O casamento
Capítulo 10 – O casamento
O vento outonal passeava suavemente pelos terrenos antes verdejantes, mas, naquele início de estação, alaranjados do ducado afortunado de Otter. Fazendo balançar as folhas caídas das elevadas árvores que se espalhavam pelo chão como fofos tapetes, e levando uma delas junto a si para a varanda de uma das mais altas torres do castelo. Torre essa que era dos aposentos da jovem moça que vira com desprezo e tristeza o dia do seu casamento chegar.
Ela, Hermione claro, já aborrecida e impaciente em demasia, permanecera no banho quente dado por uma dúzia de criadas durante tantas horas que se tornara pálida e enrugada, seus cabelos, que estavam sendo puxados dolorosamente e trançados pela ruiva Julieta, haviam sido oleados e perfumados por diversas vezes e seu corpo, diminuto e intocado, tivera em tal quantidade de esponjas passando por ele que quase lhe arrancaram a pele alva e terna.
Sentia-se estranha e coagida, com um desagradável nó formando-se na garganta e uma angústia no peito que eram de enlouquecer, porém, nunca, em momento algum, feliz ou ansiosa.
Os pensamentos incômodos de que teria de despedir-se de todas as bizarrices que seu pai permitira, porque, há não tão longe tempo, o poder sobre ela caberia a seu marido, a amedrontavam. Isso sem falar nas obrigações que o casamento traria...
- Apreensiva? – Anna Granger, que chegara ao quarto a pouco, carregando um vestido púrpuro feito de rico tecido em si, indagou sorrindo amavelmente à filha.
- Adoraria dizer que sim. No entanto, estou mais indignada que qualquer outra coisa. – respondeu Hermione enfadada, postando a delicada mão no queixo e bocejando longa e entediadamente.
- Ora, minha filha, acaso aceitara esse casamento apenas na alcova? – questionou a mãe nervosa e irritada, porque mesmo depois do caloroso beijo que presenciara, a donzela permanecia resoluta na decisão de não concordar com o próprio matrimônio.
- Temo eu, que nem no leito ela o aceite. – Maria, abotoando os colchetes do branco colete íntimo com algumas rendas da jovem, manifestou sua dúvida bem plausível, afinal.
O que se segui foram centenas de sermões e conselhos maçantes, que Hermione provavelmente não obedeceria ou seguiria, porque nem mesmo os escutava. Perdia-se ela mais uma vez, pois aquilo vinha acontecendo com incomum frequência, em devaneios com o forte homem ruivo que não estava muito distante dali.
Apesar do céu límpido, com algumas poucas nuvens, aquela manhã estava, como de costume britânico, gélida e úmida. E foi naquele usual clima que chegaram à propriedade dos Granger dezenas de enormes e luxuosos coches, adornados até mesmo em metais de grande valor.
Entre as muitas suntuosas carruagens, que traziam em seus interiores nobres de todas as partes, estava a grande e ruiva linhagem, reconhecível a distância pelos cabelos acajus.
- Quem conceberia essa ideia, não? –um dos únicos pontos distintos no meio de todas as cabeças laranja, Harry Potter, falou enquanto tinha o braço dado com Ginerva, sua doce noiva – Vai realmente casar-se com Hermione! – debochou rindo do futuro cunhado, esse que nunca estivera tão elegantemente vestido. Usava um casaco de caro veludo vinho que ia até os joelhos; um gibão com uma gola branca plissada e caída; um calção, o tradicional culotte, que era preso no meio da perna; um chapéu achatado e largo e, para finalizar, uma capa vermelha de seda bordada com finos fios de ouro presa no ombro largo por um broche do também precioso metal dourado.
- Ainda posso dizer que não a aceito como esposa. – retorquiu irritado, pondo-se em marcha à grande igreja de maciças paredes externas que havia ali no ducado.
- E como se explicará? – questionou – "Senhor padre, prefiro eu as meretrizes ao casamento"? – engrossando a voz de forma esquisita, o Potter disse fazendo pilhéria do pobre amigo.
