Surpresas II
16. Surpresas II
Acreditar que não acreditamos em nada é crer na crença do descrer.
Millôr Fernandes
Eu pisquei os olhos.
Uma.
Duas.
Três vezes.
Nenhum som para além do riso dele, divertido e humano.
Nenhum som para além do meu engolir em seco, quando o vi parar de rir e fixar os seus olhos vermelhos em mim.
Ele tinha a aparência de um jovem que tinha acabado de sair da escola, então como é que ele podia ser o Voldermort? O bruxo que eu tinha derrotado com um ano de idade?
Magia tinha que ser a resposta. No entanto, eu já o tinha visto antes, nos meus sonhos e ele era assustador, não tinha aquela figura jovem. Seria aquilo um pesadelo? Uma alucinação? Ou simplesmente a magia a mostrar o que conseguia fazer?
- Aparentemente, deixei-te sem palavras.
Eu pisquei os olhos mais uma vez, ao ouvir as palavras calmas e sedosas dele e reagi andando para trás até bater numa poltrona. Como é que eu ia conseguir sair dali?
- Como disse, eu não pretendo magoar-te de nenhuma forma. – Ele voltou a dizer dando um passo cuidadoso na minha direcção.
- Onde é que estou? – Eu perguntei olhando à minha volta e tentando arranjar uma forma de fugir. Ele estava à minha frente, noutra poltrona e atrás de mim só tinha estantes e mais estantes pelo que conseguia ver, ou seja, precisava de fugir passando por ele até à porta que estava na parede à minha frente.
- Na minha casa. – Ele murmurou continuando a usar aquele tom calmo que me estava a irritar profundamente. Ele não era assim, calmo, jovem e divertido. Ele era um monstro, psicopata que tinha mandado atacar aqueles estudantes todos.
Ele era o verdadeiro culpado da morte daquela criança então porque é que não agia como tal? Porque é que ele agia como o Louis agia para as outras pessoas? Calmo, simpático, charmoso…
- O que quer de mim? – Perguntei, tentando arranjar um plano para sair dali e ter mais informações do que estava a fazer naquele sítio e como é que tinha ido parar ali. Teria sido raptado?
- Falar. – Respondeu, simplesmente. – Senta-te que, como disse anteriormente, não pretendo magoar-te de nenhuma forma.
Eu estreitei os olhos, não percebendo qual era o plano dele mas sabendo que não era nada de bom.
- E se eu só quiser ir embora?
A sua face pensativa que estava a analisar-me modificou-se, quando ele sorriu, divertido.
- Eu não consigo mudar desejos Harry, por isso, não posso fazer nada. No entanto, tendo consciência que tu estavas a ver uma memória minha, à qual eu sou muito apegado, as regras da boa educação mandam que tu tenhas esta conversa comigo. – Ele fez uma pausa, analisando e vendo a maneira como eu olhava para ele numa postura desafiadora. – Eu não vou magoar-te Harry. Já te disse isto quatro vezes, por isso, acho que podes confiar em mim nesse aspecto.
Eu ri-me, achando realmente engraçado a ideia dele não ser perigoso. Ele tentou matar-me com um ano e tentou matar-me, mal tinha descoberto que estava vivo.
- É difícil acreditar tendo em conta o nosso passado. – Murmurei, mexendo-me para o lado, preparando-me para correr.
Ele suspirou.
- Harry, se eu te quisesse fazer mal já tinha feito. – Ele estreitou os olhos analisando-me e sorriu outra vez. – Acho que tenho que te explicar uns certos assuntos sobre esta sala antes que tentes fugir. – Murmurou olhando para o tecto e para os quadros que estavam na parede. – Tu estás a sonhar, ou melhor, eu estava a sonhar antes de tu entrares no meu sonho. – Ele murmurou. – Contudo, eu não estou chateado, não precisas de te preocupar. Eu só quero ter uma conversa contigo.
Eu engoli em seco, sentido o meu coração bater alerta. Se ele estivesse a dizer a verdade, como é que aquilo tinha acontecido?
