"Queriam me matar..."

"Queriam me matar..."



Distância era uma palavra raramente usada no vocabulário de Rony. Hermione e ele se encontravam praticamente todos os dias, ou ficavam uma ou duas noites sem se verem.


Rony não fazia o tipo romântico normalmente, mas quando queria se tornava um verdadeiro Dom Juan, mas Hermione o amaria pelo seu jeito, não importasse qual. Ele a fazia rir, na verdade gargalhar, e isto a cativava, pois não há nada melhor que estar com alguém que te faça se sentir feliz, alguém com quem você se sente a vontade. Alguém que você ame e este sentimento seja retribuído. Alguém que te ame tanto ao ponto de sentar e conversar com seus pais sobre casamento.


O ruivo estava encostado a uma parede lateral, de braços cruzados e encarando o chão quando Hermione desceu. Ele a fazia perder o ar.


– Oi senhor "estou tentando impressionar os pais da minha namorada"! - falou ao se aproximar.


– E se eu estiver? - respondeu lhe beijando os lábios. Rony usava uma camisa social azul clara, com uma gravata listrada vermelho vinho e preto, além da calça escura e o cabelo estar muito bem penteado.


Ela riu antes de falar:


– Meus pais já te conhecem há anos, já tem um conceito formado sobre você, e duvido que isto mude só porque você está tentando parecer elegante.


– Tentando parecer? Eu levei horas escolhendo algo para usar! - ela a encarou fingindo indignação.


– 'Tá mudando de lado, é? - perguntou participando da brincadeira e colocando as mãos na cintura. - Acho que nem levei uma hora me decidindo!


– E foi uma escolha maravilhosa! 'Tá um arraso! - completou forçando uma voz afeminada. Hermione usava um vestido verde claro com folhas num tom mais forte da mesma cor, um laço estava envolto em sua cintura. Levava uma bolsa ao lado do corpo, sapatilha clara e um casaco simples branco com um único botão para fechar, caso sentisse frio mais tarde. O cabelo castanho estava preso em um coque mal feito com alguns fios soltos. - embora tivesse certeza de que Rony a esquentaria mais tarde, diga-se de passagem.


– Quem é você e o que fez com o meu namorado?


Rony passou o braço pela cintura da namorada, e rindo, foram em direção ao carro. Os Granger moravam em um local afastado dali. Quase meia hora de viagem. Eles conversaram durante todo o percurso.


– Lembra aquele dia, semana passada, lá em casa... Sábado. No capítulo anterior, quando a gente "falou" sobre filhos? - Rony perguntou e Hermione assentiu. - Eu andei pensando - acrescentou após suspirar. - E... Bom... Eles são uma grande responsabilidade, sabe?


– Vá direto ao ponto, sem enrolação!


– Acho que seria melhor se antes deles, nós tivéssemos uma vida bem estabilizada. Filhos custam caro, ainda me pergunto como meus pais tiveram tantos... Enfim, e você ainda trabalha no consultório da Dra. Abott, e nós...


– Ronald, calma, eu não penso em ter filhos tão cedo, só queria que você soubesse! Não precisamos pensar nisso agora, temos uma vida toda pela frente! - ela pôs a mão sobre a dele, que repousava na marcha do carro. - Nós temos!


Era uma noite de sexta-feira agradável, daquelas que pode te fazer sentir melhor só por existir. Poucas nuvens apareciam, entrando em contraste com a lua e as estrelas brilhantes.


– Sim, nós temos!


Uma das centenas de coisas que ela gostava na relação: podiam conversar sobre tudo e nada ao mesmo tempo. Sem restrições. Partilhava com ele tudo o que ocorria, e acreditava que ele fazia o mesmo. Era um dos seus momentos favoritos quando conversavam. Ele era um bom ouvinte. Às vezes, Rony podia se comportar como um trasgo insensível com sentimental de uma pedra, mas sabia dizer a coisa certa na hora certa, assim como Gina. Talvez fosse um dom de família!


– Sabe outra coisa na qual eu pensei? - ela negou. - Era de se esperar! Certo, eu pensei em, sei lá, nós podíamos morar juntos. Antes de casar, para nos acostumar com a vida de casado. Dividir contas e essas coisas...


Hermione ponderou.


– Hum... Até que não é má ideia... Se você sair vivo do jantar falamos sobre na volta!


– Muito animador...


