Partida de Quadribol
O penúltimo mês do ano chegou trazendo consigo um frio intenso, que fazia com que os alunos preferissem ficar aglomerados dentro das salas comunais a sair pelo castelo. O frio estava tão forte que todas as manhãs, os jardins amanheciam brancos com a geada e até mesmo o lago tinha congelado, e já não era mais possível ver a lula gigante nadando por lá. Os professores e funcionários deixaram suas roupas habituais e era comum vê-los com cachecóis de lã e botas grossas. Sair para as aulas externas era uma verdadeira tortura, e a aula de herbologia, uma das mais divertidas, no momento estava abaixo de história da magia na escala das matérias mais queridas só por terem que sair do castelo para chegar às estufas.
Porém nem mesmo o frio era capaz de acabar com a euforia do início da temporada de quadribol na escola. O primeiro jogo tinha sido na semana anterior: Lufa-Lufa x Corvinal, e o time amarelo levou a melhor, batendo o outro time por uma diferença enorme, deixando-os na liderança isolada. O primeiro jogo da Grifinória seria nesse final de semana, e justamente contra a Sonserina. E por isso, Rony mal via Harry, que saía das aulas para o treino, e do treino para a cama.
A ausência de Harry permitiu a Rony se aproximar ainda mais de Hermione nessas últimas semanas. Desde o incidente do trasgo os três se tornaram inseparáveis. No dia seguinte ao episódio, Rony e Harry encontraram Hermione já no salão principal, tomando café da manhã. Os três se entreolharam, ainda tímidos, mas ela mesma puxou assunto, falando da primeira aula daquela manhã. Então os meninos sentaram-se junto a ela, e assim foi nas aulas daquele dia e até hoje. Passavam a manhã e tarde juntos durante as aulas. A noite, Harry seguia para o treino e Rony e Hermione ficavam sozinhos. Ele a ensinou a jogar xadrez e ela aprendeu bem rápido, mas ainda não era páreo para ele. Ela tinha mudado totalmente, estava longe de parecer aquela Hermione chata de antes e também já não era tão obcecada com as regras da escola. Bem, ainda era metida a sabe tudo, mas agora já nem achava isso tão ruim. Ela era muito inteligente e sempre os ajudava principalmente com os deveres de casa, onde pedia para rever o que os meninos tinham feito, dizia que estava tudo errado, fazia anotações extras do que julgava certo e no fim os meninos só tinham que copiar o que ela tinha feito. Queria que ela fosse essa garota legal antes.
Os corredores do castelo estavam abarrotados de gente após o almoço. A sexta-feira estava gelada e os alunos não iriam sair para congelar lá fora. Rony, Hermione e Harry, por sua vez, não estavam com vontade de disputar espaço com tanta gente e, já que a próxima aula seria de Herbologia e precisariam sair de qualquer maneira, decidiram encarar o frio lá fora. Os três foram para a quadra matar o tempo enquanto a aula da tarde não começava. Hermione havia aprendido em um livro a fazer aparecer um fogo azul royal que podia ser guardado dentro de potes de vidro e ser carregado para todos os lugares, e ela o tirou da bolsa e depositou no meio dos três para aquecê-los. Não sabiam se era ilegal, então sentaram-se o mais juntos possível para que ninguém visse. Harry estava distraído absorto na leitura do livro que Hermione lhe emprestou: Quadribol Através dos Séculos e Hermione contava a Rony sobre o funcionamento das torradeiras quando avistaram o professor Snape vindo depressa em suas direções. Rapidamente, ela guardou o fogo de volta no frasco no momento em que ele parou na frente deles, o rosto contorcido, procurando alguma coisa errada para que pudesse implicar.
— Que é que você tem aí, Potter?
O garoto mostrou o livro que antes estava lendo, e Snape sorriu, diabólico.
— Os livros da biblioteca não podem ser levados para fora da escola — falou — Me dê aqui. Menos cinco pontos para Grifinória.
E saiu andando, vitorioso. Agora que ele se afastava, Rony notou que o professor mancava.
— Ele acabou de inventar essa regra — murmurou Harry com raiva.