- Estou a ver que ainda não percebes tudo do mundo mágico. – Ele voltou a falar, despertando-me e fazendo-me concluir que ele estava a analisar-me como a um livro aberto. – Existe um tipo de magia mental e eu sou um mestre nela. Não sei como conseguiste entrar na minha lembrança mas sei dizer-te que já te tinha sentido nas outras noites. – Disse, inclinando a cabeça e observando as minhas reacções com atenção. – Então, quando eu digo para te sentar, senta-te porque não vais conseguir fugir afinal isto é a minha mente, o meu santuário.
Eu mordi o lábio tentando pensar rapidamente. Como é que eu me tinha metido em problemas mais uma vez? Sem se quer tentar? E porque é que estava sempre relacionado ao Voldemort?
Se ele dizia a verdade então não conseguia fugir. Iria ficar preso, para sempre, ali? Pensei em tentar fugir mais uma vez, afinal ele devia de estar a mentir, no entanto, a parte de isto ser um sonho devia de ser verdade afinal era a única explicação do porquê eu ter acordado ali, em pé.
Olhei para ele e vi-o sentar e decidi fazer o mesmo. Se isto o iria fazer feliz e provavelmente dar-me mais tempo para pensar, então que fizesse isso.
- Estou a ver que seguiste o meu conselho. Fico feliz por saber que me ouves. – Eu ouvi atentamente cada palavra dele não conseguindo acreditar-me que estava mesmo a acontecer aquilo.- Eu só te quero esclarecer uns fatos e como sei que nunca me ouvirias se chegasse ao pé de ti que lugar melhor que este? – Ele perguntou observando a sala onde estávamos, perdendo o seu olhar na lareira. – Eu sou muitas coisas, Harry, - ele murmurou olhando outra vez para mim, fazendo-me ter um arrepio – e admito que ser uma boa pessoa não é uma delas. – Eu cerrei o maxilar tentando acalmar o meu coração. O que é que este psicopata queria?- No entanto, também não sou um monstro. – Disse, continuando a falar com o seu tom calmo e hipnotizante. – Admito que já estive muito perto de um – ele desviou o seu olhar para a mão e observou-a como se não houvesse mais nada de interessante na sala – mas eu mudei e, por isso, eu agradeço-te. Obrigado.
Depois de o ouvir dizer que ele não era uma boa pessoa (que para mim era uma surpresa!) mas que também não era um monstro (não vou comentar) não esperava realmente que ele me agradecesse.
Obrigado.
Ele estava a agradecer-me? A pessoa que me queria morta desde que eu nasci estava a agradecer-me???
Fiquei tão espantado que fiz a coisa mais inteligente que poderia ter feito naquela altura, murmurei um “Hããã?”, fazendo-o rir.
- Se calhar é um pouco surpreendente ouvires-me dizer isto, tendo em consideração as informações que tens sobre mim. – Ele falou levantando-se. – No entanto, devias de saber que tens que ouvir sempre os dois lados da história, essa foi uma falha tua.
- É um bocado difícil quando nos querem matar. – Eu respondi sem pensar e arregalei os olhos com a resposta dele. Ele gargalhou.
GARGALHOU!
O Voldemort, o psicopata, o terror das crianças gargalhou.
Eu tinha que estar mesmo a sonhar que isto era demasiado irreal.
- Tenho que concordar contigo, eu não te dei hipóteses e, por isso, tenho que te pedir desculpas pelo meu comportamento anterior. Eu estava num caminho muito próximo do da loucura e se não fosses tu, eu nunca conseguiria voltar ao que sou hoje. É devido a isto que eu agradeço-te. – Ele disse descendo a cabeça num comprimento não verbal.
Eu já disse que quando sou muito surpreendido o meu cérebro paralisa e a minha mente fica simplesmente vazia de qualquer pensamento? Pois, foi o que aconteceu outra vez ali.
Eu simplesmente pisquei os olhos, até me perceber que o Voldemort, o Tom Riddle, o assassino de crianças, estava realmente ali à minha frente, a agradecer-me, a pedir-me desculpas, a rir e a gargalhar como outra pessoa qualquer.
Eu levantei-me de um salto, finalmente compreendendo o que estava a acontecer. Ele estava a manipular-me e eu estava tão surpreendido que não estava a perceber nada.
- O que quer? Eu sei que não é assim então pare com os jogos!