Alguns minutos depois eles estacionaram em frente a uma elegante casa de dois andares. Sua fachada era amarela, tinha um jardim bem cuidado, realçado pelas luzes da entrada e dois carros na garagem a mostra. Peter e Mary Jane tinham um bom estilo de vida, com salários de advogados podiam ter algumas regalias.


Como Hermione esquecera as chaves (e só se dera conta disto bem longe de casa), tocou a campainha e aguardou. A senhora Granger veio recebê-los. Se não soubesse quem era, Rony seria capaz de confundi-las. Hermione era uma cópia da mãe que não aparentava ter sua idade real. Os olhos, os cabelos, e até, se reparasse bem, a maneira de gesticular. Mal se via as rugas de expressão, pés de galinha ou qualquer coisa que denunciasse mais de quarenta anos.


– Mãe! - Hermione a abraçara fortemente. - Senti saudades! - não se viam desde o dia da formatura.


– Sente saudades porque quer! As portas desta casa sempre estarão abertas, principalmente agora que o ritmo dos julgamentos vem diminuindo. E olá Ronald! - eles apertaram as mãos. - Entrem, entrem. Seu pai está lá na sala.


A casa fora meticulosamente mobiliada. Nem todos aparentavam serem daquela época, alguns eram heranças que foram passadas de gerações.


– Pai! - Rony que olhava a casa detalhadamente, não prestando muita atenção ao que acontecia ao seu redor, voltou ao ambiente quando sentiu Hermione soltar sua mão. Era como uma sensação de abandono.


– Querida! - Peter deixou o jornal de lado e foi receber a filha. - Está tudo bem? Ele te trata bem?


– Sim, pai, está tudo ótimo! Não precisa se preocupar!


– É bom mesmo!


– Prazer em revê-lo, senhor Granger. - esticou a mão para cumprimentá-lo. Ele soltou um muxoxo e correspondeu.


– O jantar ficará pronto em poucos minutos. - a senhora Granger entrou na sala anunciando. - Então, fiquem a vontade, ou não sei. Qualquer coisa estou na cozinha!


– Então, ahn... Eu vou ao meu quarto, buscar algo que quero que veja! - Hermione se dirigiu as escadas que davam acesso ao andar superior, deixando o pai e namorado a sós.


Instalou-se um silêncio mais que desagradável entre os homens. Peter sentou em sua poltrona e começou a leitura do jornal. Rony permaneceu alguns instantes de pé, mas logo escolheu um lugar para sentar. Peter era um tanto mais baixo que Rony, seus cabelos, que pelo o que ele lembrava, de cor escura, começavam a ficar ralos e mais claros. Diferente da senhora Granger, os anos não lhe fizeram muito bem, apenas um homem mais sábio. Quando ele achou que ficariam em silêncio até Hermione voltar...


– Isto tudo não lhe parece estranho? - perguntou.


– Desculpe, senhor? - ele não tinha entendido a que ponto o homem queria chegar.


– Digo, você e minha filha. Juntos, depois de anos sem se verem.


– Ah... Eu realmente gosto dela. - falou sem graça. Aquilo não era estranho, estranho era estar conversando com o pai de sua namorada sobre o que sentia em relação a ela. - Hermione, ela... Ela é incrível, e... Senhor Granger, eu gostaria de saber se...


– Pensei que fosse demorar mais para encontrar! - Hermione descia apressadamente as escadas. - Não lembrava direito onde tinha guardado. Olha só, meu álbum, de quando era menor. Tem pelo menos uma foto para cada ano. Achei que você gostaria de ver. - ela sentou ao lado do ruivo e lhe entregou o álbum de fotografias.


– Ah, maneiro! Adoraria ver!


As fotografias iam desde quando Mary ainda estava no hospital até a formatura do ensino médio, precisando ser completo com a formatura da faculdade.


– Aqui - falou apontando para uma foto. - Eu tinha nove anos e estava indo para um acampamento! O primeiro em que fui... Bons tempos... - ela olhou para o horizonte indicando que estava pensando no passado.


– Estão com fome? - Mary voltou a sala. -A comida está pronta.


– Está com um cheiro maravilhoso. - Rony elogiou.


Os quatro seguiram para o cômodo em que faziam as refeições.


Não era nada muito formal, embora, talvez, Rony tenha extravasado na roupa. Quando os pais disseram que queriam jantar com Hermione ela aproveitou a oportunidade e levou o namorado. Seria uma experiência interessante com acontecimentos inesperados...


