou era isso que parecia.


-AH, NÃO COMEÇA! - gritou ele de volta – JÁ NÃO BASTA TER DESTRUÍDO MINHA VIDA, AGORA QUER ENCHER O SACO? SE LIGA!


Brigar aos berros no meio do centro de Londres não era nada normal. Pessoas que passavam estacavam para ver o barraco, e aqueles que estavam nas lanchonetes e lojas ao redor esticavam o pescoço para ver o que acontecia.


-A CULPA NÃO É MINHA, IDIOTA! - berrei, apontando acusadoramente para ele.


-EU TE AMAVA – gritou ele, os olhos ficando levemente marejados, mas sem enfraquecer a expressão dura – NÃO FOI O SUFICIENTE, É ISSO?


-VOCÊ NUNCA DEMONSTROU! ESSE FOI O PROBLEMA!


-COMO EU PODERIA SABER QUE VOCÊ GOSTARIA QUE EU FIZESSE ISSO? - gritou ele.


Suspirei e revirei os olhos.


-Harry, você errou a fala – falei. Os ombros dele caíram.


-Sério? - estranhou, e eu assenti – Mas depois disso você não me dava um tapa?


-Não combinamos isso – falei.


-Oh. Mas ainda acho que o barraco ficaria bem mais interessante – ele passou o braço pelos meus ombros, e lentamente fomos saindo do meio do círculo de pessoas.


-Eu seria presa, isso sim – disse – Não se preocupe. Na próxima a gente acerta.


Antes de sair da calçada principal, ainda ouvimos alguns muxoxos impacientes e uma ou outra gargalhada. Viramos a esquina, e Harry tirou imediatamente o braço dos meus ombros.


-Isso foi divertido – disse ele, sorrindo.


-Briga de casal adolescente sempre são divertidas – eu ri – Ainda mais quando no final eles anunciam que tudo foi uma brincadeira.


-Bem original – disse Harry, mantendo a porta do McDonald's aberta para mim.


Se eu dissesse que essa tarde estava sendo a melhor da minha vida, seria pouco. Pela primeira vez, poderia fazer o que quiser, sem ter ninguém lá para dizer que era errado. Harry era diferente, ele tinha ideias loucas o suficiente para produzir um filme de comédia romântica adolescente. E não seria por menos. Ele é brilhante.


Primeiro, saímos da escola sem avisar a ninguém, e pegamos um trem direto para Londres.


Encenamos Hamlet na frente do Big Bang.


Cantamos Another Brick In The Wall na frente de uma escola.


Pulamos amarelinha na Ponte Waterloo.


Jogamos barquinhos de papel no rio Tâmisa.


E por último, havíamos fingido que éramos um casal apaixonado brigando no meio de um centro comercial.


O. Melhor. Dia. De. Todos. Os. Tempos.


-O que você quer fazer agora? - perguntou Harry, abrindo seu hambúrguer.


-Posso fazer uma pergunta? - perguntei. Ele se endireitou na cadeira.


-Claro.


-Quem era aquele garoto?


-Quem? - ele franziu o cenho.


-Aquele, no almoço – continuei, me sentindo levemente envergonhada com o assunto. Mas a curiosidade era muita – O loiro. Alto. Olhos azuis, bonitão.


A boca de Harry se abriu levemente se surpresa com minha última frase. Ah, qual é! Todo mundo deveria achar aquele loiro bonito.


-Hm... - ele piscou, confuso – Ele é meu primo, Ted.


-Ted? Tipo Ursinho Ted?


-Não – ele sorriu – Tipo Ted Lupin, primo de Harry Potter.


-Ele é novo na escola? - perguntei, me aprumando.


-Nah – deu uma mordidona no seu Big Mac – Ele estudou em Hogwarts uns três ou quatro anos atrás. Daí ele se mudou para Londres com a mãe, e agora ele teve que ficar com o pai em Hogsmead enquanto ela encontra um apartamento para eles em New York. Ele vai se mudar no final do ano – ele olhou para mim – Você parece... Triste.


Triste, não. Decepcionada.


-Ah, não... Não – peguei meu milkshake, para disfarçar. Mas ele continuou me encarando, esperando – Ah, é que... Sei lá, eu esperava que pudesse ter alguma chance com ele.


Harry ficou em silêncio por alguns segundos. Depois começou a rir.


-Ele é dois anos mais velho do que você! - disse.


-E daí? Isso não quer dizer nada – respondi, cruzando os braços e me encostando no espaldar da caideira.


-Ele é um geek, e você é líder-de-torcida – continuou ele.


-Ex-líder-de-torcida – falei entre os dentes.


-Ah, e a propósito, ele é um idiota – finalizou Harry.


-Ah, perfeito! - exclamei – Garotas como eu adoram idiotas. Vai dar até em casamento, quer ver?


