Corujas



Capítulo Um: Corujas



James Potter xingou pela segunda vez consecutiva, soltando os pacotes que carregava no chão do quarto sem mobília. Ele olhou em torno, bufando, pensando em quanto trabalho ele teria pela frente.



Uma risadinha atrás dele, fez com que o jovem de 22 anos girar nos calcanhares e encarar a jovem de mesma idade, com longos cabelos ruivos brilhantes e olhos verdes que pareciam iluminar o aposento com a risada.



"Isso não é engraçado, Lily," ele comentou, embora tenha começado a rir também. "Esse quarto não tem sido usado há 22 anos, temos que trocar tudo, papéis de parede, rodapés, tudo."



Lily aproximou-se do marido e abraçou-o pelo pescoço. "James, ouvindo você, ninguém acreditaria que é um bruxo." dizendo isso, ela empunhou a varinha e fez um ligeiro aceno, e todas as teias de aranha que se acumulavam no canto para o qual ela apontava desapareceram instantaneamente.



"E pensar que sou eu a sangue-ruim!" ela falou, rindo.



Imediatamente, James tampou a boca da esposa com uma de suas mãos. "Nunca mais eu quero ouvir você dizer isso!"



Lily fitou-o carinhosamente. "Ser chamada de Sangue-ruim não me afeta mais como o poderia fazer há alguns anos, James."



"Mesmo assim, você não merece isso," ele mirou-a com o cenho franzido. "Você sabe que não há nada demais em ter nascido de uma família de trouxas." continuou, beijando-lhe a testa.



"É claro que sim," ela respondeu calmamente.



"A não ser, é claro, as roupas. Nunca entendi essa escolha estranha de roupas que vocês têm."



Lily afastou-se do marido rapidamente, fingindo uma careta de mágoa. "Como ousa?"



Como resosta, James sacou a varinha com um floreio e murmurou baixinho: Diffindo!



"Oh!" Lily exclamou quando seu suéter preferido rompeu-se verticalmente, deixando sua pele exposta. "James Potter!"



James abriu um largo sorriso, antes de mergulhar as mãos no corpo de esposa e beijá-la, impedindo qualquer recusa.



Um pio insistente interrompeu o interlúdio. Lily desembaraçou-se do marido, que resmungou alguns palavrões bem planejados, e dirigiu-se para a janela. A grande coruja marrom esticou a perna obediente, assim que ela se aproximou, e partiu assim que Lily retirou a carta atada.



*



Peter Pettigrew abriu a porta de supetão, entrando correndo em casa. Ele fechou a porta com força, apoiando o corpo nela. Respirava com dificuldade.



"Peter?" uma voz gentil chamou da sala de visitas.



Pettigrew endireitou-se instantaneamente, concentrando-se em normalizar a respiração, enquanto dirigia-se para o local de onde o chamado viera.



Ele encontrou uma mulher de meia-idade, de rosto redondo como o dele, os cabelos loiros e longos presos num rígido coque, sentada numa cadeira de espaldar alto, próximo à lareira da sala. No seu colo, descansava um trabalho de bordado. Ela sorriu para o filho docemente, acenando para que ele se aproximasse.



"Chegou cedo, querido."



Pettigrew deu de ombros e dirigiu-se até a mãe, alisando os cabelos desalinhados.



O rosto quase sem marcas do tempo de Bridget Pettigrew perdeu um pouco do brilho que mostrava enquanto percebia o nervosismo em que o filho se encontrava. Quando Peter sentou-se na mesinha de centro e inclinou-se para frente, segurando suas mãos, ela apertou-as com força, procurando transmitir coragem ao seu menino.



"O que foi, Peter? Aconteceu algo no Ministério?" ela perguntou calmamente, embora Peter pudesse sentir uma certa inflexão de preocupação.



Ele se agarrou na desculpa que ela lhe fornecia. Não deixava de ser meia-verdade, afinal. Assentiu devagar, suspirando com força. Notou que suas mãos tremiam.



Bridget fitou o filho nos olhos quando sentiu as mãos dele estremecerem e suarem frio. Ele mentia. Ela não precisava ser bruxa para saber disso; na verdade, ela pensava que todas as mães tinham um poder dentro de si que era independente do fato de terem nascido trouxas como ela ou bruxas como outras que ela conhecera. E este rapaz de 20 anos sentado à sua frente - um homem, ela tinha que se corrigir o tempo todo - seu filho, estava mentindo.



"O que houve, Peter?" ela perguntou mais uma vez.



Peter fitou sua mãe nos olhos, surpreso, mas desviou-os assim que viu a dúvida neles. Estampou um sorriso tímido no rosto, antes de lhe responder.



"Recebi folga pelo resto do dia. O Departamento está uma bagunça com a morte de Byron Elphs - a senhora sabe, ele era o chefe do departamento."



Bridget assentiu silenciosamente. Era verdade, no dia anterior Peter comentara com ela que o superior dele no Departamento de Regulamentação e Controle de Criaturas Mágicas no Ministério da Magia havia sido morto por causa do ataque de um lobisomem. Ela devia ter se enganado. Afinal, por que seu Peter mentiria?



Ela deu ao filho um sorriso genuíno, pensando em como ele a lembrava do marido. Peter herdara todos os traços físicos de Kenyon Pettigrew, os cabelos louros, quase brancos, os olhos verdes, sua constituição. A única diferença entre eles era os tamanhos: seu filho herdara a baixa estatura da mãe e sua tendência para engordar.