– Eu fiz a comida preferida da Hermione!


– Ah, legal, obrigada mãe!


– Como Ronald é o convidado nada mais justo que ele seja o primeiro a comer! - Mary sugeriu.


Após se servir de generosas porções de strogonoff, Rony experimentou duas garfadas antes de dar a "sentença".


– Isso está bom demais!


Os três restantes se serviram também.


Por um tempo só se ouvia o tintilar dos talheres nos pratos, e então...


– Desculpe senhora Weasley, este strogonoff é de que? Não consegui identificar... - Rony perguntou olhando para o prato.


– Ah, é de camarão, pensei que soubesse...


– Camarão? - ele soltou o garfo exasperado.


– Ah, meu Deus, camarão, é mesmo! Esqueci! - na mesma situação que Rony, Hermione se apressou a levantar da cadeira. - Rony é alérgico a camarão. Esqueci completamente!


– Oh...


Fazendo máximo que podiam, ajudaram Rony a ir até o carro. A parte visível de sua pele começava a inchar, causando coceira, suas bochechas pareciam as do personagem Kiko, da serie Chaves.


– Não coce, pode piorar! - dizia Hermione, no banco de trás, lhe fazendo companhia, enquanto os pais estavam na frente, dirigindo.


Era uma tarefa árdua se controlar quando alguma parte lhe incomodava. Como quando se é criança e se tem catapora. Não coçar é uma missão dificílima.


Quando chegaram ao hospital Rony foi atendido primeiro, pois sua alergia, se não tratada logo, poderia até levar a óbito. Hermione se encarregou de assinar os papeis do namorado, e aguardar, um pouco angustiada, os minutos se passarem esperando uma noticia positiva.


Como poderia ter sido tão desligada e esquecer que ele tinha essa alergia? Quando a mãe dissera ser seu prato preferido, devia ter ligado os pontos e lembrado que Rony não podia comer em hipótese alguma. Se bem que uma vez...


Um medico se aproximou de onde estava:


– Por acaso vocês são os Granger? - ele perguntou cauteloso.


– Sim! - Hermione respondeu um pouco hesitante. Estava um tanto apreensiva. O que o camarão teria feito a Rony?


– Eu sou Willian Jonas, o alergologista do hospital. - apresentou-se apertando a mão dos três presentes.


– Rony vai ficar bem? - ela tentava manter a calma, se desesperar não levaria a nada, por mais que estivesse preocupada com ele. O doutor tinha um semblante descontraído, o que a deixou um pouco aliviada.


– Vai sim, nós lhe demos alguns remédios que estão fazendo efeito e os sintomas da alergia logo irão se desfazer! Não foi nada muito grave, sorte que foi trazido em pouco tempo. Se esperassem mais ele poderia ter entrando em um quadro mais grave. Alergias são sempre um perigo, e dependendo do grau podem levar a pessoa a óbito.


Ela concordou agradecida por nada de mais ter acontecido. Imagine ficar viúva sem nem ter casado.


– Ah, obrigado doutor. Será que... Eu posso vê-lo? - perguntou cautelosa.


– Pode sim. Mas lembre-se, ele está sob o efeito de alguns medicamentos, então pode não dizer coisa com coisa ou estar agitado. Depende de como age sob a pessoa!


– Certo, certo. Volto logo! - acrescentou aos pais.


Dr. Jonas a indicou o caminho do quarto em que Rony estava. Não sabia para o que se preparar. No carro, Rony tinha toda a face empolada e vermelha. Parecia ter dificuldades para respirar, o que a deixara aflita.


Ao abrir a porta do quarto encontrou o ruivo sentado na cama e encarando o teto. Chegava a ser cômico. Ele parecia estar bem longe dali, em um lugar que admirar o teto era interessante...


– Oi. - ela disse cuidadosamente. Rony saiu de seu contemplamento.


– Seus pais estavam tentando me matar?


– Como? - perguntou visivelmente confusa.


– Claro, como não! - continuou. - Você é a garotinha do papai, ele devia saber de alguma forma que eu queria pedi-la oficialmente em casamento e tentou me matar porque não queria ninguém com sua filha.


Ela o encarou espantada. Só podia ser um efeito do remédio. Ele estava maluco. Não conseguiu pensar em nada para responder.


– Ah...


O semblante dele modificou para divertido.


– Estou brincando!


– Nossa, que brincadeira hilária! - ironizou indo se sentar ao lado dele.


