Olhares pensantes
O cretino do Padfoot está olhando para a minha cara. Eu sabia que ele ia olhar, senti isso na minha alma...odeio quando ele faz isso, e logo nos momentos mais inoportunos.
“Pára com isso!”-ordenei,rosnando por detrás do meu suco de abóbora. Ele ergueu para mim um ar insolente :
“Eu não fiz nada!” -disse, fingindo inocência (que é um dos últimos e mais distantes adjetivos que combinam com o Pads). Eu, é claro, retruquei em tom monótono “Você sabe que está me azucrinando com essa cara babaca de ‘olha só quem sentou do seu lado’ ”! –Sirius sorriu, cruzou os braços e sussurrou “Mas não é intrigante?”.
Eu dei de ombros, o desprezando, mas Merlim sabia o quanto eu achava tudo aquilo bombasticamente intrigante. Olha, pra falar a verdade era muito mais do que isso: o que acabava de acontecer ali no Salão Principal – mais especificamente na nossa mesa da Grifinória- ia contra todas as leis lógicas da natureza!!Eu mal podia raciocinar, estava descrente, estava perdendo todo o controle sob meu corpo e hormônios...
“Respire fundo chifrudinho, antes que ela perceba!”-murmurou Sirius, o cara menos discreto que eu conheço na minha vida.
“Vai se ferrar!”- eu retruquei, com medo de que ela ouvisse, o que era muito provável visto que ela estava sentada ao meu lado...hei, espere um momento, eu já expliquei que era esse o acontecimento magistral que acontecia ao meu redor?!Bem, então acho que já passou da hora para explicações:
Este é o nosso primeiro dia de aula no sétimo ano.Teoricamente estamos na estaca zero, no momento de recomeçar, de repensar, de se corrigir...mas para mim teorias não prestam.Tudo está como sempre foi; é como assistir ao mesmo filme milhares e milhares de vezes. O sol se projeta pelas vidraças góticas do castelo (nossa, como estou falando bonito! Deve ser influência do Moony), as corujas á pouco esvoaçaram sobre as nossas cabeças dando seguimento ao costumeiro correio matinal; os alunos surgem á torto e a direito ainda aos bocejos, prontos para providenciarem a trilha sonora constituída por talheres, copos e mastigação. Tudo está na sua mais perfeita desordem; balbúrdia nas quatro mesas, professores fofocando, fantasmas azucrinando...é Hogwarts em seu auge!
Eu e os rapazes irrompemos pela porta para alegria geral logo cedo (caímos da cama com o novo despertador que minha mãe me deu de presente). Fomos marchando até nossos respectivos lugares arrancando suspiros, lisonjas, mimos, afagos e muita adulação –o que é o básico na nossa humilde rotina. Muitas garotas vieram arrastar a saia pro nosso lado, contando em gestos frenéticos como tinham passado de férias, o que sinceramente não foi algo muito interessante de se ouvir. Os capitães dos times de Corvinal, Lufa-Lufa e-sim, pasmem- Sonserina logo vieram conversar comigo, assim como mais uma dezena de criaturas com seios e pernas delgadas foi armar uma armadilha ao redor do orgulhoso Pads. Remus recebeu a interesseira atenção de algumas monitoras, enquanto que o Peter se uniu ao grupo que me bajulava, o pobrezinho carente de fãs!
Pulando essa parte dos obstáculos entre nós quatro e o café da manhã, chegamos e nos alojamos na longuíssima e já povoada mesa grifinória, ainda sob olhar esperançoso e atento dos demais.Todos pareciam demasiadamente afobados com o primeiro dia, inclusive eu, que olhava para todos os lados em busca do mais brilhante motivo para incrementar minha felicidade.
