A dizer a verdade



***



Lily simplesmente odiava ser feita de palhaça, e ser usada como uma escrava por um garoto que estava na sua lista negra era, definitivamente, algo ainda mais humilhante. Por isso, dês do momento em que acordou até a hora do almoço, Lílian andou pelo castelo na maior cautela, esgueirando-se feito um gato, e sempre tomando todo o cuidado para não ficar muito exposta. Quando ouvia alguma risada masculina, escondia o rosto atrás de um livro e quase partia em disparada para o extremo oposto do corredor. Assustava-se facilmente quando confundia-se com a visão de rapazes desleixados com belos cabelos negros,e então rosnava e tremia só de imaginar-se topando com um em especial...

Por isso, em desespero total, enfurnou-se na biblioteca da escola tão logo percebeu que não havia mais nenhum esconderijo que ainda não tivesse usado. Escolhendo uma das últimas mesas ocultas pelas sombras dos fundos da sala, Lily empilhou á sua frente uma verdadeira torre de livros grossos que não pretendia ler. Acolheu os joelhos nos braços e manteve-se em alerta, encolhida como um coelho perneta e cego que está perdido no meio de uma matilha de lobos. Olhava assustada para todos os lados, respirava de modo arfante, e desejava cada vez com mais força que o dia passasse rápido, para que seu joguinho de ser invisível também encontrasse logo seu fim.

Foi quando, de repente, a ruiva deu um pulo elétrico na cadeira, deparando-se exatamente com o objeto de seus temores:

-Hey, Evans!!

-Oh, Black! Me deixe em paz!-choramingou ela, re-arrumando sua fortaleza, que Sirius havia desfigurado ao empurrar os livros pela mesa.

-É impressão minha ou você vem me evitando o dia inteiro, cabelo vermelho?!

-É só impressão, Black!-zombou ela, agora desferindo sua raiva nos livros ao bate-los indelicadamente um sobre o outro.- Não vê?!É por isso que estou tão feliz por você ter me encontrado!- nisso, a garota metralhou um livro antigo, intitulado “Fadas madrinhas e elfos padrinhos” em cima de um pobre e magro folheto. Sirius ergueu as sobrancelhas:

-Certo...e isso não teria nada a ver com o fato de eu ser o seu mestre por hoje, teria?!

-Óbvio que não!- rosnou ela, rasgando o outro com um olhar fulminante. Suas unhas então trituravam a capa do objeto em suas mãos.

-Que bom!-Sirius continuou alegremente com aquele jogo de cinismo, tirando proveito da situação.- Porque eu vou começar agora mesmo com a primeira ordem do dia!

Lily seria capaz de matar o moreno naquele exato momento. A maneira como ela o olhou já traduzia pelo menos um terço do que sentia, que nada mais eram do que desejos assassinos com um teor sanguinários. Seus lábios estavam vermelhos, seus cabelos caiam ao seu redor como cascatas de fogo, e sua pele parecia tão branca quanto a de um fantasma desbotado. Sirius, mesmo diante daquela visão fatal, não perdeu sua característica pose, sempre galanteada com um ar de superioridade:

-Como você sabe, amanhã é aniversário do Pontas.

-Claro.-Lily chiou, ficando á par do fato apenas naquele segundo.

-Eu, Remo e Pedro estamos preparando uma festa surpresa para ele amanhã no Três Vassouras, e é claro que eu gostaria muito que você fosse...bem, eu não...ele.-foi dizendo Sirius, casualmente.

-Sim. E daí?!- Lily começou, inconscientemente, a bater num ritmo irritante e ecoante a pontinha de seu sapato no assoalho da biblioteca. Com isso, Sirius crispou os nós de seus dedos, nervoso, mas não fez nenhum comentário a respeito.

-Bem...já que nosso acordo está valendo, eu meio que ordeno que você vá.

Lily soltou uma risada seca:

-Você “meio que ordena”?

-Falando educadamente, sim.

-Educadamente?!- surpreendeu-se ela.

-Tudo o que você vai fazer hoje é me repetir?!- retrucou o maroto, um sorrisinho leve nos lábios malandros.- Eu simplesmente poderia estalar um chicote e te arrastar até aquele bar, mas como eu mesmo disse, sou uma pessoa educada.

Tudo o que Lily pôde fazer diante de tanto sarcasmo foi cair numa gargalhada gostosa, quase louca e enfurecida. Mesmo com o lugar vazio do jeito que estava, a bibliotecário acabou indo tirar satisfações com a dupla, expulsando-os a pontapés logo em seguida.

No corredor desértico, apoiado na porta trancada da biblioteca, Sirius aguardou pacientemente, com as mãos nos bolsos da calça, que as risadas quase forçadas de Lílian cessassem, o que só aconteceu quando a face da jovem ficou roxa como uma berinjela.

-Você deve estar brincando, Black!-arfou ela, contendo sua respiração precipitada com uma mão sobre os seios.