A única resposta dele foi o olhar que se fixou em mim, olhando-me directamente nos olhos. Eu obriguei-me a corresponder aquele olhar, observando como os seus olhos vermelhos pareciam não possuir vida e apesar da postura perfeita dele, notava-se que havia algo de errado com ele.
Surpreendentemente, quem cortou o olhar foi ele, sorrindo e relaxando.
- Estou surpreendido. Além de seres poderoso és forte psicologicamente. Realmente, nós os dois somos muito parecidos.
Eu engoli em seco, lembrando-me dos primeiros sonhos que tive com ele, onde ele sentia aquele ódio tão forte. Eu não podia ser parecido com ele! Eu não era um psicopata e muito menos queria matar as pessoas, simplesmente, porque me apetecia.
- Nós não somos parecidos! – Eu murmurei, pela primeira vez mostrando ódio para ele, o que o fez levantar uma sobrancelha, divertido.
- Somos sim. Lembraste do sonho que tiveste antes? Da minha lembrança? Não te faz lembrar nada? Seres maltratado por crianças da tua idade? Ninguém te compreender? Os adultos não quererem saber de ti porque és abandonado e não tens ninguém que te defenda? Do que é ser realmente um órfão? – Ele disse olhando para mim com uma emoção que parecia ser compreensão e aceitação… não era pena como nos olhos das outras pessoas, era mesmo o sentimento de quem tinha passado por aquela experiência. – Eu sei o que isso é porque eu também fui um, Harry. Foi por isso que eu decidi tomar este caminho. – O de um psicopata assassino de crianças? – Não é o caminho que tu conheces mas sim o caminho que eu e os meus seguidores, defendemos. Um mundo mágico livre desses problemas que os Muggles sofrem. Um mundo mágico livre de preconceitos, onde todos somos aceites e o que realmente importa é o poder. Onde o racismo não existe mas sim a aceitação. Tu não queres um mundo assim também? Um mundo onde as pessoas não tenham que sofrer o que nós sofremos? Nós temos esse poder e Harry, tudo o que tu precisas de fazer é unir-te a mim para realizarmos esse sonho. – Ele disse estendendo a sua mão para mim.
Eu olhei para a mão dele e lembrei-me da conversa que tinha tido com o James e a Lily, onde eles falaram em como o mundo mágico era longe de ser perfeito e todos os defeitos que ele tinha. Apesar de eu ter desejado mudá-lo, eu conhecia demasiado os políticos para saber que falar era fácil e isso era tudo o que ele estava a fazer. Ele ainda era um psicopata que tinha morto uma criança.
- Eu nunca me vou unir a si. – Eu disse decidido, olhando-o directamente nos olhos. – Tentou matar crianças e não olha a meios para atingir os fins. Eu sei do ódio que sente e sei que a única coisa que importa é o poder, na sua perspectiva. Eu nunca vou cooperar com uma pessoa assim!
Eu esperei que como resposta tivesse uma maldição, uma agressão ou alguma coisa que mostrasse a sua raiva. No entanto, não esperava o suspiro que o ouvi dar.
- Não posso dizer que estou desapontando Harry, afinal é fácil pensar isso de mim. Mas na altura em que isso ocorreu, eu não estava racional. Eu agora estou diferente e não é só de aparência. A magia que eu usei para voltar teve como consequência, transformar-me numa pessoa muito pouco racional. Só depois daquele incidente em Hogwarts é que eu percebi que tinha que mudar e mudei. – Ele suspirou outra vez e virou-se, voltando a sentar-se. – Por isso, eu aceito a tua decisão. Eu hoje só queria conversar contigo e dar-te uma nova perspectiva do que o meu movimento é realmente, fora a manipulação do ministro. Eu sou um revolucionário não sou um terrorista. Mas enfim, já ocupei muito tempo da tua noite. Se quiseres ir Harry, podes ir.
Eu olhei para ele espantado. Ele não me tentou atacar nem uma vez?
- Harry, eu disse que não te ia magoar e eu cumpro sempre a minha palavra. – Ele murmurou, com um divertimento não escondido na sua voz. – Dorme bem. – Ele murmurou mais suavemente e aquela sala desapareceu, substituída pelo tecto do meu quarto.
