ASAS DA MORTE
CAPÍTULO 4
ASAS DA MORTE
_Grande Merlin! _ exclamou Harry, baixinho, ao dar uma batidinha na fuselagem de uma das aeronaves _ Metal em vez de madeira. Mas isso não é possível, além deles só terem previsão de estarem operacionais em 1945 e nem terem entrado em serviço. Mesmo que as turbinas fossem Junkers Jumo 004B, as chapas da fuselagem não conferiam com o formato dos Messerschmitt ME-262. Só podiam ser...
_CAÇAS-BOMBARDEIROS HORTEN HO-229! _ exclamaram os dois, em voz baixa.
_Como você os conhece, Voldemort? _ perguntou Harry.
_Estavam no microfilme que entreguei ao SIS, quando jovem. E você, Harry Potter? Como sabe desses aviões?
_Bem, como você descobriu, um dos meus passatempos é a aviação militar. Certa vez, quando os Dursley viajaram, não pude ficar com a Sra. Figg, então fiquei só na casa. Assistindo a um documentário na BBC, vi estes caças e fiquei curioso. O quarto de Duda estava trancado, mas consegui abrir a fechadura, com uns macetes que Fred e Jorge Weasley me ensinaram.
_Nunca te imaginei arrombando uma porta. _ disse Voldemort, meio irônico.
_As circunstâncias nos obrigam a coisas meio estranhas, às vezes. E como eu sabia a senha do computador, liguei e acessei a Internet.
_Agora você está falando Grego para mim. Esse negócio de computadores e Internet nunca foi do meu agrado e nunca me preocupei em conhecer nada sobre isso, era uma coisa trouxa que nunca me interessou. _ disse Voldemort.
_E eu pesquisei sobre esses caças, descobrindo todas as suas características. Mas eles foram construídos em madeira, pois o duralumínio estava escasso e caro. Jamais entraram em combate mas, se entrassem, o rumo da guerra seria bem outro. Vê-los assim, feitos em metal e prontos para serem utilizados, me preocupa muito. _ disse Harry _ Bem como o fato deles estarem sendo produzidos aqui e não na Alemanha.
_Sugere algum tipo de plano tendo como alvo um lugar mais distante, tipo...
_... Tipo os EUA? Mesmo que sua autonomia seja de mais ou menos 1.000 Km?
_Tirou as palavras da minha boca, Harry Potter. Veja que eles estão com armamento completo, do jeito que eu vi nos projetos, lá no SIS.
_Tem razão. _ disse Harry _ Dois canhões MK 108, foguetes R4M e aqueles cabides de bombas parecem estar prontos para receber artefatos de 500 Kg.
_Mas a tinta parece meio diferente, tem cheiro de tinta a óleo para pintura artística. _ disse Voldemort _ e esse tipo de tinta possui chumbo na composição. Conheço o cheiro porque Yaxley costumava pintar, nas horas vagas.
_Um Death Eater artista. Não esperava por isso. _ disse Harry.
_Até bruxos das Trevas têm direito a seus passatempos. _ disse Voldemort, meio pensativo _ E também lemos jornais e livros trouxas, por mais que tentemos negar em público. Por isso eu sei que o chumbo barra a radiação, protegendo a aeronave e seu piloto.
_Está querendo dizer que esses Ho-229 podem estar sendo preparados para carregar...
_... Lembre-se de Hiroshima e Nagasaki. _ disse Voldemort.
_Temos de dar uma olhada no outro prédio, aquele que parece ser um laboratório. A presença de cientistas do Reich, somada a caças-bombardeiros a jato com tinta contendo chumbo forma uma equação cujo resultado não me agrada. _ disse Harry, enquanto um grupo de operários prisioneiros, na maioria judeus, abria caminho para eles.
_Além de parecer bastante... explosivo. _ disse Voldemort _ Vamos ver o laboratório.
Saíram do hangar e, como quaisquer outros soldados, circularam pela área fingindo estar em patrulha. Aproximaram-se do laboratório e entraram. O tipo de segurança parecia mais voltado para armas químicas e não atômicas. Mas a presença de cientistas da área da Física junto aos químicos preocupava, bem como a porta fechada do hangar, que limitava com a encosta da montanha.