-Eu vou te contar um segredinho, Evans...-sussurrou Sirius, puxando o rostinho da garota para perto de si, a fim de grudas o ouvido da moça em seus lábios. Sussurrou, desafiador.- você gosta do Tiago, eu tenho certeza disso.-Lily bufou alguma coisa e tentou se afastar, mas Sirius a prendeu pelo pulso, continuando com os murmúrios cruéis.- Sim, você gosta. E não, vocês não estão saindo juntos apenas por um acaso...vocês estão saindo juntos porque você finalmente se rendeu,por mais chata e imprevisível que seja, você finalmente decidiu ouvir seu interior...-Lily fez força para se livrar, mas Sirius era infinitamente mais forte do que ela. A tortura continuou- Então pelo seu próprio bem, deixe de se fingir de durona, pare de se enganar e uma vez na vida faça a coisa certa.

Com os olhos molhados, com a face corada e com seu alter ego estilhaçado, Lily se viu livre novamente. Ela olhou para Sirius com um ar vexado, humilhado, inferiorizado, mas o rapaz apenas deu as costas para ela, como quem diz “Me procure quando você se decidir”.

Sozinha, ela então se viu mergulhada nos próprios pensamentos, afogada pelos próprios remorsos, agarrada á sua única bóia, que era seu bom senso.




“Eu não acredito que o Black me mandou fazer essa palermice!” – a garota refazia a ponta de sua trança com um delicado descuido, ainda encarando-se diante do espelho.- “Além de uma tática ultrapassada, é extremamente infeliz!Oh, como eu me sinto estúpida!”.

A ruivinha então cobriu o topo de sua cabeça com uma bela boina, fechando assim seu visual de traje outonal. Suas luvas, sua saia com meias de lã, o casaquinho e o gorro lhe davam um aspecto fofo de um afável travesseiro, o que não a incomodava dês de que ela se sentisse aquecida. Desceu as escadas numa calmaria deprimida, e foi aguardar Tiago na porta de saída do Salão Principal com uma expressão quase de tédio encobrindo o seu rosto.

“Se ele não aparecer em meio segundo eu...”.

-Oi, Lily.- a voz a intercotou, acalorada e matreira. Os olhos esmeralda da garota faiscaram:

-Você ainda não tem permissão para me chamar assim, Potter.

-Ué, mas nós até já estamos saindo juntos!Eu pensei...

-Seja lá o que for, pensou errado.- finalizou ela rudemente, encaixando o braço no de Tiago com um mau humor exageradamente visível. O rapaz pareceu incomodar-se:

-Olhe, não é como se eu estivesse te obrigando a sair comigo, então será que você podia pelo menos sorrir um pouquinho?

Ele tinha bons argumentos, o malandro. Lily olhou para ele como quem pede paciência, afinal de contas “A imagem que ela tinha dele ainda não sofrera grandes e significantes mudanças”, o que foi o suficiente para baixar o fogo do maroto bruscamente. Caminharam em silencio, mas inquietos. Ele por ter de suportar aquela proximidade fingindo indiferença, ela praticamente pelo mesmo motivo, além de um outro que nada mais era além de raiva perante o motivo anterior. Tiago, afinal de contas, ficava irresistível com aquela calça, aquele casaco, aqueles cabelos, aquele modo de andar...como seria possível engolir os suspiros e repreender pensamentos embargados perto de tamanha tentação?!

“Calma Lily, fique calma...tudo o que o Black pediu foi para que você o distraísse no povoado enquanto eles aprontavam o Três Vassouras. Não tem nada demais nisso,tem?!” ela se perguntou, insegura.

Mas era óbvio que tinha. Distrair Tiago Potter não era tarefa fácil, uma vez que o garoto estava sempre atento, desconfiado, e era realmente audaz. Logo ao desembarcar em Hogmead, ele já foi perguntando pelos amigos, ao que Lily lhe respondeu que “não os via dês de manhã”. Tiago então sugeriu que eles fossem para o Três Vassouras, como que de propósito, quando Lily propôs desvairadamente que eles escolhessem um lugar menos povoado, já que “não gostava de multidões”.

Aquele encontro estava ficando estranho. Lílian Evans era mesmo uma garota complicada e, sim, não apenas complicada como teimosa, mas precisava ser tão imprevisível?!Conversar com ela era tão seguro quanto pisar sobre ovos com os olhos vendados!

Como quem não quer nada, Tiago guiou sua mão despreocupadamente para a mão aérea da ruivinha, primeiro roçando, depois, entrelaçando seus dedos. Ela sentiu o toque. Olhou para ele, que sorriu:

-Venha comigo.

-Para onde?

-Apenas venha.

Tiago a puxou indelicadamente para longe da contínua multidão, fazendo-a tropeçar, capengar e lançar algumas olhadelas para trás. Seus sapatos pisaram primeiro em pedras de um asfalto duro e, depois, numa grama úmida já coberta por folhas secas. Foi quando, correndo contra a sua vontade, deixando as casinhas vermelhas e as lojinhas exóticas de Hogsmead, a garota notou a aparência de praça que tinha aquele novo cenário, erguendo uma sobrancelha:

-Potter, para onde você está me levando?!