— Todos os alunos leem do lado de fora, não entendo... — Hermione choramingou
—Ele tem prazer em me perseguir — Harry reclamou — Aliás, que será que houve com a perna dele?
— Não sei, mas espero que esteja realmente doendo — Bradou Rony.
A sala comunal da Grifinória estava muito barulhenta aquela noite. O trio estava sentado junto à janela, fazendo seus deveres de feitiços. Hermione dava uma longa explicação sobre a matéria que estavam tendo, e que precisavam responder a quase cem perguntas sobre o tema. Rony se segurava em cada palavra proferida pela garota, pois essa matéria era complicada demais e exigiria um pouco mais de tempo para que pudesse adquirir certa autonomia. Seria bom se Hermione os deixasse copiar suas respostas, mas ela nunca deixava, então só restava a ele e Harry prestar atenção no que ela dizia; pelo menos a Rony, pois Harry estava com a cabeça longe dali, suspirando pela décima vez, balançando a perna irritantemente.
— Dá pra parar de se sacudir? — Rony brigou com o amigo — Está tirando a minha concentração.
Harry parou com a perna, e no lugar, começou a bater a pena em cima do pergaminho, fazendo um barulho incômodo. Rony revirou os olhos; o que deu nele?
— Acho que Harry está nervoso pelo jogo. – Hermione sussurrou.
De repente, o menino-que-sobreviveu levantou-se, decidido.
— Vou pedir o livro de volta para Snape.
Rony e Hermione arregalaram os olhos.
— Está enlouquecendo, só pode... — Rony riu.
— Tem alguma coisa errada, seu só... — Ele parou de falar, suspirando — Eu preciso ir.
— Antes você do que eu! — o ruivo ironizou, e no mesmo instante Harry saiu correndo para fora da sala comunal.
Rony e Hermione entreolharam-se surpresos.
— E não é que ele foi mesmo? Maluco...
— Ele está estranho... — ela comentou — Bem, vamos voltar ao dever.
Passaram os próximos minutos focados nos trabalhos que precisavam fazer. Depois da aula que Hermione deu e consultando os livros, Rony conseguiu responder a todas as perguntas. A garota pediu para revisar, e em todas as respostas que via riscava palavras, acrescentava trechos e apagava parágrafos. Como sempre, ela daria as respostas do mesmo jeito.
— Você acha que Snape vai devolver o livro? — Rony perguntou displicente, brincando com uma pena.
— Talvez sim, estando junto dos outros professores ele não deve ter coragem de negar. — ela respondeu sem olhar para ele.
— Pois eu acho que não. Aposto com você. Se ele conseguir eu faço minhas lições de casa sozinho, caso não consiga... — Ron coçou a cabeça — Terá que aprender a voar, eu te ensino.
— Eu já sei voar, já tive aulas de voo, não lembra? – ela perguntou, fazendo cara feia para uma de suas respostas no pergaminho, rabiscando uma frase inteira.
— Aquilo? Ah! Fala sério. — ele riu — Você estava morrendo de medo!
— Não sou fã de altura.
— Você precisa aprender a voar direito. Não que vá jogar quadribol um dia, mas é importante saber montar uma vassoura para o caso de alguma fuga...
— Fugir de vassoura? — ela perguntou divertida — De onde?
— Nunca se sabe. Vai que daqui a alguns anos haja uma guerra? Você precisa saber pelo menos o básico. – Rony argumentou
— Você tem uma imaginação muito fértil – Hermione falou balançando a cabeça – Obrigada, mas não, obrigada.
Ela terminou a revisão que fazia e entregou as respostas a Rony. Ele começou a passar as anotações para sua letra quando Harry entrou esbaforido na sala comunal.
— Conseguiu? — perguntou, curioso.
— Que aconteceu?
Ele estava pálido e ofegante.
— Quando cheguei à sala dos professores vi Snape e Filch. O professor estava com a perna machucada mesmo, um corte bem feio, e reclamava dizendo que não dava para prestar atenção em três cabeças ao mesmo tempo. Me espantei quando ouvi o que falou e isso acabou chamando a atenção e então eu fui expulso de lá. Mas sabem o que isso significa? Ele tentou passar pelo cachorro de três cabeças no Dia das Bruxas! Era para lá que estava indo quando o vimos. Ele quer a coisa que o cachorro está guardando! E aposto a minha vassoura como ele deixou aquele trasgo entrar, para distrair a atenção de todos!