- É um ótimo motivo, no entanto, depois que o fizesse o estimado Sr. Weasley me mataria trucidado. – respondeu esclarecendo a razão do por que não faria aquilo, mesmo que fosse sua mais ardente vontade. - E pare de falar de rameiras aqui! – advertiu em voz baixa, quase sussurrando – Gina está muito perto, e que eu saiba, não pretende corromper a cabeçinha da minha inocente irmã, não é? – indagou desconfiado, porque achava que aquele compromisso já durava muito e temia por quanto tempo Harry poderia controlar-se, mesmo sendo ele pouco menos que um santo, e pelo quanto Ginerva era bonita, curiosa e tinha domínio sobre aquele fraco homem.
- Claro que não! – exclamou corando, ao passo que eles dois e todo resto da família Weasley se aproximava da grande e alta porta de madeira e ferro fundido do templo cristão – O pervertido aqui é você, não eu! – defendeu-se.
- E o nome de depravado ainda é meu... – Rony murmurou apenas para si mesmo, pois Harry ficara para trás, entretido e encantado na figura da bela moça Weasley, que depois de afastar-se por um curto espaço de tempo, voltara a dar-lhe a atenção que ele tanto mendigava.
O robusto varão ruivo que, igualmente a sua noiva, não aparentava nenhum sinal de nervosismo, mas sim, e afirmava aquilo com todo pouco entusiasmo que tinha, enfadado e impaciência, entrara na igreja parcialmente vazia primeiro que seus parentes que vinham mais devagar. Observando-a em todo seu esplendor gótico, com alguns traços medievais, porém sendo em maioria os renascentistas. As janelas muito estreitas enfeitadas com vitrais que retratavam cenas do sofrimento de Cristo descritas na bíblia deixavam escassamente a luz do sol penetrar naquele sagrado lugar, o piso polido era de ostentoso mármore branco e o altar enfeitado em ouro, inclusive os objetos que sobre ele repousavam.
Enfeitiçado demais pela beleza e fulgor do espaço, sentiu Rony pela primeira vez naquele dia o coração palpitar acelerado e uma leve sombra do poderia ser ânsia apoderar-se dele. Talvez na fosse tão ruim assim casar-se, pelo menos o lugar era agradável...
Ao passo que o céu matinal tornava-se gradativamente mais escuro, com nuvens acinzentadas anunciando uma provável garoa, o castelo de Otter agitava-se como nunca.
Dezenas de criados andavam apressados de um lado a outro, atendendo fúteis pedidos dos desconhecidos nobres; cozinheiras esforçavam-se sobre quentes panelas para produzir o triplo ou quádruplo da quantidade de pratos que estavam habituadas; refinadas costureiras e modistas davam os últimos ajustes no vestido da bela noiva bem em frente à porta da igreja.
- Está tão bonita! – a Sra. Granger exclamou fascinada olhando de relance para Hermione antes de entrar pelo saguão enfeitado do templo onde o casamento se sucederia dali a alguns instantes.
- Pronta? – Eduardo Granger, que estava ao lado da filha, indagou-a, enroscando seu braço ao dela.
- Penso que sim. - respondeu a jovem sem um único resquício de alegria ou emoção que uma moça prestes a casar deveria ter aos montes, pondo-se a andar junto ao pai enquanto tinha a cauda extensa da veste segurada pela pequena Jane, nunca tão ricamente arrumada.
Dentro da suntuosa igreja, o noivo que estava defronte ao estonteante altar adornado em dourado, ouviu as primeiras notas da agradável marcha nupcial, mas para ele assustadora pelo que precedia, começarem a soar.
Os claros olhos azuis que antes vagavam distraídos pelos muitos rostos conhecidos nos bancos de madeira, fixaram-se admirados nela que adentrava acompanhada do senhor seu pai, o duque de Otter.