Tiago parou de correr sem nem sequer ofegar, graças ao preparo físico. Virou-se para uma arfante Lily e pediu, carinhoso mas apressado, para que ela “fechasse os olhos”.

-Está maluco?! Pra quê?!-teimou a jovem, olhando-o com desconfiança.

-Porque eu estou pedindo.-respondeu ele, vagamente.

A resposta não foi satisfatória, mas ela não estava a fim de tornar aquilo uma discussão. Fechou os olhos ainda com uma careta de desaprovação, e tão logo se deixou assim, vulnerável, pôde sentir as mãos de Tiago puxando as suas novamente. Ela começou a se deixar guiar, curiosa, mas irritada. Andavam com calma, com medo, com insegurança. Os sentidos de Lily ficaram apurados graças á sua momentânea cegueira, permitindo-a sentir e pressentir o leve nervosismo que emanava do peito de Tiago e de sua respiração, que era ligeira, acentuada.

-Continue com os olhos fechados.-pediu o rapaz apreensivo, parando por fim. O coração da mocinha batucava acelerado. Seu peito erguia-se num ritmo nervoso.

Ela sentiu então, ultrajada, as duas mãos de Tiago tocando sua cintura, como se quisessem acomoda-la sentada em algum lugar. Lily exclamou um “Oh!” irritado, obrigando o maroto a se afastar.

-Ok, então sente-se aqui...-ele fez com que ela, confusa, apalpasse uma espécie muito estreita de acento.- e segure o meu pescoço.

-Segurar o seu..?

-Assim.- o próprio rapaz levou os bracinhos trêmulos de Lílian para si, serpenteando-os ao redor de seu pescoço. A garota sentou-se (agora quase em pânico por não saber aonde) atrás dele, colando o peito ás suas costas.

-Tiahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!

Mal Lily foi ajustada, e Tiago já saiu zunindo pelos ares: a vassoura que os acomodava deu uma arrancada inicial que espalhou todas as folhas secas ao seu redor, ventando como um helicóptero.Lily sentiu a comprovação da lei da Inércia de seu corpo quando foi quase deixada para trás no primeiro arranque, tendo que se agarrar com violência no motorista á sua frente, apertando o abraço com tanta força que Tiago teve a impressão de que iria cuspir o próprio fígado.

Seus olhos verdes estavam arregalados, mirando em desespero o solo ficar cada vez mais afastado, o povoado cada vez mais próximo de uma maquete e o vento cada vez mais impetuoso. Fazia um bom tempo que ela não voava de vassoura, talvez dês do primeiro ano, quando a atividade era obrigatória.

-Onde conseguiu essa vassoura?!-ela questionou, sem querer olhar para baixo. Sentia a garganta pulsar, como se seu coração estivesse alojado ali.

-Eu me lembrei que tinha largado ela aqui!- contou ele negligentemente, fazendo uma manobra para desviar-se de uma chaminé que soltava baforadas densas de fumaça, o que provavelmente embaçaria sua visão. Aquilo produziu no estômago de Lily uma sensação gelada de quem acaba de passar bruscamente por uma virada de Montanha –Russa.

-Seu desgraçado!!Não faça isso outra vez!!-ela urrou. Seu coração enlouquecera de tal forma que Pontas quase podia sentir o batuque vindo do peito de Lily reboar nas suas costas.

-Isso o que?- e guiou a vassoura para mais uma virada brusca, desta vez perdendo altitude de propósito para depois voltar e subir com tudo: com isso, Lily pôde sentir todos os seus órgãos saltarem congelados dentro de si:

-ISSO!!

-Muahahaha!!Mas é emocionante, não é?!

-Não, não é!

Tiago agora ousou acelerar ainda mais; sentiu então um zumbido agudo e longo em seus ouvidos, graças ao ar que ele ia rasgando numa velocidade impressionante. Lílian o agarrava apavorada, arrepiando-o, fazendo-o queimar em desejo e prazer.

-Tiago, mais devagar...- sussurrou ela, os olhos cerrados, os lábios trêmulos, o coração desembestado e os nervos á mil. O rapaz então desacelerou suavemente e, cheio de compaixão, deslizou sua vassoura obliquamente para diminuir a altura entre eles e o solo, pedindo, por fim:

-Abra os olhos, Lil. É muito bonita a visão daqui de cima, você não vai se arrepender. Confie em mim.

Lentamente, temerosamente, ela entreabriu um olho, depois o outro. Sentia mais confiança no rapaz, apertava-o agora mais por

vontade própria, e se permitiu, zonza, olhar na direção onde seus pézinhos balançavam dependurados.

Uma névoa fina cobria as telhas daquelas casinhas, que pareciam feitas de doces, como em “João e Maria”. Acima de nuvens baixas e de fumaças cinzentas cuspidas pelas chaminés, os raios do sol cintilavam lindamente sobre o povoado, onde algumas pessoas acenavam para eles. Lily não sentia mais medo. A grande altitude não mais lhe intimidava, mas sim, dava-lhe uma estranha sensação de liberdade, além de um gosto selvagem por aventura.