Eu tinha tido realmente uma conversa inocente com o Voldemort? O psicopata, assassino e sanguinário Tom Riddle? Eu devia de estar mesmo a enlouquecer…
---OLC---
Eu virei de lado e decidi levantar-me, resignado ao fato que não iria conseguir voltar a dormir. Fui até à cozinha e fui buscar um copo de água. A casa estava escura, o que me fez concluir que devia de ser o único acordado.
Apetecia-me ir até ao lago, ver se ele estava gelado mas sabia que estava frio e ainda nem eram 6 da manhã. Por isso, fui buscar um livro e pus-me a lê-lo. Contudo, também não conseguia fazer isso, eu estava demasiado desconcentrado.
O Voldemort tinha falado comigo e não me tinha feito mal. A dizer que era uma revolucionário não um terrorista.
Será que ele tinha estado louco por causa da forma como voltou à vida?
Mas essa forma não tinha utilizado o Charlie?
O Charlie!!!! Ele tinha feito mal ao Charlie, mandou matar a outra criança e torturou os seus seguidores. Como é que eu podia estar a ouvir uma pessoa assim?
Mas ele não me tinha feito mal e mostrou-se compreensivo. Será que não tinha falado um bocadinho de verdade? O que é que eu sabia mesmo deste mundo?
Que tinha uma família que parecia ser tudo o que qualquer órfão queria mas que havia algum segredo, no meio dela.
Que o Ministro era um imbecil, pelo que o James e o Sirius discutiam.
Que havia uma guerra com pessoas malucas e o principal opositor era o Voldemort aka Tom Riddle.
Voldemort.
Quem era ele? Porque fazia aquilo? Era mesmo para mudar o mundo mágico para melhor, longe daqueles preconceitos que eles tinham?
Mas então porque tinha feito mal ao Charles e às outras pessoas?
Pela loucura do ritual?
Se tivesse sido mesmo a loucura do ritual, será que o poderia culpar? Afinal, uma pessoa não pode ser responsabilizada pelas suas acções.
Mas ele também me tinha tentado matar com um ano de idade. Que tipo de pessoa faz isso? Era também da loucura?
Eu fechei os olhos com força e senti-me a agarrar com força o livro. O que deveria fazer? Contar tudo ao James e à Lily e faze-los ficar preocupados?
Eu nem sabia quem eram os que estavam pelo lado mais certo.
Eu suspirei e remexi no cabelo. Não havia uma boa solução então decidi fazer o que fazia com todos os meus problemas: não pensar mais neles e ignorar. Não era nada de crucial, por isso, isto não iria fazer muito mal.
--OLC--
Eu acabei por adormecer quando o dia começou a nascer e acordei com sussurros no quarto. Por preguiça, não abri os olhos e continuei a fingir que estava a dormir.
- Não te preocupes, quando ele acordar eu dou-lhe o almoço. – Ouvi a voz do Sirius.
Um suspiro.
- Eu queria-me despedir dele. Eu nem lhe disse que hoje ia começar a trabalhar. – Disse a Lily. – Que raio de mãe que me estou a sair.
Eu senti o meu coração bater mais depressa ao ouvir a recriminação na voz dela… Como é que ela podia achar isso só porque pelos vistos ia trabalhar? Ela era assim tão insegura?
- Lily…. – Ouvi a voz do Sirius, séria.
- Eu sei, eu sei. – Respondeu e eu quase que podia apostar que ela tinha posto um sorriso fácil no rosto, tentando disfarçar as emoções dela. – É só o stress de ter que voltar a trabalhar.
Houve um silêncio e eu decidi abrir os olhos. Se lhe podia facilitar a vida, mostrando que estava acordado porquê complicar?
- Harry, acordamos-te?
Eu sorri para o Sirius e neguei com a cabeça, sentando-me na cama.
- Não, já deve de ser tarde e brevemente o Remus deve de estar a chegar para as aulas. – Murmurei, observando a luz da rua.
- Nós vamos agora almoçar não queres vir connosco?
Eu assenti para a Lily e vi os seus olhos, iguais aos meus, suavizarem. Ela estava realmente preocupada e stressada.
Nós descemos e sorri quando vi que o almoço era lasanha. Quem precisava de tomar pequeno-almoço quando tinha isto como almoço?
