Detenção Noturna
Embora Remo tivesse perdoado Sheeba, Sirius não tinha a mesma disposição do amigo. Mas aos poucos a raiva foi dando lugar a um sarcasmo irritante, pior o que o do início de sua vida em Hogwarts. O semestre voou, e naquele ano eles ficaram sozinhos com Severo Snape em Hogwarts no Natal. O padrinho de Atlantis viera pegá-lo de surpresa. Sheeba chegou ao grande salão para jantar na véspera de Natal e entre sentar ao lado de Snape e de Sirius, preferiu a companhia de Snape. Pelo menos o garoto ficava quieto.
Snape era um dos primeiros alunos em Hogwarts, e sem sombra de dúvida, um dos mais impopulares. Havia muito poucos alunos de todas as séries e o diretor fez com que se sentassem todos numa única mesa. Sem saber como, Sheeba repentinamente viu Sirius sentar-se na sua frente, os olhos furiosos e sarcásticos ao mesmo tempo. Sem titubear, ela virou-se para Snape, via de regra acostumado a não conversar com ninguém fora de seu círculo de relações, que até surpreendeu-se com a simpatia da menina.
Ele não sorriu ou brincou, mas ela achou sua conversa mais agradável que as habituais implicâncias do garoto da Grifnória. Estavam conversando sobre a escola quando Sheeba desatou a falar sobre sua família e seus seis irmãos, contando histórias engraçadas para o rapazote, que até sorriu ligeiramente. Quando ela deu oportunidade a ele de falar, descobriu que ele era órfão de pai e mãe e criado por uma avó, que não passava os Natais com ela porque normalmente ela estava por demais ocupada trabalhando na Casa do Bruxo Carente, uma instituição de apoio a bruxos que haviam perdido tudo. Sirius escutou tudo calado e aborrecido. E não se meteu na conversa porque se recusava a falar com o garoto da Sonserina.
Sheeba se dirigia muito satisfeita para seu dormitório, afinal tinha dado uma rasteira naquele garoto irritante, que perdera a oportunidade de trocar ofensas com ela... foi nessa hora que ela viu que ele estava parado na sombra de uma armadura, olhando para ela:
- Fugiu de mim, Pitonisa?
- Não, seu arrogante... apenas havia companhia melhor na mesa.
- Companhia melhor? Aquela cobra azeda de nariz de gancho? Você chama aquilo de companhia?
- Ele é educado, pelo menos... você é tão insuportável que nem sua família quer assunto com você. Passa o Natal sozinho podendo estar em casa com os pais... ela adiantou-se e ele a pegou por trás, virando-a com raiva:
- Nunca mais fale isso. Sou eu que não gosto dos Natais, está bem? Sou eu... minha família implora para eu ir para casa está bem? Você não ia gostar de ir para casa no Natal se seu pai passasse todo feriado chorando lembrando de um irmão que morreu quando ele era mais novo – eles se encararam com raiva e ele largou o braço dela, dando a volta mau humorado, na direção do saguão. Sheeba deu de ombros e foi dormir.
No dia seguinte ela encontrou Snape esperando por ela na hora do almoço, era dia de Natal e ela tinha ganho seus presentes. Foi quando sentiu a falta de Sirius, mas não quis perguntar por ele. Sorriu e preferiu conversar com Severo Snape.
Sirius tinha recebido uma permissão especial para almoçar em Hogsmeade com o irmão, que chegara a Hogwarts naquela manhã. Caius Black estava com vinte anos, era um rapaz alto e bonito, e parecia preocupado com Sirius. Ele tinha um carinho todo especial pelo irmão, preocupava-se com ele... com o que poderia acontecer com ele.
- Feliz Natal, Sirius – Ele estendeu um pacote que Sirius olhou desconfiado.
- Eu não comprei presente para você – Caius sorriu.
- Eu não comprei esse presente para você... é uma jóia de família. – Sirius abriu o pacote que continha um anel masculino de prata, com uma pedra vermelha no cento, dentro da qual parecia se mover um líquido.
- Esse anel não é seu?
- Eu não preciso dele... acho que você precisa mais dele que eu. Enfie-o no dedo.
- Vai ficar largo.
- Não vai, experimente. – Sirius pôs o anel no dedo, e este se contraiu ajustando-se perfeitamente ao anular direito do menino
- É mágico?
- Mais ou menos. Ele vai te proteger.
- De quê?
- Isso não é importante. É para você lembrar de seu irmão... eu vou para Nova Iorque... de vez.
- Como assim, de vez?
- Vou ficar no lugar dos nossos tios... eles abandonaram as coisas por lá
- Como é que é?
- Sirius... deixe isso para lá, está bem? Vamos pedir nosso almoço, que tal?
- Tudo bem, você paga. – Caius sorriu, perguntando-se quando veria o irmão novamente.
Sheeba ficou numa janela olhando para o campo nevado à tarde, e viu quando o irmão trouxe Sirius de volta em um coche, despedindo-se dele. Escondeu-se para que o garoto não a visse conforme ele vinha andando pelo jardim coberto de neve.
