Gelo de Confusão
No último fim de semana antes de voltarem a Hogwarts, os pais de Lilian levaram a menina e Sheeba a um parque de diversões. Petúnia não quis ir e ficou em casa vendo TV, que era uma das coisas que mais gostava de fazer. Sheeba e Lilian iam de risinhos procurando os brinquedos mais emocionantes e de preferência que parecessem perigosos. O que afastava os pais de Lilian que preferiam ficar de longe apenas olhando. Depois da décima volta da montanha russa, quando Sheeba já estava até um pouco enjoada, elas foram atrás de uma barraca de cachorros quentes, estavam famintas.
Foi quando passaram pela frente de uma barraca com um toldo cheio de estrelas e luas onde estava escrito: Cigana Zara. Sabe tudo sobre presente, passado e futuro... seu destino na sua mão. Sheeba mostrou a placa e disse a Lilian:
- Charlatã... até parece que alguém pode ver isso tudo... nem eu posso. – nessa hora uma mulher velha e feia apareceu na porta da barraca, encarando Sheeba, que nunca tinha visto ninguém tão encaquilhada em toda sua vida. A velha encarou-a e disse:
- Eu sabia que você viria – sorriu mostrando uns dentes amarelados – me dê dois sicles e eu posso ler seu futuro, garota... – Sheeba sentiu-se intimamente desafiada pela velha... afinal ela era a pitonisa, tinha certeza que a velha era uma fraude. Nem percebeu que a velha pedira o pagamento em dinheiro bruxo, e olhando para Lilian que a encarava com medo nos olhos disse:
- Tudo bem... eu topo. – Entrou na barraca e viu que Lilian ficava do lado de fora perplexa, então disse – Não se preocupe... eu não vou demorar.
A barraca por dentro parecia maior que por fora e só assim Sheeba percebeu que se tratava de uma bruxa de verdade... a velha sentou-se atrás de uma mesa com diversos apetrechos de ver o futuro, que habilmente pôs de lado.
- Não vou precisar de nada disso... eu sei que você sabe das coisas. Está escrito em seu rosto – a velha riu, mostrando os cacos de dentes amarelados que tinha na boca – eu já fui como você, jovem e altiva... espero que você nunca se torne como eu – disse ficando séria. – Tire suas luvas, garota...
Sheeba tirou as luvas e olhou o rosto da velha, que parecia ter mudado. Ela lembrou-se que provavelmente iria ver o futuro da mulher assim que ela a tocasse, mas ficou quieta. Estendeu a mão esquerda, com a palma voltada para o alto, um ar de desafio no rosto. A mulher olhou-a rindo e estendeu as mãos, virando a de Sheeba. Quando fez isso os olhos de Sheeba se arregalaram. Sobre uma das mãos ela tinha uma marca em forma de foice, quase sumida entre inúmeras manchas senis. Ela ia abrir a boca para dizer alguma coisa, quando percebeu que quase nada podia ver sobre a velha... apenas algo do passado. Esta mulher sofrera muito.
- Surpresa, Sheeba Amapoulos? – a velha começou – eu imaginei que fosse morrer sem encontar outra como eu... quando o chapéu seletor disse que há cem anos não via uma como você, você acreditou que a anterior estava morta, não é mesmo? Mas eu estou aqui...vejo que você vai ter uma vida melhor que a minha, mas isso não é difícil. – ela disse com amargura – você vai perder muitos amigos, todos de uma vez... vai se sentir perdida. Muitos anos te separam da felicidade no amor... eu te vejo esperando-o por longos anos, o único homem que você já ama sem saber... há uma criança em seu destino. Uma criança única e especial que vai ser a esperança do mundo da magia... este menino está no seu destino, você vai olhar por ele à distância, depois que os pais dele forem arrancados deste mundo por um bruxo que não pode ser nomeado... mas nada será em vão, Sheeba, nada. – Ela sorriu – por muito tempo você será a única com o poder de ver tudo... mas isso não será muito para quem vai estar escondida. Seus nobres sentimentos te levarão sempre a fazer o bem. E ganhar com isso. Você tem mais sorte que eu tive – ela disse, largando a mão de Sheeba – são dois sicles.
Sheeba ficou olhando a velha sem entender nada do que ela dissera. E entendendo menos ainda porque afinal ela não vira quase nada sobre a velha. Ainda muda, depositou os dois sicles sobre um prato vazio na mesa da velha, que disse ainda:
- Você ainda não está preparada para mostrar seu dom para todos... esconda-o enquanto puder, Sheeba. E aprenda a fazer um destes, se quiser que o futuro não te surpreenda – ela pegou algo sob a mesa e estendeu para Sheeba. Era uma pedra que parecia gelo, que soltava uma espécie de vapor suave – isso é um gelo de confusão... ele atrapalha os toques premonitórios. Por isso você não sabe nada ou quase nada sobre mim. Tenha uma boa vida. – ela disse guardando o gelo.
Sheeba sentiu-se impelida a sair da barraca, ainda lembrava das palavras da velha, principalmente das que diziam que ela perderia muitos amigos de uma vez. Lilian perguntou o que a velha dissera, e depois de hesitar por um instante, Sheeba disse:
- Nada que eu entendesse... uma charlatã. – Foi andando na frente de Lilian enquanto calçava as luvas. Nunca mais tocaria no assunto com Lilian, nem com ninguém... exceto com o professor Dumbledore e a professora Viviane.
Ela tentava não pensar nas palavras da bruxa, mas uma coisa não lhe saía da cabeça... como ela esconderia seu dom? Estava estampado para o bruxo que quisesse ver, bem no centro de sua testa, na forma de uma foice. Aquela noite, na casa de Lilian ela estava penteando o cabelo quando disse:
- Vou cortar o cabelo.
