Prólogo



Prólogo



Albus Dumbledore parou de súbito diante da porta de madeira decrépita, seu robe marrom farfalhando suavemente com a parada repentina de seu usuário. O idoso diretor da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts permitiu-se um suspiro de desagrado, enquanto o rangido da tabuleta acima da sua cabeça lhe chamava a atenção. Ainda o surpreendia, como o fazia sempre que ele passeava por estas bandas de Hogsmead, a desagradável escolha do símbolo para o pub. Como que em resposta a este pensamento, uma brisa gélida soprou, forçando o letreiro grotesco do Cabeça de Javali a balançar ao sabor do vento.

Com outro suspiro cansado, Dumbledore alcançou a maçaneta e girou-a, entrando no ambiente suspeito e sujo do Cabeça de Javali. Nenhuma cabeça voltou-se para encarar o recém-chegado; os clientes do pub eram conhecidos por não se incomodarem com os negócios dos outros, desde que não houvesse interferência em seus próprios assuntos.

Dumbledore aproximou-se silenciosamente do balcão, onde um bruxo sujo e corcunda limpava desleixadamente alguns copos, que pareciam ficar mais sujos do que antes. Sua cabeça ergueu-se quase imperceptivelmente, e olhos azuis foscos fitaram o recém-chegado por alguns momentos, antes de deixar o pano imundo de lado e sumir debaixo do balcão.

Dois segundos depois, ele ressurgiu, pondo uma garrafa de vinho Néctar Bruxo e dois cálices numa bandeja de prata desbotada.

"Aberforth," Dumbledore disse num murmúrio. O bruxo corcunda fitou o diretor em silêncio. "Creio que há uma hóspede sua com a qual eu deveria me encontrar."

Ainda em silêncio, Aberforth simplesmente apontou a escada de madeira num canto próximo à grande lareira, que parecia prestes a desabar caso algum peso fosse posto sobre ela.

Dumbledore assentiu com a cabeça, alisando sua longa barba prateada e encaminhando-se calmamente para o andar superior. Atrás dele, o barman o seguia, bandeja em mãos.

No corredor mal iluminado do segundo andar, Aberforth tomou a dianteira, com uma agilidade espantosa para alguém com sua constituição. Ao chegar na porta com uma plaqueta de bronze com o número 9, o barman equilibrou a bandeja com a mão esquerda e bateu suavemente na porta.

"Sim?" uma voz etérea soou no interior do quarto.

"Um visitante, senhorita." a voz de Aberforth soou rouca, como se quase não a usasse. Ele lançou um olhar rápido para Dumbledore, que estava parado a seu lado, esperando calmamente com as mãos às costas.

Passaram-se alguns minutos antes que a porta fosse aberta. Aberforth entrou lentamente, seguido pelo diretor. O quarto estava mal iluminado como o corredor, mas ao contrário deste, a causa era totalmente da sua ocupante: ela havia fechado as cortinas empoeiradas e acendido diversos incensos, tornando o ambiente abafado e sufocante. Dumbledore olhava em torno com sombrancelhas erguidas.

"Diretor," a voz etérea fez-se ouvir novamente. "Estou imensamente feliz em ver que o senhor cedeu às tramas do destino e decidiu vir me ver."

Dumbledore aproximou-se da mesa calmo e devagar, com as sombrancelhas erguidas. Aberforth apressou-se em dispor os cálices e a garrafa de vinho, e depois de lançar um olhar significativo para o diretor, desaparecer pela porta, que fechou-se às suas costas.

"Como vidente, Srta. Trelawney, é claro que previu que eu viria." Dumbledore comentou com um tom ligeiramente enfastiado, enquanto sentava-se.

"Sim, sim, é óbvio." a voz de Trelawney respondeu rapidamente, mas Dumbledore notou uma nota trêmula na resposta.

Dumbledore suspirou lentamente, antes de dar uma pancadinha de leve na garrafa de vinho com a varinha, e esta começar a servir a ambos sozinha.

"Eu devo avisar, Srta. Trelawney, que estive pensando seriamente em fechar a cadeira de Adivinhação em Hogwarts,"

Antes que ele pudesse continuar, Trelawney interrompeu usando sua voz etérea, "Não creio que um bruxo com uma visão tão ampla e aberta para o futuro como o senhor, seria capaz de cometer um erro tão absurdo. E o que será das pobres crianças, sem a chance de aprender a ver além do mundano?"

Dumbledore não conseguiu reprimir uma risadinha. "Não temos um Vidente verdadeiro na Grã-Bretanha neste século. Parece-me estupidez ocupar o quadro de aulas com-"





"Mas é claro que há Videntes verdadeiros!" Trelawney interrompeu novamente, mas sua voz havia perdido o tom etéreo e assumido um tom ligeiramente histérico. "Devo lembrá-lo, diretor, minha tataravó era Cassandra Trelawney? Creio que mencionei isso em minha carta?"



Dumbledore inclinou-se para frente, apoiando os cotovelos na mesa e o queixo sobre as mãos, enquanto examinava a candidata por sobre seus óculos de meia-lua. Os olhos azuis brilhantes de Dumbledore encararam os castanhos profundos de Sybill Trelawney. Durou apenas alguns segundos.