O semestre seguiu normalmente e a primavera chegou animadamente, foi naquele ano que Sheeba inscreveu-se para se candidatar a ser animago registrado, para satisfação da Professora McGonnagal, que só não aprovou a insistência da menina em querer ser um tigre branco... para que serviria transformar-se em um tigre branco?
Tão logo a neve desapareceu, foi marcada uma visita para Hogsmeade, e quase todos os alunos do terceiro ano em diante encheram a cidade, com seus risos e conversas. Sheeba estava com Lilian no três vassouras, as duas garotas conversavam sobre banalidades, quando Henry Valmont entrou e Lilian deu um comprido olhar para ele. Sheeba disse:
- Ah, o que você viu nele, Lilian?
- O que você viu em Remo?
- Shhh! Fique quieta! – Os quatro marotos ocupavam uma mesa ali perto. Tiago de vez em quando olhava para Lilian, até que se animou a chamar as duas garotas para sentar-se com eles. Elas foram e Sheeba antes de sentar-se ao lado de Pedro deu um olhar bem feio para Sirius, que devolveu em igual intensidade. Para provocar, ela sorriu para Severo Snape e deu um pequeno aceno. Os colegas deste o olharam como se ele fosse um inseto e ele devolveu o aceno muito sério.
- Você é amiga do Snape? – perguntou Pedro incrédulo, ele não tinha nenhuma boa vontade com Sheeba
- Ele era a única pessoa para se conversar por aqui no Natal... o que vocês estavam conversando? – Remo apontou uma garrafa de cerveja amanteigada no centro da mesa:
- Estamos disputando esta garrafa... o mais infeliz leva... os conceitos são: quem é mais pobre, tem os piores pais e é mais feio.
- Bem, adiantou-se Sirius... eu tenho pais horríveis, mas sou bonito e rico... Tiago é horroroso – o garoto fez uma cara sarcástica para ele – mas tem pais legais e também é rico... Pedro é...
- Se forem esses os conceitos, então Lilian está fora – disse Sheeba – ela é bonita, tem pais legais e não é exatamente pobre – Lilian corou e Remo riu olhando para a garota. Tiago ficou olhando da garota para o amigo.
- Quer deixar eu falar? – Perguntou Sirius – Pedro também é horrível e pobre... mas acho que Remo consegue ser mais horrível e mais pobre que ele, eu sei que eles dois têm pais legais – apenas Tiago e Remo puderam sentir a nota de amargura na voz do menino - ... então a cerveja é de Remo.
- Remo não é horrível. Eu acho ele bonito. – Sheeba disse sem pensar. A mesa inteira olhou para ela, que corou intensamente. Sirius disse, de cara feia:
- Sua opinião não conta... acho que você acha até o cara de gancho do Snape bonito...
- Você é que é horrível. E devia tomar a cerveja, alguém tão insuportável deve ser muito infeliz – Sheeba levantou-se furiosa e saiu do bar. Remo balançava a cabeça apoiada na mão e disse para o amigo:
- Vê o que você arruma? – levantou-se e saiu atrás da garota.
- Acho que temos um romance – brincou Lilian, apontando Remo.
- Duvido – respondeu Sirius entredentes.
Remo alcançou Sheeba na praça central. Olhou para a garota de frente e disse:
- Sheeba... – ele coçou a cabeça – você não leva a sério essa coisa de bonito e feio, não é mesmo? Quer dizer... eu não me importo... acho que devo ser mesmo horroroso.
- Não... você não é...
- Lilian acha?
- Lilian? – Sheeba subitamente entendeu tudo. – Claro... você gosta dela...
- Não sou só eu... mas isso não vem ao caso. Ninguém vai namorar com treze anos. É muito cedo...
- É, é muito cedo. – Sheeba olhou para o garoto e despediu-se. Estar em Hogsmeade repentinamente perdera a graça.
- Mas se você quer minha opinião – disse ele fazendo-a voltar-se – você também é muito bonita... – ele aproximou-se – e tenho certeza que o Sirius pensa igualzinho mim.
- Pouco me importa o que aquele idiota pensa – Sheeba disse, virando-se bruscamente e sentindo algo revolvendo-se intensamente dento de si.
Esta confusão estava bem longe de terminar. No dia seguinte a Grifnória e a Corvinal tinham aula de feitiços juntas, e Sheeba viu quando Sirius sentou-se bem atrás dela só para implicar, segurou-se a aula toda, tentando não deixar seu lado explosivo aflorar. Mas nem bem saíram da sala de aula e Sirius lançou-lhe um feitiço por trás fazendo seus cabelos se arrepiarem, ela já voltou-se gritando:
- SEU PALHAÇO ARROGANTE! O QUE VOCÊ PENSA QUE É, HEIN?
- SERÁ QUE REMO VAI QUERER NAMORAR UMA GAROTA DE CABELO ARREPIADO??? VEJAM A PITONISA SABE TUDO CABELO EM PÉ!!!!