– Verdade! Tinha que ver seu rosto de "isso só pode ser brincadeira!”.


– Pois é, quase morrer é uma grande piada! - continuou ironizando.


– Poxa, era brincadeira...


– E eu já escutei! - falou elevando um pouco a voz. - O problema é que nem tudo se pode levar na brincadeira. Você podia ter morrido, e a culpa seria minha, eu iria me culpar pelo resto da minha vida!


– Mas nada de mais aconteceu! - ele tentava tranquilizá-la. - Em questão de minutos poderei ir embora. Ok, desculpe! - acrescentou ao ouvi-la bufar. - Você falou com os meus pais?


– Não ainda...


– Por quê?


– Não sei, acho que não tive coragem. Eles são boas pessoas, não queria ser portadora de má noticia... - ele riu.


– Falando de pais... Os seus ainda estão aqui? - ela assentiu. - Será que eu poderia falar com eles?


– Sobre o que? - perguntou erguendo a sobrancelha desconfiada.


– Assuntos inacabados da noite!


Ela ponderou.


– Você tem sorte de á estar em um hospital! - estava quase alcançando a porta quando se lembrou de algo. - Ah, Ronald... - quando ela lhe chamava pelo nome completo não significava coisa boa. - Eu lembrei uma coisa, sabe? - ele negou. - Pois é, lembra-se da festa da Luna, quando estávamos conversando, e por acaso você disse que gostava de strogonoff de camarão? Irônico, né?


– Ah... - ele buscava na cabeça algum resquício de memória daquele noite. - Ah... É que... Eu não ia dizer camarão... É que eu... Sabe, queria me enturmar. - ela o encarava incrédula. - Qual é, olha só pra você, é a maior gata! Quando saímos juntos os homens ficam babando em você.


Hermione balançou a cabeça negativamente.


– Homens... - e saiu do quarto resmungando. - Como se eu fosse dar em cima deles...


Avisou aos pais que Rony queria conversar com eles, e decidiu ligar para Molly, afinal, ela era mãe e merecia saber o que acontecia com seu filho.


– Sim, ele está bem, senhora Weasley... Não, só precisa assinar alguns papéis de alta, eu acho, mas ele pode ir embora hoje, sem problemas... Não, ele vai precisar tomar alguns remédios... - por alguns minutos contou o que aconteceu para a alergia atacar, e tranquilizou a senhora ruiva do outro lado da linha.


Ela estava extremamente preocupada. Fazer o que, são coisas de mães...


Desligou bem no momento em que Mary e Peter voltavam da conversinha.


– Ah, querida, estou tão feliz por você. Ronald parece ser o rapaz certo, e espero que vocês sejam tão felizes quanto seu pai e eu somos! - pelo visto as coisas tinham dado certo no final e seus pais, pelo menos sua mãe, ficara bastante contente por ela. A abraçou desejando que tivessem uma vida abençoada de casados.


Peter se limitou a dizer um "idem" ao que a esposa tinha dito. Ele não parecia tão feliz quanto ela, mas demonstrava essas coisas por outros gestos. A abraçou também e sussurrou uma "dica" em seu ouvido.


– Se ele te fizer mal ou chorar, me conte que eu conheço as pessoas certas!


– Pai! - o repreendeu, mas acabou rindo.


[...]


Horas depois, no apartamento de Hermione "barra" de Gina, após Rony ligar para a mãe e garantir que estava tudo em perfeita ordem, o casal pensava em algo para fazer...


– Eu sei que estou com fome! - disse Rony.


– Não é novidade, mas idem.


– Tá confortável? - perguntou se referindo aos pés da noiva em seu colo.


– Sinceramente, podia melhorar.


– Ah é? Assim, por exemplo? - ele fez cócegas em seus pés.


– Não sinto cócegas ai! - falou vitoriosa.


– Não? Sente onde?


– É claro que não vou te contar, não sou doida! Eu morro de cócegas.


– Hum, então acho que vou ter que descobrir por conta própria. - e sem delongas lhe fez cócegas em todos os cantos, até descobrir que seu ponto fraco era o pescoço e determinados lugares do tronco, se tocados da forma certa.


Os toques foram se intensificando, se transformando em beijos e caricias que resultaram em uma noite de amor.


Mas é como dizem, as coisas boas duram pouco ou o tempo suficiente para serem inesquecíveis, e você nunca acha que algo irá acontecer com você até que ela aconteça...

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