Nunca a vira tão linda, e não era como se Hermione fosse realmente feia. Trazia ela no seu pequeno corpo curvilíneo que tanto o atormentara nos últimos tempos um pomposo e armado vestido. Branco, para demonstrar sua inegável pureza e seu status social aristocrático. Tinha a vestimenta delicadas e longas mangas em renda e, partindo da cintura delgada demarcada por um fino cordão torçal de prata, um tecido brilhoso e pouco menos que transparente, cobrindo boa parte da saia. Os cabelos, castanhos e ondulados, estavam presos por diversas trançinhas que formavam, no alto da cabeça, um apertado e elaborado coque, estranhando aquilo, Ronald descobriu que os preferia soltos e revoltos. Havia também, ainda na cabeça, presa no penteado, uma cara tiara incrustada das mais variadas pedras preciosas e um véu leve rendado que ia até o chão, arrastando-se nele.
Abobado e inconsciente, permitiu-se o ruivo deixar um frouxo sorriso escapar de seus carnudos lábios enquanto a observava. No fim, teria uma bonita mulher como esposa, irritante e truculenta, porém bela.
Hermione, sob aquele olhar grotesco e bobo demais, revirou seus próprios olhos aborrecida. Era o que faltava! Aquele sapo repugnante literalmente babando por ela!
Com os passos mais contra-gostosos já vistos, a noiva, junto ao Sr. Granger, chegou até o meio daquele lugar sagrado, que também era a metade da cruz que se estendia pelo assoalho e onde se encontrava o altar cheio de gala. Seu pai pegou-lhe a mão feminina e macia de donzela entregando-lhe ao vigoroso homem que seria o seu marido e disse-o num fio de voz muito pouco menos que lamentoso:
- Cuide bem dela. Minha flor é sua agora. – finalizou segurando as mãos de ambos entre as suas, sorrindo amigavelmente ao ruivo nervoso, que pigarreava embaraçado com constância.
- Bom, - um homenzinho velho franzino e gordo, com uma cabeça calva e rosada, atrás do grande altar que quase o cobria, murmurou chamando a atenção de todos que ainda nele não reparavam – Podemos começar a cerimônia? – indagou.
- Claro! - Eduardo exclamou envergonhado, saindo dali e indo à sua esposa que o encarava reprovadora. As mãos tão diferentes em tamanho e ternura do casal assim que não obrigadas pelo duque a ficarem entrelaçadas, afastaram-se mutua e rapidamente.
Nos longos momentos seguintes, um extenso e tedioso sermão começou a ser declamado na voz esganiçada e fina do padre que, pelo enferrujado e ruim latim de Hermione, falava sobre a castidade, as obrigações e o santo amor conjugal.
Os noivos, próximos demais fisicamente, mas, no entanto, com as mentes mais distantes do que se era provável, quase adormeciam ouvindo aquele discurso religioso e apenas não o fizeram, pois o sacerdote os chamou:
- Os votos agora, meus jovens. – disse – Comecemos com você, meu filho. – falou fazendo referência a Rony – As alianças – estendendo a mão enrugada e machada pegou as jóias que o homenzarrão tirava do bolso da casaca e pingou nelas grossas gotas de água benta. – Fale logo após eu termine de falar. – sussurrou entregando o menor anel de ouro ao varão.
- Prometo eu amá-la... – iniciou velhote no seu tom baixo e engasgado.
- Prometo eu amá-la, - o Weasley repetiu virado e fitando Hermione, que o encarava com todo o escárnio possível, lhe colocado a aliança no fino dedo anelar.
- Respeitá-la, honrá-la e ser-lhe fiel. - finalizou o padre.
-Respeitá-la, honrá-la... – Ronald disse, corando, com sua voz tornando-se demasiadamente grossa e trêmula.
- Ser-lhe fiel. – afirmou novamente o sacerdote com paciência. – Vamos! Repita! – entretanto, percebendo a relutância do noivo, clamou irritado e apressado.
- Ser-lhe fiel. – o ruivo deu fim ao sofrimento, temeroso estava pela promessa que fizera diante de todos e de Deus e que, sem muitas dúvidas, não cumpriria.