-Isso é tão divertido!-ela exclamou, desabrochando o sufocante aperto que dava em Tiago. O vento desfazia sua trança, agraciava seu rosto, lhe provocava cócegas nas orelhas. Abrindo os braços, a garota teve quase plena convicção de que estava voando, e aquele sentimento lhe causava uma tremenda paz interior. Tiago estabilizou a vassoura, suavemente guiando aquele passeio, até que Lily decidiu o sacudir, tomada por total empolgação:

-Vamos mais rápido!

Tiago sorriu, comandando sua Shooting Star para mais uma perigosa manobra nos ares. O cenário tornou-se um borrão, uma imensa quantidade de adrenalina foi produzida no corpo de ambos e, no auge de seu entusiasmo, Lily gritou de alegria. Tiago então decidiu apontar a Star para baixo, simulando uma queda brusca e descendo velozmente, entregando-os assim para a força da gravidade.Eles despencaram de uma maneira absurda.A sensação era a mesma que teriam em total queda livre.

Engasgando-se em gargalhadas, Lily agarrou-se novamente em Tiago para avisar que sua boina tinha caído. Ele então fez uma curva no ar, preparando uma bem calculada descida.

Estacionaram em frente á uma pracinha pouco visitada, quase na limítrofe de Hogsmead com a estação de trem onde desciam do expresso de Hogwarts. Lily desceu ofegante, corada e descabelada, mas ainda assim decidiu dar uma corridinha para recolher sua boina do chão. Tiago agora analisava sua vassoura com extremo cuidado, já de pé:

-O que achou?- ele perguntou, tentando esconder uma espécie de insegurança em sua voz. Lílian tentava ajustar seus cabelos e disfarçar seu novo aspecto vandalizado, o que mesmo assim não escondia um sorriso tolo de seus lábios:

-Essa foi a coisa mais divertida que eu já fiz!- os músculos faciais

do rapaz relaxaram com aquelas palavras, ao passo em que um largo sorriso de satisfação o iluminou. Lily completou-se rapidamente- E sabe o que seria ainda mais legal?Uma passada no Três Vassouras!

-Caminhando, minha donzela?-perguntou ele, estendendo o braço.

-Sim, meu príncipe.- piscou Lily, encaixando-se no rapaz.




Foi após uma deliciosa caminhada que Lily virou-se para o moreno com um sorrisinho maroto nos lábios, assumindo uma expressão que aprendera com o próprio Tiago:

-Agora você, feche os olhos.

-Evans, o que é isso?!- ele gargalhou, descrente, mas interessado.

-Como você é desconfiado, apenas feche!-ela devolveu a risada, exitando em colocar a mão na maçaneta do bar. Tiago obedeceu com um leve arrepio lhe subindo pela espinha, enquanto Lily abria a porta do famoso Aliança Três Vassouras e o puxava pelo braço, quase tão ansiosa quanto ele.

Os olhos fechados do rapaz sentiam que o ambiente estava escuro, ao passo em que todos os seus outros sentidos lhe alertavam a presença de alguém...ou, ainda, de muitos “alguéns”.

Ele sentiu então, com certa inquietação, que os dedos de Lily soltavam sua mão. Ia protestar, quando suas pálpebras fechadas arderam com uma repentina iluminação... “Abra os olhos”-ele ouviu dizerem seus próprios pensamentos.

Obedeceu instantaneamente. Foi então num espasmo entusiasmado de surpresa e alegria que viu todo o bar invadido por seus amigos, todo o cenário recriado para uma espécie de festa, enfeitado para ele. Num coro entusiástico, todos urraram um histérico “Surpresa!” em parceria com várias línguas de sogra, confetes, bexigas, velas voadoras, abóboras e morceguinhos de papel que foram lançados no ar. Aos fundos, atrás do balcão onde madame Rosmerta batia palmas, uma faixa com os dizeres “Feliz aniversário, Tiago!” despencava como um cobertor sobre o distraído Pedro Pettigrew, provando que fora muito mal pregada graças á pressa da arrumação.

-Cara!-exclamou por fim o aniversariante, afundando a mão nos próprios cabelos, desconcertado.- Vocês lembraram!

-Claro que lembramos, idiota!- o braço acolhedor de Sirius envolveu os ombros de Tiago, saudando-o carinhosa e desleixadamente.- Você acha que não é importante?!

Tiago ia responder algo como “Eu sei que eu sou!”, mas Remo rapidamente cortou aquele acesso de demonstração extravagante de amor próprio, metendo nos cabelos desgrenhados do amigo um chapeuzinho (infantil, mas essencial) de aniversário.

-Eu não sabia que vocês tinham essa capacidade de organização!-comentou Pontas, ajeitando o chapéu pontudo sobre a cabeça enquanto observava toda a decoração. Sirius e Remo fingiram estarem ofendidos:

-Oh!Como você ousa nos subestimar desse jeito?! Que absurdo, não é Aluado?!