_Parece ser somente químico, Voldemort.
_Sim, Harry Potter. Mas você não está sentindo um cheiro bem característico?
_Gasolina? Mas de um tipo especial?
_Conhece o cheiro?
_Sim, Voldemort. Parece que estão desenvolvendo combustível para aqueles caças.
_E se algum bruxo souber como dar uma “aditivada” no combustível, através de Magia Avançada? _ perguntou Voldemort.
_Poderia elevar sua potência e aumentar a autonomia dos aviões. Mas mesmo assim eles precisariam de mais do que isso, para alcançar os EUA. E falando nisso, você viu alguma pista?
_Agora que você mencionou isso, Harry Potter, não vi pista alguma.
_Aposto que tem a ver com aquela porta que dá para a montanha.
_E aqueles caças teriam de decolar de algum lugar. _ disse Voldemort.
_Sugere uma pista oculta?
_Tem alguma ideia que se encaixe melhor?
_Temos de voltar lá, Voldemort. Os disfarces estão muito bons, creio que não levantaremos suspeitas.
Retornaram ao hangar e viram que a grande porta junto à montanha estava fechada, mas havia uma porta ao lado, entreaberta.
_São tão confiantes que nem se preocuparam em fechar as portas e colocar alarmes. _ comentou Harry _ Vamos ver o que há do outro lado.
Seguiram pelo grande túnel e chegaram a uma instalação sob a montanha, ainda mais ampla do que o hangar.
_O túnel tem tamanho mais do que suficiente para permitir a passagem dos caças. Mas como eles decolariam? _ perguntou Voldemort _ Só se...
_... Essa instalação sob a montanha tiver algo a ver. Veja só.
A enorme instalação era ocupada por outro laboratório, depósitos, um arsenal e um elevador hidráulico de plataforma, que dava acesso aos níveis superiores. Os dois bruxos subiram pela escada e viram que no nível superior havia...
_... Uma pista. _ disse Harry _ Uma pista das grandes, escavada no interior da montanha. E não é tudo. Veja o que há ali.
_Pensei que aquilo só existisse em ilustrações, que não passasse de uma fantasia de engenheiros e cientistas malucos. _ disse Voldemort.
_Eu também. _ disse Harry _ Mas ele está aqui, na nossa frente.
À frente dos bruxos, encontrava-se uma aeronave que parecia saída dos mais insanos delírios de um projetista aeronáutico. Possuía a mesma configuração de asa-voadora dos caças Horten Ho-229, mas era enorme, um superbombardeiro pesado, impulsionado por seis megamotores Junkers a hélice e também fortemente armado.
_É bem maior do que os Northrop XB-35, que foram desenvolvidos depois da guerra e com base nos Horten. _ disse Harry.
_Sabe, Harry Potter, isso explica o desenvolvimento daquela gasolina especial. Creio que ela não era somente para os caças.
_Isso me faz lembrar de um dos planos mais ambiciosos do Reich, justamente para o qual foram desenvolvidos os caças e bombardeiros de longo alcance.
_O “Projeto Amerika Bomber”. _ disse Voldemort _ Lembro-me de ter lido algo sobre isso, há algum tempo atrás. Hitler, Göring e os fabricantes de aeronaves traçaram projetos para bombardeiros de longo alcance, a fim de atacar os EUA.
_Sim. Pensaram nos aviões Messerschmitt ME-264, no Junkers Ju-390 e Heinkel He-277.
_Cogitaram o uso de uma base intermediária nos Açores para eles, aumentando a sua autonomia.
_Sem contar o projeto do avião-foguete orbital, que foi abandonado para priorizar a “Operação Barbarossa”.
_O “Silbervogel”, do Dr. Eugen Sänger. _ disse Voldemort _ Até nós, da Ordem das Trevas, ficamos impressionados com aquela coisa prateada, que parecia tão avançada para a época em que foi projetada.
_Mas não há registro de que as “Asas Voadoras” tivessem sido priorizadas no plano de bombardear a América. _ disse Harry _ A não ser que seja um segredo dentro de outro segredo.
_Que todos os outros projetos tivessem sido secundários e que o uso dos Horten fosse o principal? _ perguntou Voldemort _ Pode ser, principalmente nesta realidade, onde os bruxos tomaram partido e Grindelwald acabou tornando-se conselheiro de Hitler.