Os votos da encolerizada Hermione foram pouco menos que idênticos aos do noivo, apenas mudando que em vez de honra faziam menção à obediência. Ora, obediência! O obedeceria no dia que o sol nascesse quadrado!
Já casados, ou com as alianças nos dedos, ouviram eles as últimas frases do reverendo ressonarem pelas paredes adornadas de pedra daquele sacro lugar, fazendo-os ter um ardente e incontrolável desejo de manifestarem-se, porém não executando essa grande vontade:
- Se há algo que possa impedir esse casamento, entre os noivos e entre os outros, que seja falado agora ou calado para sempre. – com um ar de cansaço o velho bradou, seguindo-se de sua fala um incomodo e total silêncio. – Sendo assim, perante o Senhor e perante os homens, eu vos declaro marido e mulher.
Sob os estridentes e muitos aplausos dos convidados postos nos assentos da igreja, Ronald, já ultrapassando seu limite de aborrecimento e tédio, deu apenas um curto e casto beijo na fronte da esposa, que estava com um humor tão parecido ao dele e puxando-a de supetão pelo antebraço arrastou-a para fora dali.
O quente sol que trazia com si o prazeroso calor estava já alto e a agradável manhã havia já indo embora quando o farto banquete foi servido no majestoso e fastuoso Grande Salão de Bailes, que com seu amplo espaço decorado em mármore e ouro acomodava centenas de pessoas ricamente vestidas e enfeitadas, de pequenas crianças rindo e brincando, postas em vestes quase iguais as todos adultos até juvenis donzelinhas, penteadas e educadas como damas da corte ou rapazotes metidos a cavaleiros, mas que ainda nem barba possuíam.
Os recém-casados, tão luxuosos quanto seus convidados, porém com um estado de espírito um tanto diferente do feliz deles, sentados à direita da cabeceira da longa mesa ao lado do senhor do palácio, Eduardo Granger, aparentavam demasiada cólera e, para dois jovens, improvável fastio. Não haviam eles trocando uma única palavra desde dos solenes juramentos falsamente afetivos, isso contudo, antes de Hermione, irritantemente madona, adverti ao esposo:
- Não deve beber muito. – aquilo, para qualquer outro marido e para qualquer outra mulher era, só e somente, uma simples e comum preocupação com a saúde fraca e a tendência a vícios que um homem pode ter. Mas, tratando-se daquele arisco e raivoso casal, a moça apenas não desejava ser atacada como que por um animal na sua primeira e triste, porque sim, com certeza seria, noite.
- Cale-se, Hermione! - exclamou Ronald irritado por ser forçado a permanecer junto aquela megera carrancuda e que ainda ousava dar-lhe ordens.
Hermione retorquiria a ele categoricamente, no entanto teve sua fala cortada e interrompida por um som agudo e penetrante causado pelo manifesto de um ser miserável, extremamente, que com um garfo de prata batia em uma fina taça de cristal tão fortemente que não seria uma surpresa se a quebrasse.
- O minueto¹! – a amabilíssima senhora que chamara a atenção de todos, uma mulher baixinha e gorda, com uma enorme e redonda "cara de sapa", para ser sincera, vestida em muitos tons extravagantes de rosa, disse.
- Sim! – a ruiva Sra. Weasley concordou, acenando com a cabeça e pondo-se de pé. – Como pudemos esquecer-nos desse tão velho costume... – murmurava ao passo em que ia de encontro ao lugar onde o filho e a nora estavam – Vamos! Dancem, crianças! - chegando à ponta da mesa e puxando os jovens pelos ombros, incentivou-os insistente a levantar-se que, depois de rabugentos bufarem, o fizera contra a própria vontade.
Mal-humorado, Rony pegando fortemente a cintura da esposa, esta que por sua vez deu-lhe a mão, guiou Hermione ao centro do esplendido e grandioso salão. E, da mesma forma que na primeira vez, bailaram eles linda e encantadoramente. Era impressionante como, apesar da persistente aversão, havia um encaixe e uma sincronia perfeita entre os dois, seus pensamentos e passos. Contudo, o fascínio e o feitiço presente em todos os pares de olhos atentos que os assistiam não chegavam ao casal dançarino, em principal, a noiva conduzida com tanta beleza e destreza:
- Desamarre essa cara! - Ronald, ranzinza, resmungou sobre a expressão da mulher que, mesmo em seus braços, mantinha-se séria e sombria. - Não se casou com um monstro, casou-se comigo! – reclamou.
