SOBRE PRESENTE, PASSADO, FUTUR



Harry chutou uma pedrinha, enquanto caminhava alinhado a Sirius, John e Steve. Caius e Lyra haviam desaparecido há alguns minutos, desfazendo-se em névoa e entrando pelo subterrâneo.Não podia acreditar que finalmente aquela história com vampiros tinha acabado. Olhou a cicatriz no pulso de Sirius:
‒ Foi por pouco, hein?
‒ Mais dois ou três minutos ‒ disse Sirius girando o pulso reconstituído ‒ e eu ia ter que me acostumar a ser canhoto a força... E se vocês não tivessem chegado naquele momento... - ele tremeu ligeiramente e calou-se.
‒ Nunca pensei que fosse precisar usar esse feitiço.
‒ Olho-Tonto Moody também não... ele hoje não usaria perna de pau se tivesse treinado isso melhor, pelo que sei ‒ ele riu e Harry o acompanhou.
‒ Sirius... porque? Porque deixar o sossego de Hogwarts... porque assumir essa missão?
‒ Porque eu tinha diferenças pessoais com o assunto... porque não ia deixar o panaca do Sandman cuidar de um caso... E não pense você que Sheeba não me advertiu. Ela encheu meu saco para que eu me cuidasse.
‒ Quem é o Sandman?
‒ Se você tem miolos, vai acabar descobrindo. Não me pergunte mais sobre isso e vamos falar de outra coisa...
‒ Ok, ok... Lyra parece legal...
‒ Seria ótimo se ela e Caius se entendessem, não acha? Ela é bem mais centrada que ele.
‒ Eu sei bastante sobre ela ‒ interrompeu John ‒ Eu a conheci antes, ela andou perturbando muito a irmandade quando fazia pesquisa sobre vampiros... era uma espécie de maluca que tenta a todo custo provar um ponto de vista... naquele tempo, eram os vampiros, agora, esta história de cura...
‒ Gosto por causas perdidas ‒ disse Steve ‒ nunca ela provaria para o mundo que vampiros existem, nós mesmos não tentamos fazer isso... seria abrir uma porta muito perigosa... da mesma forma ela agora quer deixar de ser vampira... isso é impossível.
‒ Pelo que eu sei ‒ disse Sirius ‒ nós fazemos muitas coisas que vocês, os trouxas, acham impossíveis,  não deve dizer que a garota jamais vai achar a cura... quando ela apareceu no meu hotel com aquela roupa esquisita, além de imaginar como ela passou por todos vestida daquele jeito, eu achei que ela devia ser bastante determinada...
‒ Porque você compareceu sem o disfarce, Sirius? Se tivesse ido como demolidor, eu jamais teria desconfiado de você...
‒ Harry, como eu te disse... é pessoal, esta história, assim como essa cicatriz aqui no meu pulso é pessoal. Vou deixá-la exatamente aqui para que eu nunca me esqueça que um dia eu quase fui para o inferno... Céus, se eu viver mais cem anos eu não vou esquecer este dia...
‒ Você não vai viver mais cem anos, Black ‒ disse John rindo ‒ seu estilo de vida não é dos mais saudáveis.
O grupo parou olhando Nova Iorque de longe... o sol começava a aparecer de mansinho  iluminando a cidade que nunca dorme.
‒ Será que a gente acha um táxi ‒ bocejou Steve ‒ estou de saco cheio de caminhar
‒ Nessas horas é bom ser bruxo... vamos desaparatar, Harry?
‒ Claro. Estou com sono... vou dormir um bocado, agora que isso acabou, ainda que naquele quarto de hotel imundo...
‒ Adeusinho, trouxas ‒ disse Sirius, e os dois desaparataram.
‒ Sabe, John.... eu ainda não me decidi realmente se gosto ou não desses caras.
‒ Você gosta, Steve, exatamente como eu... ainda que diversas vezes queira ardentemente lhes apertar o pescoço.