Os olhos de Hermione estavam arregalados e Rony estava do mesmo jeito. Snape era muito suspeito. Ele viu quando correu para o terceiro andar na noite do trasgo. O professor não devia gostar muito de Dumbledore já que não era segredo para ninguém que almejava o cargo de defesa contra as artes das trevas e o diretor nunca o promovia. Ainda lembrava-se do primeiro dia de aula, quando o professor Quirrell estava assustado perto dele, intimidado. Certamente o atual professor de Defesa Contra as Artes das Trevas sabia do que o outro almejava.
— Não. Ele não faria isso. — Hermione defendeu, balançando a cabeça — Sei que ele não é muito simpático, mas não tentaria roubar uma coisa que Dumbledore estivesse guardando a sete chaves.
— Sinceramente, Mione, você pensa que todos os professores são santos ou coisa parecida — Rony bradou — Concordo com Harry, acho que Snape faria qualquer coisa. Mas o que é que ele está procurando? O que é que o cachorro está guardando?
— Eu não sei! A única coisa que penso é naquilo que já conversamos — Harry falou desesperado. Os meninos já tinham contado a Hermione suas suspeitas e do pequeno pacote que ia ser roubado de Gringotes — Isso tudo está me deixando louco.
— Não fica pensando mais nisso. — Hermione aconselhou — Todas essas coisas não passam de coincidências, garanto. O professor Dumbledore é muito esperto para manter uma pessoa perigosa aqui dentro por tanto tempo. Pelo que me disseram, Snape é professor aqui há anos.
Os meninos não argumentaram mais. Por um tempo achou que Harry exagerava quando se tratava de Snape, mas agora, diante de tantas evidências, achava que ele tinha razão.
— Vou dormir de uma vez, estou com a cabeça cheia. — Harry falou, saindo.
Rony permaneceu um pouco mais no salão, terminando seu dever, enquanto Hermione terminava de ler um livro. Ao acabar, entregou as respostas à amiga, que dessa vez aprovou; as respostas eram dela mesma no fim das contas.
— Então boa noite. — Rony falou, espreguiçando-se — Depois marcamos nossa aula de voo.
Hermione revirou os olhos.
— Eu disse que não preciso, não ouviu?
— Não, eu não ouvi. – Rony riu – Até amanhã.
Rony estava tão sonolento que tinha certeza que não era a hora certa para se acordar no final de semana. Queria continuar dormindo, mas havia alguém muito inconveniente lhe cutucando insistentemente. Com violência, bateu na mão de quem quer que fosse, mas a pessoa continuou. Sem escolha, abriu apenas um olho e viu que Simas Finnigan o chamava.
— Rony, vamos lá, temos que terminar aquilo.
Com muita relutância, Rony levantou-se. Se arrumou rapidamente e desceu com Dino e Simas, eles tinham seu lençol velho, que perebas roera há um tempo, enrolado debaixo do braço. Ao chegarem na sala comunal, encontraram com Hermione sentada na poltrona, junto a Neville.
— Achei que não viriam mais! — Ela falou esganiçada — Quero ver como ficou.
Dino abriu o lençol vermelho, nele tinha o desenho de um grande leão da Grifinória e os dizeres: “Potter para Presidente” embaixo. Estava muito bonito.
— Uau!
— Dino desenhou essa noite, ficou genial, não? — Simas exclamou.
— Ficou lindo mesmo — Hermione admirou-se — mas tenho uma ideia que pode ser boa.
Ela tirou a varinha e falou algumas palavras baixinho. Então o desenho começou a brilhar, e o leão se moveu, parecendo estar vivo, rugindo alto.
— Você é demais, Hermione! — Neville falou contente.
— Vamos de uma vez para o salão principal. – Simas chamou guardando o lençol.
