Subterfúgio
Houve um grande tumulto interior. Sua mente girava com os acontecimentos. A profecia de Trelawney vinha em sua mente repetidas vezes, a voz rouca ecoando em seus ouvidos, como a sussurrar-lhe o erro cometido. Ouvia também outra voz, intimamente conhecida, outrora já calada, jamais esquecida chamando-o “Sev...”. Seu coração disparava ao pensar no encontro da dona dessa voz com o Lorde das Trevas, aclamado senhor da impiedade. Ele não terá misericórdia. Severo sabia disso. Quando saiu, desabalado pela porta da igreja, a chuva havia parado, mas o vendaval permanecia incólume, pujante a açoitar o semblante preocupado do bruxo. Ele levantou a varinha, murmurou alguma coisa que o vento levou e depois evocou decidido:
- Expecto Patronum!
Da ponta da varinha irrompeu uma luz prateada que em nada era afetada pelo vento. Com leveza, ela se transformou em um morcego alvíssimo que saiu voando contra o vento, como a atravessar-lhe abstraído de qualquer força ou auxílio. Severo observou-o partir rumo ao seu destino, rumo à única saída que lhe restara. Rumo ao único que o Lorde das Trevas já temeu. Depois girou no mesmo lugar, sumindo com um estampido fino que o vento engoliu.
Severo aparatou na encosta de uma grande colina, onde o vento parecia estar muito mais forte e irado. Com a varinha bem segura na mão, ele subiu ressabiado pelo longo relvado que se curvava à força da lufada, olhando hora ou outra para todos os lados, aguardando o momento em que ele apareceria. Enquanto subia, não podia deixar de temer a morte, de temer o que poderia acontecer consigo caso fosse pego. Mas, muito mais do que a própria segurança, Severo temia pelo bem de um alguém e esse medo o dera coragem para estar ali, agora, esperando. Arfando, ele parou no alto da colina, onde o vento era tão forte que colava sua capa no corpo, fazendo-a formar uma estranha silhueta negra bruxuleante atrás de si. Olhava para todos os lados, esperando, ansioso, temeroso...De chofre, um raio branco fino e mortal cortou os ares em direção a Severo, atingindo-o em cheio, fazendo sua varinha voar para algum lugar à sua direita e ele cair de joelhos no chão. Foi tão súbito que nem percebeu que ele chegara. Severo não podia morrer agora, não sem antes ter seu apelo ouvido. Como uma súplica, disse rápido:
- Não me mate!
- Essa não era a minha intenção.
O vento talvez tenha ocultado sua aparatação, mas não foi para se esconder que viera. Alvo Dumbledore estava diante de Severo com um olhar soberbo, a varinha na mão, as vestes farfalhando ao redor e o rosto pálido iluminado pelo raio lançado.
- Bem, Severo? Que mensagem Lorde Voldemort tem pra mim?
Severo estava desesperado. Diante dele estava o único homem que poderia ajudar-lhe nesse momento. Ignorando os cabelos que voavam atrás da cabeça e de vez em quando caiam em seus olhos, ele disse, embriagado pela ansiedade:
- Não! Nenhuma mensagem. Eu estou aqui por minha conta. Eu...Eu vim com um aviso...Não um pedido...por favor...
Dumbledore abaixou a varinha. Algo aconteceu. Severo percebeu que, mesmo que o vento farfalhasse absurdamente forte as árvores e folhagens ao redor, um silêncio dramático recaiu em torno dele e de Alvo Dumbledore.
- Que pedido um Comensal da Morte poderia me fazer?- disse Dumbledore.
- A profecia...a predição...Trelawney...
- Ah sim. – Disse Dumbledore – Quanto dela você reportou ao Lord Voldemort?
- Tudo! Tudo o que ouvi! – respondeu Severo, ansioso – É por isso...por essa razão...ele acha que significa Lílian Evans!
- A profecia não se refere a uma mulher, - lembrou Dumbledore – ela se refere a uma criança nascida ao final de Julho.
- Você sabe o que eu quero dizer! Ele acha que se trata do filho dela. Ele vai caçá-la...matar todos eles...
Severo estava ensandecido, desesperado. Mas parecia ser o único que se importava. Alvo Dumbledore parecia não dar a mínima, parecia nem conhecer Lílian Evas.
- Se ela significa tanto para você, - disse Dumbledore – certamente Lorde Voldemort a poupará? Você não poderia pedir misericórdia pela vida da mãe, em troca da do filho?
- Eu pedi...eu pedi a ele...
- Você me dá nojo! – Exclamou Dumbledore e havia muito desdém na sua voz, muito desprezo. Severo encolheu-se um pouco, temeroso, ao que Dumbledore continuou: - Você não se importa, então, com as mortes do marido e do filho dela? Eles podem morrer, desde que você tenha o que quer?
Severo ouviu isso com apreensão. O diretor estava certo. Isso era, na verdade, o que Severo queria. Mas seria o que ela quer? Ele se sentiria feliz se as coisas fossem assim? Ele pensou um pouco, então disse, com a voz rouca:
- Esconda todos, então, mantenha ela – eles – salvos. Por favor.
- E o que você me dará em troca, Severo?
- Em...em troca? – Severo gaguejou, surpreso.
Não esperava isso de Alvo Dumbledore. Demorou um tempo a responder, pensando no que ouvira. Por fim, concluiu que não tinha protestos a fazer, não tinha nada em sua defesa. Essa era sua única escolha. Encarou Dumbledore e, mais decidido do que estivera durante toda a conversa, respondeu:
- Qualquer coisa.
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