------------

‒ Eu devo lhe advertir que tenho mais idade que pareço...
‒ Eu posso te garantir que não tenho esse tipo de preconceito
‒ Eu sou uma bruxa... acabo de receber um certificado que estou readmitida pela comunidade mágica internacional...
‒ Eu diria que eles até entendem quando cometem um erro...
‒ Você sabe que eu passei 212 anos amaldiçoada?
‒ Acho que você pode me contar isto com bastante calma, Virginie Vermont, e futuramente, tenho certeza, Van Helsing
‒ Quem disse que eu vou querer me casar com um sujeito que tem 9 ex-esposas?
‒ Porque 10 é um número par? Olha, paquerar em Nova Iorque é muito difícil, conseguir um bom encontro é tão raro quanto achar um "m&m" dourado... não que você não seja capaz nem nada... aqui todas as mulheres querem se mostar fortes e independentes, e um sujeito como eu está louquinho para achar alguém do século XVIII, com uma mente mais conservadora e...
‒ Devo advertí-lo que eu era considerada bastante avançada para a época...
‒ Ah, quer saber? Eu estou apaixonado por você, Virginie...
‒ É sério?
‒ O que você acha?
‒ Que você se casa demais... não quero ser uma estatística... quero um tempo de namoro
‒ Eu também já namorei demais... duas semana, que tal?
‒ Dois meses... não namoro há mais de cem anos
‒ Um mês e não se fala mais nisso.
‒ Mas eu  ‒ John avançou e abraçou Virginie com força, beijando-a, depois de algum tempo, ele olhou-a e disse:
‒ Velho clichê de filme americano... mas eu sou um cara cheio de clichês... fica comigo?
‒ O que você acha?
Escondidas atrás de uma cortina, Melody e Clara observavam a cena.
‒ Então ‒ sussurrou Clara ‒ temos uma madrasta n° 10... gostamos ou não dela?
‒ Eu acho que gostamos... ela toca violino. Isso é legal. Ela é bruxa, isso é mais legal ainda...
‒ É mesmo... uma bruxa que toca violino, coisa estranha...
‒ Isso me lembra um negócio.
‒ O quê?
‒ Aquele filme que tem umas crianças e uma madrasta que canta... vamos!
As garotas saíram correndo pelo grande apartamento para avisar aos irmãos que teriam que comprar novas roupas para um casamento.