Quando desceram, o salão principal ainda estava vazio, mas não tardou para os alunos aparecerem já vestidos com camisas douradas vermelhas ou verde e prata, eufóricos para o jogo daquela manhã. Cada jogador que chegava era saudado como herói. Olívio Wood, como capitão, foi recebido com uma salva de palmas. Harry já entrou no salão assustado, e quando foi recebido calorosamente pelos grifinórios, seu rosto ficou verde. Por mais que Olívio tivesse tentado manter segredo, logo a escola inteira já havia descoberto quem era o novo apanhador misterioso, e todos estavam ansiosos para ver o desempenho de alguém tão jovem.
— Eu acho que vou vomitar... — Harry choramingou, olhando para a comida em cima da mesa.
— Então vomita agora. Na hora do jogo se concentra em pegar o pomo! — Rony mandou — E não vomita na comida. Você pode não querer comer, mas eu quero.
Hermione deu um cutucão em Rony, bufando. Foi na costela, doeu.
— Fala direito com ele! — ela brigou, e virou-se para Harry. — Você precisa comer alguma coisa.
— Não quero nada. — o garoto falou, desanimado.
— Só um pedacinho de torrada — ela tentou persuadi-lo.
— Não estou com fome.
Simas ouviu a conversa e aproximou-se.
— Harry, você precisa de energia. Os apanhadores são sempre os que acabam aleijados pelo outro time.
Hermione deu o mesmo cutucão de antes, agora em Simas, que gemeu de dor.
Finalmente havia chegado a hora. Todos os alunos e professores já estavam indo para as arquibancadas, ansiosos. Muitos estudantes levavam binóculos, mini fogos filibusteiros para soltar a cada ponto marcado e muitas bandeirolas.
Rony e Hermione juntaram-se a Simas, Dino e Neville num lugar logo a frente na arquibancada no momento em que os jogadores entravam em direção aos vestiários. Harry andava junto com Fred, Jorge e uma moça negra e alta chamada Angelina Johnson.
— E aí, ansiosa para ver como é o jogo? — Rony perguntou a Hermione.
— Na verdade nem tanto. — ela respondeu, embora olhasse com muito interesse para todos os cantos do campo — Li bastante sobre quadribol, acho que já tenho uma ideia bem clara do que vai acontecer.
— Mas não é a mesma coisa imaginar e ver. A emoção é bem maior. — Rony tentou argumentar. Certas coisas em Hermione não mudavam.
Nessa hora os jogadores dos dois times saíram do vestiário. Perto de todos os outros jogadores, Harry parecia demasiadamente pequeno.
Madame Hooch, a professora de voo, era a juíza. Estava parada no meio da quadra esperando os dois times, de vassoura na mão e falou alguma coisa que Rony não conseguiu ouvir. Todos os jogadores montaram suas vassouras. Madame Hooch apitou alto e lançou a goles para o alto. Fora dada a partida.
— E a goles foi de pronto rebatida por Angelina Johnson de Grifinória que ótima artilheira é essa menina, e bonita, também.
— JORDAN!
— Desculpe professora.
O amigo dos gêmeos, Lino Jordan, estava narrando a partida, vigiado de perto pela Professora Minerva.
— Ela está realmente jogando com força total, um passe lindo para Alicia Spinnet, um bom achado de Olívio Wood, no ano passado ficou no time de reserva, de volta a Johnson e.. Não, Sonserina tomou a goles, o capitão de Sonserina rouba a goles e sai correndo. Marcos está voando como uma águia lá no alto, ele vai mar.. Não, foi impedido por uma excelente intervenção do goleiro de Grifinória, Olívio, e Grifinória fica com a goles, no lance a artilheira Cátia Bell de Grifinória, dá um belo mergulho em volta de Marcos e sobe pelo campo e... AI, essa deve ter doído, ela levou um balaço na nuca, perdeu a goles para Sonserina. Agora Adriano Pucey corre na direção do gol, mas é bloqueado por um segundo balaço arremessado por Fred ou Jorge Weasley, é difícil dizer qual dos dois em todo o caso uma boa jogada do batedor de Grifinória, e Johnson tem outra vez aposse da goles, o caminho está livre à sua frente e lá vai ela, realmente voando, desviou de um balaço veloz, as balizas estão à sua frente... Vamos agora, Angelina... O goleiro Bletchley mergulha, não chega a tempo... PONTO PARA GRIFINÓRIA!
