Grifinórios



-Outra vez? – O homem carrancudo do quadro que guardava a entrada das masmorras perguntou à Anya, de braços cruzados.


-Serpensortia. – Ela repetiu a senha e a passagem para o Salão Comunal da Sonserina se abriu novamente. – Esses quadros... – Sussurrou enquanto entrava no sombrio salão, decorado minimamente com sofás esverdeados, mesas de madeira escura e tapeçarias com o símbolo da Casa. Como já passavam das dez da noite e no dia seguinte teriam aula, o salão tinha apenas alguns poucos sonserinos, a maioria deles com uniformes de quadribol, provavelmente se reunindo após o treino. Anya acenou para Draco e Logan, que a cumprimentaram de volta. Subiu as escadas dos dormitórios até seu quarto, e abriu a porta com extrema cautela, imaginando que Pansy e Linda estariam dormindo.


-Anya? – Pansy perguntou se sentando na cama, ao ouvir o barulho da porta se fechando.


-Pensei que estivesse dormindo. – Anya disse caminhando até seu armário e mexendo em suas gavetas. – Linda não chegou?


-Ainda não. – A garota respondeu sonolenta, acendendo o abajur ao lado da sua cama. – Onde estava?


-Estudando na biblioteca. – Anya disse suspirando.


-Poções, eu imagino. – Pansy comentou rolando os olhos, se lembrando do incidente na aula do Snape.


-É. – Anya comentou tirando um pequeno caldeirão e alguns frascos de ingredientes de seu armário.


-Pra que todas essas coisas? – Pansy perguntou esfregando seus olhos.


-Pra uma proposta que recebi. – Anya disse evitando olhar para Pansy.


-Proposta? – Pansy a olhou intrigada. – Anya... – Ela disse em tom repreensivo.


-Ele só vai me ajudar com o trabalho do Snape. – Anya disse balançando a cabeça, como se não fosse nada de mais.


-Poções. Sei. – Pansy comentou ironicamente, e deitou na cama.


A porta do quarto se abriu lentamente, e Linda tentou entrar o mais discretamente possível.


-Fique tranquila. Estamos acordadas. – Disse Anya, sorrindo para a amiga.


-Por enquanto. – Rebateu Pansy bocejando. – E você? Estava estudando também?


-Não. Eu estava com o Green. – A menina respondeu sincera, se encaminhando até sua cama e tirando o casaco.


-Peter Green? – Anya perguntou para ter certeza de que ela se referia ao amigo de James.


-Aham. – Linda respondeu sorrindo enquanto se arrumava para dormir.


Anya também se deitou, exausta.


-Vocês e esses grifinórios... – Pansy comentou de olhos fechados, já quase dormindo. Anya e Linda sorriram, silenciosamente.


 


 


-Tem certeza de que você quer fazer isso? – Dave perguntava a James enquanto caminhavam em direção ao salgueiro lutador. Tinham acabado de sair da aula de Transfiguração, a última do dia, e andavam a passos largos, pois James pretendia chegar ao seu local de encontro com Anya antes que os alunos se agrupassem nos jardins.


-Isso o quê? – James perguntou sem entender.


-Se envolver ainda mais com essa sonserina. – Dave respondeu como se fosse óbvio.


-Não estou envolvido com ela. – James respondeu de prontidão. – Só vou retribuir o favor, afinal, ela vem me ajudando com Feitiços há quase dois meses. E, não se preocupe, eu sei que ninguém resiste ao meu charme, - ele disse passando a mão nos cabelos castanho-claros um tanto quanto bagunçados – mas não estamos interessados em envolvimento afetivo. – Ele completou.


-Você quer dizer: ela não está interessada. – Colin disse fazendo graça com a cara do amigo. – Você tem que admitir James. A Smith é uma das primeiras mulheres desse castelo que é sua amiga e não parece ter segundas intenções. – Ele disse, olhando para James desafiador.


-Ok, ok. Não precisam ficar com ciúmes. – James completou bem humorado como sempre. – Só estou retribuindo o favor à Smith. E eu ainda amo vocês. – Ele disse em tom de brincadeira. – Vejo vocês depois. – Ele se despediu dos amigos, que continuaram caminhando até outra parte dos jardins, de onde uma Lufa-Lufa loira acenava para Collin, sorridente.


 


 


-E então, trouxe tudo? – James disse ao ver Anya sentada numa das raízes da grande árvore, ainda vestindo o uniforme, assim como James. A diferença é que ele já estava com a gravata frouxa, a camisa para fora da calça e completamente amarrotada; e Anya estava exatamente como ele a tinha visto no horário de DCAT, um dos primeiros da manhã.