- O que, Sheeba?
- Vou cortar o cabelo amanhã... você sabe onde eu posso cortar meu cabelo?
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Enquanto isso, os marotos, na casa de Thiago, conversavam sobre Quadribol. Sirius tentava esconder que estava extremamente frustrado... Tiago fora admitido como apanhador reserva no ano anterior, e no meio da temporada entrara no time principal, levando a Grifnória a uma vitória arrasadora sobre a Sonserina que dera o campeonato de quadribol para a Grifnória e ajudara a levar a taça das casas... o time precisara também de um batedor, mas Sirius fôra impedido de fazer os testes por causa do mau comportamento.
- Isso é uma injustiça. Eu não recebi nenhuma nota baixa...
- Mas teve vinte cinco advertências e dezoito detenções noturnas em um ano, Sirius – Remo dizia com ar de censura...
- Tiago também teve detenções...
- Duas – disse Tiago – e uma delas porque eu estava contigo! A outra você sabe muito bem que foi por causa do idiota do Malfoy, como aquela velha que é chefe da Sonserina protege aquele idiotinha, você já viu, né?
- Sirius, remo tem razão... você é o campeão de detenções, se não fosse você teríamos uma vantagem de uns duzentos pontos sobre a Sonserina...
- Os pontos que eu e Lilian ganhamos ele perde – disse Remo, bastante insatisfeito.
- “Os pontos que eu e Lilian ganhamos ele perde”... grande coisa – Sirius fez uma careta. – Tiago também ganha pontos para a casa e você não fala nele – ele fez uma cara maldosa.
- Porque ele é um cara, não vou ficar enchendo a bola dele – os outros deram uns tapas sobre a cabeça de Remo, que protestou.
- É – disse Sirius – Você não é o único do fã clube de Lilian Evans... acho que vocês três vão ter que fazer um duelo entre si.
- Ah, sem essa Sirius, vai me dizer que você não acha Lilian linda? – Pedro olhava para ele com ar de incredulidade.
- É, é... ela é a garota mais bonita da Grifnória... mas é muito boazinha. Um cara como eu quer mais- os outros três caíram na gargalhada e foi a vez de Sirius levar tapas na cabeça.
- Sem essa, você fala como se fosse um cara de 18, 19 anos... Ela é muito boazinha... – disse Tiago – que tipo de garota você está procurando, garanhão Black?
- Vocês já viram as gêmeas da Sonserina?
- As Moore? – Pedro disse incrédulo – aquelas veelas que têm um exército de caras atrás delas? Você já se olhou no espelho? Elas são um ano mais velhas que a gente.
- A minha vantagem sobre você, nanico, é que eu sou maior, mais forte e mais bonito. Eu não quero namorar uma garotinha. Para eu gostar de uma garota ela tem que ser mais...
- Idiota – disse Tiago, levando um safanão de Sirius. Remo olhava Sirius com uma cara engraçada.
- Pois eu acho que o Sirius gosta de alguém...
- Quem – perguntaram os outros dois.
- Para mim ele gosta daquela garota da Corvinal... a pitonisa.
- O QUÊ? - Sirius deu um salto indignado – Você está maluco, Remo... eu nunca ia namorar aquela tampinha... ela... ela é insuportável.
- Ela gosta de Remo, eu já notei como ela olha pra ele – disse Tiago conclusivamente – você não precisa ficar preocupado.
- Ah, você deve estar brincando – Sirius respondeu mantendo o tom indgnado – aquela insuportável... ela não gosta de ninguém... e ninguém gosta dela – Sirius levantou-se e os três se entreolharam. Remo balançou a cabeça em assentimento e disse, carregando o travesseiro para sua cama.
- Não precisamos nos preocupar com isso agora... temos treze anos. Somos o tipo de cara que não namora ninguém...
- Mas que eu queria dar um beijo em Lilian, queria – disse Tiago quase para si mesmo, levando uma saraivada de travesseiradas.
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Dias depois, a estação de King’s Cross fervilhava de gente, todos os alunos de Hogwarts passavam pela barreira, conversavam, despediam-se de parentes... Quatro garotos de treze anos estavam costumeiramente aprontando suas marotices quando viram Lilian chegar acompanhada de uma menina. Era uma garota de quase um metro e sessenta, de cabelos cortados pouco abaixo da orelha, com uma espessa franja a cobrir-lhe a testa. O primeiro que a reconheceu arregalou os olhos, e foi Sirius Black.
- Aquela não é a Pitonisa?
Sheeba e Lilian davam risinhos... tinha funcionado. Lilian tinha ajudado Sheeba nos quinze dias em que haviam ficado na casa dela a preparar uma poção que haviam visto num livro em Hogwarts, a poção para crescer dez centímetros... que infelizmente só podia ser tomada uma vez na vida. Se alguém em Hogwarts descobrisse, elas estavam perdidas, mas valera a pena. Lilian, que já era bem alta não quisera tomar a poção, mas Sheeba estava adorando o fato de ter crescido dez centímetros. Agora, pelos seus cálculos, chegaria a 1,65 quando tivesse quinze anos... não seria mais uma baixinha. Elas passaram pelos marotos e ela disse:
- Oi Remo! – entrando no vagão ao lado de Lilian, toda empertigada.
- Eu não disse – sussurou Tiago para Sirius, que entortou a cara e respondeu:
- Grande coisa... eu sairia correndo se ela me dissesse oi...
Tiago não disse nada... mas achou que não era bem essa a verdade.
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