-Sr e Sra Idiota... - murmurou Harry, de cabeça baixa.


-Harry? - chamei.


-Hm?


-Cala a boca – ele não respondeu – Então... O que acha de pinchar o Big Ben?


 


 


Hermione Granger


 


Sinceramente, eu amo Lily Potter.


Mas ela dá medo.


-Então, vocês conversaram com Harry no almoço... E depois ele sumiu? - repetia ela pela quinta vez, andando de um lado para o outro na sala de estar.


-É, ele disse que ia... Lá – disse Rony ao meu lado.


Onze e meia da noite. Sendo meticulosamente interrogada pela mãe do meu melhor amigo. Que, a propósito, desapareceu.


-Relaxa, Lily – disse James, pai de Harry, sentado em uma poltrona, olhando indiferente a mulher arrancar os cabelos de preocupação – Ele é adolescente, daqui a pouco aparece.


Lily abriu a boca para responder quando, graças a Deus, alguém a interrompeu.


-Ele deve estar com Ginny – disse Ted Lupin, sentado no primeiro degrau da escada, com uma aparência despreocupada. Ou drogada, nunca se sabe. Todos olhamos para ele – Eu disse antes. Meu colega de classe viu os dois saindo da escola na hora do almoço.


Lily parecia mais vermelha do que de costume.


-E porquê não disse isso antes? - gritou ela.


-Eu disse! - reclamou ele, mas ninguém deu atenção.


-Isso muda tudo... Rony, sua irmã deu notícias?


-Ah, acho que sim – respondeu ele, coçando a cabeça – Ela mandou uma mensagem para Percy, dizendo que ia se atrasar para o jantar.


-Então ela está bem – disse Lily.


-E Harry deve estar bem também – suspirou James – Ele sabe se cuidar.


Lily se voltou para ele, perplexa.


-E ele é filho de quem? Não era você que fugia da escola no meio da noite pra comprar bala?


-Isso foi só uma vez! - respondeu James.


Senti alguém me puxar pela blusa e vi Ted arrastar eu e Rony para fora da casa dos Potter.


-Eles sempre fazem isso – disse ele, já no jardim – E depois começam a se agarrar. Acreditem, vocês não iam querer ver isso.


O garoto se despediu rapidamente e correu em direção à sua casa.


-Então... - Rony cortou o silêncio – Quer ver um filme? A gente pode pedir uma pizza.


-É quase meia-noite – falei.


-E daí?


-E daí que eu tenho que voltar para casa.


-Afs, Hermione – resmungou ele, dando as costas para mim e atravessando o gramado em direção a sua casa – Você é muito careta.


Alguns segundos depois, estava sozinha na calçada.


Rony Weasley é um idiota. E eu faço questão de repetir isso todos os dias.


Ás vezes me pergunto porque sou amiga dele. Mas a resposta é fácil...





Uh.


Estranho.


Jurava que tinha um motivo.


 


Harry Potter


 


 


A maioria dos adolescentes estranharia se chegasse em casa e visse seus pais travando uma furiosa batalha de travesseiros no meio da sala de estar, vez ou outra vestidos de super-heróis. Ou talvez discutindo se pedir catorze pizzas de queijo para o café da manhã era exagero. Mas eu não me importava. Simplesmente pelo fato dos meus pais terem mais alma de adolescente do que seu próprio filho adolescente. Eu até gosto, na verdade. Menos quando tenho que convencer minha mãe de que catorze pizzas de queijo para o café da manhã de uma família de três era meio inadequado, por ser realmente muito queijo. Mas ela bate o pé, alegando que quando o amarelo começar a ficar verde, Sirius já vai ter comido tudo.


Não insistimos.


Mas dessa vez, não era nada disso. Eles não estavam felizes.


Quando abri a porta de casa... Levei um tapão atrás da cabeça.


Minha mãe não é muito de me bater, ou coisa parecida.


-SEU FILHO DE TRASGO, MONDRUNGOLÓIDE, ONDE PENSA QUE VOCÊ ESTAVA?!


Mas ela sabia muito bem escolher as palavras.


-Hm, oi? - falei, esfregando o cocuruto.


-Não me venha com “oi”, mocinho! - gritou ela – Onde você estava?


-Só fui dar uma volta – falei, dando de ombros e me jogando no sofá.


-Á uma e meia da manhã? - ironizou ela.


-Hum... É.


Ela revirou os olhos, bufou e caiu no sofá do outro lado. A essa hora, estava me segurando para não rir. Não que eu tivesse medo de morrer, ou coisa parecida. Ela sempre faz isso. Na última vez foi porque eu entrei em um brinquedo perigoso demais no parque de diversões.


No... Carrossel.


-Podia ter avisado – disse mamãe.


-Acabou a bateria do meu celular – respondi.