- Depois dessa, você acha que ele valeu o sacrifício, Almofadinhas?!

Com a pergunta, Sirius lançou um olhar pensativo para o melhor amigo, como se estivesse o avaliando para encontrar a resposta. Graças ao sorriso que Tiago lançou para ele, encabulado, Sirius finalmente respondeu, pousando a mão em seu ombro:

-Eu acho.

Frankie Longbottom decidiu ligar o som com um movimento ágil de sua varinha, e logo uma música animada começou a embalar os jovens ansiosos que povoavam o bar, enchendo os ouvidos de todos, explodindo aquele quase silêncio, e dando início ao que prometia ser uma grande comemoração.



Rock 'n roll is here to stay, it will never die

It was meant to be that way, though I don't know why

I don't care what people say, rock 'n roll is here to stay

(We don't care what people say, rock 'n roll is here to stay)



Andrômeda arrastou Remo para o centro da pista, fora de si com tanta agitação. Muitas garrafas de bebidas, especialmente cervejas amanteigadas, rebentaram suas espumas ao serem escancaradas, e entre gargalhadas estrondosas, rapazes e moças tomavam posse das cadeiras, da área de dança e do balcão onde comida estava sendo servida.

Pedro Pettigrew, por exemplo, sem par para dançar, enrolou-se com uma pilha assombrosa de coxinhas, pasteizinhos, pães de queijo e pizzas, enquanto Sirius era ferreamente disputado por uma leva de garotas a fim de apertarem-se contra ele com o pretexto de agitarem-se ao som da música.





Rock 'n roll will always be our ticket to the end

It will go down in history, just you wait, my friend

Rock 'n roll will always be, it'll go down in history

(Rock 'n roll will always be, it'll go down in history)





-E-eu não sei dançar muito bem, Black!- gaguejou Remo, esgueirando-se (ou pelo menos tentando) para fora da pista.

-Primeiro: me chame de Andrômeda.- disse a garota que não soltava o braço do maroto nem por um instante, o que começava a desesperá-lo.- Segundo; dançar não é um desafio...é um prazer!Venha!

Remo sentiu-se ser tragado novamente para o meio daquela multidão eufórica que sacudia o esqueleto, e sem saída, manteve-se perto da inesperadamente, inexplicavelmente e subitamente devassa prima de Sirius. O Rock´n Roll estava tão estridente, tão reboante, que Lupin pôde apenar assistir os lábios vermelhos de Andrômeda falarem alguma coisa. Ele gritou para ela tentando avisar que não havia escutado patavinas, o que fez a moça colar-se ao seu ouvido:

-Você me beijaria de novo...ou aquilo não passou de um desafio?

O sussurro provocou uma espécie fraca de vertigem no rapaz, que demorou um bom meio minuto para responder.



So come on, everybody rock, everybody rock,

everybody rock, everybody rock





-Venha, vamos fazer ser de verdade!-por fim Lupin retrucou, fremido por um súbito desejo.A garota, no entanto, não pôde ouvi-lo graças á agitada canção que ardia todo o bar do Três Vassouras.

Alice e Frankie começaram a deparar-se com dificuldades para dançar graças ao casal Remo e Andrômeda, que se beijavam furiosamente bem no meio da área restrita de dança. Por outro lado, Sirius e aproximadamente umas cinco garotas arrancavam exclamações com seus movimentos espaçosos, ao mesmo tempo em que Tiago tentava se livrar de uma bêbada Narcisa, que havia o cercado.



Everybody rock

Now everybody rock 'n roll, everybody rock 'n roll,

everybody rock 'n roll

Everybody rock 'n roll, everybody rock 'n roll

Rock 'n roll will always be our ticket to the end

It will go down in history, just you wait, my friend



Lílian sentou-se um tanto rançosa diante de tanta libertinagem, friccionando firmemente em suas mãos uma bebida que não fazia muita idéia do que seria. Em sua mesa (que assim como as demais estava enfeitada por uma toalha bordada com as cores de Grifinória, em homenagem ao patriótico apanhador e treinador Tiago), uma vela se abrasava solitária, terminando com seu pavio lenta e silenciosamente...assim como a própria Lily o fazia internamente. Ao ver de relance a loira sonserina fazer um gesto desavisado que fez Tiago estremecer, algo como uma onda de ciúme afogou a atenção da ruiva. Desviando o rosto, ela jogou garganta á dentro toda aquela bebida odiosa, que desceu rasgando e queimando fortemente suas entranhas.

Pousou o copo vazio na mesa. Enquanto ensaiava uma saída discreta, porém, Mundungo Fletcher veio lhe convidar para dançar. Lily recusou amavelmente, alegando estar com dor de cabeça...mas o criminoso farrapo humano, todo desengonçado, impôs sua força ao puxar a garota para junto dos outros. Nessas condições, ela cedeu.

Enquanto acompanhava os passos de Dunga, Lily podia inalar um cheiro nauseabundo que exalava de seu acompanhante. Na verdade, ele estava tão impregnado pelo odor de bebida alcoólica que parecia que, só de estar próximo á ele, podia-se ficar embriagado. Tentou esconder uma careta ao vê-lo sorrir ébria e tolamente para ela.