_Gasolina magicamente potencializada, superbombardeiro pesado, caças a jato com proteção contra radiação... o quebra-cabeças está cada vez mais macabro. _ disse Harry.
_E se essa coisa monstruosa não tivesse a finalidade de funcionar como um superbombardeiro? _ sugeriu Voldemort _ E se na verdade ele tivesse sido projetado para outra função?
_Está querendo dizer que em vez de realizar o bombardeio ele seria, na verdade, um supercargueiro, transportando os Horten até certo ponto do caminho e depois liberando-os, para que eles atacassem seus alvos? _ redarguiu Harry _ Isso coincide com o que eu estava pensando. Um superbombardeiro atingiria somente um alvo, mas um supercargueiro...
_...Liberaria os Horten em um ponto predeterminado, de onde eles seguiriam para atingir vários alvos, aproveitando-se da velocidade e autonomia. _ completou Voldemort.
_E seriam vários alvos ao mesmo tempo. _ disse Harry _ Há uma rampa aberta, vamos tentar entrar nele, para confirmar.
_De acordo. _ disse Voldemort e os dois subiram pela rampa.
O interior da enorme aeronave era amplo e ocupado por instrumentos avançados para a época, inclusive pela presença de uma estrutura na parte central, contendo duas plataformas triplas sobre as portas de liberação.
_As portas de bombas foram modificadas. _ disse Voldemort _ Estão bem maiores do que o normal.
_O que confirma nossas suspeitas. _ disse Harry _ Em vez de bombas, esse mega-avião irá soltar outros aviões. Quais você acha que serão os alvos?
_Certamente que serão pontos da América. _ disse Voldemort, enquanto os dois saíam da aeronave _ Nova York e Washington são alvos preferenciais.
_É verdade, e também as áreas de produção industrial, tipo Pittsburgh e/ou Detroit. Além do impacto da explosão, a área seria inutilizada pela contaminação radioativa, supondo que os Horten transportassem artefatos nucleares. E ainda há a possibilidade de haver alvos na América do Sul.
_Quer dizer, o Brasil?
_Pela lógica, sim. A política de Vargas era pró-Eixo mas o Brasil assinou a Carta das Nações, condenando a ação alemã e isso pode ter sido uma das razões para o torpedeamento de embarcações civis por submarinos Nazistas.
_Represália Nazista. _ comentou Voldemort _ Para Vargas, era mais vantajoso estar alinhado à política dos EUA, pois representava um grande passo na industrialização do país.
_A Companhia Siderúrgica Nacional? Em nossa realidade ela começou a funcionar em 1946. É, dá para pensar que Volta Redonda seria um alvo tentador, pois impediria que ela entrasse em funcionamento. Como é que você sabe tanto sobre esse período, Voldemort?
_Primeiro porque eu vivi essa época na nossa realidade, Harry Potter. E também tenho meus passatempos, como você deduziu. Enquanto você gosta da aviação militar da II Guerra, eu pesquisava todo o período, com ênfase nos projetos secretos de Hitler, as “Sonderwaffen”.
_Com a intenção de utilizá-las para a Ordem das Trevas? _ perguntou Harry.
_Confesso que no começo sim, Harry Potter. _ disse Voldemort _ Mas depois descobri que não haveria viabilidade para colocá-las em prática, além dos riscos envolvidos.
_Como assim? _ perguntou Harry.
_Algumas daquelas coisas eram meio... “incontroláveis”, tais como o misterioso “Sino”, que até hoje ninguém sabe direito qual seria sua finalidade.
_E quem sabia ou está morto ou não diz de jeito nenhum.
_Exatamente. E isso me preocupa bastante, pois muitas das “Sonderwaffen” que eram apenas protótipos em nossa realidade, nesta parecem estar sendo produzidas em escala industrial, talvez com uma “ajudinha” mágica de Grindelwald.
_Grande Merlin! Temos de informar Dumbledore e Churchill, para que eles possam repassar a informação aos Aliados. _ disse Harry, enquanto os dois desciam da enorme aeronave e saíam da instalação, rumo ao campo _ Sem contar que o tempo pode estar contra nós, já que eles têm tudo preparado para desencadear a operação.