------------

Quando Hary finalmente acordou, já estava de noite. Pensou em Sirius, olhando a chave de portal, mas achou que não era uma boa hora para falar com o padrinho. Depois de dias convivendo com Caius, não acostumava-se muito com a idéia de não ver mais o vampiro. Uma coisa ele tinha de terrível: era um cara legal demais para ser odiado.
Então Harry riu. Sabia exatamente onde o encontrar.
O "The Bay Way" naquele dia estava menos cheio que na primeira vez que encontrara Caius ali. Talvez reflexo  da última confusão. Entrou sem dificuldades na boate e ficou olhando pelo salão, até que o achou, no mesmo lugar onde o encontrara pela primeira vez, com um bloody mary à sua frente:
‒ Sabia que você viria...afinal, fiquei te devendo uma história...
‒ Na verdade, vim só para me despedir, mas suas histórias sempre são boas...
‒ Eu queria lhe contar o que me aconteceu quando fui traído ‒ Harry olhou a mão de Caius, com a imensa cicatriz ‒ é uma história curta....
‒ Conte, Caius.
‒ Quando e fiz minha primeira vítima, não imaginava que estava  vampirizando a namorada de um Van Helsing...
‒ Steve?
‒ Ele mesmo. Misty ficou ao meu lado durante seis anos, imaginando uma forma de ser salva por ele... mas não havia esperança para ela. Steve queria de qualquer forma destruir "fog" o vampiro que levara embora sua garota... ele não sabia que era eu. Só John descobriria isso, algum tempo mais tarde, e diria a Sirius, que veio até aqui algum tempo antes de ser preso me procurar.
‒ Ele nunca me disse isso.
‒ Mas ele não me viu, eu me escondi dele, e ele achou que John estava enganado. Então, eu trouxe Lubna para meu lado, assim que ela conseguiu se libertar de Morpheus, o que atraiu a inimizade dele... foi por isso que eu acabei com os outros vampiros do clã dos Black e imaginei que tinha acabado com Morpheus. Misty tinha sido uma companheira leal, mas era Lubna que eu amava, era por ela que eu estivera esperando... então Misty resolveu que iria me entregar para Steve... ela na verdade nunca o esquecera.
‒ Foi nessa época que uma mulher se tornou a piada favorita dos vampiros, a pesquisadora que queria provar que existíamos: Lyra Bluhm... Todos fugiam dela, ninguém queria realmente ficar muito próximo a uma sangue quente que nos encarava como animais de zoológico. Eu me apresentei a ela e disse que ela podia saber tudo que quisesse sobre vampiros... é, eu a vampirizei. Quando ela despertou, ficou desesperada: ela não queria ser vampira. Eu falei para ela do Grimoire, que lá estava escrito que enquanto um vampiro não mata, há esperança para ele. Não sei como, não sei porque, mas o fato é que Lyra é a única vampira que conheço que resistiu à fome, mesmo comigo impondo que ela deveria matar, mesmo tentando impor minha vontade sobre a dela... ela jamais cedeu. Nesse meio tempo, a armadilha que Misty fizera para mim já estava pronta.
‒ Uma noite, eu e Jane nos vimos cercados sem possibilidade de escapar... muitos Van Helsing juntos e Misty estava com eles... Jane enfrentou Steve Van Helsing, mas quem surgiu e me salvou foi Lyra. Lubna estava a caminho, mas Lyra chegou primeiro. Era quase a hora do amanhecer, e Lyra conseguiu me por a salvo segundos antes que o sol nascesse... mas ela, que ainda podia caminhar meia hora durante o nascer ou o por do sol, viu a morte de Jane e Misty. Eu passei a ter uma dívida de gratidão com ela.
‒ Lubna não gostou nada disso, ela era minha companheira e não admitia concorrência, eu então libertei Lyra,e disse que fosse embora, que se queria tanto a cura, que fosse procurar...
‒ E ela foi.
‒ Sim, mas me roubou o bem mais precioso que um vampiro pode querer: o Grimoire, meu livro!
‒ Que você havia roubado de Morpheus, claro...
‒ Isso é um detalhe. Eu passei a detestá-la, e durante todos estes anos, ela sempre esteve por perto, porém, não éramos amigos, e ela adorava dizer a todos que tinha me roubado o Grimoire. Eu tentei recuperá-lo, mas ela é esperta demais. Na verdade, acho Lyra admirável... sabe como ela se alimenta? Ela se aproxima de pessoas infelizes, e começa a conversar com elas, eu já a vi fazer isso milhares de vezes... então, quando a pessoa está sentindo-se melhor ela a vampiriza, deixando-os melhor do que quando ela os encontrou. E assim ela tem resistido por anos...
‒ Porque você está me contando isso?
‒ Porque tenho pensado demais em Lyra... Harry, acho que não tenho mais histórias para você...
‒ Então, creio que é aqui que nos despedimos...
‒ Até porque Sirius está do outro lado da boate disfarçado esperando que você vá embora, ele jamais se aproximaria de mim com você olhando, ele é um Black, cabeça dura é patrimônio de família para nós...
‒ Então, Caius... adeus
‒ Até breve, espero. Tomara que nunca mais você encontre outro como Azazel.
‒ Na minha profissão esse tipo de conselho costuma ser inútil.
‒ De qualquer forma, boa sorte.
‒ Para você também.
Caius observou o jovem auror se afastando e sorriu para Sirius, que se aproximou sem palavras.
‒ É uma vergonha vir ver o irmão disfarçado...
‒ O que você quer Caius?
‒ Te dar algo que você é orgulhoso demais para pedir ‒ ele enfiou a mão no bolso do casaco e retirou um pequeno frasco de vidro tampado. Dentro havia um líquido negro ‒ o sangue de um Van Helsing é fácil de obter, John te arrumará um pouco de boa vontade... o seu eu nem menciono... agora você tem o sangue de um vampiro, dado de boa vontade. Faça mais um anel como este que você usa.
‒ Porque você está me dando isso?
‒ Porque você tem dois filhos, e ao contrário de nosso pai, é um pai justo. Faça um belo anel para seu filho mais moço.
Os dois irmãos se olharam por um segundo, então sorriram.

Quando Harry finalmente arrumou tudo e subiu em sua moto disposto a aparatar para o outro continente, um tom rosado já tingia o horizonte. Sorriu e olhou pela última vez a cidade... estivera ali apenas por uma semana, mas vivera uma aventura que parecera imensa... pensou na sua casa e sorriu. Willy e seu filho o esperavam, era bom estar vivo... tinha muitas histórias para contar para ela. Dando uma última olhada na cidade disse à moto:
‒ Não reclame, já fizemos isso antes.
Tomou distância com a  moto e indo na direção do mar, embicou a moto para a direção da Inglaterra. Fechou os olhos e quando os abriu, já havia aparatado do outro lado do Oceano. Era sempre bom voltar para sua casa.