Rock 'n roll will always be, it'll go down in history

If you don't like rock 'n roll, think what you've been missin'



Remo e Andrômeda ofegavam. Sua troca incansável de beijos parecia finalmente ter lhes sugado todas as energias. Assim, enquanto os dois abandonavam a pista para se refrescarem, Pedro entrava já meio alterado. Estava agora mais do que claro o porquê de Madame Rosmerta ter concordado em ceder o bar para aquela festa: sua cota de bebidas vendidas nunca havia sido tão alta, e era com grande empolgação que ela passava por entre os adolescentes.

O ar já estava se tornando asfixiante...



But if you like to bop and strawl, come on down and listen

Let's all start to have a ball, everybody rock 'n roll

Ah, oh baby, ah, oh baby, ah,

oh baby, ah, oh baby, rock!



Mal a música terminou, e Mundungo Fletcher despencou sobre Lily, que amparou o pobre bêbado usando todas as forças que sabia que tinha. Com a ajuda de Amus Diggori, a ruiva ajeitou o inconsciente boêmio numa cadeira á um canto, afastando-se pro fim, fatigada.

Sua cabeça doía, o que piorou com o início de uma nova canção. Sentiu então que estava de mau humor e lançou em volta de si um olhar de tédio, irritado. Pretendia sair, tomar ar e só então voltar para o bolo com velinhas, quando uma cena chocou-se contra seus olhos enevoados, loucos, e naquele momento, febris...

Narcisa Black, a ousada, simplesmente decidira agarrar Tiago Potter, ali mesmo, sem explicações, descaradamente, arrojadamente.Enquanto seus lábios ardiz mordiscavam a língua do rapaz, enquanto suas unhas compridas arranhavam aquela nuca, bagunçavam aqueles cabelos, enquanto seu corpo esguio roçava aquele corpo, enquanto sua língua de serpente afogueava aquela orelha, enquanto todo o seu veneno era injetado no objeto de ódio e amor, recolhimento e desejo, tentação e loucura, arrependimento e frieza que tanto atormentava Lílian Evans, o ar pareceu ficar tão pesado quanto chumbo.

Tiago afastou-se da loira com repulsa e surpresa, ofegante, o que não foi o suficiente para impedir que Lily deixasse o bar numa carreira desabalada, atropelando Sirius, derrubando a bebida de Berta Jorkins e arrebentando a porta de saída.

-Ela viu?!- exclamou Tiago, pálido. Mas Narcisa simplesmente

sacou um cigarro, murmurando displicentemente um “Quem se importa?!” e calou-se numa nuvem de fumaça. Aquilo tirou o grifinório do sério. Se não fosse por Sirius, que agilmente entrou em cena, ele poderia ter acertado a dissimulada futura senhora Malfoy com um murro:

-Não estrague tudo hoje Pontas, não no seu aniversário!

-Onde ela foi?!-esbravejou Tiago, sacudindo Sirius pelos ombros. Almofadinhas livrou-se dele pacientemente:

-Porque você mesmo não vai descobrir?!

Extremamente abalado, Tiago rumou para fora ao som de “You´r the one that I want”.






Ela deu as costas para o rapaz, permitindo que os cabelos ruivos escondessem e camuflassem qualquer sinal de fraqueza. A única visão de Tiago, agora, eram as costas de Lílian, que escondiam do outro lado uma garota angustiada, cuja a expressão estava corrompida por lágrimas e sofrimento.

Mas ele não via. Ela não deixava ele ver. Não queria que ele percebesse, não queria que descobrisse que por detrás da dura e certinha Evans existia uma adolescente cheia de problemas, cheia de dores, cheia de sentimentos escondidos. Desespero abafado. Lágrimas presas. Coração partido. Desejos ignorados. Amor desiludido...ah, o amor!O amor que se transformara em inimigo inoportuno e, muitas vezes, o causador de todo e qualquer sentimento pesado.

O cérebro de Lílian entrou em ação, trabalhando arduamente para mandar mensagens para o resto do corpo, obrigando-o a obedecer. A ação esperando a reação, que não vinha...não reagia...não se importava.

O cérebro mandava, mas as pernas não obedeciam. Lílian queria ir embora, sair da visão de Potter o mais rápido possível porque, mas cedo ou mais tarde, ele iria cansar de fitar suas costas.Ele iria exigir uma explicação. Uma explicação que ela não tinha, ou, pelo menos, não queria ter.

Então tudo o que a grifinória pôde fazer foi chorar.Chorar como á tempos não se permitia fazer: desmanchou-se em lágrimas, liberando por meio destas tudo. Todos os tormentos que ela só sabia acumular, empilhar, retrair, mas nunca solucionar. Lílian finalmente desabafou, seu corpo finalmente se rendeu ás súplicas de seu coração, e ela finalmente pareceu mais humana. Mas frágil. Mais sensível.