- Bem, não é basicamente a mesma coisa? – Hermione, desconfortável com a demasiada proximidade imposta na dança, questionou-o irônica e debochada, dando-o um sorriso falso. – Claro que o outro, com certeza, é mais amável e menos burro. – alfinetou a ele ácida.
- Qual seu problema? – o ruivo marido, fervoroso em pura raiva pela humilhação que ela lhe causava sem nem ao menos hesitar, indagou rodando-a e fazendo os pés de ambos calçados em finos calçados o chão riscar. – Somos casados agora, acaso deseja viver nesse fogo cruzado pelo resto da vida?
- Se eu matá-lo hoje enquanto dorme, não precisaremos estender este martírio pelo restante de nossas vidas, Weasley. – carregando a pronúncia do sobrenome em ênfase, murmurou Hermione provocadora fitando totalmente desdenhosa Rony.
- Não fale isso com tanto desprezo! – o homenzarrão exigiu furioso – É uma Weasley também. – lembrou-a daquele, para ela, horrível fato.
- Infelizmente... – a moça sussurrou desgostosa e aborrecida.
A melodiosa e alegre música tocada ecoava pela grande e luxuosa sala e, ao som daquilo, o par dançavam graciosa e perfeitamente, porém, contrastando-se com isso, os semblantes dos jovens mantinham-se fechados e seus passos, por mais belos que fossem, era duros.
O ruivo homem, surpreendentemente chateado e perturbado demais com angustioso silêncio que se instalara, resolveu quebrá-lo provocando-a também. Podia parecer loucura, se não era, mas causava-lhe deslumbramento e satisfação quando discutiam e Hermione, indignada e briosa, usava de todos os meios para sempre está certa, por cima, vencendo-o.
- E não vai matar-me. – Rony, tomando a decisão de ser o primeiro a falar, disse cruel em dado momento para a confusa, por um instante, Hermione. O sorriso sardônico que a deu era de brancos e enfileirados dentes.
- É um desafio? – a jovem tomando ciência do que o marido se referia, e perplexa por ele permanecer pensando em tal bobagem, interrogou atiçada como o Weasley desejava.
- E se for? – devolveu desafiador a pergunta Ronald.
- Bom, então, peça logo a seus pais para irem providenciando sua cova. – Hermione respondeu divertida, girando e rindo com algum traço de sinceridade e descontração.
- Ah, claro! – exclamou o outro entrando risonho na brincadeira – Eles o farão!
As notas suaves da canção já cessavam e os espectadores admirados começavam a palmas bater. Hermione, como nunca antes, não ainda se preocupara em deixar o abraço reconfortante e quente de Ronald, que como ela, não atentava a nada que não fosse o sorriso do outro.
Envoltos em uma áurea de feitiço e felicidade, que é o que se espera de recentes casados, os dois jovens olhavam-se bobamente, com risos frouxos ainda mais tolos nos rostos. Era como se, por um segundo, aquela história de ódio e casamento arranjado (e forçado) não fosse deles!
E foi assim, demasiadamente próximo e com aquela ilusão da finalmente tão sonhada paz, que o corpulento varão Weasley, tornando-se um pouco sério, lentamente no seu puro contágio, roçou somente seus lábios avermelhados nos delicados da esposa.
Hermione, que assistia intimamente inquieta a aproximação do marido, logo após, muito pouco depois de senti-lo, usando suas pequenas mãos espalmadas no largo peito masculino afastou-o rápida e violentamente. Sua bela e gentil face tingida em vermelho vivo e seus olhos raivosos, como não estavam há alguns instantes.
- Desculpe-me. – Ronald sussurrou antes da mulher se por a correr para longe dele, irritado demais consigo mesmo e com sua estúpida falta de controle.