-Trouxe. – Ela respondeu enquanto pegava seu livro de Poções. – Por onde devemos começar? – Perguntou, abrindo no capítulo de Poções Medicinais e se sentando na grama.


-Vamos começar pela Poção Básica de Cicatrização. – Ele disse se ajoelhando perto de Anya e mexendo em alguns frascos de ingredientes que ela tinha trazido, abrindo e examinando-os com agilidade. Ele realmente parecia levar jeito para Poções. – Bom, se eu me lembro bem, fazemos a base com água purificada, raízes de abóbora, gotas de salvencos e flores de lótus, não é? – Perguntou sem sequer olhar para o livro. Anya, cuja memória para a matéria era bastante reduzida, devido à sua sincera falta de interesse em Poções, conferiu em seu livro, e constatou que James estava certo.


-É. Isso mesmo. – Ela disse impressionada.


-Ok. Então vamos começar. – Ele comentou batendo as mãos e se sentando na grama, de frente para a garota. – Pode amassar os salvencos? – Ele perguntou. Anya recolheu as plantas e colocou-as em uma pequena bandeja que estava posicionada sobre seu colo. Deitou sua faca de ponta larga sobre os ramos e começou a espremê-las, tirando uma ou duas gotas que recolheu num pequeno frasco transparente, etiquetado para a tarefa. James não conseguiu segurar uma risada aberta ao ver o esforço dela.


-Qual é a graça? – Ela perguntou o olhando com uma sobrancelha levantada.


-Você vai levar uma eternidade desse jeito. – Ele disse, ainda rindo de Anya. – Deixa eu te mostrar. – James se sentou mais perto, ficando a poucos centímetros dela.


Anya ficou um pouco nervosa com a proximidade, e ao contrário dela, James não parecia se importar. Ele pegou a bandeja de seu colo e a faca de sua mão. Depois pegou uma das plantas e a ergueu, mostrando para ela como deveria fazer. Colocou o salvenco sobre a bandeja e fez um fino corte ao longo de seu comprimento, depois pegou o mesmo e o espremeu com a mão fechada sobre o frasco coletor, fazendo com que todo o caldo da planta fosse recolhido em poucos segundos. – Tcha-ram! – Ele disse estendendo o frasco para Anya e limpando a mão em um pano úmido que tinha trazido. – Resolvido. – Ele comentou olhando para a garota com certo ar de superioridade.


-O Snape diz que nunca devemos tocar nos sucos de plantas e ervas. – Anya comentou intrigada.


-Ah, Snape diz muitas coisas. – James disse despreocupado. – Inclusive, semana passada ele disse que saber preparar uma boa poção intoxicantea é uma das coisas mais importantes para a vida de alguém. Eu discordo. Qualquer coisa é mais importante que isso. – Ele disse rindo. – Além do mais, essa é uma poção curativa, então é bem difícil que qualquer desses ingredientes venha a nos fazer mal. – Completou. – Se fôssemos preparar uma poção explosiva, aí sim, eu não sairia espremendo uma planta tóxica e tal mas-


Ele foi argumentando enquanto Anya ria, divertida com suas justificativas.


-Tudo bem, me convenceu. – Ela disse enquanto pegava a bandeja das mãos dele e continuava o processo. Ele pegou outra faca nos itens de Anya e começou a picar as raízes de abóbora em outra bandeja.


-Então, Snape pediu que você refizesse as poções que já tinha feito? – Ele perguntou.


-Me mandou fazer todas as do capítulo. – Ela disse suspirando. – Eu tinha feito apenas três. – Ela explicou. – Poções não são o meu forte.


-Notei. – Ele comentou rindo, e Anya lhe empurrou com o ombro. – Mas e quanto à detenção que tomamos? Já sabe quando vai ser?


-Não, mas acho que vai ser depois das férias por causa do campeonato de quadribol. – Ela comentou.


-Bom, tomara que seja, pois preciso continuar a estudar Feitiços. – Ele disse olhando para Anya. – Isso é, se você ainda quiser me ensinar.


-Bom, não podemos usar a sala de Astronomia, mas acho que aqui está bom. – Ela comentou, olhando ao redor e confirmando que o local era isolado o bastante do castelo. James sorriu em resposta.


 


 


Anya entrou em seu quarto da forma mais silenciosa que pôde, seguida por Mary, que subira as escadas rapidamente. Já passavam das dez outra vez. Estavam atrasadas. As luzes do quarto estavam apagadas, e as duas caminharam até suas camas, quietas. Assim que se deitaram ouviram a voz de Pansy, que pensavam que estivesse dormindo.


-Já sei... Grifinórios... – Ela comentou fazendo as duas rirem pelo rancor contido em sua voz ao dizer “grifinórios”. Não podiam contestá-la, no entanto. Ela tinha razão.


 

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