Do outro lado, um atônito Tiago assistia á cena mais chocante de toda a sua vida.As cascatas ruivas poderiam encobrir a visão, mas não podiam abafar os soluços convulsos que começaram a saltar como rãs na garganta da bruxinha, que abraçava a si mesma num ato desesperado de solidão. O moreno engoliu em seco, tremendo de compaixão.

Ele vacilou um pouco, dando um meio passo na direção da garota, que sentindo seus movimentos,como que em alerta, apenas gaguejou entre o choro:

-Vá embora, Potter!

Ele parou imediatamente, perdendo toda a coragem de agir. Pela primeira vez na vida ele considerou um pedido de Lílian e, pela primeira vez também, admitiu a dura realidade: sua presença não causava nada á não ser desgosto para a jovem. Talvez ele realmente tivesse que deixa-la em paz, não apenas ali, afogada em seus próprios problemas, mas deixa-la em paz para sempre. Desistir de perseguí-la.

Essa era a coisa mais sensata á se fazer, a mais racional, aquela que ele deveria ter feito dês do primeiro “Eu te odeio Potter”...

Mas então, quando finalmente virou os ombros e corpo para dar as costas para a cena e seguir seu próprio caminho,sentiu como se uma barreira o impedisse de fazer isso. Estava errado...-Lily engasgou-se em meio á um soluço- Ele não podia agir de modo tão frio e insensível- ela tentou conter uma tosse amarga, proveniente da abundância de lágrimas- Não podia larga-la daquela maneira. Não assim. Não agora. Não podia... Não iria.

Tiago sentiu que ignorar o sofrimento de Lily era pedir mais do que forças humanas, e mandando pros infernos a sensatez e a razão, ele correu para ela desesperadamente, enlaçando sua cintura por trás, enquanto depôs em seu ombro um beijo onde havia tanta raiva quanto amor.

-Não!-a voz embargada da estudante interferiu os atos apaixonados do outro-Não...

Dessa vez foram dois golpes em vez de um no coração de Tiago.

O pedido fora feito tão bruscamente que era como se uma faca afiadíssima tivesse dado o golpe de misericórdia em seu peito e, ferido fatalmente, ele afrouxou os braços, sem mais resistir. Ela realmente não o queria por perto, e ele devia aceitar isso...

-Não pare.-ela completou.



There is something that I see

(existe algo que eu percebo)

In the way you look at me

(no modo como você me olha)

There's a smile, there's a truth in your eyes

(tem um sorriso, uma sinceridade em seus olhos)



O peito de Tiago pareceu se rachar em dois tamanha surpresa. A voz de Lílian, apesar das lágrimas grossas, saíra clara e compreensível.Ela repetiu:

-Não pare Tiago...não vá embora...

Ele sussurrou, numa resposta embalada por emoção:

-Não vou Evans, nunca.- e as palavras roçaram na orelha da estudante, fazendo-a arrepiar-se de prazer, enquanto ele, numa febre doentia, acalentava Lílian com beijos no pescoço e um abraço firme, quente, revigorante.



But in an unexpected way

(mas de uma maneira inesperada)

On this unexpected day

(neste dia inesperado)

Could it mean this is where I belong?

(pode significar que é aqui que eu pertenço?)

It is you I have loved all along

(é você que eu venho amando todo esse tempo)



Ela ganiu como agradecimento, deixando-se levar, aceitando os carinhos, abrindo as portas para receber todo o amor que tanto desprezou, que tanto evitou, que tanto precisou...

Era como se aquilo fosse a resposta para todas as suas perguntas, a salvação para todos os seus temores, o fim de seu sofrimento.Lágrima, dor, solidão...todos foram soterrados, derretidos por aquele calor que incendiava seu corpo, transformando o gelo em líquido e este em vapor. Libertando-a. Puxando-a do abismo que ela quase escorregara, mostrando a verdade antes inconcebível e agora tão clara. Tão espantosamente óbvia. Sim, a verdade...



It's no more mystery

(não é mais um mistério)

It is finally clear to me

(finalmente esta claro para mim)

You're the home my heart searched for so long

(você é a casa que meu coração esteve procurando)

And it is you I have loved all along

(é você que eu venho amando todo esse tempo)



Ultimamente Lily vinha criando uma só para ela. Ela transformava as mentiras em verdades e acreditava estar no rumo certo. Ela transformava as dificuldades da vida em barreira invencíveis, simplesmente porque não seguia o caminho mais fácil com medo de que fosse o errado. Mas como fazer essa distinção?

Eis o grande mistério da vida que, naquele momento, ela não estava preocupada em solucionar.

Lily deu um basta á todas as complicações!

De agora em diante ela iria pensar duas vezes antes de seguir a razão fielmente e esmagar sua emoção...deveria haver o equilibro, e Tiago lhe proporcionaria este equilíbrio.