"Sinto muito, Srta. Trelawney," Dumbledore disse, levantando-se calmamente. "Como mencionei antes, pretendo fechar a cadeira de Adivinhação; não creio que haja um Vidente forte o bastante para ocupar o cargo e creio que - mesmo a senhorita concordará comigo - os caminhos que levam para adivinhação são um pouco... difusos."



Dizendo isto, o diretor voltou-se para a porta, deixando para trás uma Trelawney boquiaberta.



Mas Dumbledore nunca chegaria à porta. Pelo menos não até que vários minutos se passassem. No meio do caminho, o diretor voltou-se ao ouvir o som de uma cadeira sendo derrubada com força.



Sybill Trelawney estava de pé, trêmula, o xale transparente que ela estivera usando sobre a cabeça caído sobre os braços, os óculos de lente grossa tortos, fazendo com que um de seus olhos parecesse maior que o outro. O diretor começou a querer comentar alguma coisa, mas a mulher abriu a boca e sua voz não saiu etérea. Era rouca e profunda, distante.



"Aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas se aproxima... nascido daqueles que o desafiaram três vezes, nascido ao fim do sétimo mês... e o Lorde das Trevas o marcará como seu igual, mas ele terá um poder que o Lorde das Trevas desconhece... e um dos dois deverá morrer na mão do outro, pois um não poderá viver enquanto o outro sobreviver... Aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas se aproxima... nascido daqueles que o desafiaram três vezes, nascido ao fim do sétimo mês..."



Os olhos arregalados de Dumbledore não perderam a bruxa de vista nem por um instante, observando-a com a boca entreaberta, com um comentário que nunca veio à tona. Um barulho de uma pancada seca e duas vozes discutindo chamou a atenção do velho bruxo, ao mesmo tempo que Trelawney balançava a cabeça e começava a piscar os olhos.



Dumbledore alcançou a porta do quarto 9 em segundos, a tempo de ver Aberforth numa batalha confusa com um bruxo baixo e de aparência imunda, os longos cabelos castanhos desalinhados. Ambos cessaram as animosidades ao perceberem a presença dele.



"Aberforth?" inquiriu Dumbledore.



"Vim ver se gostariam de pedir algo para comer. Cheguei a tempo de ver esse verme tentando ver através do buraco da fechadura." Aberforth cuspiu as palavras, no seu jeito rude e rouco. Mentalmente, Dumbledore raciocinava que deveria ser a primeira vez em anos que ouvia Aberforth dizer tantas palavras numa única frase. Externamente, porém, ele voltou-se para o bruxo, que emanava um forte cheiro de tabaco.



"Ora, ora. Mundungus Fletcher!" Dumbledore exclamou com um tom de divertimento na voz que ele realmente não sentia. "Não tenho visto você perto de Hogwarts desde que se formou, há... 8 anos, não?"



Fletcher assentiu rápida e afirmativamente com a cabeça, sem dizer palavra e mirando o diretor com atenção. Dumbledore, porém, lançou um olhar significativo para o barman. Aberforth assentiu, parecendo ter compreendido uma ordem silenciosa. Antes que Fletcher pudesse reagir, Aberforth agarrou o bruxo pelo colarinho surrado dos robes e saiu arrastando-o.



Dumbledore permaneceu no corredor em silêncio, ouvindo a respiração pesada de Sybill Trelawney no interior do quarto e a algazarra que Fletcher fazia enquanto era expulso do Cabeça de Javali. Com um segundo pensamento, ele entrou novamente nos aposentos da Vidente.



Trelawney voltara a sentar-se e estava bebendo sofregamente o vinho. Suas bochechas murchas já estavam avermelhadas. Ao ver Dumbledore, contudo, ela largou a taça e levantou-se de supetão novamente, esticando um braço na direção do diretor, enquanto a outra mão apertava-se sobre seu próprio coração.



"Eu vi! Eu vi!" ela começou, novamente soando etérea, mas sem esconder um tom de histeria na voz. "Ah, diretor! Eu vejo uma sombra no seu futuro! Talvez não seja sábio eu dizer assim, poderá assustá-lo, mas é meu dever, é meu fardo por ser capaz de ver o que olhos mundanos não vêem!"



Dumbledore simplesmente fitou-a com um brilho de diversão nos olhos azuis-claro.



"Talvez a senhorita possa me contar em detalhes no caminho para Hogwarts," ele disse, sorrindo suavemente. "Professora Trelawney."



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Nota: este fic é um Universo Alternativo. Isso quer dizer nem todos os acontecimentos ao longo da série de Harry Potter ocorrerão. Um Mundo de Diferenças é a história de Harry Potter seria (na minha visão, é lógico) se certos incidentes houvessem ocorrido de modo diferente.



Resolvi deixar os nomes no original em inglês, porque *nomes* não devem ser traduzidos. Mas deve ficar óbvio para vocês quem é quem, independente do primeiro nome estar um pouco diferente. Por exemplo, neste prólogo, Albus é Alvo, Mundungus é Mundungo e Sybill é Sibila.



Próximo capítulo: Corujas

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