- Harry, eu esqueci-me de te avisar mas eu hoje vou trabalhar então só vais ter o Sirius e o Remus em casa.
Eu assenti distraído. A Serena já tinha ido trabalhar de manhã e passava o dia todo na loja, onde era recepcionista. Devido a isso, a minha interacção com ela era sempre mínima. O James também saia de manhã e, por norma, só aparecia à noite. O Charles e a Rose iam para a escola e era o Remus ou o Sirius ou a Lily que os iam buscar. O Sirius era o mais inconstante. Tanto ia trabalhar o dia todo como nem aparecia e ficava em casa. Pelo que percebia além de servir como político, ele, o James e o Remus também tinham uma loja e às vezes ia para lá mas sendo preguiçoso, como era, deixava isso para o Remus, que era o motivo para eu só ter aulas à tarde com ele.
- Certo. – Eu murmurei, deliciando-me a comer o almoço.
Houve um silêncio desconfortável e quando levantei os olhos para eles, vi que me estavam a observar. O que é que tinha feito de mal?
- Passa-se alguma coisa?
- Não queres saber o que faço? – Ela perguntou timidamente.
Eu pisquei os olhos. A verdade é que estava habituado a não questionar muito a vida das pessoas devido, principalmente, ao Louis, então aquela informação não era algo que eu achava que precisava de saber. No entanto, se ela queria que eu mostrasse interesse podia fazer isso. Então assenti com a cabeça, pondo mais um bocado de comida na boca, para evitar falar e vi-a começar a falar, parecendo mais animada.
- Eu sou uma inominável.
Ok, ela tinha oficialmente a minha atenção. Os inomináveis eram a profissão mais secreta, tão secreta, que foi daí que veio o nome inominável. Ninguém sabia o que eles faziam e eu tinha a impressão que eles eram espiões.
- O que é exatamente um inominável?
Eu vi a forma como os olhos dela brilharam ao ouvir a minha pergunta e o interesse nela. Será que a discussão de ontem a tinha deixado a pensar que eu já não queria saber dela?
- Não posso dizer, Harry, como desconfio que tu sabes. – Ela disse sorrindo e piscando-me o olho.
- Vocês são espiões, não são? – Eu perguntei, tão interessado que até parei de comer.
Para meu espanto ela riu-se.
- Não. Nós nem recebemos ordens do Ministro e o nosso objectivo não é a guerra. Quer dizer, pode haver uns departamentos com essa finalidade mas nós não nos interessamos por esses assuntos, por isso, não, não somos espiões.
- Não recebem ordens do Ministro?
Ela sorriu mostrando toda a sua jovialidade e fazendo-me ver que ela realmente um mulher bonita.
- Eu não devia dizer isto mas não, nós temos uma direção diferente e somos independentes do Ministro. Temos as nossas próprias regras e os nossos próprios objectivos. É claro que se houvesse algo muito grave nós agiríamos, afinal, o nosso objectivo é o crescimento da comunidade bruxa mas só em situações muito excepcionais.
Eu assenti, ouvindo tudo com atenção. Eu tinha pensado, quando acabasse a escola, ser polícia ou advogado, de forma a colocar as pessoas realmente más na prisão mas agora, achava aquela profissão muito mais interessante.
- Como é que podemos ser Inomináveis?
- Não podes fazer nada para ser, Harry. Nós é que escolhemos quem recrutamos, não são as pessoas que escolhem ser.
- Mas e se eu quiser ser, então o que posso fazer?
Vi os seus olhos escurecerem momentaneamente, como que repreendendo a ideia de eu seguir aquela profissão.
- Sê tu próprio. Estuda e esforça-te para ser o melhor, que garanto-te que chamas a atenção das pessoas necessárias. – Ela suspirou. – Mas Harry, eu tenho que te avisar que esta profissão é mesmo secreta. Tu não podes contar a ninguém o que estás a fazer e vais ter muitas pessoas interessadas no teu trabalho, incluindo bruxos com intenções malignas.
Só quando ela disse aquilo é que eu me lembrei do que a Bellatrix lhe tinha dito no ataque a Hogwarts.
- Mas ele tem que morrer, agora tu podes sobreviver. -Ela disse como se estivesse a explicar a uma criança que 1+1 eram 2 - Junta-te à nossa causa que nós estamos muito interessados nas tuas pesquisas.