There were times I ran to hide

(teve vezes em que eu corri para esconder)

Afraid to show the other side

(com medo de mostrar o outro lado)

Alone in the night without you

(sozinha na noite, sem você)



But now I know just who you are

(mas agora eu sei quem você é)

And I know you hold my heart

( eu sei que você tem meu coração)

Finally this is where I belong

(finalmente, é aqui que eu pertenço)

It is you I have loved all along

(é você que eu venho amando todo esse tempo)





A intensidade de seus beijos, a ternura de suas palavras, a firmeza de seus braços...ele a amava, como ela fora tola o suficiente para não ter percebido isso? A verdade estava lá, fácil de alcançar, roçando em seus dedos... mas Lily fechara a mão.

Não. Nunca mais cometeria este erro novamente... Nunca mais...

-Não chore amor, por favor...-pediu uma voz masculina e macia, entrando nos devaneios deliciosos da garota.

-Não, Tiago.-ela murmurou- Não preciso mais chorar...não estou mais confusa, não existem mais dúvidas...- e delicadamente ela fez com que os braços do apanhador amolecessem, de modo que ela pudesse se virar e encará-lo:



It's no more mystery

(não é mais um mistério)

It is finally clear to me

(finalmente esta claro para mim)

You're the home my heart searched for so long

(você é a casa que meu coração esteve procurando)

And it is you I have loved all along

(é você que eu venho amando todo esse tempo)



Os olhos castanhos do maroto cintilavam de modo assustador. Era como se uma centelha tivesse se acendido na alma do rapaz, mostrando-se tão viva quanto as próprias estrelas que faiscavam no céu. Naquele momento, desejo, irritação e ânsia haviam se transformado em profunda prostração. Tiago nunca se assemelhara tanto à um ouco apaixonado, já que, afinal de contas, a paixão leva à loucura do mesmo modo que a sanidade ao desespero...



Over and over

(cada vez mais e mais)

I'm filled with emotion

(eu estou completa por emoções)

Your love, it rushes through my veins

(seu amor corre pelas minhas veias)



-Tiago...-ela chamou toda dengosa, de lábios trêmulos e olhos marejados- E-eu não sei nem como começar...

-Então não comece.-ele pediu, temeroso. Aquele momento era simplesmente a realização de um sonho...era fantasioso demais para ser real, ele não queria estragar, não queria acordar.- Porque tudo o que começa tem que terminar, e isso é a última coisa que eu quero no momento Lil...

-Ah, Tiago!- ela se desmanchou de modo até um tanto desengonçado, se pendurando no pescoço de Pontas, sentindo-se obrigada á responder algo daquela magnitude para ele... mas nada cabia em palavras; a grandiosidade de seus sentimentos ultrapassavam as simplórias táticas da comunicação.



And I am filled

(e eu estou completa)

With the sweetest devotion

(com a mais doce devoção)

As I, I look into your perfect face

(quando eu olho para sue rosto perfeito)



Ele retribuiu o abraço tão imediatamente que Lily sentiu-se sufocada, mas até mesmo isso era bem vindo. Eles se entreolharam: ela erguendo o pescoço, ele inclinando...sorriram.

E então, como se fossem cumprir o propósito de suas vidas, aproximaram seus rostos lentamente, como que atraídos magneticamente um para o outro, juntando seus lábios num frenesi dilacerante.

Foi como se respirassem fogo. Como se sentissem o sangue ferver nas veias de suas têmporas, chegando naquele estado de exaltação em que tememos fazer o corpo explodir. Era como se ambos estivessem abraçando o puro e próprio prazer, fazendo suas almas provocarem barulhos assustadores em seus corpos.

Em meio á respirações ardentes um frêmito percorria o casal, atiçando-os, incentivando-os á continuar...



It's no more mystery

(não é mais um mistério)

It is finally clear to me

(finalmente esta claro para mim)

You're the home my heart searched for so long

(você é a casa que meu coração esteve procurando)

And it is you I have loved all along

(é você que eu venho amando todo esse tempo)



Eles nunca atingiram um grau tão grande de loucura, e assim, temendo sucumbir, desgrudaram-se de repente, tontos e ofegantes.

-Deus!-exclamou Lílian, olhando para o rapaz como um gato olharia para um rato.- Eu nunca senti isso por ninguém, Ti...

- E eu te amo, Lil.- ele repetiu a mesma frase que sempre dizia para si mesmo, e que agora, finalmente, tinha permissão para bradar. O rapaz então se afogou novamente nos rubis verdes da mocinha, hipnotizando-se, enquanto ela retribuía firmemente, mantendo os olhos abertos, segurando seu pescoço, puxando-o para mais perto...

E os dois iniciaram uma nova série de carícias famintas, que se não dependessem do limite de seus respectivos fôlegos, teria durado para sempre...





FIM



Notas da autora: espero que todos vocês tenham percebido que os títulos dos capítulos se complementam. O primeiro “Eu desafio você...” é apenas o início de uma frase, que termina com o título do segundo capítulo “ a dizer a verdade”. Ou seja, (eu sei que estou tratando todo mundo feito retardados, mas é que agora que eu já comecei essa explicação tosca simplesmente tenho que finalizar) “Eu desafio você a dizer a verdade” seria a frase completa dos capítulos unidos.



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