- Não! – rugiu a morena e arrumada moça, andando rápido, distanciando-se – Não o perdoarei nunca!
O pobre Weasley, atônico, igualmente a todos os outros presentes, e sozinho, tomou o rubro vergonhoso como cor predominante nas suas bochechas e orelhas e o ódio como prevalente em seus claros e estreitados olhos.
Ótimo! Maravilhoso! Agora o humilhava frente a todos!
Enquanto o sol, vermelho e ardente escondia-se tímido e vagaroso atrás das altas montanhas de cores escuras entre azul e verde que circulavam a fortaleza medieval dos Granger, Ronald e Hermione, largados em ricas poltronas de rara madeira envernizada, mantinham-se desde obrigados a dançarem como dois apaixonados colados nos assentos com se fossem eles extensões dos corpos de ambos.
Irritadiços e enfadados, trocavam apenas ácidas ironias e olhares acusadores, enraivecidos.
No entanto, apesar de concentrados e animados, tiveram os jovens a guerra sangrenta, interior e silenciosa interrompida pela duquesa de Otter, Anna, sorridente, porém apreensiva e nervosa, pois sua filha não estava sendo algo que pudesse se chamar de cortês com seu próprio marido. Aproximando-se, ela delicada tocou o ombro de Hermione coberto de caro tecido, chamando-a:
- Querida, vamos. – disse suavemente, em sua voz doce e maternal – Precisa arrumar-se – murmurou sorrindo alcoviteira.
- Claro. – a morena donzela respondeu desanimada e, preparando-se para uma das mais infelizes horas da sua vida, levantou e se pôs em direção à saída do cômodo.
- Hermione. – a mãe repreendeu-a.
- Com sua licença, senhor meu marido. – retornando a Rony, a esposa aborrecida fez uma reverência e resmungou.
O Weasley, num simples descaso, deu-lhe simplesmente um gesto rápido e contra gostoso, quase enxotado-a de sua frente e vendo-se finalmente livre, o varão ruivo virou uma transbordante taça de vinho e suspirou aliviado.
A noite fria já avançava àquela altura e a lua, cheia e alva, no alto do ainda não tão escuro céu, iluminava os caminhos sombrios do antigo castelo de pedra.
Entre tantos corredores banhados pela luz bruxuleante, encontravam-se os estonteantes aposentos da noiva, essa mesma que se opusera a trocá-los e que, naquele instante, achava-se neles junto a adorável Sra. Granger, prestando-lhe os serviços de camareira de honra, costumes e privilégios das mães.
A igualmente morena Anna libertando os cabelos cheios da filha do apertadíssimo penteando, aconselhava-a:
- Faça tudo que for da vontade dele... – dizia – Não se atreva a contrariá-lo. – e repetia a todo o momento como um mantra ou como uma mensagem que almejasse ardentemente que penetre, fazendo sua rosinha espinhosa, ao menos uma vez na juvenil vida, ser submissa e cordata.
- Tudo? – Hermione indagou preocupada, o cenho sendo franzido – Quero dizer, exatamente tudo? – afinal, o que se deveria passar na mente daquele ogro pervertido e depravado?
- Bom, - sua mãe explicou-a enquanto escovava a juba castanha e ondulada. – Se, por acaso, pedi-la algo demasiadamente despudor e perverso, convença-o a desistir. – sussurrou muito baixo, como se fosse reprovável e feio ser contra ao marido e seus desejos. – Faça tudo, mas não o deixe profaná-la! – mandou, no entanto, seu tom continuava quase inaudível.
- Não quero deixar nem ser deflorada... - o desabafo da moça seguiu-se de um desgostoso muxoxo.