Como será que a Evans tinha passado as férias?(eu ia pensando comigo mesmo enquanto enxotava como á uma mosca Berta Jorkins de cima do meu cangote). Será que ela estava bronzeada?Será que ela tinha pensado em mim?Será que...- e aí comecei meus magistrais devaneios, que duraram alguns sonhadores e longos minutos, sendo interrompidos apenas pelo mais fantástico acontecimento de todos os tempos: Lily Evans, minha musa esnobe de cabelos ruivos com lindos e desconfiados olhos verdes, a mesma Lily Evans que tinha cadeira cativa nos meus pensamentos, dirigiu-se para o acento vazio ao MEU lado, para sentar-se única e exclusivamente COMIGO!!-neste momento eu ainda estou tentando não olhar para a esquerda, pois já basta essa presença próxima da minha vizinha pra me fazer o cérebro formigar.Que Merlim me segure, eu não posso falar besteiras!Não posso, alguém me contenha, estou sentindo que vou desgraçar este momento, eu estou...
(Remus veio ao meu socorro):
“Haja naturalmente” -aconselhou o ignorante.Eu bufei, demonstrando ingratidão além de superioridade.
Quero dizer; como é que um cara pode agir naturalmente tendo Lily Evans como vizinha de mesa?(e eu devo grifar o fato dela ter escolhido seu lugar por conta própria, sem minha intervenção ou de meus seguidores). A Lils me odeia com todas as forças do seu pequenino ser, tem raiva, ou sei lá que sentimento negativo horroroso ela possui em relação a mim. O fato é que me trata pior do que trataria á um mendigo ou á um cachorro de rua (minto, ambos mendigo e cachorro teriam sido muito bem acarinhados pela humildade e bondade de Lily, logo, não existem possíveis comparações que se aproximem do modo como ela se dirige á minha pessoa). E eu tento, o mundo mágico inteiro sabe como eu tento mudar essa deprimente situação!
De início eu devo admitir que a julguei mal, mas o que um cara como eu poderia fazer depois de estar tão acostumado com o fato de ter garotas chovendo sobre ele á cada instante, á cada gesto, á cada sorriso, sendo que nenhum foi feito com o mínimo esforço? Errei por ter padronizado Lily: ela, definitivamente, não é e nunca vai ser um bom exemplo da espécie feminina. Não me refiro, obviamente, ao físico do anjinho (pelo contrário! Na minha mais honesta opinião ela é a maior escultura já moldada por Deus!) mas sim á sua personalidade...juro, ela não é normal!Não pode ser!
O normal de uma garota é, primeiramente, sorrir para mim e se derreter com o sorriso que recebe de volta. O normal de uma garota é vibrar por mim nos jogos de Quadribol, já que eu dou dezenas de razões para isso!O normal é aceitar meus convites e cantadas, optando por acreditar ou não no que eu sempre digo (isso aí é problema exclusivamente delas!). O normal e esperado de uma garota hogwartiana (essa palavra existe?!) é chorar depois de ter levado um fora meu, é sair correndo toda serelepe para contar para as amigas como foi ter passado por minha vida, é rir das minhas piadas (ou ao menos se esforçar para tanto), é querer estar comigo e não me fazer precisar ir atrás.Enfim, é ser uma perfeita tolinha.
Dado esta descrição requintada do tipo generalizado que me cerca, fica fácil entender Lílian Evans: é só revirar tudo ao contrário. Evans é o antônimo de todas as meninas que já conheci, e uma vez que isto ficou claro na minha geniosa cabeça, mudei de tática completamente. A Evans teve o privilégio de ganhar um tratamento especial: eu comecei a me virar do avesso para agrada-la. Fiz o possível e o impossível, o que me arrancou um grupo considerável de bajuladoras e possíveis “namoradas”. Perdi uns bons dois anos tentando penetrar na cabeça daquela figura, o que provou ser impossível. Eu dei o melhor de mim; usei e abusei das minhas melhores cantadas, me forrei com todo o meu charme, com todo a minha lábia (que até o momento provara ser realmente eficaz!) e cheio de otimismo, armado até os dentes, batalhei contra a indiferença de Evans até sentir-me esgotado. Sim, hoje não passo de um ferido soldado de guerra que se vê lado a lado com o inimigo e que, corrompido pela honra, sente aquela faísca de esperança se reacender dentro de si.
Eu ia me reerguer e dar continuidade com o que tinha começado, pois meu nome é James Potter, maroto com “M” maísculo, e eu nunca desisto!
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