Capítulo Único



CAPÍTULO ÚNICO
Eu queria estar com você... 




As lembranças voltaram a ele como uma enxurrada. Fazia anos que ele não se pegava pensando nelas.


Talvez tivesse sido todo o clima natalino. As luzes piscando para todos os lados. As crianças – não apenas ruivas agora, mas também tinham as morenas, loiras e de cabelo turquesa – correndo para todos os cantos da casa. O numero cada vez maior de perus de natal que sua mãe estava preparando no forno com tanto carinho para os filhos, netos e genros(as).


 


Ou talvez tivesse sido apenas a impressão que ele teve de que seu reflexo na vidraça não pertencesse a ele mesmo.


 


Jorge apoiou a testa no vidro da janela em frente a ele. Lá fora, os flocos de neve caiam formando uma grande massa branca no chão.  Já estava de noite, e como consequência a neve refletia apenas a luz da lua. Tudo estava tão escuro e quieto lá fora... Por um momento ele tinha...


Não. Ele não podia se prender a isso. Não mais uma vez.


Fred se foi, ele teria que aceitar.


Uma hora ou outra ele teria que aceitar!


Já tinham tantos anos que ele tinha partido. Jorge até estava casado e com filhos agora! Onde, no mundo, eles teriam imaginado isso? Jorge! Casado! Logo ele que nunca tinha se prendido por uma garota durante um longo tempo. Agora ele estava casado – com a ex namorada de seu irmão – e com dois filhos. Roxanne e Fred II.


Fred... Esse menino, por algum milagre genético, tinha nascido idêntico ao pai. Pele branca, de sardas e cabelo ruivo. Talvez por isso fosse tão difícil olhar para ele. Como aquela criança tinha nascido daquele jeito? Sua mãe era negra... Roxanne era negra. Mas ele não. Fred era ruivo e lembrava o pai... Ou talvez o tio.


Jorge riu. Seria o filho um fantasma para agoniza-lo, ou talvez uma benção para acalma-lo? Tantas vezes Jorge tinha se sentido perdido, mas apenas o reflexo no espelho ou o sorriso maroto de Fred II tinham feito com que ele voltasse a levantar. Outras tantas, ele estava tão feliz, mas seu reflexo – como nessa noite – ou o riso infantil de Fred II o faziam perder o chão novamente.


E Angelina... Ela podia tentar fingir. Jorge podia também... Mas os dois sabiam que por mais que ela o amasse, nunca o amaria como amou ao irmão. Isso era saudável? Não, mas foi o que encontraram para se erguer.  Nos últimos anos, no entanto, Jorge já podia dizer que amava sua mulher. E Angelina também já tinha o dito várias vezes.  Às vezes era fácil – como respirar – olhar para ela e fingir que nada estava fora do lugar. Eles eram felizes, tinham uma família bonita, Jorge tinha uma boa condição financeira... Porque teria algo fora do lugar?


Mas era a cada 2 de Maio ou em datas de reunião familiar, que a sombra voltava a cair sobre ele. Datas de comemoração para muitos – 2 de Maio, fim da Segunda Guerra Bruxa, aniversário de sua sobrinha Victoire, aniversário de morte de Fred, Tonks e Remus; além do Natal, época de festejar – o faziam ficar infeliz. E Jorge sabia que não era apenas para ele. Não... Toda sua família era infeliz com isso.


Algumas vezes, sua mãe esquecia que Fred tinha partido e perguntava por ele.


Jorge costumava se afastar quando isso acontecia. Sua mãe chorava, mas ele não tinha como consola-la. Ele próprio sentia vontade de chorar.


Ele estava parecendo Percy. Resmungão, infeliz. Jorge sorriu com esse pensamento. Só Fred poderia fazê-lo se sentir infeliz. Ah... Ele nunca tinha se sentido tão mal antes da morte do irmão. Agora, era como se tivesse m levado uma parte dele.


Não existia mais Fred e Jorge... Agora era só ...


- Jorge...  – A voz de Angelina o despertou. Ele virou o rosto na direção da mulher. Ela estava deslumbrante, com um vestido dourado que realçava a cor de sua pele. Ela sorria para ele. Jorge sorriu em resposta. – Você está tão distraído. Vim te chamar para sala, a ceia já vai ser servida.


- Oh, que horas são? – Ele perguntou, voltando a olhar para fora.


- Onze e quarenta, querido. – Angelina disse depositando um beijo em seus lábios.


- Vai indo na frente, eu já vou. – Ele respondeu, distraído. A mulher concordou e o deixou sozinho, no canto.


Ele sorriu, olhando os flocos de neve que caiam. Se Fred estivesse aqui, eles já teriam feito alguma gracinha a essa hora.


Jorge voltou a ficar distraído. Agora nenhum pensamento vinha em mente, apenas observava a neve. Lá fora, um boneco de neve gorducho parecia olhar para ele também. Fred II e outras crianças tinham passado o dia o montando. Agora ele estava um tanto torto e sorridente demais, mas ainda assim, era um boneco de neve brilhante para crianças. Depois de alguns minutos, ele olhou para o relógio de pulso.  Meia noite.


- Feliz natal, Fred. – Ele suspirou. – Meu único desejo de Natal é que eu pudesse estar com você.