Ela fazia pesquisas que interessavam, inclusive, o Voldemort.
- Tu fazes pesquisas não fazes? – Perguntei e vi os seus olhos abrirem-se espantados.
- Como é que sabes?
- No ataque a Hogwarts, a Bellatrix disse que estava interessada nas tuas pesquisas.
Ela suspirou, provavelmente, pelas memórias daquele dia, onde ela se ofereceu para me salvar. Como é que eu ainda podia ter dúvidas dela e do James, quando eles me tinham dados provas que morriam por mim?
- Sim, mas Harry, nós temos uma política muito severa em relação a ser secreto o que fazemos. Existem excepções, de forma a eu conseguir, por exemplo, ter esta conversa contigo mas a maioria do meu trabalho eu não consigo contar. Só que mesmo assim, mesmo tendo estas limitações, o Voldemort está interessado no que eu faço, sendo que sabe perfeitamente que eu nunca lhe conseguiria contar tudo. No entanto, este trabalho desperta tanto interesse que ele até admitiria uma sangue-ruim – ela murmurou a palavra com nojo – nos seus seguidores.
Eu pisquei os olhos espantado. Como é que eu me tinha esquecido que ele odiava os nascidos Muggles? Ou seria coisa da loucura?
- Ele é contra os nascidos Muggles, não é?
- Sim, para ele, eles eram escravos dos sangue-puros. – Quem falou foi o Sirius, com repúdio.
- Mas porquê se ele foi criado num orfanato? Isso não seria parte de uma loucura dele?
Eu fui demasiado lento a reparar no facto que a Lily e o Sirius pararam de se mexer e ficaram a olhar para mim, de olhos arregalados, como se eu tivesse dito que era o Merlim. O que é que eu tinha dito de errado daquela vez?
- O que foi? Não é verdade?
- Harry, - começou, cuidadosamente o Sirius – como é que sabes isso?
Ops… como é que eu me tinha esquecido que só sabia aquilo por causa do sonho? Como é que eu lhes iria explicar sem eles ficarem irritados que eu tinha tido uma conversa com o Voldemort e não lhes tinha contado?
- Eu li em algum lado.
A Lily estreitou os olhos e pôs uma mecha de cabelo atrás da orelha. Eu já tinha lidado com ela o suficiente para perceber que ela estava a ficar irritada.
- Isso não é de conhecimento comum. Porque é que nos estás a mentir?
Eu suspirei e decidi contar-lhes a verdade. Era estúpido não lhes contar quando eles já me tinham salvo e mostrado que davam a sua vida por mim enquanto o Voldemort só tinha mostrado que me queria morto, o quanto mais rápido, melhor.
- Eu tive mais um sonho.
- Harry…. – O Sirius começou, com uma repreensão tão grande na sua voz que eu o interrompi.
- Ontem e não foi bem um sonho. Eu tive uma conversa com ele mas ele não me tentou matar nem nada parecido. Ele só queria conversar.
- Harry, tens que compreender que o Voldemort não quer só conversar. Ele tem sempre um plano. – O Sirius disse duro.
- Mas ele só queria mesmo conversar, não me ameaçou nem fez mal. Só me pediu desculpas e tentou explicar-me o seu ponto de vista.
- Harry, ele quer-te morto!
Eu olhei para a Lily que olhava para mim, com tanta raiva, que tinha lágrimas no canto do olho.
- Ele queria porque estava louco mas agora está diferente. Até de aparência física.
- Harry, tu não te podes acreditar nele. Ele é um psicopata.
Eu suspirei e tapei a minha cara com as minhas mãos, tentando pensar e evitar de ouvir a voz da Lily e do Sirius a dizerem para não confiar nele.
Eu não confiava nele, como também não confiava neles. Eu só confiava em mim e na Rose. Essa era a verdade da minha vida e, sinceramente, não percebia porque o estava a defender. Talvez porque tivesse esperança que ele estivesse só a ser mal percebido ou que tivesse sido mesmo a loucura mas a verdade era que não podia confiar nele.
- Ele tentou matar o teu irmão e a ti, com um ano de idade. Que tipo de pessoa faz isso se não um psicopata. – Ouvi a voz da Lily, com um tom muito fino.