- Hermione! – a duquesa exclamou-a horrorizada, ajudado-a a levantar-se e, posteriormente, soltando os botões e os laços de fita trabalhada que fechavam a pomposa vestimenta nas costas. – É seu dever ser doce e sensata! - Anna demandou severa, tomando nas mãos um pequenino e delicado frasco de perfume que repousava sob a penteadeira e, tendo a filha já despida das dezenas de saias e outros acessórios dispensáveis, salpicou-lhe o líquido de cheiro agradável em pontos estratégicos: duas gotas atrás das orelhas; uma nos ambos finos pulsos; generosos pingos nas pontas dos seios e, por fim, um refrescante, logo abaixo do ventre.
Não muito tempo depois, preparada e pronta, usando algo que bem se podia chamar de trajes de esposa, Hermione aparentando um surpreendente tédio para uma donzela prestes a ter seu casamento consumado, recebeu na fronte um carinhoso beijo da sua cuidadosa e protetora mãe.
- Boa sorte, meu amor. – a Sra. Granger murmurou nervosa dirigindo-se a talhada porta. – Boa sorte... – e fitando emocionada com seus olhos negros rasos de lágrimas pela última vez sua pequena e bela menininha, disse retirando-se do quarto.
Repentinamente, como um sobressalto inesperado, Hermione viu-se se sentindo aflita, desconfortável, abandonada e, com aquela horrível sensação e um grande temor no peito, transferiu seus olhos também escuros da duquesa que se retirava até a mesinha de cabeceira, bem ao lado da enorme cama de dossel coberta de lençóis alvos e bordados. Sobre ela descansava de modo discreto e quase inofensivo um punhal, do qual na lâmina afiada e prateada as restes amareladas de uma vela era refletidas, dançando e lambendo o aço como línguas de fogo.
Nos lábios róseos e carnudos dela, um sorriso travesso perpassou e na cabeçinha inteligente e estratégica uma ideia foi pensada.
Oh, sim! Com certeza seria tão amável e correspondente quanto uma mocinha encantada!
A luz brilhante e branca vinda da lua alta aluminava acompanhada a dezenas de archotes o vazio corredor. Uma brisa suave, no entanto, gélida e cortante passeava por ali, causando ao ruivo homenzarrão, mesmo estando ele coberto em quente tecidos, desagradáveis calafrios.
Parado em frente a uma porta alta e maciça, trabalhada com desenhos florais e femininos, achava-se Ronald Weasley. Receoso, agitado e apreensivo ele juntava forças, que teoricamente deveria ter aos montes, porém que naquele momento se esvairiam para, rodando a maçante redonda e dourada, penetrar naquele lugar inocente e delicado que, apesar da inegável doçura, era a jaula de uma real fera.
Inspirando ruidosamente uma última vez o ar gelado para dentro de seu corpo cálido, posou Rony a mão grande e calejada sobre o trinco de ouro e girou-o.
Com um estalido fraco, a entrada abriu-se e, hesitante, o homem entrou. Desmesurado foi o seu alívio, e sua surpresa também, quando ao adentrar, percebeu que a bravia esposa não o esperava junto a algum tipo de arma, pronta para tirar-lhe a vida violentamente. Mas, sim se encontrava Hermione calada e quieta, tendo a cabeça levemente abaixada, ao lado de uma estonteante cama de dossel.
Pudica e pura como uma flor, vestia ela no corpo diminuto e, daquela forma, tão desejável, uma branca camisola de caro linho, com botões de prata fechando-a no meio, sem corte e muito longa, porém demasiadamente fina, o que fez o marido pensar que quem a costurara, com esmero, sabia exatamente em que ocasião seria usada. Os cabelos cheios e castanhos estavam, como ele descobrira gostar, soltos e rebeldes caindo em ondas pelas costas e pelo colo da moça, executando o trabalho de cobrir os juvenis seios que a vestimenta não tão bem escondia dos olhares ardorosos e repletos de desejo dele.
Mesmo com tudo aquilo, que a fazia assemelhar-se muito a uma santa pronta para ser, infelizmente, maculada por Rony, o rosto e a expressão de Hermione não havia mudado tanto desde derradeira vez que a vira. Mantinham-se duros e inexpressivos, e apesar das bochechas corarem e dos adorados lábios serem mordidos com a ansiedade que se apossara pela primeira vez dela naquele miserável dia, ainda assim aparentava enfado e raiva.