Ele sentiu sua bochecha ficar encharcada. Lagrimas brotaram de seus olhos e ele voltou a apoiar a cabeça no vidro.


- Papai? – Uma voz infantil o chamou. – Você está chorando?


Jorge se virou para o filho. O pequeno ruivo de sete anos parecia assustado.


- O que? – Ele limpou o rosto. – Não, não estou. Onde já se viu... Eu chorar! Um Weasley não chora, Fred!


- Com quem você estava falando? Com o tio? – Ele disse, se aproximando do pai.  


Jorge sentou em uma poltrona próxima e colocou o filho sentado em seu colo.


- É... Com tio Fred.


- Eu escutei a vovó e a mamãe dizendo que você sente muita falta dele.


Jorge o olhou um tanto surpreso. Para uma criança, ele era bem esperto.


- Sinto... Seu tio e eu éramos muito ligados.


- Eu sei... – Fred riu. – Por isso estava chorando? De tristeza?


Jorge ficou pensativo e olhou para a janela. O boneco de neve voltou a sorrir para ele do lado de fora. Seu reflexo o observava, também pensativo.


- Não... – Jorge respondeu, bagunçando o cabelo do filho. – De saudade... E de felicidade. Porque acabei de perceber que ele me mandou a alguns anos duas estrelas do céu onde ele mora, para que eu nunca mais chorasse de tristeza. Ele me mandou você e sua irmã... Pra me fazer companhia e preencher o vazio. Também pra que eu me lembre que não posso me prender a ele e esquecer que eu sobrevivi... E que eu tenho muitos motivos para ser feliz.  


- Nossa... Ele disse tudo isso pra você? – Fred disse sorrindo. – Só mandando duas estrelas?


- É... Pra você ver como as estrelas são importantes, Fred. – Jorge disse rindo.


- Posso desejar feliz natal para ele também?  - Fred saiu do colo do pai e olhou para a Janela, tocando um ponto com as mãozinhas ainda gorduchas.- Ele é aquela ali? A maaaaais brilhante de toooodas? – Ele apontava, sorrindo.  Jorge apenas assentiu. – Feliz natal tio Fred e obrigado por mandar estrelas pro papai. Assim ele nunca mais vai se sentir sozinho. 


Ele olhou para o pai, sorrindo, como se esperasse uma resposta. Depois ele ficou sério e voltar a olhar para o jardim do lado de fora e novamente olhou as estrelas.


- Como eu sei se ele ouviu? Ele esta tão longe... – Fred perguntou, distraído.


- Ah, ele ouviu, com certeza. – Jorge sorriu. – Ele levou um par de Orelhas Extensíveis com ele. Seu tio sempre foi muito enxerido e eu tenho certeza de que ele fica sempre prestando atenção na gente.


- Que bom! – Fred II sorriu.


Jorge levantou da poltrona e puxou o filho pela mão carinhosamente. Ele disse, colocando a mão no ombro do filho: 

- Vamos, nós tempos que ir jantar... Antes que sua avó venha e nos puxe pelas orelhas!


- Oba! Ceia... – Fred disse e saiu correndo pelo corredor.


Jorge já estava fechando a porta quando o seu reflexo na janela voltou a chamar sua atenção. Ele voltou para a janela e observou a Estrela-Fred. Ela era realmente a mais brilhante no céu. Com um sorriso ele olhou para a estrela e falou.


- Feliz natal, Estrela-Fred. - Jorge tocou o vidro. – Eu queria que você estivesse aqui para festejar com a gente, mas obrigado por mandar o Fred em troca.


Dizendo isso, ele virou de costas e saiu da pequena sala. Agora teria um ótimo jantar de comemoração de Natal. Mais um ano chegava ao fim e ele estava feliz por estar vivo.



 



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N/A: Essa fanfic foi obra de um surto criativo. Isso que dá ficar vendo os especiais do filme do Harry Potter e escutar a J.K. falando sobre o futuro de todos depois da guerra. E eu admito: deveria estar escrevendo outra fic, mas de repente essa me veio à cabeça como um especial de Natal. Então eu pensei: Porque não?  Eu nunca escrevi sobre ninguém da Era Potter, principalmente sobre Jorge e Fred, então me perdoem se estiver muito ruim kkkkkk


Espero que gostem e comentem para eu saber suas opiniões *-* ,


Beijos,
Vanity Black

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Comentários (4)

  • Gatinhos de Chocolate

    Foi lindo! Quase chorei

    2017-03-29
  • Eloadir Gomes Neto

    Amei de coração ! Deus queira que vc tenha muitos outros surtos criativos como esse xD Sensacional Parabéns ♥ 

    2014-04-12
  • Vanity Black

    Sim, sim... A morte de Fred é um assunto tão triste! D: Acho que ninguém conseguiu passar por isso sem sofrer... Nem mesmo nós leitores D: Ah, muito obrigada mesmo *-* Feliz natal e feliz ano novo atrasado pra você né! 

    2013-01-14
  • Neuzimar de Faria

    Acho que voce conseguiu captar os sentimentos do Jorge exatamente como eu acho que eles eram depois da morte do Fred. JK disse que o Jorge nunca se recuperou realmente da morte do Fred (acho que nenhum de nos, na verdade. Para mim, este e sempre um ponto sensivel).Sua fic ficou delicada e linda! Feliz Ano Novo! 

    2012-12-31
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