- Eu sei. – Eu disse destapando a cara. – Mas ele disse que foi a loucura e está realmente diferente, no entanto, vocês têm razão e podem estar descansados que não confio nele nem nunca vou confiar.
Os dois expiraram aliviados.
- Harry, tens que nos dar essa memória e aprender a proteger a tua mente. Sirius, falas com o Dumbledore, hoje?
Ele assentiu e eu vi-me mais uma vez a falar.
- Eu não quero dar a memória. – Eu disse, decidido e vi-os olharem espantados para mim, abrindo já a boca em protesto. – Eu não sei o que vocês fazem com a memória mas sei que não ganham nada a vê-la. Têm que acreditar em mim.
- Harry, nós….
- As outras memórias, eu dei-vos porque percebi que ganhavam informações importantes para a guerra mas esta não dou. É a minha vida e vocês não tiram nada dela.
- Nós conseguimos sempre informações importantes. Por isso, tens que compreender que…
- Não! – Eu disse levantando-me fazendo o Sirius calar-se. – Esta é a minha memória. Não percebo o que vocês ganham além de me espiar. Têm que confiar em mim, se não acreditarem, mandem-me outra vez para o orfanato porque eu não vos vou dar esta memória. – E sai, ouvindo os protestos deles mas não ligando.
Eu nunca daria aquela memória, tinha informações pessoais minhas e do Tom Riddle, não do psicopata, Voldemort. Se alguém visse como tinha sido a minha vida no orfanato e com o Louis, tivesse a minha memória desse tempo, eu também não queria que espalhassem. Era pessoal e era errado. Por isso, podia ter consequências mas nunca daria aquela memória.
Foi com essa determinação que fechei os olhos e o cansaço, da noite mal dormida, me atingiu, fazendo-me dormir e esquecer que tinha uma aula com o Remus. Só tinha em mente a determinação de esconder das outras pessoas, o sofrimento que o Tom Riddle tinha tido… o sofrimento que um órfão tinha.
N.A. Para não variar, tenho uma desculpa pelo atraso, estive doente e mal consegui estar no pc. Só tenho este capítulo e o próximo já quase feito porque estou de férias e antes de adoecer, fui escrevendo. No entanto, para isto não se repetir vou começar a pôr um prazo, onde eu não posso falhar. Ou seja, mesmo que não tenha escrito quase nada, isso só irá fazer com que o capítulo seja mais curto porque eu não posso mesmo falhar. Se estiver tudo dentro do normal, até posso pôr mais cedo.
Agora sobre o capítulo, espero que tenha sido uma surpresa e que não tivessem à espera. No próximo, vamos ter Dumbledore, Tom Riddle e mais umas coisinhas.
PS: A fic já está corrigida até ao capítulo 4: Irmãos.
PSS: Tempo até o próximo capítulo: até 17 de Agosto (mas queria ver se era até daqui a uma semana).
Neuzimar de Faria: Eu pretendo só parar de escrever esta fic quando ela estiver finalizada, então ainda vai demorar algum tempo para parar de visitar :p.
Sobre a Hermione, acho que não vai ser no próximo, mas daqui a 2 capítulos vamos ver mais sobre ela e como é a relação dela com o Harry. Como já deve ter concluido, existem muitas histórias mal contadas e está na altura de virem algumas respostas. Pessoalmente, eu gosto muito das cenas entre os dois que vão aparecer mas vou parar de fazer spoilers que se não perde a piada.
Obrigada por continuar a comentar e até ao próximo capítulo ;).
Comentários (1)
Olá! Quantas surpresas! A única coisa que não me surpreendeu foi o fato de o Harry ainda estar encastelado na sua mágoa e desconfiança em relação à sua família. Ele se identificou perigosamente com o Riddle devido às várias semelhanças existentes, sem sombra de dúvida, entre ambos. Mas, acho que o Riddle, de certa forma, se enganou a respeito do Harry ao dizer que ele era psicologicamente forte, naquele momento, sem perceber quanta fragilidade ele ainda tem. Bem, vamos aguardar os próximos capítulos que vão trazer muitas informações preciosas, não é? Então, até lá!
2013-08-03