Observando-a daquela maneira, embravecida, no entanto, pertence unicamente dele, o corpo robusto de Ronald foi assolado por um intenso calor. No seu forte peito, um animal feroz remexeu-se perturbado, rugindo, e agora ele já não sabia mais se conseguiria ou mesmo se queria controlá-lo.
¹Minueto:O nome significa "dança de passos miúdos", caracterizada pela delicadeza dos movimentos. De origem aristocrática, o minueto foi muito popular na corte de Luís XIV, difundiu-se pela Europa nos séculos XVII e XVIII.
N/A: Finalmente! Casaram-se! E aí? Preciso, dessa vez, muito saber a opinião de vocês. Gostaram do casamento em si? A descrição do vestido de Hermione ficou legal? E o fim? Querem me matar trucidada por eu ter parado nessa parte? Kkkkkk
Como vocês puderam ver/ler, agora, Rony já está um pouquinho mais acostumado com a ideia (até a achando aceitável), no entanto, pode ser apenas pelo desejo que o corrompe, ele é mulherengo, afinal. Mas, Hermione permanece resoluta, e, enfim, o que ela pretende fazer com o maldito punhal? Será que a promessa de morte não foi coisa vã?
De qualquer maneira, é o que vocês descobrem no próximo capítulo (11), e também tem a minha notícia (não, não é algo tão ruim)!
Quem está lendo, comentando e acompanhando, muito obrigada! Vocês são quem me dão animo para continuar!
Fiquem ligados, próximo capítulo "A volta atrás", onde será que isso vai dar? Hermione acabará sucumbindo aos encantos masculinos ou não? Paciência, breve vocês saberão!
:*
Comentários (5)
Ahhh eu tô achando que a Mione vai ferir o Ron...Porque aquela dali quando coloca algo na cabeça não tem quem tire e depois de ter visto o punhal...Não duvido nada dela.Agora esses dois em ? Casando e entre farpas...Só os dois mesmo, mas eu acho que isso mudará, uma hora ou outra mudará...Amei o capitulo, a descrição de tudo foi muito bem feita e eu realmente tô amando a fanfic que fica mais maravilhosa a cada capitulo.Beijoos!
2013-06-11Oiiii, Lumos! Ai, que bom que gostou do casamento! Eu realmente só acho que o capítulo me preocupo mais com aceitação depois desse é o próximo. Sim, um completo mistério o que essa maluca vai fazer, eu apostaria em morte! Mais uma vez, eu não acho que eles ainda se gostem (Rony talvez, mas ele gosta de outra coisa, não realmente dela), talvez para os próximos capítulos a gente descubra isso... Beijos e muito obrigada pelos seu apoio de sempre!
2013-01-10Amei o Casamento bem típico Rony e Hermione. A parte que eles dançaram o Minueto foi a melhor. Mas o que a Mione vai fazer é um mistério. Eu acho que a Mione está é com medo de admitir que está gostando do Ron e ele está bastante animado com a noite de núpcias, espero que eles se acertem.bjs!
2013-01-10Primeiro comentário sobre esse capítulo! Ahhhhhhhhhh! *---* Não, não quero matar ninguém de ansiedade (mentira, quero sim!) Obrigada, obrigada, obrigada! Será que o casamento acaba antes de começar? Talvez, ela tente mata-lo sim e, sem defesa, é bem provavelmente que consiga, mas eu não sei de nada... Mais uma vez, obrigada. Adoro seus comentários! Capítulo novo logo, logo! Beijos!
2013-01-10aaaaaaaaaaaaaaaaah!!! Quer me matar de ansiedade?? Isso não é coisa que se faça, parar na parte mais emplogante da história! Foste malvada com a gente!O casamento e a descrição do vestido ficaram incriveis, e eu mal posso esperar para ver no que vai dar a história do punhal! Só espero que ela não tente matar o Ron, por que, cá entre nós, um homem deste seria um terrivel desperdicio! Esperando ansiosa o próximo capitulo! bjs!
2013-01-10