A torcida de Grifinória grita ensandecidamente.
— Cheguem para lá, vamos.
— Rúbeo!
Rony e Hermione se apertaram para abrir espaço para Hagrid se sentar com eles.
— Estive assistindo da minha casa — disse indicando um grande binóculo pendurado ao pescoço. Mas não é a mesma coisa que assistir no meio da multidão. Nem sinal do pomo ainda, não é?
— Não — respondeu Rony. — Harry ainda não teve muito que fazer.
— Pelo menos não se machucou, já é alguma coisa — disse Hagrid, levantando o binóculo e espiando Harry lá no céu.
Harry estava voando mais acima, era apenas um pontinho de tão alto que estava. Ele dava voltas em círculos procurando o pomo, mas não teve muito sucesso. De repente, um balaço foi lançado contra ele, e o garoto desviou, habilidoso.
— Essa foi por pouco! — Comentou Hagrid
— Sonserina de posse da goles — Lino Jordan continuava narrando. — O artilheiro Pucey se desvia de dois balaços dos dois Weasley, da artilheira Bell e voa para... esperem aí, será o pomo?
Adriano Pucey deixou cair a goles quando se distraiu olhando o ponto dourado que voava rápido próximo a ele. Harry, como um raio, desceu em direção ao pomo, seus cabelos rebeldes esvoaçando para todos os lados. Terêncio Higgs, o apanhador da Sonserina, desceu correndo atrás de Harry, mas era difícil emparelhar com seu amigo, pois a vassoura de Harry era melhor, e ele em si era muito mais leve, e isso ajudava ainda mais em velocidade, fora que o garoto era realmente bom. Estava se aproximando cada vez mais do pomo, tão perto que os outros jogadores pararam o que estavam fazendo para assistir. Harry praticamente só precisava fechar a mão e...
— Ahhh! — A torcida da Grifinória berrou de raiva. O artilheiro do Sonserina, Marcus Flint, bloqueou Harry de propósito com a vassoura, e quase o derrubou. No jogo, somente o balaço poderia atingir um jogador, jamais o corpo de outro.
Madame Hooch dirigiu-se aborrecida a Marcos, ralhando com ele. Ela deu falta a favor da Grifinória, que era um lance livre diante das balizas. O problema é que nessa confusão, o pomo havia desaparecido.
— Expulsa ele, juíza! Cartão vermelho! — Dino Thomas berrava com todas as forças na cabine.
— Isto não é futebol, Dino — gritou Rony da arquibancada — Você não pode expulsar jogador de campo no Quadribol, e o que é um cartão vermelho?
Mas Hagrid ficou do lado de Dino.
— Deviam mudar as regras, Marcos podia ter derrubado Harry no ar.
— Então, depois dessa desonestidade óbvia e repugnante. – Lino continuou narrando, sem conseguir esconder sua raiva.
— Jordan! — advertiu a Professora Minerva.
— Quero dizer, depois dessa falta clara e revoltante.
— Jordan, estou lhe avisando...
— Muito bem, muito bem. Marcos quase matou o apanhador da Grifinória, o que pode acontecer com qualquer um, tenho certeza, portanto uma penalidade a favor de Grifinória. Spinnet bate, para fora, sem problema, e continuamos o jogo, Sonserina recupera a posse, Marcos com a goles, passa por Spinnet, por Bell... Atingido no rosto com força por um balaço, espero que tenha quebrado o nariz, é brincadeira, professora, Sonserina marca. Ah, não!
— Não sei o que Harry acha que está fazendo — resmungou Hagrid. Espiando pelo binóculo. — Se eu não entendesse da coisa, eu diria que perdeu o controle da vassoura... Mas não pode ser...