-E esse por acaso é o único meio de comunicação? Que ligasse do telefone público, mandasse um e-mail, sinal de fumaça. - ela passou a mão nos cabelos, nervosa. Puxou essa mania do meu pai. Viu?, é por isso que tem cabelo pela casa toda – Ficamos realmente preocupados.


-Hm... Desculpe?


-Ah, ele é jovem, jovens fazem essas coisas – falou meu pai, que observava tudo como se não fosse nada de mais – Saem à noite, vão à festas, se drogam.


Mamãe arregalou os olhos e sua boca se transformou em um imenso “O”. Escondi o rosto nas mãos.


-Falei besteira? - meu pai se encolheu.


-Harry James Potter, você está drogado?


Lembra que eu disse que não tinha medo de morrer? Pois é.


Retiro.


-Mãe! - reclamei – Eu mal consigo abrir o canudinho do meu Toddynho, e você ainda acha que eu sou drogado?


Meu pai começou a rir, mas parou ao receber um olhar furioso da esposa.


-Então – ele pigarreou, para disfarçar – Você estava com a vizinha, a ruiva?


-É – respondi.


-Você agarrou ela?


-Quê?


Achei que fosse brincadeira. Mas de uma hora para a outra meus pais me encaravam sérios, esperando uma resposta.


-Ah... - cocei a cabeça – Eu deveria ter feito isso?


Meu pai suspirou e mamãe sorriu.


-Graças a Deus ele puxou à mãe – disse ela, fingindo emoção.


-E se ele puxasse a mim seria ruim, por acaso? - reclamou papai – Olha só pra ele, é igualzinho a quando eu tinha dezesseis!


-Só que o cabelo dele não é azul – disse mamãe entredentes, com os olhos apertados. Depois olhou para mim – Onde exatamente vocês foram?


-Ahn... Londres – falei, cauteloso.


-Olha, eu to me segurando pra não te dar um surdão – disse mamãe, impassível.


-Ah, não se preocupe – falei – A gente voltou antes que ela arrumasse as tintas para pinchar o Big Ben. Ah, mas foi divertido. Fingimos que éramos cangurus no meio do Parliament Square.


Meus pais ficaram em silêncio por um bom tempo, apenas me observando.


Depois, como eles sempre fazem, eles começaram a rir.


-Pra cama agora, mocinho – disse papai, tentando respirar.


Não hesitei em subir as escadas correndo.


Ao chegar no segundo andar, pude ouvir as risadas no andar de baixo, e um sorriso escapou por meus lábios. Observei as fotos na parede do corredor. Eu como um bebê com cara de “hã?”. Uma foto do dia do casamento dos meus pais, onde meu pai usava uma peruca vermelha igual ao cabelo da minha mãe (obra de Sirius). Almoços em família, viagens pelo mundo... Estaquei quando cheguei à parte da adolescência dos meus pais. Os dois insistiram em colocar as melhores fotos, como se fosse um museu da família Potter.


Realmente, eu sou igualzinho ao meu pai. Exceto pelos olhos, é claro, mas isso todo mundo já está careca de saber. E Ginny é parecidíssima com minha mãe. Imaginei se um dia teríamos nosso próprio mural de fotos.


Quase na altura dos quartos, lá estavam eles: Os mais aterrorizantes e intimidadores discos de ouro e platina da School Of Rock. Eu tenho orgulho dos meus pais, e do que eles fizeram. Me pergunto porque pararam de tocar. Quando chego ao assunto, eles sempre começam a falar sobre o tempo, ou sobre panquecas de atum.


Acho que, no fundo, um dia eu queria ser como eles.


-Ainda acordado?


Quase dei um salto de susto. O final da escada, mamãe e papai apareceram abraçados. Notei uma mão parada em um lugar indevido, mas não quis comentar nada.


-Já vou ir deitar – falei.


-Boa noite, então – disse mamãe, antes de seguir meu pai para dentro do quarto.


-Ah, mãe? - chamei, e ela colocou a cabeça para fora – Sei lá, sabe... Tentem não fazer outro filho.


A cara da minha mãe parecia um pimentão quando a porta se fechou. Ainda pude ouvir umas risadas de papai do lado de dentro.


-E você ainda diz que ele não puxou à mim? 

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Comentários (1)

  • Lana Silva

    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk tipo, esses dois são loucos demais velho - não estou falando da Lily e do James... - achei o máximo eles fingindo que estavam brigando no meio da rua. Uma vez meu melhor amigo e eu estavamos brincando de algo do tipo, ele tava praticamente me arrastando pela rua pelo braço a gente tava fingindo ser um casal bringando. Achei os pais do James também altalmente louco... Eu acho que Harry e Gina vão tomar o lugar do James e da Lily e que a Mione e o Rony vão meio que tomar o lugar da Lene e do Six... O Ted eu não sei ainda kkk quero mais *--*Beijoos! 

    2013-02-23
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