_Exceto pelas bombas. _ disse Voldemort _ Creio que serão transportadas da Alemanha ou de países ocupados para cá por meios convencionais, pois um transporte mágico poderia desestabilizá-las.
_Então ainda temos algum tempo. _ disse Harry _ Agora vamos dar um jeito de nos misturarmos à próxima patrulha, para darmos o fora daqui e...
Um som de sirenes preencheu o ar, interrompendo Harry. Preocupados, os dois esconderam-se nas sombras.
_Será que fomos descobertos, Voldemort? _ perguntou Harry.
_Acho que não, Harry Potter. _ disse Voldemort _ Nossa Transfiguração Pessoal Completa está bastante forte e eu também protegi nosso bivaque com Feitiços de Proteção e Ocultamento, antes de sairmos de lá. Essa movimentação deve ter outros motivos.
_Tem razão, todos estão entrando em forma no pátio. Creio que não seremos descobertos se formos ver o que é.
A Companhia responsável pela guarnição do complexo entrou em forma, dentro de seus pelotões. Depois que as faltas foram tiradas, Voldemort e Harry aproximaram-se para tentar entrar na formação sem serem percebidos, mas um Sargento aproximou-se deles.
_Keine Notwendigkeit, in Form zu kommen! Wird die Südseite des äußeren Zaun patrouillieren (Não precisam entrar em forma! Vão patrulhar o lado Sul da cerca externa)!
Os dois bruxos saíram dali e dirigiram-se ao local indicado pelo Sargento. Por sorte eles tinham uma boa visão do pátio de formatura. A tropa foi colocada em sentido e, pouco depois, foi comandado à vontade, após a apresentação ao Comandante, Coronel Falkenburg. Um brilho verde-claro fez com que o à vontade cessasse e a tropa foi novamente colocada em sentido. Com uma Chave de Portal, dois homens se materializaram no palanque. Um deles era alto, cabelos negros e longos, presos em um rabo-de-cavalo, diferente do que se esperaria de um militar alemão, embora trajasse um sobretudo preto com uma braçadeira vermelhana manga esquerda, com o círculo branco e a suástica destrógira e, por baixo, um belo uniforme preto das SS (Schutzstaffel), desenhado por Hugo Boss, inclusive com o quepe elegantemente enviesado e o resplendor com a insígnia Totenkopf.
O outro era mais baixo e também trajava um elegante uniforme com quepe e sobretudo, só que em cor cinza e suas insígnias denotavam uma patente bem mais elevada, embora aquilo nem fosse preciso pois o modo pelo qual o cabelo estava repartido da direita para a esquerda e seu bigode não deixavam dúvidas sobre quem era ele. O flagelo do Século XX, o louco megalomaníaco, cujos delírios levaram o mundo a engajar-se em um sangrento conflito que ainda demoraria mais alguns anos para terminar e havia custado, estava custando e ainda custaria milhões de vidas, grande parte delas de judeus, ciganos e outros julgados inferiores por aqueles que defendiam a supremacia da raça ariana.
_Em nome de Merlin! _ exclamou Harry, em voz baixa _ Adolf Hitler, em pessoa, vindo à Grã-Bretanha!
_Só porque ela está parcialmente ocupada. _ disse Voldemort, olhando para o pátio de formaturas, onde o Coronel Falkenburg apresentava a tropa ao Fuhrer _ Mas repare no outro, não o está reconhecendo? Em nossa realidade ele é loiro, mas aqui ele tem cabelos pretos e é conselheiro de Hitler. Como houve a fusão com o Tom Riddle desta realidade, nossas memórias são compartilhadas. Por isso eu o reconheci.
_Sim, o rosto é mais jovem, mas eu me lembro de tê-lo visto em uma ocasião na qual entrei na sua mente.
_Claro, eu o vi e falei com ele, antes que ele fosse capturado e encarcerado em sua própria fortaleza, onde morreu. Ironicamente, o local onde ele prendia seus inimigos acabou sendo seu túmulo, Nurmengard.
_Então aquele só pode ser...
_... Alguém tão perverso e ardiloso quanto Adolf Hitler. E que, nesta realidade, compartilha com ele o primeiro nome. ADOLF GELLERT GRINDELWALD.
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