- EU ODEIO VOCÊ! TOMARA QUE VOCÊ MORRA... TOMARA QUE UM MONSTRO TE MATE, SEU NOJENTO! EU QUERO QUE VOCÊ SUMA!
- Muito bem – uma voz muito calma falou para ambos, e abaixando os olhos eles viram o pequeno professor Flitchwick entre eles, com um olhar bem severo – Não vou querer saber quem começou... detenção para ambos. E menos dez pontos para cada casa.
- Viu o que você fez?
- A culpa é sua.
- Menos quinze de cada casa... é mais apropriado. – Sheeba e Sirius se calaram.
Duas noites depois, o zelador Filch os levou para sua tarefa... limpar os prêmios da sala de troféus... sem magia, usando polidor universal, um líquido cor de café com leite e com um desagradável cheiro de química forte. Sheeba recebeu autorização para tirar as luvas e começou logo a polir os troféus e medalhas quieta, muito concentrada no que fazia, sem olhar para Sirius, que do outro lado do Salão, polia outro troféu. Sentado numa cadeira, Filch vigiava ambos, pensando no que faria para castigá-los caso eles fizessem alguma besteira. Foi de repente que Pirraça apareceu e dando um piparote na cabeça do zelador, arrastou consigo uma imensa taça de Quadribol, que Filch perseguiu, gritando:
- Pirraça, devolva, seu cretino de uma figa! – saiu deixando os dois garotos sozinhos. Sheeba e Sirius sequer se olharam, e ela pegou um prêmio especial para polir.
Suas mãos frias tocaram o metal e ela sentiu um choque percorrer seu corpo. O rosto de um rapaz bem jovem rindo de zombaria do troféu passou na sua frente. Ela pôde ouvi-lo dizer: “Enganei a todos e ainda recebi um prêmio por isso... Tom Servolo Riddle... nome estúpido... meu nome é Lord Voldemort!” Uma gargalhada gelada fez com que Sheeba caísse, perdendo os sentidos, deixando o troféu rolar para o lado. Sirius ergueu-se de um salto e veio até ela. Olhou hesitante a garota por alguns segundos... e se ela tivesse morrido?
Tomou rapidamente uma decisão. Reclinou-se sobre o ela e encostou o ouvido em seu peito para ouvir-lhe o coração. O coração da garota batia num ritmo normal... ela estava viva, e bem viva, ele escutava-lhe a respiração ritmada, ela estava apenas desmaiada. Ele sentiu algo estranho... não sentia vontade de levantar-se. Nunca tinha estado tão perto de uma garota, era bom sentir o tecido macio da roupa dela, o calor do peito dela de encontro ao seu rosto... deixou-se ficar assim sem entender porque.
Sheeba voltou a si como se estivesse saindo da escuridão. Havia um estranho peso sobre seu peito... ela estendeu a mão para tirá-lo dali, e esta bateu em alguma coisa, parecia uma cabeça, com cabelos. Ela teve uma visão... os quatro marotos, e eles estavam num lugar estranho, falando sobre transformação... eles queriam ser animagos! Subitamente teve consciência do que tocara e abriu os olhos, levantando a cabeça:
- O que está fazendo, idiota? – Sirius ergueu o rosto, os olhos arregalados encontraram os dela, ele ficou sem ação e sentou-se, mudo, tentando achar uma resposta. Ela sentou-se também, ainda com uma expressão de estranhamento no rosto. Os dois se encararam e ele balbuciou:
- Eu... eu achei que você tinha morrido... você pegou aquela coisa e caiu. – Ele a encarou. Parecia que era a primeira vez na vida que a via. Foi a primeira vez que percebeu que afinal gostava de olhar para o rosto dela. Ela começou a falar.
- Esse troféu foi uma farsa, quem o ganhou não o mereceu, seja lá o que tenha feito.
- E quem o ganhou? – ela ficou mais séria e o encarou serenamente.
- Lord Voldemort, Sirius. – ele sentiu algo de bom ao ouvi-la dizer seu nome. Era a primeira vez que não o chamava nem de idiota nem de filhote de Trasgo... eles ficaram sentados no chão em silêncio, ela evitava olhar para ele. Foi quando Filch chegou e tudo voltou ao normal. Três horas depois, eles haviam acabado finalmente e foram andando pelo corredor silenciosos, mas lado a lado. Filch já desaparecera atrás de um barulho no terceiro andar. Chegaram a um ponto onde ela desceria e ele subiria. Ele tomou coragem e disse:
- Acho que estamos ficando meio grandes para brigar.
- É – ela respondeu lacônica.
- Vamos dar uma trégua?
- Por mim tudo bem.
- E-eu vi o que te acontece... quando você tem um pressentimento. Não deve ser bom.
- Realmente, não é. – ela olhou para ele. Ficaram num silêncio constrangido por uns segundos e ele disse:
- Então... boa noite.
- Boa noite – ela sorriu, e começou a descer as escadas aceleradamente. Ele hesitou um segundo e subiu, sem entender porque sentira vontade de descer atrás dela.
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