Rony não estava prestando atenção em Harry até então. Ao ouvir Hagrid, olhou para cima e tomou um susto. A Ninbus 2000 chacoalhava violentamente, como se quisesse derrubá-lo. Aquilo era impossível, uma vassoura, especialmente uma tão boa como aquela, não dava esse tipo de defeito. Era magia forte, controlada, nem mesmo as vassouras mais básicas fariam uma coisa daquelas. A vassoura subia cada vez mais, sem rumo, como a de Neville na primeira aula de voo. Harry tentava se equilibrar de todas as formas, segurando-se firme, certamente se fosse uma pessoa com menos talento já teria sido derrubado. Numa guinada inesperada, a vassoura finalmente conseguiu desequilibra-lo, e por sorte ele conseguiu-se agarrar com uma das mãos. O problema é que ela não parava de sacudir, e Harry não seria capaz de montar novamente se ela não parasse de uma vez.
— Será que aconteceu alguma coisa à vassoura quando Marcos o bloqueou? — Simas perguntou aflito.
— Não pode ser — respondeu Hagrid, a voz trêmula. — Nada pode interferir com uma vassoura a não ser uma magia negra muito poderosa, nenhum garoto poderia fazer isso com uma Nimbus 2000.
De supetão, Hermione agarrou o binóculo de Hagrid, mas ao invés de olhar para Harry no alto, virou-se para a multidão, olhando de um lado para o outro, nervosa.
— Que é que você está procurando? — Rony perguntou.
— Eu sabia! — exclamou Hermione. — Snape. Olhe.
Rony pegou o binóculo e focalizou o rosto do professor. Snape estava entre os alunos da Sonserina e tinha os olhos presos em Harry, e seus lábios moviam-se sem parar. Não conseguia entender o que ele dizia, mas entendeu o que Hermione insinuava: ele estava interferindo na vassoura
— Ele está fazendo alguma coisa, ele está azarando a vassoura. — disse Hermione.
— Que vamos fazer? — perguntou, nervoso.
— Deixem comigo. — ela falou, sumindo no meio dos alunos.
Ele não sabia o que ela estava pretendendo, mas sabia que podia confiar. Apontou o binóculo para Harry e viu o garoto ainda pendurado. Seu rosto estava vermelho e pingando suor. Ele não ia suportar muito mais, por mais leve que ele fosse. Todos estavam nervosos, os alunos nas arquibancadas já estavam de pé, gritando, assustados. Os jogadores em campo voavam logo abaixo do garoto, para se caso caísse, eles poderiam apará-lo. Os gêmeos voaram até Harry para tentar transferi-lo para suas vassouras, porém cada vez que tentavam se aproximar, a vassoura subia mais. Já os jogadores da Sonserina pouco se importavam se Harry estava com problemas ou não, e com os jogadores da Grifinória ocupados, eles aproveitaram a oportunidade e já tinham marcado cinco vezes sem ninguém notar.
Rony desviou o binóculo para as arquibancadas, a procura de Hermione. Com todos alvoroçados e ela sendo pequena, era quase como encontrar um tronquilho no meio da lenha. Demorou algum tempo, mas logo conseguiu avistar a menina abrindo passagem entre os alunos, já na fileira acima de Snape.
— Anda logo, Hermione — murmurou Rony desesperado.
Ela corria, empurrando os alunos que estavam no caminho recebendo olhares tortos e murmúrios que Rony tinha certeza que não eram elogios. Nem mesmo o professor Quirrell escapou, caindo de onde estava sentado quando ela passou empurrando-o sem dó de cabeça na fileira da frente. A garota abaixou-se logo atrás de Snape, que estava tão concentrado azarando Harry que não notou a movimentação ao seu redor, ela apontou sua varinha para a barra da capa do professor, que estava no chão, e de lá saiu as reluzentes chamas azuis que ela havia aprendido a fazer.
Um grito alto de um aluno que estava ao lado do professor confirmou que o plano havia dado certo. Snape se levantara apressado, apagando o fogo, enquanto ela recolhia as chamas sem se deixar ser percebida. Hermione Granger acabara de atacar um professor. Definitivamente Rony e Harry estavam sendo uma má influência para a garota.
Rony olhou de volta para Harry, e o garoto já estava de volta na vassoura, ofegante, mas seguro.