Brigdet soltou a mão do filho e retornou ao bordado, soltando um suspiro de saudade pelo marido falecido. Ele morrerra um ano e meio depois que Peter se formara e ela sentia que isso afetara seu filho tanto quanto ela o fora. Sentia-se feliz que ele tivesse amigos tão bons no mundo bruxo; Peter falava muito deles na época de escola e até mesmo os trouxera para casa uma vez (a confusão que eles provocaram foi o suficiente para ela secretamente desejar que fosse a última).



No meio de suas divagações, Bridget não pode deixar de notar que o filho apertava com força o braço esquerdo, antes de se adiantar até a janela, onde uma coruja marrom, quase negra, piava insistentemente.



*



O jovem Remus Lupin lia o prefácio de um livro, pelo menos aparentemente. Era difícil concentrar-se na leitura com todas aquelas garotas dando risadinhas, todas prestes a entrar em Hogwarts, frenéticas em suas compras na Floreio & Borrões. Havia os garotos também, alvoroçados e impacientes como ele mesmo nunca estivera há nove anos, quando recebera espantado sua carta com o brasão da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Lupin lembrava-se de estar ansioso e terrivelmente quieto então. Seus pais, ao contrário, estavam eufóricos; provavelmente imaginaram que Remus seria um peso na vida deles para sempre. Não que ele achasse que seria diferente se o diretor não o aceitasse na escola.



Lupin fechou o livro com um estalo, olhando em torno. Não dava para acreditar que Voldemort espalhava seu terror há anos, só de ver as crianças reunidas junto com seus pais, comprando livros para a escola.



É o dom de Hogwarts e Dumbledore, com certeza. pensou, enquanto dirigia-se para a porta da loja. Estreitou os olhos quando o sol brilhante os atingiu com força, dando passagem para duas jovens bruxas de não mais que 18 anos, que lhe lançaram olhares cobiçosos. Lupin não sorriu, nem deu sinal de ter notado. Interiormente, porém, ele sorria amargamente. Não ousava mostrar interesse. Sabia que fugiriam assim que descobrissem o que ele era.



Olhou para o relógio. Atrasado. Como sempre.



Lupin suspirou cansado, ponderando se devia entrar de novo na loja ou simplesmente andar pelo Beco Diagonal, até que ele se dignasse a aparecer. Provavelmente, ele nem se lembra de que marcou comigo aqui, pensou Remus, sem conseguir evitar que um sorriso tolo se estampasse na face. Deve estar ocupado com alguma mulher, ou várias, dependendo do caso.



Lupin começou a rir ante tal pensamento, mas engasgou quando um 'CRAQUE!' se fez ouvir, bem a sua frente. Ele tentou controlar a tosse e quando finalmente conseguiu, viu-se encarando Sirius Black, que tinha um imenso sorriso preso no rosto.



"Aluado!" Black avançou para o amigo, abraçando-o.



"Almofadinhas," Lupin cumprimentou, dando tapinhas nas costas do amigo. "Você está aprontando." ele comentou factualmente.



Black olhou para o amigo com uma careta de ofendido. "Eu? Aluado, você está começando a ficar paranóico!"



As sombrancelhas de Remus ergueram-se ligeiramente, ainda fitando fixo o amigo. Sirius encarou-o de volta, sustentando o olhar. Depois de alguns instantes, contudo, deu de ombros, abrindo novamente um largo sorriso. Passou um braço em torno dos ombros de Lupin, dizendo:



"Vamos, Aluado." e saiu arrastando Lupin na direção do Caldeirão Furado.



"Sirius, o que você está aprontando?"



"Lembra de Agatha Stone?"



Remus estancou, encarando Sirius, que ainda mantinha aquele sorriso tolo no rosto.



"Pensei que você estava namorando com Ellen Cobbs," Lupin começou a rir, logo sendo acompanhado pelo amigo. "Stone... Era de nosso ano, não era? Hufflepuff?"



Sirius meneou a mão distraidamente. "Qualquer coisa assim, eu não lembro." ambos voltaram a rir. "Mas é bom ver que você lembra." os olhos de Sirius o examinaram, com um brilho divertido.



"Por quê?" Lupin questinou com um tom preocupado. Se havia algo que ele detestava, era quando Black ou qualquer um dos outros Marotos inventavam de lhe arranjar mulheres. Até Peter fizera aquilo há quatro meses, e ele conhecera Jaclyn Diggory; era bonita, realmente, com um corpo excelente, o próprio Sirius fora cara-de-pau o bastante para tentar flertar com ela na frente de Remus. Mas ela trabalhava com Peter no Departamente de Regulamentação e Controle de Criaturas Mágicas e devia estar mexendo com a papelada do Registro de Lobisomens. Remus nunca mais a vira.



"Bom, Agatha está agora trabalhando enfeitiçando Pomos Dourados para a Artigos de Qualidade de Glasgow e está passando umas férias na casa dos pais, aqui em Londres. O que você acha?"



Lupin balançou a cabeça em negativa, enquanto os dois entravam no pub. "Não adianta, Sirius, você sabe como isso vai acabar."



"Sr. Black, Sr. Lupin!" uma voz masculina forte gritou do outro lado do bar. Ambos se viraram para encarar o homem.



Tom, o barman do Caldeirão Furado, aproximava-se com uma carta na mão.



"Uma carta, chegou via coruja há vários minutos, endereçada a vocês dois. Quem quer que mandou isso, sabe que os senhores já aprontaram bastante aqui para ter certeza de que eu saberia quem eram." Tom disse, com voz irritada, enquanto entregava a carta a Black.



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Nota: J.K. Rowling menciona em seu site oficial (http://www.jkrowling.com/en) que Sirius Black teria por volta de 22 anos quando foi preso, então como são da mesma faixa etária, foi daí que tirei a idade do Potter dada no início do fic.



Hufflepuff - Lufa Lufa



Próximo Capítulo: Fidelus

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