------

Lyra e Caius estavam naquele momento no alto de um edifício. Ela o convencera a usar a roupa que fizera para proteger vampiros da luz solar. Era um macacão de tecido grosso e negro com luvas e capuz, que lembrava uma roupa de mergulho, com uma máscara de vidro que não deixava ver-se o rosto de quem a usava. Caius comentou que quem os visse ali acharia que a Terra estava sendo invadida por alienígenas.
‒ Não me diga que você não gosta de poder ver novamente o sol nascendo sobre Nova Iorque?
‒ Bem, com esse vidro escuro fica tudo em preto e branco... é como ver o sol  nascendo num filme de Woody Allen.  Emocionante ‒ disse ele de forma irônica
‒ Caius, esse seu hábito de caçoar do que os outros fazem é que te torna ainda mais insuportável, como se não bastasse sua megalomania e egocentrismo.
‒ Eu também gosto muito de você, Lyra... no seu caixão ou no meu?
‒  Quem disse que eu quero sua companhia... eu jamais ficaria com um vampiro que mantém uma ex companheira emparedada só por capricho, você é sexista, covarde e...
‒ Eu libertei Artemis. Quero que você seja minha companheira
‒ ... e além de tudo você desmerece tudo que eu... o que você disse?
‒ Eu nunca tive nada em comum com Artêmis, cheguei a conclusão que quero uma companheira inteligente, Artemis nem ligou, a essa hora deve estar dormindo ao lado de algum líder da aliança, beleza para agradar qualquer um deles ela tem.
‒ Mas... nós dois nunca daríamos certo... e você ama Lubna
‒ Lyra, Lubna foi o amor da vida de um jovem bruxo idealista que morreu há trinta anos atrás... minha história com ela acabou no dia que Salathiel libertou a alma dela. Não adianta eu perseguir um fantasma do passado, entende? Mesmo que você me obrigue de vez em quando  a usar uma roupa de alienígena, é com você que eu quero estar pelos próximos anos... por muito tempo.
‒ E se eu não quiser?
‒ Nenhum vampiro gosta de estar sozinho... você prefere um daqueles que tem bafo e se escondem nos túneis do metrô?
‒ Com certeza não... na verdade você sempre estraga tudo, eu tinha planejado te entregar seu grimoire hoje... porque eu acho que perdi tempo demais com essa história de cura...
‒ Não, eu quero meu grimoire de volta, mas você não está perdendo tempo... se existe uma cura, nós vamos procurá-la juntos... sabe, ter a eternidade pela frente é muito chato, quando não se tem um objetivo a conquistar.
‒ Eu não sei o que dizer, Caius...
‒ Comece então me respondendo esta pergunta: No seu caixão ou no meu?
Os dois vampiros começaram a rir. Então, ele a puxou e os dois foram descendo os andares do edifício a pé, porque durante o dia, com ou sem roupa especial, não podiam usar seus poderes. Um pombo branco, que estivera observando-os conversar, levantou vôo satisfeito. Podia seguir em frente em sua missão.

--------
Meses depois, Salathiel estava desfrutando novamente de seu dom da ubiqüidade, cuidando de vários assuntos ao mesmo tempo, como sempre. Mas aos poucos, deixou-se ficar apenas em um lugar, uma maternidade bruxa onde uma jovem bruxa dava à luz uma criança. Ele observou todo o nascimento, sem intervir. Já cuidara das outras duas, aquela era a última. O médico bruxo pegou a criança recém nascida, que começou a chorar alto.  
‒ É uma menina ‒ disse o médico para a bruxa, que suspirou feliz olhando sua filhinha. ‒ ela já tem nome?
A mulher parou por um instante olhando a menina... ela e o marido haviam combinado um nome, mas era engraçado como esse nome parecia não pertencer àquele pequeno serzinho em seus braços. Franziu o rosto sem sentir, quando o anjo invisível sussurou algo em seu ouvido.
‒ Lubna ‒ ela disse ‒ vai se chamar Lubna,
Salathiel sorriu e abriu suas asas invisíveis, voando para longe dali. Num lugar bem distante, um vampiro se mexeu no seu sono diurno. Normalmente, vampiros não sonham... mas aquele estava tendo um sonho. Um belo sonho, sobre seu passado, presente e futuro.

Fim.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.