— Neville, pode olhar! — Rony cutucou o menino. Neville passara os últimos cinco minutos soluçando no casaco de Hagrid.
Agora estavam em uma séria desvantagem. Com a confusão a Sonserina estava muito à frente, e por melhor que fossem os artilheiros Grifinórios, dificilmente se recuperariam desse prejuízo. Estava prestando atenção em Angelina, que estava em posse da goles, quando viu um vulto passar por ela. Era Harry, voando rápido em direção ao chão. Todos se alvoroçaram achando que ele cairia, e caiu, mas antes amorteceu a queda. O garoto levantou-se, levando a mão à boca, parecendo que ia vomitar. Todos aqueles movimentos da vassoura deve tê-lo enjoado e o coitado passaria vergonha na frente da escola inteira. Mas estava enganado, pois após ele tirar a mão da boca, levantou-se bem alto, mostrando a pequena bolinha dourada. Ele havia pegado o pomo, e com a boca.
A torcida vibrava insandecidamente, extasiados pela vitória por cento e setenta a sessenta contra os sonserinos.
— Não adiantou tentar matar o nosso apanhador. Vencemos! Vencemos!
— Jordan! – A professora Mcgonagall esbravejou.
Assim que Harry tomou banho e os três almoçaram, foram para a cabana de Hagrid. Eles contaram tudo o que aconteceu ao garoto, que não sabia se ficava mais espantado por Snape tentar matá-lo ou por Hermione ter incendiado as vestes do professor.
— Foi Snape — repetiu Rony — Hermione e eu vimos. Ele estava azarando a sua vassoura, murmurando, não despregava os olhos de você.
— Bobagens — Hagrid defendeu o professor. Incompreensivelmente ele não viu nada do que aconteceu mesmo estando ao lado deles. — Por que Snape faria uma coisa dessas?
Harry, Rony e Hermione se entreolharam. Hagrid era amigo dos três, mas ainda era um funcionário da escola. Se perguntavam até que ponto poderia confiar nele. Entretanto não tinham outra escolha, pois dos funcionários, ele tinha a maior probabilidade de compreendê-los.
— Descobri uma coisa — Harry falou a Hagrid. — Ele tentou passar pelo cachorro de três cabeças no Dia das Bruxas e levou uma mordida. Achamos que estava tentando roubar o que o cachorro está guardando.
Hagrid deixou cair o bule de chá, os olhos arregalados.
— Como é que vocês sabem da existência do Fofo?
— Fofo?
— É... É meu, o cachorro... Comprei-o de um grego que conheci num bar no ano passado. Emprestei-o a Dumbledore para guardar a...
— O quê? — perguntou Harry ansioso.
— Não me pergunte mais nada — retrucou Hagrid com impaciência. — É segredo.
— Mas Snape está tentando roubá-lo.
— Bobagens — repetiu Hagrid. — Snape é professor de Hogwarts, não faria uma coisa dessas.
— Então por que ele tentou matar Harry? — perguntou Hermione. Ela tinha ficado ofendida por um professor estar atacando um aluno, e agora já não o defendia mais. — Eu conheço uma azaração quando vejo uma, Rúbeo, já li tudo sobre o assunto! A pessoa precisa manter contato visual e Snape nem ao menos piscava, eu vi!
— Estou dizendo que vocês estão enganados! — Hagrid foi taxativo. — Não sei por que a vassoura de Harry estava agindo daquela forma, mas Snape não iria tentar matar um aluno! Agora, escutem bem os três: vocês estão se metendo em coisas que não são de sua conta. Isto é perigoso. Esqueçam aquele cachorro e esqueçam o que ele está guardando, isto é coisa do Professor Dumbledore com o Nicolau Flamel...
— Ah-ah! — exclamou Harry, — Então tem alguém chamado Nicolau Flamel metido na jogada, é?
Hagrid bufou, irritado consigo mesmo. Os três sorriram, confiantes. Suas teorias estavam corretas, o cão guardava alguma coisa, coisa essa que Snape tentava roubar. Agora só restava saber do que se tratava e, é claro, saber que é esse tal Nicolau Flamel.
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